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Desde 1950, várias cirurgias já foram realizadas com o intuito de tratar a obesidade grave.
Algumas se tornaram obsoletas por não resultarem em perda de peso adequada ou por
apresentarem um grande número de complicações a longo prazo.
As técnicas usadas para induzir a perda de peso podem ser divididas em 3 categorias. As
restritivas consistem em redução da câmara gástrica e objetivam a obtenção da saciedade com
pequenas quantidades de alimentos. Os procedimentos disabsortivos que modificam a anatomia
e o tamanho da alça de intestino delgado, resultando em uma redução da taxa de absorção de
nutrientes. Existem ainda os procedimentos que combinam aspectos disabsortivos e restritivos.
A perda de peso pós-cirurgia bariátrica pode ser atribuída à redução da ingestão calórica
ou da capacidade absortiva ou a ambas. Assim, os riscos de complicações nutricionais pós-
cirúrgicas aumentam quando não há um acompanhamento nutricional adequado para prescrição
dietética e monitorização do estado nutricional.
As duas técnicas cirúrgicas mais utilizadas são a banda gástrica ajustável realizada por
laparoscopia e o bypass gástrico com Y de Roux. A primeira é puramente restritiva, enquanto a
segunda é mista. Existem ainda procedimentos mais antigos como a gastroplastia vertical e a
duodenal Switch. O risco de complicações é maior para as cirurgias disabsortivas, sendo estas
menos utilizadas.
A dieta pós-operatória para a cirurgia bariátrica deve ser iniciada com água, líquidos claros
e bebidas sem açúcar, sendo que, no início, devem ser dadas apenas pequenas porções. Em dois
dias, a dieta deve ser alterada para dieta líquida completa, na qual são incluídas fontes de
proteínas como leites e suplementos protéicos. A dieta leve, constituída por purês e alimentos
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© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo com a Lei no.
9.610 de 19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar, distribuir e vender o
material de qualquer forma, sob pena de responder civil e criminalmente por violação da propriedade material e
intelectual.
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pastosos e liquidificados, deve ser introduzida por volta da segunda à terceira semana. O tamanho
da porção também deve ser aumentado. O momento exato para a progressão da consistência e o
tamanho da porção depende da tolerância de cada paciente, mas costuma seguir o padrão
descrito na Tabela 1.
Líquidos claros 1 a 2 dias 30ml Líquidos claros sem açúcar Açúcar e cafeína
Todos líquidos, leite
1a2
Dieta líquida 30 a 60ml desnatado e suplementos Gordura
semanas
protéicos
Bebidas, clara de ovo,
1a2 Ovo inteiro, doces
Dieta leve 60ml queijo branco e alimentos
semanas e gorduras
liquidificados
o resto da
Dieta geral 120ml Alimentos hipogordurosos Doces e gorduras
vida
Muitos ajustes nas preferências alimentares são necessários para a perda de peso bem
sucedida e livre de complicações pós-cirúrgicas. A comida deve ser bem mastigada e consumida
bem lentamente. Não se deve consumir líquidos junto com sólidos, nem sequer em um intervalo
de 30 minutos antes e após as refeições. As comidas hipercalóricas devem ser evitadas para
garantir perda de peso adequada.
Regras de alimentação
1. Parar de comer ou beber sempre que sentir plenitude.
2. Nunca comer e beber ao mesmo tempo.
3. Sempre medir a quantidade de bebida ou comida antes para evitar excessos.
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Náuseas e vômitos - São geralmente causados por alimentação excessiva ou mastigação ineficaz.
É mais comum após cirurgias restritivas. Devido à diminuição da capacidade gástrica, alimentos
mal mastigados não conseguem transpor o estômago e provocam vômito. Apesar das náuseas e
vômitos serem, em geral, decorrentes do mau comportamento alimentar, quadros mais graves
devem ser avaliados quanto a possibilidade de estenose. Pacientes que evoluem com piora dos
vômitos e intolerância a qualquer alimento sólido necessitam de pronta avaliação cirúrgica para
exclusão de complicações relativa à cirurgia em si.
Síndrome de dumping - A ingestão de alimentos gordurosos e doces pode levar a esta síndrome.
Assim, os sintomas podem ser encarados como algo positivo para conscientização do paciente
quanto a estas proibições, pois são consequência da rápida saída do fluido intersticial para o
lúmem intestinal em resposta a substâncias hiperosmolares na luz intestinal. Os sintomas incluem
palpitações, sudorese, cefaleia e, em alguns casos, diarreia. Para prevenção da síndrome de
dumping, pacientes devem ser orientados a não ingerirem alimentos ricos em gordura ou açúcar.
Muitos pacientes tentarão comer este tipo de alimento após a cirurgia, mas poucos continuarão
comendo após apresentarem sintomas da síndrome de dumping e, com o passar do tempo, o
intestino tende a se adaptar aos alimentos de maior osmolaridade e a síndrome de dumping
torna-se mais rara.
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Intolerância à lactose - É muito comum após todas as cirurgias bariátricas. A intolerância pode ser
aguda ou crônica e é facilmente resolvida com a restrição do leite. O leite a base de soja ou o com
baixo teor de lactose são boas alternativas por possuírem quantidades similares de proteína sem a
presença da lactose.
Outras intolerâncias alimentares - Os alimentos secos, defumados e melados são mal tolerados,
especialmente derivados do porco, pães ou massas e vegetais crus. Pacientes devem ser
aconselhados a incluírem apenas um novo alimento por vez durante as primeiras fases do pós-
operatório. Isto ajuda na identificação dos alimentos mal tolerados. Com o passar do tempo, as
intolerâncias tendem a desaparecer. Todavia, pacientes devem ser desencorajados a testarem
frequentemente alimentos sabidamente não tolerados para evitar vômitos e possível
desidratação. Novas tentativas com o mesmo alimento devem aguardar pelo menos um mês antes
de serem realizadas.
As complicações nutricionais tardias podem ser consequência de vários fatores, incluindo o não
seguimento das orientações dietéticas, a diminuição da ingestão de determinados tipos de
alimentos e a má absorção intestinal.
Estudos mais recentes apontam que os obesos graves já podem apresentar deficiências
nutricionais no pré-operatório, devido ao consumo de uma dieta pobre em vitaminas e rica em
gorduras e açúcares por longo período de tempo. Na revisão de Roust & DiBaise (2017) foi
encontrada uma alta prevalência da deficiência de micronutrientes, especialmente vitamina D,
B12, folato e ferro no pré-operatório de pacientes candidatos a cirurgia bariátrica. Em um outro
estudo do tipo retrospectivo, Schaaf e colaboradores (2017) encontraram que 22% dos pacientes
no pré-operatório de bypass gástrico com Y de Roux já apresentavam deficiência de vitamina D, e
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esse grupo foi associado com menor perda de peso quando comparado ao grupo de pacientes não
deficientes da vitamina. Os autores desses estudos recomendam a investigação de deficiências
nutricionais através da realização de exames em todos os indivíduos candidatos ao procedimento,
independentemente da técnica cirúrgica.
Deficiência protéica - Uma comparação entre suplementos protéicos específicos está ilustrada na
Tabela 5.
Ferro - O risco da deficiência de ferro ocorre em todos os tipos de cirurgia bariátrica, embora as
cirurgias disabsortivas possuam maior risco. O risco continua e provavelmente aumenta com o
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passar do tempo devido à diminuição dos estoques de ferro no organismo. A deficiência de ferro
parece mais prevalente em mulheres pré-menopausa, mas pode ser vista frequentemente em
homens e mulheres pós-menopausa. Conforme orientações da Associação Brasileira para Estudo
da Síndrome Metabólica e Obesidade ABESO (2016) a reposição de ferro deverá ser feita baseada
no hemograma e dosagem de ferritina. Recomendações quanto a suplementação de ferro gira em
torno de 40 a 65 mg/dia. A RDA de ferro para mulheres em idade reprodutiva é de 15 mg, que é a
dose encontrada na maioria dos polivitamínicos. Apesar disso, tem sido observado que, mesmo
com uso diário de polivitamínicos, pacientes têm apresentado deficiência de ferro. Assim, o ferro
pode ser suplementado separadamente ao polivitamínico. Num estudo duplo cego randomizado
envolvendo 29 pacientes pós-cirurgia bariátrica [Brolin et al], os autores mostraram que a
suplementação profilática de 320 mg de sulfato ferroso oral, 2 vezes ao dia, preveniu a deficiência
de ferro. Nota-se que apesar da deficiência de ferro ter sido evitada no estudo, a anemia sem a
presença da deficiência de ferro surgiu em 14% dos pacientes.
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Citrato de cálcio e
Sim Sim Sim
vitamina D
Outras vitaminas
Não Não Sim
lipossolúveis
Fonte: ABESO 2016; British Obesity and Metabolic Surgery Society 2014
Vitergan
Micronutriente RDA Materna® Centrum®
Master®
Niacina 12 a 16 mg/d 20 mg - -
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ferro 10 a 15 mg/d 60 mg 18 mg 10 mg
Ácido fólico e vitamina B12 - O risco da deficiência de folato e vitamina B12 acontece mais
frequentemente nos procedimentos disabsortivos. Por este motivo muitos recomendam a
suplementação destas vitaminas acima da RDA para este tipo de paciente: em geral, 800 a 1000
mcg de folato ao dia. Quanto à vitamina B12, não existe uma recomendação padrão. As
publicações recomendam para prevenção de deficiência de B12 a dose de 350 mcg/dia ou 1000
mcg/semana na forma oral ou 1000 mcg/mês ou 3000 mcg a cada 6 meses na forma
intramusucular. Já para tratamento da deficiência, as doses recomendadas são 1000-2000 mcg/dia
por via oral ou 1000 mcg/semana intramuscular até a correção dos sintomas.
Cálcio e Vitamina D - Pacientes submetidos a cirurgias bariátricas apresentam alto risco de
deficiência de cálcio e vitamina D. Estas deficiências manifestam-se clinicamente por osteoporose,
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Conclusão
A cirurgia bariátrica é o método mais efetivo para uma perda de peso sustentada em
pacientes com obesidade grave. Para muitos pacientes, os benefícios da perda de peso, como
diminuição do colesterol e da pressão arterial, superam os riscos de complicações cirúrgicas. A
maioria das complicações nutricionais pós-cirúrgicas pode ser prevenida pela adesão a hábitos
alimentares saudáveis e à ingestão de suplementos. A monitorização do estado nutricional
frequente se faz necessária para prevenir deficiências clínicas graves.
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Referências bibliográficas:
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Roust LR, DiBaise JK. Nutrient deficiencies prior to bariatric surgery. Curr Opin Clin Nutr Metab
Care. 2017;20(2):138-144.
Mechanick et al. Clinical Practice Guidelines for the Perioperative Nutritional, Metabolic, and
Nonsurgical Support of the Bariatric Surgery Patient. Surgery for Obesity and Related Diseases 9
(2013) 159–191160
ABESO 2016 - Associação Brasileira para Estudo da Síndrome Metabólica e Obesidade. Disponível:
http://www.abeso.org.br/coluna/cirurgia-bariatrica/vitaminas-e-suplementos-no-pos-operatorio-
de-cirurgia-bariatrica-sera-mesmo-necessario-
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