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Belo Horizonte
2001
Luci Kikuchi
Vogais Altas e Glides no Português Brasileiro e no
Inglês Britânico
UFMG
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2001
Kikuchi, Luci
K62v Vogais altas e glides no português brasileiro e no inglês britânico
[manuscrito] / Luci Kikuchi. - 2001.
Xiii, 156 f. , enc. : il., color, graf. Tab.
Orientadora : Thaïs Cristófaro Silva
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais,
Faculdade de Letras.
Bibliografia : f. 147-156
CDD : 414
Dissertação defendida e aprovada em 3/12/2001, pela banca examinadora constituída pelos
professores:
Este trabalho é fruto de muito esforço meu e de minha orientadora, Thaïs. Sem ela, este
fruto não teria brotado, crescido e amadurecido. Com ela, além de realizar este sonho que é esta
dissertação, cresci como profissional, pessoa, lingüista. Foi ela que me ensinou que “aluno aprende
melhor com carinho”, “quando aluno procura o professor, é porque precisa de ajuda”, mudando
Aos meus pais por terem me proporcionado esta educação e este incentivo. Sou o que sou
graças a eles. O alto investimento e o exemplo impecável do papai. Tenho certeza que ele está em
algum lugar desta eternidade feliz e orgulhoso. Mamãe, que me criou guerreira através de seu
Ao Ubiratan que compartilhou todos os meus problemas, ou nossos. Obrigada por seu
apoio e por me ter dado esta criatura linda chamada Renata, que me deu o título de mãe durante o
mestrado.
Um agradecimento especial aos meus alunos e colegas da Unimontes por todo o apoio que
me foi dado em todos os sentidos. E principalmente aos meus alunos do 4o. e 6o. período que se
preocuparam comigo e meu estado de saúde. Agradeço a FAPEMIG e à UNIMONTES pelo apoio
financeiro e moral.
Agradeço meus chefes, colegas e os alunos do CCAA. Aos meus amigos, Ju, Andréia,
Andrey, Carmen, Aloísio, Edu, Marina, Beth, Helena, enfim todos que me escutaram, apoiaram
perdida. E claro, à guerreira número 2 da casa, Helena, que vem lutando comigo há sete anos. E
que durante este mestrado, ficou com Rê dia e noite para eu finalizar esta obra. Helena é um
Linda Goodman
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................
LISTA DE TABELAS..................................................................................................... 10
RESUMO.......................................................................................................................... 11
12
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................
1.1 Objeto de estudo................................................................................................ 13
1.2 Justificativa........................................................................................................ 13
1.3 Organização do trabalho.................................................................................... 14
2 FONÉTICA........................................................................................................
2.1 Introdução............................................................................................................ 21
2.3 As Vogais........................................................................................................... 22
2.5.3 Nasalização........................................................................................................ 33
2.5.4 Duração.............................................................................................................. 34
2.5.5 Tensão................................................................................................................ 35
2.5.5 Notação dos segmentos vocálicos...................................................................... 36
Sílaba............................................................................................................... 54
2.10 Acento................................................................................................................. 57
2.13 Conclusão.......................................................................................................... 73
3 FONOLOGIA.................................................................................................. 76
3.1 Introdução.......................................................................................................... 76
3.2 O Modelo fonêmico........................................................................................... 77
3.2.1 Introdução.......................................................................................................... 77
3.2.2 Fonemas............................................................................................................. 78
3.2.3 Distribuição complementar................................................................................ 79
3.2.4 Variação livre.................................................................................................... 80
3.2.5 Princípio de pressão estrutural........................................................................... 80
3.2.6 A Análise fonêmica das vogais altas e dos glides no português brasileiro....... 82
3.2.6.1 A Alofonia de /i/ no português brasileiro.......................................................... 83
3.2.6.3 Conclusão.......................................................................................................... 91
3.2.7 A Análise fonêmica das vogais altas e dos glides no inglês britânico.............. 92
3.2.7.1 Os Fonemas /i, u, , /................................................................................... 92
3.2.7.4 Conclusão........................................................................................................... 99
3.2.7.5 Conclusão geral de fonêmica............................................................................. 99
3.3 O Modelo gerativo padrão................................................................................. 102
3.3.1 Introdução.......................................................................................................... 102
3.3.2 Os Traços distintivos......................................................................................... 103
3.3.3 Traços de classes principais.............................................................................. 104
3.3.4 Traços de corpo da língua................................................................................. 105
3.3.5 Traços relacionados com o formato dos lábios................................................. 105
3.3.6 Traços prosódicos.............................................................................................. 106
3.3.7 As Vogais altas e os glides no português brasileiro.......................................... 107
3.3.7.1 Introdução......................................................................................................... 107
3.3.7.2 Processos fonológicos no português brasileiro................................................. 109
3.3.7.3 Conclusão.......................................................................................................... 112
3.3.8 As Vogais altas e glides no inglês britânico..................................................... 113
3.3.8.1 Introdução......................................................................................................... 113
3.3.8.2 Processos fonológicos no inglês britânico......................................................... 114
3.3.83 Conclusão.......................................................................................................... 116
3.3.8.4 Conclusão geral do modelo gerativo padrão..................................................... 116
3.4 O Modelo da fonologia autossegmental........................................................... 117
3.4.1 As Vogais altas e os glides no português brasileiro.......................................... 121
3.4.1.1 Os Glides pré-vocálicos..................................................................................... 123
3.4.1.2 Os Glides pós-vocálicos..................................................................................... 128
3.4.1.3 A Vogal alta longa............................................................................................. 130
3.4.1.4 Conclusão.......................................................................................................... 131
3.4.2 As Vogais altas e os glides no inglês britânico .............................................. 131
3.4.2.1 Conclusão.......................................................................................................... 136
3.4.2.2 Conclusão do modelo autossegmental............................................................... 136
3.5 O Modelo teórico da otimalidade....................................................................... 137
3.5.1 Introdução.......................................................................................................... 137
3.5.2 Formalismo da teoria da otimalidade................................................................ 140
3.5.3 Análise das vogais altas e glides no português brasileiro pela teoria da
otimalidade........................................................................................................ 142
3.5.4 Análise das vogais altas e glides no inglês britânico pela teoria da
otimalidade........................................................................................................ 145
3.5.5 Conclusão geral................................................................................................. 147
4 CONCLUSÃO.................................................................................................. 148
1 As VC1 a VC8................................................................................................... 39
2 As VC9 a VC16................................................................................................. 40
3 As VC17 a VC22............................................................................................... 40
4 Resultados de J.C. Wells obtidos em 1962........................................................ 46
5 Alofones das vogais altas no português brasileiro............................................. 58
6 Valores das F1 e F2 das vogais altas, medidos em Hz...................................... 60
7 Ocorrência de vogais altas, ditongos e glides do português brasileiro e no
inglês britânico.................................................................................................. 75
8 Os Alofones do fonema /i/ no português brasileiro. Sendo que V=vogal,
C=consoante....................................................................................................... 87
9 Os Alofones do fonema /u/ no português brasileiro .......................................... 91
8 Tabela comparativa de vogais altas e glides no português brasileiro e no
inglês britânico.................................................................................................. 99
9 Traços distintivos para as vogais altas no português brasileiro......................... 107
10 Traços utilizados na caracterização de /i,u,j,w/ no português brasileiro........... 108
11 Traços distintivos dos alofones das vogais altas e glides no português
brasileiro........................................................................................................... 108
12 Traços distintivos das vogais altas e glides no inglês britânico........................ 113
13 Tableau da língua hipotética............................................................................. 141
14 Tableau da representação de "lua".................................................................... 143
15 Tableau da representação de "pai".................................................................... 144
16 Tableau da representação de "see".................................................................... 146
17 Inventários fonéticos e fonológicos das vogais altas no português brasileiro e
no inglês britânico............................................................................................. 149
RESUMO
Este trabalho faz uma análise fonética e fonológica das vogais altas /i, u/ e glides
foi escolhido por considerado modelo de pronúncia no ensino do inglês britânico aos
aprendizes de inglês como segunda língua (MCARTHUR, 1992). Esta pesquisa apontará
semelhanças e diferenças nas vogais altas /i, u/ e os glides /j, w/ nos dois sistemas
sonoros. Estes sons foram escolhidos pela alta ocorrência nas línguas naturais. Este
pretende contribuir para o estudo fonético e fonológico das vogais altas e glides.Também
The present work analyses the high vowels /i, u/ and the glides /j, w/ in Brazilian
Portuguese and British English (RP). This particular English dialect was chosen for being
(MACARTHUR, 1992). This study will show similarities and differences among the high
vowels /i, u/ and the glides /j, w/ in the sound systems of the two languages. These
sounds have been chosen due to its high occurrence in the natural languages. This research
also describes articulatory and acoustic features of these sounds and intends to contribute
for the phonetic and phonological study of the high vowels and glides of the natural
1. INTRODUÇÃO
de obstrução no fluxo de ar nas cavidades acima da glote, no trato oral, podendo haver
fricção ou não. Na produção dos segmentos vocálicos, em oposição, não ocorre obstrução
No entanto, alguns segmentos podem não ter interpretação fonológica tão explícita quanto
ao seu estatuto como vogal ou como consoante. Estes segmentos serão denominados glides
neste trabalho1.
línguas como vogais e em outras línguas como consoantes (Trask, 1996). Foneticamente,
tanto os glides quanto as vogais, são sons produzidos continuamente e sem fricção. Neste
trabalho, trataremos dos glides palatais e velares.2 Glides palatais podem ser transcritos
como /j, y, , /. Glides velares podem ser transcritos como /w, j, /.
Alguns sons da fala são ditos universais devido a sua ocorrência em todas ou em
quase todas as línguas naturais. As vogais altas [i,u] e a vogal baixa [a] fazem parte
1
“A palavra glide, de que também nos valemos, já se encontra documentada da Literatura Lingüística
Portuguesa” (BISOL ,1989). A classificação fonética tradicional denomina os glides, semivogais.
14
deste inventário universal. De acordo com Picket (1999), há três vogais correspondentes
aos três extremos de constrição no trato oral. Picket denomina estas vogais como “vogais
de ponta” que em princípio ocorrem em todas as línguas naturais e podem ser classificadas
como:
Vogais de ponta
considerado básico nas línguas naturais (Roca/Johnson, 1999). Elas são tão comuns que
são referidas como o padrão das três vogais básicas. Jakobson afirmou que [i,a,u] são
(Schane, 1973).
As vogais altas e os glides foram escolhidos como tema de pesquisa devido a sua
alta ocorrência nas línguas naturais, pela alternância possível entre os glides e as vogais
altas e pelo estatuto fonológico variável destes sons, ora como vogais, ora como
consoantes.
1.2 Justificativa
2
Alguns autores consideram [r] como glide na análise do inglês (O'CONNOR, 1980). Os argumentos para
esta opção seguem da interpretação fonológica assumida.
15
Pretendemos demonstrar nesta seção, que as vogais altas /i, u/ podem ser
agrupadas como pertencendo a uma classe natural. Dizemos que dois segmentos pertencem
a uma classe natural quando um ou mais dos requisitos relacionados a seguir, são
motivado pelo fato da vogal alta anterior [i] ser produzida pela aproximação da língua ao
palato duro. Este fenômeno de palatalização ocorre em várias línguas, dentre elas o
papago, o kongo do sul e o português do Brasil. Vamos discutir cada um destes casos a
3
Língua da família Uto-Asteca, falada no estado do Arizona (USA) e no México.
16
e. [atwid] atirar
f. [tuku] tornar-se preto
g. [dasp] pressionar com a mão
h. [toha] tornar-se branco
i. [duki] chuva
j. [hwid] cheiro
k. [tiha] contratar
l. [toi] esquentar
m. [widut] ritmo
n. [tatad] pés
o. [kitud] construir uma casa para
p. [dodom] copular
q. [tatam] tocar
Precedendo a vogal alta e suas variantes ocorrem as africadas alveopalatais [t, d]. Nos
demais ambientes, ou seja, antes de outras vogais ocorrem as oclusivas alveolares [t, d].
Examine os dados abaixo, que são do congo do sul (Halle & Clements, 1994).4
4
Língua da família Bantu, falada em Angola.
17
distribuição complementar com as consoantes palatais [t, , ]. Podemos perceber que as
as oclusivas alveolares [t, d] são palatalizadas quando seguidas da vogal alta anterior.
seguidas da vogal alta anterior [i]. Nos demais ambientes, ou seja, antes das demais vogais
seja, quando uma consoante oclusiva alveolar precede uma vogal alta anterior é
As vogais altas numa mesma classe natural, em várias línguas naturais, apresentam
a alternância entre vogais altas e os glides correspondentes. Por exemplo, no francês há três
semivogais correspondentes às vogais altas, havendo alternância entre as três vogais altas e
seus respectivos glides, (Schane,1973). A alternância (e/ou variação) entre vogais altas e
considerando-se também que estes segmentos podem ser agrupados numa mesma classe
natural, optamos em investigar o comportamento das vogais altas e dos glides no português
dissertação.
“Fonologia” (capítulo 3). Os dados desta pesquisa são oriundos de fontes secundárias que
dados do português brasileiro são do dialeto padrão de Belo Horizonte. Os dados do inglês
19
das vogais altas e glides. As descrições fonéticas baseiam-se nos estudos de Pike (1943);
Abercrombie (1967); Jones (1969); Câmara Júnior (1970); Bisol (1989); Callou & Leite
(1990); Ladefoged (1996); Cagliari (1998) e Cristófaro Silva (1999a). Além da descrição
articulatória, as vogais são descritas pelo método das vogais cardeais e este método
Discute-se ainda, a noção de sílaba e de acento, pois tais noções são importantes para a
inglês britânico.
Modelo da Otimalidade. Cada uma destas análises pretende indicar os pontos positivos de
cada modelo e indicar aspetos a serem aprimorados nas propostas teóricas subseqüentes. O
Modelo Estrutural ou a Fonêmica foi escolhido por ser um modelo fonológico pioneiro. O
Modelo da Fonologia Gerativa Padrão proposto por Chomsky & Halle (1968), influenciou
Goldsmith (1990), salienta-se por dar um estatuto teórico à sílaba (que passa a operar como
5
Received Pronunciation (RP) é a forma de pronúncia mais descrita em livros de fonética de inglês britânico
e tradicionalmente ensinado a aprendizes de inglês como segunda língua ou língua estrangeira.
20
constituinte). O último modelo a ser discutido, o da Otimalidade, é o modelo dos anos 90,
o modelo corrente.
altas e glides no português brasileiro e no inglês britânico. Tal estudo é relevante pelo fato
de não contarmos com trabalhos anteriores, cujo objetivo específico seja o de analisar as
vogais altas e glides em profundidade nestas duas línguas. Os objetivos específicos deste
trabalho são:
Tomamos como hipótese básica que as vogais altas e os glides operam de maneira
comportamento destes sons nas duas línguas, contribuiremos também para a discussão
como objetivo final, este trabalho pretende servir como orientação para pesquisas futuras
2. FONÉTICA
2.1 Introdução
ciências estudam os sons usados na fala ou o sistema sonoro de uma língua, sendo a
classificação dos sons das línguas naturais (Cristófaro Silva, 1999a). A fonética permite-
papel principal do foneticista é descrever o que acontece tanto com o falante durante sua
fala, quanto com o ouvinte quando a capta (Ladefoged, 1982). Numa perspectiva mais
ampla, podemos dizer que a fonética baseia-se na produção, percepção e transmissão dos
sons da fala. A fonética pode ser dividida em áreas de interesse que são:
fala são analisadas e identificadas pelo ouvido e o cérebro humano (Crystal, 1997).
• Fonética acústica: Estudo das propriedades físicas dos sons da fala a partir de sua
para o estudo da produção da fala, como equipamento para gravar a fala, ou para
vocais.
organização dos segmentos em unidades maiores (como sílabas, por exemplo) e avalia a
trabalho, limitaremos à avaliação segmental das vogais altas e glides. A descrição fonética
Os sons da fala são produzidos com algum tipo de interferência em uma corrente de
fonatório.
dentro de uma cavidade formada pela caixa torácica e o diafragma. No sistema respiratório
pulmonar egressivo. Neste mecanismo, o ar expelido dos pulmões em direção à boca e/ou
vozeamento (ou sua ausência) na produção dos sons. As cordas vocais são responsáveis
pelo vozeamento.
através do movimento dos articuladores indicados acima. Considere a FIG. 2 abaixo, que
representa o trato vocal com os articuladores passivos e ativos envolvidos na produção dos
sons da fala.
Os sons da fala são articulados com a modificação do trato vocal, a ação dos
articuladores ativos e passivos, e com a passagem da corrente de ar. Assim são produzidos
2.3 As Vogais
segmentos podem ser arranjados em padrões diferentes para formar sílabas, que por sua
vez formam palavras, que finalmente formam um enunciado. Os segmentos podem ser
obstrução no trato vocal e na articulação das consoantes há obstrução no trato vocal. Estas
categorias – vogais e consoantes - são definidas por este critério fonético básico que se
som friccional que caracteriza um segmento consonantal. Por outro lado, se a língua não
ultrapassar a linha vocálica (e, portanto, se não ocorrer fricção audível), teremos a
alguma parte do trato vocal tanto na produção dos segmentos vocálicos, quanto nos
lado, são produzidos com estritura6. A produção dos segmentos consonantais envolve um
ultrapassando a linha vocálica proposta por Daniel Jones. (cf. FIG. 3).
Entendemos como segmento vocálico qualquer som que seja produzido com a
língua abaixo da linha que define o limite vocálico. Ao ingressar na linha do limite
classificação dos segmentos vocálicos são baseados em Cagliari (1981); Ladefoged (1982);
6
Estritura é a posição assumida pelo articulador ativo em relação ao passivo, indicando como e em que grau
a passagem da corrente de ar através do aparelho fonador (ou trato vocal) é limitada neste ponto
(ABERCROMBIE, 1967. p. 44). A partir da natureza da estritura, classificamos os segmentos consonantais
quanto à maneira ou modo de articulação (CRISTÓFARO SILVA, 1999a).
27
podem ser classificados ou descritos por três traços articulatórios básicos mencionados
abaixo.
Os segmentos /i/ e o /u/, objetos desta pesquisa, são classificados como vogais
altas, pois durante sua produção, a língua encontra-se elevada dentro da cavidade oral. Os
em oposição ao ponto alto, são denominados vogais baixas, por exemplo, o /a/. Quando a
das vogais médias. Na descrição do português, há quatro níveis de altura: alta, média-alta,
Os segmentos /e, / são classificados como médios e o segmento /a/ é classificado como
da cavidade bucal, dividindo-a em três partes. Se, na produção da vogal, o corpo da língua
corpo da língua estiver na parte média da cavidade bucal, a vogal é classificada como
29
anteriores /i, e, , a/. As vogais do diagrama da direita são classificadas como vogais
posteriores: /u, o, , /. Dos segmentos a serem analisados neste trabalho, podemos,
portanto, classificar a vogal /i/ como anterior e a vogal /u/ como posterior.
assumida pelos lábios. Durante a produção de um segmento vocálico os lábios podem estar
de ressonância.
anteriores são, em geral, produzidas com os lábios estendidos e as vogais posteriores são
vogal simbolizada por [y], é alta, anterior e arredondada. No japonês, a vogal alta
segmento [i] é produzido com os lábios estendidos. Este padrão que é apresentado no
português ocorre na maioria das línguas naturais. A Fig. 5 abaixo apresenta as posições dos
(a) Lábios estendidos (b) Posição neutra (c) Arredondamento aberto (d) Arredondamento fechado
duas noções são muito importantes para a compreensão dos segmentos vocálicos.
2.5.1 Vozeamento
O ar que sai dos pulmões para a produção dos sons da fala, sobe pela traquéia,
laringe e neste ponto, passa entre dois pequenos músculos denominados cordas vocais. Se
normalmente, a corrente de ar que sai dos pulmões passará livremente em direção à boca.
estreita para a passagem da corrente de ar, esta corrente de ar causará vibração das cordas
vocais.
Os sons produzidos com a vibração das cordas vocais são chamados de sons
vozeados. Por sua vez, os sons produzidos com as cordas vocais abertas, (quando não
ocorre vibração das cordas vocais) são denominados sons desvozeados. O grau de
vozeamento dos segmentos é, em geral, importante para a distinção dos sons nas línguas
naturais. Por exemplo, em português, temos as palavras “faca” /faka/ e “vaca” /vaka/
sendo que o que basicamente distingue estas palavras é o som inicial. O som /f/ é
vocálicos podem ser desvozeados. Ou seja, se pode ter segmentos vocálicos produzidos
característica fonética de sons vizinhos, uma vogal tende a se tornar desvozeada. Por
exemplo, no português brasileiro, o som // final que antecede o /t/ em ‘pato’ /pat/, pode
ser classificado como desvozeado. Isso se deve ao fato da vogal final // assimilar a
padrão vibratório correspondente ou ressonância. Cada som da fala tem uma única
característica de ressonância que não o deixa ser confundido com outro som. A qualidade
sua posição no trato vocal. Esta mudança de posição dos articuladores modifica, portanto,
articulatórios das vogais expostos acima – ou seja, altura do corpo da língua, grau de
cavidade pulmonar, a cavidade bucal e a cavidade nasal) no trato vocal. Portanto, a posição
assumida pela língua no eixo da cavidade bucal (no sentido vertical e horizontal)
1967). Por exemplo, a vogal [i] representa a vogal alta anterior não-arredondada oral, com
qualidade diferente da vogal [] que também é vogal alta anterior não-arredondada oral.
33
2.5.3 Nasalização
nasal quando o mesmo é produzido com o abaixamento do véu palatino, permitindo que a
corrente de ar ou parte desta escape pelo nariz. Este abaixamento do véu palatino altera a
área de circulação da corrente de ar no trato vocal (nas cavidades oral e nasal) e altera a
qualidade vocálica. No entanto, a nasalização altera muito pouco a qualidade vocálica, por
isso, ao transcrever os segmentos vocálicos nasais, a maioria dos autores usa os mesmos
símbolos vocálicos, com o acréscimo de um “til” (~) colocado acima da vogal oral. Por
Por exemplo, em português, “vi” [vi] e “vim [vi]. Contudo, as vogais nasais são segmentos
marcados que ocorrem em poucas línguas naturais. Os segmentos orais são não-marcados e
nasais [i,a,u] as mais freqüentes nas línguas naturais (Maddieson, 1984a apud Ladefoged,
1996). Isso é decorrente do fato de suas correspondentes orais [i,a,u] serem as vogais mais
relacionadas. Para que uma vogal alta [i] ou [u] seja nasalizada, é necessário apenas um
34
cavidade nasal. Por outro lado, uma vogal baixa como [a] necessita de um abaixamento
relativamente bem maior em relação às vogais altas, para que seja percebida como uma
vogal nasal, pois a configuração do trato vocal é bem diferente durante a produção da
segmentos orais vogais altas e glides no português brasileiro e no inglês britânico. Como
vogais nasais ocorrem no português brasileiro, mas não no inglês britânico, restringimos ao
2.5.4 Duração
importante e relevante, em particular, para este estudo. Muitas línguas do mundo têm a
vogal alta [i]. No primeiro exemplo, a vogal [i] é longa e no segundo exemplo a vogal [i] é
breve. Observe que a vogal longa é indicada pelo uso do diacrítico []. A ausência deste
necessariamente há uma vogal breve. Observe o contraste entre vogais longas e breves em
35
inglês: [li:v] ''leave'' viver e [lv] ''live'' morar. Nesta língua, além do parâmetro vogal
2.5.5 Tensão
segmentos frouxos são aqueles segmentos produzidos com menor esforço muscular em
vocálicos frouxos tendem a ocorrer em posição átona final, como em “sapo” [sap],
pretônica como em “jacu” [aku] e “Paris” [paris]. Podemos concluir que no português
à estrutura silábica. As vogais tensas podem ocorrer no final de palavras e sílabas, como
em “he” [hi:] ou “too” [tu:]. Por outro lado, os segmentos vocálicos frouxos não ocorrem
símbolos diferentes. Em inglês, temos uma série de pares de vogais com qualidades
36
diferentes (que também se distinguem por serem longas e breves) e muitos autores adotam
seguinte ordem:
classificatórias. A vogal [i] classificada como ''vogal alta anterior não-arredondada nasal'' e
Tipicamente, não se indica o grau de vozeamento. Contudo, caso este fator seja
Na próxima seção, descreveremos o Método das Vogais Cardeais. Tal Método tem
interpretação dos segmentos vocálicos que ocorrem nas línguas naturais cujas qualidades
vocálicas são variadas (Jones, 1969). Este método é até hoje muito utilizado, pois relaciona
Vogais Cardeais será utilizado neste trabalho para descrever e interpretar os segmentos
foi proposta por A. J. Ellis em 1844. A nomenclatura “cardeal” foi usada pela primeira vez
por A.M. Bell em 1867, inspirando-se nos pontos cardeais. Daniel Jones reapresentou o
partir deste, tornando-o amplamente usado desde então. Abercrombie (1967) desenvolveu
a proposta de Jones até o ponto que se encontra hoje (Cristófaro Silva, 1999b).
cardeais de 1 a 8 são articuladas com o ponto mais alto da língua no limite da linha
periférica da área vocálica. A área vocálica é parte da área da cavidade bucal onde a língua
assume posições diferentes para a articulação de vogais sem causar contato, fricção ou
38
estas vogais são pontos de referência para todas as vogais das línguas naturais. É
importante salientar que estas oito vogais foram selecionadas de forma arbitrária, ou seja,
não correspondem ao sistema vocálico de nenhuma língua natural. Por coincidência, pode
acontecer de alguma língua conter uma ou mais vogais das oito vogais cardeais.
caracterizam uma vogal dentro da área vocálica, que é representada por uma figura em
forma de trapézio, muitas vezes chamado de quadrilátero. O ponto da linha periférica para
a posição mais avançada e mais alta da língua na cavidade bucal, é a vogal cardeal no. 1, ou
O mesmo procedimento pode ser adotado para definir os outros pontos na linha
periférica, ou seja, a articulação do ponto mais baixo e mais posterior possível antes de
haver contato entre a língua e a úvula, corresponde à vogal [a], a VC5. As três vogais logo
abaixo da VC1 no trapézio, correspondem aos pontos das vogais cardeais VC2 = e, VC3 =
relação à VC5, são a VC6 = , VC7 = o e VC8 = u. Estas vogais podem ser descritas em
TABELA 1
As VC1 a VC8
As vogais de 1 a 5 não são arredondadas e de 6 a 8 são arredondadas.
Anterior Posterior
Alta VC1 i VC8 u
vogais cardeais, e para classificar uma vogal de uma língua natural, deve-se pedir a um
nativo desta que a pronuncie. A partir daí, comparar a postura da língua durante a produção
desta, com a da vogal ou vogais cardeais mais próximas, até que se possa determinar a
segmento vocálico de qualquer língua natural. Porém, foram estabelecidas catorze vogais
ilustra os segmentos correspondentes aos pontos VC9 a VC16. As VC9 a VC16 que
TABELA 2
As VC 9 a VC16
TABELA 3
As VC17 a VC22
trapézio e as vogais cardeais de 19 a 22 são centrais. Das VC9 a VC16 têm-se a mesma
posição de língua que nas vogais primárias VC1 a VC8. A diferença está na posição dos
lábios, as VC9 a VC13 são arredondadas e as VC14 a VC16 não são arredondadas. As
vogais cardeais secundárias restantes, VC17 a VC22 localizam-se na parte central da área
vocálica. Sendo as vogais cardeais VC18, VC20 e VC22, produzidas com labialização e as
Estes sons, os ditongos, são sons que consistem de um movimento articulatório ou deslize
da língua de uma vogal a outra (Clark & Yallop, 1990). Os ditongos são também tratados
como uma seqüência de segmentos, sendo um dos segmentos interpretados como uma
vogal e o outro interpretado como um glide. O glide refere-se aos segmentos vocálicos sem
proeminência acentual nos ditongos (Cristófaro Silva, 1999b). Glides são segmentos
assilábicos que co-ocorrem com um segmento vocálico. Um ditongo pode ser composto de
Glides palatais podem ser transcritos como /j, y, , /. Glides velares podem ser transcritos
42
como /w, , /. A transcrição diferente dos glides depende da interpretação fonológica
fonologicamente como consoante e quando o glide é simbolizado por [, ], ele é
tipicamente interpretado como vogal. Este trabalho adota o símbolo [j] para o glide
como vogal. Em ambos os casos, o símbolo adotado para o glide será adjacente a uma
No diagrama das vogais cardeais, os ditongos são indicados por uma flecha que
marca o ponto inicial e o ponto final do ditongo. Um destes pontos não terá proeminência
apresentados quando da descrição das vogais altas e glides em cada uma das línguas em
segmentos vocálicos.
boca e as deslocamos. Quando uma molécula de ar colide em outra e oscila para frente e
para trás em relação ao seu ponto de repouso, produz o som, no caso, o som da fala. Estas
moléculas no trato vocal são postas em movimento pela ação das cordas vocais. Toda vez
43
que as cordas vocais abrem e fecham, produz-se um pulso de ar e estes pulsos vibram o ar
tempo que a molécula leva para fazer o ciclo é denominado período do ciclo e freqüência
de vibração é o número de ciclos – movimento das moléculas de ar para frente e para trás –
segundo. Sua unidade de medida é o Hertz (Hz). Por exemplo, se as cordas vocais fazem
100 movimentos em um segundo, dizemos que a freqüência deste som é de 100 Hz.
quanto mais alta a freqüência, mais alto o tom, (O’Connor, 1973). As vogais são
acusticamente definidas por dois ou três tons característicos ou formantes, podendo ser
produção de um som da fala, (Picket, 1999). Os formantes que caracterizam as vogais são
Usamos o espectrógrafo para ter a representação visual dos traços acústicos dos
sons da fala, na forma do espectrograma. Este é uma representação visual dos traços
acústicos dos sons da fala e mostra o espectro de um som. Por sua vez, espectro é a gama
de freqüências que compõem uma onda sonora. Ao analisar uma vogal no espectrograma, a
intensidade de cada freqüência é mostrada pelos traços mais escuros da marca. As barras
44
componentes acústicos da vogal alta longa [i:] representando as ressonâncias no trato vocal
terceiro por F3, todos caracterizam a vogal alta anterior longa [i].
correspondem a segmentos vocálicos sem proeminência acentual (cf. seção 5.7). Sendo
7
Freqüência fundamental é a freqüência básica na qual um som vibra, geralmente abreviado como F0
(CRYSTAL, 1997).
45
assim, a discussão que se segue menciona a categoria vogal, porém na prática, engloba
demais formantes (F4, F5, etc.) não são necessários para a especificação lingüística de um
ordem de suas freqüências, do mais baixo ao mais alto. São chamados de primeiro
formante (F1), segundo formante (F2), terceiro formante (F3) e assim por diante. O
seja, ao movimento dos lábios, língua, faringe e mandíbula, na articulação das vogais e
o grau de estreitamento das constrições. E de acordo com estes fatores, Picket delineou
regras a seguir.
formantes. Para tal, devemos considerar os pontos de constrição na articulação das vogais,
metade frontal da parte oral do trato vocal. Quanto maior a constrição, menor o F1.
Portanto, se a parte mais alta da língua estiver próxima ao meio do palato ou à frente deste,
o F1 é mais baixo em freqüência que 500 Hz, que é a medida neutra. (Picket, 1999).
A vogal alta anterior [i] é um exemplo disso. Na TAB. 4 abaixo, as vogais [i] e []
têm a freqüência do F1 mais baixa que 500 Hz, que são 300 Hz e 360 Hz respectivamente.
Como a constrição desta vogal é grande e é feita na parte frontal do trato vocal, a
TABELA 4
F1 F2
i: heed 300 Hz 2300 Hz
hid 360 Hz 2100 Hz
hood 380 Hz 950 Hz
u: who 300 Hz 940 Hz
FONTE: GIMSON, 1970. p.98
língua e quanto maior a constrição, menor o F2. A vogal alta [u], por exemplo, é articulada
com a língua elevada na parte traseira do palato. O efeito é abaixar a freqüência de F2. De
fato, esta vogal é formada por um estreitamento grande, a parte traseira da língua fica
muito próxima ao palato mole, portanto freqüência de F2 é baixa por causa desta
constrição pequena. Nos dados abaixo, em relação às F2 das vogais altas anteriores, as
47
posteriores [] e [u], têm as freqüências de F2 mais baixas, ou seja, 950 Hz e 940 Hz em
língua. E quanto maior a constrição na parte anterior da língua, maior a freqüência do F2.
(Picket, 1999). A constrição da vogal alta [i] é a maior, portanto, sua freqüência no F2 é
mais alta. Podemos observar este fato nos dados de Wells (1962), apud Gimson (1970),
que são apresentados na TAB. 4, na página anterior. Também podemos observar nesta
tabela, que o F1 da vogal alta anterior [i] é mais afastado que o F2 em comparação à vogal
arredondamento dos lábios. Portanto, quanto mais arredondada a vogal, maior a constrição
e mais baixos são os formantes. Nos dados de Wells da TAB. 4, a vogal [u] é a mais
Os glides [w] e [j] possuem os traços acústicos das vogais altas [u] e [i]
respectivamente, por isso são chamados com freqüência de semi-vogais. (Crystal, 1997).
Ou seja, a estrutura dos dois ou três primeiros formantes do [i] é semelhante ao do [j]. E
de maneira análoga a estrutura dos dois ou três primeiros formantes do [u] é semelhante ao
do [w]. O primeiro formante, F1, pode ser aproximadamente 240 Hz para os dois glides e
48
o F2 pode variar de 2.280 a 3.600 Hz para [j]. Já para o [w], o segundo formante pode
variar de 360 a 840 Hz (Gimson,1970, p. 213). Os formantes dos glides podem também
variar de acordo com as vogais adjacentes, por exemplo em [aja], o primeiro formante
desce e o segundo sobe à medida que a língua movimenta de [a] para [j]. Então, o
primeiro formante sobe e o segundo desce novamente, à medida que a língua volta à sua
Contudo, o glide [w] difere da vogal [u] em três aspectos. Primeiramente, há uma
constrição maior nos lábios no [w] em relação à vogal, isto abaixa a intensidade dos
segundo aspecto que difere o glide [w] da vogal [u], é que a posição da língua na
produção do glide pode variar de acordo com as vogais adjacentes. Uma constrição
levemente posterior da língua pode acompanhar a constrição do [w] nos lábios. Por outro
lado, o segmento vocálico [u] precisa ter uma constrição na parte posterior da língua junto
O terceiro aspecto que diferencia o glide [w] da vogal [u] está na velocidade do
movimento do trato oral na produção de cada segmento. Esta é maior na produção do [w]
49
nos movimentos entre duas vogais. Por exemplo, a transição de F1 na abertura de [w] para
formantes a partir de posições típicas de uma vogal para posições características de outra
vogal, (Gimson, 1970). Os ditongos são semelhantes às vogais longas, ou seja, sua duração
é maior.
Nesta seção, apresentamos a descrição das propriedades acústicas das vogais altas e
os glides. Vimos que as vogais podem ser especificadas pela freqüência dos dois primeiros
articulação das vogais, menor o valor de F1. E quanto maior a constrição na parte traseira
da língua, menor o valor de F2. Portanto, na articulação da vogal alta anterior [i], o valor
ditongos têm a duração de uma vogal longa, visível no espectrograma. É também possível
outra. Os glides [j,w] quando combinados com vogais têm as freqüências semelhantes aos
8
Não encontramos como correlato articulatório a comparação entre [i] e [j]. Contudo, evidências
demonstram características semelhantes.
50
ditongos. A diferença é que a constrição no trato oral na articulação dos glides é maior em
vogais, constatamos que o arranjo no gráfico é o mesmo que o que estamos acostumados a
depende das freqüências dos formantes (Ladefoged, 1982). Considere a FIG. 8 abaixo:
resultante é muito semelhante à descrição articulatória das vogais através do método das
vogais cardeais com as mesmas vogais no gráfico da FIG. 5, constatamos uma semelhança
51
formante mostra a altura vocálica com precisão. A distância entre o primeiro e o segundo
dos lábios não é demonstrado claramente, podendo haver confusão em sua interpretação,
(Ladefoged, 1982).
superiores em relação aos da fonética articulatória. Pode haver maior precisão visual no
citada por Ladefoged, onde os espectrogramas não medem graus de nasalização. Para
identificá-la com maior precisão, técnicas como a palatografia é muito mais eficiente. Isto
brasileiro e no inglês britânico vamos apresentar duas noções muito importantes para este
2.9 A Sílaba
enunciado. Porém, com freqüência os falantes têm dificuldade em dizer exatamente onde
uma sílaba começa e onde termina. A sílaba pode ser considerada uma unidade
relaxam a uma taxa de aproximadamente cinco vezes por segundo, para que o ar seja
expelido em uma sucessão de pequenos golpes. Cada contração, junto com o golpe de ar
resulta na produção de uma sílaba. Uma sílaba, portanto, é o produto do modo que o
uma característica do som da fala. Portanto, a base de uma sílaba é uma breve contração
dos músculos respiratórios e esta expele uma pequena quantidade de ar dos pulmões. Este
atingindo um pico ou núcleo e depois uma redução progressiva, conforme demonstrado por
De acordo com a FIG. 9, podemos afirmar que a sílaba é composta de três partes:
vocálico. As outras duas partes são periféricas e opcionais e são preenchidas por segmentos
núcleo da sílaba pode ser preenchido por uma consoante que é tipicamente uma lateral ou
uma nasal. Um exemplo de sílaba cujo núcleo é preenchido por uma consoante em inglês é
a palavra “little” [lt.l] em que a consoante [l] ocupa o núcleo ou pico de uma sílaba.
é uma vogal: [a]. Os segmentos periféricos [p] e [] ocupam posições não nucleares. É
importante salientar que os glides nunca ocupam uma posição de pico nuclear e não podem
entanto, certas seqüências não são permitidas. Existem regras que governam a ordem em
54
que os sons ocorrem na sílaba e estas regras são denominadas regras fonotáticas. Por
exemplo, a vogal [] não ocorre na posição final de sílaba no inglês, caso contrário, há
violação das regras fonotáticas nesta língua. Isto porque somente vogais longas ocorrem
línguas esta distinção é muito importante, pois o estatuto da sílaba – como pesada ou leve -
sílaba cujo pico silábico é constituído por apenas uma vogal ou de um monotongo. A sílaba
A noção de sílaba é muito importante para a discussão do acento. Isto porque o pico
2.10 O Acento
relação ao acento, daí a importância de defini-lo. O acento incide sobre a sílaba tônica ou
mais forte na produção de uma sílaba tônica em relação às sílabas átonas ou não
acentuadas. Tomemos a palavra “livro” [li.vr], onde a primeira sílaba [li] é tônica e a
segunda sílaba [vr] é uma sílaba átona. A vogal acentuada na sílaba tônica é percebida
55
auditivamente como tendo uma duração mais longa e é também produzida com um volume
mais alto. Esta pronúncia mais alta permite-nos diferenciar as vogais acentuadas das não
acentuadas.
Podemos dizer que uma sílaba mais longa e mais alta, seja em seu tom ou em seu
volume, é uma sílaba acentuada (Callou & Leite, 1990). O português utiliza o acento de
intensidade, que tem papel distintivo em palavras como ‘sábia’ [sab] e ‘sabia’ [sabi]
e sabiá [sabia].
acento primário. A vogal tônica é a vogal que, em relação às outras vogais das outras
contrário das sílabas tônicas, as sílabas átonas podem receber um acento secundário ou
totalmente isentas de acento. As vogais pretônicas antecedem o acento tônico, como por
tônico, como a segunda sílaba da palavra “pera” [per]. A vogal átona também pode ter o
acento secundário representado pelo apóstrofo colocado na parte inferior antes da vogal ou
A duração de uma vogal pode ser afetada pelo fato da vogal ocorrer em sílaba
tônica ou átona no inglês. Nas sílabas do inglês, a mesma vogal pode ser percebida como
mais longa se ocorrer na sílaba tônica, em relação à mesma vogal em sílaba átona, (Laver,
1994). Exemplos são as palavras “credit” [kred.t] crédito e “sit” [st] sentar. Apesar das
duas palavras apresentarem o mesmo segmento [], este terá duração maior na sílaba tônica
em “sit” em relação à mesma vogal de “credit”, que ocorre na sílaba átona. Isto acontece
sílaba, no caso, a sílaba tônica, maior o esforço muscular em sua produção. A sílaba tônica
também dispõe de tom mais alto, maior volume e maior duração ou esforço articulatório,
refletindo na performance dos segmentos que a constituem. Por isso, o segmento vocálico
sílaba átona.
segmental a uma estrutura acentual. No entanto, nem todas as línguas naturais utilizam este
sistema. Em oposição a este sistema de ritmo, estão as línguas tonais cujos núcleos ou
picos silábicos carregam tons. Um tom é definido por alturas melódicas. O tom pode ser
alto, médio, baixo ou tons intermediários como ‘médio-alto’. O dialeto chinês mandarinês
Fornecemos até aqui, um instrumental teórico que teve por objetivo contribuir para
a análise das vogais altas e glides no português brasileiro e no inglês britânico a ser
apresentada nessa dissertação. Esta análise é apresentada nas seções que se seguem.
57
um outro ponto nesta área. Nos tritongos, há três pontos audíveis, permitindo o
Relembramos que neste trabalho, usaremos os símbolos [, u] para os casos em que
[j, w] para os casos em que o glide se comporta como consoante. Trataremos inicialmente
TABELA 5
brasileiro: [i, , i, u, , u]. O segmento [i] é classificado articulatoriamente como vogal
alta anterior e o [u], vogal alta posterior. Ambas as vogais são tensas e podem ocorrer em
posição tônica. Estes segmentos vocálicos podem ocorrer também em posição pretônica e
em posição postônica medial em alternância com suas correspondentes tensas (TAB. 5). Os
final. Estes segmentos podem ocorrer ainda em posição pretônica e neste caso, alternam
A vogal alta longa também pode ocorrer no português brasileiro, em posição tônica,
seguida de uma consoante e uma vogal alta epentética. Como em “digno”, [diin], a
vogal alta anterior longa ocorre sempre em posição tônica. A inserção da vogal epentética
59
após a consoante que se segue ao segmento vocálico tônico alonga a vogal. Já no caso em
que ocorre o encontro consonantal (ou seja não ocorre a vogal epentética), a vogal tônica
O diagrama das vogais cardeais que se segue (FIG. 10) ilustra as vogais altas
mais próximas da linha limítrofe da área vocálica do que as vogais [, ]. Além de se
localizarem numa posição centralizada, as vogais [, ] são mais baixas que as suas
não conseguimos obter análises das vogais altas para o português de Belo Horizonte.
Sendo assim, lançamos mão do trabalho de Callou; Leite & Moraes (1996). Estes
60
pesquisadores analisaram dados das seguintes capitais: Recife, Salvador, Rio de Janeiro,
e do Brasil em relação às vogais cardeais (Callou; Leite & Moraes, 1996). Os autores
compararam as médias gerais do primeiro (F1) e segundo formantes (F2) obtidas através
médias das vogais cardeais estabelecidas por Catford (1988). Os dados numéricos das
TABELA 6
Valores das F1 e F2 das Vogais Altas, medidos em Hz
Vogais Cardeais Português Europeu Português Brasileiro
F1 F2 F1 F2 F1 F2
i 240 2400 294 2343 353 2161
u 250 595 315 678 358 928
FONTE – CALLOU; LEITE; MORAES, 1996. p. 45.
61
Com relação à dimensão vertical F1, as vogais altas /i, u/ no português brasileiro
relação às vogais cardeais as vogais altas no português brasileiro são mais baixas,
Com relação ao F2, verifica-se que as vogais altas do português brasileiro são mais
centralizadas e as vogais altas do português de Portugal são mais próximas às vogais altas
interpretado como vogal e o outro como um glide. O segmento vocálico é aquele que tem
proeminência acentual. O glide é um segmento que não recebe acento. No ditongo, os dois
segmentos são pronunciados numa mesma sílaba, sendo o segmento vocálico núcleo ou
pico da sílaba. Por exemplo, na palavra “pau” [pa], o segmento [a] é o segmento
diagrama das Vogais Cardeais apresentado na FIG. 12 abaixo, ilustra os ditongos [a] e
Podemos observar na FIG. 12, que os ditongos [a] e [a] no português brasileiro
têm início na área vocálica delimitada para a vogal [a]. O ditongo [a] direciona-se no
diagrama das vogais cardeais para a área vocálica da vogal []. No caso do ditongo [a]
ocorre o movimento em direção da área vocálica da vogal []. Observamos que nos dois
casos o ditongo termina na área vocálica referente ao segmento vocálico frouxo [, ]. Em
alternativa que é ilustrada para cada caso. Em (5 b-d), o ditongo inicia-se na área vocálica
de [] e em (5 e-g), o ditongo inicia-se na área vocálica de []. Nos exemplos abaixo, são
Nos exemplos de (6 a-f), o ditongo termina na área vocálica de []. Nos exemplos
de (6 g-k), o ditongo termina na área vocálica de []. Nos casos ilustrados em (6 a-k), a
Nos casos ilustrados em (6 l-m), o ditongo decrescente pode alternar com uma seqüência
apresentados em (7).
9
Ditongos decorrentes da vocalização do /l/ não são considerados nessa dissertação. Ex.: “sol” [s].
64
Silva, 1992, Collischon, 1996). Isto porque glides intervocálicos podem ser interpretados
que o glide comporta-se como um segmento vocálico que será transcrito por [].10
deste caso são “quais”, “Uruguai”. Neste tipo de seqüência, há controvérsia quanto à
interpretação fonológica da oclusiva velar e glides. (cf. Cristófaro Silva, 1995, Couto,
1996).
Contudo, há consenso quanto ao fato do glide [w] co-ocorrer com a consoante oclusiva e
não apresentar alternância com a vogal alta correspondente. Sendo assim, nessa
dissertação, esse glide sistematicamente será transcrito por [w] como em [kw]ais ou
Uru[w]ai.
10
Glides intervocálicos com [] são raros no português brasileiro: ''Cauê''.
65
Esta seção apresentou a descrição fonética das vogais altas orais, dos ditongos e dos
inglês britânico.
longas e ditongos (Jones, 1997). A duração vocálica pode ser distintiva em várias línguas,
como no inglês. No inglês americano, a diferença entre vogais longas e breves é por vezes
analisada como uma diferença entre vogais tensas e frouxas. As vogais tensas são em geral,
mais longas em duração e requer maior esforço muscular em relação à produção de uma
vogal tensa.
alguns casos no inglês. Estes contextos de ocorrência serão discutidos neste trabalho.
Os exemplos em (1) ilustram palavras que contém vogais altas longas e breves.
ilustradas em (1).
Ladefoged (1982) sugere que as vogais breves e longas do inglês sejam descritas de
acordo com suas ocorrências nas sílabas. Mais especificamente, em sílabas fechadas e
são, portanto, excluídas da posição final de palavra). As vogais longas ocorrem em sílabas
abertas e também em sílabas fechadas por uma ou mais consoantes. Considere os exemplos
em (9) que ilustram a restrição descrita acima, para as vogais altas longas e breves:
Exemplos são (o ponto final indica o limite silábico): [st.i] ''city'' cidade e
As vogais altas longas [i, u] podem ocorrer também, antes de outra vogal alta,
que se encontra em sílaba tônica. Geralmente, nestes casos ocorre o sufixo –ing. Exemplos
formante diminui com a posterioridade da vogal. Quanto mais anterior a vogal, mais alta a
freqüência (Ladefoged, 1982). Podemos observar também que as vogais longas [i, u]
ocupam temporalmente (em ms) mais tempo do que as vogais breves [, ] corroborando
As vogais altas tensas e breves [i, u] podem ocorrer em posição final de sílaba em
duas situações especiais, pois dissemos anteriormente que em posição de final de sílaba
espera-se apenas ocorrer vogais altas longas. Contudo, os casos em que a vogal alta tensa
69
curta ocorre são bem específicos e expressam a neutralização de vogais longas e breves.11
1) quando uma vogal alta é seguida de uma outra vogal “radio” [re.di.o] rádio,
2) quando em posição átona final (neste caso só ocorre [i]): “happy” [hæp.i] feliz,
inicialmente, dos ditongos decrescentes. Estes ditongos são formados por dois segmentos
(a vogal e o glide) e funcionam como vogais longas. Sendo assim, espera-se encontrar
ditongos decrescentes em final de sílaba (ou seja, em sílaba aberta) e em sílabas fechadas.
11
“Neutralização” é um conceito fonológico que será discutido na segunda parte deste trabalho.
70
vocálica de [] e dois ditongos decrescentes que terminam na área vocálica de []. Isto
são decorrentes da perda do “r” em final de sílaba que ocorreu no inglês britânico e que
schwa [] permaneceu (Roca & Johnson, 1999). Nos exemplos de (13), apresentamos a
ilustradas em (12).
tritongos no inglês britânico. Os tritongos em inglês podem ser considerados como uma
Os tritongos em (14), ocorrem somente no inglês britânico onde houve a perda do “r” em
britânico.
casos em que os glides se comportam como consoantes. Este fato será demonstrado
seqüência de glide+vogal. Trataremos dos glides /j/ e /w/ separadamente. O glide /j/
ocorre em:
3. Posição intervocálica:
Esta seção apresentou a descrição fonética das vogais altas orais, dos ditongos e dos
2.13 Conclusão
necessários para se proceder a análise fonética das vogais altas e glides em estudo. Estes
Generalizando, podemos afirmar que a distribuição das vogais altas e glides no português
distribuição das vogais altas e glides está relacionada à estrutura silábica. Após o resumo
das vogais altas e glides a ser apresentado na página seguinte, procederemos à análise
Cresc
o sério sro beer b
Crescentes
Decrescentes
3. FONOLOGIA
3.1 Introdução
distribuídos nas estruturas das línguas naturais, formando seus sistemas sonoros (Katamba,
1989). A fonologia interpreta os resultados fonéticos em função dos sistemas sonoros das
línguas e dos modelos teóricos lingüísticos existentes. Seu principal objetivo é investigar
os princípios que governam o modo de organização dos sons nas línguas naturais e explicar
suas variações.
primeiramente, determinar quais sons são lingüisticamente significativos e como estes sons
comportamento de tais sistemas e por fim, tentar generalizar como os sistemas sonoros
entanto, várias outras características fonológicas afetam os segmentos, tais como a sílaba,
tempo, volume, tom de voz, são geralmente estudados pela fonologia supra-segmental na
sons em estudo serão discutidos em diferentes modelos teóricos. Primeiro, serão expostos
os passos de uma análise fonológica estrutural, indicando o estatuto fonológico destes sons
nas línguas em estudo. Esta análise é baseada no modelo fonêmico de Pike (1947).
otimalidade.
3.2.1 Introdução
descrição do sistema de uma língua pode ser feita através da identificação dos fonemas
converter a linguagem oral para a linguagem escrita, base do livro de Kenneth Lee Pike,
3.2.2 Fonemas
Os fonemas são determinados de acordo com sua função para diferenciar palavras,
língua é encontrar duas palavras com cadeia de sons idêntica, mas com a diferença em
apenas um som, em um mesmo ambiente. Este grupo de duas palavras é denominado par
mínimo.
“dar” [dah], “lar” [lah]. Estes exemplos são itens lexicais com diferença somente no som
do ambiente inicial. Podemos interpretar a primeira consoante de cada palavra acima como
vocálicos. Como nos exemplos “pira” (do verbo pirar) [pi] e “pura” [pu], em que a
substituição dos fonemas vocálicos /i/ e /u/ da primeira sílaba de cada palavra altera o
estudo tratam-se de fonemas ou não. Dois sons são considerados fonemas distintos quando
12
O fone ou som é representado por colchetes [ ].
79
noção fundamenta-se no princípio de Pike (1947), no qual os sons tendem a ser afetados
por contextos lingüísticos específicos. Estes contextos podem ser os sons vizinhos, a
exemplo).
fonema é que estes devem ter semelhança fonética. Pois, por partilharem alguma
propriedade fonética os sons são considerados pares suspeitos. Por outro lado, dois fones
Por exemplo, os fones [t] e [] possivelmente não serão alofones de um mesmo fonema em
nenhuma língua. O motivo que exclui [t] e [] como alofones é a distância dos pontos de
fonema: o fonema /t/. Os segmentos [t] e [t] têm semelhança fonética. No português, [t]
e [t] ocorrem em ambientes exclusivos e por isto são classificados como alofones de um
80
mesmo fonema. O som [t] ocorre antes de /i/ e o som [t] ocorre nos demais ambientes.
sem modificar o significado da palavra, dizemos que estes sons ou alofones estão em
variação livre (Cagliari, 1997). Como por exemplo, na palavra “dia” em que temos as
pronúncias [di] ou [di]. Dizemos que os alofones [d] e [d] dos exemplos acima, estão
em variação livre. O falante pode usar tanto uma forma quanto a outra, pois não altera o
A variação livre não é condicionada por nenhum contexto estrutural que defina a
condicionadas por fatores externos, não estruturais. Dentre estes, podemos mencionar a
informantes, o sexo, a idade, etc. Estes fatores são chamados de variantes sociolingüísticas.
O Princípio de Pressão Estrutural analisa segmentos que podem ter mais de uma
interpretação fonêmica. Esta definição toma como base a organização estrutural de uma
81
língua na interpretação dos fonemas. Este conceito é muito importante para a análise
fonotáticas da língua em estudo. Pike (1947) apud Cristófaro Silva (1999a), demonstra o
(21).
temos a palavra [ia] que apresenta uma seqüência de vogais. Em (21 f), temos a palavra
[tsa] que apresenta uma seqüência de duas consoantes e uma vogal. Os casos de (21 e-f)
impedem de assumirmos que esta língua apresenta como único padrão silábico a estrutura
Como glides podem ser associados a consoantes, dizemos que em [ia], nesta língua,
temos uma sílaba CV que será fonologicamente transcrita como /ja/. No caso de (21e),
podemos assumir que [ts] de fato representa um único segmento africado e temos
foneticamente são ambivalentes. Este é o caso, por exemplo, dos glides, que dependendo
da língua, podem ter uma interpretação fonológica como vogal ou como consoante (Mori,
apresentamos, a seguir, a análise fonêmica das vogais altas e dos glides no português
3.2.6 A Análise fonêmica das vogais altas e dos glides no português brasileiro
No português brasileiro, as vogais altas tensas /i/ e /u/ são fonemas vocálicos. São
Nos exemplos em (22), observamos pares de palavras cujas cadeias sonoras são
idênticas. Cada par constitui um par mínimo. Nas cadeias sonoras de (22), a diferença está
acima contêm o fonema /i/ e as palavras da segunda coluna contêm o fonema /u/. A cada
palavra em (22), é atribuído um significado distinto. Isto determina /i, u/ como dois
fonemas distintos. A seguir, analisaremos a alofonia de cada um dos dois fonemas /i/ e /u/
separadamente.
Na análise apresentada aqui, sugerimos que o fonema /i/ possui quatro alofones no
português: [i, , i, j]. Em posição tônica, a ocorrência do alofone [i] é obrigatória, seguido
tanto de consoante quanto de vogal. Os exemplos abaixo demonstram este fato (2):
(23) a. Olimp[i]ada
b. s[i]laba
c. sac[i]
seguido de consoante.13 Neste caso, há variação livre entre os alofones [i] e []. Considere
os dados em (24):
13
Os casos em que a vogal alta é seguida de vogal serão abordados posteriormente.
84
O alofone [i] também ocorre em posição postônica final em variação livre com o
O alofone [i] ocorre também em posição postônica medial em variação livre com o
O alofone [i] pode alternar com o glide [] em variação livre quando em posição
pretônica precedida por vogal (27 a-c) ou em posição pretônica seguida de vogal (27 d-f).
d. p[ia]da p[a]da
e. p[io]neiro p[o]neiro
f. cr[ia]dagem cr[a]dagem
14
Em algumas variedades do português brasileiro, diferente de Belo Horizonte, ocorre uma vogal tensa [e]
neste contexto: val[e], sobr[e], fom[e].
85
O alofone glide [] pode alternar com a vogal [i] em posição postônica átona,
(29) a. s[e]va
b. b[e]jo
c. b[a]xo
representação lexical da palavra. Em casos em que uma seqüência de vogais alterna com
alofonia. Assumimos, portanto, que ditongos decrescentes podem ser formados a partir de
86
polêmico no português (cf. Cristófaro Silva, 1999a). A proposta aqui assumida tem por
(30) a. sa[]a
b. idé[]a
c. cu[]a
d. go[]aba
e. ma[]ô
f. ba[]uca
O alofone [i] ocorre quando seguido de uma consoante que por sua vez é seguida
de uma vogal [i] epentética15 e outra consoante. A vogal epentética separa o encontro
consonantal. Quando a vogal epentética não ocorre o alofone na posição tônica é a vogal
15
Epêntese é um processo fonológico onde há a adição de um segmento ou som em uma palavra. No caso em
questão, a vogal [i] é epentética.
87
/j/ ocorre por estar vinculado à consoante procedente e à vogal seguinte, tem
TABELA 8
Neste trabalho, sugerimos que o fonema /u/ no português brasileiro possui quatro
alofones, [u, , u, w]. Primeiramente, o alofone [u] ocorre obrigatoriamente em posição
(32) a. tat[u]
b. l[u]a
c. t[u]mulo
seguido de consoante.16 Neste caso, há variação livre entre os alofones [u] e [].
16
Os casos em que a vogal alta é seguida de vogal serão abordados posteriormente.
89
O alofone [u] também ocorre em posição postônica final em variação livre com o
O alofone [i] ocorre também em posição postônica medial em variação livre com o
d. m[u]ambeiro m[]ambeiro
e. emp[u]eirado emp[]eirado
f. menstr[u]ação menstr[a]ção
O alofone glide [] pode alternar com a vogal [u] em posição postônica átona
17
Em algumas variedades do português brasileiro, diferente de Belo Horizonte, ocorre uma vogal tensa [o]
neste contexto: vas[o], cal[o]
.
90
(38) a. pa[]sa
b. ca[]sa
(39) a. r[u]g[i]by
Há casos em que o glide /w/ ocorre conjuntamente com uma consoante oclusiva
velar. Exemplos deste caso são: “guarda”, “quase”. Neste caso, o glide /w/é parte da
consoante. Por ter este estatuto consonantal, este glide será transcrito fonemicamente por
/w/.
18
O processo de vocalização do /l/ como em “tal” não é considerado neste trabalho.
19
Este foi o único exemplo encontrado.
91
TABELA 9
3.2.6.3 Conclusão
unidades fonológicas distintas. As vogais frouxas [, ], as longas [i, u], os glides [, ]
posição átona. As vogais longas [i, u] só ocorrem na posição tônica seguida por uma
consoante e uma vogal epentética. Os glides [, ] correm somente em ditongos crescentes
Concluindo, podemos afirmar que /i, u/ são fonemas no português e que a alofonia
/j, w/ também são fonemas em português, mas apresentam ocorrência restrita. O glide /j/
ocorre somente em formas com o infixo –sion-, como em “estaciona”. O glide /w/ ocorre
Os pares mínimos dos exemplos de (1 a-f) demonstram que há oposição entre vogal
longa e breve no inglês britânico. Podemos dizer que a duração vocálica é fonologicamente
distintiva no inglês (cf. Jones, 1969). A análise de Jones leva em consideração a qualidade
Quanto aos glides /j, w/, estes operam como fonemas distintos (em contraste com
Há uma especificidade de comportamento das vogais longas e breves em inglês que está
20
As afirmações que se seguem são válidas para quaisquer vogais longas e breves. Contudo, ilustramos
abaixo apenas os casos que envolvem vogais altas.
94
Seguindo o que foi previsto acima, não se deve esperar encontrar vogais breves no
final de sílabas ou palavras em inglês. Isto é porque em final de sílaba e palavra, espera-se
sempre que ocorra uma vogal longa. Contudo, há casos em que vogais tensas breves
específico. No inglês, os fonemas // e /i/ perdem o contraste fonêmico em sílaba átona
/i, / e /u, / neutralizam-se neste contexto. Jones (1969) sugere os símbolos /i, u/ para
21
Há casos no inglês em que ocorre uma vogal curta tensa /i, u/ sem envolver a neutralização. Isto decorre
do fato de no inglês as palavras poderem ser pronunciadas de duas maneiras diferentes: forma fraca e forma
forte. Este fenômeno está intimamente relacionado à prosódia e abordá-lo aqui, nos desviaria do propósito
central deste trabalho.
95
RP, que são constituídos por seqüência de vogal e glide. Sendo que o primeiro segmento é
português – que pode ter alternância entre ditongos e seqüência de vogais como em
Este fato nos leva a considerar que os ditongos são lexicalmente definidos. Para
decrescentes (junto com as vogais longas e sílabas travadas) tendem a atrair o acento. Este
quantidade do peso silábico. Sendo assim, podemos assumir que os ditongos no inglês são
lugar em que ocorre o ''r'' no final de sílaba no inglês americano. A perda do ''r'' em posição
ditongos nesta seqüência podem ser: /a, a, e, o, /. Exemplos de tritongos em inglês
são:
Estes tritongos ocorrem somente no inglês britânico, onde houve a perda do “r” em posição
final de sílaba. Estes ditongos centralizados são decorrentes da perda do ''r'' em final de
sílaba no inglês britânico e não estão relacionados à alternância com as vogais altas
Nesta seção, pretendemos demonstrar que os glides /j, w/, em inglês, comportam-
/j, w/ correspondem aos segmentos vocálicos. Isto porque há passagem livre da corrente
língua encontra-se na mesma posição da produção das vogais altas /i, u/. A diferença entre
a articulação das vogais altas e glides correspondentes, está no estreitamento maior entre os
articuladores, ou seja, a língua está mais próxima ao palato na produção dos glides. A
maior proximidade entre a língua e o palato pode dar aos glides o estatuto de consoante
(Schane, 1973).
A interpretação fonológica dos glides no inglês britânico como consoante, pode ser
demonstrada pela regra gramatical que especifica a forma do artigo definido. O artigo
definido ''the'' é pronunciado [], quando a palavra que o segue se inicia por vogal. Por
sua vez, quando precede palavras iniciadas em consoante o artigo definido é pronunciado
Podemos perceber pelos exemplos de (48), que os glides em questão devem ser
interpretados como consoante, pois a forma [] ocorre. A forma [] é aquela que é
prevista para os casos que o artigo é seguido de consoante (cf. 48 b). Observamos que em
“the year” [ j], o ano e, em “the one-hour limit” [ wn a lmt], o limite de uma
hora, a forma do artigo definido “the” no inglês, é realizado como []. A discussão
acima, referente a forma assumida pelo artigo definido quando a palavra seguinte se inicia
por um glide, corrobora a análise de que os glides /j, w/ comportam-se como consoantes
no inglês.
vogal /u/. Exemplos são: “new” [nju] novo, “attune” [tjun] afinar,“beauty” [bjuti]
beleza, “music” [mjuzk] música. Nestes casos, assumimos que o glide comporta-se
como consoante pelo fato deste co-ocorrer com uma consoante (que precede o glide),
formando uma unidade. Nestes casos, o glide preserva a sua estrutura, não alternando com
Finalmente, há casos em que o glide /w/ ocorre conjuntamente com uma consoante
oclusiva. Exemplos deste caso são: “twelve” [twlv] doze, “dwell” [dwl] morar. Neste
99
caso, o glide /w/ é parte da consoante. Por ter este estatuto consonantal, tal glide será
3.2.7.4 Conclusão
tensas curtas [i, u] ocorrem como uma decorrência da neutralização entre vogais longas e
breves em contextos específicos (posição átona final e quando seguidos de uma vogal). As
vogais altas breves /, / ocorrem somente em sílabas fechadas. As vogais longas
/i, u/ podem ocorrer em sílabas abertas ou fechadas. Os ditongos decrescentes são
estáveis no inglês, ou seja, não há a alternância entre o glide e a vogal alta. Os glides
TABELA 8
correspondem aos casos de neutralização no inglês. Por outro lado, os fonemas vocálicos
do inglês, ou seja, /i, , u, /, correspondem aos alofones em português. Os fonemas
consonantais /j, w/ ocorrem nas duas línguas. Vale, entretanto ressaltar, que os contextos
de ocorrência dos fonemas /j, w/ são completamente diferentes nas duas línguas. Em
português, /j/ com o estatuto de consoante, ocorre em formas com o infixo –sion-
(“year” [j] ano) com o estatuto de consoante. E, após certas consoantes e seguido da
(oclusiva velar + glide) (“quase” [kwaz]) e em inglês, /w/ ocorre em início de palavra
[twas] duas vezes). Em ambas as línguas, o glide /w/ tem o estatuto fonológico de
consoante.
estrutura sonora.
101
átonas. Contudo, a relação entre os alofones [] e [] não pode ser expressa no modelo
fonêmico. O modelo fonêmico permite expressar apenas a relação entre /i/ e o alofone []
e entre /u/ e o alofone []. Mas, de fato, o alofone [] e o alofone [] estão relacionados
ao mesmo fenômeno: que determina que vogais tensas podem se manifestar como frouxas
encontradas nas línguas naturais. Este foi um argumento forte para apoiar a proposta do
mínima de análise. A fonologia gerativa padrão assume que os fonemas (que de fato são
3.3.1 Introdução
Transformacional proposta por Chomsky, 1968 apud Cagliari, 1997. Chomsky demonstrou
sendo a ''competência'' do falante e o uso real desta língua em situações reais foi
uma descrição das regras que governam a estrutura da competência, seria o objetivo mais
fonológicos:
1) Assimilação;
3) Enfraquecimento e fortalecimento;
4) Neutralização.
específicas dos sons seriam as unidades básicas da fonologia, não o fonema. O fonema de
A teoria dos traços foi introduzida por Jakobson, Fant e Halle em 1952, apud
fonemas de qualquer língua natural. Este sistema foi criticado por não levar em conta os
foi o SPE (“The Sound Pattern of English”) de Chomsky & Halle (1968) apud Katamba
(1989). Chomsky & Halle propuseram uma revisão na teoria dos traços distintivos
apresentados em Jackobson, Fant & Halle (1952) e Jackobson & Halle (1956) apud
traços definidos acusticamente por traços com correlatos articulatórios. O número de traços
São assumidos dois coeficientes ou valores, o sinal (+) indicando a presença do traço e o
sinal (-) indicando a ausência do traço (Katamba, 1989). Apresentamos a seguir, a lista dos
uma análise fonológica. São traços distintos que dividem os segmentos fonológicos de uma
Silábico [silábico]: Sons silábicos são sons que funcionam como núcleo silábico e os não-
silábicos ocorrem como margens na sílaba. Normalmente, os sons silábicos são mais
proeminentes auditivamente que os sons adjacentes não-silábicos. As vogais são silábicas e
no inglês, por exemplo, consoantes como [l] em “bottle” ou [n] em “cotton” são silábicas.
Consonantal [consonantal]: Sons consonânticos são sons produzidos com uma constrição
ao longo da linha central do trato vocal. Esta constrição pode ser total ou parcial. Os sons
não consonânticos não apresentam essa constrição. Assim, as vogais e os glides [w, j] em
105
estudo são [-cons]. As consoantes plosivas, nasais, líquidas, fricativas, africadas são
[+cons].
posição neutra. No SPE, a posição neutra do corpo da língua refere-se à posição assumida
Alto [alto]: Sons altos são produzidos com uma elevação do corpo da língua acima da
posição neutra e os não-altos são produzidos sem esta elevação. As vogais altas, glides [j,
w], são sons [-alto].
Baixo [baixo]: Sons baixos são produzidos com o corpo da língua abaixado em relação à
posição neutra e os não-baixos não apresentam esta característica. As vogais altas, sons em
estudo, são [-baixo].
Recuado [recuado] ou [posterior]: São sons produzidos com uma retração do corpo da
língua de sua posição neutra. Os sons produzidos com o corpo da língua em posição neutra
ou sem esta retração são chamados não-recuados. O glide [w] é [+recuado]. A vogal alta
[i] é [-recuado] e a [u] é [+recuado].
Raiz da língua avançada [ATR] (Advanced Tongue Root): A raiz da língua é puxada em
direção à parte anterior do trato vocal, o que faz com que a cavidade faríngea aumente e
produza uma elevação do corpo da língua. Os sons [-ATR] são produzidos numa posição
neutra. Também pode diferenciar as vogais tensas [+ATR] das frouxas [-ATR].
arredondamento dos lábios, quanto pela constrição das vogais ou consoantes labiais.
sílaba ou palavra, são difíceis de serem descritos em termos fonéticos. O sistema proposto
por Chomsky & Halle (1968) inclui três traços e somente dois são relevantes para esta
análise22:
Longo [longo]: Este traço refere-se à duração de um segmento. Uma vogal pode ser
[+longa] ou [-longa]. Neste último caso, temos uma vogal curta.
Acento [acento]: Todas as sílabas tônicas em uma palavra são mais proeminentes que as
átonas, mas a manifestação de tonicidade varia. A sílaba tônica é percebida como mais
forte devido a uma associação de tom mais alto, maior duração e maior intensidade do
sinal, que é percebido como volume. Essa maior intensidade da sílaba tônica era
considerada característica da vogal, não propriamente da sílaba.
Fonologia Gerativa Padrão que serão utilizados nesse trabalho. Um outro aspecto
Gerativa Padrão e ao mesmo tempo, apontar as falhas que contribuíram para o surgimento
de novas propostas teóricas. Nas páginas que se seguem apresentamos uma proposta de
22
O terceiro traço (que não utilizaremos) é “tom”. Este traço é utilizado na descrição de línguas tonais, onde
a mudança de tom é utilizada para diferenciar o significado das palavras ou demonstrar distinções
gramaticais.
107
3.3.7.1 Introdução
Nesta seção, apresentaremos uma análise através do modelo gerativo das Vogais
Altas e Glides no português brasileiro. Esta análise está baseada em trabalhos de Azevedo
TAB. 9
/i/ /u/
[alta] + +
[baixa] − −
[anterior] + −
[posterior] − +
FONTE: AZEVEDO, 1981. p. 11.
As vogais /i, u/ são [+alta, -baixa]. Estas vogais se diferenciam quanto aos traços
[anterior, posterior]. A vogal /i/ tem os valores [+anterior, - posterior] e a vogal /u/ tem os
valores [-anterior, +posterior]. Estes traços são aqueles relevantes para a caracterização dos
segmentos /i, u/. Contudo, se considerarmos os segmentos /j, w/, vamos necessitar de
outros traços distintivos. As vogais altas são [-consonantal], [+silábico] e /j, w/ são
vogais altas e glides. A TAB. 10 a seguir mostra a especificação dos traços para
/i, u, j, w/.
108
TABELA 10
específica os traços para a matriz fonética das vogais altas e glides no português brasileiro
TABELA 11
Traços distintivos dos alofones das vogais altas e glides no português brasileiro.
i j i u w u
[consonantal] − − − − − − − −
[silábico] + + − + + + − +
[alta] + + + + + + + +
[baixa] − − − − − − − −
[anterior] − − − − − − − −
[posterior] − − − − + + + +
[arredondado] − − − − + + + +
[tenso] + − − + + − − +
109
traço implica na especificação de valor para outro traço. Por exemplo, os segmentos
[+altos] são [-baixos]. Um outro problema do modelo seria a relação entre as matrizes
+alto
+silábico [-ATR] / _______
-longo [-acento]
frouxos [] e [], quando em posição átona ou não acentuada. Esta regra permite
generalizar que ''vogais altas tornam-se frouxas em sílaba átona'' incluindo aqui, as duas
110
vogais altas [i, u]. A RF1 é uma regra opcional que explica a alternância entre vogais altas
cal[u] cal[]
cúm[u]lo cúm[]lo
c[u]rral c[]rral
A RF2 expressa que uma vogal alta realiza-se como o glide correspondente, quando
seguido ou precedido de vogal, e também, quando entre vogais. Esta regra permite
generalizar que “vogais altas tornam-se glides quando adjacentes a uma outra vogal”.
Novamente, a regra inclui as duas vogais altas [i, u]. A RF2 é uma regra opcional que
Um problema com RF2 é que devido a seu caráter opcional deveríamos ter formas
(51) a. s[e]va
b. d[e]tada
c. s[a]a
d. c[a]sa
temos que assumir que os segmentos /j, w/ estão presentes na representação subjacente.
está no formalismo em RF2. A presença dos parênteses pode indicar também, a ausência
total dos glides. Por outro lado, se os dois parênteses fossem excluídos, a regra seria
invalidada.
A RF3 determina que uma vogal alta passa a ser longa quando seguida de uma
oclusiva (oral) em posição final de sílaba que por sua vez, é seguida de um i* (i-epentético)
23
Casos em que ditongos decrescentes ocorrem em exemplos como [mes] “mês” não serão tratados neste
estudo por não serem típicos do português de Belo Horizonte.
24
$ simboliza o limite silábico.
112
e de outra oclusiva (oral ou nasal), mais uma vez, a regra inclui as duas vogais altas [i, u].
(52) a. d[i]g[i]no
b. abr[u]p[i]to
Nos exemplos de (52), quando não ocorre a epêntese temos uma vogal curta:
d[i]gno e abr[u]pto (ou seja, a RF3 não se aplica). Finalmente, temos os casos de palavras
3.3.7.3 Conclusão
vogais altas e glides no português brasileiro. Este modelo tem a vantagem de relacionar as
duas vogais altas do português nos processos de redução da tensão em sílaba átona, perda
fonêmico, as variações envolvendo as vogais altas /i, u/ são tratadas como casos não
Porém, este modelo apresenta problemas. Um deles está relacionado aos casos em
que o glide alterna com a vogal alta correspondente (cf. (50)) e os casos em que o glide não
alterna com a vogal alta correspondente (cf. (51)). Um outro fator importante a ser
observado, é que a sílaba e o acento estão presentes na formulação das regras. Note,
contudo, que nem a sílaba, nem o acento têm qualquer tipo de estatuto teórico no modelo
113
gerativo. Além destas questões, há o fato do modelo gerativo possuir um poder excessivo
apresentamos uma proposta de análise das vogais altas e glides no inglês britânico sob a
3.3.8.1 Introdução
Nesta seção, analisaremos as vogais altas e glides no inglês britânico sob a ótica do
modelo gerativo. A tabela que se segue apresenta os traços distintivos dos segmentos:
TABELA 12
i j u w
[consonantal] − − − − − −
[silábico] + + − + + −
[alta] + + + + + +
[baixa] − − − − − −
[anterior] − − − − − −
[posterior] − − − + + +
[arredondado] − − − + + +
[tenso] + − − + − −
[longo] + − − + − −
114
A TAB. 12 da página anterior ilustra a matriz fonológica das vogais altas e glides
O processo descrito em RF4 determina que uma vogal alta torna-se breve em duas
sílaba átona ou 2) quando seguido de uma vogal em sílaba não acentuada. A RF4 permite-
O processo expresso pela RF4 agrupa as vogais altas /i, u/ e também relaciona
dois contextos que propiciam a redução da vogal. Este, de fato, é um grande mérito do
modelo. contudo, novamente verificamos que o acento e a sílaba (simbolizada por # por
115
coincidir com o final de palavra) ocorrem na notação de RF4, mas não têm um estatuto
inserção de glides:
25
De fato há restrições quanto às consoantes que podem preceder o glide. Contudo, por propósitos
descritivos indicamos apenas a característica do segmento como [+consonantal].
116
3.3.8.3 Conclusão
posição átona ou em final de palavra ou quando adjacente a outra vogal. Podemos afirmar
também, que ocorre a inserção de um glide em contexto específico (entre uma consoante e
a vogal /u/). Contudo, uma vez que a sílaba não tem estatuto teórico no modelo gerativo,
torna-se inadequado generalizar que vogais breves ocorrem em sílabas fechadas e vogais
longas podem ocorrer em sílabas fechadas ou abertas. Novamente, o acento e a sílaba são
indicados na formalização das regras fonológicas, mas, ao mesmo tempo, estas unidades
comportamento semelhante (em nosso caso as vogais altas). Por outro lado, o modelo
gerativo padrão oferece uma possibilidade muito ampla de abstração. Veja por exemplo,
que não há nenhuma motivação para se inserir o glide /j/ na RF5. Esta falta de motivação é
nem mesmo explicita-se como tais unidades operam. Este último ponto, quanto à falta de
estatuto teórico do acento e da sílaba, foi mola propulsora para a formulação de propostas
teóricas subseqüentes.
117
à descrição fonológica. Isto oferece um avanço teórico que será demonstrado na próxima
seção.
A noção de sílaba como unidade fonológica foi gradativamente sendo aceita a partir
de trabalhos como de Kahn (1976) e Hooper (1976) apud Biondo (1983). No entanto, sua
Keyser 1983; Harris, 1983). Desde então, as pesquisas que giram em torno da natureza e a
se incorporar a sílaba como constituinte. A análise da sílaba proposta por Goldsmith (1990)
teve inicialmente, como base, fenômenos fonológicos que ocorrem nas línguas tonais.
trabalho. Tomamos como base os trabalhos de Biondo (1993) e Bisol (1989). A fonologia
nativo tem de sua própria língua. O processo que uma forma subjacente sofre até
Segundo a teoria, para que uma estrutura seja bem formada, deve obedecer todo o
formação desta estrutura. O nível que interessa diretamente ao estudo da estrutura silábica
é o nível da palavra, o nível “P”, onde a silabificação é uma condição de boa formação
sobre as representações. A principal motivação que existe nesta teoria, para propor uma
estrutura interna básica para a sílaba, é o fato da sílaba ser descrita tradicionalmente como
um agrupamento de consoantes e vogais (cf. Malmberg, 1955 apud Biondo, 1993). Este
• uma cadeia mais curta de zero ou mais consoantes denominada coda ou cauda;
O R
N C
t r e s
Figura 7. Estrutura da sílaba
119
Bloomfield (1933) apud Biondo (1993), postula que a sonoridade inerente a cada
um dos segmentos podia prever a ordem destes dentro do onset e da coda. Isso fez surgir
um princípio que estipula que as sílabas tendem a ser construídas a partir de um crescendo
Entendendo como sonoridade, uma escala que reflete o grau de abertura do aparelho vocal
seja, os elementos mais sonoros poderão ocupar a posição de núcleo silábico e os menos
+
- baixas
vogais - médias
sonoridade - altas
glides [j, w]
líquidas [r, l]
nasais
- fricativas
obstruintes - africadas
_ - oclusivas
(Biondo, 1993).
traços fonológicos de uma língua deve receber uma autorização dos licenciadores silábicos
ao nível “P” para que possam ser realizados foneticamente, caso contrário, serão apagados,
um onset mais importante do que uma coda, ou seja, uma sílaba é construída com o menor
consoantes podem ser o centro da sílaba. Contudo, o núcleo de uma sílaba é tipicamente
preenchido por vogais. Sílabas que terminam em vogais são ditas sílabas abertas ou livres.
Em oposição temos sílabas fechadas ou travadas, que são aquelas que terminam em
fato que varia de língua para língua. No português brasileiro, as sílabas livres predominam
sobre as travadas.
Goldsmith (1990), chamou a atenção para o fato de que a sílaba não pode ser
desprezada em nenhuma teoria fonológica, pois este elemento está intimamente ligado aos
processos fonológicos das línguas. As regras segmentais podem ser alteradas de acordo
com a estrutura silábica. Em adição, as regras prosódicas envolvendo tom e acento também
estão ligadas à estrutura silábica das palavras. Estes motivos levam a fonologia
121
posição tônica. O acento pode ser considerado lexical26 ou não lexical. Portanto, em
posição tônica ou acentuada, temos vogais altas tensas /i, u/, que serão picos silábicos,
(55)
s w
σ σ
O R O R
x x x x
N N
p i ∅ a
r u ∅ a
26
Consideramos que no português brasileiro o acento é lexical. Ou seja, esta informação é determinada no
léxico, (CRISTÓFARO SILVA, 1992). Há controvérsia quanto a este tópico (cf. BISOL,1992; LEE, 1994).
Contudo, explorar este tópico transcende o propósito do presente trabalho.
122
Como demonstrado em (55), não há dúvidas quanto a análise das vogais altas
Considere (56).
(56) O R O R
x x x x
p i a
r u a
de um segmento (o glide), mas sem ter nenhuma motivação para tal proposta. A análise
vogal, há alternância entre /i, u/ e /, /. Ou seja, há alternância entre as vogais altas
(57)
w s w
O R O R O R
N N N
p i r a t
p r a t
vogal - podem alternar com seus correspondentes glides. Como em p[i]ada ~ p[]ada,
vogal-glides pré e pós-vocálicos pode ser compreendida como perda de uma posição
N N N
x x x x x x x x
p a d a p a d a p a d a
a r d a a r d a a r d a
124
que outra palavra com o onset ramificado. Tomemos como exemplo “prato”, que tem
como onset ramificado, uma consoante oclusiva e uma líquida. Se a palavra “piada”
também possui um onset ramificado (composto de uma oclusiva e um glide), esta estrutura
omitirmos o segundo segmento do onset de “prato”, subentende-se que “pato” seja “prato”.
Pois em linguagem corrente falada, esta palavra pode ser realizada com a omissão da
líquida “r”. Tomemos outra palavra com o onset também ramificado, “precisa”. Na
linguagem falada, esta palavra pode ser produzida com a mesma líquida omitida sem haver
quebra na comunicação. Ou seja, o onset pode perder a segunda ramificação, sem alterar o
significado.
podem ocorrer com a omissão da líquida “r, l”. Por exemplo, na palavra “precisa”, pode-se
ter [pi]cisa como pronúncia alternativa. Considere exemplos com onset ramificado sendo
27
Simbolizaremos os glides em posição de onset por [j, w].
28
Existem alguns casos onde pode haver uma palavra diferente com a omissão da líquida no onset
ramificado. Como em cobre – Kobe.
125
comportamento de (consoante-glide) não é o mesmo, pois o glide, não pode ser omitido.
diagrama em (58 b). Neste caso, temos os glides representados como consoantes
apresentam certas restrições quanto aos segmentos que possam ocorrer em posição
glide-vogal, onde o glide pode alternar com sua vogal alta correspondente. Portanto, esta
126
segunda possibilidade de análise não é a mais apropriada para os glides pré-vocálicos, pois
(58 c), ou seja, o glide silabificado em um ditongo leve. Cristófaro Silva (1992), assume
que um ditongo leve “consiste de dois segmentos associados a uma única posição
crescente29.
ditongo leve, temos que ele é equivalente a uma única posição nuclear. Sendo assim, numa
palavra como ''família'' com uma seqüência de (glide+vogal) na última sílaba, podemos
sílaba (sendo a penúltima sílaba ''mi'' e a última sílaba ''lia''). Contudo, sempre que temos
um glide pré-vocálico, o acento recai na sílaba que precede esta seqüência. Isto quer dizer
que a os glides pré-vocálicos devem seguir da junção de duas vogais em um ditongo leve.
29
Para BISOL, (1989) “o ditongo leve tem alternância do glide com uma vogal simples, sem causar mudança
de sentido”. Para KAYE, (1985), um ditongo leve é um núcleo não ramificado associado a dois segmentos.
Para o caso em discussão assumimos que no ditongo leve, duas vogais são associadas a uma única posição
esqueletal.
127
Outra evidência para analisar o glide pré-vocálico como parte de um ditongo leve, é
Vemos em (61 a-c), que antes de palavra iniciada em vogal o artigo definido plural
tem [z] como segmento final. Em (61 d-f), vemos que o segmento final do artigo definido
plural é [, ] antes de palavras que se iniciam por consoantes. Em (61 g-i), vemos que
quando ocorre uma seqüência de (glide+vogal) o segmento final do artigo definido plural é
[z], que é o mesmo segmento que ocorre quando a palavra se inicia em vogal. Concluímos
A última evidência para a silabificação dos glides pré-vocálicos, é o fato de que não
há restrição quanto a consoante que precede a seqüência glide e vogal. Qualquer consoante
pode preceder o glide. Concluímos que a melhor interpretação para o glide pré-vocálico é
como ditongo leve. Neste caso, o glide pré-vocálico é derivado de uma seqüência de
Resta-nos avaliar o glide pré-vocálico quando este não alterna com a vogal alta
correspondente. Estes são o caso de “estaciona” e “quase”, “guarda”. Assumimos que estes
ditongo leve que é definido lexicalmente (nos casos de “piada”, “cueca”, o glide é
derivado). Nos casos de “quase”, “guarda”, assumimos que o glide é parte da representação
Observamos em (62 a-d), que o glide pós-vocálico não alterna com a vogal alta
correspondente. Nos (62 e-h), o glide pode alternar com a vogal alta correspondente.
Nestes casos, o glide encontra-se em posição pretônica. Neste trabalho, assumimos que as
palavras do grupo (62 a-d) apresentam ditongos lexicalmente definidos. Neste caso, os
129
glides pós-vocálicos estão presentes nas representações lexicais. O argumento para esta
abordagem é que não é permitida a alternância do glide com a vogal alta correspondente.
Assumimos nas palavras de (62 e-h), que o glide pós-vocálico é derivado de uma
seqüência de vogais. A alternância entre o glide e a vogal alta correspondente apóiam esta
abordagem.
intervocálicos podem ser silabificados como (63 a) onset, (63 b) ditongo leve, (63 c) coda
e (63 d), forma ambissilábica, como demonstram os diagramas a seguir. Sendo que quando
a vogal alta ocupa uma posição de onset ou outra que não seja a posição nuclear, é
(63) a. O R O R b. O R O R
N N N N
x x x x x x x
s a a s a a
c. O R O R d. O R R
N C N N C N
x x x x x x x x
s a a s a a
permitiria que o acento caísse na penúltima posição nuclear antes do glide. Uma forma
130
como ''lácaio'' seria possível, o que de fato não ocorre. Quando o glide intervocálico
posição de onset, esperar-se-ia um padrão acentual como ''lácaio'' que, como já vimos, não
A segunda possibilidade (63 b), é de glide em ditongo leve. Esta opção elimina a
proposta (63 c), que pode ocorrer, de glide em coda. Tanto a possibilidade de glide em
coda quanto glide em ditongo leve, podem ocorrer. Portanto, a proposta que assumimos é a
proposta 68 d, como o glide ambissilábico, ou seja, o glide pode terminar uma sílaba ou
iniciar a próxima. Esta proposta engloba a proposta b e c ao mesmo tempo, portanto, sendo
a mais apropriada.
No português brasileiro, a vogal alta anterior longa [i] pode ocorrer em posição
tônica quando precede uma consoante oclusiva no final de sílaba e quando o primeiro
segmento da próxima sílaba também for uma consoante oclusiva (oral ou nasal) que, por
uma posição adicional ocorre na posição tônica. Este aspecto necessita de maior
3.4.1.4 Conclusão
Vimos na análise das vogais altas e glides no português brasileiro, que muitas
nuclear. As vogais longas constituem um núcleo pesado com duas posições esqueletais (cf.
(64 a)) e as vogais breves constituem um núcleo leve (cf. (64 b)). Sendo a duração ou
quantidade um fator importante na estrutura sonora do inglês, este modelo permite que este
132
apresentada a seguir.
(64) a. R b. R
N N
x x x
i
u
em final de sílaba. Explicamos porque as vogais longas (ditongos e sílabas com consoantes
não ocorrem em final de sílabas. Resumindo, podemos dizer que em inglês a sílaba deve
terminar com duas posições esqueletais (e excluímos assim as vogais breves dessa
posição). Se duas vogais ocorrem juntas no inglês, sempre temos um hiato ou seqüência de
duas vogais em sílabas distintas. Quando numa seqüência de vogais a primeira das duas
(66) σ σ
O R R
N N C
x x x x x
n i n
133
consecutivas. Quando isso ocorre, a seqüência de elementos tende a ser reduzida em inglês.
Neste caso, ocorre a perda de uma posição esqueletal nuclear que pertence ao núcleo
(Roca & Johnson, 1999). Sugerimos que a redução da vogal longa no inglês é decorrente
da aplicação de OCP.
cada uma das posições nucleares pertence a sílabas distintas. As duas condições aplicam-se
O segundo caso, é quando ocorre uma vogal alta seguida de outra vogal (69).
Para entendermos o primeiro caso, devemos levar em conta que o inglês é uma
língua sensível ao acento (Kreidler, 1989). Se ocorrer uma sílaba pesada (com vogal longa,
palavras que têm uma vogal breve em final de palavra, verificamos que a grande maioria
destas palavras é formada com o sufixo –y: “happy”, “easy”, etc.30 Uma possibilidade, é
assumir que estas formas são lexicalmente marcadas e são formas que permitem vogais
Considerando-se que o acento é sensível ao peso silábico, observamos que junto com
vogais longas e sílabas travadas os ditongos atraem o acento. Sendo assim, os ditongos
Os ditongos crescentes (“poor” [p] pobre, “tear” [t] lágrima “bear" [b] urso) e os
tritongos ([a] “tired” [tad] cansado, [a] “hour” hora , [e] “layer” [le]
camada, [o] “lower” [lo] mais baixo, [] “coyer” [k] mais modesto) do inglês
30
Em poucos casos não há evidências para um sufixo – como em “city” [sti] cidade – e nos poucos casos
em que uma [u] breve ocorre em final de palavra obviamente não temos o sufixo: “value” [vælju] valor,
“argue” [ju] discutir.
135
codas são constituintes instáveis e o cancelamento do “r” neste contexto, pode ser
[twlv] doze, “dwell” [dwl] morar. Neste caso, o glide /w/ é parte da consoante e são
interpretados como consoantes complexas pois há restrições segmentais. Nos casos em que
[j, w] ocorrem no início de palavra o glide é interpretado como ocupando uma posição
(consonantal) de onset. Pode-se explicar porque a forma do artigo indefinido será “a” para
palavras que se iniciam com consoantes e com os glides [j, w] e a forma do artigo
A forma do artigo indefinido em inglês demonstra que nos casos de (7 a-c), o onset
“n”que separa a vogal do artigo e a vogal do substantivo. Explicamos a ocorrência das duas
3.4.2.1 - Conclusão
observar que assumindo a sílaba como constituinte e a relacionando com o padrão acentual
explicaremos que as sílabas pesadas atraem o acento, podemos expressar porque as sílabas
com vogais breves não ocorrem em final de palavra, os ditongos crescentes e os tritongos
análogo das consoantes e dos glides [j, w] em início de palavra. Um caso que não foi
tratado nesta discussão do inglês, é o da inserção do glide [j] entre algumas consoantes e a
vogal longa [u] como em “music” [mjuzk] música. Embora seja possível formalizar
Nas páginas precedentes, foram apresentadas análises das vogais altas e glides no
do acento está relacionada à estrutura acentual. Por incorporar a sílaba à análise, tivemos
Otimalidade.
137
3.5.1 Introdução
britânico a ser apresentada baseia-se nos trabalhos de Barlow & Gierut (1999); Cagliari
(1999); Lee (2001); Giangola (1998) e Monahan (2001). Proposta por Prince & Smolensky
em 1993 apud Barlow & Gierut (1999), a Teoria da Otimalidade, que daqui para frente
denominaremos TO, é a proposta teórica mais recente para explicar como a gramática
dos modelos anteriores, a Teoria da Otimalidade não formula regras, mas estabelece
restrições. Estas restrições são escalonadas em uma certa ordem determinando o output
mais ótimo31 em relação à gramática de cada língua em estudo, como resultado final do
de output. A relação entre input e output32 são mediadas por duas entidades em TO: o GEN
e o EVAL. O GEN gera para cada forma de input, uma gama de candidatos possíveis para
31
Usaremos o recurso de fonte itálico para indicar a forma selecionada como ótima pela TO.
32
Utilizaremos os termos input e output e não suas respectivas traduções (entrada e saída) por serem estes
termos técnicos.
138
restrições universais (CON). O output ótimo é aquele que viola menos restrições
(Karttunem, 1998).
a palavra inglesa “cat”. O GEN gera outputs como [kæt], [kæt], [kæ], [tæ], [æt],
assim como [bb] e [mu]. É função do EVAL determinar que candidato é mais ótimo de
GEN
EVAL
(restrições)
Portanto, as restrições de fidelidade impedem que palavras como [bb] e [mu] sejam
escolhidas como as mais ótimas para o input /kæt/. As restrições de marcação requerem
que as formas de output não sejam marcadas em estrutura. As propriedades não marcadas
das línguas são aquelas que são consideradas as mais básicas nas línguas naturais, por
restrições de fidelidade e marcação (MacCarthy & Prince, 1995 apud Barlow & Gierut,
1999):
marcados. A marcação refere-se à complexidade de uma estrutura com relação a uma outra
Todas as línguas permitem a forma de consoante isolada, mas nem todas as línguas
escalonamento. Pode também, ser que as restrições de marcação sejam violadas para
parte da Gramática Universal. Porém, uma restrição pode ter um ranqueamento alto em
nível fonológico. Embora tenha sido muito aplicada aos estudos fonológicos, atualmente
está sendo aplicada em outras áreas, sobretudo na sintaxe. Podemos observar que a TO é
um modelo simples, porém, as possibilidades de aplicação são tão grandes que a tornam
um modelo complexo.
que [D] ocorra no output, uma vez que ocorre no input. O ranqueamento destas duas
primeira célula superior à esquerda. Os possíveis candidatos fornecidos pelo GEN estão
nas células abaixo do input. O GEN fornece um número infinito de candidatos, porém
apenas dois são indicados no tableau para ilustrar o caso em questão. As restrições estão
ranqueadas nas células da coluna do meio, de cima para baixo. O asterisco indica violações
nas restrições pelos candidatos. Algumas são fatais, a ponto dos candidatos serem
excluídos. Esta violação fatal é simbolizada por (*!). O símbolo ☺ que será utilizado para
TABELA 13
/ABCD/ *D FAITH-D
a. ABCD *!
b. ☺ ABC *
output é ranqueada mais alta do que a fidelidade de [D]. Sendo assim, a violação de *D é
fatal. A violação de Faith-D ocorre, mas como esta restrição é ranqueada abaixo de *D a
33
O termo “tableau” será utilizado neste trabalho.
142
forma ABC é escolhida como ótima. A próxima seção fará uma análise das vogais altas e
3.5.3 Análise das vogais e glides no português brasileiro pela teoria da otimalidade
Esta análise está baseada em dados discutidos nos artigos de Giangola (1997),
Faremos uma análise crítica comparativa destes trabalhos, por este motivo nem todos os
TO, escolhemos fazer apenas a revisão dos trabalhos de Giangola e Monahan . Caso
baiano falado em Salvador, Bahia. Este autor assume que a sílaba no português é
Giangola (1997), afirma que onsets são opcionais em termos de distribuição, como
em “lua”. Fato que resulta o ranqueamento superior de DEP34 sobre a exigência de que
34
DEP: Todo elemento do output é um elemento do input, ou seja, é proibida a epêntese, (Cagliari, 1999).
143
todas as sílabas devam ter onsets, como demonstra a distribuição abaixo. Os exemplos
“pia” e “rua” também se encaixam nesta análise de duas vogais VV, em hiato.
/lua/ para não violar DEP, deve surgir no output com todos os seus elementos. O primeiro
candidato, [lu.a] viola a restrição ONSET, pois a segunda sílaba não contém um onset. O
segundo candidato, [lu.wa], viola DEP pois existe a inserção de um segmento na segunda
sílaba. A primeira opção é a ótima, pois a violação da restrição onset é menos grave que a
TABELA 14
☺ a) lu.a *
b)lu. a *!
exemplos “aimorés” e “seiva”, também podem seguir a mesma análise apresentada para
“pai” em (5).
144
TABELA 15
☺ a) pai
b) pa.i *!
c) pa. i *!
(1997), não explica a alternância entre a seqüência de vogais altas e glides e apenas indica
que a forma com o hiato é a selecionada. Glides intervocálicos, como em “saia”, não são
abordados por Giangola (1997). Contudo, podemos supor que este autor os interpreta como
como em “quase”, “guarda”, também não são discutidos por este autor. Casos com
Otimalidade explica a ocorrência de hiatos (“pia, lua, piada, cueca”) e os casos dos
ditongos decrescentes (“pai, causa”). Estes casos são analisados com um mecanismo
145
formas alternantes é um problema para a TO. Contudo, têm sido desenvolvidas muitas
pesquisas nesta área. A seguir, consideramos a análise das vogais altas e glides no inglês
britânico.
3.5.4 Análise das vogais e glides no inglês britânico pela teoria da otimalidade
A análise do inglês pela TO neste trabalho, faz uma revisão dos trabalhos de Monahan
(2001) e Green (2001). Monahan (2001), analisa a estrutura silábica no inglês e Green
(2001) discute as vogais do inglês.35 Detemo-nos ao trabalho de Green (2001), que está
Green (2001), descreve as vogais do inglês como tendo a distinção entre vogais tensas
vogais frouxas são breves e as vogais tensas são longas. As vogais tensas-longas podem
mínimo duas moras. A restrição, TNS< - >μ determina que as vogais sejam tensas quando
bimoraicas.
35
Apesar do fato deste trabalho pesquisar o RP, utilizaremos os trabalhos destes autores que se baseiam no
GA (“General American”). Contudo, nos casos analisados não é relevante a distinção dialetal.
146
Green (2001), propõe que sílabas abertas, FTBIN e TNS< - >μ permitem apenas
vogais tensas em seu output. As vogais altas [,] e [i, u] não contrastam neste
ambiente, pois as vogais frouxas [,] não ocorrem em final de sílaba ou em sílabas
abertas no inglês. Portanto, não importa qual dos dois segmentos aparece no input, pois
apenas a vogal tensa [i] vai aparecer na forma de output. A tableau abaixo (TAB. 16)
TABELA 16
(α) /s/
s *! α
β*
s *! α
β*
si *! * α*
β
☺ si α*
β
FONTE - GREEN, 2001. p. 13.
As vogais longas e ditongos são associados a duas moras. Esta restrição é violada
quando as vogais tensas são átonas. As vogais tensas átonas podem ocorre em posição
A análise de Green (2001), não discute os casos em que o glide [j] ocorre entre uma
consoante e a vogal [u], como em “music” [mjuzk] música. Estes casos são problemas
para as análises pelos modelos fonêmico, gerativo e autossegmental. Este é um caso que
envolve variação e os ambientes estruturais não estão bem delimitados (cf. Harris (1994)).
que expressam o comportamento das estruturas sonoras das línguas naturais. Além de
interpretação da variação.
148
4. CONCLUSÃO
concluir que o inventário sonoro referente às vogais altas e glides do inglês britânico e do
vogais altas e glides do inglês britânico e do português brasileiro. Dentre as vogais altas e
glides no português brasileiro, temos como segmentos fonológicos /i, u, j, w/. Os sons
[i, , u, ] ocorrem como variantes (ou alofones em termos fonêmicos) em condições
149
específicas. Dentre as vogais altas e glides no inglês britânico, temos como segmentos
fonológicos /i, , u, , j, w/. Os sons [i, u] ocorrem como variantes (ou alofones em
Concluindo, podemos dizer que os glides /j, w/ têm estatuto fonológico de consoante
nas duas línguas. Exemplos do português são: “estaciona”, “quase”, “guarda”. Exemplos
do inglês são: “year” ano, “water” água, “music” música, “queen” rainha, “twice” duas
vezes. Quanto às vogais altas, temos uma troca entre os inventários fonéticos e fonológicos
TABELA 17
Inventários fonéticos e fonológicos das vogais altas no português brasileiro e no inglês britânico.
Fonético fonológico
As vogais tensas breves /i, u/ têm estatuto fonológico no português (ou fonemas) e
operam como variantes (ou alofones) em inglês. Já as vogais /i, , u, /, têm estatuto
Quanto à adequação dos modelos fonológicos, podemos dizer que cada proposta
teórica contribui para a melhor compreensão do comportamento das vogais altas e glides
nas línguas em estudo. Espera-se que as discussões apresentadas nesta dissertação, possam
150
contribuir para que profissionais que trabalham com o ensino e aprendizagem de segunda
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Harper & Row, 1968. 470 p. (Studies in language).
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Oxford University Press, 1993. 135 p. (Oxford handbooks for language teachers).
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Oxford University Press, 1992. 1184 p.
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77 PIKE, Kenneth Lee. Phonetics: a critical analysis of phonetic theory and a technic
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Press, c1943. 182 p. (University of Michigan Publications. Language and
Literature, 21).
78 ROACH, Peter. English phonetics and phonology: a practical course. 2nd ed.
Cambridge: Cambridge University Press, 1991. 262 p.
160
88 WELLS, J. C. A Study of the formants of the pure vowels of British English. 1962.
Dissertação (Mestrado) – University of London, London.
lkikuchi@uai.com.br