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Pesquisa-ação: uma introdução metodológica*

David Tripp
Universidade de Murdoch

Resumo

Como resultado do grande aumento de sua popularidade e da


amplitude de sua aplicação, a pesquisa-ação tornou-se atual-
mente um termo aplicado de maneira vaga a qualquer tipo de
tentativa de melhora ou de investigação da prática. Tendo em
vista a confusão que daí advém freqüentemente, o principal
objetivo deste autor é esclarecer o termo. Após breve história do
método, ele defende que se encare a pesquisa-ação como uma
das muitas diferentes formas de investigação-ação, a qual é por
ele sucintamente definida como toda tentativa continuada, sis-
temática e empiricamente fundamentada de aprimorar a prática.
A seguir, o autor discute o papel da teoria na pesquisa-ação
antes de descrever o que considera características distintivas do
processo. Segue-se um exame mais detalhado do ciclo da pes-
quisa-ação precedido por um relato do modo pelo qual esse
tipo de pesquisa se situa entre a prática rotineira e a pesquisa
acadêmica. O autor passa então a discutir algumas questões
comuns relativas ao método, tais como a participação, o papel
da reflexão, a necessidade de administração do conhecimento e
a ética do processo. O artigo, em sua parte final, trata de cinco
diferentes “modalidades” de pesquisa-ação e conclui com um
esboço da estrutura de uma dissertação a partir de pesquisa-
ação.

Palavras-chave

Pesquisa-ação – Participação – Investigação-ação – Metodologia


de pesquisa.

Correspondência:
David Tripp
e-mail: d.tripp@murdoch.edu.au

*
Tradução de Lólio Lourenço de
Oliveira.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-466, set./dez. 2005 443


Action research: a methodological introduction*

David Tripp
Murdoch University

Abstract

As a result of its greatly increased in popularity and range of


application, action research has now become a loosely applied
term for any kind of attempt to improve or investigate practice.
In view of the confusion that frequently arises from this, the
main aim of this author is to clarify the term. After a brief
history of the method, the makes a case for regarding action
research as one of a number of different forms of action
inquiry which he briefly defines as any ongoing, systematic,
empirically based attempt to improve practice. The author them
discusses the role of theory in action research before describing
what he sees as the distinguishing characteristics of the process.
Next, a more detailed examination of the action research cycle
is prefaced by an account of the way in which action research
stands between routine practice and academic research. The
author then moves on to discuss some common issues with the
method, such participation, the role of reflection, the need for
knowledge management, and the ethics of the process. The last
part of the paper covers five different ‘modes’ of action
research, and it concludes with an outline of the structure of
an action research dissertation.

Keywords

Research-action - Participation - Inquiry-action - Methodology of


research.

Contact:
David Tripp
e-mail: d.tripp@murdoch.edu.au

* Translated of the Lólio Lourenço


de Oliveira.

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Breve história vidos em diferentes campos de aplicação. No
final da década de 1940 e início da década de
Não há certeza sobre quem inventou a 1950, utilizava-se em administração (Collier),
pesquisa-ação. Muitas vezes, atribui-se a cri- desenvolvimento comunitário (Lewin, 1946),
ação do processo a Lewin (1946). Embora pa- mudança organizacional (Lippitt, Watson;
reça ter sido ele o primeiro a publicar um tra- Westley, 1958) e ensino (Corey, 1949, 1953).
balho empregando o termo, pode tê-lo encon- Na década de 1970, incorpora-se (com finali-
trado anteriormente na Alemanha, num traba- dades de) mudança política, conscientização e
lho realizado em Viena, em 1913 (Altrichter, outorga de poder [empowerment] (Freire, 1972,
Gestettner, 1992). Versão alternativa é a de 1982), pouco depois, em desenvolvimento na-
Deshler e Ewart (1995) que sugerem que a cional na agricultura (Fals-Borda, 1985, 1991)
pesquisa-ação foi utilizada pela primeira vez e, mais recentemente, em negócios bancários,
por John Collier para melhorar as relações saúde e geração de tecnologia, via Banco Mun-
inter-raciais, em nível comunitário, quando dial e outros (Hart; Bond, 1997).
era comissário para Assuntos Indianos, antes A pesquisa-ação educacional é principal-
e durante a Segunda Guerra Mundial e Cooke mente uma estratégia para o desenvolvimento
(s.d.) parece oferecer vigoroso apoio a isso. A de professores e pesquisadores de modo que
seguir, Selener (1997) assinala que o livro de eles possam utilizar suas pesquisas para apri-
Buckingham (1926), Research for teachers morar seu ensino e, em decorrência, o apren-
[Pesquisa para professores], defende um pro- dizado de seus alunos, mas mesmo no interi-
cesso reconhecível como de pesquisa-ação. or da pesquisa-ação educacional surgiram va-
Assim sendo, é pouco provável que algum dia riedades distintas. Stephen Corey defendia, nos
venhamos a saber quando ou onde teve ori- EUA, uma forma vigorosamente técnica e duas
gem esse método, simplesmente porque as outras tendências principais são uma forma
pessoas sempre investigaram a própria práti- britânica, mais orientada para o desenvolvi-
ca com a finalidade de melhorá-la. O relato de mento do julgamento profissional do professor
Rogers (2002), sobre o conceito de reflexão (Elliott; Adleman, 1976; Elliott, 1991) e uma
utilizado por John Dewey (1933), por exem- variedade na Austrália (Carr; Kemmis, 1986) de
plo, mostra muita semelhança com o concei- orientação emancipatória e de crítica social.
to de pesquisa-ação e também se poderia re- Outras variedades correlatas acrescentaram-se
alçar que os antigos empiristas gregos usavam desde então e, talvez mais recentemente, a
um ciclo de pesquisa-ação. noção de Sachs (2003) de “profissional ativista”.
É difícil de definir a pesquisa-ação por Foi esse tipo de diversidade que levou a pes-
duas razões interligadas: primeiro, é um pro- quisa-ação educacional a ser descrita como
cesso tão natural que se apresenta, sob mui- “uma família de atividades” (Grundy; Kemmis,
tos aspectos, diferentes; e segundo, ela se de- 1982), pois, como concluíram Heikkinen,
senvolveu de maneira diferente para diferentes Kakkori e Huttunen (2001, p. 22), “parece exis-
aplicações. Quase imediatamente depois de tir uma situação multi-paradigmática entre os
Lewin haver cunhado o termo na literatura, a que fazem pesquisa-ação”.
pesquisa-ação foi considerada um termo geral
para quatro processos diferentes: pesquisa-di- O ciclo da investigação-ação
agnóstico, pesquisa participante, pesquisa
empírica e pesquisa experimental (Chein; Cook; É importante que se reconheça a pes-
Harding, 1948). Pelo final do século XX, quisa-ação como um dos inúmeros tipos de
Deshler e Ewart (1995) conseguiram identificar investigação-ação, que é um termo genérico
seis principais tipos de pesquisa-ação desenvol- para qualquer processo que siga um ciclo no

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qual se aprimora a prática pela oscilação siste- aprendizagem experimental (Kolb, 1984), o ci-
mática entre agir no campo da prática e inves- clo PDCA (Deming, 1986), PLA, PAR, PAD,
tigar a respeito dela. Planeja-se, implementa- PALM, PRA 1 etc. (Chambers, 1983), a prática
se, descreve-se e avalia-se uma mudança para deliberativa (McCutcheon, 1988), a pesquisa
a melhora de sua prática, aprendendo mais, no práxis (Whyte, 1964; 1991), a investigação apre-
correr do processo, tanto a respeito da prática ciativa (Cooperrider; Shrevasteva, 1987), a prá-
quanto da própria investigação. tica diagnóstica (genérica em medicina, ensino
corretivo etc.), a avaliação-ação (Rothman,
Dia
Diagg rama 11: Representação em quatro fases do ciclo básico 1999) 2 , a metodologia de sistemas flexíveis
da investigação-ação. (Checkland; Holwell, 1998) e a aprendizagem
transformacional (Marquardt, 1999).
Há várias razões para a produção desses
muitos tipos diferentes de investigação-ação,
porque algumas pessoas reconheceram e con-
ceptualizaram o ciclo sem conhecimento das
demais versões já existentes e denominaram o
mesmo ciclo e suas etapas de muitos modos
diferentes. Houve também quem desenvolvesse
versões sob medida para utilizações e situações
particulares, porque há muitos modos diferen-
tes de utilizar o ciclo e executar cada uma das
suas quatro atividades. Assim, tipos diversos de
investigação-ação tendem a utilizar processos
diferentes em cada etapa e obter resultados di-
ferentes que provavelmente serão relatados de
A maioria dos processos de melhora segue
modos diferentes para públicos diferentes.
o mesmo ciclo. A solução de problemas, por
Qual tipo de processo se utiliza e como
exemplo, começa com a identificação do proble-
ele é utilizado depende dos objetivos e circuns-
ma, o planejamento de uma solução, sua imple-
tâncias. Até com “os mesmos” objetivos e cir-
mentação, seu monitoramento e a avaliação de
cunstâncias, pessoas diferentes podem ter di-
sua eficácia. Analogamente, o tratamento médi-
ferentes habilidades, intenções, cronogramas,
co também segue o ciclo: monitoramento de sin-
níveis de apoio, modos de colaboração e assim
tomas, diagnóstico da doença, prescrição do re-
por diante. Tudo isso afetará os processos e os
médio, tratamento, monitoramento e avaliação
resultados. O ponto importante é que o tipo de
dos resultados. A maioria dos processos de desen-
investigação-ação utilizado seja adequado aos
volvimento também segue o mesmo ciclo, seja ele
objetivos, práticas, participantes, situação (e
pessoal ou profissional ou de um produto tal
seus facilitadores e restrições).
como uma ratoeira melhor, um currículo ou uma
política. É evidente, porém, que aplicações e de-
As características da pesquisa-
senvolvimentos diferentes do ciclo básico da in-
ação
vestigação-ação exigirão ações diferentes em cada
fase e começarão em diferentes lugares.
Faz algum sentido diferenciar a pesqui-
Entre alguns dos diversos desenvolvimen-
sa-ação de outros tipos de investigação-ação,
tos do processo básico de investigação-ação,
estão a pesquisa-ação (Lewin, 1946), a aprendi- 1. PLA: Participatory Learning and Action; PAR: Participatory Action
zagem-ação (Revons, 1971), a prática reflexiva Research; PAD: Participatory Action Development; PALM: Participatory
Learning Methods; PRA: Participatory Rural Appraisal
(Schön, 1983), o projeto-ação (Argyris, 1985), a

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definindo-a pelo uso que faz de técnicas de zir uma tese de pesquisa de grau superior.
pesquisa consagradas para produzir a descrição Em vez de aceitar uma definição mais
dos efeitos das mudanças da prática no ciclo aberta de pesquisa-ação, tal como “identifica-
da investigação-ação. A principal razão para se ção de estratégias de ação planejada que são
empregar o termo “investigação-ação” como um implementadas e, a seguir, sistematicamente
processo superordenado que inclui a pesquisa- submetidas a observação, reflexão e mudança”
ação é que esse termo vem sendo aplicado de (Grundy; Kemmis, 1982), passei a preferir uma
maneira tão ampla e vaga que está se tornan- definição mais estrita: “pesquisa-ação é uma
do sem sentido. Uma definição tal como: “pes- forma de investigação-ação que utiliza técnicas
quisa-ação é um termo que se aplica a projetos de pesquisa consagradas para informar a ação
em que os práticos buscam efetuar transformações que se decide tomar para melhorar a prática”, e
em suas próprias práticas...” (Brown; Dowling, eu acrescentaria que as técnicas de pesquisa
2001, p. 152), por exemplo, sob certos aspectos, devem atender aos critérios comuns a outros
é precisa, mas utiliza o termo “pesquisa” no sen- tipos de pesquisa acadêmica (isto é, enfrentar a
tido muito amplo de todo tipo de estudo meticu- revisão pelos pares quanto a procedimentos,
loso e, utilizando-o desse modo, priva os acadê- significância, originalidade, validade etc.).
micos de utilizá-lo para distinguir a forma de in- Isso posto, embora a pesquisa-ação ten-
vestigação-ação que emprega o sentido mais es- da a ser pragmática, ela se distingue claramen-
pecífico ligado à pesquisa na academia. te da prática e, embora seja pesquisa, também
Isso é importante porque se qualquer tipo se distingue claramente da pesquisa científica
de reflexão sobre a ação é chamada de pesqui- tradicional, principalmente porque a pesquisa-
sa-ação, arriscamo-nos a sofrer a rejeição exata- ação ao mesmo tempo altera o que está sen-
mente por parte das pessoas com as quais a do pesquisado e é limitada pelo contexto e pela
maioria de nós conta para aprovação ou finan- ética da prática.
ciamento do trabalho universitário. Assim como A questão é que a pesquisa-ação requer
aconteceu com a pesquisa qualitativa há duas ação tanto nas áreas da prática quanto da pes-
décadas, sou procurado agora regularmente por quisa, de modo que, em maior ou menor medi-
estudantes graduados aos quais não se permite da, terá características tanto da prática rotineira
usarem pesquisa-ação para suas teses. Seus quanto da pesquisa científica. A tabela a seguir
orientadores de pesquisa, ainda que consideran- mostra como fica a pesquisa-ação em relação a
do que ela é pesquisa (e não, por exemplo, de- algumas das diferenças entre as duas. Deve-se
senvolvimento profissional), não consideram o observar que embora a prática rotineira e a inves-
que vêem ser chamado de pesquisa-ação meto- tigação científica sejam apresentadas como os
dologicamente, rigorosa o bastante para produ- pólos do continuum, elas têm tendências contra-

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ditórias, de modo que não são categorias “puras”, Linha 4 – Enquanto a prática rotineira tende
mas oposições mistas. Por exemplo, na Linha 1, a ser a única responsabilidade do prático, e
a prática rotineira é apresentada como habitual, atualmente a maioria das pesquisas é realiza-
embora o que se tornou hábito foi anteriormente da em equipe, a pesquisa-ação é participativa
tanto inovador quanto original sob certos aspec- na medida em que inclui todos os que, de
tos. Analogamente, há muita coisa na pesquisa um modo ou outro, estão envolvidos nela e é
científica que é rotineira, particularmente num colaborativa em seu modo de trabalhar.
período daquilo a que Kuhn (1970) se refere Linha 5 – A prática rotineira é naturalista na
como ciência “normal”. medida em que não é pesquisada, de modo
Alguns outros pontos ilustrados na ta- que não há manipulação da situação. Tanto
bela são: a pesquisa-ação quanto a pesquisa científica
são experimentais no sentido de que fazem
Linha 2 – A pesquisa-ação deve ser contínua e as coisas acontecerem para ver o que real-
não repetida ou ocasional, porque não se pode mente acontece. Porém, como a pesquisa-
repetidamente realizar pesquisas-ação sobre a ação ocorre em cenários sociais não manipu-
prática de alguém, mas deve-se regularmente lados, ela não segue os cânones de variáveis
trabalhar para melhorar um aspecto dela, de controladas comuns à pesquisa científica, de
modo que deva ser mais freqüente do que oca- modo que pode ser chamada mais geralmen-
sional. te de intervencionista do que mais estrita-
Linha 3 – A prática tende a ser uma questão mente experimental.
de reagir eficaz e imediatamente a eventos Linha 6 – A prática rotineira normalmente não
na medida que ocorram e a pesquisa cientí- considera muito o exame de seus procedimen-
fica tende a operar de acordo com protoco- tos, valores e eficácia, mas como processo de
los metodológicos determinados. A pesquisa- aprimoramento, a pesquisa-ação sempre começa
ação fica entre os dois, porque é pró-ativa a partir de algum tipo de problema e muitas
com respeito à mudança, e sua mudança é vezes se aplica o termo “problema-tizar”, por-
estratégica no sentido de que é ação basea- que esse tipo de pesquisa, em comum com a
da na compreensão alcançada por meio da idéia de Argyris e Schön (1974) de “aprendiza-
análise de informações de pesquisa. gem de dupla mão” na prática reflexiva, trata “o
A ação estratégica (Grundy; Kemmis, 1982), problema” como um problema em si mesmo. Na
ou “ação tática” (Jacques, 1992), contrapõe- verdade, a pesquisa-ação socialmente crítica
se à ação que é imediata, resultado de rotina começa muitas vezes com um exame sobre a
ou hábito, embora ela seja informada pelo quem cabe o problema, o que é uma forma de
saber da experiência aplicada a boas informa- problematização. A pesquisa científica, segundo
ções que só podem ser produzidas por pro- Kuhn (1970), é geralmente uma questão de
cessos de pesquisa bem fundamentados. proceder com uma dada agenda e isso, junta-
Contrapõe-se também à ação, que é limitada mente com a necessidade de financiamento,
por protocolos de pesquisa: metodologia é significa que, em geral, ela é comprometida com
sempre preeminente na pesquisa científica, o governo ou com interesses comerciais ou com
mas na pesquisa-ação, a metodologia de pes- a revisão pelos pares. A pesquisa-ação, é claro,
quisa deve sempre ser subserviente à prática, muitas vezes também é comprometida, mas
de modo que não se decida deixar de tentar mesmo nesse caso isso a limita muito menos do
avaliar a mudança por não se dispor de uma que a pesquisa científica.
boa medida ou dados básicos adequados. An- Linha 7 – A prática rotineira corrente geral-
tes, procura-se fazer julgamentos baseados na mente só é vivenciada pelos participantes,
melhor evidência que se possa produzir. embora quando se torna necessário algum

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julgamento profissional importante, a delibe- explicar os fenômenos, não é seu objetivo
ração ocorra e o processo se desloque mais construir o tipo de rede de explicações impli-
na direção da investigação-ação, uma vez cadas na teoria científica.
que o prático comumente seguirá os resulta- Linha 10 – Não há necessidade de explica-
dos do julgamento a fim de aprender com ção: contexto, processos e resultados da prá-
ele. A pesquisa-ação é sempre deliberativa tica rotineira limitam-se aos do prático en-
porque, quando se intervém na prática roti- volvido, enquanto a pesquisa científica visa a
neira, está se aventurando no desconhecido, uma generalização mais ampla possível.
de modo que é preciso fazer julgamentos Linha 11 – Isso tem a ver com administração
competentes a respeito como, por exemplo, do conhecimento: o conhecimento obtido na
daquilo que mais provavelmente aperfeiçoará prática rotineira tende a permanecer com o
a situação de maneira mais eficaz. A pesqui- prático individual e o obtido na pesquisa-
sa científica, o mais das vezes, é discutida no ação destina-se, o mais das vezes, a ser
sentido formal de teorização indutiva e de- compartilhado com outros na mesma organi-
dutiva. Esses processos são por certo utiliza- zação ou profissão; e tende a ser dissemina-
dos na pesquisa-ação, não porém para pro- do por meio de rede e ensino e não de pu-
duzir conclusões e previsões positivistas, que blicações como acontece com a pesquisa ci-
são muito diferentes de bons julgamentos entífica. O fato de a pesquisa-ação tender
profissionais. para a finalidade do prático é algo que me-
Linha 8 – Mais uma vez, a pesquisa-ação fica rece atenção se é para dar uma contribuição
em algum ponto entre o não-registro da maior ponderável ao conhecimento do prático na
parte do que acontece na prática rotineira e a esfera mais ampla, por exemplo, das estraté-
rigorosa revisão, pelos pares, do método, dos gias de práticos qualificados por toda uma
dados e das conclusões da pesquisa científica. ocupação.
A pesquisa-ação tende a documentar seu pro-
gresso, muitas vezes por meio da compilação Retornando ao tema de que essas carac-
de um portfolio, do tipo de informações regu- terísticas são uma tensão entre ação nos cam-
larmente produzidas pela prática rotineira, tais pos da prática e da pesquisa, é essencial não
como resultados de testes em educação ou ín- perder de vista a pesquisa-ação como um pro-
dices de satisfação dos clientes com as organi- cesso no qual os práticos “coletam evidências
zações de serviço ou as atas de reuniões de a respeito de suas práticas e pressupostos crí-
equipes de produção nas empresas. ticos, crenças e valores subjacentes a elas”
Linha 9 – O critério principal para a prática (Elliott, 2000, p. 209). Analogamente, McNiff
rotineira é que ela funcione bem. Preocupa- (2002) diz que a pesquisa-ação implica em
ções sobre como e por que ela funciona só tomar consciência dos princípios que nos con-
surgem quando há problemas ou quando se duzem em nosso trabalho: temos de ter clare-
pode fazer melhoras, condições essas sob as za a respeito, tanto do que estamos fazendo,
quais o prático tenderá a uma investigação- quanto do porquê o estamos fazendo.
ação, mas não para uma modalidade de pes- Embora a maior parte das pessoas con-
quisa-ação, em que compreender o problema corde que essa orientação é essencial para a
e saber por que ele ocorre são essenciais para pesquisa-ação, ela é também fundamental para
projetar mudanças que melhorem a situação. outros tipos de investigação-ação, especialmente
As teorias são sistemas conceptuais cons- a prática reflexiva, e não fosse a distinção quan-
truídos para explicar conhecimentos novos e to ao papel dos métodos de pesquisa no correr
constituem preocupação primordial da pesqui- do processo, pareceria que as duas são idênti-
sa científica. Na pesquisa-ação, o necessário é cas. Separar uma da outra, porém, é mais uma

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questão de ênfase do que de espécie. Por exem- plo, uma aluna, que pensara ter começado
plo, uma educadora infantil, minha aluna, de- seu projeto de pesquisa-ação a partir de
monstrou essa abordagem ao refletir sobre o que “onde estão os alunos”, escreveu ao final do
queria alcançar com seu projeto de pesquisa- primeiro ciclo:
ação: “para mim, isto significa que não apenas
estarei fundamentada em minha abordagem da Dei-me conta agora de que devia ter conse-
educação, mas também irei compreender por guido mais informações sobre os alunos antes
que estarei”. Como orientador de sua pesquisa- de fazer meus planos de projeto iniciais. Des-
ação, em contraposição à prática reflexiva, por cobri que praticamente todas as estratégias de
exemplo, eu me sentiria obrigado a garantir que ensino que planejei utilizar para levar a mim e
ela reorientasse sua prática e aprofundasse a aos alunos a uma abordagem mais centrada
compreensão que tem de si mesma de um modo no aluno mostraram-se confrontantes demais
tão metodologicamente sólido quanto possível com os alunos para permitir que se enga-
(em vez de meramente pragmaticamente eficaz). jassem com êxito nessas estratégias.
Outra característica do relacionamento
recíproco entre pesquisa e prática aprimorada Trata-se de uma coisa que ela não teria
é que não apenas se compreende a prática de aprendido a respeito de seus alunos se não ti-
modo a melhorá-la na pesquisa-ação, mas tam- vesse tentado melhorar seu ensino e o apren-
bém se ganhe uma melhor compreensão da dizado deles. Esse tipo de experiência é bastan-
prática rotineira por meio de sua melhora, de te comum: só descobrimos a natureza de algu-
modo que a melhora é o contexto, o meio e a mas coisas quando tentamos mudá-las. A fim
finalidade principal da compreensão: de mudar sua abordagem de ensino, essa pro-
fessora teve de deslocar a intervenção de suas
Contexto: como a pesquisa-ação é um pro- estratégias de ensino para lidar com as atitu-
cesso de aprimoramento, não se pode fazer des e experiências de seus alunos. Desse modo,
uma sobre a prática rotineira: a pesquisa-ação novos estudos, não apenas novos ciclos, nas-
cria um alvo de pesquisa móvel ao romper ceram a partir de estudos preexistentes
com a prática rotineira e deixa muitas pontas (Tillotson, 2000).
soltas em sua esteira (veja, por exemplo, o
caso da “teorização-ação” mais adiante). Teoria em pesquisa-ação
Meios: como as mudanças são reativas, mo-
nitorar o que muda e como leva não só à Como processo de melhora da prática,
compreensão da própria prática, mas tam- considera-se às vezes que a pesquisa-ação é
bém à compreensão mais profunda de aspec- ateórica, mas embora seja verdade que a teoria
tos da situação, das pessoas e das próprias disciplinar tradicional não é prioridade principal,
práticas que não se havia pensado em mu- é contudo importante recorrer a ela para compre-
dar. Por exemplo, muitos professores apren- ender as situações, planejar melhoras eficazes e
dem muita coisa a respeito de como seus explicar resultados. Elliott (1994) afirma isso (que
alunos percebem o bom ensino, quando os teóricos acadêmicos fornecem recursos para a
mudam da transmissão pelo professor para a reflexão e desenvolvimento da prática na pesqui-
construção colaborativa do conhecimento sa-ação), mas também sugere que os práticos não
(Ker, 1999). adotam simplesmente uma teoria “já pronta”,
Finalidade: a disseminação e publicação da mas que a problematizam pela aplicação. Em sua
compreensão da prática obtida com sua me- excelente síntese sobre a teoria na pesquisa-ação,
lhora pode tornar-se também importante Somekh (2003, p. 260) interpreta isso como sig-
desencadeador da pesquisa-ação. Por exem- nificando que o prático se “apropria pessoalmen-

450 David TRIPP. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica.


te” de teorias de outros. Porém, nem Elliott nem a - são anotações incompletas/rascunho, que
Somekh constatam em que medida os professo- seriam ininteligíveis para o parceiro; ou
res primários se utilizam de teoria já pronta desse b - haviam escrito coisas particulares (muito
modo ou como contribuem com sua experiência pessoais?, subversivas?) para serem partilhadas.
para ulteriores desenvolvimentos da teoria. Na Verificação da Hipótese 2:
verdade, minha experiência é de que apenas Chamo a atenção deles sobre seus comporta-
quando os professores primários trabalham em mentos e indago se é um ou outro desses
parceria com acadêmicos da universidade é que problemas. Eles concordam que é o primeiro
se envolvem com teorias já prontas e, escrevi em deles, de modo que aceito a Hipótese 2.
outro lugar (Tripp, 1993), como podemos traba- Implicação para o planejamento da ação:
lhar com isso na prática. Fiz uma anotação para apresentar a ativida-
Recorrendo mais uma vez à minha expe- de de modo diferente da próxima vez.
riência, descobri que o que se faz em pesqui- Dados adicionais:
sa-ação é muitas vezes levado a efeito pelo Recolhi os trabalhos e observei que absoluta-
tipo de teorização indutiva que podia ser cha- mente nenhum deles estava ininteligível, de
mada de “teorização-ação”, processo que é modo que descartei com atraso a Hipótese 2.
mais bem descrito por meio de um exemplo. Hipótese 3:
Os alunos não querem mostrar uns aos ou-
Registro de dados tros seus trabalhos escritos porque estão re-
correndo à sua experiência escolar (asiática)
Solicitei a um grupo de professores, em na qual o trabalho escrito é competitivo e só
processo de formação em serviço, que trocas- é trocado entre eles para fins de nota.
sem os trabalhos e cada um lesse silenciosa- Verificação da Hipótese 3:
mente o trabalho do outro. Impossível de realizar uma vez que não vejo
Observei que os dois primeiros não o esse grupo outra vez.
fizeram, mas que cada um lia o próprio traba- Um novo problema
lho em voz alta para o parceiro. Por que esses estudantes me enganaram quan-
Dentro de alguns minutos, todos eles, to às suas motivações?
exceto uma das duplas, estavam lendo seus Embora esteja claro que estou envolvido em
próprios trabalhos em voz alta para o outro. alguns processos de teorização indutiva, es-
Problema de pesquisa: tes não passam de meios para o fim de me-
lhorar a prática, mas não um fim em si mes-
Por que não estavam fazendo o que lhes mo, o que explica por que os práticos não
fora solicitado? desenvolvem sua teorização sob a forma de
Hipótese 1: uma teoria disiciplinar: estão muito ocupa-
a - não haviam ouvido minhas instruções; ou dos com suas práticas para perseguirem
b - não haviam compreendido qual era a ati- questões “puras” de pesquisa.
vidade.
Verificação da Hipótese 1: Pesquisa-ação e prática
Repito as instruções e observo os resultados, pesquisada
mas eles ignoram de novo minhas instruções
e continuam a ler em voz alta um para o Como assinalei anteriormente, é muito
outro, de modo que descarto a Hipótese 1. difícil traçar limites definitivos entre pesquisa-
Hipótese 2: ação e outros tipos de investigação-ação, mas
Eles estão muito tímidos em mostrar seu uma outra incompreensão importante quanto a
texto para o outro porque: definições que ocorre nesse campo é a distinção

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entre pesquisa-ação e ação pesquisada. Já em um lendo em voz alta para o outro. Na próxima
1945, Lippitt escreveu sobre pesquisa-ação para vez, eu lhes concederia o tempo necessário para
Collier: “Não se trata de pesquisa-a-ser-seguida- fazê-lo.
por-ação, ou pesquisa-em-ação, mas pesquisa- Na pesquisa-ação, tendemos a nos engajar
como-ação” (Cooke, s.d., p. 7). Como revisor de em teorização indutiva apenas quando não há
artigos de pesquisa-ação submetidos à publica- uma explicação preexistente ou uma teoria que
ção em diversas revistas, não é raro que eu en- explique satisfatoriamente o que quer que tenha-
contre pessoas que fizeram um estudo de caso de mos observado ou estejamos tentando observar,
um processo de desenvolvimento ou de mudan- de modo que os pesquisadores de pesquisa-ação
ça, tal como a produção de um programa inova- freqüentemente operam dedutivamente, especi-
dor de ensino e aprendizagem, chamando seu almente nos estágios iniciais.
trabalho de “pesquisa-ação”, embora não tenham Porém, como acontece freqüentemente de
realizado ação nenhuma e o desenvolvimento não haver teorias prontas que se ajustem a nos-
tenha caminhado sem qualquer pesquisa. sos dados ou intenções, nesse caso trabalhamos
Utilizo dois critérios para distinguir en- indutivamente, teorizando nossos dados median-
tre eles: o processo de mudança está sendo te a criação de novas categorias. No entanto,
conduzido por meio da análise e interpretação quando o fazemos, nosso propósito é inteiramente
de dados adequados, válidos e confiáveis? O pragmático: não fazemos isso porque apenas que-
alvo principal da atividade é a criação de co- remos conhecer (isso é “pesquisa pura”), indaga-
nhecimento teórico ou o aprimoramento da mos por que alguma coisa é como é apenas para
prática? Isso quer dizer que um estudo de caso podermos saber melhor como aprimorar a prática.
de um processo de pesquisa-ação não é uma É possível, contudo, combinar teorização
pesquisa-ação, embora possa ser aceito para indutiva empreendida seriamente como base
publicação numa revista de pesquisa-ação para melhoria por meio de pesquisa-ação, em-
como uma pesquisa sobre a pesquisa-ação. bora isso seja raro. Bom exemplo disso é Stead
Para ilustrar essa diferença, voltemos ao et al. (2001) que desenvolveu uma teoria de
exemplo do tipo de teorização que ocorre na exclusão num serviço municipal de saúde men-
pesquisa-ação para ilustrar a diferença: se eu tal, no qual identificou quatro identidades ex-
estivesse empenhado em pesquisar sobre aquela cluídas (ausente, difícil, mediada e evasiva) que,
situação, deveria ter continuado na verificação de a seguir, serviram de base para aperfeiçoar o
minha terceira hipótese e mapear a extensão e a atendimento àqueles pacientes.
natureza do fenômeno, realizando a mesma ta- Observe que, no exemplo acima, eu diria
refa como intervenção experimental com uma estar empenhado em prática reflexiva e não em
amostra intencional de outros grupos. Fazer isso pesquisa-ação, uma vez que ela atende a muito
seria envolver-me num processo de “ação pesqui- poucos critérios de pesquisa. Contudo, na ocasião,
sada” e não de pesquisa-ação, porque eu teria eu pensei que se fosse verdade que aqueles profes-
priorizado o conhecimento obtido mais do que o sores continuavam presos a seu modo de compor-
aprimoramento da prática. No entanto, embora tamento de aprendizagem na escola, melhoraria sua
ao procurar explicar o comportamento dos alu- aprendizagem se eles pudessem avançar para uma
nos empregasse elementos do processo de cons- cultura educacional mais adulta. Tivesse eu traba-
trução de teoria, eu fazia isso apenas a fim de lhado com o grupo por um período mais longo,
aprimorar o que funciona em minha atividade poderia ter escolhido a pesquisa-ação como uma
docente. E foi como prático que não prossegui forma melhor de fazer aquilo, provavelmente come-
na verificação da Hipótese 3, mas fiz um julga- çando por uma análise situacional bem planejada
mento profissional prático de que os participan- para identificar outras manifestações de sua adesão
tes do seminário sentiam-se mais à vontade cada aos comportamentos de ensino da escola.

452 David TRIPP. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica.


O processo de pesquisa-ação para a mudança na prática quanto para a avali-
ação dos efeitos da mudança na prática. Isso é
O ciclo da pesquisa-ação importante na pesquisa-ação, porque o planeja-
mento de como avaliar os efeitos da mudança na
O ciclo da pesquisa-ação inclui todas as prática é em geral muito mais rigoroso do que em
atividades do ciclo básico de investigação-ação muitos outros tipos de investigação-ação.
e freqüentemente é representado do mesmo
modo (Kemmis; McTaggart, 1990), mas embora A pesquisa-ação começa com um
pareça de início suficientemente claro, não é reconhecimento
inteiramente preciso em sua distinção e em seu
seqüenciamento da ação e do monitoramento O reconhecimento é uma análise situa-
das fases. Na maioria dos tipos de investiga- cional que produz ampla visão do contexto da
ção-ação, freqüentemente se monitoram os pesquisa-ação, práticas atuais, dos participan-
efeitos de sua própria ação durante a fase de tes e envolvidos. Paralelamente a projetar e
ação e, na pesquisa-ação, freqüentemente se implementar a mudança para melhora da prá-
produzirão dados sobre os efeitos de uma mu- tica, o reconhecimento segue exatamente o
dança da prática durante a implementação mesmo ciclo da pesquisa-ação, planejando
(mediante observação, por exemplo) e ambos como monitorar e avaliar a situação atual, fa-
antes e depois da implementação (como quan- zendo isso e, a seguir, interpretando e avalian-
do se utiliza um método pré/pós para moni- do os resultados a fim de planejar uma mudan-
torar os efeitos de uma mudança). ça adequada da prática no primeiro ciclo de
A nomenclatura também constitui pro- pesquisa-ação de melhora.
blema porque planejamento, monitoramento e
avaliação são, todos eles, formas diferentes de Pesquisa-ação num ciclo iterativo
ação, de modo que a implementação é mais
adequada para o que é chamado muitas vezes A natureza iterativa do processo de inves-
de fase de ação. tigação-ação talvez seja sua característica isola-
Fica mais claro representar o ciclo da da mais distintiva. Muito embora todos os pro-
pesquisa-ação como uma seqüência de três cessos de melhora e desenvolvimento tendam a
fases de ação nos dois diferentes campos da incluir todas as fases do ciclo básico de inves-
prática e da investigação sobre a prática. tigação-ação, nem todos o fazem na mesma
Essa tabela torna claros dois outros aspec- seqüência nem repetem o ciclo de uma manei-
tos. Primeiro, mostra que, embora a seqüência ra corrente para realizar melhoras de modo
básica permaneça a mesma em ambos os campos, incremental. A maioria das soluções de proble-
ocorrerão neles ações diferentes. Segundo, tam- mas, por exemplo o desenvolvimento orga-
bém torna explícito que se deve planejar tanto nizacional ou a pesquisa experimental, não é in-

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-466, set./dez. 2005 453


vestigação-ação segundo esse critério. A pesqui- coletivo de conseqüências políticas (Carr e
sa-ação, como uma forma de investigação-ação, Kemmis, 1986).
é um processo corrente, repetitivo, no qual o De uma perspectiva puramente prática, a
que se alcança em cada ciclo fornece o ponto pesquisa-ação funciona melhor com cooperação
de partida para mais melhora no seguinte. e colaboração porque os efeitos da prática de um
indivíduo isolado sobre uma organização jamais
Investigação-ação é utilizada em cada se limitam àquele indivíduo. A pesquisa-ação
fase praticada individualmente pode criar um proble-
ma que Senge (1990, p. 23) identifica com o
Chamo esses ciclos de investigação-ação de “dilema nuclear da aprendizagem”: aprendemos
epiciclos de pesquisa-ação porque se procede melhor com a experiência, mas não podemos
mediante, talvez, muitos ciclos de investigação- fazê-lo se não vivenciamos as conseqüências de
ação quando se atua em cada uma das fases do muitas de nossas decisões mais importantes nem
ciclo de pesquisa-ação. Por exemplo, ao planejar, podemos nos introduzir nas experiências dos que
planeja-se o que planejar, começa-se a planejar, o fazem. Isso quer dizer que não se trata de
monitora-se o progresso do plano e avalia-se o envolver ou não outras pessoas, mas sim do
plano antes de ir adiante para implementá-lo. modo como elas são envolvidas e como elas
podem participar melhor do processo.
A reflexão é essencial para o processo Infelizmente, não é possível, de saída,
de pesquisa-ação dizer como as pessoas participam de um proje-
to, porque isso dependerá de seus interesses e
Uma das razões para não se colocar a re- capacidades, relativamente a diferentes aspectos
flexão como uma fase distinta no ciclo da in- de um projeto, em diferentes épocas e lugares.
vestigação-ação é que ela deve ocorrer durante Em vista disso, considero útil mencionar quatro
todo o ciclo. O processo começa com reflexão diferentes modos pelos quais as pessoas podem
sobre a prática comum a fim de identificar o participar num projeto de pesquisa-ação:
que melhorar. A reflexão também é essencial
para o planejamento eficaz, implementação e Obrigação: quando um participante não tem
monito-ramento, e o ciclo termina com uma re- opção quanto ao assunto, em geral por ha-
flexão sobre o que sucedeu. Isso se perde quan- ver algum tipo de coação ou diretriz de par-
do o processo é reduzido a “planeje, faça, refli- te de um superior.
ta”, como acontece muitas vezes em educação Cooptação: quando um pesquisador persua-
(ver Earthlink, s.d., por exemplo). de alguém a (a optar por) ajudá-lo em sua
pesquisa e a pessoa cooptada de fato con-
A pesquisa-ação tende a ser corda em prestar um serviço ao pesquisador.
participativa Cooperação: quando um pesquisador conse-
gue que alguém concorde em participar de
É claro que a pesquisa-ação tem sido seu projeto, a pessoa que coopera trabalha
um método participativo desde sua origem, como parceiro sob muitos aspectos (uma vez
mas há muitas visões e utilizações do termo que é regularmente consultado), mas num
participação. Por um lado, existe extensa lite- projeto que sempre “pertence” ao pesquisa-
ratura dedicada à pesquisa-ação participativa, dor (o “dono” do projeto). A maioria das
como se fosse possível ela não ser participativa, pesquisas para dissertação é desse tipo.
quando todo o mundo atingido pela mudan- Colaboração: quando as pessoas trabalham
ça assim realizada participa dela, enquanto, por juntas como co-pesquisadores em um proje-
outro lado, outros a vêem como um processo to no qual têm igual participação.

454 David TRIPP. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica.


Freqüentemente trabalho com professo- 1 - trate de tópicos de interesse mútuo;
res em pesquisa-ação para desenvolvimento 2 - baseie-se num compromisso comparti-
profissional, por exemplo, e é surpreendente lhado de realização da pesquisa;
quão poucos deles cogitam em permitir que 3 - permita que todos os envolvidos partici-
seus alunos participem de seu trabalho, de pem ativamente do modo que desejarem;
modo que a participação é encarada inicial- 4 - partilhe o controle sobre os processos
mente como uma questão de obrigação: o pro- de pesquisa o quanto possível de maneira
fessor decide o que vai acontecer e seus alu- igualitária;
nos não são sequer consultados. Contudo, os 5 - produza uma relação de custo-benefício
alunos podem ser envolvidos pelo menos no igualmente benéfica para todos os participan-
nível de cooptação. Por exemplo, podem auxi- tes;
liar como informantes, podem ajudar a colher 6 - estabeleça procedimentos de inclusão
dados por observação e entrevista de outros para a decisão sobre questões de justiça en-
participantes e auxiliar no planejamento e tre os participantes.
imple-mentação das mudanças na prática.
A participação apresenta sérias ramifica- A pesquisa-ação beneficia-se
ções éticas, porque dependendo do modo como da administração do
se a define pode resultar que alguns participan- conhecimento
tes sejam afetados prejudicialmente pela parti-
cipação. O Banco Mundial, por exemplo, leva Primeiro, em termos de desenvolvimen-
isso muito seriamente (Tikare et al., 2001), mas to profissional e organizacional, a pesquisa-
inclui um fluxo de informação de um sentido ação é mais eficiente quando ela se expande
só: do projeto para aqueles por ele afetados como uma rede (vertical e horizontalmente) por
como forma de participação, enquanto os que toda a organização, embora minha experiência
recebem a informação podem, na verdade, sim- indique que isso poucas vezes se consegue.
plesmente ser comunicados de que perderão Segundo, a pesquisa-ação produz muito
suas casas e seus meios de vida mediante realo- conhecimento baseado na prática, que devia ser
cação para abrir espaço para um desenvolvimen- incorporado ao conteúdo acadêmico de discipli-
to industrial. Analogamente, a “consulta”, como nas “vocacionais” tais como ensino, negócios e
fluxo de informação nos dois sentidos, também jornalismo, porém muito pouco do conhecimen-
é vista como uma forma de participação, mui- to gerado pela pesquisa-ação é realmente teori-
to embora seja freqüentemente utilizada como zado e publicado em periódicos acadêmicos de
um meio de espionagem, visando discutir um prestígio. A pesquisa-ação deveria ser capaz de
projeto com os afetados por ele, a fim de des- fazer a ligação tanto da teoria para a transição
cobrir como superar suas objeções a um plano da prática quanto da prática para a transforma-
de ação predeterminado de um projeto. ção da teoria, embora haja poucos sinais de que
Por essas razões éticas, é necessário exa- o faça, talvez por orientar-se em grande medi-
minar a participação não só na etapa de pro- da para a melhora da prática.
posta, mas também durante toda sua duração.
Como medida preventiva, deve-se verificar A ética na pesquisa-ação
freqüentemente quais medidas o pesquisador
tomou para assegurar que os atingidos não A ética já foi mencionada com relação à
estejam sendo enganados, manipulados ou participação, porque sempre surgem questões
explorados. Como promoção positiva no projeto quando se fazem mudanças que afetam outras
como um todo, deve-se ter como meta que um pessoas. Problema fundamental para os que
projeto de pesquisa-ação: fazem pesquisa-ação na universidade é que

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-466, set./dez. 2005 455


poucas vezes eles obedecem aos padrões de dos maiores problemas com as formas mais
pesquisa médica comumente aplicados. Minha tradicionais de pesquisa em educação é que,
universidade, por exemplo, considerou os alu- com muita freqüência, a experiência profissio-
nos de um professor como “sujeitos de pesqui- nal dos professores e o conhecimento que
sa” e, a seguir, insistiu em que lhes fosse dado possuem da própria prática têm sido apropri-
o direito de desistir, coisa simplesmente impos- ados pelo pesquisador sem nenhum benefício
sível num cenário escolar. Encontrou-se um correspondente para os professores envolvidos
meio de contornar essas dificuldades (Tripp, (Tripp,1993). Como é difícil estimar esses va-
2002) porque os princípios éticos devem sus- lores, os pesquisadores muitas vezes fazem
tentar (e assim legitimar) os procedimentos e publicações em colaboração com participantes
regras fundamentais de toda pesquisa. que tenham contribuído de maneira importante
Minha posição é que a diretriz ética para o projeto (ver, por exemplo, Berge; Ve,
geral deve ser incorporada a qualquer projeto 2002, ou Tripp; Wilson, 2001).
de pesquisa-ação desde o início e que nenhum
pesquisador ou outro participante jamais em- Cinco modalidades de pesquisa-
preenda uma atividade que prejudique outro ação
participante sem que este tenha conhecimen-
to e dê seu consentimento. A participação não é o único determi-
Isso em geral conduz os experimentos nante do tipo de projeto de pesquisa-ação que
com grupo de controle, por exemplo, porque é se está executando: existe uma dialética entre
desvantajoso para esse grupo não se beneficiar escolha do tópico e participação, variações que
das mudanças que o pesquisador em ação con- dão origem a diferentes modalidades de pesqui-
sidera que sejam melhorias para sua prática. Isso sa-ação, termo cunhado por Grundy (1983). Por
também conduz a continuação pelo pesquisador exemplo, um professor que está simplesmente
de uma mudança que o grupo não percebe que implementando um novo modo de ensinar adi-
esteja produzindo melhoras sobre a prática. Isso ção ou ortografia, a cujo respeito leu num livro
pode ser um problema para mestrandos que ou aprendeu num curso, está fazendo algo com-
não podem completar um pré e um pós-mo- pletamente diferente de um professor que está
delo de pesquisa, embora tenham trabalhosa- tentando inventar maneiras de lidar com uma
mente produzido dados diagnósticos. questão de justiça social em sua escola. O pri-
A razão para permitir prejuízos ao co- meiro é “técnico”, no sentido de que o profes-
nhecimento é que os participantes muitas ve- sor está tentando fazer que uma idéia “tirada da
zes estão inclinados a fazer sacrifícios pesso- estante” funcione na sua situação. O segundo
ais, em termos de seu tempo e esforço, para é “socialmente crítico”, no sentido de que o
com isso melhorar sua prática. Ligado a essa professor está tentando encontrar maneiras de
ressalva, contudo, está o princípio de que o mudar a cultura política de sua instituição. Es-
valor dos resultados para todos os participan- ses exemplos ilustram três importantes diferen-
tes deve estar vinculado à contribuição que ças na natureza do tópico, as quais podem ser
deram. Isso não significa que os resultados expostas sob a forma de perguntas:
devam ser de tipo semelhante para todos os
participantes: quando acadêmicos da universi- a - o projeto trata da melhora da eficiência e
dade trabalham com professores primários, por da eficácia de práticas comuns ou da intro-
exemplo, os resultados valiosos para o profes- dução de novas?
sor tendem a ser em termos de melhora da b - o projeto está introduzindo uma prática
prática e, para o acadêmico, em termos de re- nova para a situação, ou seja, o pesquisador
muneração de consultoria e publicações. Um está implementando, adaptando ou adotan-

456 David TRIPP. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica.


do uma idéia ou prática extraída de algum alcança o resultado desejado fica mais por sua
outro lugar ou está utilizando o projeto para conta de sua experiência e de suas idéias –; e
desenvolver idéias ou práticas próprias intei- segundo, porque o tipo de decisões que ele
ramente novas e originais? toma sobre o quê, como e quando fazer são
c - o projeto está preocupado em trabalhar informadas pelas concepções profissionais que
dentro da cultura institucional existente e tem sobre o que será melhor para seu grupo.
das limitações sobre a prática, criadas por Os artífices estabelecem seus próprios critérios
essa cultura, ou o projeto trata da mudança para qualidade, beleza, eficácia, durabilidade e
dessa cultura e de suas limitações? assim por diante. Assim, em educação, o pes-
quisador tem em mira contribuir para o de-
As respostas a essas perguntas permitem- senvolvimento das crianças, o que significa
nos identificar algumas modalidades diferentes que serão feitas mudanças para melhorar a
de pesquisa-ação. Por exemplo, Grundy (1983) aprendizagem e a auto-estima de seus alunos,
sugere que as perguntas (a) e (b) fazem a dis- para aumentar interesse, autonomia ou coo-
tinção entre a pesquisa-ação técnica e a pesqui- peração e assim por diante.
sa-ação prática. Considero útil empregar as se- 3 - Pesquisa-ação política
guintes cinco modalidades ao se pensar sobre a A terceira pergunta (c) refere-se à mudança
natureza de um projeto de pesquisa-ação: da cultura institucional e/ou de suas limita-
ções. Quando se começa tentar mudar ou
1 - Pesquisa-ação técnica analisar as limitações dessa cultura sobre a
A pesquisa-ação técnica constitui uma abor- ação, é preciso engajar-se na política, porque
dagem pontual na qual o pesquisador toma isso significa trabalhar com ou contra outros
uma prática existente de algum outro lugar para mudar “o sistema”. Só se pode fazer
e a implementa em sua própria esfera de isso pelo exercício do poder e, assim, tal
prática para realizar uma melhora. Ela é ação torna-se política. Naturalmente, há
“técnica” porque o pesquisador está agindo muitos tipos de poder e muitos modos de
de modo inteiramente mecânico: de fato, exercê-lo. Por exemplo, há o poder de conse-
está “seguindo o manual”. Um bom exemplo guir fazer as pessoas trabalharem juntas, o
de pesquisa-ação técnica é a difusão de um poder de fazer coisas quando os outros não
projeto ou abordagem desenvolvida centrali- estão olhando, o poder de superar as obje-
zadamente, tal como o programa Reading ções dos outros e assim por diante.
Recovery [Recuperação da leitura]. Nesse
caso, a base racional, os objetivos, os mate- Algumas das limitações para cuja mu-
riais e os procedimentos são todos dados aos dança tenho visto professores trabalharem são
professores que encontram modos de usar o o tamanho das classes, as diferenças de gêne-
projeto em seu trabalho docente, embora se ro, a ausência dos pais, a organização da equi-
mantendo fiel aos objetivos e resultados ori- pe e do tempo docente por assunto.
ginais tanto quanto possível. Embora haja sempre grande número de
2 - Pesquisa-ação prática limitações reais (como a limitação/extensão do
Recorrendo mais uma vez a Grundy (1983), a tempo em cada dia, o programa de exames ou
pesquisa-ação prática é diferente da técnica os antecedentes familiares das crianças), o que
pelo fato de que o pesquisador escolhe ou se percebe é que, como muitas limitações re-
projeta as mudanças feitas. Nesse caso, as ais, acabam às vezes por tornar-se mitos. Na
duas características distintivas são: primeiro, é verdade, nenhuma das idéias acima acabou
mais como a prática de um ofício – o artífice sendo uma limitação real – sempre era possí-
pode receber uma ordem, mas o modo como vel contorná-las de um modo ou outro.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-466, set./dez. 2005 457


Tripp (1992) descreve o seguinte: uma dades das pessoas, tolerância e compreensão
aluna minha queria desenvolver uma prática de para com os outros, cooperação maior e mais
alfabetização na perspectiva teórica da “lingua- eficiente, maior valorização das pessoas (de si
gem real/linguagem total” e, para fazê-lo, per- mesmo e dos outros) e assim por diante. Essas
cebeu que precisaria ter mais e melhor ajuda de são as “grandes idéias” de uma sociedade de-
mais pais do que os poucos que estavam vin- mocrática. A pesquisa-ação socialmente crítica
do ouvir as crianças lerem. Quando essa aluna passa a existir quando se acredita que o modo
levou a idéia a seu diretor, este disse que ela de ver e agir “dominante” do sistema, dado
não poderia fazê-lo porque “os pais sequer vão como certo relativamente a tais coisas, é real-
entender do que se trata, não quererão parti- mente injusto de várias maneiras e precisa ser
cipar nem vão querer isso para seus filhos”. Ela mudado.
pensava diferente e sua estratégia foi trabalhar Pode-se tomar um exemplo da lista de
de início com uns poucos pais. Com alguma limitações acima. A idéia de que ensinar me-
surpresa, viu que eles a apoiaram com entusi- ninos e meninas juntos em todas as matérias
asmo desde o começo e quando, mais tarde, é a melhor prática é normal dentro do sistema
utilizou uma reunião de pais para expor a e pode limitar a ação. Assim também a idéia de
abordagem que desenvolvia, descobriu que a que o sistema deve dar a meninos e meninas
maioria deles também apoiava a idéia. Nesse oportunidades iguais de êxito em todas as
caso, a percepção inicial de que os pais seriam matérias e esferas da vida. Porém, pode-se
necessariamente uma limitação para sua ação contestar que tais pressupostos e práticas, com
estava de fato completamente errada e, com o base nas interações de gênero, de fato não dão
vigoroso apoio dos pais, o diretor passou a a meninos e meninas oportunidades iguais de
encorajá-la a tentar sua abordagem. As limita- êxito e, ao contestar essa prática, está-se cri-
ções vistas pelo diretor eram na verdade ima- ticando a maneira pela qual o sistema opera
ginárias, mas ela teve de se utilizar de outras injustamente.
pessoas para ajudá-la a convencer seu chefe de
que as coisas eram assim. Portanto, o que ela Pesquisa-ação emancipatória
fez foi político.
Essa é uma outra variação da pesquisa-
Pesquisa-ação socialmente ação política, que tem como meta explícita
crítica mudar o status quo não só para si mesmo e para
seus companheiros mais próximos, mas de
Essa é, realmente, uma modalidade par- mudá-lo numa escala mais ampla, do grupo
ticular de pesquisa-ação política e ambas se social como um todo. As sufragistas, por exem-
sobrepõem porque, quando se trabalha para plo, não queriam simplesmente obter para elas
mudar ou para contornar as limitações àquilo mesmas o direito de votar, mas sim garantir que
que você pode fazer, isso comumente é resul- todas as mulheres tivessem esse direito. Assim
tado de uma mudança em seu modo de pen- também a pesquisa-ação emancipatória é uma
sar a respeito do valor último e da política das modalidade política que opera numa escala mais
limitações. Você não está buscando como fa- ampla e constitui assim, necessariamente, um
zer melhor alguma coisa que você já faz, mas esforço participativo e colaborativo, o que é
como tornar o seu pedaço do mundo um lu- socialmente crítico pela própria natureza. Não é
gar melhor em termos de mais justiça social. preciso dizer que a pesquisa-ação emancipatória
Geralmente, isso é definido na literatura por ocorre muito raramente.
mudanças tais como: aumento de igualdade e As diferenças acima expostas são carac-
oportunidade, melhor atendimento às necessi- terísticas de diferentes modalidades de fazer

458 David TRIPP. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica.


pesquisa-ação, mais do que de diferentes tipos te porque não é possível especificar com ante-
de projeto de pesquisa-ação, porque os proje- cedência qual conhecimento será obtido nem
tos desse tipo de pesquisa poucas vezes utili- quais resultados práticos serão alcançados. Isso
zam apenas uma modalidade, mas passam con- porque os resultados de cada ciclo determina-
tinuamente de um para outro tipo de ação. rão o que acontecerá a seguir e não há como
Por exemplo, um professor pode começar dizer de saída aonde o processo levará. Pode-se
numa modalidade técnica, implementando um esboçar a situação do trabalho de campo, mas
projeto publicado que seu diretor considera ser como a análise (ou reconhecimento) inicial faz
um modo melhor de ensinar ortografia. Ao fa- parte deste, raramente ela pode ser realizada
zer isso, o professor se vê diante da limitação de anteriormente à aceitação da proposta. Além
tempo e decide conseguir mais ajuda em clas- disso, ao se facilitar um projeto de pesquisa-
se. Para isso, tem que agir politicamente e, ten- ação, não se pode especificar os tópicos sobre
do alcançado o que queria, retornar à ativida- os quais se trabalhará, pois esses surgirão da
de técnica de fazer o projeto funcionar em sua análise da situação e serão selecionados pelos
classe. Ao planejar sua aula seguinte, tem subi- participantes. Por essas razões, justifica-se uti-
tamente uma idéia própria. Ao projetar, experi- lizar o termo “declaração de intenções” de
mentar e avaliar sua aplicação, verifica que está Heron (1987) em vez de “proposta de pesquisa”
engajado numa modalidade prática de pesqui- e muito embora a produção disso seja útil no
sa-ação. Nesse ciclo, considera que seria bom in- início de um projeto, não atende à exigência da
cluir os alunos no projeto e na imple-mentação maioria das universidades para uma proposta de
das mudanças. Assim, ela se torna participativa, pesquisa mais tradicional.
mais democrática e, portanto, socialmente crí- Pode-se não conseguir uma dissertação
tica. Dessa forma, um projeto não é em geral mediante a realização de uma pesquisa-ação,
uma modalidade particular, mas ciclos diferen- mas sim completar um estudo de caso da pes-
tes tendem a ter modalidades diferentes. quisa-ação realizada. Isso significa que há na
A identificação dessas diferentes modali- verdade duas metodologias a serem descritas e
dades pode parecer uma atividade peculiar da justificadas numa proposta de pesquisa-ação: os
academia, mas há duas razões pelas quais ela é processos de pesquisa-ação a serem utilizados
útil para que se tome consciência das diversas em campo e o método de estudo de caso (nar-
maneiras e dos níveis de participação e moda- rativo) que será empregado para contar a histó-
lidades de pesquisa-ação: primeiro, ela apresenta ria do projeto e de seus resultados. Uma propos-
uma escolha de diversas maneiras de operar, que ta de pesquisa-ação é, pois, diferente de outros
poderiam não ser consideradas se não tivessem tipos de proposta na medida em que uma pro-
sido identificadas e explicadas; e segundo, sa- porção muito maior dela é mais metodológica
bendo como se está (ou se precisa estar) ope- do que substantiva, o que é o contrário de uma
rando com respeito a isso, possibilita que se proposta de pesquisa tradicional.
garanta um bom processo, particularmente em Uma proposta de pesquisa geralmente se
termos de comparar resultados pretendidos com concentra numa questão muitas vezes deriva-
técnicas apropriadas de monitoramento. da dedutivamente de uma teoria, mas quando
é possível pré-especificar o objetivo da pesqui-
A dissertação de pesquisa-ação sa-ação, ele sempre será do tipo “como posso/
podemos melhorar essa prática?” É surpreen-
Uma proposta de pesquisa, que se con- dente quão freqüentemente estudantes que ti-
centra no próprio processo de pesquisa-ação, veram uma formação tradicional tentam come-
tem notória dificuldade de ser aprovada por um çar seu trabalho com uma questão descritiva
comitê de pesquisa da universidade simplesmen- ou avaliativa. Por exemplo, trabalhei recente-

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-466, set./dez. 2005 459


mente com um grupo de consultores de currí- intervenção___ em nosso projeto de trabalho de
culo num sistema escolar asiático e sua ques- campo?” E pensando no processo de adminis-
tão de pesquisa-ação foi de início esboçada tração do conhecimento, podíamos também
como “nosso projeto de trabalho de campo acrescentar “o que outros poderiam aprender
oferece oportunidades para os alunos conse- com nossa experiência?”
guirem uma compreensão mais profunda do Deve-se observar que, embora pareça
mundo à sua volta?” uma questão de pesquisa mais tradicional, as
Para planejar o que fazer no primeiro respostas deles seriam muito úteis para o pla-
ciclo da pesquisa-ação, necessitavam então des- nejamento do ciclo seguinte, quer para aprimo-
cobrir mais sobre a situação atual, de modo que rar o que fizeram no primeiro ciclo, quer para
propusemos uma questão de planejamento de encontrar outras maneiras de possibilitar que
reconhecimento ou análise (pesquisa) situa- seus alunos consigam uma compreensão mais
cional: qual é a situação atual em termos de profunda do mundo à sua volta. Os pesquisa-
objetivos, recursos e características do aluno? As dores devem recorrer à literatura publicada
respostas a essa questão definiriam a primeira sobre pesquisa para ajudar na resposta a essa
questão de planejamento de ação de seu primei- questão e também disseminar suas conclusões.
ro ciclo de pesquisa-ação que estava informada É assim que os práticos podem usar a pesqui-
e específica: “fazer _ (isso)...._____ em nosso sa-ação para cobrir a distância teoria-prática
projeto de trabalho de campo possibilitará que em ambos os sentidos: pelo uso e contribuição
os alunos consigam uma compreensão mais pro- para a literatura, ambos aspectos importantes
funda do mundo à sua volta?” A outra ques- do trabalho de dissertação universitária.
tão de planejamento da pesquisa-ação que pre- Ao facilitar a pesquisa-ação, é importante
cisaria ser proposta é: como monitorar melhor que o facilitador também faça uma pesquisa-
os resultados. Nesse caso: “como saberemos que, ação sobre sua facilitação, não só para melhorá-
ao se fazer isso em nosso projeto de trabalho de la, mas também para demonstrar excelente prá-
campo, isso possibilitará que os alunos consigam tica em pesquisa-ação para os facilitados (Tripp,
uma compreensão mais profunda do mundo à 1996). Isso significa que os dois projetos de
sua volta?” A resposta deles a isso será o pro- pesquisa-ação, mencionados por Elliott (1991, p.
jeto de pesquisa para esse ciclo. Entrevistas de 30) como “pesquisa ação de primeira e de se-
grupo e análise das tarefas dos alunos são duas gunda ordem”, podem operar sinergeticamente.
óbvias estratégias para esse ciclo. Cada uma delas levando a uma melhor compre-
A produção de conhecimento profissional ensão e a uma melhora da prática da outra.
deve também ser um desencadeador de pesqui- Quando esse é o processo de uma dissertação de
sa-ação e, ao projetar e implementar atividades pesquisa-ação, as histórias de ambos os proje-
de trabalho de campo para aprofundar a com- tos podem ser contadas simultaneamente, pro-
preensão de seus alunos do mundo à volta de- duzindo aquilo que Wildman e Cundy (2002)
les, a equipe aprenderá muito a respeito da si- chamaram de “a tese esotérica”.
tuação de trabalho de campo, de sua atividade
docente e da aprendizagem de seus alunos. Esse O relatório da pesquisa-ação
conhecimento permaneceria privado, empírico e
inarticulado, a menos que eles também plane- O que se segue é um esquema de um
jassem colaborar na codificação desse conheci- típico relatório de estudo de caso de pesquisa-
mento respondendo a uma pergunta do tipo ação, o qual pode ser utilizado para qualquer
“como (ou por que) os estudantes conseguiram projeto e também é adequado para dissertações.
(ou não conseguiram) uma compreensão mais 1 – Introdução: intenções do pesquisador e
profunda do mundo à sua volta por fazer _essa benefícios previstos

460 David TRIPP. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica.


2 – Reconhecimento (investigação de traba- Houve uma notória falta de resposta, a
lho de campo e revisão da literatura) não ser por Jack Whitehead (2002) da University
2.1 – da situação of Bath que, como eu próprio, só podia indicar
2.2 – dos participantes (o próprio e outros) como prova todos os relatórios de projetos de
2.3 – das práticas profissionais atuais pesquisa-ação bem sucedidos disponíveis em seu
2.4 – da intencionalidade e do foco temático site 3 e alhures como, por exemplo, OISE 4
inicial (2005), McNiff (2002). Porém, não era isso que
3 – Cada ciclo eu esperava encontrar. Com todas as pesquisas-
3.1 – Planejamento: da preocupação temá-tica ação que têm sido feitas nos últimos 50 anos,
(ou ciclo anterior) ao primeiro passo de ação eu pensei que certamente alguém teria feito al-
3.2 – Implementação: relato discursivo sobre gum tipo de meta-análise da eficácia da pesqui-
quem fez o quê, quando, onde, como e por sa-ação, avaliando sua capacidade de atingir
quê. seus objetivos (tais como a melhoria da prática
3.3 – Relatório de pesquisa sobre os resulta- e a produção de conhecimento). Afinal de con-
dos da melhora planejada: tas, até mesmo os defensores da ioga ou da me-
3.3a – resumo e base racional do(s) mé- ditação transcendental haviam se dado ao tra-
todo(s) de produção de dados balho de demonstrar que elas realmente redu-
3.3b – apresentação e análise dos dados zem a pressão arterial e que as pessoas ficam
3.3c – discussão dos resultados: explicações mais felizes com elas.
e implicações Devido à minha preocupação para dar à
3.4 – Avaliação pesquisa-ação uma posição academicamente
3.4a – da mudança na prática: o que funci- bem vista como estratégia de pesquisa, consu-
onou ou não funcionou e por quê mi um dia inteiro na internet e examinei pu-
3.4b – da pesquisa: em que medida foi útil e blicações recentes na biblioteca. Embora hou-
adequada vesse literalmente milhares de relatórios posi-
4 – Conclusão: tivos de pesquisas-ação bem sucedidas, não
4.1 – Sumário de quais foram as melhorias pude encontrar nada que avaliasse o processo
práticas alcançadas, suas implicações e reco- em termos mais amplos do que sua utilização
mendações para a prática profissional do num programa ou projeto particular.
próprio pesquisador e de outros Minha hipótese inicial era a de o que
4.2 – Sumário do que foi aprendido a respei- acaba sendo descrito são as experiências das
to do processo de pesquisa-ação, suas impli- pessoas que realizaram pesquisas-ação bem
cações e recomendações para fazer o mesmo sucedidas e, uma vez que a literatura está cheia
tipo de trabalho no futuro. de histórias de êxito, isso não torna a pesqui-
sa sobre sua eficácia parecer algo de valor, uma
Quão eficaz é a pesquisa-ação? vez que parece que já temos a resposta (ante-
riormente determinada).
Em várias ocasiões, perguntaram-me se Pode ser que seja assim, mas também há
eu podia indicar alguma avaliação completa, projetos de pesquisa-ação que fracassaram,
objetiva e bem reputada da eficácia da pesqui- meus inclusive, embora sempre que examinei
sa-ação como método de melhoria das práticas. tais casos, verifiquei que isso nunca aconteceu
Não pude. E sentindo que precisava de uma devido à falta de fundamento do processo
resposta mais adequada para a próxima vez, fiz básico (isto é, o ciclo de pesquisa-ação), mas
essa pergunta para a lista de discussão do e-
mail de pesquisa-ação presidido por Bob Dick 3. http://actionresearch.net
da Southern Cross University. 4. http://leo.oise.utoronto.cal/~lbencze/Action_Research_Help.thml

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-466, set./dez. 2005 461


sempre se deveu ao uso insuficiente do ciclo É importante não encarar a pesquisa-ação
(por exemplo, não se realizou o reconhecimen- como uma estratégia totalmente nova para fa-
to prévio da situação ou o planejamento foi zer algo inteiramente diferente, mas como mais
inadequado) ou devido a fatores contextuais um recurso para turbinar, acelerar nosso modo
(por exemplo, as pessoas não tiveram tempo habitual de aprender com a experiência. Gosto
para completar o projeto ou a situação mudou dessa metáfora porque todos nós aprendemos
e o grupo extinguiu-se). com a experiência, de modo que se trata de
Isso me parece semelhante aos automó- fazer algo que vem naturalmente [...] mas a
veis: ninguém contesta o fato de que eles são pesquisa-ação é um modo de fazê-lo melhor:
uma modalidade razoavelmente confiável de
transporte pessoal, mas isso não quer dizer que • todos nós planejamos nossas ações, mas
são sempre adequados, que não colidem, que não podemos fazê-lo mais deliberadamente, ima-
quebram, que não são mal dirigidos e assim por ginativamente, e com uma compreensão me-
diante. Quando ocorrem essas falhas, isso não lhor da situação;
significa fracasso do automóvel como tal, mas • todos nós agimos, mas podemos experi-
sim de um determinado automóvel, usado para mentar mais, confiar menos em hábitos esta-
um determinado propósito, dirigido por uma de- belecidos, e agir mais responsavelmente;
terminada pessoa e assim por diante. Penso que • todos nós observamos o que acontece, mas
o mesmo acontece com a pesquisa-ação. podemos obter mais dados e de melhor qua-
Ademais, tanta gente a utiliza com êxi- lidade, podemos obter mais feedback de ou-
to que, se alguém quisesse contestá-la, teria de tras pessoas diferentes, e podemos fazer isso
enfrentar o poder da prova da experiência pes- de maneira mais sistemática;
soal. Lippitt descobriu algo muito parecido em • todos nós pensamos sobre o que aconte-
1945: “.... projetos [participativos] podem con- ceu, mas também podemos melhorar nossa
tar-se pelos dedos da mão e mais da metade reflexão, questionar nossas idéias sobre o
deles fracassou. Os outros foram extraordina- que é importante e ir mais fundo e mais cri-
riamente bem sucedidos. Muitos outros irão ticamente nas coisas;
fracassar até que se reconheça que isso não é • todos nós aprendemos com a experiência, mas
um simples processo” (Cooke, s.d., p. 7). Os podemos também registrar o que aprendemos a
pesquisadores que trabalham com pesquisa- fim de esclarecê-lo, disseminá-lo entre os cole-
ação podem estar interessados na amplitude e gas e acrescentá-lo ao estoque de conhecimento
variedade de seu uso, mas não estão muito in- profissional sobre a docência. (Tripp, 1996)
teressados em qualquer tipo de avaliação exter-
na de seu êxito global. Eu sou assim: gosto de Quando fizermos melhor todas essas
saber quem a está utilizando, onde, com quem, cinco coisas, realizaremos verdadeiras melhoras
para que e assim por diante, mas minha res- em nossa prática profissional e aprenderemos
posta para as pessoas que me dizem que a pes- muito mais a respeito dela.
quisa-ação não funciona (com às vezes fazem) Em suma, acabei por perceber que não
é: bem, para mim ela funciona eficazmente; se cabe muito fazer a pergunta geral: quão eficaz é
não funciona para você isso talvez queira di- a pesquisa ação? Uma vez que a resposta seria: ela
zer que você não está fazendo direito. é tão eficaz quanto as pessoas que a realizam
Além disso, penso que a falta de pesqui- Para os praticantes da pesquisa-ação, a
sas sobre a eficácia da pesquisa-ação tem a ver questão pertinente seria: o que tornará mais
com o fato de que ela é tão familiar que não faz efetiva a minha pesquisa-ação? Essa é uma
sentido contestar sua eficácia. Como poderia questão para a qual não há resposta definitiva,
alguém discutir seriamente contra o seguinte: de modo que devemos trabalhar para respondê-

462 David TRIPP. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica.


la sempre que nos comprometermos com um que constitui a pesquisa-ação, com vistas a me-
projeto de pesquisa-ação. lhorar o método e ampliar sua utilização medi-
ante sua legitimação, como forma de pesquisa
Conclusão feita pelo prático, adaptada às exigências (for-
mais) de trabalhos acadêmicos na academia.
Neste artigo, expus o que considero as Assim, embora a proposta não deixe de
características-chave do processo de pesquisa- ter suas críticas, eu não deixo de ver a pesqui-
ação e defendi a idéia de utilizar o termo “pes- sa-ação como uma variedade de investigação-
quisa-ação” na academia para referir-se a uma ação, na qual se empregam técnicas de pesquisa,
versão da investigação-ação que atende clara- de qualidade suficiente para enfrentar a crítica
mente aos critérios da pesquisa acadêmica. Isso dos pares na universidade, para informar o pla-
parece estar de acordo com antigos trabalhos nejamento e a avaliação das melhoras obtidas.
sobre pesquisa-ação e, de fato, com definições Por isso, talvez o que temos diante de
recentes tais como a de Elliott (1991, p. 69): nós seja encontrar outro termo para o tipo de
“o estudo de uma situação social com vistas a pesquisa-ação aqui exposta, do mesmo modo
melhorar a qualidade da ação dentro dela”. que se usa o termo “pesquisa-ação participativa”.
As definições são um instrumento de po- Boomer (1985) distinguiu claramente entre o
der e, ao argumentar em favor de um determi- tipo de pesquisa empreendida pelos acadêmicos
nado significado a ser associado ao método, re- da universidade e o uso habitual do termo como
conheço o risco de parecer estar fazendo uma “pesquisa com P maiúsculo” e “pesquisa com p
tentativa de passar por cima do atual “multi- minúsculo”. Talvez pudéssemos referir-nos à
paradigmatismo” com uma nova ideologia domi- pesquisa-ação “com P maiúsculo”, ou pesquisa-
nante que criaria outra hierarquia de qualidade na ação “de dissertação”, para distingui-la do tipo
pesquisa-ação (Heikkinen, Kakkori e Huttunen, de reflexão habitual sobre a prática que, nos
2001). Ao contrário, este artigo visa promover dias de hoje, muita gente freqüentemente se
uma discussão aberta e esclarecida a respeito do refere como pesquisa-ação.

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Recebido em 22.06.05
Aprovado em 13.10.05

David Tripp é professor associado da Faculdade de Educação da Universidade de Murdoch, na Austrália. Tem realizado, em
diversos países, trabalhos com a prática reflexiva e com a pesquisa-ação em programas de educação continuada de
docentes. É editor associado do Educational Action Research Journal e membro do comitê gestor da Action Learning, Action
Research, and Process Management Association.

466 David TRIPP. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica.

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