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para-o-outro

Publicado em GESTÃO ESCOLAR 12 de Março | 2019

Documentos úteis

PPP: o que e como mudar de um


ano para o outro?
Entenda como tornar o PPP um documento vivo com 8 dicas de especialistas
Camila Cecílio

O PPP deve ser um documento vivo e usados por professores e gestores Crédito: Getty
Images

Embora ainda visto por muitos como uma mera exigência burocrática, o projeto político-pedagógico
(PPP) é considerado por especialistas como a principal ferramenta de planejamento e avaliação de
uma escola. É por meio dele que a gestão escolar norteia práticas e ações para os próximos anos. Mas
para que o documento tenha efetividade, é necessário tirá-lo da gaveta e torná-lo acessível, para que
possa ser revisitado, rediscutido e mudado sempre que necessário, como um instrumento vivo e
coerente com a realidade local.

O primeiro passo para promover mudanças necessárias é entender que o PPP, previsto na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LBD), de 1996, é um documento prático que deve ser
vivenciado por toda a comunidade escolar. É o que diz o coordenador de Projetos da Elos Educacional,
Tiago Monteiro. “É importante entender o PPP como ponto de partida e, também, como ponto de
chegada”.

LEIA MAIS Como colocar o PPP em prática

O coordenador recomenda que a escola faça uma contextualização, observe seu entorno e extraia
dados da realidade local que, futuramente, serão importantes para tomadas de decisão. “O PPP
apresenta os projetos macros que a escola desenvolve, então eles precisam estar alinhados a esse
contexto. Por exemplo, se na caracterização for percebido que muitos alunos vêm de outro contexto
que não seja o de pai e mãe, a escola pode olhar para isso e fazer uma ação inclusiva, colocando ali as
figuras dos avós, tios, e assim por diante. Prestar atenção a esses dados para fazer ações desse tipo
impactam diretamente na vida dos alunos”, explica o coordenador, que é mestre em Educação e
doutorando em Língua Portuguesa pela PUC-SP.

LEIA MAIS Como conhecer a realidade local pode impactar no PPP de uma escola

PPP, um reflexo da identidade escolar

Olhar para o contexto escolar é uma prática constante na EMEB Francisco Beltran Batistini Paquito, de
São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Marta Teixeira, coordenadora pedagógica da unidade,
lembra que o PPP carrega a identidade da escola. “Fui professora nessa unidade de 2005 a 2011, ano
em que passei no concurso para coordenadora pedagógica e fui trabalhar em outra escola. Voltei para
cá em 2017, como coordenadora e, mesmo depois de tanto tempo afastada, olhei o PPP, que ajudei a
construir, e vi que ainda refletia a realidade do lugar”.

LEIA MAIS Como as Competências Gerais se refletem no PPP e no currículo da escola?

Nos últimos anos, a coordenadora tem trabalhado para que o PPP seja, de fato, um documento vivo.
Em fase final de elaboração da nova versão, o projeto pedagógico da escola fica acessível durante todo
o ano e serve de instrumento orientador em cada tomada de decisões. “Não é a equipe gestora que
constrói o PPP, somos responsáveis pela articulação e por colocar o projeto em prática, mas a
construção é feita pela comunidade escolar”, diz. “Todos participam”.

Marta Teixeira destaca que, no decorrer do ano, a equipe gestora observa o que dá certo e o que não
dá, o que pode ser melhorado ou mudado totalmente, e faz anotações para implementar ao PPP
quando chegar a hora de fazer as mudanças. Exemplo disso é o Conselho Mirim, ação que está
prevista no novo PPP.

“Aqui atendemos crianças de 3 a 5 anos, e, apesar de pequenas, percebemos que elas têm condições
sim de nos ajudar a melhorar. Um dia elas reclamaram que só havia dois balanços para brincar. Até
que uma criança de 4 anos deu a ideia de fazermos uma ação para arrecadar dinheiro e comprar
novos balanços”. A sugestão não foi colocada em prática, mas serviu para sinalizar aos gestores a
importância de ouvir as crianças. “Vimos que elas estão aptas a participar desse processo, e disso
surgiu a ideia de criarmos o Conselho Mirim da escola”, conta.

Outro ponto que já está mudando no PPP da escola, atualizado pela última vez há cerca de três anos, é
o alinhamento à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que traz novos parâmetros para a Educação
Infantil no país. “Aqui na rede municipal temos a figura da orientadora pedagógica, que todo final de
ano indica o que devemos olhar para o próximo ano e o ponto da BNCC foi uma provocação dela”,
conta a coordenadora.

O PPP do Colégio Santa Maria, de São Paulo (SP), também está passando por mudanças. Há cerca de
dois anos, a equipe gestora trabalha na elaboração do novo texto e a primeira versão ficou pronta no
final de 2018 já com uma mudança considerada bastante significativa: o nome. Antes, chamado de
Ação Educacional, o documento que norteará as ações da escola passou a se chamar projeto político-
pedagógico. “É uma mudança importante porque assume o caráter de projeto, no sentido de projetar
ações, e é político porque conta com a participação de todos”, afirma a educadora Maria Cristina Forti,
orientadora do 8º ano.

Com mais de 3 mil alunos, da Educação Infantil à Educação de Jovens e Adultos (EJA), o colégio católico
tem em seu PPP o carisma das Irmãs da Santa Cruz, congregação mantenedora da escola, além da
visão e missão, que também passaram por alterações. A nova versão do projeto também contempla
marcos propositivos, que são como princípios para partir para a prática, segundo a orientadora.

Além disso, a equipe gestora acrescentou uma parte para falar especificamente sobre currículo. “O
documento anterior citava concepções das áreas de conhecimento e o atual discute amplamente o
significado de currículo na escola. São mudanças bastante importantes, mas vale ressaltar que
praticamente todo o documento foi mudado”. O novo PPP valerá por, pelo menos, cinco anos.
Pontos práticos

Documento vivo e democrático


O ideal é que os gestores escolares façam da revisão do PPP um processo democrático, ou seja, uma
ação que envolva toda a comunidade escolar para discutir coletivamente de que forma isso será feito.
“Se é político e pedagógico, deve ser democrático”, afirma Tiago Monteiro. Para isso, é importante que
os gestores incluam em seu planejamento horários para reuniões regulares. “Para que o PPP tenha, de
fato, representatividade, é importante ter na rotina de trabalho esse momento para se reunir com os
professores, funcionários da escola, pais e alunos”, observa.

Observe o contexto da escola


É indispensável que a gestão se volte para o contexto escolar a fim de verificar se o seu público
continua o mesmo. Se tiver variado, é preciso pensar em ações diferentes. “Quando a escola analisar o
contexto, deve ter isso muito claro. O PPP precisa refletir a realidade, essa é uma forma de mantê-lo
vivo”, afirma Tiago Monteiro.

Faça perguntas
Há perguntas que podem ajudar no processo de identificação do que deve ou não ser mudado no PPP.
A coordenadora Marta Teixeira sugere questionar se o atual texto reflete a identidade da escola. “Se a
resposta for não, então é hora de mexer no PPP”, diz. Já a orientadora pedagógica do Colégio Santa
Maria, Maria Cristina Forti, sugere alguns questionamentos que têm ajudado na elaboração do PPP
como:
- Qual é o aluno que nós queremos formar?
- Qual a necessidade que um sujeito tem hoje para se inserir no mundo em que ele vive, nos espaços
sociais?
- Quais são as exigências da contemporaneidade para os sujeitos sociais?
- Como eles precisam se comportar nas relações com outras pessoas e ambientes?

Anote tudo
Durante todo o processo, anote tudo o que precisa ser mudado no PPP. Desse modo, quando tiver de
fazer as alterações definitivas, já estará tudo registrado. De acordo com o coordenador de Projetos da
Elos Educacional, reuniões de equipes ou com pais e alunos são espaços em que os participantes
podem, intencionalmente, trazer pautas para reavaliar o PPP.

Todos têm algo a acrescentar


Muitas vezes, a discussão sobre o PPP pode acontecer no nível da gestão escolar, mas o ideal é que a
construção seja feita com todos os profissionais que lidam diariamente com os alunos, professores e
funcionários, além dos pais e dos próprios estudantes. “Esse é o princípio da escola democrática,
dando voz e vez a todos, pautada em objetivos comuns”, afirma Tiago.

Teoria é importante, mas precisa ser acessível


“É interessante que o PPP se alicerce na teoria, mas que também se paute na prática, que seja
acessível a todos da escola”, acrescenta Tiago. Segundo ele, muitos profissionais da Educação acabam
se prendendo a um discurso “muito pedagógico”, sem dar oportunidade a que outros atores da
comunidade escolar possam entender e participar mais ativamente do debate. “É meio que uma ideia
de se utilizar da fundamentação teórica, mas que seja uma linguagem acessível, equalizar o que é
pedagógico e a prática”, ressalta.

Lugar do PPP é fora da gaveta


Não são raros os casos de professores que chegam na escola e não recebem o PPP, o que é apontado
pelo coordenador de Projetos da Elos Educacional como uma fragilidade, pois mostra que o
documento fica engavetado. Por isso, é essencial que o projeto político-pedagógico seja parte do
cotidiano da escola para que seja conhecido e vivido por todos.

Sobre trilhos e trilhas


“Sempre gosto de dizer que o PPP não é feito de trilhos, são trilhas: no sentido de estar aberto às
mudanças de rotas, diferentemente do trem, que, se sai do trilho, descarrilha. PPP é um caminho a ser
percorrido e, como todo caminho, precisamos ter paradas e, se necessário, recalcular a rota”, diz Tiago
Monteiro.

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