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SEMINÁRIO TEOLÓGICO KOINONIA

DISCIPLINA DE CRISTOLOGIA E SOTERIOLOGIA


TURMA NÍVEL MÉDIO – QUINTA FEIRA

PROFESSOR: JOSÉ EUGÊNIO BATISTA

ALUNO: LUCAS RIBEIRO DOS SANTOS

Trabalho avaliativo solicitado


como requisito parcial na
aprovação da disciplina de
Cristologia e Soteriologia.

BELO HORIZONTE – MG
MARÇO DE 2019
INTRODUÇÃO

Após o período pós reforma protestante, o cristianismo tem se dividido em dois grupos
soteriológicos: calvinistas e arminianos. Esses dois movimentos ultrapassaram os
tempos e gerações até os dias hodiernos e fazem parte da maioria das igrejas
protestantes, ou evangélicas da atualidade.

O Calvinismo recebeu este nome por causa de John Calvin (João Calvino), teólogo
francês que viveu de 1509 a 1564. O Arminianismo recebeu este nome por causa de
Jacobus Arminius, teólogo holandês que viveu de 1560 a 1609.

Esses dois sistemas teológicos buscam elucidar, principalmente, a relação entre a


soberania de Deus e a responsabilidade humana em relação à salvação. A questão
fundamental é que, quando esses movimentos são equiparados entre si, eles
divergentes em suas bases teológicas, emergindo assim, diversos reflexos positivos e
negativos entre os cristãos e teólogos da atualidade. Desse modo, esse trabalho tem
como objetivo realizar uma compilação bibliográfica sobre as principais doutrinas
referentes a cada um desses movimentos e suas implicações e aplicações na atualidade
do cristianismo.
SÍNODO DE DORT

Jacobus Arminius começou a desenvolver uma teologia com objetivo de revisar


alguns pontos da fé reformada, pois conforme dizia, não queria fazer de Deus o
autor do pecado. Portanto, os ensinos de Jacobus Arminius começaram a divergir
das doutrinas reformadas, principalmente com os ensinos de Calvino. Cairns coloca
isso da seguinte forma:

Armínio e Calvino ensinavam que o homem por ter herdado o


pecado de Adão, está sob a ira de Deus. Armínio, porém cria
que o homem era capaz de procurar a salvação antes
mesmo de Deus lhe conceder a graça fundamental que
habilita sua vontade para cooperar com Deus. Calvino
entendia que a vontade do homem fora tão corrompida pela
queda que a salvação era uma questão exclusiva da graça
divina. Armínio cria na eleição, mas cria que o processo
de salvar alguns e condenar outros tinha seu fundamento
da presciência de Deus e a eleição era condicional não
incondicional. Calvino aceitava a eleição incondicional feita
por um Deus soberano, tanto para a graça como para a
condenação. Armínio interpretava a morte de Cristo suficiente
para todos embora só fosse eficaz para os crentes. Calvino
limitou a redenção aos eleitos para a salvação. Armínio
ensinava ainda que todos os homens poderiam resistir a graça
salvadora de Deus. Calvino tornava esta graça como
irresistível. Armínio respondia a insistência calvinista sobre a
perseverança dos santos, afirmando que Deus concedia aos
santos uma graça tamanha que eles não precisariam cair,
embora a Bíblia praticamente ensinasse que era possível ao
homem perder a salvação (CAIRNS, 1995 apud Lima e Silveira,
2018).

Segundo Olson (2001) apud Lima e Silveira (2018) diante de tal divergência os
oponentes de Jacobus Arminius começaram a perceber o erro do sinergismo em sua
pregação e ensino. Então, ele passou a ser perseguido pelos ministros calvinistas
que o acusaram de heresia para os oficiais da igreja e da cidade.

Após a morte de Jacobus Arminius seu sucessor Simon Episcopius sistematizou


seu ensino e juntamente com outros seguidores redigiram uma declaração de fé
chamada Remonstrância (protesto) em 1610, que deu ao seu grupo o nome de
Remonstrante.

Devido a ascensão do arminianismo nas igrejas holandesas, surge o Sínodo de Dort


(também conhecido como o Sínodo de Dordt ou Sínodo de Dordrecht). Este foi um
sínodo internacional que teve lugar em Dordrecht, na Holanda, de 1618 a 1619 pela
Igreja Reformada Holandesa, com o objetivo de regular uma séria controvérsia nas
Igrejas Holandesas dos ensinamentos do arminianismo.
A primeira reunião do sínodo foi tida a 13 de novembro de 1618 e a última, a 154ª foi a
9 de maio de 1619. Foram também convidados representantes com direito de voto
vindos de oito países estrangeiros. Ao todo, o sínodo foi constituído por 84 teólogos e
18 delegados seculares.

Na época, a declaração de fé Remonstrância foi apresentada pelos arminianos à Igreja


na Holanda, porém essa declaração foi rejeitada pelo Sínodo sob a justificativa de que
era anti-biblíco. O sínodo de Dort, concluiu que os pontos de vista de Arminius eram
heréticos. Os membros deste grande Sínodo não pararam por aí, formularam
cuidadosamente, como refutação, outros cinco Pontos baseados nas Escrituras,
conhecida como os Cinco Pontos do Calvinismo. Os Cânones de Dort terminam com
esta decisão:

Esta é a declaração clara, simples, e sincera da doutrina


ortodoxa com respeito aos Cinco Artigos de Fé discutidos na
Holanda. O Sínodo de Dort julga a presente declaração e as
rejeições serem tiradas da Palavra de Deus e conforme as
Confissões das Igrejas Reformadas. Na conclusão dos Cânones
de Dort, percebemos que para além de rejeitar os artigos
arminianos, também foi enfatizado que as doutrinas
reformadas eram comumente atacadas falsamente. Segue
abaixo um trecho final que exorta a todos os convertidos em
Cristo. (Os Cânones de Dort, 1619. apud, Lima e Silveira, 2018)

Na conclusão dos Cânones de Dort, percebemos que para além de rejeitar os artigos
arminianos, também foi enfatizado que as doutrinas reformadas eram comumente
atacadas falsamente.
O CALVINISMO

Segundo Zágari (2013), o calvinismo crê que Deus elegeu algumas pessoas para irem
para o Céu e outras para o inferno, ou seja, predestinou uns para a salvação e outros
para a perdição.

Calvino partiu dos mesmos textos de Lutero, principalmente da Carta de Paulo aos
Romanos, mas inverteu a maneira de ver de Lutero. Se para Lutero, o ser humano não
tem como discutir e mergulhar na compreensão da soberania de Deus e teologizar sobre
ela e, por isso, a eleição deve ser vista como garantia de nossa esperança,
principalmente nos momentos de dificuldades e sofrimentos, para Calvino a base da
vida cristã é a escolha eterna de Deus. Assim, na teologia, não seria fim, mas começo
e central idade.

Tanto em seu Comentário sobre a Carta aos Romanos, como nas Instituições da Igreja
Cristã, Calvino constrói uma teologia da eleição que tem por base a soberania de Deus.
E olha a eleição sempre do “ponto de vista” de Deus, de cima, descartando uma leitura
a partir da imago Dei e a possibilidade de escolha humana

A “TULIP” Calvinista

“TULIP” é um acróstico que significa:

TOTAL DEPRAVITY (Depravação Total)

UNCONDITIONAL ELECTION (Eleição Incondicional)

LIMITED ATONEMENT (Expiação Limitada)

IRRESTIBLE GRACE (Graça Irresistível)

PERSEVERANCE OF THE SAINTS (Perseverança dos Santos)

Basicamente, esses são os cinco pilares mais importantes do sistema calvinista. Banzoli
(2014) mencionam que esses cinco pilares formam um sistema fechado, de modo que,
ou todos esses pontos são, obrigatoriamente, defendidos, ou a negação de um deles,
invalida o sistema dado o fato que todos esses pilares estão interligados.

A TOTAL DEPRAVITY baseia-se nas passagens bíblicas dos livros de: Sl 51:5, Jr 13:23,
Rm 3:10-12, Rm 7:18; 1Co 2:14, Ef 1:3-12 e Cl 2:11-13. Esta doutrina teológica foi
derivada do conceito agostiniano do pecado original cometido por Adão e Eva em
desobediência a uma ordem expressa de Deus, que não comessem do fruto da árvore
do conhecimento do bem e do mal. Em outras palavras, a doutrina da depravação total
afirma que o homem natural é incapaz de fazer coisas boas, devido a sua natureza
caída. (Monteiro e Monteiro Barros, 2016)

Pela doutrina da UNCONDITIONAL ELECTION a salvação é baseada inteiramente na


vontade de Deus, e não em nada que seja da vontade do homem. Segundo Pinheiro
(2016), na ótica dessa doutrina Deus escolheu dentre todos os seres humanos decaídos
um grande número de pecadores por graça pura, sem levar em conta qualquer mérito,
obra ou fé prevista neles.

A doutrina da LIMITED ATONEMENT é uma das mais polêmicas, pois ela afirma a
crença que Jesus morreu e ressuscitou apenas por aqueles que foram eleitos por Deus,
privando os demais de serem salvos. FEINBERG et al. (2000) reproduzem a afirmação
de Agostinho, o qual afirma que a graça de Deus é “suficiente para todos, eficiente para
os eleitos”. Cristo foi sacrificado para redimir Seu povo, não para tentar redimi- lo. Ele
abriu a porta da salvação para todos, porém, só os eleitos querem entrar, e efetivamente
entram.

Em relação a doutrina da IRRESTIBLE GRACE, os autores FEINBERG et al. (2000)


afirmam que embora os homens possam resistir à graça de Deus, ela é, todavia,
infalível: acaba convencendo o pecador de seu estado depravado, convertendo-o,
dando-lhe nova vida, e santificando-o. O Espírito Santo realiza isto 15 sem coação. É
como o rapaz apaixonado que ganha o amor de sua eleita, e ela acaba casando-se com
ele, livremente. Deus age e o crente reage, livremente. Quem se perde tem consciência
de que está livremente rejeitando a salvação. Alguns escarnecem de Deus, outros se
enfurecem, outros adiam a decisão, outros demonstram total indiferença para com as
coisas sagradas. Todos, porém, agem livremente.

O último dos cinco pontos, a doutrina da PERSEVERANCE OF THE SAINTS se refere


ao conceito de que a pessoa que é eleita por Deus irá perseverar em fé e nunca negará
a Cristo ou se desviar dEle. Em outras palavras, todos os eleitos vão perseverar na fé
ate o fim e chegar ao céu, nenhum deles perderá a salvação.
O ARMINIANISMO

Segundo FEINBERG et al. (2000) as raízes do arminianismo, dizem alguns teólogos,


estão em Pelágio, que pregava um tipo de auto-salvação, negava que o homem é
depravado, e negava que Deus têm algum plano. Jacobus Armjnius (1560-1609),
discípulo de Beza (1519-1605), sucessor de Calvino, dedicou-se com afinco ao estudo
das doutrinas calvinistas, a fim de combater mais eficazmente as idéias pelagianas.

Pinheiro (2016) relata que Arminius defendeu uma posição sublapsariana, alertando
para o fato de que Deus não predetermina ninguém para a perdição. Segundo Arminius,
Deus em seu decreto escolheu seu Filho como Salvador para mediar a favor daqueles
pecadores que se arrependem e crêem em Cristo, e para administrar os meios eficientes
e eficazes para a fé de cada um deles. Assim, para ele, Deus decreta a salvação e a
perdição de pessoas em particular.

Entretanto, o calvinista Armínio surpreendentemente chegou à conclusão de que o


calvinismo estava errado, e passou a defender a posição que vinha atacando! Em 1610,
após a morte de Armínio, seus seguidores produziram um memorial constituído de cinco
pontos fundamentais — um resumo do arminianismo. Armínio mesmo não deixou um
sistema doutrinário articulado. Segundo alguns, Simon Episcopius (1583-1643) é quem
sistematizou o arminianismo. Os cinco pontos do arminianismo estão apresentados a
seguir.

PARTIAL DEPRAVITY (Depravação Parcial)

CONDITIONAL ELECTION (Eleição Condicional)

ILIMITED ATONEMENT (Expiação ilimitada)

RESISTIBLE GRACE (Graça Resistível)

CONDITINAL SALVATION (Salvação Condicional)

A PARTIAL DEPRAVITY defende que cada aspecto da humanidade está contaminado pelo
pecado, mas não ao ponto de fazer que os homens sejam incapazes de colocar sua fé em
Deus por iniciativa própria. Embora a queda de Adão tenha afetado seriamente a natureza
humana, as pessoas não ficaram num estado de total incapacidade espiritual. Todo pecador
pode arrepender-se e crer, por livre-arbítrio, cujo uso determinará seu destino eterno. O pecador
precisa da ajuda do Espírito, e só é regenerado depois de crer, porque o exercício da fé é a
participação humana no novo nascimento. (Is 55:7; Mt 25:41-46; Mc 9:47-48; Rm 14:10-12; 2Co
5:10).
Pela doutrina da CONDITIONAL ELECTION Deus escolheu as pessoas para a salvação, antes
da fundação do mundo, baseado em Sua presciência. Ele previu quem aceitaria livremente a
salvação e predestinou os salvos. A salvação ocorre quando o pecador, tocado pela Graça,
escolhe a Cristo. O pecador deve exercer fé, para crer em Cristo e ser salvo. Os que se perdem,
perdem-se por livre escolha: não quiseram crer em Cristo, rejeitaram a graça auxiliadora de
Deus. (Dt 30:19; Jo 5:40; 8:24; Ef 1:5-6, 12; 2:10; Tg 1:14; 1Pe 1:2; Ap 3:20; 22:17)

A doutrina da ILIMITED ATONEMENT é a crença de que Jesus morreu por todos, mas que
Sua morte não tem efeito enquanto a pessoa não crê. A expiação é universal. O sacrifício
de Cristo torna possível a toda e qualquer pessoa se salvar pela fé, mas não assegura a
salvação de ninguém. Só os que creem nEle, e todos quantos creem, serão salvos. Nos
cânones de Dort, isso foi expresso da seguinte forma:

Deus o Pai destinou seu filho à morte na cruz sem um decreto


definido de determinadas pessoas. Mesmo que a redenção por
Cristo, conquistada de fato, nunca tivesse sido aplicada a
nenhuma só pessoa, o que Ele alcançou pela sua morte
podia ter sido necessário, proveitoso e valioso e podia
permanecer perfeito, completo e intacto em todas as suas
partes. (Os Cânones de Dort, 1619. apud, Lima e Silveira, 2018)

Na doutrina da RESISTIBLE GRACE Deus faz tudo o que pode para salvar os pecadores.
Estes, porém, sendo livres, podem resistir aos apelos da graça. Se o pecador não reagir
positivamente, o Espírito não pode conceder vida. Portanto, a graça de Deus não é infalível
nem irresistível. O homem pode frustrar a vontade de Deus para sua salvação. (Lc 18:23;
19:41-42; Ef 4:30; 1Ts 5:19)

Por fim, na doutrina da CONDITINAL SALVATION, os crentes – regenerados pelo


Espiríto – podem cair da graça e perder-se eternamente. Embora o pecador tenha
exercido fé, crido em Cristo e nascido de novo para crescer na santificação, ele poderá
cair da graça. Só quem perseverar até o fim é que será salvo. (Lc 21:36; Gl 5:4; Hb 6:6;
10:26-27; 2Pe 2:20-22)

Dentro do estudo empreendido, a seguir apresenta-se as principais divergências


doutrinárias abordadas. Entre os pontos de divergências teológicas existentes entre
Calvinismo e Arminianismo, os que mais repercutiram, estão os assuntos relacionados
a natureza da salvação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após o desenvolvimento deste breve estudo, podemos ter certa percepção


de que as doutrinas calvinistas ou arminianas buscam expressar a verdade
Bíblica que Deus quis preservar na história da salvação e ainda o quer,
fazendo isso de tantas formas possíveis como lhe apraz. A tabela a seguir
sintetiza os pontos doutrinários supramencionados neste trabalho, e defendidos
por cada um desses sistemas teológicos.

Calvinismo Arminianismo
Aspecto da humanidade Depravação total Depravação parcial
Eleição Incondicional Condicional
Expiação Limitada Ilimitada
Graça Irresistível Resistível
Conceito de salvação Salvação Incondicional Salvação Condicional

Tozer coloca os dois sistemas como ferramentas que podem ser úteis para o
evangelho quando ambas trabalham juntas pela mesma causa. Isto não significa
que ele abraçava os dois sistemas como plenamente legítimos e bíblicos.

"Quando alguém aborda esse assunto comigo, costuma me


lembrar de um famoso pregador inglês que disse: 'Quando
prego, sou arminiano. Quando oro, sou calvinista.' Sempre
apreciei essa resposta e creio que ela seja a definição mais
correta de mim mesmo e de muitos outros evangélicos
convictos. Talvez ele fosse um calvinista duvidoso e um
arminiano apologético. No entanto, minha pergunta é a
seguinte: o que as pessoas eram antes de João Calvino
nascer? Porque não podemos ser simplesmente cristãos?"
(Tozer, 96, 97).
REFERÊNCIAS

LIMA, D. B; SILVEIRA, S. B. Os Cinco Artigos De Fé Do Arminianismo Discutidos No Sínodo


De Dort (1618-1619). Revista Pax Domini. v. 1, p. 44-66 (2015)

FEINBERG, J. Predestinação e livre-arbítrio. 3.ª ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2000

BAZOLI, L. Calvinismo ou Arminianismo – Quem está com a razão? 462f., 2014

MONTEIRO, A.; MONTEIRO BARROS. L. As diferenças doutrinárias entre calvinismo e


arminianismo e seus reflexos na atualidade. Trabalho de conclusão de curso. Fundação
Vida Crista, 24f, 2016.

PINHEIRO, J. A doutrina da eleição calvinismo, arminianismo e o equilíbrio da doutrina


batista. 9f. 2016

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