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Sonhos e Intuição

“Sonhar é ler os registros furtivos da alma”.


(Tarananda)

INTRODUÇÃO

Falar sobre sonhos é no mínimo instigante. Durante toda a história da humanidade,


homens e mulheres se ocuparam de falar sobre esse mundo onírico e até basear suas deci-
sões cotidianas embasados naquilo que sonhavam. Não falta bibliografia a respeito, nem
pontos de vista. Mas o que são exatamente os sonhos? Que mistérios os envolvem? São
produtos de que? O que sonham os dizem não sonhar? E por que será que tantos confun-
dem sonho com algo inatingível? Enfim, essas e tantas outras questões apenas abrem a dis-
cussão de um tema tão amplo e com infinitas possibilidades como o sonho. E o que a Intui-
ção teria a dizer sobre ele na vida de cada um de nós?... Na seqüência algumas reflexões e
discussões - embasadas em alguns teóricos que se ocuparam do tema Sonho e Intuição -
pretendem colaborar para a construção de um olhar acerca do assunto, trazendo alguns ele-

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mentos da arte e sua estética, como a literatura, a dança, a dramatização e a música, que
promovem no indivíduo uma ampliação da percepção.

DISCUSSÃO TEÓRICA

Sonhar é provavelmente uma característica de quase todos os animais. Deduzimos


isto do estudo do sonhar na espécie humana, pois muitos animais também apresentam mo-
vimento rápido dos olhos (REM) em etapas do sono. O estado denominado sono com so-
nhos ou sono REM, é também denominado sono paradoxal, pois durante esta fase o cérebro
apresenta atividade electrencefalográfica com onda beta, semelhante as que apresentamos
no estado de vigília, ou seja, paradoxalmente ao sonharmos o cérebro apresenta a mesma
atividade bioelétrica cerebral que é característica do estado de vigília.
Sonhar é um estado de consciência. Quando sonhamos estamos vivenciando conte-
údos psíquicos que foram apreendidos subliminarmente no estado de vigília. Na maioria
das vezes estes conteúdos permanecem latentes no inconsciente durante alguns dias até que
são vivenciados como um sonho e na maioria das vezes descartados no ato de sonhar.
Dependendo do estímulo apreendido e dos conteúdos psíquicos pré-existentes e não
resolvidos integralmente, tais como: vivências passadas, medos, desejos, anseios, traumas,
etc., o sonho pode trazer situações recorrentes prazerosas ou tenebrosas, como ocorre no
caso dos pesadelos.
Sabe-se que até os bebês ainda no útero tem sono REM, possivelmente sonhando
com conteúdos apreendidos subliminarmente, como gostos, odores, sons, etc.
O estudo dos sonhos na psicoterapia é de grande importância por mostrar conteúdos
psíquicos que estão ocultos no inconsciente. Freud em sua polêmica obra “A Interpretação
dos Sonhos”, define o conteúdo dos sonhos como a realização dos desejos e compreende o
sentido onírico do enredo sonhado como sendo „a fachada‟, um despiste do ego para o sen-
tido latente e oculto que o manifesta, e que tem verdadeiro interesse em psicanálise. A con-
trovérsia reside no processo de inferência que, do sonho nos leva ao sentido oculto que ma-
nifestou o enredo como uma fachada.

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Jung ampliou a importância do sonho, mostrando que os sonhos não são somente
manifestações de desejos ocultos, mas uma ferramenta psíquica para a busca do equilíbrio
por meio da compensação. O sonho traz a vivência do que de fato não foi vivido no estado
de vigília.
A oniromancia é o estudo dos sonhos premonitórios, e aqui entramos no estudo dos
estados alterados de consciência, onde a intuição, o saber além da lógica, como define O-
sho, nos traz indícios de uma possibilidade de ver além do espaço-tempo, assunto contro-
verso e ainda em aberto na ciência.
De fato a intuição é um estado de consciência onde o saber não emerge de uma ati-
vidade do intelecto, mas sim de um conteúdo mais profundo que os místicos denominam a
alma. Por isso, a intuição é dita ser um processo racional não discursivo. A razão emana de
um processo intelectual, a intuição é direta, instantânea. Ela emerge na consciência pronta.
Quais os „mecanismos‟ da intuição? Não sabemos! Entretanto, provavelmente a in-
tuição vem da fronteira do inconsciente pessoal com o inconsciente coletivo, ou mais além.
Vem de uma região além dos limites do espaço-tempo, além da fragmentação, onde a ver-
dade é uma.

A alma humana é talvez a coisa mais opaca, mais impenetrável e mais inabordável
que o pensamento jamais estudou. Por certo, é preciso admitir que todos os fenômenos psí-
quicos estão ligados entre si por uma espécie de encadeamento causal, entendido este termo
em seu sentido mais largo.Entretanto, recomenda-se, precisamente neste domínio, não es-
quecer que a causalidade, em última análise, nada mais é do que uma verdade estatística.
Por isso em certos casos talvez não pareça despropositado considerar pelo menos a possibi-
lidade de uma irracionalidade absoluta, embora, por razões heurísticas, seja preciso contar
sempre com a perspectiva causal. Também será aconselhável levar em conta uma das dis-
tinções conceituais clássicas, a da causa eficiente e a da causa final.
Entre os numerosos problemas da Psicologia médica, há um particularmente delica-
do: é o dos sonhos. Seria uma tarefa igualmente interessante e difícil examinar os sonhos
exclusivamente sob seus aspectos médicos, isto é, em relação com o diagnóstico e o prog-
nóstico de certos estados patológicos. O sonho diz respeito, realmente, tanto à saúde como
à doença, e, por isso, dada a sua raiz inconsciente, ele extrai elementos de sua composição

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também do tesouro das percepções subliminares, podendo nos proporcionar dados úteis ao
conhecimento.
A investigação dos sonhos em geral é, em si, tarefa para uma vida inteira.
O sonho é uma parcela da atividade psíquica involuntária, que possui, precisamente,
suficiente consciência para ser reproduzida no estado de vigília. Entre as manifestações
psíquicas são talvez os sonhos aquelas que mais nos oferecem dados “irracionais”. Parecem
comportar um mínimo de coerência lógica daquela hierarquia de valores que caracterizam
os outros conteúdos da consciência e, por isto, são difíceis de compreender. Sonhos cuja
estrutura satisfaz ao mesmo tempo à lógica, à moral e à estética constituem exceções. De
modo geral, o sonho é um produto estranho e desconcertante, que se caracteriza por um
grande número de “más qualidades”, como a falta de lógica, uma moral duvidosa, formas
desgraciosas, contra sensos ou absurdos manifestos. Por isso, é que são prontamente rejei-
tados como estúpidos e absurdos além de desprovidos de valor.
Qualquer interpretação do sonho é uma afirmação psicológica sobre o sentido de
certos conteúdos psíquicos seus. Esta interpretação não deixa de apresentar seus perigos,
porque o sonhador, de modo geral, como de resto a maior parte dos homens, revela uma
sensibilidade muitas vezes espantosa, não só para observações errôneas, mas, e sobretudo,
para observações acertadas. Como não é possível analisar o sonho sem a colaboração do
próprio sonhador, exceto em casos inteiramente excepcionais, de modo geral é preciso agir
com muito tato, para não ferir desnecessariamente a sensibilidade alheia.
Mas como se chega a um significado plausível e como se pode confirmar a exatidão
de nossa interpretação? Um primeiro método, que não é, porém, científico, consistiria em
predizer acontecimentos futuros, com a ajuda de uma coleção escrita de sonhos, e verificar
a exatidão da profecia, observando se o acontecimento predito ocorreu ou não, posterior-
mente, mais isto pressupõe que a função do sonho seja a de antecipar o futuro.
Outra maneira de descobrir diretamente o sentido do sonho consistiria talvez em
voltar ao passado e reconstituir certas experiências pessoais anteriores, a partir da manifes-
tação de determinados motivos oníricos.
O grande mérito de Freud foi o de ter aberto uma pista para a pesquisa e a interpre-
tação do sonho. Ele reconheceu, antes de tudo, que não podemos empreender nenhuma in-
terpretação sem a colaboração do próprio sonhador. As palavras que compõem o relato de

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um sonho não têm apenas um sentido, mas muitos. Se alguém sonha, por exemplo, com
uma mesa, estamos ainda bem longe de saber o que a palavra “mesa” do sonho significa,
embora a palavra “mesa” em si pareça suficientemente precisa. Com efeito, há qualquer
coisa que ignoramos, seria esta “mesa” precisamente aquela mesa à qual estava sentado o
pai do sonhador, quando lhe recusou qualquer ajuda financeira posterior e o expulsou de
casa como um sujeito imprestável. A superfície lustrosa desta mesa está ali, diante de seus
olhos, como o símbolo de uma inutilidade catastrófica tanto no estado de vigília, como nos
sonhos noturnos. Eis o que o sonhador entende por “mesa”. Por isso, precisamos da ajuda
do sonhador para limitar a diversidade das significações verbais ao seu conteúdo essencial e
convincente. É claro que a interpretação do sonho é, antes e acima de tudo, uma experiência
que só tem um significado imediato e evidente para duas pessoas. A partir do momento em
que conseguirmos estabelecer que a “mesa” do sonho significa justamente aquela mesa
fatal com tudo o que ela implica, teremos interpretado não ainda o sonho em si, mas pelo
menos aquele motivo isolado, no que ele tem de fundamental, e teremos reconhecido o con-
texto subjetivo no qual se insere a palavra “mesa” do sonho.
Por mais que os sonhos se refiram a uma determinada atitude da consciência do so-
nhador e a uma situação psíquica particular, suas raízes mergulham profundamente no sub-
solo obscuro e dificilmente conhecível de onde emergem os fenômenos da consciência. Por
falta de uma expressão mais precisa, damos a este pano de fundo obscuro o nome de in-
consciente. Não conhecemos sua essência em si mesma, nem é possível observar senão
determinados efeitos seus, cuja textura nos permite arriscar certas conclusões a respeito da
natureza da psique inconsciente. Como o sonho constitui uma expressão extremamente fre-
qüente e normal da psique inconsciente, é ele que nos fornece a maior parte do material
empírico para a exploração do inconsciente.
Como o sentido da maior parte dos sonhos não coincide com as tendências da cons-
ciência, mas revela divergências singulares, devemos admitir que o inconsciente, a matriz
dos sonhos, tem um funcionamento independente, “autonomia do inconsciente”.
Quanto à sua forma, encontramos nos sonhos desde a impressão rápida e fugidia
como o raio, até as infindáveis elucubrações oníricas. Há, contudo, uma predominância de
sonhos “médios” nos quais é possível reconhecer certa estrutura, que tem alguma analogia
com a do drama: O sonho começa, por exemplo, com uma indicação de lugar, segue-se

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muitas vezes uma indicação referente aos personagens da ação, as indicações de tempo são
mais raras. A segunda fase é a do desenvolvimento da ação, a terceira fase é a da culmina-
ção ou peripécia, aqui acontece qualquer coisa de decisivo ou a situação muda inteiramente
e a quarta e a última fase é a lise, a solução ou o resultado produzido pelo trabalho do so-
nho. (Há certos sonhos em que não falta a quarta fase, o que, em certas circunstâncias, pode
representar um problema especial).
O sonho pode desmentir o sujeito com a maior crueldade ou reconfortá-lo moral-
mente de maneira aparentemente muito criadora.
Um sonho pode, então, suprir o que ainda falta ou vir em nosso socorro, quando os
nossos melhores esforços falharam.

TEORIA DOS SONHOS ENTRE OS MALAIOS

A psicologia “senoi” divide-se em duas categorias: A primeira: interpretação do so-


nho e a segunda: expressão dos sonhos nos transes harmoniosos ou nas fantasias coopera-
tivistas (Sonhos e Intuição, Módulo IV, pg. 7).
Embora os senois não empreguem claro o nosso sistema de terminologia, sua psico-
logia de interpretação dos sonhos poderia ser resumida no seguinte: o homem cria caracte-
rísticas ou imagens do mundo exterior em sua própria mente como parte do processo adap-
tativo. Algumas características (ou imagens) estão em conflito com ele e entre si mesmas.
Uma vez internalizadas, estas imagens hostis viram o homem contra si próprio e contra
seus companheiros (Ibid, pg. 7).
Meus pensamentos sobre a vida em sonhos, nos vários grupos de idade dos senois,
indicam que o sonho pode e torna-se o mais profundo exemplo do pensamento criativo.
Observando a vida dos senois, pode-se dizer que a civilização moderna pode estar doente
porque o homem destruiu ou deixou de desenvolver a metade do seu poder de pensar (Ibid
pg. 8).

O SIGNIFICADO DOS SONHOS OCULTOS

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Segundo Freud há dois tipos de sonhos que podem ser considerados ocultos: os so-
nhos proféticos e os sonhos telepáticos (...) Com efeito, não pode haver dúvidas de que e-
xistem coisas tais como sonhos proféticos, no sentido de seu conteúdo fornecer determina-
dos tipos de retrato do futuro (Ibid pg. 11). Chegou-se a conclusão de ser bem plausível que
a telepatia realmente exista e que forneça o núcleo de verdade em muitas outras hipóteses
que de outra maneira seriam incríveis. (Ibid pg. 12)

Outros autores como Jung, trazem o termo sincronicidade para exprimir uma coin-
cidência significativa ou uma correspondência entre um acontecimento psíquico e um acon-
tecimento físico não ligado a uma relação causal.

Parece que o tempo longe de ser uma abstração, é um continuum concreto, ele inclui
certas qualidades ou condições fundamentais que se manifestem, simultaneamente, em lu-
gares diferentes, com um paralelismo que não pode ser explicado pela causalidade. As co-
incidências de acontecimentos ligados pelo sentido são pensáveis como puro acaso. Mas
quanto mais se multiplicam e mais a concordância é exata, mais sua probabilidade diminui.
(Ibid pg. 13)

Moreno, o criador do psicodrama, pressentiu aspectos “telepáticos” no Psicodrama.


Com efeito, ao definir o conceito de Tele afirmou que as relações de atração e repulsão
mútua eram devidas a fatores específicos, já que o evento estava fora de acasos, o que ele
comprovou por cálculos de probabilidade. Ao dar o nome “Tele” a este fator, ele afirmou
que a sua natureza era de ordem “esotérica”. Ao reconhecer que talvez haja relações do
Tele com aspectos genéricos ou sexuais, ele supõe que possivelmente o estudo do Tele for-
neça base para uma melhor compreensão do fenômeno oculto, da clarividência e da telepa-
tia. (Ibid pg. 13)

Para Pierre Weil, Devereux, Jaime Cardenã, o fenômeno parece se dar especifica-
mente quando a transferência e contratransferência são altamente positivos e quando é vi-
venciada pelo paciente em estado de regressão às fases arcaicas da unidade mãe criança,
correspondendo ao narcisismo primário intra-uterino e préobjetal (Weil , apud Sonhos e
Intuição, Módulo IV, pg.14).

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Segundo Henry Bérgson, a telepatia é um fenômeno comum, especialmente entre
íntimos, que não é percebido na vida comum. Para H J Eysench, (Sonhos e Intuição, Módu-
lo IV, pg. 14) a única conclusão que pode chegar o observador sem preconceito só pode ser
a de que existem certas pessoas, em pequeno número, que podem conhecer o que existe na
mente de outras pessoas, ou no mundo exterior, por meio até aqui desconhecido pela ciên-
cia.

O SONHO PRESENTE NA ARTE

Não temos aqui a pretensão de travar ampla discussão sobre o sonho presente na ar-
te. A intenção é trazer o tema de forma ilustrativa, para compor este trabalho. Nas leituras
que fizemos, observamos que o Surrealismo, uma das escolas da arte, explorava o mundo
do inconsciente e dos sonhos. A arte deveria ir além da razão e da lógica. Para Juan Miró
(1893 – 1983), pintor espanhol, a pintura e a poesia estavam muito próximas. Ele gostava
de interpretar o mundo de acordo com a sua imaginação. O mais importante era enxergar a
essência das coisas e despertar nas pessoas sentimentos profundos como alegria, tristeza,
medo ou amor. Por isso, suas obras estimulavam a imaginação e a criatividade. Na maioria
dos seus quadros, observa-se uma riqueza de cores e de símbolos. Em especial o quadro “O
Carnaval de Arlequim”, Miró confessa que se inspirou em sonho.

A pintura representa um quarto, com uma mesa e uma janela, que são referenciais
do mundo cotidiano. Mas o que nele se destaca sãos elementos oníricos. Um bizarro con-
junto de insetos soltos no espaço, que brinca, dança e toca música. O Arlequim de rosto
redondo e bigodes imensos e ridículos, tem o olhar triste e nervoso - um aspecto dramático
da personalidade de Miró, que ponteia uma obra jovial com momentos de tensão.

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O Carnaval de Arlequim (1924 – 1925)

Pintado em 1924, “O Carnaval de Arlequim” marca o momento em que a conquista


surrealista do inconsciente começa a influenciar Miró. Os sonhos gravados na memória
constituem a fonte de inspiração deste quadro.

Quando era questionado sobre onde buscava suas inspirações para pintar, Miro res-
pondia:
“Como é que eu encontrava todas as minhas idéias para quadros? Pois bem, já tarde, volta-
va ao meu atelier na Rue Blomet e deitava-me, às vezes, sem sequer ter jantado. Tinha sen-
sações que anotava no meu caderno. Via aparecer formas no tecto...”

A pintura inaugurou uma linguagem cujos símbolos remetem a uma fantasia inocen-
te das crianças, sem as profundezas das questões surrealistas.

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APRESENTAÇÃO PRÁTICA:

Breve introdução em powerpoint com a imagem do quadro de Joan Miro: “O Car-


naval de Arlequim”, falando da aproximação da arte e de sua estética com o mundo dos
sonhos e da percepção (que é a estética) com a intuição. Aproximadamente 3 minutos

Leitura dramática e representação da história “O Sonho e a Intuição”, de Eliane de


Christo, com participação de Mariana (como Intuição), Eliane (como Sonho), Osvaldo e
Fátima (como homem e mulher, representantes da espécie humana), Vanessa (contra-regra
e Estrela Guia), Silvana (narradora). Aproximadamente 6 minutos.

Música de fundo Now we are Free.

Serão usados materias, como balões, que serão distribuídos aos colegas presente,
como símbolo do sonho.

Em alguns momentos, intercalando a dramatização, entrarão imagens de powerpoint


condizente com o contexto da história encenada.

O Sonho e a Intuição

Há muito tempo atrás, quando o princípio ainda nem era o verbo, nasceu um meni-
no. Deram-lhe o nome de Sonho. Este garoto, conforme foi tendo consciência de si, passou
a explorar todo o espaço, viajando por imensidões e conhecendo cada território. Apesar de
toda essa plasticidade com que nascera e toda a liberdade de ser e estar, Sonho tinha um
desejo único: queria povoar o centro da consciência e o coração de uma espécie chamada
“Humana”. Seu desejo não demorou a realizar-se e em pouco tempo homens e mulheres,
pertencentes à espécie Humana, começaram a abrir-se para a visita do menino. No entanto,
Sonho não estava satisfeito, pois percebia que tão logo aqueles homens e mulheres abriam
os olhos, esqueciam-se completamente dele e do seu sentido. Não raro esses mesmos ho-
mens e mulheres referiam-se a Sonho como algo inatingível, às conquistas materiais, ao
consumo. Sonho não estava mesmo feliz, não estava colaborando para o desenvolvimento
da espécie humana, não porque ele não quisesse, mas porque não no deixavam. Nessa oca-

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sião consultou a Estrela Guia sobre qual a melhor forma de ser percebido e de ser usado
como instrumento amigo. A Estrela lhe mostrou, por meio de uma tela, como era o dia a dia
daquela espécie, desde que despertavam até o momento em que iam para a cama. Sonho
ficou perplexo e quase ficou surdo diante da guerra de pensamentos que habitava a cabeça
da espécie humana: “tenho de fazer isso”, “esqueci aquilo”, “amanhã tenho uma reunião
cedo, cadê o despertador?”, “nossa que carrão o Alberto comprou, é o meu sonho!”.... Mas,
mesmo diante de tantos pensamentos disputando espaço na cabeça daqueles homens e mu-
lheres, Sonho percebeu que todos tinham consigo uma menina que dançava, sem ser vista.
Essa menina bailava, bailava... e nada. Levava consigo uma pequena pena, a qual usava
para tocar os homens e as mulheres, mas nada de atenção. Sonho ficou impressionado com
a bailarina e a chamou no canto:
_ Vem cá, você vem sempre aqui?
_ Eu, respondeu a bailarina, habito parte desses seres!!!
...E continuou a bailar com leveza. Aproximou-se suavemente de Sonho e soprou no seu
ouvido: “Eu sou a Intuição, posso lhe ajudar?”
Sonho ficou completamente encantado e então perguntou:
_ O que você faz Intuição?
Enquanto dançava, Intuição foi dizendo algumas das denominações acerca da sua pessoa.
Há os que me chamam de funcionamento espontâneo da alma e outros ainda que se referem
a mim como uma faculdade que permite conhecer uma verdade, sem a necessidade de da-
dos intermediários. Também há quem diga que sou um conjunto de conhecimentos próprios
adquiridos ao longo das múltiplas experiências do Ser. Para alguns eu sou o terceiro olho,
para outros, um salto quântico ou um atalho, um lampejo, mas eu sou isso que você sen-
te!!!”.
_ E você Sonho, faz o que?
Ah, disse Sonho, eu trabalho bastante, principalmente enquanto todos dormem. Surjo em
forma de cenas, de cores, de sentimentos, de sensações, de emoções e as vezes simplesmen-
te reproduzo as imagens que os homens e mulheres vêem durante o dia. Já escreveram a
minha biografia sob vários aspectos, alguns autores me definem como sendo o caminho
para o autoconhecimento. Existem até dicionários de mim no plural: “Dicionário de So-
nhos”, sugerindo algumas hipóteses sobre significados de imagens sonhadas. Na Grécia

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antiga um tal Hipócrates escreveu um “Tratado dos Sonhos”. Um outro chamado Freud me
chamou de expressão ou realização de um desejo reprimido. E Jung me via como uma auto-
representação espontânea e simbólica do processo de vida psíquica de um indivíduo. Mas
há outras tantas falas sobre mim.
_ Não sei, disse Sonho, mas parece que podemos formar um bom par. Me dá a honra dessa
dança?????
... E foi assim que Intuição passou a ajudar Sonho na missão de despertar a espécie humana
para a ponta do arco-íris. Conta-se que os dois nunca mais se separaram e Intuição, como
fiel colaboradora de Sonho, estava sempre alerta para que os registros de Sonho tivessem
uma ótima revelação, alta resolução, plano de fundo adequado, foco preciso e um zoom nas
representações oníricas mais importantes para aqueles homens e mulheres.

APÓS A DRAMATIZAÇÃO

Após a dramatização, todos os colegas serão convidados a formar duplas, seguindo


a sua intuição. Um será o A – Sonho e o outro o B – Intuição. A dupla encontrará seu pró-
prio ritmo na dança, usando a linguagem não-verbal. Neste momento soltarão seus balões.
Ao final, todos resumirão a experiência em uma palavra e a colocarão para o grupo.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALUBRAT, Sonhos e Intuição – Módulo IV

JUNG, C. G., A Natureza da Psique. (tradução de PE. Dom Mateus Ramalho Rocha,

OSB).

Da Essência dos Sonhos – pág. 221 a 237, 1971 - Walter Verlag, AG, Olten - Die Dynamik

dês Unbewussten. Editora Vozes – 1984

MINK, Janis. Miro. Editora Taschen, 2005

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