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O DESENVOLVIMENTO LINGUISTICO NA ESCOLARIDADE

O1- INTRODUÇÃO:

Buscamos estudar o desenvolvimento da linguagem da criança durante a


sua permanência nas séries escolares, visando a compreender como se dá a
interação da criança nos processos comunicativos. Estudamos também a
relevância dos processos comunicativos na aprendizagem diante da postura
do professor. Nosso estudo aborda o desenvolvimento da linguagem do
aluno durante o processo de aprendizagem, uma vez que a interação do
aluno na sala de aula se dá por meio da linguagem, tanto por parte do
professor quanto do aluno. Para que este processo de aprendizado aconteça
de fato é necessário que o aluno esteja familiarizado com a linguagem
escolar usada pelo professor, para que o conhecimento seja construído a
partir dessa relação. Se este processo não se efetua, uma das nossas
hipóteses é que o aluno não esteja integrado com o sistema lingüístico da
norma culta empregada pela escola.

O aluno, ser humano em desenvolvimento, pode apresentar dificuldades


para aprender, uma vez que não consegue se desvincular das inúmeras
influências lingüísticas que recebe do meio em que vive, tanto do seu meio
cultural de ação, quanto dos colegas que o influenciam. Há uma grande
importância do papel do professor de Português, já que este é fonte
influente do português-padrão, primado para o desenvolvimento lingüístico
pleno do aluno.

Portanto, a linguagem tem grande importância, principalmente, na fase


escolar em que o aluno incipiente, pode nem estar familiarizado com o
discurso pedagógico que consta nos livros didáticos. O domínio da
linguagem utilizada na escola é de suma importância para o aluno e sua
interação com o professor pode ajudá-lo a melhorar seu desempenho não só
nas aulas de Português como em todas as outras matérias. Buscamos o
questionamento: Como professor pode ajudar no desenvolvimento
lingüístico do aluno que precisa compreender e interagir utilizando-se da
língua padrão encontrada na escola e nos livros didáticos? Como o domínio
deste discurso pode ajudar o aluno em sua vida futura?

02- O DESENVOLVIMENTO LINGÜÍSTICO NA ESCOLARIZAÇÃO:

A fase de escolaridade da criança é de extrema importância para sua vida,


sobretudo para o seu futuro. Futuro este, que refletirá o desempenho
escolar com o sucesso ou não na vida profissional, ou até mesmo na vida
pessoal. A escola será a principal fonte de conhecimento e aprimoramento
da linguagem para essa criança, pois através do ensino é possível maior
interação, e essa interação é que possibilitará a aprendizagem, que por sua
vez terá o professor como mediador e possibilitador na construção do
conhecimento através do domínio lingüístico.

O domínio lingüístico é a propulsão na construção do conhecimento, na


inserção do cidadão ao domínio da norma culta. Ensinar o aluno a
decodificar o sentido das palavras, ou seja, interpretar e compreender os
textos é um desafio para o professor atual. Além de ensinar o aluno a ler,
escrever e falar melhor, precisamos ensiná-lo também a pensar, refletir e
entender as palavras para então compreender a sociedade a qual pertence,
pois o ser humano precisa do desenvolvimento lingüístico para ser sociável.

A linguagem tem um papel fundamental nesse desenvolvimento, tanto para


que o professor desempenhe sua função com sucesso, quanto para que o
aluno desenvolva habilidades lingüísticas, pois é a linguagem, a expressão
do pensamento por palavras, a qual desempenha o papel fundamental em
todas as manifestações de nossa vida — é por meio dela, que a experiência
humana é transmitida. É por meio dela que o aluno aprenderá a se
manifestar, argumentar, opinar, se defender etc – seja de caráter
informativo ou comunicativo, será por meio lingüístico a vivência futura
desse aluno.

Para Wallon (2002, p.43), a pessoa se desenvolve progressivamente, ora


predomina nesse desenvolvimento o parte afetiva[1] da pessoa e ora
predomina a parte cognitiva. No entanto, embora o professor deva ensinar o
conteúdo do planejamento, precisa também usar palavras extras, conversar
com o aluno de modo a contribuir para suprir suas carências afetivas,
preparando-o para o conhecimento e até mesmo se preciso, ouvi-lo para
que posteriormente seu progresso seja notável. O professor é o principal
agente na vida escolar do aluno, portanto deve estar atento sempre as
oscilações dos alunos.

O professor atual, sobretudo de português, vive uma considerável


dificuldade em transmitir aos alunos uma educação lingüística, na qual
possa haver a concretude de um determinado domínio da língua padrão, por
parte dos alunos, vêm de diferentes comunidades lingüísticas, apresentam
variações muito diferentes da língua, da cultura e notadamente, estão cada
vez mais desinteressados dos estudos, principalmente nas aulas de
português. Muito distante dessa realidade estão os Parâmetros curriculares
nacionais em relação ao aluno.

Segundo os PCN da língua portuguesa dizem que o aluno precisa aprender


a:

utilizar diversas linguagens sendo essas um meio para produzir, expressar


suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos
públicos e privados, atentando a diferentes intenções e situações de
comunicação.

A afirmação acima implica no que o professor terá que fazer para que seu
aluno passe a ter o domínio verbal, sobretudo da língua padrão, a qual fará
com que o aluno se insira nesse mundo globalizado e se adapte a diferentes
situações de comunicação, produzindo, expressando idéias e
compartilhando informações numa troca interativa através da linguagem.

Segundo Bagno (2002-p.80), o objetivo da escola é formar cidadãos capazes


de se exprimir de forma adequada e competente, tanto na escrita como na
fala, para que possam se inserir de pleno direito na sociedade e ajudar na
construção e na transformação dessa – “é oferecer aos alunos uma
verdadeira educação lingüística”.

2.1-O desenvolvimento lingüístico por meio da educação


lingüística:

Chamamos ‘educação lingüística’, ao processo ininterrupto que se dá por


meio do uso reflexivo da linguagem, a qual possibilita e permite a conquista
de novas habilidades lingüísticas, particularmente daquelas associadas aos
padrões da escrita, de grande importância no futuro, sobretudo profissional
do aluno durante o período escolar.

O professor deve priorizar o aprimoramento do aluno no que concerne à fala


e à escrita. Falar e escrever com sabedoria é adequar essa fala e escrita às
situações. Em outras palavras, para cada situação de fala existe uma
maneira mais adequada de falar, como usar a formalidade quando falamos
com alguém desconhecido, ou usar a norma culta com o próprio professor
ou com alguém superior etc – enfim, são as variações lingüísticas que
segundo Bagno (2002, p.81) também devem ser incluídas no currículo de
formação do professor. Na escrita, as adequações se dão através do
gêneros textuais, para cada gênero existe uma forma adequada de escrevê-
lo.

O professor precisa se conscientizar da ‘Educação lingüística’ que


compreende o estudo da variação e da prática da reflexão lingüística, bem
como o desenvolvimento constante e ininterrupto das habilidades de leitura
e escrita (aliadas às práticas orais). O estudo dos gêneros textuais (orais e
escritos), são práticas que favorecem o desenvolvimento lingüístico
adequado à norma padrão da língua.

Segundo Kleimam (2004, p.07), o fracasso geral do aluno na escola se dá


pela falta de leitura, pois os professores de todas as disciplinas reclamam
que os alunos não lêem - daí a culpa de o aluno não interpretar, recair sobre
o professor de português o qual deve ter um posicionamento pedagógico
que permita a interdisciplinaridade para incentivar o aluno a desenvolver-se
também nas outras matérias.

Para Kleimam, qualquer texto, de qualquer área de estudo está inter-


relacionado a outros, permitindo assim que um texto derive seus
significados de outros. “Todo texto remete a outros textos no passado e
aponta para outros no futuro.” (Idem, p.62). Construir significados é possível
com a prática de leitura. Assim, a obrigação da aula de leitura não fica só
sob a responsabilidade do professor de português. Toda aula, de qualquer
área pode ser aula de leitura.

O prática de leitura pode tornar mais acessível ao ensino da norma culta, já


que a grande dificuldade dos alunos é o uso adequado da língua, seja
escrita ou falada. O hábito de leitura possibilita o entendimento de outras
disciplinas, tornando possível uma adequação lingüística às necessidades.

Os PCN (1998) nos dizem que a importância e os usos da linguagem são


determinados de acordo com a necessidade social de cada momento,
portanto, atualmente, há uma necessidade extrema em atender às
exigências de pessoas que lêem e escrevem bem e por isso é necessário
ampliar no aluno a competência discursiva mas que para isso, é essencial o
uso de textos, a prática de leitura.

Essa prática de leitura pode começar em sala de aula, desde as primeiras


séries. Os alunos precisam conhecer diversos gêneros progressivamente,
começando pelos mais simples (orais, por exemplo), saber que eles são
organizados de diversas formas. O professor dever usar os gêneros
adequados às necessidades de aprendizado dos alunos e, segundo os PCN,
selecionar aqueles mais importantes, como aqueles que merecerão uma
abordagem mais profunda, os quais podem favorecer a reflexão crítica, o
exercício de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas, como o
uso artístico da linguagem, em outras palavras, selecionar os mais úteis
para a plena participação numa sociedade.

Os alunos precisam de uma oferta maior de gêneros diferenciados de


leitura, das mais simples como: uma bula de remédios, uma lista de
compras às mais elaboradas como uma notícia de jornal, por exemplo,
motivando-os à prática da leitura. Encontramos a sugestão desta graduação
passando dos textos simples aos mais complexos, nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN 3º e 4º ciclos).

Assumir a tarefa de formar leitores impõe à escola a responsabilidade de


organizar-se em torno de um projeto educativo comprometido com a
intermediação da passagem do leitor de textos facilitados (infantis ou
infanto-juvenis) para o leitor de textos de complexidade real, tal como
circulam socialmente na literatura e nos jornais; do leitor de adaptações ou
de fragmentos para o leitor de textos originais e integrais.

Segundo Kleimam (2004, p.99), o professor pode usar diferentes textos de


um mesmo assunto, o que favorece o desenvolvimento da capacidade de
analisar criticamente o uso da linguagem – além de favorecer na
identificação dos gêneros, a qual favorece a interpretação. Quanto maior a
prática de leitura, maior será a compreensão e interpretação do uso da
linguagem, assim o aluno fará inferências[2], desenvolverá o senso crítico,
terá opiniões, saberá argumentar, refletir etc, enfim, terá o domínio verbal.

Não podemos dar aos alunos “pedaços de textos”, estes devem ser inteiros,
de modo a favorecer o entendimento numa unidade semântica completa.
Esses fragmentos, devem ser esquecidos, até mesmo nos exercícios
devemos manter a prática de leitura de textos inteiros, mesmo que
menores, pois além de o aluno estar lendo algo com começo meio e fim,
estimulando o pensamento, estará exercitando o entendimento,
descobrindo a intenção do autor, é um grande passo para a compreensão,
que segundo Bakhtin (2000, p.338) “ A compreensão de uma obra qualquer,
numa língua muito familiar (a língua materna, por exemplo), enriquece
igualmente a compreensão da língua em seu sistema.” – podemos dizer que
nesta perspectiva de Bakhtin, quando o aluno lê o texto e compreende,
estará compreendendo o funcionamento da própria língua, sobretudo a
norma culta que num processo simultâneo de aprimoramento favorecerá o
desenvolvimento lingüístico.

2.2- A importância da interação no desenvolvimento


lingüístico:
Segundo Vigotsky (2000, p.106), a interação social tem grande significância
no desenvolvimento do ser humano, desenvolvimento esse que depende de
um processo de maturação do organismo como um todo, mas para isso é
preciso que o indivíduo tenha uma interação com a sua cultura. O pensar,
agir e sentir do ser humano depende de sua interação com o meio físico e
social.

A interação do indivíduo pode ocorrer por diferentes formas de linguagem,


depende da situação comunicativa e se diferencia historicamente, também
pode ocorrer a interação no ato de leitura, que segundo Kleimam (2004-p.
31), a leitura é a interação entre o leitor e o autor . Quanto mais ele se
interage, mais se desenvolve, tanto culturalmente, cognitivamente, quanto
verbalmente. Estes são bem desenvolvidos na escola. Por isso é muito
importante o aluno ler, se interagir com os colegas sobre o que leu, com o
professor, com o conhecimento, informações, culturas etc, fornecidas pelo
texto.

Interagir também precisa de contexto, para WALON (2002-p.39), para cada


idade precisa de uma forma diferente de interação entre o sujeito e seu
ambiente. O espaço físico, as pessoas próximas, a linguagem e os
conhecimentos próprios de cada cultura, formam o contexto para o
desenvolvimento. Por isso é necessário a adequação dos conteúdos
escolares à idade da criança, eles devem proporcionar interações que
favoreçam o desenvolvimento lingüístico e cognitivo da criança. Por
exemplo: Uma criança quando está na 1ª série precisa de interagir com as
imagens e objetos para aprender, mas progressivamente o professor deverá
mudar ou acrescentar novas formas de interação da criança com seu meio,
como por exemplo na 4ª série, o uso de mais jogos, leituras abstratas etc.

Os PCN (1998) dizem que quando um indivíduo se interage através da


linguagem, forma-se um discurso que depende das intenções e finalidades
do locutor, dos conhecimentos que acredita ter o interlocutor sobre o
assunto, de pressuposições, simpatias e antipatias, relação de afinidade,
grau de familiaridade, posição social, enfim depende de uma série de
fatores que possibilitarão o desenvolvimento lingüístico.

A interação favorece o desenvolvimento lingüístico e cognitivo. Quanto mais


o aluno interage, do ponto de vista lingüístico, sócio cultural, afetivo etc,
mais se desenvolve. Essa interação deve ter como mediador, o professor,
que segundo Vigotsky (Apud:Rego, p.91), deve ser o mediador do
conhecimento para o aluno através da palavra – abordaremos esse assunto
especificamente a seguir no item 2.4.

A palavra é “o produto da interação do locutor e do ouvinte”, segundo


Bakhtin (2004, p.113). Daí a grande importância de um processo interativo
na escola, visando o desenvolvimento lingüístico e o aprimoramento da
norma culta. Pois é através da interação, a qual o aluno percebe as
diferenças de fala, de nível de conhecimento, tenta melhorar quando
percebe as diferenças ou procura imitar o mais correto do seu ponto de
vista. Para a concretude desse aprendizado é necessário atividades
interativas.
Essas atividades interativas podem ser realizadas através de seminários e
debates em sala de aula, que quando bem organizadas pelo professor,
ajuda no desenvolvimento lingüístico do aluno, sobretudo na construção do
conhecimento e aprimoramento da norma padrão. O aluno aprenderá a se
expressar de maneira correta e concisa, para isso terá que estudar antes,
treinar bem, para saber debater. Esses debates deverão ser usados, pelo
professor, como pretexto para o treino oral da norma padrão. De nada vale
o treino apenas da escrita, é preciso o treino oral da norma culta (fazer o
aluno se expressar adequadamente), pois este precisará se inserir na
sociedade através da norma padrão, a qual será uma ponte interativa
desse aluno com o mundo.

A grande importância dos debates, é o estímulo ao pensamento da criança,


pois esta será conduzida a pensar de forma sincrônica com a fala, ou seja,
ela pensa e imediatamente fala aquilo que pensou. Além de tudo que
pensou e falou durante o debate, deverá estar escrito para o professor,
outro pretexto que deve ser usado para o desenvolvimento da escrita. São
três atividades realizadas (pensar, falar e escrever), para desenvolver
habilidades lingüísticas e que também favorecem o aprendizado da norma
padrão, além de forçar o entendimento provoca imensa interação verbal
entre alunos e professor.

2.3- O papel do professor nos estudos de Vigotsky:

Segundo os estudos de Vigotsky (Apud: REGO, p.115), o papel do professor,


como referência no ensino, nos remete a necessidade de redefinição de sua
função, pois podemos dizer que o professor deixa de ser visto como
exclusivo de informação e formação dos alunos e as interações
estabelecidas entre crianças também é um papel de extrema importância
na promoção de avanços no desenvolvimento individual. O professor será o
elemento mediador (e possibilitador) dessas interações entre os alunos, e as
crianças com os objetos de conhecimentos.

O professor é visto como o parceiro privilegiado, justamente porque tem


maior experiência, informações e a incumbência, entre outras funções, de
tornar acessível ao aluno o patrimônio cultural já formulado pelos homens e
portanto, desafiar através do ensino os processos de aprendizagem e
desenvolvimento. É o professor que será o agente de intervenção nas
‘zonas de desenvolvimento proximais’ dos alunos em seu cotidiano escolar.
Segundo MACEDO:

O conhecimento real é o que ela aprendeu e conhece do mundo, mas há,


ainda, em processo de amadurecimento, uma prontidão para avançar e
ampliar o seu campo de conhecimento. Tal prontidão é a zona proximal. A
zona proximal representa o desenvolvimento potencial que a cognição
infantil pode alcançar. A Z.D.P. permite antever o futuro imediato do
desenvolvimento infantil porque conjuga as potencialidades da criança com
as oportunidades que o meio propicia. (Inédito: MACEDO, p.23)

O processo educativo se dá por meio das demonstrações, explicações,


justificativas, abstrações e questionamentos do professor. O educador deve
conduzir o aluno ao aprendizado, não dando respostas prontas, mas
estimulando-o com o fornecimento de informações, pistas, promovendo
situações que incentivem sua curiosidade e possibilitem a interação (troca
de informações) entre os alunos e que permitam o aprendizado das fontes
de conhecimento.

É necessário e oportuno que o professor planeje atividades,

as quais os alunos envolvam observações ( por exemplo,


fenômenos da natureza ) pesquisa sobre determinado tema
(em casa, na biblioteca, com os parente etc ), resolução de
questões específicas (que podem tentar ser respondidas
individualmente, em dupla ou em grupos maiores ) ou
mesmo proposta de estudos e preparação de seminários,
palestras ou outras apresentações. Vigotsky (Apud: REGO –
2002 p. 117)

Para que o professor possa intervir e planejar estratégias que permitam


avanços, reestruturação e ampliação do conhecimento já estabelecido pelo
grupo de alunos, é preciso conhecer o nível efetivo das crianças, ou seja, as
descobertas, hipóteses, informações, crenças, opiniões acerca do mundo
circundante. Mas para que tudo isso se realize, é preciso que no cotidiano, o
professor estabeleça uma relação de diálogo com as crianças e crie
situações em que elas possam expressar aquilo que já sabem. É necessário
que o professor esteja disposto a ouvir e perceber as manifestações infantis.

O uso de registros (através de diários, relatório etc) das observações feitas


pelo professor, das características do grupo de crianças (como produzem,
de que modo interagem, como se relacionam com os diversos objetos de
conhecimento, as descobertas, as dúvidas e dificuldades, interesses, como
brincam etc). Isso pode ser uma preciosa e grande fonte para o
planejamento de atividades que poderão ser significativas e eficientes nos
objetivos do professor .

Entre outros recursos que o professor precisa para desempenhar bem seu
papel é preciso que seja escutado, pois ele tem idéias, hipóteses, princípios,
explicações e conhecimentos (baseados na sua experiência de vida como
aluno e como profissional), que quando revelados, podem oferecer
importantes modos de ação junto aos alunos.

Diríamos também, que o interacionismo mencionado por Vigotsky é de


extrema importância na formação também de professores, pois é
necessário antes que se saiba interagir com o outro, ou seja, sair de uma
perspectiva intrapessoal (individual) para uma perspectiva interpessoal
(coletiva). Afinal, o professor que não sabe trabalhar em grupo, que não
sabe se relacionar com o outro, certamente não saberá desenvolver
atividades interacionais com seus alunos e construir conceitos partindo da
troca de experiências, portanto não saberá coordenar os alunos numa
perspectiva coletiva e ser aí mediador nas atividades. O professor precisa
interagir também com outras disciplinas, pois é essa interação que o levará
a dar aulas dinâmicas no intuito de desenvolver as habilidades lingüísticas
do aluno. Professor parado, trancafiado no seu mundo, não chega aos
objetivos com sucesso.
2.4- Pensamento: sua importância no desenvolvimento da
linguagem.
Para entendermos o pensamento e sua relação com a linguagem e o ensino,
antes buscamos o falar do pensamento numa perspectiva filosófica, já que
podemos dizer que na filosofia, os questionamentos são buscados pelo
pensamento. Segundo Chauí (2003, p.157), o pensamento é o passeio da
alma, é a maneira com que nosso espírito parece sair do corpo para
conhecer o mundo. É essa curiosa atividade por meio da qual saímos de nós
mesmos sem sairmos de nosso interior. É também a maneira pela qual sair
de si e entrar em si são uma só e mesma coisa, como um vôo sem sair do
lugar. Isso seria o que a criança faria se o professor, especificamente o de
português procurasse desenvolver a linguagem do aluno, sobretudo a língua
padrão, por meio do estímulo do pensamento imaginativo, fazendo com que
o aluno viaje, saia de si e dê asas à imaginação.

O pensamento é uma atividade diária, pensamos sozinhos ou


acompanhados, cada pessoa pensa de maneira diferente e é por meio do
pensamento que se aprende, que se questiona, que se liberta, que cria e
produz, tudo expressado por meio das palavras. É por isso que estamos
buscando uma forma de mostrar que o estímulo do pensamento é de
grande importância para o desenvolvimento da linguagem, é preciso saber
pensar para se expressar bem, por isso há uma necessidade extrema sobre
a reflexão do uso da linguagem. Essa reflexão se processa no pensamento.

Segundo Vigotsky (MACEDO, Inédito p.07), o desenvolvimento cognitivo da


criança se acelera consideravelmente após a aquisição da linguagem. Este
impulso nos processos cognitivos se dá por meio da visível interação com o
mundo e com os falantes ao redor da criança. É durante esta evolução que
a criança aprende a estruturar seus pensamentos para representar o mundo
que a cerca. Sabemos, portanto, que a maior parte desse período a criança
passa na escola

Quando um professor estimula seu aluno a falar, automaticamente estará


estimulando-o a pensar e vice versa. Essa é uma atividade que amplia a
competência discursiva desse aluno. Segundo os PCN, boa parte das
crianças e jovens estudantes brasileiros, só tem acesso aos textos escritos
através da escola. Então, porque não o professor começar o aprimoramento
da norma padrão através de escuta de textos – como por exemplo a leitura
de textos pelo próprio professor que após essa escuta, lançará
questionamentos sobre a construção do texto, ortografia entre outros e
principalmente da norma padrão. Dessa forma, os alunos serão obrigados a
pensar e sucessivamente a falar sobre tais, num treinamento diário e
progressivo que posteriormente poderá tornar-se mais complexo.

No dicionário Aurélio (2003), o ato de pensar é “refletir; meditar ou pensar;


processo mental que se concentram as idéias; atividade de conhecimento;
consciência; raciocínio; formulação de um juízo etc”. Podemos observar que
em todos os conceitos, o pensamento aparecem numa perspectiva
intrapessoal, ou seja, é possível várias pessoas simultaneamente pensar em
um mesmo fato, mas cada uma dessas pessoas terá seu modo individual de
pensar, porém nem por isso o fato deixará de existir como é. Por isso é
necessário que o professor não padronize as respostas dadas pelos alunos
ao corrigir uma prova ou exercício. Deixar o aluno refletir, pensar e dar sua
própria resposta para facilitar o seu desenvolvimento lingüístico.
Segundo Vigotsky (2003, p.157), o pensamento está inter-relacionado à
linguagem, se o aluno pensa e reflete sobre uma questão, de qualquer
maneira estará usando conceitos ou significado para articula-lo por meio da
palavra.

2.5- Reflexão sobre a língua como forma de desenvolvimento


lingüístico:

Os PCN sugerem a reflexão sobre a linguagem, através da prática


constante de textos orais e escritos. Essa reflexão tem como principal
objetivo, a ampliação da competência discursiva do aluno. Refletir sobre a
linguagem inclui uma atividade cerebral concentrada coletiva, de modo que
todos pensam e discutem sobre o “pensado”.

Ensinar o aluno a refletir é criar uma série de questionamentos para que ele
antes porém pense, conscientize e sobretudo desenvolva o senso crítico
através da linguagem sobre o texto. Para que o aluno reflita sobre a
linguagem é necessário interiorizar algo, um texto por exemplo, no qual o
entendimento, numa unidade semântica completa, será a mola propulsora
para a realização de uma reflexão proveitosa.

Para Bakhtin,

o mundo interior e a reflexão de cada indivíduo têm um


‘auditório social próprio bem estabelecido, em cuja
atmosfera se constroem suas deduções interiores, suas
motivações, apreciações etc. Quanto mais aculturado
for o indivíduo, mais o auditório e em questão se
aproximará do auditório médio da criação ideológica,
mas em todo caso o interlocutor ideal não pode
ultrapassar as fronteiras de uma classe e de uma época
bem definidas. (p.113)

Ou seja, quando o aluno reflete sobre um determinado texto, certamente


ele fará inferências de sua cultura, de seu meio com o texto e com a
imaginação, portanto o professor deve respeitar cada pensamento, opinião
e classe social de seus alunos, pois são diferentes entre si, a experiência e
imaginação defere de um aluno para o outro. Deve-se partir de
questionamentos possíveis à reflexão, adequados ao meio e a cultura do
aluno, para então progressivamente, ousar em pensamentos mais
complexos, os quais auxiliarão na construção do conhecimento e no
desenvolvimento da linguagem. O professor pode aproveitar a diferença
apresentada na sala de aula por aluno de origem / meios sociais distintos,
para estudar a própria variação lingüística.

3- CONCLUSÃO:

Tornar um aluno em um indivíduo com “atitude crítica” é de extrema


importância, pois é a constatação de que tornou-se em um ser capacitado
para opinar, julgar, interpretar e discernir. Já que a crítica é atividade de
examinar e avaliar detalhadamente uma idéia, um valor, um costume, um
comportamento, uma obra artística ou científica, no entanto o aluno
também poderá operar numa atitude crítica, obviamente de forma sutil,
mas o importante é que o aluno construa conhecimento, pois é conhecendo
que se forma atitudes.

Esse conhecimento se dá por meio da leitura, a qual mediada pelo professor


poderá ser prazerosa em prol da construção do saber. O professor deverá
conduzir o aluno progressivamente à leitura até que ele se torne um leitor
freqüente de revistas, livros e jornais e se torne um cidadão capaz de
compreender este tipo de leitura.
A linguagem, inerente ao homem, por meio da qual o homem exprime seus
sentimentos, exercita seus valores e cumpre seus deveres, é também a
essência da educação, seu legado é o conhecimento e sucessivamente o
progresso - expressão do pensamento do bem e do mal através das
palavras as quais somos capazes de expressar o mais profundo do nosso
íntimo. A necessidade que o homem apresenta de comunicar-se, é de
extrema importância para a preservação das culturas que trazem com elas
os valores éticos e morais transmitidos de geração em geração e o
professor, na amplitude do ensino deve envolver o aluno durante o
aprendizado para um desenvolvimento lingüístico comprometido com o
saber, preparando-o para interpretar o mundo.
O que antes era acesso restrito ao professor (o conhecimento), hoje tornou-
se fácil para o aluno através da rede mundial de computadores. Devermos
considerar que muitos alunos ainda não têm esse acesso, sobretudo alunos
da escola pública, mas o professor deve tanto estar preparado (informado)
para ensinar o aluno que tem acesso às mais diversas informações, quanto
aquele aluno que não tem acesso a nada, nem ao menos um gibi. Haverá
alunos que terão o desenvolvimento lingüístico restrito apenas ao que o
professor lhe ensinar, daí a grande importância e responsabilidade desse
professor em ensinar com senso investigativo, observando cada passo de
aprendizado de seus alunos, preparando-os para competir com outros que
possivelmente terão ao seu alcance um mundo cibernético, explosivo em
informações onde atividades coletivas dominam.
É relevante que se saiba que vivemos em um mundo interativo, a própria
globalização nos proporciona isto. Países precisam se interagir para
acompanhar o desenvolvimento político e econômico mundial. E assim deve
ser professor/aluno, professor/mundo para que posteriormente, esse aluno
venha se interagir com o mundo atendendo as exigências, superando as
dificuldades nele impostas, compreendendo-o. Essa é uma das principais
propostas dos PCN, “domínio verbal para interpretar o mundo”. Esse
domínio verbal é regido sobretudo pela norma culta. Portanto, o professor
não pode se prender apenas aos livros didáticos oferecidos pelas escolas, é
necessário outras fontes, as quais deverão ser usadas na amplitude
dinâmica do ensino.
O nosso trabalho é mais uma contribuição no sentido de mobilizar o
professor de Língua Portuguesa a refletir sobre o ensino e sobre o aluno
como um ser humano capaz de interagir com o mundo que o cerca e
desenvolver suas potencialidades lingüísticas.

0.4- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


BAGNO, Marcos. Língua Materna: letramento, variação & ensino. Ed 2ª, São
Paulo: Parábola, 2003.

BAKHTIN, Mikail. Marxismo e Filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec,


2005

_______________. A Estética da Criação Verbal. Ed.3ª, São Paulo. Martins


Fontes, 2000.

CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed 13ª, São Paulo: Ática, 2003, p.147-
56.

GALVÃO, Isabel. Henri Wallon: Uma concepção dialética do desenvolvimento


infantil. Ed.10ª, Petrópolis/RJ. Vozes, 2002.

KLEIMAN, Ângela B. Oficina de Leitura, teoria e prática. Ed. 10ª, Campinas,


SP: Pontes, 2004.

________________. Leitura e Interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos


da escola. Ed.4ª, Campinas, SP: Mercado das Letras, 1999. – (Coleção Idéias
sobre Linguagem).

MACEDO, Denise. A evolução conceitual sob a perspectiva lingüístico-


cognitiva. Inédito – Dissertação de Mestrado – 2003.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DA LÍNGUA PORTUGESA– 3º e 4º


ciclos/ MEC/SEF, 1998, 116p.

REGO, Tereza Cristina. Vigotsky: Uma perspectiva Histórico Cultural da


Educação. Ed 13ª, Petrópolis, RJ, Vozes, 2002.

VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. Ed.2ª, São Paulo: Martins Fontes,


1999.

[1] Também segundo Wallon, essa afetividade é simbólica, que se exprime


por palavras e idéias e que por esta via pode ser nutrida.(p.45)

[2] As inferências são deduções a respeito do sentido de um texto ou


discurso que não estão expressas literalmente no texto. (MACEDO, inédito)
Fazer inferência é associar experiências da própria vida com o texto.

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