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Os Domínios Morfoclimáticos do Brasil

Resumo Teórico
O conceito de Domínios Morfoclimáticos, proposto por Aziz Ab’Saber, é utilizado para
o
tratamento das diferentes paisagens naturais existentes no Brasil. Esse conceito gerou
uma
classificação que combina fatos geomorfológicos ( das formas de relevo ), climáticos,
hidrológicos,
botânicos e pedológicos ( referentes ao solo ), estabelecendo padrões regionais. Como
pode ser
observado no mapa abaixo, a classificação dos domínios de paisagem apresenta 6 áreas
homogêneas
centrais associadas com faixas de transição, onde as características da paisagens não
apresentam uma
definição tão marcante e, freqüentemente, associam elementos das paisagens ao seu
redor.
Os Domínios Morfoclimáticos, segundo Ab’ Saber:
O Domínio Amazônico
O domínio das terras baixas florestadas da Amazônia compreende uma extensa planície
inundável, tabuleiros com altitudes de até 200 m, terraços com cascalhos e lateritas e
morros baixos
com formas arredondadas. Essa paisagem apresenta uma relação direta com a bacia
hidrográfica
Amazônica e uma rica variedade de águas perenes, com rios brancos, negros e
cristalinos.
A base do relevo está assentada sobre uma bacia sedimentar constituída na Era
Paleozóica, antes da separação entre a América do Sul e a África e da formação da
Cordilheira dos
Andes. Essa bacia sedimentar antiga foi recoberta por sedimentos recentes, dos períodos
Terciário e
Quaternário da Era Cenozóica, e são estes os que aparecem na estrutura geológica da
região.
O clima dominante é o Equatorial com baixa amplitude térmica e temperaturas que
oscilam entre 25ºC e 27ºC no decorrer do ano; a pluviosidade também é elevada,
superando a marca
dos 1800mm anuais.
Nessa região aparecem solos arenosos, ácidos, pobres em nutrientes minerais, sujeitos à
1lixiviação. Como a própria floresta é responsável pela ciclagem de nutrientes, o manto
de detritos
orgânicos – formado pelas folhas que caem das árvores – tornam os solos ricos em
matéria orgânica,
o que garante a alimentação da vegetação nativa.
Essa floresta latifoliada equatorial apresenta uma destacada biodiversidade, com três
padrões básicos: Matas de Igapó, Matas de Várzea e Matas de Terra Firme.
• As Matas de Igapó estão localizadas nas áreas de inundação permanente, com solos e
águas
ácidas. A vegetação é perenifólia ( não perde as folhas durante o ano ), com
ramificações baixas e
densas, de até 20 m de altura, repleta de arbustos, cipós e epífitas. Aí destacam-se
espécies como o
Arapati, a Mamorana e a Vitória Régia.
• As Matas de Várzea localizam-se nas áreas de inundação periódica, junto aos rios de
água branca.
Sua composição florística varia de acordo com o período de inundação e também pode
apresentar
espécies de maior porte, como a Seringueira e o Pau Mulato.
• As Matas de Terra Firme estão nas áreas mais elevadas, que não são atingidas pelas
inundações
amazônicas. Aí encontram-se as árvores de grande porte, com 60 a 65m de altura. A
floresta é
compacta, perenifólia e higrófila; o dossel ( conjunto das copas das árvores ) é contínuo
eo
ambiente é úmido e escuro. Nesse estrato podem ser encontradas as Castanheiras, o
Caucho, a
Sapucaia, o Cedro e a Maçaranduba.
Quanto aos problemas ambientais destacam-se a destruição da biodiversidade pelos
desmatamentos
e queimadas, a destruição dos solos, as alterações no ciclo hidrológico, a difusão de
pragas e
parasitas.
O Domínio dos Mares de Morros
O domínio dos Mares de Morros Florestados do Brasil tropical é recoberto pela Mata
Atlântica, uma floresta latifoliada tropical que, originalmente, recobria a fachada
litorânea do país e
interiorizava-se na região Sudeste. Hoje, a essa floresta está reduzida à 5% de sua área
inicial,
ocupando uma área de 55 mil km
2
.
Esse domínio associa um relevo planáltico estruturado sobre uma base de rochas
magmáticas e metamórficas muito antigas, formadas no Pré Cambriano. O clima é
Tropical Litorâneo
Úmido, afetado por chuvas frontais e orográficas, com predomínio de chuvas no verão.
A associação
dessa base geológica com o clima Litorâneo Úmido levou à constituição de um relevo
mamelonar -
com formas arredondas - relativamente elevado, denominado “Mares de Morros”
Mata Atlântica é o nome genérico dado ao conjunto de florestas tropicais úmidas que
ocorre de forma azonal ( chegava até o paralelo 33ºS ) nas regiões costeiras do Brasil.
Essa floresta é
influenciada pela umidade dos ventos Alísios de Sudeste e pelas chuvas orográficas,
apresentando
fisionomia semelhante à da Floresta Amazônica e maior biodiversidade de que sua
“irmã equatorial”.
Essa biodiversidade deve-se à grande variação latitudinal de sua localização, às
diferentes altitudes de
relevo ocupadas pela floresta, às influências de climas passados e às diferentes
condições de solo e
umidade à que está submetida.
A devastação na região dos Mares de Morros foi resultado da expansão da agricultura
comercial – principalmente a cafeicultura, do desmatamento seletivo de madeiras
nobres, do turismo
predatório nas regiões litorâneas e, em período mais recente, da constituição das
manchas
urbano-industriais no Sudeste brasileiro.
O Domínio da Caatinga
O domínio da Caatinga localiza-se no interior do Nordeste brasileiro, em região de
depressões inter-planálticas, como a Depressão Sertaneja e Sanfranciscana. Aí ocorre o
clima
Semi-árido, com temperaturas elevadas durante todo o ano, chuvas escassas – menos de
700 mm/ano
– e irregularmente distribuídas.
Parte da região está localizada na bacia do rio São Francisco onde, além do rio
principal,
há o predomínio de rios intermitentes, que desaparecem no período seco.
2Os solos da Caatinga podem ser argilosos, arenosos ou rasos e pedregosos. Como as
chuvas são escassas, ocorre a preservação dos nutrientes minerais, o que possibilita a
prática agrícola
sob um adequado sistema de irrigação. Quanto aos nutrientes orgânicos, esses solos são
pobres, já
que a vegetação é rala e o clima seco não facilita a decomposição das folhas que caem
sobre os solos.
Apesar da fertilidade natural dos solos argilosos, existe a possibilidade de salinização,
que pode
torná-los estéreis devido à precipitação de partículas minerais, que têm origem nas áreas
mais
profundas das bacias sedimentares presentes na região.
A vegetação compreende matas secas e campos. A Mata Seca, também chamada de
Caatinga Arbustiva, é decídua – perde as folhas na estiagem e xerófita, com folhas
grossas e miúdas,
que dificultam a transpiração; também é rica em espécies frutíferas e outras que
permitem a produção
de fibras, ceras e óleos vegetais. Os Campos Secos das chapadas correspondem a
associações de
vegetação rasteira e cactus, instalados sobre solos rasos, como ocorre em Seridó ( RN ).
O Domínio do Cerrado
O Cerrado é um domínio de grande biodiversidade que pertence ao bioma das Savanas,
com formações vegetais que apresentam dois estratos: um arbustivo e outro herbáceo.
Essa paisagem
integra um relevo de planaltos com chapadões sedimentares, a vegetação savânica, o
clima Tropical
Semi-úmido, solos arenosos e ácidos, sujeitos ao problema da laterização.
O clima do Cerrado apresenta médias térmicas elevadas (entre 20º C e 28º C ), chuvas
concentradas no verão, em decorrência da atuação da massa de ar Equatorial
Continental, e do
inverno seco.
Quanto à hidrografia, é importante salientar que a região corresponde ao principal
divisor
de águas do país, onde localizam-se as nascentes de importantes bacias hidrográficas,
como a do
Araguaia-Tocantins, a do São Francisco e a do Paraná.
A origem dos solos está associada a sedimentos antigos, que vem se transformando há
milhares de anos. Observa-se a pobreza em cálcio e nutrientes minerais, apesar das altas
concentrações de alumínio e ferro, que contribuem para a formação de carapaças
ferruginosas
denominadas lateritas.
O Cerrado Arbóreo é formado por árvores tortuosas e espaçadas, com tronco de cortiça
espessa, folhas grossas e ásperas e aspecto xeromórfico; as raízes são longas, com até 15
m, e
capazes de buscar a água no lençol freático em profundidade, no período seco.
Essa formação vegetal é sujeita às queimadas naturais que, quando ocorrem em
pequenas extensões, compõem a sua dinâmica, evitando que as gramíneas dominem a
biodiversidade
e tornem as terras impróprias para a fauna local; o fogo promove o rebrotamento de
várias espécies e
cria hábitat adequado para a Ema e o Veado Campeiro.
Como essa região tem sido ocupada, desde os anos 70, pelas monoculturas comerciais
mecanizadas, tem ocorrido o desmatamento e a utilização da queimada como forma de
manejo
agrícola. Isso leva à perda da biodiversidade, prejudica a fauna local de mamíferos e
destrói as
matas-galeria, que protegem a rede de drenagem, junto aos rios.
Domínio das Araucárias
Esse domínio está localizado nos Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná, onde se
observa uma estrutura geológica que alterna camadas de arenito e basalto, que contribui
para a
ocorrência dos solos de terra-roxa, de elevada fertilidade natural devido à constituição
argilosa e ao
alto teor de ferro presente em sua constituição.
A Floresta de Araucárias está associada com a ocorrência do clima Subtropical de
temperaturas moderadas, com chuvas bem distribuídas no decorrer do ano e elevadas
amplitudes
térmicas, sofrendo a influência da massa Polar Atlântica.
Essa floresta adapta-se ao clima úmido, com precipitações superiores à 1200 mm por
ano, e à altitudes mais elevadas; no Sul do país sempre ocorre acima de 600 m e na
Serra da
Mantiqueira, localizada no Brasil tropical, só aparece nas áreas acima de 1200m.
3A floresta subtropical brasileira é aciculifoliada e homogênea com o predomínio do
pinheiro da Araucária Angustifólia e do Podocarpus, associados com algumas outras
espécies, como é
o caso da Erva-mate e da Canela. Esse é o hábitat da Gralha Azul, a principal ave
responsável pela
dispersão das espécies vegetais.
A Mata de Araucárias também já sofreu uma grande devastação e dela restam apenas
alguns pequenos núcleos de floresta original. O seu desaparecimento deve-se à extração
de madeiras e
também esteve relacionado coma expansão da agricultura, só que, nesse caso foi a
pequena produção
comercial desenvolvida pelas famílias dos descendentes de imigrantes que ocuparam o
sul do país.
O Domínio das Pradarias
O domínio morfoclimático das Coxilhas com Pradarias Mistas está localizado no
extremo
sul do país, na região conhecida como Campanha Gaúcha. Essa paisagem integra o
relevo de coxilhas,
com colinas baixas e amplas, um clima Subtropical mais seco do que o da região da
Mata de
Araucárias e solos férteis, contendo elevados teores de nutrientes minerais e orgânicos.
Os campos do sul estão correspondem à formações herbáceas com extensos banhados
ao
redor de lagunas e na região costeira ou apresentam-se como extensas formações de
gramíneas,
entremeadas por matas de Araucária, no interior da região.
Dos campos originais, restam apenas 2% na atualidade. Seu desaparecimento esteve
relacionado com a prática da pecuária extensiva de corte e com expansão da agricultura
comercial,
principalmente os cultivos de trigo e da soja.
Exercícios
01. (FGV – SP) De acordo com o geógrafo Aziz N. Ab’Sáber, o território brasileiro é
constituído por seis
domínios morfoclimáticos e fitogeográficos, além de faixas de transição. A esse respeito
é correto
afirmar que o domínio:
a. dos mares de morros tropicais englobam mais cerrados do que áreas florestadas.
b. das caatingas é predominantemente de clima semi-árido com depressões
interplanálticas.
c. dos planaltos de araucárias e as pradarias mistas caracterizam a paisagem do sudeste
brasileiro.
d. dos cerrados ocupa regiões topográficas e hidrológicas similares ao domínio da
caatinga.
e. das terras baixas amazônicas, com floresta equatorial, circunscreve-se apenas ao
território brasileiro.
02. (VUNESP) Trata-se de uma área de topografia com baixas altitudes, que sofre
inundações por ocasião
das cheias do rio principal e seus afluentes. A vegetação é variada, apresentando
espécies da Floresta
Amazônica, da Caatinga, dos Campos, das Palmáceas e do Cerrado. É a cobertura
vegetal mais
heterogênea do Brasil, cobrindo ampla planície e estendendo-se também para a Bolívia.
O texto refere-se ao
a. Pantanal.
b. Chaco.
c. Pampa.
d. Agreste.
e. Mangue.
403. (Mackenzie – SP) As áreas mais atingidas pelo processo de degradação de
paisagens, em conseqüência
do desmatamento excessivo que intensificou os processos erosivos, pertencem aos
estados de São
Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, e foram ocupadas pelo
desenvolvimento agrícola.
O texto faz referência ao domínio morfoclimático:
a. das Coxilhas Subtropicais com Pradarias.
b. dos Mares de Morros Florestados.
c. dos Chapadões com Florestas-galerias.
d. dos Planaltos Subtropicais com Araucárias.
e. das Terras Baixas com Florestas Equatoriais.
04. (UFRS) Observe os perfis e solo 1, 2 e 3, característicos de três dos domínios
morfológicos existentes
no Brasil.
Eles, são, respectivamente, representações esquemáticas de solos dos domínios
morfológicos
a. amazônico, da caatinga e dos mares de morro.
b. amazônico, dos mares de morro e do cerrado.
c. da caatinga, do cerrado e do amazônico.
d. do cerrado, da caatinga e do amazônico.
e. do cerrado, do amazônico e da caatinga.
05. (UNIFOR – CE) Entre as regiões brasileiras, a Amazônia é a de maior extensão
territorial e onde as
condições ambientais estão melhor conservadas. Das alternativas abaixo, marque a que
corretamente
caracteriza os aspectos geográficos dessa região:
a. as terras baixas ocupam a maioria de sua extensão, estando as de maior altitude
situadas ao norte
da região no planalto das Guianas;
b. os rios são perenes e torrentosos ou caudalosos e intermitentes;
c. os solos são em geral muito férteis e apropriados para a agricultura convencional;
d. a biodiversidade é caracterizada por um pequeno número de espécies, representadas
por grande
quantidade de indivíduos;
e. a pecuária e o extrativismo vegetal vêm-se desenvolvendo de forma integrada.
5Gabarito
01. Alternativa b.
O Domínio da Caatinga localiza-se no interior do Nordeste, nas depressões Sertaneja e
do
São Francisco. Sua paisagem relaciona o relevo de depressão interplanáltica, o clima
Semi-árido, a
formação vegetal xerófita da Caatinga e o predomínio de rios temporários com a
presença de solos
rasos, férteis e sujeitos à salinização. Consulte as características dos outros domínios,
apresentadas no
resumo teórico, para identificar os erros presentes nas outras alternativas.
02. Alternativa a.
O texto remete à paisagem do Pantanal Matogrossense que, no contexto dos domínios
morfoclimáticos de Ab’Sáber, está localizada numa das faixas de transição. O Pantanal
apresenta uma
formação vegetal complexa, é submetido ao clima Tropical Semi-úmido e está
localizado numa
planície sedimentar quaternária de baixas altitudes, sujeita à inundações decorrentes das
chuvas de
verão.
03. Alternativa b.
Como você pode observar a seguir, a degradação ambiental e a retirada da vegetação
original são destacadas em 4 importantes formações vegetais brasileiras:
Floresta Amazônica......................................... 9%
Cerrado .......................................................... 47%
Mata Atlântica ............................................... 90%
Caatinga ........................................................ 97%
Mata de Araucárias ....................................... 96%
Pradarias........................................................ 98%
Mesmo assim, o exercício remete ao domínio dos Mares de Morros, recobertos pela
Mata Atlântica, nos estados do Sudeste brasileiro. Nessa região, a expansão da
agricultura comercial –
principalmente a cafeicultura – foi a principal responsável pela retirada da floresta, o
que deu origem a
um intenso processo erosivo. O desmatamento em área de relevo íngreme e sujeita ao
clima Tropical
Litorâneo Úmido deixou os solos desprotegidos, onde a erosão superficial e os
escorregamentos de
terra são freqüentes.
604. Alternativa d.
Observe no quadro abaixo as principais características e problemas observados nos
solos
do Cerrado, da Amazônia e da Caatinga.
Domínio Características do Solo Problemas do Solo
Cerrado Solos ácidos, arenosos, com
baixos teores de matéria
orgânica e baixos teores de
nutrientes minerais
Laterização
Caatinga Solos rasos, com elevados teores
de nutrientes minerais e baixos
teores de nutrientes orgânicos
Salinização
Amazônico Solos arenosos, ácidos, com
baixos teores de nutrientes
minerais e elevados teores de
nutrientes orgânicos, devido ao
espesso mento de decomposição
que os recobre
Lixiviação e laterização
05. Alternativa a.
A paisagem do domínio Amazônico integra o relevo de terras baixas, o clima Equatorial
superúmido, a Floresta Latifoliada Equatorial de grande biodiversidade, os rios de
grande porte e os
solos ácidos e arenosos. Nessa região, as maiores altitudes são observadas no Planalto
das Guianas,
onde encontra-se um importante conjunto de serras e o Pico da Neblina, o ponto
culminante do
Brasil.

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