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REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

ATIVIDADE COMPLEMENTAR - 3º semestre - 2008

Emmerich Ruysam Ra. 4023820 turma DR2A13


Sumário do trabalho

I. Maioridade penal
II. Menoridade penal
III. Proteção estatal
IV. A polêmica
SINOPSE: Trata-se este trabalho acerca da redução da maioridade penal, no Brasil
a criminalidade juvenil suscita a discussão sobre a redução da maioridade penal, que
por sinal já vem, se arrastando desde a década passada. Essa redução se baseia
nas idéias radicais que sustentam uma diminuição considerável da criminalidade,
pois grande parte dela é praticada por jovens menores e inimputáveis perante a
justiça. Contudo, nem toda a sociedade é favorável a tal mudança, pois existem as
correntes ideologicamente pacificadoras, que estabelecendo seu pilar na
impossibilidade dessa redução surtir efeito, afirma que esse problema trata-se de um
problema social, que carece de uma aplicação de projetos de ajuda social como
educação, abertura de empregos para jovens, dentre outros. Existe atualmente uma
proteção estatal indistinta para o menor, o que proporciona indiretamente uma certa
invulnerabilidade jurídica, facilitando a pratica de atitude ilícita por parte desses. A
polemica se sustenta justamente nesse paradigma, questionando até que faixa etária
a inimputabilidade deve ser aplicada, justamente com o amparo do Estatuto da
Criança e do Adolescente, levando em conta ainda superlotação dos presídios
nacionais.
1 INTRODUÇÃO

A violência está em ascensão perante a sociedade contemporânea, que


constrangida se escondem entre as paredes de sua residência rodeada por câmeras
de segurança, cercas elétricas e outros utensílios que apenas passam a falsa
sensação de segurança. Com a violência em alta surgem várias teses desesperadas
com a intenção de solucionar essa problemática, que a cada dia passando a
restringir cada vez mais a liberdade dos cidadãos. Dentre essas várias hipóteses de
solução se encontram temas polêmicos como a prisão perpétua, pena de morte e a
redução da maioridade penal. A maioridade penal trata-se de um assunto atual e
polêmico e não pacífico no meio jurídico, sendo fator gerador de inúmeras
divergências entre juristas.

Temas como a capacidade de entendimento de atitudes ilícitas por parte dos


jovens será alvo de estudo. Não deixando de lado a avaliação do problema social
que o país vem atravessando no tocante a utilização da inimputabilidade de nossos
adolescentes de má-fé, inimputabilidade esta que também será discutida em suas
minudências. Far-se-á necessária não uma redução da maioridade, uma vez que isto
poderia acarretar problemas irreparáveis além de não reduzir a criminalidade, mas
sim que se implante um meio alternativo de punição para esses jovens infratores,
pois a situação é alarmante e a sociedade não está mais suportando essa situação
de pressão.

2. MAIORIDADE PENAL

É considerado penalmente imputável aquele cidadão que completou dezoito


anos de idade, não sendo analisada a hora de seu nascimento. Assim é cabível a
afirmação de que o jovem após completo os dezoito anos, se transfere à condição
de inimputável (incapaz de ser responsabilizado pelo ato ilícito que comete, são
inimputáveis os menores de 18 anos) para imputável (aquele que possui a
capacidade de responder pelos atos que cometeu), sendo apreciado até mesmo o
dia de seu aniversário. Segundo a legislação nacional a maioridade da pessoa só é
reconhecida se for apresentado algum documento que comprove que o infrator já
atingiu a maioridade, para assim ser imputável. De acordo com a súmula 26 do
Tribunal Superior do Trabalho “para os efeitos penais, o reconhecimento da
menoridade do réu requer prova em documento hábil”.1

2.1 Lado radical

A corrente ideológica que preconiza a mudança da idade inimputável de


dezoito para dezesseis anos se fundamenta em vários argumentos, apoiados na
insegurança que a sociedade vive atualmente, pois nos dias atuais a coletividade
está passando por dificuldades no que tange a violência apresentada por nossos
adolescentes que antes eram contidos pelo preceito de moral, que hoje se pode
dizer estar extinto em meio a esses infratores. De acordo com a legislação
atualmente em vigor no Brasil são inimputáveis todas as pessoas menores de
dezoito anos, pois alegam os defensores dessa tese, que esta imposição se trata de
uma garantia ao adolescente. Mas é de suscitar a hipótese de um proveito de má-fé
por parte dos jovens para com esta proteção. Essas pessoas se apóiam na hipótese
de um jovem com dezesseis anos de idade já possuir uma completa consciência da
ilicitude de seus atos, o que não é negado nem mesmo pelas pessoas que são
contrárias à diminuição da idade.

Além dessa teoria ainda existe a hipótese da criação de penas diminuídas


para esses infratores, pois é de se reconhecer que a situação encontra-se
desesperadora e se continuada, pode acabar em uma total anarquia social. Essa
teoria é aprovada inclusive pelos doutrinadores que são contra tal mudança.

Admitimos, de lege ferenda , a possibilidade de uma terceira via: nem a


responsabilidade de nosso Código Penal, nem as medidas terapêuticas do estatuto
da criança e do adolescente, mas uma responsabilidade penal diminuída, com
conseqüências diferenciadas, para que os infratores jovens com idade entre
dezesseis e vinte e um anos, cujas sanções devam ser cumprida em outras espécies
de estabelecimentos, exclusiva para menores, com tratamento adequado, enfim, um
tratamento diferenciado.2

1 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de direito penal. São Paulo: Atlas, 2004. p. 217.

2 BITENCOURT, César Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva,
2003. p. 309.
Como foi firmada pelo autor a idéia apresentada pelos radicais não é
completamente infundada sendo reconhecida até mesmo pela doutrina penal, pois é
inegável a necessidade de que se tome alguma atitude.

3 MENORIDADE PENAL

Os menores de dezoito anos são considerados inimputáveis por disposição


expressa do art. 27 do Código Penal: “Os menores de dezoito anos são penalmente
inimputáveis, ficando sujeito as normas estabelecidas na legislação especial”. A
legislação penal brasileira adota a teoria biológica, ou seja, leva-se em consideração
apenas à idade do infrator na época do crime, sem considerar o desenvolvimento
psicológico do transgressor, o que descaracteriza a punição do indivíduo mesmo se
este tivesse total capacidade de entendimento da conduta que cometera. Essa
presunção que se tem de inimputabilidade faz com que o jovem menor de dezoito
anos seja considerado inimputável no que toca a política criminal.3

A inimputabilidade, por presunção legal, inicia-se aos dezoito anos. Para


definir “maioridade penal” a legislação brasileira seguiu o sistema biológico,
ignorando o desenvolvimento do menor de dezoito anos, considerando-o inimputável,
independentemente de possuir a plena capacidade de entender a ilicitude do fato ou
de determinar-se segundo esse entendimento.4

É notório e expresso o protecionismo do estado para com os menores, já que


estes até atingirem a maioridade estão sobre restrita responsabilidade de seus pais
ou responsáveis.

3 MIRABETE, 2004. p. 216.

4 BITENCOURT, 2003. p. 308.


3.1 Lado pacificador

Assim como existe uma corrente ideológica que apóia a queda de limite da
inimputabilidade penal, existe outrora a corrente ideológica pacifista, que repulsa tal
mudança, afirmando que de nada adiantará tal ato inconstitucional, alegando que
dezoito anos é uma idade razoável para a tolerância da inimputabilidade, pois é
recomendada pelo Seminário Europeu de Assistência Social das Nações Unidas.5

Essa corrente favorável à permanência da menoridade penal em dezoito anos


buscam sustentáculo na superlotação dos presídios, fatores biológicos como o
desenvolvimento mental incompleto, além da possibilidade de uma influencia na
convivência com bandidos de alta periculosidade e conseqüentemente uma
impossível ressocialização desses menores infratores.

Ninguém pode negar que o jovem de 16 e 17 anos, de qualquer meio social,


tem amplo conhecimento do mundo e condições de discernimento sobre a ilicitude de
seus atos. Entretanto, a redução do limite da idade no direito penal comum
representaria um retrocesso na política penal e penitenciaria brasileira criando a
promiscuidade nos jovens com delinqüentes contumazes.6

Foram estas razões de política criminal que levaram o legislador brasileiro a


fazer esta opção pela inimputabilidade absoluta do jovem menor de 18 anos, pois
como foi relatado na exposição de motivos apresentada pelo legislador
expressamente no código de 1940, justificando sua atitude afirmando que os que
preconizavam a redução do limite, sob a justificativa da criminalidade crescente, que
cada dia recruta maior número de jovens, não consideram a circunstancia de que o
menor, se ainda incompleto, é naturalmente anti-social na medida que não é
socializado ou instruído. O reajustamento do processo de formação do caráter deve
ser cometido a educação e não a pena criminal.7

5 NORONHA, E. Magalhães. Direito penal. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 45.

6 MIRABETE, 2004. p. 217.


4 PROTEÇÃO ESTATAL

As crianças e adolescentes são possuidores de proteção e cuidados


especiais, uma vez que são dependentes dos adultos. Pode-se afirmar que as
criação e adolescentes possuem os mesmos direitos e liberdades que os adultos,
mas existem grupos de regras que privilegiam os menores por serem mais
vulneráveis. “os infratores menores de idade depois de autuados são possuidores
dos mesmos direitos que os adultos, contudo, existem varias disposições que lhe
dão a proteção adicional, pois se leva em conta a vulnerabilidade”.8

Como proteção às crianças e adolescentes, existe um sistema de deslocamento da


justiça penal para os serviços de apoio como o conselho tutelar, exceto nos casos
muito graves. No caso de prisão em flagrante se faz necessário a separação do
menor de idade, sendo que este não pode ser mantido de forma alguma em mesa
cela que os bandidos contumazes, mesmo que o processo já tenha transitado em
julgado. A prisão que foi referida só pode ser efetuada em último caso, uma vez que
se deve dar preferência a aplicação de penas extracustodiais para esses jovens. “as
crianças capturadas, detidas ou presas por motivos relacionados ao conflito armado,
devem ser mantidas separadas dos adultos, exceto nos casos onde as famílias são
mantidas juntas”.9

5 A POLÊMICA

7 BITENCOURT, 2003. p. 308.

8 ROVER, Cees de. Manual de direitos humanos. Belo Horizonte: Policia militar de Minas Gerais, 2002. p.
203-2031.

9 Op. Cit. P. 40.


A polêmica não é nova, pois se arrasta desde o Código Penal de 1940. A idéia
de que jovens menores de 18 anos devem responder criminalmente igual aos
maiores é vista por muitos como uma solução, senão pelo menos uma melhoria,
para esse dilema maléfico da violência, que atualmente se encontram presente no
cotidiano da sociedade. Os radicais defensores da queda alegam que os menores
são utilizados como frontispício para que esses infratores como traficantes atuem no
mercado negro com maior segurança, pois os menores são considerados
inimputáveis perante a lei.10

Em vários países a redução da maioridade penal surtiu efeitos como no caso


da Inglaterra, onde os menores são punidos criminalmente desde os 11 anos de
idade. Contudo, existem países em que a redução da maioridade acarretou
conseqüências graves, como no caso da Espanha em que a maioridade penal foi
aumentada por conta de sua ineficácia perante os jovens.11

Convém lembrar, para reflexão, que o Código Penal da Espanha, que entrou
em vigor em maio de 1996, constitui-se portanto, no Código Penal europeu mais
moderno, elevou a idade do menor, para atribuir-lhe responsabilidade penal, de
dezesseis para dezenove anos. (art. 19).12

6 CONCLUSÃO

Se efetivada a tese da redução da maioridade penal, esta evidentemente não


pode ser genérica, abrangendo a todos os menores. Isto implicaria em uma análise e
seleção dos menores de 16 a 18 anos de idade, que seriam submetidos a uma
banca examinadora, assim como acontece com os deficientes mentais, sejam eles
incompletos ou retardados. Essa banca examinadora assim como o corpo de jurados
seria quem iria afirmar se o jovem é ou não capaz de saber a gravidade da ilicitude
do ato que cometeu, e se fosse, responderia como se fosse adulto, caso contrario,
seria submetido às medidas do Estatuto da Criança e do Adolescente. Essa banca

10 BITENCOURT, 2003. p. 309.

11 MIRABETE, 2004. p. 218.

12 BITENCOURT, 2003. p. 309.


examinadora seria composta por psicólogos, antropólogos e demais pessoas
especializadas, para lidar com essas situações. O grande problema é que a
implantação de tal medida geraria custos, pois necessitaria da contratação de
especialistas, além da construção de novos presídios e a alteração da política
carcerária nacional. Considerando que as penitenciarias brasileiras se encontram em
tal forma de precariedade, a possibilidade de adotar tal medida se encontra pelo
menos momentaneamente inacessível a realidade nacional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Código penal. Obra coletiva, colaboração de Antonio Luis de Toledo Pinto,
Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 48 ed. São Paulo: Saraiva
2005.

BRASIL. Constituição (1998). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado, 2005.

BITENCOURT, César Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. São Paulo:
Saraiva, 2003.

MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de direito penal. São Paulo: Atlas, 2004.

NORONHA, E. Magalhães. Direito penal. São Paulo: Saraiva, 1998.

ROVER, Cees de. Manual de direitos humanos. Belo Horizonte: Policia militar de
Minas Gerais, 2002.

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