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26. Em 2009, passou a vigorar o acordo ortográfico, visando à integração linguística de todos
os países de língua portuguesa. A respeito dessas mudanças, o professor José Luiz Fiorin
publicou na Folha de São Paulo o texto “Acordo tem valor simbólico e alcance político”,
do qual transcrevemos a seguinte posição:
I. “A língua é um bem coletivo, e a interação social, sua principal razão de ser. O que
cada pessoa sente, sabe, imagina, quer, sonha é uma experiência individual, subjetiva e
única. Por mais que seja um bem coletivo, porém, a língua que falamos não repassa tal
experiência na sua integridade e complexidade.” Essa é a orientação presente na
Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, de J. C. de Azeredo.
II. Para Benveniste, na obra Problemas de Linguística Geral , “acima das classes, acima
dos grupos e das atividades particularizadas, reina um poder coesivo que faz uma
comunidade de um agregado de indivíduos e que cria a própria possibilidade da
produção e da subsistência coletiva. Este poder é a língua e apenas a língua.”
III. J. C. de Azeredo, na Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, declara que: “Sua
condição de modelo de uso faz da língua padrão uma referência idealmente homogênea,
uma espécie de repertório que inclui usos de um espectro de tempo amplo e fatos que
frequentemente conflitam com tendências da língua falada usual [...]. A língua padrão
deve este perfil conservador a um poderoso aliado: a codificação escrita.”
IV. Em sua discussão sobre o que vem a ser língua, K. Rajagopalan, no livro Por uma
Linguística Crítica, assim se posiciona: “Ora, o fato é que o conceito de ‘língua’ que
os estudiosos adotaram a priori, ou seja, antes mesmo de qualquer verificação
empírica, não admite qualquer possibilidade de que as línguas encontradas no mundo
real – sobretudo nos dias de hoje, quando os contatos entre os povos estão se
processando na velocidade da luz e em volumes inimagináveis algumas décadas atrás
– possam evidenciar instabilidades, não passageiras, mas estruturais e constitutivas.”
a) I apenas
b) I e IV
c) II e IV
d) I e II
e) II e III.
29. O documento do Ministério da Educação, citado na questão anterior, é-nos útil também
para tratarmos dos gêneros discursivos do universo empresarial/oficial. Considerando a
perspectiva de funcionalidade desses gêneros, é CORRETO afirmar que
a) não se pode separar a atividade oral da atividade escrita, visto que as comunicações
dentro e fora das instituições públicas ou privadas são construídas com base nos
mesmos elementos estruturais, exigindo-se, no domínio profissional, a mesma
acuidade lexical e sintática.
b) não há nada que justifique a produção de gêneros, quando os agentes envolvidos não
pertencem a uma mesma esfera administrativa, logo não estão interagindo entre si,
ou seja, os gêneros do universo empresarial não se correlacionam com outros do
universo oficial.
c) a relevância de um dado gênero é marcada por sua estaticidade, característica
indispensável a qualquer um desses instrumentos, uma vez que precisam obedecer a
padrões de construção, já conhecidos e aceitos socialmente.
d) os gêneros da esfera empresarial e da esfera oficial obedecem a certas estruturas
composicionais que asseguram sua integralização e funcionalidade, permitindo a
realização de uma atividade sócio-discursiva compreendida e aceita pelos
interlocutores.
e) a grande dificuldade em se construírem os gêneros da esfera administrativa reside na
articulação das estruturas sintáticas, uma vez que estas são desconhecidas do público
em geral.
Nesse mesmo documento – PCN – se diz que “A atenção sobre aquilo que não se mostra e
como se mostra traz informações sobre quem produz e para que produz”. A passagem em
negrito chama a atenção para estudos linguísticos que tratam, entre outros aspectos, da
modalização.
No texto seguinte, podemos encontrar, sublinhados, alguns elementos que configuram esse
fenômeno.
Texto I
conspurcar, manchar” e é construído com a mesma raiz da palavra negro; judiar quer dizer
10 “tratar mal física ou moralmente, atormentar, maltratar” e é formado com o termo judeu.
Mas será que podemos fazer acusação? Machado e Lima Barreto eram descendentes de
negros; Lobato posicionou-se contra o nazifascismo e pode-se dizer que, à maneira de seu
tempo, era anti-racista.
A adoção da linguagem politicamente correta revela a força de grupos sociais que
15 eram discriminados, ridicularizados ou desconsiderados. Mulheres, negros, homossexuais
são alguns exemplos. Pretende-se, com essa linguagem, combater o preconceito, evitando-
se um vocabulário que é fortemente negativo em relação a essas “minorias”. A idéia é
alterar a linguagem, e assim mudar as atitudes discriminatórias.
O falar politicamente correto leva-nos a pensar em uma série de aspectos a respeito
20 do funcionamento da linguagem. Primeiro, como já ensinava Aristóteles na Retórica, aquele
que fala ou escreve cria uma imagem de si mesmo.
Sem dúvida alguma, a presença de certas palavras num determinado texto faz com
que ele seja racista, machista, etc., criando uma imagem de que seu autor é alguém
preconceituoso. Precisa-se saber, entretanto, se o combate ao uso de palavras ou expressões
25 que patenteiam a discriminação é um instrumento eficaz de luta contra ela. [...].
(FIORIN, José Luiz. In: Discutindo Língua Portuguesa. Ano I, nº 2.
Escala Educacional. São Paulo)
30. Observando o funcionamento linguístico dos termos e expressões marcados nesse texto,
é possível afirmar que
a) todos eles têm a mesma função discursiva, ou seja, funcionam para conduzir a várias
possibilidades de interpretação por parte do leitor em relação ao título que apresenta
o texto.
b) nenhum deles consegue expressar o ponto de vista do locutor; sua intenção seria
compreendida sob uma mesma perspectiva, mesmo que essas expressões fossem
eliminadas.
c) os nomes de valor adjetivo destacados podem representar uma forma de avaliação do
locutor em relação aos seres a que estão ligados estruturalmente.
d) nenhuma das expressões selecionadas apresenta caráter de necessidade, ou seja,
nenhum dos modalizadores reproduz essa idéia do ponto de vista do locutor.
e) as ocorrências de modalização presentes no texto expressam a desconfiança do
locutor em relação ao conhecimento de mundo do leitor, forçando-o à utilização
desse recurso.
“Diante desses textos não faltaria quem apontasse o dedo acusador para os três autores,
tachando-os de racistas. [...] A adoção da linguagem politicamente correta revela a força de
grupos sociais que eram discriminados, ridicularizados ou desconsiderados. Mulheres, negros,
homossexuais são alguns exemplos. Pretende-se, com essa linguagem, combater o
preconceito, evitando-se um vocabulário que é fortemente negativo em relação a essas
‘minorias’ [...].”
A partir das marcações acima, pode-se afirmar que um leitor tem condições de identificar os
termos grifados com os antecedentes corretos porque
33. No texto I, encontramos algumas construções com a palavra “se”: pode-se (linha );
pretende-se (linha ); evitando-se (linha ); precisa-se (linha ). Analisando essas
estruturas, marque a alternativa que apresenta uma hipótese adequada para sua aplicação,
relacionando-a à seguinte abordagem dos PCN “Os papéis dos interlocutores, a avaliação
que se faz do ‘outro’ e a expressão dessa avaliação em contextos comunicativos devem ser
pauta dos estudos da língua.”
I. Para A. Kleiman (1992), “[...] a leitura que não surge de uma necessidade para chegar
a um propósito não é propriamente leitura; quando lemos porque outra pessoa nos
manda ler, como acontece frequentemente na escola, estamos apenas exercendo
atividades mecânicas que pouco têm a ver com significado e sentido.” KLEIMAN,
Ângela. Texto e Leitor : aspectos cognitivos da Leitura.Pontes Editores: São Paulo,
1992.
II. “Mediante a leitura estabelece-se uma relação entre leitor e autor que tem sido
definida como de responsabilidade mútua, pois ambos têm a zelar para que os pontos
de contatos sejam mantidos, apesar das divergências possíveis em opiniões e
objetivos.” KLEIMAN, Ângela. Texto e Leitor : aspectos cognitivos da Leitura.Pontes
Editores: São Paulo, 1992.
III. Segundo I. V. Koch, em seu livro Argumentação e Linguagem, “Importante é o
aprendiz notar que cada nova leitura de um texto lhe permitirá desvelar novas
significações, não detectadas nas leituras anteriores. Esse fato poderá, inclusive,
servir-lhe de motivação, despertando-lhe maior gosto pela leitura que, pela
reconstrução que ele próprio faz do texto, acaba por recriá-lo, tornando-se, por assim,
o seu co-autor”.
35. Entre os muitos recursos de que dispõe a língua para se conduzir o discurso a uma direção
pretendida pelo locutor, verificamos que há alguns classificados, gramaticalmente, como
conectores, outros como palavras denotativas expletivas de realce, de inclusão, de
explicação, entre outras. Do ponto de vista linguístico, porém, esses mesmos elementos
podem ser considerados operadores argumentativos. Observe sua ocorrência na passagem
a seguir, retirada do item III da questão anterior: “Esse fato poderá, inclusive, servir-lhe
de motivação[...]”.
36. No texto As Palavras certas para um mundo melhor, Fiorin apresenta passagens de obras
literárias em que tematiza o discurso “politicamente correto”. Considerando a sua
abordagem e o funcionamento da linguagem na Literatura, podemos, em relação à
especificidade da linguagem literária, afirmar:
37. Retomando as obras e os autores mencionados por José Luiz Fiorin, no texto As Palavras
certas para um mundo melhor, pode-se afirmar que
a) Lima Barreto se afasta do retoricismo dos seus contemporâneos e lança mão do fazer
literário livre de regras e padrões pré-estabelecidos como procedimento de combate e
denúncia das dores dos marginalizados e oprimidos.
b) no conto Negrinha, Monteiro Lobato conta que a personagem “era uma pobre órfã de
sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados”.
Na concepção lobateana, a cultura negra se firma, portanto, pelo viés da negação da
cor, que rechaça a representação do povo brasileiro.
c) na passagem “A única filha do carteiro, Clara, fora criada com o recato e os mimos
que, na sua condição, talvez lhe fossem prejudiciais. Puxava a ambos os pais. O
carteiro era pardo-claro, mas com cabelo ruim, como se diz; a mulher, porém, apesar
de mais escura, tinha o cabelo liso. Na tez, a filha tirava ao pai; e no cabelo, à mãe”, o
tom autodepreciativo com que Lima Barreto descreve Clara configura uma
demonstração de seu preconceito acerca da condição social da mulher, pobre e negra,
em nossa sociedade.
d) no trecho “Machado e Lima Barreto eram descendentes de negros; Lobato posicionou-
se contra o nazifascismo e pode-se dizer que, à maneira de seu tempo, era anti-
racista”, a afirmação feita por Fiorin demonstra que, embora os autores incluíssem em
sua produção literária a temática negra, o fazem por uma ótica eurocêntrica do branco.
e) assim como seu predecessor Machado de Assis, Lima Barreto e Monteiro Lobato
privilegiam em suas obras o tipo de perfil cosmopolita europeu na criação dos seus
protagonistas.
38. A formação literária mantém uma estreita relação histórica entre Literatura e escola, vista
desde as origens do ensino no Brasil, através da ação dos jesuítas, iniciada por uma
tendência literária e retórica.
Considere a passagem, a seguir, extraída do conto “Aurora sem dia”, de Machado de Assis, e
responda às questões 39 e 40.
“Naquele tempo contava Luís Tinoco vinte e um anos. Era um rapaz de estatura meã,
olhos vivos, cabelos em desordem, língua inesgotável e paixões impetuosas. Exercia um
modesto emprego no foro, donde tirava o parco sustento, e morava com o padrinho cujos
meios de subsistência consistiam no ordenado da sua aposentadoria. Tinoco estimava o velho
Anastácio e este tinha ao afilhado igual afeição.
Luís Tinoco possuía a convicção de que estava fadado para grandes destinos, e foi esse
durante muito tempo o maior obstáculo da sua existência. No tempo em que o Dr. Lemos o
conheceu, começava arder-lhe a chama poética. Não se sabe como começou aquilo.
Naturalmente os louros alheios entraram a tirar-lhe o sono. O certo é que um dia de manhã
acordou Luís Tinoco escritor e poeta; a inspiração, flor abotoada ainda na véspera, amanheceu
pomposa e viçosa. O rapaz atirou-se ao papel com ardor e perseverança, e entre as seis horas e
as nove, quando o foram chamar para almoçar, tinha produzido um soneto, cujo principal
defeito era ter cinco versos com sílabas de mais e outros cinco com sílabas de menos. Tinoco
levou a produção ao Correio Mercantil, que a publicou entre os a pedido”.
In: Histórias sem data
I. O personagem Luís Tinoco representa a figura do agregado, não raro presente na obra
machadiana, a exemplo de José Dias, em Dom Casmurro.
II. A ironia presente no trecho acima é tratada como exigência estilística do Realismo,
movimento do qual Machado de Assis faz parte.
III. Machado de Assis, à maneira dos românticos, utiliza-se do recurso da descrição
minuciosa para enaltecer a qualidade poética da escrita de Luis Tinoco.
a) defende a ideia de ser o poeta/escritor um ser “iluminado”, dotado de uma aura, como
preconiza Baudelaire, postura fortemente difundida na corrente realista.
b) problematiza o fazer poético em uma época em que os jornais constituíam importante
suporte de circulação literária.
c) propõe o fazer poético como uma atividade de inspiração genuína e espontânea, tão
difundida nos movimentos pós-românticos.
d) aponta para o fato de o Correio Mercantil, ao solicitar a produção escrita de Luis
Tinoco com fins de publicação, reconhecer a qualidade estética da obra, em função do
rigor formal que apresentava.
e) corrobora a ideia de que a inspiração surgida em Luis Tinoco é inerente ao homem,
independente de sua formação.
41. No livro Como e por que ler o romance brasileiro, M. Lajolo afirma que “nascido da
transformação de outras formas literárias, ele [o romance] começou plebeu e democrático.
Trouxe para os livros a vida doméstica cotidiana, amores e problemas com os quais os
leitores podiam se identificar. Nasceu representando a vida de pessoas comuns, parecidas
com a de seus leitores. Por isso ele democratizou e popularizou a leitura e, com ela, a
literatura”.
Considerando esse tipo de narrativa um gênero de larga circulação em nosso país, sobretudo
no universo escolar, pode-se afirmar que
“Hoje sabemos que a integridade da obra não permite adotar nenhuma dessas visões
dissociadas (a formalista e a sociológica); e que só a podemos entender fundindo texto e
contexto numa interpretação dialeticamente íntegra, em que tanto o velho ponto de vista
que explicava pelos fatos externos, quanto o outro, norteado pela convicção de que a
estrutura é independente, se combinam como momentos necessários do processo
interpretativo. Sabemos ainda que o externo, no caso o social, importa, não como causa,
nem como significado, mas como elemento que desempenha um papel na constituição da
estrutura, tornando-se, portanto, interno”.
Considere os textos II e III a seguir, todos eles de Álvares de Azevedo, para responder às
questões 44 e 45.
[...] Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico. [...] O poeta acorda na terra. Demais, o
poeta é homem: Homo sum, como dizia o célebre Romano. Vê, ouve, sente e, o que é mais,
sonha de noite as belas visões palpáveis de acordado. Tem nervos, tem fibra e tem artérias —
isto é, antes e depois de ser um ente idealista, é um ente que tem corpo. E, digam o que
quiserem, sem esses elementos, que sou o primeiro a reconhecer muito prosaicos, não há poesia.
Poetas! amanhã ao meu cadáver Coração, por que tremes? Vejo a morte,
Minha tripa cortai mais sonorosa!... Ali vem lazarenta e desdentada...
Façam dela uma corda e cantem nela Que noiva!... E devo então dormir com ela?
Os amores da vida esperançosa! Se ela ao menos dormisse mascarada! (...)
Cantem esse verão que me alentava... Antes mil vezes que dormir com ela.
O aroma dos currais, o bezerrinho, Que dessa fúria o gozo, amor eterno
As aves que na sombra suspiravam, Se ali não há também amor de velha,
E os sapos que cantavam no caminho! Dêem-me as caldeiras do terceiro inferno!
Coração, por que tremes? Se esta lira No inferno estão suavíssimas belezas,
Nas minhas mãos sem força desafina, Cleópatras, Helenas, Eleonoras;
Enquanto ao cemitério não te levam, Lá se namora em boa companhia,
Casa no marimbau a alma divina!
Não pode haver inferno com Senhoras! (...)
Eu morro qual nas mãos da cozinheira
O marreco piando na agonia...
Como o cisne de outrora... que gemendo
Entre os hinos de amor se enternecia
44. No texto II, Álvares de Azevedo reivindica o trânsito do prosaico na poesia romântica da
época. Essa tendência no seio da obra poética azevediana
Está(ão) CORRETA(S):
a) Apenas I e II.
b) Apenas II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas III.
e) Todas estão corretas.
46. No contexto da fase heroica do Modernismo brasileiro, dois nomes se sobressaem: Mário
de Andrade e Oswald de Andrade. Sobre a atuação de ambos na retomada do Projeto de
construção da identidade nacional, é verdadeiro afirmar que
47. Em 2002, uma comissão de críticos literários de várias partes do mundo escolheu o livro
Dom Quixote de La Mancha, escrito por M. de Cervantes, como a melhor obra de ficção
de todos os tempos. A narrativa conta os feitos do Cavaleiro da Triste Figura e de seu fiel
companheiro Sancho Pança.
a) Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, e Fogo Morto, de José Lins do
Rego.
b) O Sertanejo, de José de Alencar, e As Aventuras de Alexandre, de Graciliano Ramos.
c) Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e Os Sertões, de Euclides da Cunha.
d) São Bernardo, de Graciliano Ramos, e A Normalista, de Adolfo Caminha.
e) Os Ratos, de Dionélio Machado, e A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães.
50. Considere este fragmento de uma crítica de Antonio Candido publicada pouco depois da
estreia literária de Guimarães Rosa:
[...] Sagarana não vale apenas na medida em que nos traz um certo sabor regional, mas na
medida em que constrói um certo sabor regional, isto é, em que transcende a região. A
província do Sr. Guimarães Rosa – no caso Minas – é menos uma região do Brasil do que
uma região da arte, com detalhes e locuções e vocabulário e geografia cosidos de maneira
por vezes quase irreal, tamanha é a concentração com que trabalha o autor. Assim,
veremos, numa conversa, os interlocutores gastarem meia dúzia de provérbios e outras
tantas parábolas como se alguém falasse no mundo desse jeito. Transcendendo o critério
regional por meio de uma condensação do material observado (condensação mais forte do
que qualquer outra em nossa literatura da “terra”), o Sr. Guimarães Rosa como que
iluminou, de repente, todo o caminho feito pelos seus antecessores. [...] construiu um
regionalismo muito mais autêntico e duradouro, porque criou uma experiência total em
que o pitoresco e o exótico são animados pela graça de um movimento interior, em que se
desfazem as relações de sujeito a objeto total de experiência.
(Antonio Candido, Sagarana, Diário de S. Paulo, 11 de julho de 1946)