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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS – CÓDIGO 12


UCs de Língua Portuguesa

26. Em 2009, passou a vigorar o acordo ortográfico, visando à integração linguística de todos
os países de língua portuguesa. A respeito dessas mudanças, o professor José Luiz Fiorin
publicou na Folha de São Paulo o texto “Acordo tem valor simbólico e alcance político”,
do qual transcrevemos a seguinte posição:

“A língua é um fato social intrinsecamente variável: na pronúncia, no vocabulário, na


morfologia e na sintaxe. Varia de uma região para outra (mesmo dentro de um país), de um
grupo social para outro, de uma geração para outra, de uma situação de comunicação para
outra. Não se pode unificar a língua.”

Admitindo-se a ideia de flexibilidade de uso língua, identificada no texto acima, considere as


passagens a seguir.

I. “A língua é um bem coletivo, e a interação social, sua principal razão de ser. O que
cada pessoa sente, sabe, imagina, quer, sonha é uma experiência individual, subjetiva e
única. Por mais que seja um bem coletivo, porém, a língua que falamos não repassa tal
experiência na sua integridade e complexidade.” Essa é a orientação presente na
Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, de J. C. de Azeredo.
II. Para Benveniste, na obra Problemas de Linguística Geral , “acima das classes, acima
dos grupos e das atividades particularizadas, reina um poder coesivo que faz uma
comunidade de um agregado de indivíduos e que cria a própria possibilidade da
produção e da subsistência coletiva. Este poder é a língua e apenas a língua.”
III. J. C. de Azeredo, na Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, declara que: “Sua
condição de modelo de uso faz da língua padrão uma referência idealmente homogênea,
uma espécie de repertório que inclui usos de um espectro de tempo amplo e fatos que
frequentemente conflitam com tendências da língua falada usual [...]. A língua padrão
deve este perfil conservador a um poderoso aliado: a codificação escrita.”
IV. Em sua discussão sobre o que vem a ser língua, K. Rajagopalan, no livro Por uma
Linguística Crítica, assim se posiciona: “Ora, o fato é que o conceito de ‘língua’ que
os estudiosos adotaram a priori, ou seja, antes mesmo de qualquer verificação
empírica, não admite qualquer possibilidade de que as línguas encontradas no mundo
real – sobretudo nos dias de hoje, quando os contatos entre os povos estão se
processando na velocidade da luz e em volumes inimagináveis algumas décadas atrás
– possam evidenciar instabilidades, não passageiras, mas estruturais e constitutivas.”

Não há relação entre o posicionamento de Fiorin e o que se apresenta em

a) I apenas
b) I e IV
c) II e IV
d) I e II
e) II e III.

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27. Em relação à afirmação de Saussure, citado por I. V. Koch, em Desvendando os segredos


do texto: “Bem longe de dizer que o objeto precede o ponto de vista, diríamos que é o
ponto de vista que cria o objeto...”, podemos dizer que o autor:

a) discute a inutilidade de se querer interpretar produções linguísticas sem se levar em


consideração as estruturas fixas da língua.
b) reflete sobre condições de produção textual, revelando que, ao se aceitar um fato
linguístico-discursivo, está-se igualmente percebendo a realização da norma
gramatical vigente.
c) argumenta não sobre a constituição do ponto de vista em si, mas sim do objeto, o que
pode ser algo correspondente à noção de percepção/interpretação.
d) exime-se de qualquer discussão que provoque relação entre “ponto de vista” e “objeto
de referência”.
e) demonstra que existe indiscutível estabilidade nas relações entre palavras e coisas.

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio (PCN), encontramos a seguinte


passagem: “Quanto mais dominamos as possibilidades de uso da língua, mais nos
aproximamos da eficácia comunicativa estabelecida como norma ou a sua transgressão,
denominada estilo. A atenção sobre aquilo que não se mostra e como se mostra traz
informações sobre quem produz e para que produz.”

Com base no excerto, responda às questões 28 e 29 a seguir.

28. Dominar as possibilidades de uso da língua pode ser entendido como:

a) adaptar toda e qualquer forma de interação discursiva a um contexto único de elaboração


de enunciados, ou seja, os usos da língua ficam restritos a universos específicos, sem
possibilidade de expansão para outros domínios da comunicação verbal.
b) uma orientação convergindo para o estudo e reconhecimento dos gêneros
textuais/discursivos como produto de atividades sociais presentes na interação entre os
agentes de interlocuções em constante construção.
c) pré-requisito para a consolidação dos sistemas gramaticais vigentes na língua materna,
privilegiando-se, ao final de sua permanência na escola, a norma padrão culta como
meta a ser atingida pelos usuários da Língua Portuguesa.
d) uma exigência do Ministério da Educação, a partir da leitura de vários documentos da
literatura cuja matéria focalize as dificuldades de interação entre aluno-professor.
e) um recurso oficial para a classe privilegiada economicamente, uma vez que esse tipo
de análise da língua só é possível nas escolas cujo corpo docente detém a informação
mais atualizada em questões de língua e literatura.

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29. O documento do Ministério da Educação, citado na questão anterior, é-nos útil também
para tratarmos dos gêneros discursivos do universo empresarial/oficial. Considerando a
perspectiva de funcionalidade desses gêneros, é CORRETO afirmar que

a) não se pode separar a atividade oral da atividade escrita, visto que as comunicações
dentro e fora das instituições públicas ou privadas são construídas com base nos
mesmos elementos estruturais, exigindo-se, no domínio profissional, a mesma
acuidade lexical e sintática.
b) não há nada que justifique a produção de gêneros, quando os agentes envolvidos não
pertencem a uma mesma esfera administrativa, logo não estão interagindo entre si,
ou seja, os gêneros do universo empresarial não se correlacionam com outros do
universo oficial.
c) a relevância de um dado gênero é marcada por sua estaticidade, característica
indispensável a qualquer um desses instrumentos, uma vez que precisam obedecer a
padrões de construção, já conhecidos e aceitos socialmente.
d) os gêneros da esfera empresarial e da esfera oficial obedecem a certas estruturas
composicionais que asseguram sua integralização e funcionalidade, permitindo a
realização de uma atividade sócio-discursiva compreendida e aceita pelos
interlocutores.
e) a grande dificuldade em se construírem os gêneros da esfera administrativa reside na
articulação das estruturas sintáticas, uma vez que estas são desconhecidas do público
em geral.

Nesse mesmo documento – PCN – se diz que “A atenção sobre aquilo que não se mostra e
como se mostra traz informações sobre quem produz e para que produz”. A passagem em
negrito chama a atenção para estudos linguísticos que tratam, entre outros aspectos, da
modalização.

No texto seguinte, podemos encontrar, sublinhados, alguns elementos que configuram esse
fenômeno.

Texto I

As Palavras certas para um mundo melhor

No conto Negrinha, de Monteiro Lobato, lemos a seguinte passagem: “A excelente


Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças”. No capítulo III, de Clara dos Anjos,
de Lima Barreto, aparece: “Marramaque, poeta raté, tinha uma grande virtude, como tal:
não denegrir os companheiros que subiram nem os que ganharam celebridade”. Em
5 Machado de Assis, no conto Aurora sem dia, lê-se: “Ah! Meu amigo, (...) não imagina
quantos invejosos andam a denegrir meu nome”.
Diante desses textos não faltaria quem apontasse o dedo acusador para os três
autores, tachando-os de racistas. Afinal, denegrir significa “diminuir a pureza, o valor de;

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conspurcar, manchar” e é construído com a mesma raiz da palavra negro; judiar quer dizer
10 “tratar mal física ou moralmente, atormentar, maltratar” e é formado com o termo judeu.
Mas será que podemos fazer acusação? Machado e Lima Barreto eram descendentes de
negros; Lobato posicionou-se contra o nazifascismo e pode-se dizer que, à maneira de seu
tempo, era anti-racista.
A adoção da linguagem politicamente correta revela a força de grupos sociais que
15 eram discriminados, ridicularizados ou desconsiderados. Mulheres, negros, homossexuais
são alguns exemplos. Pretende-se, com essa linguagem, combater o preconceito, evitando-
se um vocabulário que é fortemente negativo em relação a essas “minorias”. A idéia é
alterar a linguagem, e assim mudar as atitudes discriminatórias.
O falar politicamente correto leva-nos a pensar em uma série de aspectos a respeito
20 do funcionamento da linguagem. Primeiro, como já ensinava Aristóteles na Retórica, aquele
que fala ou escreve cria uma imagem de si mesmo.
Sem dúvida alguma, a presença de certas palavras num determinado texto faz com
que ele seja racista, machista, etc., criando uma imagem de que seu autor é alguém
preconceituoso. Precisa-se saber, entretanto, se o combate ao uso de palavras ou expressões
25 que patenteiam a discriminação é um instrumento eficaz de luta contra ela. [...].
(FIORIN, José Luiz. In: Discutindo Língua Portuguesa. Ano I, nº 2.
Escala Educacional. São Paulo)

30. Observando o funcionamento linguístico dos termos e expressões marcados nesse texto,
é possível afirmar que

a) todos eles têm a mesma função discursiva, ou seja, funcionam para conduzir a várias
possibilidades de interpretação por parte do leitor em relação ao título que apresenta
o texto.
b) nenhum deles consegue expressar o ponto de vista do locutor; sua intenção seria
compreendida sob uma mesma perspectiva, mesmo que essas expressões fossem
eliminadas.
c) os nomes de valor adjetivo destacados podem representar uma forma de avaliação do
locutor em relação aos seres a que estão ligados estruturalmente.
d) nenhuma das expressões selecionadas apresenta caráter de necessidade, ou seja,
nenhum dos modalizadores reproduz essa idéia do ponto de vista do locutor.
e) as ocorrências de modalização presentes no texto expressam a desconfiança do
locutor em relação ao conhecimento de mundo do leitor, forçando-o à utilização
desse recurso.

31. Nos gêneros textuais/discursivos em geral, inclusive os formulaicos, há uma grande


possibilidade de se ativarem elementos, conceitos, informações que recuperam ou
referendam algum conhecimento dos interactantes. Em seu livro Texto e Gramática,
Maria H. M. Neves cita Lyons, apresentando-o como “[...] autor de uma das mais
invocadas definições de referência em linguagem, que é a que se fundamenta entre uma
expressão linguística e o que ela significa em ocasiões particulares do discurso”.

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As passagens abaixo tratam do mesmo assunto, porém sob a perspectiva de I. V. Koch, na


obra Desvendando os segredos do texto. Marque a alternativa em que a interferência de
Koch tem estreita relação com o que é apresentado no fragmento transcrito acima.

a) a realidade é construída pela forma como nomeamos o mundo, ou seja, na


representação extensional, sem interferência de referentes exteriores.
b) o processo de referenciação não se vincula a possibilidades sintático-gramaticais de
realização.
c) a autora nega qualquer relação entre o conhecimento de mundo presente entre os
interlocutores e sua interpretação da realidade, considerando, tão somente, os
elementos de referenciação construídos a partir de informações estáticas,
insubstituíveis e fixadas em uma determinada situação discursiva.
d) não é possível estabelecer qualquer vínculo entre coisas/objetos de mundo e palavras
que os representem na produção discursiva.
e) o discurso que construímos, interativamente, é resultado de uma reelaboração de
dados, envolvidos físico, social e culturalmente, com a finalidade de se compreender e
apreender uma dada realidade.

32. Em uma aplicação prática do processo de referenciação, tomemos os fragmentos a seguir,


extraídos do texto I, anteriormente apresentado.

“Diante desses textos não faltaria quem apontasse o dedo acusador para os três autores,
tachando-os de racistas. [...] A adoção da linguagem politicamente correta revela a força de
grupos sociais que eram discriminados, ridicularizados ou desconsiderados. Mulheres, negros,
homossexuais são alguns exemplos. Pretende-se, com essa linguagem, combater o
preconceito, evitando-se um vocabulário que é fortemente negativo em relação a essas
‘minorias’ [...].”

A partir das marcações acima, pode-se afirmar que um leitor tem condições de identificar os
termos grifados com os antecedentes corretos porque

a) qualquer bom usuário da língua os reconheceria, tendo em vista sua recategorização


argumentativa, cuja função é avaliar positiva ou negativamente a relação entre as
formas nominais e a própria argumentação.
b) os pronomes marcados no texto asseguram ao leitor a retomada de ideias ou
informações já apresentadas anteriormente.
c) todas as informações negritadas podem ser observadas do ponto de vista de
conhecimento de mundo, mas não numa perspectiva linguística.
d) a técnica de referenciação segue uma estrutura formal utilizada com frequência pelos
usuários da língua, comprovando a estaticidade do discurso como algo inerente à
língua e às condições sociais de produção.
e) uma vez demonstrada a competência do leitor em atividades de leitura com base em
referenciações de qualquer tipo, torna-se inconteste sua competência como potencial
produtor de textos.

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33. No texto I, encontramos algumas construções com a palavra “se”: pode-se (linha );
pretende-se (linha ); evitando-se (linha ); precisa-se (linha ). Analisando essas
estruturas, marque a alternativa que apresenta uma hipótese adequada para sua aplicação,
relacionando-a à seguinte abordagem dos PCN “Os papéis dos interlocutores, a avaliação
que se faz do ‘outro’ e a expressão dessa avaliação em contextos comunicativos devem ser
pauta dos estudos da língua.”

a) O recurso da pronominalização funciona como uma intensificação da responsabilidade


do locutor em relação ao dito, em todas as ocorrências do texto.
b) As construções de voz passiva, como acontece em todos os casos apresentados,
neutralizam qualquer referência ao responsável pelo enunciado.
c) A intenção discursiva presente em formas verbais, entre elas a que se apresenta no
texto em questão, chama a atenção para a obrigatoriedade do falante em permitir que o
outro se manifeste, mesmo de forma indireta, o que se pode comprovar pela presença
do pronome se.
d) Trata-se de uma preferência sintática, o que pode ser justificado com base em M. H.
M. Neves em A Gramática Funcional: “A investigação da ‘estrutura argumental
preferida’, na verdade, diz respeito à verificação da preferência do falante por um ou
outro tipo oracional, considerada não apenas a dimensão gramatical como também a
pragmática, isso porque essa preferência, embora se refira a uma estrutura sintática,
tem determinação discursiva”.
e) Um estudo sobre a “não-intenção” seria válido, pois os verbos em destaque não
denunciam qualquer intenção marcada nos enunciados selecionados, o que se prova
pela aplicação do pronome destacado.

Leia as passagens a seguir.

I. Para A. Kleiman (1992), “[...] a leitura que não surge de uma necessidade para chegar
a um propósito não é propriamente leitura; quando lemos porque outra pessoa nos
manda ler, como acontece frequentemente na escola, estamos apenas exercendo
atividades mecânicas que pouco têm a ver com significado e sentido.” KLEIMAN,
Ângela. Texto e Leitor : aspectos cognitivos da Leitura.Pontes Editores: São Paulo,
1992.
II. “Mediante a leitura estabelece-se uma relação entre leitor e autor que tem sido
definida como de responsabilidade mútua, pois ambos têm a zelar para que os pontos
de contatos sejam mantidos, apesar das divergências possíveis em opiniões e
objetivos.” KLEIMAN, Ângela. Texto e Leitor : aspectos cognitivos da Leitura.Pontes
Editores: São Paulo, 1992.
III. Segundo I. V. Koch, em seu livro Argumentação e Linguagem, “Importante é o
aprendiz notar que cada nova leitura de um texto lhe permitirá desvelar novas
significações, não detectadas nas leituras anteriores. Esse fato poderá, inclusive,
servir-lhe de motivação, despertando-lhe maior gosto pela leitura que, pela
reconstrução que ele próprio faz do texto, acaba por recriá-lo, tornando-se, por assim,
o seu co-autor”.

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34. Esses fragmentos nos permitem inferir que

a) a leitura depende de um conhecimento gramatical que viabiliza novas interpretações a


partir do acréscimo lexical.
b) o pensamento da autora dos fragmentos I e II é discordante do que se lê no fragmento III.
c) do ponto de vista linguístico, as atividades de leitura favorecem um estreitamento das
relações, expressas ou não, entre texto/autor/leitor.
d) os fragmentos I e III estão intimamente envolvidos porque tratam, entre outros
aspectos, da significação, mas não do sentido.
e) Ainda que se critique a leitura como um exercício sem uma finalidade aparente, esta
surgirá, em algum momento; logo não há leitura mecanizada.

35. Entre os muitos recursos de que dispõe a língua para se conduzir o discurso a uma direção
pretendida pelo locutor, verificamos que há alguns classificados, gramaticalmente, como
conectores, outros como palavras denotativas expletivas de realce, de inclusão, de
explicação, entre outras. Do ponto de vista linguístico, porém, esses mesmos elementos
podem ser considerados operadores argumentativos. Observe sua ocorrência na passagem
a seguir, retirada do item III da questão anterior: “Esse fato poderá, inclusive, servir-lhe
de motivação[...]”.

Sobre o operador marcado acima, é CORRETO afirmar que

a) introduz uma ideia de hierarquia, ou seja, parte-se de um argumento fortalecido por


seu uso para uma determinada conclusão.
b) apresenta a inclusão de mais de um argumento ao enunciado, numa escala que oscila
entre argumentos fortes e fracos.
c) poderia ser substituído por um outro de valor equivalente como “intencionalmente”.
d) promove o encadeamento de argumentos se combinado com um outro, a exemplo de
“aliás”.
e) seguindo a ideia de hierarquização, é utilizado para identificar oposição entre os
elementos semânticos dispersos no texto.

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36. No texto As Palavras certas para um mundo melhor, Fiorin apresenta passagens de obras
literárias em que tematiza o discurso “politicamente correto”. Considerando a sua
abordagem e o funcionamento da linguagem na Literatura, podemos, em relação à
especificidade da linguagem literária, afirmar:

a) a pouca ornamentação vocabular utilizada por autores na Literatura Brasileira


representa fielmente o vocabulário das “minorias” do povo brasileiro, mimetizando a
linguagem do dia-a-dia.
b) constitui uma marca linguística reveladora do preconceito dos autores, justificado pela
“licença poética” modernista, necessária à tentativa de representar o mundo moderno.
c) os termos considerados preconceituosos manifestam uma proposta de escrita próxima
à linguagem coloquial em recusa, vista em todos os estilos literários brasileiros, às
formas poéticas convencionais.
d) a consagração de uma obra literária dá-se, puramente, pelo prestígio da elegância
vocabular, ao considerar suas características formais de elaboração, desprezando
quaisquer outros aspectos que garantam sua validade universal e duradoura.
e) os critérios linguísticos utilizados na Literatura são norteados menos pela correção
formal do que pela liberdade poética, permitindo o manejo especial de uso da
linguagem, para imprimir mais significação ao texto, independentemente de época.

37. Retomando as obras e os autores mencionados por José Luiz Fiorin, no texto As Palavras
certas para um mundo melhor, pode-se afirmar que

a) Lima Barreto se afasta do retoricismo dos seus contemporâneos e lança mão do fazer
literário livre de regras e padrões pré-estabelecidos como procedimento de combate e
denúncia das dores dos marginalizados e oprimidos.
b) no conto Negrinha, Monteiro Lobato conta que a personagem “era uma pobre órfã de
sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados”.
Na concepção lobateana, a cultura negra se firma, portanto, pelo viés da negação da
cor, que rechaça a representação do povo brasileiro.
c) na passagem “A única filha do carteiro, Clara, fora criada com o recato e os mimos
que, na sua condição, talvez lhe fossem prejudiciais. Puxava a ambos os pais. O
carteiro era pardo-claro, mas com cabelo ruim, como se diz; a mulher, porém, apesar
de mais escura, tinha o cabelo liso. Na tez, a filha tirava ao pai; e no cabelo, à mãe”, o
tom autodepreciativo com que Lima Barreto descreve Clara configura uma
demonstração de seu preconceito acerca da condição social da mulher, pobre e negra,
em nossa sociedade.
d) no trecho “Machado e Lima Barreto eram descendentes de negros; Lobato posicionou-
se contra o nazifascismo e pode-se dizer que, à maneira de seu tempo, era anti-
racista”, a afirmação feita por Fiorin demonstra que, embora os autores incluíssem em
sua produção literária a temática negra, o fazem por uma ótica eurocêntrica do branco.
e) assim como seu predecessor Machado de Assis, Lima Barreto e Monteiro Lobato
privilegiam em suas obras o tipo de perfil cosmopolita europeu na criação dos seus
protagonistas.

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38. A formação literária mantém uma estreita relação histórica entre Literatura e escola, vista
desde as origens do ensino no Brasil, através da ação dos jesuítas, iniciada por uma
tendência literária e retórica.

Entre as proposições a seguir, marque a(s) que ratifica(m) esta afirmação:

I. Em O Método pedagógico dos jesuítas, na Regra 50: Do Professor de Retórica,


encontramos: “Finalmente, com a ajuda da graça divina, sejais em tudo diligentes, pontuais,
desejosos do progresso dos estudantes nas aulas como noutros exercícios literários”.
II. Em Constituições da Companhia de Jesus – Matérias que hão de ensinar nas
universidades da Companhia –, temos que “por literatura deve-se entender-se a
gramática e o que diz à retórica, poesia e história”.
III. Em Literatura infantil brasileira: História & Histórias, R. Zilberman e M. Lajolo
afirmam que “os laços entre a literatura e a escola começam desde este ponto: a
habilitação da criança para o consumo de obras impressas. Isto aciona um circuito que
coloca a literatura, de um lado, como intermediária entre a criança e a sociedade de
consumo que se impõe aos poucos; e, de outro, como caudatária da ação da escola [...]”.
IV. Os Parâmetros Curriculares Nacionais estabelecem que se deve “aplicar as tecnologias
de comunicação e da informação na escola [...]”.

a) Apenas I e III estão corretas


b) Apenas II e III estão corretas
c) I, II e III estão corretas
d) II e IV estão corretas
e) Todas estão corretas

Considere a passagem, a seguir, extraída do conto “Aurora sem dia”, de Machado de Assis, e
responda às questões 39 e 40.

“Naquele tempo contava Luís Tinoco vinte e um anos. Era um rapaz de estatura meã,
olhos vivos, cabelos em desordem, língua inesgotável e paixões impetuosas. Exercia um
modesto emprego no foro, donde tirava o parco sustento, e morava com o padrinho cujos
meios de subsistência consistiam no ordenado da sua aposentadoria. Tinoco estimava o velho
Anastácio e este tinha ao afilhado igual afeição.
Luís Tinoco possuía a convicção de que estava fadado para grandes destinos, e foi esse
durante muito tempo o maior obstáculo da sua existência. No tempo em que o Dr. Lemos o
conheceu, começava arder-lhe a chama poética. Não se sabe como começou aquilo.
Naturalmente os louros alheios entraram a tirar-lhe o sono. O certo é que um dia de manhã
acordou Luís Tinoco escritor e poeta; a inspiração, flor abotoada ainda na véspera, amanheceu
pomposa e viçosa. O rapaz atirou-se ao papel com ardor e perseverança, e entre as seis horas e
as nove, quando o foram chamar para almoçar, tinha produzido um soneto, cujo principal
defeito era ter cinco versos com sílabas de mais e outros cinco com sílabas de menos. Tinoco
levou a produção ao Correio Mercantil, que a publicou entre os a pedido”.
In: Histórias sem data

Conhecimentos específicos | Código 12 23


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Julgue as proposições a seguir:

I. O personagem Luís Tinoco representa a figura do agregado, não raro presente na obra
machadiana, a exemplo de José Dias, em Dom Casmurro.
II. A ironia presente no trecho acima é tratada como exigência estilística do Realismo,
movimento do qual Machado de Assis faz parte.
III. Machado de Assis, à maneira dos românticos, utiliza-se do recurso da descrição
minuciosa para enaltecer a qualidade poética da escrita de Luis Tinoco.

39. Agora assinale a alternativa CORRETA:

a) Apenas I está correta.


b) Apenas II está correta.
c) I e III estão corretas.
d) II e III estão corretas.
e) Todas estão corretas.

40. É verdadeiro afirmar que o texto em referência

a) defende a ideia de ser o poeta/escritor um ser “iluminado”, dotado de uma aura, como
preconiza Baudelaire, postura fortemente difundida na corrente realista.
b) problematiza o fazer poético em uma época em que os jornais constituíam importante
suporte de circulação literária.
c) propõe o fazer poético como uma atividade de inspiração genuína e espontânea, tão
difundida nos movimentos pós-românticos.
d) aponta para o fato de o Correio Mercantil, ao solicitar a produção escrita de Luis
Tinoco com fins de publicação, reconhecer a qualidade estética da obra, em função do
rigor formal que apresentava.
e) corrobora a ideia de que a inspiração surgida em Luis Tinoco é inerente ao homem,
independente de sua formação.

41. No livro Como e por que ler o romance brasileiro, M. Lajolo afirma que “nascido da
transformação de outras formas literárias, ele [o romance] começou plebeu e democrático.
Trouxe para os livros a vida doméstica cotidiana, amores e problemas com os quais os
leitores podiam se identificar. Nasceu representando a vida de pessoas comuns, parecidas
com a de seus leitores. Por isso ele democratizou e popularizou a leitura e, com ela, a
literatura”.

24 Conhecimentos específicos | Código 12


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Considerando esse tipo de narrativa um gênero de larga circulação em nosso país, sobretudo
no universo escolar, pode-se afirmar que

a) Recordações do Escrivão Isaias Caminha, Memórias de um sargento de milícias e


Clarissa se inserem no projeto nacionalista de “abrasileiramento” do romance, ao
mostrar a cartografia carioca e a história social e cultural na cidade do Rio de Janeiro.
b) no século XIX, as mulheres, mesmo ocupando pouco espaço nos domínios da leitura e
da escrita, tornaram-se tema de romances, como em A Moreninha e O Cortiço, em que
proclamavam o padrão de beleza, pureza e fragilidade femininas.
c) muitos romances brasileiros, como a Mão e a Luva e Iaiá Garcia, antes de sua edição
em livro, ganharam público cativo nos folhetins, publicados em jornais no século XIX,
prática responsável por fazer circular a literatura e a cultura.
d) Memórias Póstumas de Brás Cubas, Memórias Sentimentais de João Miramar e
Memorial de Maria Moura compõem obras de cunho memorialista em que são
narradas histórias não-ficcionais, procedimento que confunde o leitor ao esperar as
peripécias narrativas.
e) os romances de 30 – O País do Carnaval, Vidas Secas, Menino de Engenho –
consolidaram, cada um à sua maneira, as mesmas questões sociais em espaços
geográficos e sociais diversos.

42. Considere a afirmação de Antonio Candido, a seguir, expressa em Literatura e sociedade:

“Hoje sabemos que a integridade da obra não permite adotar nenhuma dessas visões
dissociadas (a formalista e a sociológica); e que só a podemos entender fundindo texto e
contexto numa interpretação dialeticamente íntegra, em que tanto o velho ponto de vista
que explicava pelos fatos externos, quanto o outro, norteado pela convicção de que a
estrutura é independente, se combinam como momentos necessários do processo
interpretativo. Sabemos ainda que o externo, no caso o social, importa, não como causa,
nem como significado, mas como elemento que desempenha um papel na constituição da
estrutura, tornando-se, portanto, interno”.

O pensamento do crítico literário reflete a seguinte ideia:

a) O processo interpretativo se efetiva preponderantemente pelo caráter subjetivo que o


leitor empresta à significação.
b) A obra literária deve ser o espelho fiel da realidade em que está inserida enquanto
produto cultural.
c) Somente é possível entender a obra como um sistema solidário de influências
recíprocas, percebendo a interdependência dos fatores sociais, por ela evidenciados, à
estrutura de composição.
d) Os aspectos externos devem ser considerados, puramente, como significado ou como
causa na representação dos fatos literários.
e) A estrutura formal da obra literária, que confere a esta certa peculiaridade, determina a
totalidade da significação.

Conhecimentos específicos | Código 12 25


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43. Na produção literária brasileira do século XIX, o projeto nacionalista do Romantismo


encontrou sua mais alta expressão. Sobre essa questão, marque o que é CORRETO entre
as alternativas a seguir.

a) Os traços nacionalistas da tendência romântica se desenvolveram efetivamente no


Romance, não se estendendo para outras formas literárias.
b) Os romances-folhetim, que circularam nos jornais da época, garantiram de forma
irremediável a desvinculação da cultura europeia enraizada na literatura nacional.
c) A poesia romântica, ao construir o projeto nacionalista, desprezou o cânone da
tradição cultuada em séculos anteriores.
d) Com o drama Macário, de Álvares de Azevedo, o Romantismo inaugura a fase mais
marcadamente nacionalista do gênero, dentro do movimento romântico.
e) Os romances urbanos, regionais e histórico-indianistas registraram a “cor local”, em
seus aspectos raciais, culturais, linguísticos, entre outros.

Considere os textos II e III a seguir, todos eles de Álvares de Azevedo, para responder às
questões 44 e 45.

Texto II – Prefácio à 2ª parte de Lira dos Vinte Anos (fragmento)

[...] Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico. [...] O poeta acorda na terra. Demais, o
poeta é homem: Homo sum, como dizia o célebre Romano. Vê, ouve, sente e, o que é mais,
sonha de noite as belas visões palpáveis de acordado. Tem nervos, tem fibra e tem artérias —
isto é, antes e depois de ser um ente idealista, é um ente que tem corpo. E, digam o que
quiserem, sem esses elementos, que sou o primeiro a reconhecer muito prosaicos, não há poesia.

Texto III – O poeta moribundo

Poetas! amanhã ao meu cadáver Coração, por que tremes? Vejo a morte,
Minha tripa cortai mais sonorosa!... Ali vem lazarenta e desdentada...
Façam dela uma corda e cantem nela Que noiva!... E devo então dormir com ela?
Os amores da vida esperançosa! Se ela ao menos dormisse mascarada! (...)

Cantem esse verão que me alentava... Antes mil vezes que dormir com ela.
O aroma dos currais, o bezerrinho, Que dessa fúria o gozo, amor eterno
As aves que na sombra suspiravam, Se ali não há também amor de velha,
E os sapos que cantavam no caminho! Dêem-me as caldeiras do terceiro inferno!

Coração, por que tremes? Se esta lira No inferno estão suavíssimas belezas,
Nas minhas mãos sem força desafina, Cleópatras, Helenas, Eleonoras;
Enquanto ao cemitério não te levam, Lá se namora em boa companhia,
Casa no marimbau a alma divina!
Não pode haver inferno com Senhoras! (...)
Eu morro qual nas mãos da cozinheira
O marreco piando na agonia...
Como o cisne de outrora... que gemendo
Entre os hinos de amor se enternecia

26 Conhecimentos específicos | Código 12


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44. No texto II, Álvares de Azevedo reivindica o trânsito do prosaico na poesia romântica da
época. Essa tendência no seio da obra poética azevediana

a) explica-se a partir de uma proposta estética de retomada/aproveitamento de autores e


obras da tradição, principalmente os da tradição europeia.
b) critica as diferenças entre os gêneros literários, à medida que desmistifica a hierarquia
existente entre eles, no contexto do Romantismo brasileiro.
c) reafirma o espírito sistemático e absolutista que reinava na época, dentro da Literatura
Brasileira.
d) justifica-se a partir da concepção de que era necessário à poesia da época um tratamento
menos idealizante e mais comprometido com a realidade.
e) discute a necessidade de os poetas da época incorporarem em suas obras elementos
genuinamente poéticos, advindos das esferas transcendentais da arte.

45. Julgue as proposições a seguir, todas elas relativas ao Texto II:

I. À medida que alude às musas da tradição, o poeta reconhece devidamente a relevância


do código poético sentimental.
II. Em “O poeta moribundo”, o que se vê é a dessacralização da formação idealizante do
poeta como ente divino.
III. Por retratar a morte de forma irreverente, o poema evidencia a busca pela idealização
romântica. Neste sentido, o poema incorpora a Binomia azevediana, ao nivelar no
mesmo plano o deboche e o sentimentalismo.

Está(ão) CORRETA(S):

a) Apenas I e II.
b) Apenas II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas III.
e) Todas estão corretas.

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46. No contexto da fase heroica do Modernismo brasileiro, dois nomes se sobressaem: Mário
de Andrade e Oswald de Andrade. Sobre a atuação de ambos na retomada do Projeto de
construção da identidade nacional, é verdadeiro afirmar que

a) apesar de proporem um projeto nacionalista no seio do Modernismo, a certa altura – é


preciso reconhecer –, houve a retomada da vertente da tradição do Romantismo,
através das obras Contos Novos e Serafim Ponte Grande.
b) com o intuito declarado de buscar uma nova expressão de nacionalidade, eles, nesta
fase, voltaram-se para a abordagem das cenas urbanas, semelhante ao estilo
alencariano, e para elementos do cotidiano brasileiro.
c) através da recriação poética representada sobretudo pela utilização de uma linguagem
simples, quase cinematográfica, Mário de Andrade, diferentemente de Oswald de
Andrade, conseguiu sedimentar a expressão do nacionalismo brasileiro.
d) com Macunaíma e Memórias Sentimentais de João Miramar, Mário de Andrade e
Oswald de Andrade dão o passo inicial para a conquista do nacionalismo brasileiro,
por abordarem, em ambas, as diversas feições dos aspectos que comportam a origem
do povo brasileiro.
e) Oswald de Andrade defendeu, criticamente, a valorização de nossas origens, de nosso
passado histórico e cultural, e Mário de Andrade, no seu projeto de afirmação de uma
identidade linguística brasileira, buscou o nacionalismo alimentado em raízes
populares da tradição oral.

47. Em 2002, uma comissão de críticos literários de várias partes do mundo escolheu o livro
Dom Quixote de La Mancha, escrito por M. de Cervantes, como a melhor obra de ficção
de todos os tempos. A narrativa conta os feitos do Cavaleiro da Triste Figura e de seu fiel
companheiro Sancho Pança.

Na Literatura Brasileira, há exemplos de personagens quixotescos – inseridos na


tipologia de heróis do “idealismo abstrato” – presentes nas seguintes obras:

a) Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, e Fogo Morto, de José Lins do
Rego.
b) O Sertanejo, de José de Alencar, e As Aventuras de Alexandre, de Graciliano Ramos.
c) Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e Os Sertões, de Euclides da Cunha.
d) São Bernardo, de Graciliano Ramos, e A Normalista, de Adolfo Caminha.
e) Os Ratos, de Dionélio Machado, e A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães.

28 Conhecimentos específicos | Código 12


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48. Em 2009, celebra-se o centenário de morte de Euclides da Cunha, autor de Os Sertões.


Esse evento vem atestar a atualidade da obra e a possibilidade de estudos que ela suscita.
Sobre Os Sertões, é CORRETO afirmar:

a) Os Sertões não pode ser inscrito esquematicamente em um gênero literário definido,


tendo em vista seu caráter fronteiriço que transita entre literatura, história e ciência.
b) Essa obra euclidiana norteia-se exclusivamente pelo pensamento aristotélico, que
insiste no conceito de verdade histórica.
c) Contrariando a teoria determinista de Darwin e Spencer, tão em voga no seu tempo,
Euclides mostra que os sertanejos de Canudos não representam um produto de fatores
geográficos, raciais e históricos.
d) O fato de Euclides recorrer a determinadas modalidades de relatos imaginários em Os
Sertões mostra o privilégio da História sobre a Literatura.
e) A preocupação com os rumos do país e as possibilidades de criação de um projeto
nacional, o qual conduzisse a nação à evolução social, esbarram, segundo a visão
euclidiana, na sobreposição da “raça forte” dos sertões à “raça fraca” do litoral.

49. O projeto de construção de uma identidade nacional permeia as tendências estético-


literárias na história da literatura brasileira, do Romantismo ao Modernismo. A esse
respeito pode-se afirmar:

a) A tentativa de construção de uma identidade nacional vinculou-se, no Modernismo, ao


desejo de afastamento da cultura local, em detrimento do aproveitamento das
influências externas.
b) O Modernismo, dentro da proposta antropofágica, voltou-se para as dissonâncias
estruturais do próprio país.
c) O projeto alencariano de construção de identidade nacional, baseado na
supervalorização dos aspectos regionais, levando o exotismo e o pitoresco ao
paroxismo, reproduz-se no Modernismo brasileiro, sobretudo no regionalismo de 30.
d) A valorização estética do exótico, do índio e a glorificação dos valores locais no
Romantismo, como afirmações de nacionalismo, se inspiram em elementos fornecidos
diretamente da realidade brasileira.
e) Machado de Assis buscou aliança entre o pitoresco e o patriotismo na tentativa de
construir uma realidade empírica transposta para o estilo, interiorizando, dessa forma,
o país e o tempo.

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50. Considere este fragmento de uma crítica de Antonio Candido publicada pouco depois da
estreia literária de Guimarães Rosa:

[...] Sagarana não vale apenas na medida em que nos traz um certo sabor regional, mas na
medida em que constrói um certo sabor regional, isto é, em que transcende a região. A
província do Sr. Guimarães Rosa – no caso Minas – é menos uma região do Brasil do que
uma região da arte, com detalhes e locuções e vocabulário e geografia cosidos de maneira
por vezes quase irreal, tamanha é a concentração com que trabalha o autor. Assim,
veremos, numa conversa, os interlocutores gastarem meia dúzia de provérbios e outras
tantas parábolas como se alguém falasse no mundo desse jeito. Transcendendo o critério
regional por meio de uma condensação do material observado (condensação mais forte do
que qualquer outra em nossa literatura da “terra”), o Sr. Guimarães Rosa como que
iluminou, de repente, todo o caminho feito pelos seus antecessores. [...] construiu um
regionalismo muito mais autêntico e duradouro, porque criou uma experiência total em
que o pitoresco e o exótico são animados pela graça de um movimento interior, em que se
desfazem as relações de sujeito a objeto total de experiência.
(Antonio Candido, Sagarana, Diário de S. Paulo, 11 de julho de 1946)

Considerando o texto acima, pode-se inferir que

a) a obra de Guimarães focaliza a degradação do homem como resultado da espoliação


econômica evidenciando, portanto, uma consciência social e revelando-se um
importante instrumento de denúncia.
b) ao criar uma “experiência total em que o pitoresco e o exótico são animados pela graça de
um movimento interior”, Guimarães aproxima-se do regionalismo romântico de Visconde
de Taunay.
c) o caráter universalizante da literatura rosiana se concretiza a partir da criação de
neologismos e da mimetização de uma realidade regional para a obra.
d) Guimarães inaugura um novo significado de regionalismo que extrapola as
peculiaridades da realidade brasileira, atingindo o plano universal, o que Candido
propõe como super-regionalismo.
e) o aspecto regional da obra de Guimarães Rosa associa-se ao projeto literário de
Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz, em que se denuncia a existência de um país
arcaico e de um sistema político ineficaz.

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