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Capítulo 6

O processo de magnetização
Objetivos

– Entender a origem do magnetismo na


matéria.
– Conhecer as diversas propriedades
magnéticas intrínsecas dos materiais.
– Dar as bases para entender os efeitos da
microestrutura nas propriedades
magnéticas.
Características dos
materiais magnéticos
¾Um ímã atrai objetos de ferro,
¾ímã não atrai objetos de madeira, de
plástico, de cobre ou alumínio.
¾Ímãs tem polos: os polos iguais se
repelem, polos opostos se atraem.
¾A bússola aponta para o norte.
Como explicar?
Como quantificar?
A quantificação do
magnetismo
• Bobina dá H = n * I / l
• Como medir o comportamento dos
materiais?
– Alguns são muito atraídos pelo campo de uma bobina:
os ferromagnéticos
– alguns são fracamente atraídos: paramagnéticos
– alguns são fracamento repelidos: diamagnéticos
Força que 1g de material sente
quando sujeito a campo muito
forte (1,8T)
substância fórmula química força
(miligramas-força)

vácuo 0
ar O2 + N2 0

água H 2O -22
cobre Cu -2,6
cloreto de sódio NaCl -16

sódio Na +20
alumínio Al +17
cloreto de cobre CuCl2 +280

magnetita Fe3O 4 +120.000


ferro Fe + 400.000

Conclusão: sensível, mas difícil de medir


Método da medida de
torque
• O torque que a agulha da bússola sente é
proporcional ao campo aplicado e a uma
propriedade da agulha.
• τ = m x µo H (produto vetorial)
• chamaremos a propriedade da agulha de
momento magnético da agulha (em Am2)
• a propriedade do material da agulha é a
magnetização M = m / V (em A/m)
Técnica é boa mas só se aplica a ímãs
A energia magnetostática

• A agulha da bússola acumula energia


quando não está alinhada paralelamente ao
campo H:
E ms = - m * µo H (produto escalar) =
E ms = - µo . H . m . cos θ (em joule)
E ms = - µo . H . M . cos θ (em joule/m3)
Método da medida de
indução magnética
•Como a variação do fluxo magnético cria uma
diferença de potencial elétrico,
•invertendo o raciocínio,
•a integração da diferença de potencial mede o fluxo
magnético induzido.
φ1
B= = * ∫ Udt
A NA
• Mas B = µo . ( H + M)
• portanto, medindo B e H terei a propriedade do
material, a magnetização.
M varia com H

Magnet.
M Material ferromagnético

Material paramagnético

campo magnético
aplicado H
Material diamagnético
Nos diamag e nos paramag,
a susceptibilidade é
constante
• Susceptibilidade magnética χ = M / H
χ µR
diamagn Cobre -0,77*10-6 0,999 99
Prata -2,02*10-6 0,999 97
Ouro -2,74*10-6 0,999 96

paramagn Alumínio 1,65*10-6 1,000 02


Tungstênio 6,18*10-6 1,000 08
Manganês 66*10-6 1,000 83

ferromag ferro 10.000* 10.001


(para
H=80A/m)
Nos ferromagnéticos,
a susceptibilidade varia,
acontece a saturação magnética
J (T)

2,16 Fe

1,79 Co

0,611 Ni

H
Variação de Js com a
Temperatura

•Js tende a zero na


temperatura de Curie.
•Acima de Tc,
susceptibilidade se
comporta como se fosse
paramagnético.
Variação da suscep. dos
paramagnéticos com a
temperatura
Suscept.
χ
Suscept
χ

Temperatur
1/T

Em temperaturas baixas e campos altos a


susceptibilidade deixa de ser constante,
a polarização magnética tende a valor de saturação,
como se fosse um material ferromagnético.
Teoria de Langevin
para os paramagnéticos
• Cada átomo é um “ímã”, tem um
momento magnético matôm
• eles não interagem entre si, só com o
campo externo.
• Cada átomo sente a energia
magnetostática = - µo . H . mat . cos θ
• Energia térmica introduz agitação, que
contrabalança alinhamento
Representação do
Paramagnetismo de Langevin

J = JS

J=0

T
A tese de P. Weiss para
os ferromagnéticos
• Como acima de Tc o
comportamento é de
paramagnéticos... Suscept
χ
• Weiss concluiu que
abaixo de Tc, matôm
estão todos paralelos!
• Paradoxo: está TC Temperatura

espontaneamente
saturado?
A saída do paradoxo
• Proposição da
existência de
domínios
magnéticos:
• regiões onde os matôm
estão alinhados
paralelamente, mas
na região vizinha
está orientada noutra
direção
Mas de onde vem o momento
magnético de cada átomo?

• Vem dos elétrons que giram em torno do átomo


e em torno de si mesmos.
• Nos elementos de transição (tipo Fe, Ni, Co) o
magnetismo vem do spin dos eletrons.
• Nos elementos de terras-raras (tipo neodímio,
samário) o magnetismo vem do movimento
orbital.
O Magneton de Bohr
• mom magn = (corr. elétrica) * (área órbita do elétron)

• Então m = [e * ( v/2πr) ] * ( πr2 ) = e v r / 2

• momento angular do eletron é múltiplo inteiro de h:


• Massa*v*r = nh/2π

• m = e h / 4 π massa
• cada elétron terá
• Magneton de Bohr = 9,273 * 10-24 Am2
Saturação magnética
• Se cada um dos 26 eletrons do Fe
contribuíssem com 1 µB então Js= 26T
• entretanto os eletrons ficam aos pares, com
spins contrários, um anula o outro.
• Só os eletrons com spin desemparelhado
contribuem para a saturação magnética.
Saturação
• Um átomo de ferro metálico tem 26 elétrons
• mas só dois desemparelhados: Js=2,2 µB
• num óxido os átomos existem como íons
• Fe2+ tem 4 µB
• Fe3+ tem 5 µB
• no entanto a magnetita Fe2+O.Fe3+2O3
tem Js = 0,64T
O magnetismo das ferrites

antiferromagnetismo ferrimagnetismo
Origem do antiferromagnetismo
O

Fe Fe

• Os eletrons da última camada do anion


O-- tem spins contrários.
• cada eletron é compartilhado por um
átomo de Fe vizinho.
• Os átomos de Fe vizinhos ficam com
momento magnético oposto
16 momentos “para cima”
8 momentos “para baixo”
resultam em 8 momentos
Fe3+ tem 5 µB
célula unitária tem 40 µB
Js=0,69T a 0K
experimental: 0,7T!
Imagens de domínios
no CD ROM
Domínios em um
monocristal uniaxial
• No estado
desmagnetizado, cada
partícula contem
muitos domínios.
• Paredes de domínio
são paralelas a direção
de magnetização
espontânea.
Domínios num ímã
anisotrópico
• Observando plano
paralelo à direção de
fácil magnetização.
• Paredes são paralelas a
direção c em cada
cristal.
• Dá para perceber o
grau de alinhamento
das partículas.
A partícula monodomínio
• uma partícula tão pequena que nela só possa
existir um único domínio:
– ela estará sempre saturada
– não haverá paredes de domínio
– a mudança de sua direção de magnetização só
poderá ocorrer por “ rotação homogenea”
(todos os momentos magnéticos atômicos
giram ao mesmo tempo)
Hci= Ha = 2K1/Js
HA e monodomínios

Js K1 Ha Diâmetro de
partícula
monodomínio
T kJ/m3 MA/m (kOe) µm
Ferrite de bário 0,475 310 1,30 16,2
Ferrite de Sr 0,475 350 1,50 18,8
SmCo 1:5 1,2 19.200 32,0 400 1,6
NdFeB 1,6 4.600 5,8 73 0,26
A curva de histerese do
ímã anisotrópico ideal
• Um ímã ideal tem J Js

JR = Js J
R

• O segundo quadrante é
retangular, ficando J HCi

constante até atingir H

Hci.
Como conseguir JR = Js
• Ausência de poros e
outras fases não
magnéticas
• orientação perfeita das
direções de
magnetização
espontânea dos cristais
do ímã ideal.
Modelamento da remanência
Br = Js *(1-p)*(1-fnm)* fd* <cos θ>
Js polarização de saturação da fase magnética
p é a fração de poros
fnm é a fração de fases não-magnéticas
fd é um fator de desmagnetização prop. a p
<cos θ> grau de alinhamento médio dos grãos
Cálculo da remanência
• Saturação da ferrita de bário = 0,475T
• porosidade de 7,5% (densidade de 4,9, para
densidade teórica de 5,3g/cm3)
• fração de fases não magnéticas de 0,5%
• fator desmagnetizante de apenas 0,99
• grau de orientação médio <cosθ> = 0,93
Br = Js *(1-p)*(1-fnm)* fd* <cos θ>
Br = 0,475*0,92*0,995*0,99*0,93 = 0,40T
JR de ímã isotrópico ideal
• Ímã isotrópico tem
cristais orientados em
todas as direções, então
tem JS em todas as
direções. Na remanência,
tem um semicírculo de Projeção de
Js na direção
JS.
Como <cos θ> =1/2 H

A somatória das
projeções dos JS dá
Jr = JS / 2
Como obter alto Hci
• Dificultando a
nucleação de domínios
contrários
• Dificultando a
movimentação das
paredes por
ancoramento.
Como obter alto Hci por
nucleação?
• Com alto K1 , que
dá alto HA
• HÁ é o “campo de
anisotropia”.É o valor
teórico máximo de Hci
• é uma propriedade
intrínseca do material.
• é impossível obter-se
Hci= Ha
Modelo de Kronmüller
• Hci = α * HA - Nef * Ms
• onde α é um fator ligado a microestrutura.
– Por exemplo, ↑TG causa ↓ α
• Nef é um coeficiente desmagnetizante
efetivo
• Ms é a magnetização de saturação.
Exemplos de ímãs com
HCI controlado por
nucleação

• Ímãs de ferrite de Ba, e de Sr


• ímãs de samário-cobalto tipo 1:5
• ímãs de Neodímio-ferro-boro
Por que Hci de ímãs de
ferrita aumentam com T?
• O normal é Hci
diminuir com a T.
• O aumento do Hci, No
caso das ferritas, é
uma prova da
importância de HA:
• Ha = 2 K1 (T) / Js (T)
A nucleação dos
domínios contrários e o
• A inversão da
campo coercivo
magnetização ocorre não
por rotação irreversível,
mas por nucleação de
domínios contrários e
movimento de paredes.

• Essa nucleação ocorre


H
numa região com algum
defeito, onde
possivelmente K1 seja
menor
Efeito do tamanho de
grão no campo coercivo
• O efeito do tamanho 1000000

de grão é explicado
afirmando que quanto 100000

menor o tamanho de

Hci (A/m)
grão, menor a
10000
probabilidade de ter
uma região de baixo
K1 no contorno de 1000
1 10 100 1000
grão tamanho de particula (micron)
Muito se faz para
controlar o tamanho de
grão dos ímãs
• Reduzir tamanho de partícula por moagem.
• Não aumentar muito T e t de sinterização,
para não crescer grão.
• Segurar crescimento de grão na
sinterização, adicionando SiO2 e Al2O3 nas
ferritas.
Não é só o tamanho de
grão médio que afeta Hci
• A distribuição dos
tamanhos de grão
também é importante:
• usando como exemplo,
ímãs de NdFeB, a fração
de grãos maiores que
100µm, numa matriz de
tamanho médio 10µm,
afeta o segundo quadrante
mesmo alterando pouco o
Hci.
Como obter alto Hci por
ancoramento?
• Introduzindo muitos
defeitos na
microestrutura do
material, que
dificultem a passagem
das paredes de
domínio.

Microestrutura de ímã SmCo tipo 2:17


Exemplo de ímãs
controlados por
ancoramento

• ímãs de samário-cobalto tipo 2:17


Existem outros meios
de obter altos Hci
• O meio mais eficiente é com alto K1
• Ancoramento tb pode ser eficiente.
• Anisotropia de forma (partículas alongadas)
• tensões residuais
– laminação a frio
– transformação martensítica
Mistérios da
coercividade
• Continuam a existir mistérios na
relação processo-campo coercivo:
– porque o tratamento térmico de NdFeB e
SmCo, após sinterização, melhora tanto HCI?
– Porque Hci de ferrites de Sr são tão melhores
que de ferrites de Ba?

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