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| Sumário |
| Actualidade Tecnologia | A convergência da 6 Opinião
comunicação enquanto solução para as empresas 8 Opinião/ Sociedade Bit
A reportagem do o seminário de Comunicações 10 Dossier/ Educação para os Media
IP revelou a nova tendência da convergência 28 Entrevista/ Augusto Santos Silva
numa rede única de comunicações IP.
32 Actualidade/ Imprensa
39
34 Dinâmicas de Comunicação e SI
36 Reportagem/ Comunicação
39 Actualidade/ Tecnologia
40 Reportagem/ Tecnologia e SI

| Investigação em Comunicação | Relatórios apontam 42 Actualidade/ Sociedade da Informação

tendências mundiais 44 Actualidade/ Rádio


46 Actualidade/ Televisão
Destaque para os relatórios da World
Association of Newspapers e da Global 48 Congresso/ EMMA
Advertising Report, que indicam que os tempos 50 Conferência/ APDSI
de crise nos media parecem já ter 51 Seminário/ ISCTE
desaparecido.
52 Seminário/ ICAP
69
53 Congresso/ APR
54 Seminário/ e-Government
55 Jornadas/ Jornalismo digital
| Entrevista Judite Mota | Um mercado pequeno, com
56 Mesa Redonda/ Jornalismo e Religião
sintomas de criatividade em crise
58 Encontro/ Arte e Comunicação
Em entrevista à Media XXI, Judite Mota,
directora criativa da Bates Red Cell em Portugal 59 Congresso/ APODEMO
e presidente do Clube de Criativos, falou sobre 60 Portugal Media/ Setúbal
a conjuntura e as estratégias para ultrapassar a 66 Entrevista/ Jacinto Godinho
crise, num ambiente em que a criatividade, é a
69 Investigação em Comunicação
primeira a ser prejudicada.
80 71 Aula Aberta
72 Instituições da Comunicação/ APMP
74 Centros de Conhecimento/ CICCOM
75 Leituras

MediaXXI Ficha técnica


76 Mercados da Comunicação
78 Actualidade/ Publicidade e Marketing
A nnoo XX -- N
A Nºº 8811 M
Maa ii oo-- JJuu nnhh oo 2200 0055
80 Entrevista/ Judite Mota
ADMINISTRADOR EXECUTIVO: Paulo Ferreira DIRECTOR Estudos em Ciências da Comunicação da Universidade
INTERINO: Paulo Faustino EDITORA: Paula dos Santos Independente ASSINATURAS: Notícias Direct – Tapada Nova 83 Vizinhança Mediática
Cordeiro REDACÇÃO: Cátia Candeias COLABORADORES: – Capa Rota – Apartado 55 – 2711-901 Linhó – Portugal –
Ana Filipa Cerol, Carla Martins, Daniela Gonçalves, Dulce Tel.:21 924 99 40 IMPRESSÃO: Heska Portuguesa –
84 Lá Fora
Mourato, Fernando Costa, Luís Bonixe, Rita Cunha, Rui Braz, Indústrias Tipográficas, S.A. – Campo Raso – 2710-139
86 European Journalism Centre
Marisa Torres Silva, Frederico Pedreira OPINIÃO: , Manuel Sintra – Tel.:21 923 89 00 DISTRIBUIÇÃO: VASP/ CTT –
Pinto, Reginaldo Rodrigues de Almeida , Tyrone L. Adams, Correios de Portugal SOCIEDADE GESTORA DA REVISTA: 88 Euromedia
Vitor Reia-Baptista FOTOGRAFIA: João Reis, Luís Filipe Maia, Formalpress – Publicações e Marketing, Lda. ESCRITÓRIOS:
COLABORADORES DE FOTOGRAFIA: Paulo Chaves Rua Professor Vítor Fontes n.º 8D, 1600-671 Lisboa – Tel.: 90 Internacional/ Rádios Comunitárias
CORRESPONDENTES: Sayonara Leal (Paris), Inês Rodrigues 217 576 317 Fax: 217 576 316 – E-Mail: mediaxxi@sapo.pt -
(Bruxelas) COPYDESK: Filomena Martins DESIGN: Tânia Revista Fundada por Nuno Rocha, em 1996 DEPÓSITO 92 Aldeia Global
Borges MARKETING E PUBLICIDADE: Amélia Sousa LEGAL nº 99516/96; Registo nº 120427 TIRAGEM: 7000
(publicidade@mediaxxi.com) COLABORAÇÃO: Centro de exemplares 94 Último Olhar
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| Editorial |

REGULAÇÃO E
EDUCAÇÃO PARA OS
| Paulo Faustino* |
MEDIA
Para os mais atentos tem sido interessante acompanhar a mercado relevante só compreender as bebidas que tenham
operação de aquisição da Lusomundo Media. Depois do por base a Cola. Caso se considere o mercado dos refrige-
parecer positivo da operação por parte da AACS, a validação rantes ou mesmo o mercado das bebidas sem álcool, o que
da operação está dependente da Autoridade da Concorrên- faz todo o sentido, a quota detida pela Coca-Cola será subs-
cia, que vai proceder a uma análise aprofundada. Uma das tancialmente inferior. Inspirado neste exemplo, podemos
questões mais complexas é a definição do mercado rele- definir como mercado relevante na operação em causa, o
vante dos jornais. Não se deve cair na tentação fazer uma mercado da imprensa em geral.
análise numa perspectiva estática (focalizada no segmento Por conseguinte, convém sublinhar que o índice de medi-
dos diários e ignorando as estratégia multimédia), em de- ção da concentração não permitem, por si só, analisar ca-
trimento de uma análise que considere as tendências do balmente esta problemática. Por isso, é importante que as
sector e o papel da Internet para difundir conteúdos. Acres- entidades reguladoras tenham em conta as características
ce importância da imprensa regional, nomeadamente a sociais e económicas do país (ex: os nossos baixos índices
diária e semanal, como pode ser comprovado pelo Bareme e leitura e a reduzida dimensão do mercado). Ainda a pro-
Imprensa Regional. pósito de regulação, esta edição publica uma entrevista
É de realçar também que Portugal é um dos únicos países com o Ministro Augusto Santos Silva que nos fala do mo-
do mundo desenvolvido onde a imprensa semanal possui delo da nova entidade reguladora e das principais políticas
uma forte tradição, o que se explica, em parte, pelos nossos para o sector.
baixos hábitos de leitura. Somos um dos países que mais A regulação do mercado dos media passa também por en-
jornais não diários apresenta no mercado, sobretudo a ní- sinar os consumidores de informação a interpretar de uma
vel regional: são mais de 800. E as próprias revistas sema- forma crítica as mensagens que lhes são sugeridas. Esse é
nais (newsmagazines) têm revelado uma performance um dos grandes desafios das instituições da comunicação.
muito interessante tendo em conta a reduzida dimensão do Por nós, queremos abraçar esse desafio e, por isso, fomos
mercado e o nível concorrencial existente entre a Visão, Sá- perceber melhor o que se pode fazer no contexto de uma
bado e Focus. Outro aspecto que merece reflexão é o apa- sociedade mais responsável socialmente. O Dossier sobre a
recimento dos jornais gratuitos, como o Destak e o Metro, Educação para os Media que aqui publicamos sugere algu-
que se assumem como jornais de informação geral, poden- mas pistas...
do, por isso, ser considerados produtos substitutos ou
complementares da imprensa. O próprio Jornal da Região Nota final: a Media XXI agradece o excelente contributo
também se está a reestruturar nesse sentido. Por seu lado, dado pelo Rogério Santos para a afirmação desta revista no
os jornais online assumem uma importância crescente. Na mercado. Durante o tempo que dirigiu a Media XXI, aju-
Internet as publicações semanais em suporte impresso são dou a elevar os nossos padrões de qualidade e rigor, num
diárias, como é o caso do Expresso e da Visão. O que está projecto que se situa algures entre uma revista científica e
em causa nesta operação é a capacidade a influência dos técnica - profissional. Todos lhe desejamos os melhores su-
grupos na opinião pública através dos vários media que cessos nas investigações que vai desenvolver. Cá estaremos
possuem. para partilhar e difundir o seu conhecimento. Obrigado!
Um exemplo clássico que ilustra bem o cuidado a ter com
a regulação do mercado é o caso da Coca-cola. A quota de * Director Interino
mercado desta empresa é muito superior se a definição de

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| Opinião |

Fronteiras das
tecnologias
| Carlos Reis Marques * |

Desde o final da década de 90, de trabalhadores e pelo conhecimento estável dos seus pro-
do século passado, que as Organizações, de um modo geral, cessos, mercados e clientes. Novas Fronteiras surgiram mar-
vivem um processo de mudança fundamentalmente caracte- cadas por contornos de desenvolvimento tecnológico, por
rizado pela passagem da chamada Sociedade da Informação imperativos de mudança constante e por uma dependência
para a Era do Conhecimento. Apesar de se encontrar fre- dos trabalhadores do conhecimento e pelas necessidades de
quentemente a designação de Socie- desenvolvimento destes. Atendendo ao
dade da Informação e do Conheci- NOVAS FRONTEIRAS SURGIRAM anterior e às consequências resultantes
mento, é mais interessante para uma dos impactos das transformações referi-
reflexão a abordagem iniciada por P. MARCADAS POR CONTORNOS das, podemos considerar que hoje colo-
Drucker, valorizando as pessoas e cam-se quatro desafios às Organizações:
identificando-as como “Trabalhado- DE DESENVOLVIMENTO TECNO- como lidar com as transformações exis-
res do Conhecimento” e baptizando- tentes nos contextos de desenvolvimen-
-a como a Era do Conhecimento. LÓGICO, POR IMPERATIVOS DE to das actividades profissionais por via
Nesta, o papel das pessoas assume de uma maior flexibilidade dos postos
capital importância no desenvolvi- MUDANÇA CONSTANTE E POR de trabalho; como lidar com a Globali-
mento das Organizações, numa so- zação económica e a aproximação sócio-
UMA DEPENDÊNCIA DOS TRA-
ciedade que designa como pós-capi- cultural; como gerir equipas em contex-
talista e em que o principal recurso e BALHADORES DO CONHECI- tos de trabalho multiculturais e à
factor de desenvolvimento é o Saber, distância, e finalmente, como lidar com
em vez dos tradicionais capital, terra MENTO E PELAS NECESSIDA- a necessidade constante, e contínua, de
e trabalho, característicos do pensa- actualização dos saberes e de novas
mento económico que atravessou os DES DE DESENVOLVIMENTO aprendizagens? Estas quadro linhas de
séc. XIX e XX. Organizações alicerça- necessidades sustentam análises e deci-
das em estruturas rígidas, centraliza- DESTES sões específicas, em que o binómio Pes-
das e poucos flexíveis, conforme as soas e Tecnologias surge como denomi-
que existiram durante o século passado, são hoje realidades nador comum e em que o acesso ao Conhecimento e
condenadas ao fracasso. Num mundo em que a realização de Desenvolvimento Pessoal e Organizacional emerge como um
objectivos, a obtenção de bons resultados e o sucesso nos novo paradigma de Gestão. Neste contexto, o recurso a Sis-
negócios está fortemente dependente do acesso à Informa- temas e Tecnologias de Informação surge como inevitável e
ção e à geração de Conhecimento, a capacidade de lidar com caracterizador de todo e qualquer universo organizacional.
a mudança, antecipando-a e integrando-a nos processos de Estes quatro pressupostos obrigam Pessoas e Organizações a
Gestão, surge como um recurso estratégico fundamental pa- ponderarem sobre o seu Desenvolvimento. A implementação
ra o desenvolvimento das Organizações. de soluções que permitam a integração dos processos de
A necessidade premente de lidar com a celeridade e univer- Aprendizagem Individual nos processos de Aprendizagem
salidade da Informação, obrigou a que as Organizações se Organizacional, constitui-se como uma das principais medi-
preparassem tomando a mudança como uma vantagem das para que as Organizações de hoje sejam capazes de en-
competitiva e integradora da sua cadeia de valores. Esta reali- contrar e desenvolver Conhecimento, disseminando-o e apli-
dade trouxe um Novo Desafio às Organizações, em que as cando-o nas suas tomadas de decisão.
fronteiras que as delimitavam deixaram de ser definidas pela
sua estrutura funcional e orgânica, pelo seu quadro regular * Business Manager - Vivere Consulting

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| Sociedade Bit |

Sentido Único e Obrigatório:


a Sociedade Qualificada
Nos dias de hoje, o destino de to- gadas pela OIT que revelam que mais de 12 milhões de
dos nós está em larga dimensão seres humanos são anualmente compelidos a trabalhos
| Reginaldo R. de Almeida* | hipotecado a uma escala de va- forçados, em regime de pura escravatura.
lores de métrica mundial e já A própria Sociedade da Informação é um conceito inter-
não se revê na janela do nosso quarto. As teorias do co- médio, é um meio e não um fim, uma ferramenta que
mércio livre e a consequente desregulamentação dos mer- não tem vida própria e deve ser vivida como uma Socie-
cados impulsionaram e instrumentalizaram as novas tec- dade da Aprendizagem, pois a informação em si pouco va-
nologias de informação sob o rótulo da Globalização, le se não for tratada e adequadamente aplicada, transfor-
amplificando, numa lógica de complexos incrementalis- mada em conhecimento, que permita gerar competências.
mos, a interdependência planetária. O Conhecimento, para além de ser o recurso dos recursos,
A abertura das fronteiras e o poder tentacular das relações é o ADN que suporta todos os tipos de gestão – operacio-
internacionais, que uns tanto festejam mas que outros tan- nal, táctica, estratégica – mas se a orientação explícita não
to receiam, apesar das promissoras oportunidades anun- vier de cima, do top managment, não sairemos dum mar
ciadas, não trouxeram mais esta- digital de facilidades enganadoras. Vi-
bilidade ao mundo, nem mais QUAL O PAPEL DA SOCIEDADE DA vemos na Era da Interactividade da
esclarecida relação dialéctica com Comunicação onde se sublinham e se
INFORMAÇÃO NAS HORAS PERDI-
a bio-diversidade, antes uma questionam as noções de tempo e de
condição de vida desigual que DAS NAS URGÊNCIAS DOS NOSSOS espaço... nada será como dantes... e
torna crescente a esfera da incer- somos confrontados com a falta de
teza dos códigos e práticas a de- HOSPITAIS? QUAL O PAPEL DA utensílios intelectuais que nos aju-
cifrar. dem numa espécie de heurística da
No reduto das próprias tecnolo- SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO NOS previsão, uma farmácia de ideias
gias de informação, apesar das doutro espaço e doutra dimensão,
comunicações on-line, do tempo GUETOS QUE VÃO NASCENDO À tantas vezes, ela própria, só com exis-
real das operações do business tência virtual. Há que compreender
intelligence e de todas as estraté- VOLTA DAS GRANDES CIDADES? para empreender e há que saber para
gias da denominada Nova Economia já terem ultrapassado avançar! Há que ter conhecimento para sobreviver, pois
em muito as comunicações faladas, nunca assistimos a ta- ser-se Info Incluído não é apenas ser utilizador das tecno-
xas de analfabetismo funcional de tão brutal magnitude e logias, mas antes de tudo, dominar competências básicas
variados epicentros como nos dias de hoje. que nos permitam navegar na própria vida.
Para maior latitude da reflexão, cabe então perguntar: On- Nas últimas décadas, os computadores alteraram a vida
de está a verdadeira Sociedade da Informação? tanto na empresa como no lar. Rodeia-nos uma multiplici-
Qual o papel da Sociedade da Informação nas horas perdi- dade de equipamentos da Sociedade em Rede: televisor,
das nas urgências dos nossos hospitais? Qual o papel da rádio, vídeo, telefone, secretária electrónica, fax, computa-
Sociedade da Informação nos guetos que vão nascendo à dor, além duma panóplia de outros equipamentos que po-
volta das grandes cidades? Qual o papel da Sociedade da derão contribuir de forma irrefutável para a plena concre-
Informação nas incompreensíveis taxas de sinistralidade tização da dimensão tecnológica inclusiva, ao serviço da
das nossas estradas? verdadeira socialização e humanização das TIC, transfor-
Se por um lado sabemos que nada prende tanto a curiosi- madas em competências sociais e não em estéreis estereó-
dade humana como a tragédia, por outro também sabe- tipos de falsa modernidade.
mos que muitos de nós não querem saber a verdade, pre-
ferem o entretenimento especialmente se nos for
apresentado de forma trágica e só assim se justifica a mór- * Doutorado em Ciências da Informação
bida e até cúmplice apatia sobre estatísticas como as divul- sociedadebit@sociedadebit.com

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| Dossier/ Educação para os Media |


Comunicação social no banco da escola

O “b-a bá” dos media


Poderão os cidadãos contribuir para a melhoria da qualidade dos media, por via de
uma intervenção mais crítica e exigente? A educação para os media é o caminho
que se segue | Por Carla Martins |

“Os media ainda não devoraram o cen- sas, sociedade de massas e consolidação derá assentar na “criação” de aconteci-
tro”. Foi com estas palavras que, há cer- da democracia de massas. mentos destinados à sua cobertura me-
ca de dois anos, numa conferência em Para Wolton, o espaço público contem- diática – os pseudo-eventos, na termi-
Portugal, Daniel Dayan se referia aos porâneo significa espaço público media- nologia de Daniel Boorstin.
media como instituições so- Questionando-se sobre o que é um
ciais centrais, embora sem o A NOVIDADE DESTE ENTRELAÇAMENTO ENTRE acontecimento mediático, Mário
exclusivo de influência simbó- Mesquita constata, em “O Quarto-
lica sobre os indivíduos e as OS CAMPOS DA POLÍTICA E DOS MEDIA PODERÁ Equívoco”, que “alguns aconteci-
comunidades. mentos se nos apresentam como
O fenómeno da comunicação ASSENTAR NA “CRIAÇÃO” DE ACONTECIMENTOS construções mediáticas e/ou virtuais
de massas, que remonta ao que se impõem por si próprias, in-
DESTINADOS À SUA COBERTURA.
aparecimento da imprensa in- dependentemente de traduzirem ou
dustrial no século XIX, condu- representarem uma ‘realidade exte-
ziu a alterações substantivas do espaço tizado. Trata-se, contraditoriamente, de rior’ às tecnologias e às retóricas que os
público. Como sublinha Dominique um domínio de acesso restrito, pouco produzem”.
Wolton, na mudança estrutural da esfera democrático e transparente, excessiva-
pública foi decisiva a convergência de mente controlado pelos emissores. | Poder e efeitos dos media |
três factores históricos: media de mas- A centralidade dos media e a descons- A constante negociação sobre as formas
trução do processo comunicativo con- de encenação mediática de indivíduos e
duziram ou reforçaram a pesquisa sobre organizações e a quase omnipresença
o seu poder e respectivos efeitos na so- dos media tanto na esfera pública como
ciedade. Poder, antes de mais, face aos na privada, pela preferência que reco-
outros poderes emanados dos vários lhem na ocupação dos tempos de lazer,
campos sociais. Cada vez mais a media- conduzem a uma segunda acepção do
ção simbólica destes campos tem nos poder dos media: a capacidade de in-
media palco privilegiado, levando a for- fluenciar a instância de recepção, os pú-
jar estratégias de apropriação e até ten- blicos, nos seus conhecimentos, opi-
tativas de manipulação do campo. niões, crenças, ideologias, afectos,
Denis McQuail, no clássico “Comunica- atitudes e comportamentos.
ção de Massas”, salienta que, no plano Esta linha evolutiva de investigação, ini-
político, os media constituem simulta- ciada há quase um século, procura de-
neamente um elemento essencial no terminar a natureza e a extensão dos
processo democrático, uma vez que são efeitos dos media, embora as conclusões
lugar de apresentação dos protagonistas estejam longe de ser consensuais. Procu-
e de debate de ideias, projectos, promes- rando sistematizar esta corrente investi-
sas, e um meio de exercício do poder. gativa, McQuail identifica quatro fases
A novidade deste entrelaçamento entre da “história natural” da investigação e
Casa da Imagem os campos da política e dos media po- das teorias sobre os efeitos dos media.

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Numa primeira fase, até fins dos


anos 30 do século XX, devido à
influência do modelo behaviorista
de estímulo-resposta e o recurso à
propaganda, os media foram qua-
lificados de todo-poderosos ou ca-
pazes de gerar efeitos ilimitados
sobre audiências pretensamente
massificadas e passivas.
Estudos empíricos realizados nas
décadas seguintes, teoricamente
ancorados em ciências como a Psi-
cologia ou a Sociologia, vieram re-
lativizar esta concepção, propug-
nando que os media teriam afinal
um papel mais modesto ou limita-
do como causadores de efeitos, in-
tencionais ou não.
Em 1973, Elisabeth Noelle-Neu-
mann marcaria uma nova viragem
Casa da Imagem
na investigação ao cunhar a ex-
pressão “retorno ao conceito do poder cientemente os modos de funcionamen- te da formação básica dos cidadãos”.
dos media de massas”. Era demasiado to das organizações mediáticas, os inte- É também neste sentido que argumenta
evidente que os media poderiam ter im- resses e objectivos que as movem? Os Claude-Jean Bertrand, em “A Deontolo-
portantes efeitos sociais e ser instru- media, em especial a televisão, “defi- gia dos Media”, ao defender a presença
mento para o exercício do poder nas escolas de estratégias edu-
social e político. A renovação da cativas para os media: “a par-
ESTARÃO OS PÚBLICOS PREPARADOS PARA PER-
investigação sobre os efeitos, que te da sua existência que as
desemboca na redescoberta dos CEBER QUE AQUILO QUE SE LHES OFERECE SÃO
pessoas dedicam aos media
media poderosos, vai orientar-se justifica que os conheçam e
para os efeitos de longa duração. VISÕES SIMBÓLICAS CONSTRUÍDAS E FRAGMEN- que saibam utilizá-los em seu
Um novo corte com a concepção proveito. Todas as crianças
dos media todo-poderosos ocor- TADAS DO MUNDO? precisam de receber forma-
reria no final dos anos 70, quan- ção sobre as estruturas dos
do, sob o peso do construtivismo media, os seus conteúdos, os
social, se tendeu a reconhecer a influên- nem, em grande medida, o que tem vez seus efeitos, e aprender o modo de os
cia negociada dos media. Estes são um e voz e aquilo que fica no limbo do es- consumir – e mesmo de os fazer”.
dos principais agentes directamente mo- quecimento”, afirmou Manuel Pinto, Eventualmente as novas tecnologias pro-
deladores e transformadores do conhe- em 2003, em entrevista à Media XXI. piciarão uma maior participação dos ci-
cimento social e das referências simbóli- “Compreender as lógicas que os caracte- dadãos. Como argumenta Alexandre Sá,
cas da sociedade, pelo que os seus rizam, os interesses que servem, as es- em “Media, Mass Media, Novos Media e
efeitos mais significativos decorrerão da tratégias que comandam a sua acção, as a Crise da Cidadania”, se os media “tra-
construção de significados. características dos seus discursos e as dicionais” podem facilmente ser res-
formas de acesso e apropriação consti- ponsabilizados pela decadência da cida-
| Reabilitar a participação cívica | tui, cada vez mais, uma exigência para o dania comunicativa e participativa,
Mas estarão os públicos preparados para exercício da cidadania”. O suficiente pa- sobre os “novos media” poderá recair a
perceber que aquilo que se lhes oferece ra levar o professor da Universidade do esperança de reabilitação do exercício
são visões simbólicas construídas e frag- Minho a advogar que este campo “deve- dessa cidadania.
mentadas do mundo? Conhecerão sufi- ria constituir uma dimensão estruturan-

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| Dossier/ Educação para os Media |

Casa da Imagem

Aprender a (des)construir as mensagens

De olho vivo nos media


A educação para os media faz cada vez mais sentido, especialmente pelo poder que
estes têm para formar e informar a sociedade. Em Portugal, este tema nem sempre
mereceu a mesma atenção | Por Cátia Candeias |
Como reconhece David Buckingham, no Maria Luíza Belloni, investigadora brasi- o seu poder de análise e crítica; por ou-
seu livro “The making of citizens”, a leira, reconhece igualmente, no seu li- tro lado, a formação do comunicador,
educação para os media deve encorajar a vro “A espectacularização da política e a visando a qualificação plena do profis-
participação crítica dos jovens, enquanto educação para a cidadania”, que a tarefa sional não apenas como competente,
produtores culturais que estão no seu de educar as crianças ou jovens para os mas responsável, capaz de distanciar-se
direito. Isto, claro, além de lhes permitir media não depende só de uma das par- do imediatismo típico da mensagem
analisar os media, desenvolvendo assim tes. Defende a autora que “a capacidade mediática e de exercer sobre ela uma in-
competências críticas, especialmente de a sociedade controlar o poder massi- fluência esclarecedora, realmente infor-
porque este é um tema indissociável da ficador e manipulador dos media (...) mativa – ética – escapando da manipula-
cidadania. Mas a quem cabe a tarefa de passa necessariamente por dois caminhos, ção fácil”.
educar para os media? Este é um dever ambos relacionados com a educação: de
partilhado entre escola, professores, um lado a educação para os media, bus- | Literacia mediática: condição indispensável |
pais, mas que também deve merecer a cando formar o receptor crítico, activo, O carácter central dos media nas nossas
atenção dos próprios media, na medida inteligente, capaz de distanciar-se da sociedades coloca a literacia mediática
em que modelam a sociedade. mensagem mediática e exercer sobre ela ao mesmo nível de outras competências

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O rigor da informação, para a eficácia da decisão

A informação foi, é e será sempre um factor fundamental


para aumentar a eficácia das decisões.

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| Dossier/ Educação para os Media |

permanente mu- aula, no local de trabalho ou no mo-


Casa da Imagem
dança que nos mento de votar”.
rodeia”. Idealmente, segundo afirma Cecilia von
E se ainda restam Feilitzen, que desde 1964 investiga a re-
dúvidas da im- lação entre crianças, jovens e media, no
portância que a livro “Children and Media: Image, Edu-
literacia mediáti- cation, Participation”, tanto a educação
ca assume, Linda para os media como a literacia mediáti-
Bergsman acres- ca ou a educação para a comunicação,
centa que essa é devem “conduzir a uma redistribuição
uma condição si- do poder político e social”. E é precisa-
ne qua none para mente nesse sentido que a literacia me-
que qualquer in- diática se assume como indispensável na
divíduo se torne formação das crianças e jovens.
“um aluno bem
sucedido, um ci- | Experiências nacionais |
dadão responsá- Apesar disso, em Portugal, ainda não fo-
vel, um trabalha- ram desenvolvidas políticas suficiente-
dor produtivo, mente sustentadas e com resultados visí-
ou um consumi- veis. Sublinhe-se, no entanto, o trabalho
dor competente do Instituto de Inovação Educacional
e consciente”. (IIE) que chegou a avançar com algu-
Considerando mas propostas, ainda que de forma mui-
que tanto as tec- to modesta, no sentido da educação pa-
nologias da in- ra os media. Exemplo disso foram os
formação com as vários concursos nacionais de jornais es-
do entreteni- colares e de outros projectos de utiliza-
mento comuni- ção dos media na escola. Mas este orga-
cam hoje com o nismo acabaria por ser extinto em
2002, por ocasião do
básicas como o domínio da língua por- público através de XV governo constitucio-
SER UM LITERADO NA
tuguesa ou da matemática. Mas o que é uma combinação po- nal, no contexto de
a literacia mediática? Em declarações à derosa de palavras, ERA DOS MEDIA TAM- contenção de despesas
Media XXI, via email, Linda Bergsma, imagens e sons, faz ca- públicas.
presidente da Alliance for a Media Lite- da vez mais sentido BÉM REQUER UM José Carlos Abrantes, ac-
rate America, uma organização norte- que esse mesmo pú- tual provedor de leitores
-americana que desenvolve projectos blico domine as ferra- PENSAMENTO CRÍTI- do Diário de Notícias,
nesta área, afirmou que a literacia me- mentas da literacia, no foi técnico do Ministé-
diática abrange “uma série de compe- sentido de compreen- CO QUE DÊ rio da Educação e res-
tências na área da comunicação”, in- der as mensagens que ponsável pelo sector
cluindo a habilidade para “aceder, recebe, e também para AOS CIDADÃOS Oficina Pedagógica em
analisar, avaliar e comunicar a informa- fazer passar as suas 1991, recordou, em de-
A CAPACIDADE
ção numa variedade de formas incluin- próprias mensagens. clarações à Media XXI,
do mensagens impressas e não impres- Acrescenta ainda a res- DE TOMAR DECISÕES as actividades mais mar-
sas”. Nesse sentido, trata-se de “uma ponsável que “ser um cantes durante o seu
valência essencial para o século XXI”, já literado na era dos percurso pelo IIE. Desde
que pode constituir-se como “uma res- media também requer um pensamento a Semana dos Media, às revistas “Noe-
posta necessária, inevitável e realista ao crítico que dê aos cidadãos a capacidade sis” (de que foi coordenador editorial) e
ambiente complexo, electrónico e em de tomar decisões, sejam elas na sala de “Inovação” que “ajudaram a solidificar e

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a dar consistência ao
trabalho que se fazia
nas escolas”, o respon-
sável sublinha ainda o
facto de o IIE ter cons-
tituído um “elo facili-
tador e organizador de
uma rede de contac-
tos” entre as escolas, os
investigadores, os pro-
fessores e os alunos,
inclusive de diferentes
países. A extinção do
organismo conduziu,
no seu entender, a que
tudo tenha ficado
“mais desarticulado”.
Além disso, enquanto
“estratégia de inovação”, o desapareci- passa no interior das escolas. Ignoram Existem, no entanto, projectos indepen-
mento do IIE tornou o país “mais po- que as representações sobre a ciência ou dentes que, apesar de tudo, continuam a
bre”, já que “as políticas modernas, em sobre a língua, sobre a geografia ou so- subsistir. É o caso do “Público na Esco-
todos os sectores não são sustentáveis bre a Europa, sobre a história e sobre o la” que, desde 1990, edita um boletim
sem inovação”. ambiente se geram na escola mas tam- mensal, e pretende, entre outras coisas,
José Carlos Abrantes, que é também au- bém na televisão, na imprensa, no cine- incentivar o desenvolvimento de jornais
tor do livro “Os media e a escola” e do ma e na Internet”. Partindo da ideia de escolares de todo o país. Este projecto
blogue “As Imagens e Nós” que a influência dos media se exerce desenvolvido pelo diário organiza ainda,
(http://educaimagem.blogspot.com/), “muito intensamente fora da escola e de anualmente, um concurso nacional de
afirma ainda que “nem agora jornais escolares, dividido em escalões
nem nos tempos anteriores se que vão desde os jornais produzidos nos
pode dizer que tenha alguma O DESAPARECIMENTO DO IIE TORNOU O jardins-de-infância, aos do 12º ano de
vez havido uma política coeren- escolaridade.
te do Ministério da Educação PAÍS “MAIS POBRE”, JÁ QUE “AS POLÍTI- O objectivo passa, como pode ler-se no
para o conjunto do sistema regulamento do concurso deste ano, por
educativo neste domínio”. De CAS MODERNAS, EM TODOS OS SECTO- “promover a utilização do jornal escolar
facto, o programa do actual go- como instrumento cívico para a discus-
RES NÃO SÃO SUSTENTÁVEIS SEM
verno para a Educação não são de temas relevantes para a comuni-
apresenta referências a esta INOVAÇÃO”. dade escolar e para a promoção de rela-
questão. As propostas do Partido ções entre a escola e o meio
Socialista para este sector pas- envolvente”.
sam à margem de qualquer referência forma desordenada”, defende a necessi-
aos media, como pode comprovar-se no dade de “estratégias e iniciativas”, no
programa disponível no site do Ministé- sentido de dar “coerência a esse saber | Os media na escola |
rio da Educação. mosaico”. Professores e alunos devem, A utilização dos media em contexto es-
Acrescenta o professor que “os sucessi- assim, reflectir juntos sobre a actualida- colar poderá então assumir duas posi-
vos responsáveis pelo Ministério da de. Aos alunos, por sua vez, devem ser- ções: uma mais funcional em que os
Educação sempre pensaram (e conti- -lhes dadas oportunidades para “ques- media são usados ao serviço do proces-
nuam a pensar...) que podem dar coe- tionar o modo como as representações so de aprendizagem, como forma de
rência à formação das crianças e dos jo- sobre a vida, sobre os saberes, são ilustrar um conteúdo ou tema; e outra
vens ocupando-se apenas do que se construídas nos media”. perspectiva em que os media são objec-

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| Dossier/ Educação para os Media |

to de estudo, no sentido de atingir ob- nalismo como profissão.


jectivos como o de formar o cidadão, ou Mas o papel da escola na educação para
desenvolver o espírito crítico. os media não se deve esgotar na realiza-
É precisamente este o propósito do “Pi- ção de jornais escolares. Enquanto par-
rata da Imprensa”, o jornal da Escola Se- ceira de programas (como os da Asso-
cundária Manuel Laranjeira, de Espinho. ciação Mundial de Jornais), a escola
Elaborado pelos alunos desde 1980, este pode inclusive incentivar à socialização
jornal conta já com uma longa tradição dos jovens com os jornais “reais”. Expe-
em abordar de forma jornalística duas riências desse tipo são uma realidade
D.R.
grandes áreas: as actividades escolares, noutros países, em que os jornais são
por um lado, e um tema da actualidade, utilizados na sala de aula.
por outro. O professor António Santos, outras rubricas relacionadas com o
ligado a este projecto há cerca de 15 | A participação das crianças nos media | mundo ou os animais, sem esquecer os
anos e editor do “Pi- D.R.
Bem no centro do espaços para as anedotas, no programa
rata da Imprensa”, ex- país, em Coimbra, “Hora da Risota”, ou o “Nota F”, dedi-
plicou à Media XXI existe um progra- cado à expressão musical. A grande mais
que “a ideia é que os ma de rádio feito valia, para Bruno Simões, é o facto de
alunos contactem por e para crian- estas crianças “começarem a ter desde
com o circuito da ro- ças. A ideia partiu novos algumas noções sobre os media”,
tina jornalística”. de Bruno Simões, além de desenvolverem “a formação de
Além do “contacto recém-licenciado ideias e espírito crítico em relação ao
com a fonte”, o pro- em Comunicação que se passa”. E a evolução tem-se feito
fessor destaca o “con- Social, e com uma notar. Em declarações à Media XXI, o
fronto dos alunos entre o texto escrito e larga experiência ao serviço da Rádio responsável revelou que muitas das
o editado” e o facto de serem os alunos Universitária de Coimbra (RUC). Desde crianças envolvidas desde o início do
a decidir os temas, em função do públi- Abril de 2004, que alunos entre os seis projecto, “já fazem rádio praticamente
co-alvo e dos e os nove anos das Es- sozinhas”.
objectivos. Isto O CUIDADO COM A EDUCAÇÃO colas Básicas do 1º ciclo
permite que da Solum, Areeiro e Stº | Experiências internacionais |
percebam co- PARA OS MEDIA PASSA AINDA António dos Olivais, Recentemente noticiada foi a intenção
mo funcionam preparam diariamente do Governo da Catalunha, que pretende
os media, nes- POR PÔR À DISPOSIÇÃO DOS (em grupos de seis e a pôr em acção um programa de educa-
te caso, a im- horas diferentes), com a ção em comunicação audiovisual, já a
prensa. Os ALUNOS CERCA DE “SEIS A SETE ajuda de Bruno Simões, partir do próximo ano lectivo. Cerca de
quatro a cinco o programa de uma ho- meia centena de escolas, tanto do ensino
números que JORNAIS” POR DIA, NA BIBLIO- ra que é depois trans- primário, como do básico e secundário,
saem todos os mitido aos domingos tentarão ensinar aos alunos as diferenças
TECA.
anos reúnem em 107.9 FM, entre as entre ficção e realidade, onde encontrar
20 páginas es- 13 e as 14, e repetido às informação e como analisá-la, bem co-
critas por “alguns alunos mais fixos” e 18h do mesmo mo aprender conceitos
“outros que colaboram consoante a dis- dia. No total, são relativos aos anúncios
ponibilidade”. O cuidado com a educa- cerca de cem publicitários.
ção para os media passa ainda por pôr à crianças envolvi- Do outro lado do
disposição dos alunos cerca de “seis a das no projecto Atlântico, no Brasil, o
sete jornais” por dia, na biblioteca. Tal- todas as semanas. Núcleo Comunicação e
vez por tudo isto, afirma António San- Os temas aborda- Educação, que reúne
tos, a escola Manuel Laranjeira, já tenha dos vão desde as investigadores de vá-
sido um ponto de passagem para as “de- notícias ao deba- rias universidades bra-
D.R.
zenas” de alunos que abraçaram o jor- te, passando por sileiras interessados

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em Comunicação e Educação, desenvol- tão positivas que, como afirmou Izabel


D.R.
ve uma série de projectos com meios de Leão, os alunos “criaram uma rede de
comunicação que têm em conta a parti- jovens educomunicadores, incluindo
cipação de crianças e jovens, bem como colegas de diferentes escolas num mes-
de professores. O Educom.rádio – a mo espaço de trocas de experiências”.
Educomunicação pelas ondas da rádio, é Além disso presença da comunicação
um desses projectos. Começou como na escola permitiu, segundo a jornalis-
“uma alternativa para diminuir a violên- ta, “a expansão dos grémios [associa-
cia nas escolas da rede pública munici- ções] estudantis”.
pal”, como explicou à Media XXI, Izabel
Leão, jornalista que também está ligada | Na rota do futuro |
a este projecto. Depois, com a participa- Aos educadores, ou professores, cabe as-
ção activa de alunos e professores, o sim a missão, como defende o investiga-
Educom “tornou-se uma ferramenta dor inglês David Buckingham de “capa-
importante para melhorar a capacidade citar os estudantes para construírem
de expressão da comunidade escolar e conecções entre o pessoal e o político, e,
trabalhar temas transversais”. Um pro- a partir daí, prepará-los para uma forma
jecto que, desde que foi fundado em participativa de cidadania que funcione
1996, já chegou a capacitar “mais de 11 transversalmente a todos os domínios”.
mil pessoas”, entre “professores, alunos Importa, pois, concentrar os esforços dos media. No fundo, trata-se de tentar
e membros da comunidades escolares”. não apenas na explicação das causas e mobilizar toda a sociedade para esta
Izabel Leão explica como funciona o do contexto dos acontecimentos noti- questão. Como explicou Linda Bergs-
Educom.rádio: “durante o desenvolvi- ciosos, mas sobretudo capacitar os es- ma, “a chave para atingir uma socieda-
mento do projecto, os cursistas apren- pectadores para perceberem a relevân- de que domine a literacia mediática é
dem a lidar com a técnica e a linguagem cia desses mesmo acontecimentos no envolver os diferentes actores num pro-
da rádio, exerci- dia a dia das jecto de cooperação”. Uma tarefa tanto
tando-se na produ- suas vidas. mais importante quanto urgente, con-
ção de programas, AOS ALUNOS, POR SUA VEZ, No entanto, é siderando que as representações que
locução e entrevis- de referir que a temos do mundo passa, inevitavelmen-
tas. Cada comuni- DEVEM SER-LHES DADAS OPOR- educação para te, pelo caminho dos media.
dade escolar per- os media não Pensar na educação para os media im-
TUNIDADES PARA “QUESTIONAR O
manecia seis meses se esgota no plica, necessariamente, reflectir sobre a
no curso, com en- MODO COMO AS REPRESENTAÇÕES contexto esco- formação dos cidadãos do futuro. Não
contros semanais, lar, nem nos esqueçamos, portanto, o papel decisivo
aos sábados, de oi- SOBRE A VIDA, SOBRE OS SABE- professores. As que os governos têm nesta matéria na
to horas e, no fi- acções a em- definição de projectos ou outras iniciati-
nal, cada escola re- RES, SÃO CONSTRUÍDAS NOS preender no vas e, fundamentalmente, na definição
cebia um kit com sentido de im- de quadros de incentivo e apoio à ini-
mesa de som, cai- MEDIA”. pulsionar essa ciativa da sociedade civil. É que explicar
xas acústicas, gra- educação pas- às crianças o que são os media, como
vador, microfone e sam por envol- são eles produzidos, quem participa na
outros acessórios que a rádio”. As acti- ver instituições de formação de profes- sua produção, assim como os interesses
vidades, que chegaram a 455 escolas sores e educadores, escolas de todos os implícitos e a forma como são distribuí-
tiveram frutos e cerca de 50 estabeleci- níveis de ensino, centros de investiga- dos os espaços para os diferentes actores
mentos de ensino desenvolveram as ção, meios de comunicação social, as- falarem, contribuirá certamente para
suas próprias emissoras de alcance res- sociações culturais, de telespectadores e que elas se sintam com muito mais po-
trito, através de alunos e professores. consumidores, sem esquecer as insti- der e, por isso, ligadas ao mundo à sua
Ao nível dos alunos, os efeitos não po- tuições mediáticas e as instâncias asso- volta.
deriam ser melhores. As reacções foram ciativas dos profissionais e empresas

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| Dossier/ Educação para os Media |


Estudo de Opinião sobre a Educação para os Media

Formação indispensável
Os indivíduos devem ser educados para o correcto uso dos media e adequada
interpretação das suas mensagens. O diálogo familiar contribui para esta educação,
são as conclusões do estudo IPOM | Por Daniela Gonçalves |

Deve existir uma educação/formação Os inquiridos com 60 ou mais anos são que deve existir uma preparação espe-
para os media. Esta é uma das principais aqueles que mais partilham esta opinião cial para utilizar adequadamente os me-
conclusões do estudo sobre Educação (100%), seguidos dos que têm entre 25 dia e entender as suas mensagens. São os
para os Media, desenvolvido pelo Insti- e 29 anos (89.3%). Na sua maioria, têm homens aqueles que mais defendem
tuto de Pesquisa de Opinião de Mercado como habilitações literárias, o grau de que deve haver uma preparação para o
(IPOM), em exclusivo para a Media XXI. ensino secundário (12.º ano), são che- uso adequado dos media e para com-
A amostra do estudo foi constituída por fes de redacção, editores, e relações pú- preender as suas mensagens (63%),
gestores dos meios de comunicação so- blicas, exercendo a sua actividade na contra 42.6% de mulheres. Os inquiri-
cial, professores e alunos de cursos su- imprensa generalista, televisão, nos su- dos com 60 anos ou mais anos são os
periores de comunicação social. Do total portes publicitários e nas rádios. que mais têm este ponto de vista, segui-
dos inquiridos, dos dos
82% pensa que que têm
o consumo de entre 18 e
media requer 24 anos, e
uma educação são na sua
e formação pa- maioria re-
ra a sua ade- lações pú-
quada utiliza- blicas e
ção. A família editores. A
perdeu terreno Internet é
enquanto agen- o meio de
te de socializa- comunica-
ção face à emergência dos media como Avaliar a influência do diálogo na famí- ção social que exige uma maior prepa-
novo agente, muito embora actualize lia na educação para os media foi outro ração para um uso adequado e descodi-
agora o seu papel, sendo indispensável dos objectivos deste estudo. Em cima da ficação da sua mensagem, segundo
para educar os indivíduos para os me- mesa, o papel da família enquanto agen- 55.8% dos inquiridos. São as mulheres
dia. Numa sociedade da informação, o te de socialização, responsável pela ade- quem mais aponta este meio como o
tema da Educação para os Media interes- quada preparação dos indivíduos para a mais exigente sob o ponto de vista da
sa a todos os consumidores de media. A utilização dos media e correcta interpre- educação/formação para os media
Media XXI dá-lhe a conhecer as princi- tação das suas mensagens. Para a maioria (69.6%) contra 44.8% de homens. Os
pais conclusões deste estudo e faz a ca- dos inquiridos, o consumo de media no inquiridos com idades compreendidas
racterização do panorama português ao seio da família, seguido de um diálogo entre os 50 e os 59 anos são os que
nível da educação para os media. sobre o que é transmitido, contribui pa- mais têm esta opinião, seguidos dos que
São as mulheres aquelas que mais pen- ra a educação para os media. Assim, do têm entre 30 e 39 anos. Do total dos in-
sam que deve existir uma educação/for- total dos inquiridos, 88% afirmou que a quiridos, 28.8% referiu que a imprensa
mação para os media, muito embora família desempenha um papel crucial na é o meio de comunicação social que re-
haja um equilíbrio entre as respostas de adequada descodificação/ interpretação quer uma maior preparação. Do total
ambos os sexos. Do total dos inquiridos, das mensagens mediáticas. Isto porque, dos inquiridos que expressa esta opi-
85.2% são mulheres e 78.3% homens. do total dos inquiridos, 52% salientou nião, 30.4% são mulheres e 27.6% ho-

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| Dossier/ Educação para os Media |


mens. Existe um equilíbrio consensual pelo IPOM, em exclusivo para a Media acerca do contributo dos provedores pa-
de respostas. São os inquiridos com 60 XXI sobre “a Qualidade na Comunica- ra a educação para os media. As respos-
ou mais anos os que mais pensam que a ção”. Pois, a educação para os media es- tas são marcadamente femininas, já que
imprensa é o meio de comunicação so- tá em plena conexão com a noção de ci- do total dos inquiridos, 87% é mulher,
cial que exige uma maior preparação dadania, contribuindo para uma melhor contra 67.4% de homens. Grande parte
para um uso adequado e descodificação participação cívica e política dos cida- dos inquiridos têm idades compreendi-
da sua men- das entre os 50
sagem. Do to- e 59 anos e 60
tal dos inqui- ou mais anos.
ridos que deu Outra das me-
esta resposta, tas deste estu-
50% tem o do de opinião
bacharelato. A consistiu em
rádio e a tele- aferir a opinião
visão são os dos inquiridos
media que acerca da rela-
exigem uma ção criança-te-
menor prepa- levisão e ao
ração em termos de uso adequado e de dãos na sociedade. modo como esta a visualiza. As crianças
descodificação das suas mensagens. Esta Sendo a educação para os media um as- devem ou não assistir televisão sozi-
opinião é maioritariamente dos inquiri- pecto crucial na sociedade em que vive- nhas? Esta é uma questão que já foi co-
dos de sexo masculino. Do total dos in- mos, o estudo realizado pretendeu veri- locada inúmeras vezes e que originou
quiridos que seleccionaram cada uma ficar onde esta deve ter lugar. O ponto vários estudos, na área da Sociologia da
destas categorias de resposta, 20.7% são de partida foi as respostas dos inquiri- Comunicação. A resposta da maioria dos
homens e 8.7% mulheres. dos. A escola e os próprios media são os inquiridos é clara: Não devem. Assim,
principais espaços onde deve decorrer a do total dos inquiridos, 63% pensa que
| O conceito | educação para os media, muito embora as crianças necessitam de acompanha-
Mas, afinal o que significa estar educado o seio familiar possa igualmente ser lo- mento porque não estão dotadas das ca-
para os media? O conceito engloba vá- cal de aprendizagem, no que diz respei- pacidades básicas de interpretação e de
rias acepções. Em primeiro lugar, ter ca- to à utilização racional e consciente dos filtragem dos conteúdos televisivos. As
pacidade para interpretar as mensagens media. A conversação familiar sobre os mulheres são as que mais defendem que
mediáticas. Esta hipótese de resposta conteúdos mediáticos é, de resto, a acti- as crianças necessitam de estar acom-
reuniu 41% de respostas dos inquiridos, vidade que mais contribui para a educa- panhadas quando assistem televisão
sobretudo de inquiridos de sexo femini- ção para os media, referem os inquiri- (79.6%) contra 43.5% dos homens. Os
no (48.1% do total das respostas), con- dos. Os debates sobre imprensa e o uso inquiridos com idades compreendidas
tra 32.6% das respostas dos inquiridos do jornal na sala de aula contribuem entre os 50 e os 59 anos são aqueles que
de sexo masculino. E em segundo lugar, igualmente para educar os jovens e cida- mais têm esta opinião, seguidos dos que
ter educação para os media significa sa- dãos para os media. Reflectir sobre qual têm entre 30 e 39 anos. Na sua maioria,
ber distinguir opinião de informação, o contributo dos provedores dos media são mestres e pós-graduados.
segundo 31% das respostas dos inquiri- na educação para os media foi outra das
dos, essencialmente de sexo masculino finalidades deste estudo. Os provedores | O caso nacional |
(34.8% do total das respostas afirmati- dos media são considerados actualmente Caracterizar o panorama português ao
vas) contra 27.8% das respostas dos do figuras isentas e vigilantes, pautando a nível da educação para os media foi ou-
sexo feminino. Não esquecendo que a sua conduta pela consciencialização do tro dos objectivos do estudo. Até por-
preparação e educação para os media que deve ser um jornalismo dito de que, só a partir deste conhecimento se
implica discernimento e espírito crítico qualidade. Os inquiridos são taxativos podem tomar medidas de incentivo e
da parte dos consumidores. Todas estas quanto à relevância da existência de criação das condições necessárias para
acepções do conceito de educação para provedores dos media para a educação um adequado uso dos media e correcta
os media vão de encontro aos resultados para o seu uso adequado. Do total dos interpretação das suas mensagens. Mais
do último estudo de opinião realizado inquiridos, 78% partilha esta opinião de metade dos inquiridos (55%) revela

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que o pano-
rama nacio-
nal de edu-
cação para
os media é
razoável,
31% pensa
que é mau,
e apenas 4%
considera-o
bom.
São os in-
quiridos
com idades
compreen-
didas entre os 25 e os 29 anos os que municação social que os inquiridos re- São os inquiridos que se encontram na
mais afirmaram que o panorama portu- velam consumir mais (69.2% do total classe etária entre os 50 e os 59 e que
guês ao nível da educação para os media de respostas), seguida da Internet têm pós-graduação ou mestrado aqueles
é razoável. Estes têm na sua maioria pós- (47.3%), da televisão (40.7%) e da rá- que mais revelam ser consumidores as-
graduação ou mestrado. Os inquiridos dio (34.1% do total das respostas). As síduos de imprensa. Quanto ao uso re-
de sexo feminino mostram uma visão mulheres são as que mais consomem gular da Internet, este cabe mais aos in-
mais pessimista face ao estado da educa- imprensa (73.9% do total das respostas) quiridos de sexo masculino (57.8% do
ção para os media em Portugal (35.2%) contra 64.4% das respostas dos homens. total das respostas) contra 37% das res-
contra 26.1% dos de sexo masculino. Os Não existem diferenças acentuadas de postas dos de sexo feminino. São os in-
inquiridos que partilham esta opinião respostas, tendo por base a variável sexo. quiridos com idades compreendidas en-
têm na sua maioria 60 ou mais tre os 30 e os 39 anos aqueles
anos. que mais consomem Internet e
Ficha Técnica têm na sua maioria pós-gradua-
| Hábitos de Consumo | O trabalho de campo deste estudo foi realizado ção e mestrado. No que diz res-
Do total dos inquiridos, 91% são através de um questionário por telefone, no dia peito ao consumo de televisão,
habituais consumidores de media, 24 de Maio de 2005, entre as 10:00 e as 17:00, e este fica mais a dever-se ao sexo
realidade a que não é alheio o facto todas as chamadas foram controladas pelo siste- feminino (43.5% do total das
de todos eles terem profissões liga- ma CATI. A amostra englobou 100 inquiridos, de respostas televisão) contra
das à comunicação e ao jornalismo um universo ou população constituída por gesto- 37.8% de respostas masculinas.
em particular. Apesar de existir um res dos meios de comunicação social, da impren- Os inquiridos com 60 ou mais
equilíbrio de respostas entre os in- sa especializada, da imprensa nacional, da im- anos são os que mais conso-
quiridos de ambos os sexos, são os prensa regional, das rádios locais e nacionais, da mem televisão. Enquanto que
homens aqueles que têm um televisão em sinal aberto, das empresas relaciona- são os homens os inquiridos
maior hábito de consumir media das com a comercialização e distribuição de co- que mais consomem rádio
(97.8% contra 85.2% das mulhe- municação social, e por professores e alunos do (37.8% do total das respostas
res). Quem consome mais media curso de Comunicação Social. Recorreu-se ao “rádio”) contra 30.4% das res-
são os inquiridos que se encon- método de amostragem aleatório estratificado postas das mulheres.
tram nas classes etárias dos 18-24, proporcional, tendo por base as variáveis tipo de A avaliar pela caracterização dos
50-59, e aqueles que têm 60 ou meio e percentagem de meios por distrito, ga- inquiridos, Portugal tem ainda
mais anos e os que consomem me- rantindo-se desta forma a representatividade da um longo caminho a percorrer
nos têm idades compreendidas en- amostra face ao universo ou população de estu- no que diz respeito à educação
tre os 40 e 49 anos. E são na sua do. A margem de erro é inferior a 5.2% e o nível para os media. Estas foram as
maioria bacharéis, licenciados, de confiança é de 95.5%. principais conclusões do estudo
mestres, e pós-graduados. A im- desenvolvido.
prensa é de longe o meio de co-

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| Dossier/ Educação para os Media |


Mini-Inquérito

Educar e socializar:
aprender com os
media
1) Para si, o que significa estar educado para os media?

2) Que tipo de projectos devem ser implementados para aperfeiçoar a educação


para os media?

3) Na sua opinião, quais são os agentes de socialização que podem ter um papel
mais activo neste processo?

plena de imagens e sons fantásticos de ma de que os nossos jovens são porta-


recursos gráficos há pouco tempo in- dores, de estabelecer estratégias com-
imagináveis, extremamente apelativos pensatórias de toda esta exposição.
para os sentidos, que, a nós adultos,
quase nos impede de racionalizar. 3) É de extraordinária importância a re-
A capacidade de filtragem das catadupas lação de proximidade, em casa com a fa-
de informação que actualmente nos mília, e mesmo nos locais onde exerce-
chega é um grande desafio. Esta capaci- mos a nossa actividade profissional,
dade torna-se, para nós educadores, um com os companheiros de trabalho.
imenso repto na formação pessoal dos Como educador a relação afectiva e de
nossos filhos. confiança que se estabelece, ou deve es-
tabelecer, entre pais e filhos é funda-
| Fernando Gomes | 2) Deverá permanecer em nós uma mental sendo motivadora de uma cons-
Vice-Presidente da Confederação Nacional de enorme disponibilidade de tempo para tante abertura relacional facilitadora das
Associações de Pais anular o isolamento a que os nossos jo- correcções que entendamos, madura-
vens são actualmente submetidos. É este mente, sugestionar. Este factor é impres-
que os expõe, com a imaturidade que cindível na manutenção dos factores cor-
1) Estar educado para os media é funda- lhes é própria, cedendo à constante rectivos que possamos estabelecer, ou
mentalmente estar preparado para o que pressão dos media e que poderá ser um mesmo acolher. Nenhum de nós está
de bom e mau tem a actual comunica- forte motivo para uma visão deturpada imune.
ção, quer pessoal, quer institucional. do mundo e da sociedade. São tempos em que é muito mais difícil
Existe uma imensa necessidade de sepa- Pessoalmente sinto uma imensa necessi- acreditar…
ração da actual vertigem informativa, dade, até pela impertinência e auto-esti-

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pode ser promovida nos estabelecimen- que terão necessariamente de implicar


tos de ensino — pode ser assumida pe- as famílias (facilitação de processos de
los professores de diversas disciplinas e acesso aos instrumentos e equipamen-
pelos dinamizadores dos clubes de jor- tos) as escolas (apetrechamento material
nalismo. com um efectivo suporte de acompa-
nhamento cientifico e pedagógico) a so-
ciedade em geral (em todos os espaços
e momentos em que seja possível).
Ao nível das escolas, por exemplo, as
Oficinas de Formação poderão ser um
instrumento/processo a implementar,
através dos Centros de Formação, con-
| Eduardo Jorge Madureira | textualizando a formação com a prática
Director pedagógico do Projecto PÚBLICO na pedagógica. A integração dos media no
Escola espaço escolar pode ser, assim, enqua-
drada numa tripla perspectiva: recursos
1) Em vez da natureza definitiva do “es- educativos (fontes de informação para
tar educado”, que a pergunta parece su- actualizar e ilustrar conteúdos), objecto
bentender, talvez seja preferível falar de de estudo (análise das mensagens, dos
um “estar a aprender” relativo ao uso contextos sociais de produção, circula-
dos media. Esta aprendizagem perma- ção e recepção dos discursos mediáti-
nente será útil por variadíssimas razões. | João Henrique Carvalho Dias Grancho | cos) e ferramenta de expressão e criati-
Podem citar-se, por exemplo, três: 1. Presidente da Associação Nacional de vidade (produção das próprias
ajudando a compreender em nome de Professores mensagens nos diferentes suportes).
que valores, para que fins e de que mo- Neste contexto, há que elaborar conteú-
do é que os media mais poderosos (par- 1) Significa essencialmente ser capaz de dos programáticos que façam com que
ticularmente a televisão) nos pretendem se orientar no meio dos saberes, nomea- estas tecnologias se tornem verdadeiros
“educar”; 2. permitindo desenvolver a damente aqueles que decorrem da so- instrumentos de ensino, o que pressu-
capacidade de saber como é que se dis- ciedade do conhecimento e da informa- põe, da parte dos professores, em con-
tingue a má da boa informação, qual é a ção induzida e suportada pelos media, creto, vontade de questionar as suas pra-
informação de que, em cada momento, adquirindo competências como o pro- ticas pedagógicas.
se necessita e onde é que ela pode ser curar, recolher, seleccionar, organizar e Deste modo, as novas tecnologias não
procurada; 3. fazendo com que, cada relacionar informação. podem ser vistas como meros instru-
um, seja capaz de se tornar num cidadão Nesta perspectiva quando se interactua mentos didáctico/pedagógicos de moti-
interventivo no mundo dos media. com a informação, não é só a compe- vação e apoio aos alunos. Devem ser en-
tência cognitiva que aparece reforçada, caradas como elementos de articulação
2) Nos estabelecimentos de ensino, a como também se promove o desenvol- de todo o processo de ensino/aprendi-
educação para os media não deveria vimento do sentido de autonomia, res- zagem.
prescindir, por exemplo, de trabalhos de ponsabilidade, capacidade de decisão,
análise de textos jornalísticos e de pro- raciocínio crítico e criatividade. 3) Atendendo à importância dos Media
gramas radiofónicos e televisivos ou da na sociedade actual, torna-se cada vez
produção de media escolares, designa- 2) Sendo incontornável a presença dos mais necessária a inclusão, desde logo,
damente, jornais (impressos e on-line) media em todos os contextos do quoti- nas aprendizagens da Escola, da Educa-
e rádios. diano social, a determinar um novo ção para os Media. Assim, a escola deve
conceito de educação (a construção do constituir-se como espaço comunitário
3) Não tendo ao seu dispor uma disci- conhecimento) e uma nova alfabetiza- geral e qualificado de acesso às tecnolo-
plina curricular, leccionada por docentes ção (a info-alfabetização) os projectos a gias (não só para alunos e professores).
com habilitação própria, a educação pa- implementar deverão ser equacionados Numa perspectiva mais abrangente, to-
ra os media — para falar apenas na que numa perspectiva integrada e articulada das as instituições, públicas ou privadas

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| Dossier/ Educação para os Media |

– sejam de carácter associativo, cultural, nais desempenharão as suas actividades. capaz de analisar e interpretar as mensa-
profissional, científico ou pedagógico - É fulcral haver interacção entre a educa- gens que nos chegam como notícias,
que mais directamente intervêm e inter- ção e o mercado de trabalho ou mundo como sugestão de compra de produtos
ferem na Educação do país serão, sem profissional, sob pena de haver o risco ou serviços ou como opiniões ou ideias
dúvida, aquelas a quem deve caber papel dos profissionais não estarem dotados políticas, religiosas ou outras. Torna-se
mais activo. das capacidades para exercer adequada- por isso necessário conhecer a forma
Aos governos caberá naturalmente o pa- mente a sua actividade. como são produzidas as mensagens nos
pel de promover uma educação para os vários tipos de media e quais os códigos
media, promovendo e motivando acções 3) Penso que todos os agentes de socia- utilizados. Não basta saber ler, é preciso
e políticas que permitam um acesso ge- lização têm uma palavra a dizer e um interpretar de forma crítica o que se lê e
neralizado e sustentado. papel relevante a desempenhar na edu- desenvolver a consciência de que os desti-
cação para os media. Porém, dada a natários das mensagens são os consumi-
emergência dos media enquanto “novo dores dum mundo mediático concorren-
sujeito suposto saber”, ou seja como cial. Mas para além do desenvolvimento
novo agente de socialização que detém da capacidade analítica, torna-se necessá-
o maior poder, existe a necessidade de rio também educar o gosto dos consu-
haver articulação entre os agentes tradi- midores de media e isso é uma parte
cionais de socialização e os media. Dado importante da educação para os media.
o impacto dos media na socialização ser
crescente, existem responsabilidades 2) A educação para o media deve ser
acrescidas por parte dos professores e uma preocupação constante de todo o
educadores no que diz respeito à relação processo de aprendizagem, mas podem
dos indivíduos com os media. O desafio conceber-se projectos específicos sobre-
que se coloca é o seguinte: Como apro- tudo destinados aos jovens. Esses projec-
veitar as potencialidades dos media para tos deveriam proporcionar oportunida-
a educação familiar e escolar? Isto por- des para debater em grupo ideias
que é fundamental haver uma articula- veiculadas pelos media, ou incidir sobre
ção entre agentes tradicionais e novos algumas linguagens específicas, como
| José Manuel Silva | agentes de socialização. por exemplo o cinema ou a Internet.Vi-
Director Regional de Educação da Região sitas guiadas às empresas produtoras ou
Centro difusoras de conteúdos poderiam igual-
mente ser de grande utilidade para a
educação dos jovens para os media.
1) Vivemos numa sociedade de infor-
mação que se caracteriza pela importân- 3) A educação para os media depende
cia crescente e visível dos media. Estar principalmente dos três agentes clássicos
educado para os media significa ter de socialização. A família, a escola e os
competências adquiridas para interagir próprios media. Na família podem ser
numa sociedade marcada pela mediati- comentados de forma natural os princi-
zação global, o que se pode traduzir na pais factos e ideias transmitidos pelos
ideia de que só o que é mediatizado media. A escola pode educar os jovens
existe. de uma forma sistemática e os próprios
media podem ter um grande papel atra-
2) É crucial que se criem as condições | Fausto José Amaro | vés duma atitude pedagógica e de pro-
essenciais para que haja educação para Director do Centro de Estudos da Família do cura de qualidade o que teria também
os media. É aqui que se inserem os pro- Instituto Superior de Ciências Sociais e um efeito positivo traduzido no aumen-
jectos. Estes devem resultar de parcerias Políticas to do número de leitores, ouvintes ou
entre as escolas que fazem a formação e telespectadores.
as instituições onde os futuros profissio- 1) Uma pessoa educada par os media é

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| Dossier/ Opinião |

Pedagogia, Educação
ou Literacia dos Media?
Os conceitos enunciados no título deste artigo correspon- cos, especialmente na Suécia e
| Vítor Reia-Baptista* |
dem a abordagens diferentes dos problemas relacionados na Dinamarca, têm-se desenro-
com a cognição dos Media, mas também a estados diferen- lado processos semelhantes ao
tes dessa mesma cognição e dos seus processos cognitivos. britânico de desenvolvimento de estratégias «Educação pa-
As diferenças mais comuns residem muitas vezes tão so- ra os Media» e de «Pedagogia dos Media» (o termo é idên-
mente no facto das diferentes designações terem origens tico em sueco e alemão: «Mediapedagogik») com o objec-
geográficas diversas. Assim, na América Latina e sobretudo tivo mais geral de implementar situação reais de autêntica
no Brasil, já desde há algum tempo que se abordam estas «Literacia dos Media». E é em processos deste tipo que,
questões numa perspectiva mais abrangente da «Pedagogia quanto a mim, reside a verdadeira diferença entre os três
da Comunicação», a qual inclui assiduamente uma pers- conceitos enunciados no título. A «Pedagogia dos Media»
pectiva mais próxima do papel social, cultural e pedagógi- assenta num conjunto de fenómenos intrínsecos dos Me-
co dos canais e dos meios, ou seja, no sentido da «Pedago- dia, cujas dimensões pedagógicas se fazem sentir nos mais
gia dos Media». É também nesta TORNA-SE NECESSÁRIO DESEN-
variados contextos, tocando os públicos
perspectiva mais abrangente que receptores desses Media, quase sempre
em muitos casos se utiliza a ex- VOLVER ESTRATÉGIAS ORIENTADAS sem que uns e outros tenham grande
pressão «Educação para a Comu- consciência disso ou sem que para tal
nicação». Em França, a designa- E PLANIFICADAS EM FUNÇÃO DAS tenham feito qualquer diligência especial.
ção «Éducation aux Média» fez Este tipo de dimensões pedagógicas está
escola através do dinamismo do CAPACIDADES COGNITIVAS DOS presente em todos os meios, desde o ci-
seu principal centro de activida- nema à imprensa, passando pela música
des – o CLEMI (Centre de Liaison ESTUDANTES «pop» e pelos jogos de computador, as-
de l’Enseignement et les Moyens d’Information) e passou a sim como, obviamente, pela televisão. A «Pedagogia dos
exercer toda uma esfera de influências, essencialmente nos Media» pode ser estudada e investigada nas universidades
contextos francófonos e latinos, nomeadamente no contex- como matéria própria, cujo estudo pode contribuir para
to português, donde a tradução quase directa, mas algo re- um estado aprofundado de cognição sobre a mesma, ou
dutora, «Educação para os Media». No Reino Unido, a de- seja para uma «Literacia dos Media». Mas em muitos ou-
signação «Media Education» foi a mais utilizada durante tros contextos, como nos contextos escolares básicos e se-
um largo período, com vários autores a desenvolverem tra- cundários, torna-se necessário desenvolver estratégias
balhos de aprofundamento teórico, os quais marcaram de- orientadas e planificadas em função das capacidades cogni-
finitivamente este campo de estudos, como por exemplo tivas dos estudantes. Assim, penso que as diferentes desig-
Len Masterman e Manuel Alvarado do British Film Institu- nações correspondem a estados e processos diferentes de
te, ou David Buckingham e Sonia Livingstone do Institute construção cognitiva que têm forçosamente de ser integra-
of Education da London University. No entanto, no contex- dos em diferentes momentos da formação dos cidadãos, a
to britânico tem-se evoluído ultimamente para uma utiliza- saber: os mais jovens ao longo dos seus percursos escolares
ção muito mais assídua da expressão «Media Literacy» co- obrigatórios e os menos jovens, incluindo os candidatos a
mo conceito abrangente dos processos educativos formais «fazedores dos Media» (jornalistas, cineastas, publicitários,
e extra-escolares que de algum modo contribuem para um professores, etc…) necessariamente durante as suas forma-
conhecimento acrescido dos Media por parte dos cidadãos, ções superiores e de especialização.
nomeadamente os mais jovens, sobretudo no que respeita
aos seus próprios processos de apropriação mediática.Vale- * Director do Curso de Ciências da Comunicação e do centro de Investigação em
rá ainda a pena referir que na Alemanha e nos países nórdi- Ciências da Comunicação da Universidade do Algarve

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A dimensão
sócio-económica da
literacia mediática
A educação para os media em Portugal está de boa saúde? povoado e marcado pelo cresci-
| Manuel Pinto * |
Está doente? Não existe? Quem o poderá dizer? Para en- mento num “ecossistema infor-
saiar uma resposta, precisamos, primeiro, de nos entender mativo” de que os suportes tecnológicos são uma dimen-
sobre o conceito de “educação para os media”. Se por tal são relevante: a par da televisão, com um papel que
noção significarmos o conjunto de esforços, de projectos e continua a ser central, não se pode esquecer a centralidade
de iniciativas no sentido de promover o acesso e o uso das dos jogos vídeo e electrónicos, dos chats e “mensageiros”,
tecnologias de informação e comunicação (TIC) no ensino, da música nos seus vários suportes e formas de circulação e
o panorama não será brilhante, mas traduz-se em algo de reprodução. Neste quadro, seria trágico que a educação es-
consistente e visível. colar se mantivesse ostensivamente alheia a este uni-
ALGUM TRABALHO SISTE-
Entendo, porém, que isso po- verso de experiências ou se acantonasse numa perfor-
de ser um requisito ou um MÁTICO DE EDUCAÇÃO matividade tecnológica que não toma o mundo real
factor de potenciação; não é dos mais novos como centro de referência.
educação para os media. E PARA OS MEDIA, NO Deste ponto de vista, o panorama em Portugal não será
não chega necessariamente a catastrófico, mas é, seguramente, pobre. Algum traba-
formular e a responder a per- NOSSO PAÍS, DEVE-SE À lho sistemático de educação para os media, no nosso
guntas como estas: TIC para país, deve-se à boa vontade de meia dúzia de professo-
quê? Que contributos dão na BOA VONTADE DE MEIA res e de responsáveis de escolas básicas e secundárias.
formação das novas gerações, De realçar também a atenção que algumas instituições
capacitando-as a viver num DÚZIA DE PROFESSORES E de ensino superior vêm dando ao assunto, nomeada-
“oceano informativo” cada mente na Universidade do Minho (com um mestrado
DE RESPONSÁVEIS DE
vez mais caudaloso e gerador de Comunicação, Cidadania e Educação) e do Algarve
de perplexidade? Como aju- ESCOLAS BÁSICAS E e algumas escolas superiores de Educação. À parte al-
dam a comunicar melhor? gumas iniciativas pontuais e localizadas de associações
Se quisermos ser rigorosos, SECUNDÁRIAS. e empresas privadas, o projecto mais consistente que
verificaremos que não são es- se pode inscrever no espírito da educação para os me-
sas as preocupações dominantes dos discursos e das políti- dia é o “Público na escola”, do jornal Público, no terreno
cas que têm vigorado nos últimos anos em Portugal. Sinto- desde finais de 1989. O seu concurso anual de jornais es-
mático disso foi a extinção, em 2002, do Instituto de colares, o seu boletim informativo mensal, os seus dossiers
Inovação Educacional, um departamento central do Minis- e materiais pedagógicos deram-lhe um lugar de destaque
tério da Educação, que vinha desenvolvendo, há vários solitário neste campo.
anos, um trabalho humilde, mas sério e consistente de A literacia mediática e digital é, nos nossos dias, uma com-
apoio às escolas com projectos neste terreno. ponente imprescindível da literacia geral. O investimento
Existe hoje, no panorama internacional, um consenso alar- neste âmbito reveste-se de carácter estratégico, com impli-
gado em torno do conceito de educação para os media. Po- cações não apenas sociais e culturais, mas também econó-
de definir-se como o desenvolvimento da capacidade de micas. Aos governos cabe um papel de incentivo e de apoio
aceder à informação e enriquecer a comunicação num le- insubstituível. Mas se não contar com a iniciativa articulada
que variado de suportes e de contextos, compreendendo o de instituições diversas (educativas, sócio-profissionais,
fenómeno cultural das comunicações e progredindo na empresariais, religiosas, culturais…) não sairemos do pon-
criação de formas autónomas de expressão e comunicação to onde estamos.
individual e de grupo.
O quotidiano das crianças e dos jovens é, desde o início, * Professor de Jornalismo na Universidade do Minho

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| Entrevista/ Augusto Santos Silva |

Regular para mudar


| Por Cátia Candeias | | Fotos de Luís Filipe Maia |

O responsável pela pasta da Comunica- meios de financiamento do novo


ção Social, Augusto Santos Silva, expli- órgão - “corre-se o risco de
cou, em entrevista à Media XXI, as prin- comparar o novo órgão com o
cipais alterações que pretende fazer no velho polícia do imaginário
sector. A nova Entidade Reguladora e a português que cobra multas para
criação de Provedores de Espectadores e receber”. Como comenta?
Ouvintes no serviço público são os dois Não há comparação possível.
grandes projectos cuja votação se prevê Há quatro fontes de financia-
para breve. mento principais. A primeira é
o OE, a segunda é uma parte
das receitas que hoje o Estado
A forma de financiamento proposta para a tem por virtude de colocar à
nova Entidade Reguladora da Comunicação disposição dos operadores um
Social (ERC) – em que os próprios órgãos bem público, o espectro ra-
contribuem – poderá, dioeléctrico.
de algum modo QUERO QUE OS ÓRGÃOS DE Há uma ter-
contribuir para a ceira fonte de
auto-regulação? COMUNICAÇÃO SOCIAL BENE- financiamento
Acho que pode fa- que são as
vorecer a indepen- FICIEM DOS SUBSÍDIOS PÚBLI- contribuições
dência do órgão re- das próprias
COS, QUE AS REGRAS SEJAM
gulador. Aliás, é entidades re-
habitual na regula- guladas, e há
CLARAS E DEFINIDAS, MAS
ção que o financia- uma quarta
mento seja garanti- QUE A SUA APLICAÇÃO NÃO fonte de fi-
do pelas entidades nanciamento que existe dos. Os mandatos dos membros da ERC
reguladas. Essa é TENHA A VER COM O em todas as entidades não coincidem com os mandatos políti-
uma das condições administrativas que cos, daí que, na nossa proposta, sejam
que favorece a in- GOVERNO. têm o poder de aplica- mandatos de cinco anos. Depois, os
dependência dos ção de coimas. membros da ERC têm um apertado re-
órgãos reguladores face ao Estado. Con- gime de incompatibilidades, tanto an-
tudo, nós pensamos que a comunicação Disse que o facto de os órgãos financiarem a terior como posteriormente ao manda-
social, em particular a imprensa, e os ERC contribui para a própria independência to. Quando o terminam, não podem
órgãos locais e regionais têm caracterís- da entidade. Que outras medidas serão toma- ocupar lugares executivos em empresas
ticas próprias que aconselham a que se das a fim de garantir essa condição? ou organizações sindicais em diversos
mantenha como uma das fontes princi- Em primeiro lugar, a entidade não obe- media. Quando estão no exercício das
pais de financiamento da nova ERC, o dece a quaisquer directrizes nem do Go- funções, os membros reguladores tam-
Orçamento do Estado (OE). verno, nem do Parlamento. Os membros bém têm um regime de incompatibili-
da ERC são também inamovíveis, salvo dades bastante estreito, que apenas lhes
Artur Portela disse recentemente ao Jornal circunstâncias extraordinárias em que os permite tempo parcial no ensino supe-
de Negócios que com as coimas – outro dos seus mandatos podem ser interrompi- rior, não podendo exercer qualquer

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“ HÁ TENDÊNCIAS POSITIVAS E NEGATIVAS NA EVOLUÇÃO JORNALISMO PORTUGUÊS”

outra actividade a tempo inteiro. eficácia e alguma intensificação em ter- competentes, idóneas e reconhecidas. O
mos da estrutura técnica da entidade que implica que tenham uma relação
De qualquer modo, está prevista a redução mas, tudo o que propomos em matéria com a comunicação social que não seja a
do número de membros... de estatutos remuneratórios e de dimen- de uma representação de interesse secto-
A nossa proposta é a de que o Conselho são do órgão, propomo-lo na consciên- rial, porque isso prejudicaria a sua condi-
de Reguladores seja constituído por cin- cia de que não é por se gastar muito ção de regulador.
co personalidades, porque nos parece dinheiro que as coisas funcionam bem,
que a ERC ganhará se for uma estrutura e que vivemos num período de austeri- Outra das propostas no âmbito da
magra mas tecnicamente mais forte em dade. comunicação foi a de
relação à Alta Autoridade. Portanto, pre- Por exemplo, o estatuto PRETENDEMOS REDUZIR O estabelecer limites à
tendemos reduzir o número de regula- remuneratório que pro- concentração. Que
dores para cinco e, inversamente, dotar pomos para os regula- NÚMERO DE REGULADO- medidas vão ser tomadas
a nova ERC de mais competências, com dores é o dos dirigentes nesse sentido?
juristas, economistas, ou técnicos muito de institutos públicos. RES PARA CINCO E, Estamos a trabalhar nu-
qualificados na respectiva área. Inspira- ma proposta de Lei que
INVERSAMENTE, DOTAR A
mo-nos, aliás, na Autoridade da Conco- O Sindicato dos queremos apresentar
rrência. Jornalistas, apelou NOVA ERC DE MAIS COM- na Assembleia até Jul-
recentemente para que a ho. O que posso dizer
Mais gente, mais qualificada, equivale a mais nova ERC integre pessoas PETÊNCIAS. neste momento, é que
dinheiro gasto? de vários meios. O que lhe se trata de encontrar
A nossa proposta não significa nenhum parece esta sugestão? uma proposta de lei que permita tornar
aumento desproporcionado de meios fi- Devo dizer que isso é possível. Mas será mais claro quem é proprietário do quê
nanceiros. Implica alguns, porque há decisão do Parlamento, visto que a com- no universo da comunicação social, e
mais competências e há o cuidado de posição da nova ERC está também defi- tentar clarificar de uma vez por todas
ter maior nida na Constituição. O que a Constitui- qual é a presença do Estado (directa ou
ção diz é que os membros da ERC serão indirecta) nesse universo. A proposta do
eleitos pela Assembleia da República ou PS é a de que o Estado não possa ter in-
cooptados pelos que foram eleitos, e teresses, mesmo que indirectos, na co-
a eleição faz-se por dois terços. Po- municação social fora do universo do
dem ser quatro eleitos e um co- serviço público. Em terceiro lugar, esta-
optado, ou três eleitos e dois belecer o limite à concentração da pro-
cooptados. Não há nada es- priedade num momento em que eles
crito na proposta de lei ainda podem ser definidos em abstracto.
(nem tem de haver) que Tenho dito que, do meu ponto de vista,
proíba que certas perso- e do ponto de vista do governo, ainda
nalidades com exercício não vivemos numa situação de concen-
na comunicação social, tração excessiva da propriedade dos
sejam professores, juris- meios da comunicação social, mas esta-
tas, jornalistas, o que se- mos a um passo de a ter. E, antes de se
ja. Não podem é nos dar esse passo, convém que a Assembleia
dois anos anteriores, ter diga quais são as regras. Não queremos
ocupado lugares recon- prejudicar nenhum grupo, mas quere-
hecidos em empresas ou mos, enquanto é tempo, definir em abs-
sindicatos. tracto quais são os limites à concentra-
ção da propriedade dos media.
Na sua opinião faz sentido que Finalmente, o quarto objectivo, é que a
haja esse pluralismo? lei permita corrigir algumas situações
Faz sentido que os reguladores da de dispersão da concorrência que even-
comunicação social sejam pessoas tualmente hoje já se vivem em Portugal.

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“AINDA NÃO VIVEMOS NUMA SITUAÇÃO DE CONCENTRAÇÃO EXCESSIVA”

Designadamente que esclareça, por nicação Social todas as competências rior governo. Em relação à lei da rádio,
exemplo, qual é a relação que deve ha- que essa lei me dava. Depois há regras já pedi ao ICS que começasse a trabalhar
ver ou quais são os limites entre opera- muito burocráticas: os candidatos aos e a ideia fundamental é esta: a actual lei
dores de rede de distribuição e operado- subsídios têm de apresentar estudos de da rádio tem uma estrutura genérica
res de conteúdos. viabilidade eco- que me parece
nómico-financei- ainda actual.
NÃO QUEREMOS PREJUDICAR NENHUM
Em relação à Comunicação Social Regional, ra relativamente Também nos
estão previstas alterações ao diploma do go- pormenorizados parece que al-
GRUPO, MAS QUEREMOS, ENQUANTO É
verno anterior? e isso não faz gumas obriga-
Sim, é preciso alterar duas ou três coisas. grande sentido TEMPO, DEFINIR EM ABSTRACTO QUAIS ções expeditas
A primeira é que esse decreto concede porque correría- de programa-
ao poder político um poder tão discri- mos o risco de o SÃO OS LIMITES À CONCENTRAÇÃO DA ção devem ser
cionário que pode parecer arbitrário na esforço pedido agora testadas.
selecção concreta dos órgãos a serem fi- ser maior do que PROPRIEDADE DOS MEDIA. Há questões
nanciados. Sou frontalmente contra isso. os benefícios. importantes a
Acho que deve ser exactamente ao con- Quero que os órgãos de comunicação nível de leis como a licença de rádio,
trário: a selecção dos beneficiários dos social beneficiem dos subsídios públi- atribuída por concurso público pelo Es-
incentivos deve ser feita numa base não cos, que as regras sejam claras e defini- tado e que, por isso, não pode ser trans-
discriminatória. E, portanto, uma das das, mas que a sua aplicação não tenha a formada num quilo de ananases que se
primeiras coisas que fiz depois de tomar ver com o Governo. pode vender ou comprar livremente.
posse foi delegar no Instituto da Comu-
Que políticas vão implemen- Há quem defenda que Portugal tem um exces-
tar em relação à so de rádios regionais...
modernização do sector da Acho que, não devendo haver nenhuma
rádio? espécie de criação ou manutenção espe-
A alteração à lei é uma cial de rádios e, cumprindo os operado-
coisa que está na ordem res as regras gerais, saber se há muitas
do dia já há algum tem- ou se há poucas depende dos mercados:
po, com uma pequena do mercado económico e do mercado
particularidade: das duas das ideias. Não vejo que o Estado possa
últimas vezes que en- interferir.
trou uma autorização le-
gislativa na Assembleia O ano de 2007 foi estabelecido como a meta
para ser alterada, o go- para a cobertura nacional da rádio digital.
verno caiu. Portanto, di- Pensa que o objectivo será alcançado?
go por brincadeira que, O DAB [Digital Audio Broadcasting]
se há compromisso fir- atinge neste momento os três quartos
me que tenho, é que do território nacional. O principal blo-
vou dispensar-me de queio que existe está ligado ao consumo
uma proposta de altera- de rádio, muito associado à viagem de
ção legislativa, apresento carro e ao facto de os equipamentos ra-
logo a proposta de lei, diofónicos para carro não incorporarem
para evitar o ditado por- essa tecnologia. Em relação à colocação
tuguês «não há duas de conteúdos radiofónicos online, hou-
sem três»…. Temos na- ve um programa de incentivo próprio
turalmente de ter em até 2002 que nós queremos revalorizar.
conta a substância das
propostas à alteração le- Outras das propostas foi a criação de prove-
gislativa feita pelo ante- dores de ouvintes e espectadores para o ser-

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viço público de Rádio e Televisão. Para quan- apertado o regime de incompati-


do vamos ter isso? bilidades da profissão, bem como
A proposta de lei do Governo entrou no na forma como os jornalistas res-
dia 19 de Maio na Assembleia da Repú- peitam o seu código deontológico...
blica (AR) e, portanto, será brevemente,
agendada. Logo que seja aprovado na Quando fala em incompatibilidades
AR, a RTP e RDP estão conscientes que está-se a referir a...
têm de propor um provedor ou prove- A actual versão do estatuto do jor-
dora e submetê-los a parecer do Conse- nalista diz que é incompatível o
lho de Opinião. exercício da actividade jornalística
com o exercício de funções remu-
Que características deve ter um provedor? neradas de marketing, promoção e
Tem de ser uma personalidade reconhe- publicidade. A nossa proposta vai
cida, respeitada e que esteja envolvida ser que essas actividades sejam in-
no mundo da comunicação social. Que compatíveis sejam elas remunera-
seja aceite pelos trabalhadores da RTP e das ou não.
RDP, visto que, se o seu trabalho é esti-
mular a reflexão crítica dos jornalistas e Qual é a sua opinião sobre o jornalismo
trabalhadores, é preciso que lhe reco- que se faz actualmente em Portugal?
nheçam autoridade moral. A terceira Há tendências positivas e negativas
condição fundamental para um prove- na evolução jornalismo português.
dor é ser capaz de lidar, com toda a in- Temos uma imprensa de referên-
dependência, com a administração e as cia, em sentido lato, incluindo por
direcções de programação e informação. exemplo alguns canais temáticos
exclusivos de notícias que é, pelos
Que alterações estão previstas para o standards internacionais que conheço, inacreditável como certos jornais ou te-
Estatuto do Jornalista? boa. Há também uma qualificação dos levisões, jornalistas ou direcções de in-
A nossa preocupação essencial é formação, se atrevem a considerar mui-
mudar o Estatuto tentando um A TERCEIRA CONDIÇÃO FUNDAMENTAL PARA tas vezes informações anónimas de uma
novo equilíbrio entre direitos e só fonte e a lançar suspeitas sobre perso-
responsabilidades. Direitos, es- UM PROVEDOR É SER CAPAZ DE LIDAR, COM nalidades e figuras conhecidas. A segun-
clarecendo sobretudo três situa- da tendência negativa é a confusão entre
ções: primeira, aquela que con- TODA A INDEPENDÊNCIA, COM A ADMINIS- ser jornalista e ser “pé de microfone”
sagra que os jornalistas não (como vocês jornalistas dizem). Há al-
recebem orientações de quem TRAÇÃO E AS DIRECÇÕES DE PROGRAMAÇÃO guma preguiça que faz com que o jor-
não está na cadeia da informa- nalista possa estar mais sentado na se-
ção, isto é, de não-jornalistas a E INFORMAÇÃO. cretária à espera que a fonte lhe telefone
não ser que eles sejam directo- a contar isto ou aquilo. Terceira tendên-
res de informação; a segunda é actuali- jornalistas portugueses, designadamente cia negativa é a indistinção, sobretudo
zar a cláusula de consciência; e a tercei- com formação académica. Não sou nada mais evidente no panorama audiovisual,
ra, tentar resolver o problema de como recto naquelas teorias de que hoje os jor- entre informação e entretenimento.
é que o direito ao sigilo profissional do nalistas são demasiado novos, imaturos e Continuo a achar que uma das regras de
jornalista se compagina com as termi- que as Universidades não ensinam nada. ouro do jornalismo é a de que haja uma
nações genéricas do código de proces- Também acho que temos um pluralismo clara distinção entre facto e opinião e,
so penal. de orientação informativa - mais até que portanto, quando vejo na imprensa ou
opinativa – relativamente razoável. na televisão misturarem-se as duas coi-
E em relação às responsabilidades? Quanto às tendências negativas: a pri- sas, acho que estamos a prestar mau ser-
Quanto a isso, achamos que é também meira é a confusão entre jornalismo de viço ao jornalismo.
possível ser mais claro, tornar mais investigação e jornalismo de suspeita. É

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| Actualidade/ Imprensa |
Jornal Público lança nova revista

Comunicar com os
“tweenies”
O mercado da imprensa para os mais novos está
a crescer. A Kulto, especialmente produzida para
pré-adolescentes, tem como objectivo entreter e
chegar mais perto do público jovem | Por Cátia Candeias |
“Não é uma revista para crianças, mas quer a marcas de produtos de
para os tweenies”, afirmou Luís Pedro entretenimento, quer aos pró-
Nunes, editor responsável pela Kulto, prios jornais e newsmagazines.
em resposta à Media XXI. Dirigido a um Uma das razões apontadas por
target “entre os 9 e os 13 anos”, o res- Luís Pedro Nunes é o facto de
ponsável conta que “em 2004 quando o os tweenies serem “um nicho
projecto da Kulto foi apresentado à di- de mercado poderosíssimo”,
recção, já existia o Público na Escola e o ainda que sejam consumidores
Publicozinho” e isso “permitiu a vira- “altamente críticos e exigentes,
gem mais incorrecta [da Kulto] para voláteis e muito desconfiados”.
uma linguagem menos obsessivamente
pedagógica”. No entanto, ainda que não
assuma uma orientação eminentemente | Do papel ao blogue |
pedagógica, o jornalista acredita que a Associado à Kulto, foi criado o blogue que chegam diariamente à caixa de cor-
nova publicação ensina muitas coisas com o mesmo nome, com o objectivo reio do blogue”, havendo mesmo al-
aos mais novos, desde receitas a expe- de promover a interacção entre os leito- guns leitores que enviam emails todos
riências que invocam a ciência, passan- res e a própria revista. Só na primeira os dias e mais do que uma vez.
do pelas “dicas” que são dadas sobre os semana, registaram-se 12 mil visitas,
vários temas abordados. um número elevado para uma publica-
Produzida em parceria com as Produ- ção acabada de sair para as bancas. Dia- | Mercado a crescer |
ções Fictícias, a revista é escrita e ilustra- riamente são colocados “dois a três Ainda este mês, está previsto o lança-
da por pessoas com experiência na área posts”, que incitam à participação e aos mento de outro título, para meninas dos
de produção para públicos infanto-juve- comentários dos mais novos, como ex- 5 aos 15 anos, a revista Bratz, inspirada
nis. É o caso de colaboradores como plicou Rute Gil, a sub-editora da publi- na versão inglesa original. Publicada pe-
Mário Botequilha, que escreveu o Hugo, cação e responsável pela actualização do la Publibónus, editora recentemente lan-
ou de Patrícia Castanheira, que escreveu blogue. Além disso, o blogue assume-se çada pelo empresário João Paulo Fonse-
o Max e o Clube Disney. Daí que o con- como um espaço para actualizar a edi- ca e por Rocha Vieira, jornalista e
ceito desta publicação não recorra a jor- ção em papel (capa e artigos de desta- ex-director da revista Focus, a Bratz pre-
nalistas, mas a autores criativos, havendo que). “Com o blogue queremos conhe- tende concorrer com a Barbie e a Witch,
apenas uma sub-editora a tempo inteiro. cê-los ao máximo”, promovendo a da Edimpresa, e com a Katie e a Linda
Depois do fenómeno da Visão Júnior, “identificação” e a “materialização disso Princesa, da PCD Publishing. A tiragem
lançada no Verão de 2004, o mercado de na própria revista”, disse Rute Gil. A res- rondará os 30 mil exemplares e será
publicações dirigidas aos mais novos co- ponsável acrescenta que o mais “difícil vendida a dois euros.
meçou a crescer, com títulos associados está a ser dar resposta a tantos emails

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MEDIA XXI N.º 79 1/14/70 2:41 PM Page 35
EDIÇÃO 81_1 6/10/70 1:06 AM Page 34

| Dinâmicas de Comunicação e Sociedade da Informação |

Medir Conteúdos à “La Carte”


audiências
A Ericsson acaba
A NOP World em de disponibilizar
parceria com o Traf- no mercado por-
fic Audit Bureau of tuguês o Fast Ser-
Media Measurement vice Launch, uma
estabeleceu uma par- solução de conte-
ceria para desenvol- údos com servi-
ver um sistema de medição Visibility Adjustment Index ços de dados,
(VAI). O objectivo é determinar quantas pessoas vêem acesso a notícias,
efectivamente os anúncios nos outdoors. A dimensão, lo- música, despor-
calização e formato de colocação são estudados tomando to, câmaras e
em consideração o tráfego pedonal e o de veículos. Os controlo de trân-
testes deste novo sistema começam este verão, com im- sito com poten-
plementação para daqui a um ano. cialidades de banda larga, para operadores de telecomu-
Para medir o tráfego da Internet, a Marktest lançou recen- nicações e empresas produtoras de conteúdos de
temente um novo sistema. O projecto Sim.net - Sistema qualquer dimensão. A grande novidade é facultar uma
Integrado de Medição Internet integra o Netpanel e o base de lançamento que engloba desde a identificação,
Netscope e apresenta-se como uma solução que integra criação, testes e integração de serviços, à segmentação e
as tecnologias user-centric e site-centric para fornecer da- marketing dos mercados. A Ericsson ainda dispõe de
dos mais precisos sobre a movimentação dos utilizadores uma solução em regime de alojamento de portais “de
da Internet. linha branca” com possibilidades de personalização e
pré-configuração de conteúdos móveis de música, jo-
gos, vídeos, downloads, entre outras funcionalidades.

Mudanças de direcção

A notícia da demissão de Luís Osório da direcção da Ca-


pital junta-se à saída de Pedro Gonçalves da direcção do
Nova frequência
Blitz, jornal do qual fazia parte desde 1994 e cuja lide- Cidade FM
rança assumiu em 2003. Conforme noticiou o Diário de
Notícias (DN), a saída deveu-se à insatisfação e sentimen-
to de incapacidade para levar o Blitz “a um ponto satisfa- Depois da deliberação da Alta
tório para ambas as partes”. Até ao final do ano,Vítor Ra- Autoridade para a Comunicação Social (AACS) que auto-
ínho irá assumir a direcção interina do título, que celebra rizava a alteração do serviço de programas da Voxx em
20 anos, acumulando com as suas funções de editor da Lisboa e no Porto para emissão Cidade FM nestas fre-
revista Única, do jornal Expresso. quências, a Media Capital Rádios (MCR) já anunciou a
A saída “irreversível”, como noticiou o Meios e Publici- mudança de frequências e criação de um novo produto
dade (MP), de Luís Osório da Capital está associada à dis- radiofónico para a frequência da Cidade FM em Lisboa.
tância que se criou entre o jornalista e a administração do A Cidade consegue com esta mudança de frequência
título. Contratado para fazer renascer a Capital, as dificul- chegar a mais ouvintes e a MCR lança mais um formato
dades e a ausência de apoio para a prossecução deste ob- para o mercado radiofónico português. A Foxx FM será a
jectivo terão levado Luís Osório a abandonar o projecto. nova estação, com uma programação de formato de mú-
De acordo com a notícia do MP, também Rogério Rodri- sica urbana negra, ainda em definição e com arranque
gues, director-adjunto, vai deixar o título. definido para o fim do verão, na frequência dos 107.2.

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EDIÇÃO 81_1 6/10/70 1:08 AM Page 35

TMN Mais banda larga em Portugal


prepara
força O ano de 2004 registou
um crescimento na ordem
3G dos 70,6% relativamente ao
número de clientes de In-
A TMN pre- ternet de banda larga no
tende que país, de acordo com os dados da Autoridade Nacional das
até 2006, um milhão de clientes use diariamente a sua Comunicações (Anacom). Passou-se assim de 503 mil
rede de terceira geração (3G). A TMN anunciou recente- clientes, registados até ao final de 2003, para 858 mil
mente “que vai adoptar uma estratégia pro-activa de in- clientes, no final de 2004. Os números divulgados pela
centivo à transição para os serviços de terceira geração, Anacom revelam também que os acessos por ADSL cresce-
não se limitando a esperar que essa migração se faça no ram mais rapidamente em comparação com os acessos
ciclo normal de substituição de equipamentos”. O preço, através de modem por cabo. Quanto à penetração da In-
factor de peso na introdução de novas tecnologias já não ternet de banda larga, esta situou-se nos 8,2%, sendo 4%
é relevante, segundo aquela operadora de telecomunica- referente ao ADSL e 4,2% no cabo. Baseando-se na análise
ções. Já existe um conjunto de serviços, como o Vídeo- dos dados do terceiro trimestre de 2004, a Anacom com-
mail e o 12400 Vídeo, únicos em Portugal, e conteúdos parou ainda a taxa registada em Portugal com a média eu-
exclusivos do portal i9 3G. A grande novidade é o Vídeo ropeia, e constatou que os 7,1% portugueses se situam
Sharing, baseado no conceito “see what I see”, permite abaixo dos 7,4% referentes à média da Europa.
que os clientes partilhem conteúdos multimédia durante
uma chamada de voz, apenas disponível, por enquanto,
no terminal Nokia 6680.
Destak nas praias

O diário gratuito Destak está


“Pay Tv” até ao final do ano a preparar uma edição espe-
cial de Verão que deverá ser
A Sonaecom quer lançar no segundo semestre deste ano distribuída em Agosto em
o sistema “Triple Play” (televisão, internet e telefone). várias zonas balneares do
Até Dezembro, a empresa liderada por Paulo Azevedo país. A edição especial terá
pretende atingir os 20 mil clientes no serviço de “Pay uma tiragem de 200 mil
Tv”; número que deverá chegar aos 200 mil nos próxi- exemplares e os conteúdos
mos dois anos. Como avançou o Diário Económico, a serão maioritariamente lú-
RTP será o primeiro fornecedor de conteúdos, estando dicos e com temáticas sobre
ainda em fase de negociação os acordos com a SIC (da as férias, como afirmaram à
Impresa), com a TVI (da Media Capital) e com a Portu- Lusa os responsáveis pelo tí-
gal Telecom, que detém a Sport TV e outros canais de ci- tulo. Esta acção tem também
nema. O projecto de “Pay Tv” implicou um investimen- um objectivo comercial, co-
to na ordem dos cinco milhões de euros, sem contar com mo confirmou António Zilhão, director comercial do títu-
os 300 milhões investidos no sistema Internet Protocol lo, na medida em que vai “possibilitar aos anunciantes co-
(ou IP) que serve de infra-estrutura ao serviço de “triple municar com os veraneantes nas praias nacionais”.
pay”. Até à data do lançamento, este serviço conta ter Também a versão espanhola do gratuito Metro anunciou
uma cobertura de 45% do território nacional, apostando estar a preparar algo semelhante. Metro Sol será o nome
fortemente nas regiões de Lisboa e Porto (com 95% de da edição que vai ser distribuída no mês de Agosto, junto
cobertura). às zonas mais visitadas de Espanha.

Media XXI | Maio-Junho 2005 | [ Página 35 ]


EDIÇÃO 81 6/9/70 8:40 PM Page 36

| Reportagem Comunicação |
Canais de Televisão Internos

Televisão ao
Minuto
Há uma nova tendência na publicidade e na
comunicação: canais de televisão produzidos e
estrategicamente colocados junto ao consumidor
| Por Paula dos Santos Cordeiro e Daniela Gonçalves |

Os denominados canais internos de te- anunciantes, o MCO pretende


levisão são um novo suporte de comu- ser um meio de comunicação
nicação entre marcas, produtos e em- directo, apelativo e eficaz, e “re-
presas que estão assim, mais próximas forçar o seu posicionamento de
dos seus clientes. Colocados estrategica- líder em inovação, no mercado de
mente em locais de grande circulação – outdoor”, explicou o responsável.
bombas de gasolina, meios de transpor- O MCO transmite “loops vir-
te, centros comerciais – estes canais de tuais de 5 minutos”, que corres-
televisão têm uma programação muito ponde ao período de tempo mé-
especial, dedicada a quem circula. Que dio de espera pelo transporte. O
tipo de televisão é esta, que nos dá notí- importante, segundo Manuel Si-
cias e publicidade enquanto esperamos mões de Almeida, é “informar e
pelo metro, ou enquanto pagamos o de- entreter durante o período de
pósito de gasolina? espera”. Os conteúdos são varia-
dos e produzidos pela Media Ca-
| «TVer» publicidade | pital e empresas exter-
A velocidade da co- nas, com actualização
municação moderna diária.
obriga a novas e me- Quanto ao sistema téc-
lhores estratégias de nico que está por de-
marketing e campa- trás da produção de
nhas de publicidade conteúdos, o director
mais inovadoras. O da MCO indicou que
MCO é um canal de “a gestão operacional
televisão interno estra- da MCO-TV é efectua-
tegicamente instalado no metropolitano. da através de um sistema configurado Transtejo e Soflusa, bem como ao metro
O objectivo, segundo o director, Manuel pela “Mobbit Systems e as comunicaçõ- do Porto, muito embora “existam al-
Simões de Almeida, é oferecer “um ser- es baseadas na solução IPTV”, explicou. guns contactos exploratórios no sentido
viço de qualidade aos utilizadores do Explorar o canal MCO-TV noutros trans- de crescimento do projecto noutras áre-
metro de Lisboa”, suavizando o tempo portes é a próxima meta, pelo está pre- as que não de transportes públicos”, re-
de espera. Ao dirigir a sua estratégia aos visto alargar a cobertura à Carris e STCP, matou Manuel Simões de Almeida.

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EDIÇÃO 80 VF_2 4/7/70 2:29 AM Page 37
EDIÇÃO 81 6/9/70 8:41 PM Page 38

| Reportagem Comunicação |

têm conteúdos institucionais, info-


| TV no Shopping |
InStorevision – nova tainement e publicidade.
Os centros comerciais são, actualmente, tecnologia
locais centrais na difusão de conteúdos | TV na Farmácia |
promocio-
TV Se é tão importante, actualmente,
nais. A SIC- Criado em 2002 atingir o consumidor nos locais on-
Indoor sur- pela Fujitsu, o inStorevision é uma pla- de ele circula, a realidade dos canais
giu para ser taforma multimédia para gerir de forma de televisão internos estende-se às
“um meio centralizada e planeada uma vasta rede farmácias que não ficaram alheias à
de comuni- de meios digitais, localmente dispersos, nova tendência de comunicação. Foi
cação gerador de bem-estar para os visi- através da Internet. O conceito, total- neste contexto que surgiu, em Por-
tantes dos centros comerciais, e um veí- mente novo em Portugal está agora “em tugal, em Junho de 2004, a Farmácia
culo promocional para os lojistas e fase de consolidação”, conforme expli- - TV. Informar e formar os utentes na
investidores publicitários em geral”, ex- cou Susana Soares, Marketing Solutions farmácia, é o principal objectivo do
plicou o director, Rui Monteiro. Os con- Specialist da empresa. Este sistema per- canal de televisão interno de 500
teúdos informativos são diversos e são mite aplicações diferenciadas, como se- farmácias portuguesas. Para Diogo
difundidas “generalidades e curiosida- jam o inStorevision for Advertising, Cruz, responsável pelo projecto, as
des, apanhados de desporto radical, de- uma forma “ágil, com grande impacto mais valias da existência deste supor-
senhos animados e roteiros turísticos, e custos muito reduzidos de comunicar te de comunicação são evidentes.
documentário sobre vida selvagem e mensagens institucionais”, o inStorevi- “Eleva-se o nível da intervenção do
desfiles de moda”, caracterizou o direc- sion for Corporate Business, ou a opti- Farmacêutico no domínio da pro-
tor. Afirmou ainda que os conteúdos do mização do “atendimento ao público moção da saúde, valorizando a far-
canal são adaptados e moldados a um através de uma gestão eficaz das filas de mácia e conferindo características
target diversificado, tendo por base “o espera e integração com dispositivos únicas de interacção com o utente”.
dia da semana, a hora do dia e a altura móveis que garantem a maior comodi- Encontrando-se ainda numa fase ex-
do ano”. Em vista está a consolidação da dade de clientes e cidadãos”, como in- perimental, a Farmácia - TV disponi-
posição e conseguir “durante os próxi- Storevision for Queue Management. biliza aos utentes uma programação
mos dois anos”, que o canal se transfor- tripla: conteúdos institucionais que
me “num complemento dos canais ge- dades de comunicação”, explicou Antó- dizem respeito à farmácia, aos farma-
neralistas e de cabo”, projectou Rui nio Galvão Lucas da Dot One. A inova- cêuticos, às instituições e parceiros do
Monteiro. ção prende-se com a forma como “vem sector; conteúdos técnicos comerciais,
substituir meios banalizados como o co- que se centram na promoção de fárma-
| TV para todos | rreio postal e electróni-
Nas gasolineiras e nos foyers das salas de co, web sites e intranets,
cinema, a DotOne é a empresa respon- cartazes, brochuras e
sável pela Advertising TV. Produzindo os outdoors” acrescentou.
canais da Repsol, Cepsa TV, Galp TV, Cas- Operando ao nível da
telo Lopes e Saldanha Residence TV, este concepção e gestão do
grupo “tem-se especializado na criação canal, bem como da ex-
de canais à medida dos seus clientes, ploração publicitária, o grupo aposta na cos não sujeitos a receita médica. A pro-
propondo e gerindo uma grelha de con- produção própria e em parcerias para os dução dos conteúdos comerciais cabe
teúdos que se adequam efectivamente conteúdos. Para além da publicidade, tal aos parceiros da indústria farmacêutica
ao target das empresas, e às suas necessi- como os restantes canais internos, este que participam neste projecto, e a dos
institucionais e técnicos cabem à Asso-
ciação Nacional de Farmácias (ANF),
em colaboração com a LPMCOM e ou-
tras instituições do sector.

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EDIÇÃO 81 6/9/70 8:42 PM Page 39

| Actualidade/ Tecnologia |
Rumos para o Ensino Profissional D.R.

Escola Digital
Criada para dar resposta às necessidades do mercado de
trabalho da economia digital, a EPTD dá formação ao nível
do 12º ano | Por Dulce Mourato | Francisco Miguel, director da Escola
Profissional de Tecnologia Digital Rumos
conhecer em Maio a novos alunos,
através de um dia aberto. Criado no de Nível III. Como requisito de entrada
seio de uma empresa dedicada à é exigido, no mínimo, o 9º ano comple-
prestação de serviços de formação e to no início do ano lectivo que se inicia
certificação técnica de profissionais em Setembro.
de informática, este estabelecimento O projecto da Escola Profissional de Tec-
de ensino disponibiliza três cursos nologia Digital Rumos existe há cinco
na área informática e multimédia, anos e, de acordo com Francisco Mi-
nomeadamente, Técnicos de Multi- guel, director desta instituição, o objec-
média, Técnico de Gestão e Progra- tivo é “responder eficazmente às expec-
A Escola Profissional de Tecnologia Digi- mação de Sistemas Informáticos e Técni- tativas e solicitações dos alunos,
tal da responsabilidade da Rumos (a cos de Gestão de Equipamentos melhorando a nossa oferta de ano para
empresa de formação e certificação téc- Informáticos, que conferem equivalên- ano”.
nica na área da informática), deu-se a cia ao 12º Ano e Certificado Profissional

Convergência da comunicação: uma solução para as empresas

Comunicações IP
Redução de custos, melhoria dos serviços e aumento
dos lucros são os principais objectivos das
comunicações IP | Por Cátia Candeias |

Organizado pela IBM e pela Cisco para canais da Cisco em Portugal referiu que
apresentar novas soluções na área das a convergência “ajuda a criar novas menu do restaurante, à meteorologia.
comunicações IP, o seminário de Comu- oportunidades”. E exemplificou com o Jorge Ferreira, gestor dos serviços de re-
nicações IP revelou a nova tendência da caso do sector da hotelaria que optou des e conectividade da IBM portuguesa,
convergência desenvolver reunida numa por utilizar este novo sistema de comu- referiu existirem já cerca de 2500 tele-
rede única de comunicações IP, onde as nicação. “O telefone deixou de ser o bi- fones instalados no nosso país. O ideal
tecnologias de voz, dados e vídeo estão belot em cima da mesa de cabeceira pa- seria, como afirmou, “migrar para um
integradas, com a finalidade de poupar ra ser o computador que permite várias ambiente IP a 100%”. Uma situação que
custos e aumentar a produtividade das soluções”, reconheceu a responsável. se prevê para “um futuro próximo”,
empresas. Em hotéis como o Plaza, em Dublin, por acrescentou.
Sandra Freitas, gestora comercial e dos exemplo, é possível consultar desde o

Media XXI | Maio-Junho 2005 | [ Página 39 ]


EDIÇÃO 81 6/10/70 8:37 PM Page 40

| Entrevista/ Tecnologia |
Entrevista a David Bowdler (EMEA) e Jorge Ferreira (IBM)

Comunicações IP e o
futuro das redes
Dois olhares sobre a tecnologia que
pretende revolucionar o mundo da
comunicação | Por Cátia Candeias |

Em entrevista à Media XXI, David Bow- municações IP so-


dler, responsável pela região EMEA (Eu- mos mesmo líderes
ropa, Médio Oriente e África) da IBM e a nível mundial,
Jorge Ferreira, gestor dos serviços de re- exemplo da solução
des e conectividade da IBM portuguesa, de videovigilância IP.
D.R.
falaram sobre a tecnologia das comuni- De um ponto de vis-
cações IP e o futuro das redes. Dois pon- ta global, concordo com o David quan- tre um telefone tradicional e um telefo-
tos de vista que alinham com a tendên- do ele diz que estamos num estádio de ne IP em termos de preço dos equipa-
cia da convergência. amadurecimento da solução. O que vai mentos, o IP é mais caro. Mas temos de
acontecer nos próximos tempos é uma pensar que o telefone IP não é só um te-
Os anos de 2003 e 2004 mostraram que as explosão de adesão à solução de comu- lefone: tem um conjunto de outras ca-
comunicações IP foram um êxito no mercado nicações IP, em particular da telefonia IP. pacidades e só quando calculamos o re-
europeu. Como prevêem que seja o ano de Isto resulta de um conjunto de aplica- torno de investimento tendo em conta
2005? ções que já se encontram desenvolvidas toda a produtividade adicional que po-
David Bowdler (DB): Gosta- para obter mais demos retirar daquele aparelho, é que
ria de dizer explosivo. Exis- EM DETERMINADAS ÁREAS produtividade e podemos ter o tal custo efectivo da solu-
tem vários factores que em para reduzir o ção. Por isso, não podemos considerar
conjunto podem contribuir DE COMUNICAÇÕES IP período de retor- que a solução da telefonia IP é muito
para isso: a tecnologia está no do investi- dispendiosa.
SOMOS MESMO LÍDERES A
hoje mais disponível (penso mento, o que
que atingimos o ponto na NÍVEL MUNDIAL, EXEMPLO torna o negócio Considerando o tecido empresarial
curva da sua adopção), e as muito mais ali- português, considera que é fácil sensibilizar
empresas conseguem receber DA SOLUÇÃO DE VIDEOVIGI- ciante agora do os empresários para isso?
um retorno do investimento que quando sur- JF: Depende muito de quem decide o
muito rapidamente. Vemos LÂNCIA IP. giu no mercado. caminho a seguir nas empresas. Se redu-
cada vez mais pessoas a apre- zir a comparação ao preço, será muito
ciarem este novo modo de comunicar, As empresas portuguesas têm capacidade difícil. Com este evento tentamos sensi-
baseado na convergência das redes. para suportar um investimento desta bilizar as pessoas presentes de que isto é
natureza? muito mais que um telefone com cha-
E em relação a Portugal? JF: Já existe um conjunto de empresas madas de voz. Hoje já temos muitos
Jorge Ferreira (JF): De uma forma geral, que dominam este tipo de soluções e empresários que vêem esta solução a
Portugal tem estado a acompanhar a têm tanto potencial para aderir a estes longo prazo, com o conjunto de aplica-
evolução tecnológica num conjunto de serviços como empresas de outros paí- ções adicionais.
áreas. E em determinadas áreas de co- ses. Quando comparamos os preços en-

[ Página 40 ] | Maio-Junho 2005 | Media XXI


EDIÇÃO 81 6/10/70 8:37 PM Page 41

Esta solução aplica-se D.R.


apenas a grandes empre-
sas ou também é aplicá-
vel a pequenas e médias
empresas?
DB: Penso que se apli-
ca a todos os tipos de
empresas, mesmo a
empresas individuais;
ainda que as soluções
difiram em função do
tamanho das empre-
sas.
JF: Até porque existem
dentro das soluções de
comunicação IP mó-
dulos adequados à di-
mensão das empresas.

Em Portugal que tipo de


clientes é que têm?
JF: Temos essencial-
mente clientes da área
do sector público e aí podemos conside- mais simples antes da adopção e do mentadas dentro das empresas. O futuro
rar que são empresas grandes. Mas te- consumo de massa. Mesmo outros ser- passará pela utilização da Internet para
mos também clientes de pequenas e viços relacionados com a tecnologia IP, satisfazer as necessidades de comunica-
médias empre- ou com plataformas ção entre as empresas e os cidadãos/
sas (PME), na A REDE GLOBAL DEVERIA TORNAR da Microsoft, ainda consumidores.
área do retalho, exigem alguma ex- JF: O grande desafio para uma rede glo-
por exemplo TODAS ESTAS APLICAÇÕES MAIS TRANS- periência por parte bal é de facto a capacidade de qualquer
(ainda que esta dos utilizadores pa- utilizador poder operar em qualquer
definição de PARENTES PARA O UTILIZADOR, SEM ra configurarem e parte do mundo de uma forma comple-
PME seja variá- compreenderem o tamente transparente. O desafio está por
EXIGIR TANTO DELE.
vel). A instala- sistema. detrás da rede em si. Está ao nível das
ção mínima aplicações e da capacidade destas serem
que temos é à volta de 15 telefones IP, o Como vê o futuro da rede global das capazes de identificar e perceber o esta-
que para nós corresponde a uma pequena comunicações? do dos utilizadores em cada momento;
empresa. DB: Apesar de ter muitas aplicações, ain- e desse modo a comunicação passa a ser
da somos obrigados a despender uma completamente transparente.
Pensa que os cidadãos que usarão esta boa parte do tempo para as compreen-
tecnologia precisarão de formação inicial ou der e configurar. A rede global deveria E essa transparência passa por...
é fácil de trabalhar com ela? tornar todas estas aplicações mais trans- JF: Por exemplo, quando utilizo o meu
DB: Julgo que inicialmente este sistema parentes para o utilizador e a Internet portátil em Nova Iorque este deveria
será apenas para as empresas e para os poderia funcionar como um elemento imediatamente configurar-se para per-
cidadãos mais familiarizados com a In- integrador de todos esses sistemas. Por mitir o meu acesso a qualquer tipo de
ternet. Mas continuo a pensar que todo outro lado, quando olhamos para a cres- aplicação como se eu estivesse no meu
o sistema desta tecnologia tem de ser cente convergência entre diferentes apli- local de trabalho. Esse é o grande desafio
simplificado. Defendo que algumas apli- cações, muitas delas são interessantes e para a rede.
cações da tecnologia devem ser tornadas inovadoras, mas todas estão a ser imple-

Media XXI | Maio-Junho 2005 | [ Página 41 ]


EDIÇÃO 81 6/9/70 8:44 PM Page 42

| Actualidade/ Sociedade da Informação |


Iniciativa privada equipa escolas com tecnologia

PT Escolas põe a
banda larga no mapa
A Portugal Telecom lançou “A aventura do conhecimento PT Escolas”, um concurso
para criar a primeira Escola do Futuro PT em Portugal | Por Dulce Mourato |
P. T.
Num momento em que o plano tecno-
lógico tarda em se aplicar, a Portugal Te-
lecom lançou “A aventura do conheci-
mento PT Escolas”, um concurso para
aproximar a banda larga, os conteúdos e
o entretenimento digital, através dos
serviços das participadas PT, de todos os
estabelecimentos de ensino dos distritos
concorrentes de Norte a Sul do País.
Através de uma mega acção de promo-
ção, a Portugal Telecom e as suas empre-
sas participadas (com uma equipa de
cem pessoas a tempo inteiro) percorre-
ram o país à procura de jovens que utili-
zassem as Tecnologias da Informação e
da Comunicação (TICs) de um modo
pedagógico para a resolução das suas
dúvidas escolares. O concurso decorreu Em plena performance tecnológica as equipas/clãs pesquisam as respostas online.
ao longo de várias etapas em escolas
concorrentes de dez distritos, cujas várias escolas concorrentes, procurou dora (Escola do Futuro PT) será equipa-
equipas/clãs competiram entre si sobre aliar o conhecimento das novas tecnolo- da com computadores em todas as salas
temas das comu- gias à qualifica- de aula; quadro electrónico inteligente,
nidades/tr ibos ção para o con- táctil, com capacidade de navegação na
(Glammies - arte, curso. Outra das Internet, gravação dos apontamentos,
cinema, design, iniciativas foi o sumários dos professores e descarga
moda; Soundies - Tour Sapo Cha- dessa informação para os computadores
música, concertos; llenge que esteve dos alunos; acesso de banda larga, assim
Sporties - despor- em todas as capi- como cobertura WI-FI (acesso sem fios)
to e saúde; Techies tais de distrito em toda a escola, um servidor de mail,
- ciência e tecno- aproximando o sistema de gestão escolar e respectivas
logia; Pro-activists universo escolar plataformas, a criação de um portal e de
- causas, actuali- do ambiente tec- uma Intranet de escola, equipamentos
dade, livros, cultu- nológico, me- de instalação SMS, quiosques multimé-
ra e viagens) para equiparem tecnologi- diante o portal turma.sapo.pt. dia com informação estratégica, uma
camente o local onde aprendem. Deste evento saiu uma equipa/clã que Mediateca e instalação gratuita dos ser-
O projecto PT Escolas principiou com representou o distrito, a respectiva esco- viços de acesso Internet de banda larga
um concurso on-line em que a pesquisa la e se qualificou para a fase decisiva do em casa de todos os alunos e docentes.
e a cooperação das equipas de alunos de concurso, a 2 de Julho. A escola vence-

[ Página 42 ] | Maio-Junho 2005 | Media XXI


MEDIA XXI N.º 79 1/14/70 3:15 PM Page 71
EDIÇÃO 81 6/9/70 8:45 PM Page 44

| Actualidade/ Rádio |
Novo sistema de informações de trânsito

Trânsito ao minuto
A TeleTráfego apresenta um novo sistema de informações de trânsito nacional para
rádio e televisão via Internet | Por Paula dos Santos Cordeiro |

Criada há cerca de dois anos por um


conjunto de profissionais experientes do
universo radiofónico português, a Tele-
Tráfego assume-se como principal for-
necedor de serviços de informação de
trânsito das estações de rádio nacionais,
locais e regionais.
Presente na Internet com um portal que
disponibiliza a informação em tempo
real para complementar os serviços in-
formativos de voz, gravados pela própria
TeleTráfego e enviados para as diferentes
estações, a organização conta com uma
equipa distribuída por todo o país que
fornece informação relativa ao tráfego
nas diferentes regiões. João Reis

| Trânsito profissional | os recursos de que dispomos e a equipa dios, a Teletráfego tem apostado noutro
“A ideia da Teletráfego esteve em ama- de jornalistas”, bem como “tráfego e tipo de empresas. As frotas de transpor-
durecimento durante algum tempo”, outros conteúdos para a sonoplastia das tes e as empresas de logística têm sem-
explicou à MediaXXI Anastácio Rosa, estações de rádio” explicou o responsá- pre necessidade de conhecer as actuali-
responsável pelo projecto. Surgiu depois vel. Obtida junto de fontes oficiais, a in- zações do estado do trânsito,
de ter sido detectada “a falha nas esta- formação de trânsito é disponibilizada especialmente nas grandes cidades, pois
ções de rádio no que diz respeito a in- de várias formas: electronicamente, para “não há nada pior para uma empresa
formações de trânsito que, com este ser- ser lida na estação emissora, ou gravada destas do que ter os seus camiões para-
viço, pretendemos colmatar”, explicou. pelos profissionais da TeleTráfego, para dos no trânsito”, acrescentou Anastácio
No panorama nacional, as rádios locais ser integrada na emissão da estação. Rosa.
são as que mais sofrem esta lacuna, por No que respeita ao investimento das rá- Os conteúdos disponibilizados por esta
falta de meios e recursos humanos, pelo dios locais, o “cenário de crise que o empresa incluem também a publicida-
que a Teletráfego procura oferecer um país tem vindo a atravessar tem apertado de. “Trabalhamos essencialmente com
conjunto de serviços de informação di- o investimento”, explicou o responsável rádios locais, onde muitas vezes, há falta
versificado: de carácter geral “notícias e da empresa. As “dificuldades financeiras de vozes”. É um facto que em muitas si-
outros conteúdos, que produzimos com do país e, em particular deste ramo de tuações, “é a mesma pessoa que grava a
actividade” têm limitado a ex- publicidade, os jingles da estação e mes-
pansão deste serviço na gene- mo, lê as notícias”, pelo que, com este
ralidade das localidades pelo serviço, “procuramos profissionalizar o
que, dado o facto deste ser aspecto sonoro das rádios locais”, criar,
“um serviço inovador” e que uma “imagem de marca”, concluiu
pode ser usado por outro tipo Anastácio Rosa.
de empresas para além das rá-

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| Actualidade/ TV |
Casa da Imagem

As possibilidades da televisão
regional

Invicta
TV
Novo canal temático português
inicia emissões para público
do Grande Porto | Por Filipa Cerol Martins |

A Invicta TV, o mais novo canal temático


português, dirigido ao público do Por- proximidade”, aos níveis local e regional, de 1995, emissões temáticas para opera-
to, promete arrancar com emissões ex- conta já muitos anos de existência. dores por cabo, o que inclui as emissões
perimentais no mês de Julho. A distri- A partir de 1982, foi permitido às re- regionais. Foi neste contexto que surgi-
buição fica a cargo da rede TvTEL, giões autónomas constituírem os seus ram as mais recentes experiências nesse
operadora de televisão por cabo da re- canais de televisão, entre eles a Euskal âmbito, ambas de curta duração. O CNL
gião. Nesta fase experimental as emissõ- Itarri Telebistal e a Compañia de Rádio e - Canal Notícias de Lisboa deu início às
es terão uma duração de 5 horas diárias. Television de Galicia, como forma de suas emissões em Setembro de 1999 e,
Divulgado desde Dezembro de 2004, manter vivas suas as especificidades cul- dois anos mais tarde, foi substituído pe-
este projecto é desenvolvido pela Fi- turais e linguísticas. Mas um ano antes a la SIC Notícias. A NTV iniciou a sua acti-
nanzza Investments em parceria com o pioneira Rádio Televisió Cardedeu havia vidade em Outubro de 2001, mas em
Grupo Norte Rádio e Televisão, no qual sido a primeira a proporcionar emissõ- Maio de 2004 foi substituída pela RTPN.
a empresa luso-americana detém 95% es locais, comunitárias e de âmbito Do lado do serviço público, também as
do capital. A sua mais valia e o seu gran- municipal. emissões a partir dos centros regionais
de desafio estão no que escapa às televi- A primeira transmissão da televisão de da RTP foram substituídas por um pro-
sões de âmbito nacional, ou seja, uma Cardedeu aconteceu a 7 de Junho de grama único, com emissão a partir de
ligação mais próxima à comunidade. 1980 e abriu o precedente a todas as Lisboa.
Por isso, a programação, desenvolvida iniciativas que se seguiram. Hoje, existe De carácter público ou privado, até à da-
em parceria com organismos externos, em Espanha um considerável número ta ainda não foi criado o contexto para
prevê-se alternativa: “entendemos que de televisões locais que utiliza sobretudo um desenvolvimento sustentado de tele-
não podíamos nem devíamos ter uma a transmissão por cabo. Andaluzia, Cata- visões regionais ou locais em Portugal.
grelha de competição com outros ca- lunha e Valência são algumas das regiões Muitas questões têm sido debatidas, co-
nais, não iremos investir do entreteni- mais povoadas pelas televisões locais, às mo capacidade do mercado publicitário
mento mas sim na cultura e na informa- quais se juntam novas experiências ur- ou a própria identidade dos canais de
ção”, defende Vítor Fernandes, banas, como por exemplo as redes de televisão local ou regional, para os quais
administrador do canal. transportes ou os estabelecimentos de será preciso definir competências espe-
ensino que já contam com a sua própria cíficas. Mesmo assim, as novas possibili-
| Pioneiros em Espanha | transmissão televisiva. dades do universo digital e o impulso
Na vizinha Espanha, à semelhança do que dado por novas iniciativas poderão vir a
acontece em muitos outros países da Eu- | “Televisão de proximidade” | tornar possível esse cenário.
ropa, a experiência com a “televisão de O quadro legal português permite, des-

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| Conferência/ EMMA |
Conferência Internacional reúne “gurus” da gestão dos media

Mercado Europeu
em análise
As políticas e as tendências dos mercados de vários países europeus estiveram em
debate no segundo encontro da European Media Management Education Association
(EMMA) | Por Cátia Candeias |
Robert Picard, professor de economia na Europa. Se por um lado se verifica vel” e em que as decisões oscilam em
dos media, foi o primeiro orador do en- que “o controlo nacional das políticas função dos custos e dos riscos.
contro. Na sua intervenção, dedicada às económicas está a decrescer”, por outro Dos estudos que tem conduzido, Gabaro
políticas para o sector, o investigador re- crescem as “influências económicas”, aponta duas conclusões que reflectem
conheceu que “alguns media são mais nomeadamente dos “maiores media e tendências opostas. Tanto se constatam
influenciados que outros”. As infra-es- dos grandes grupos” “mais aquisições e
truturas de telecomunicações são, na sua mediáticos. SE POR UM LADO SE VERIFI- produções externas
opinião, as mais influenciadas, enquanto A concentração foi ou- de programas”, co-
a Internet, a Imprensa e mesmo o cabo tro dos assuntos abor- CA QUE “O CONTROLO NACIO- mo exitem “muitas
ou o satélite sofrem uma menor in- dados, desta vez por televisões europeias
NAL DAS POLÍTICAS ECONÓ-
fluência. Marco Gambaro, pro- que trabalham na
Para Picard, a intervenção do Estado no fessor na Universidade produção de fil-
MICAS ESTÁ A DECRESCER”,
sector justifica-se na medida em que as de Milão. Na interven- mes, novos media e
comunicações servem importantes ne- ção, o investigador POR OUTRO CRESCEM AS Internet”.
cessidades sociais, políticas e económi- comparou os modelos Peter Goodwin,
cas nas sociedades democráticas e capi- de concentração hori- “INFLUÊNCIAS ECONÓMICAS”. professor na Uni-
talistas. Nesse sentido, “o governo zontal e vertical. E con- versidade de Wes-
deveria promover e aumentar as possi- cluiu que, nos últimos tminster, situou a
bilidades de comunicações”. Até por- anos, “a concentração horizontal no sua intervenção “na era do pós power
que, acrescentou, “quanto mais meios mercado europeu se manteve constan- point” e apresentou o panorama dos
tivermos mais poderemos satisfazer es- te”. O mesmo não se passou com a ver- media pagos em relação aos media gra-
sas necessidades”. No fundo, trata-se de tical que, no seu entender, precisa ser tuitos. As interrogações “O que mudou
promover a pluralidade e a diversidade. “melhor” definida. Isto porque a defini- nas pessoas? O que estão dispostas a pa-
O professor não deixou, no entanto, de ção existente de concentração vertical é gar para aceder aos media?” foram diri-
associar, num tom crítico, a política eu- “problemática”. Exemplo disso, referiu, gidas à assistência, em busca de uma
ropeia dos media a “políticas retóricas”. é a integração vertical na programação resposta que teimou em não aparecer,
E traçou o panorama actual dos media televisiva, cuja fronteira é “muito flexí- pelo menos de modo conclusivo. A ideia

01 02 03 04
João Reis

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clusivo. A ideia de que vários factores tugal: transformações e Heinz-Werner Nienstedt, professor
influenciam a escolha do público, espe- tendências” e colunista de Economia dos Media na
cialmente os histórico-culturais, ficou da Media XXI, apresentou Universidade de Mainz, na
marcada no seu discurso. Em relação à o mercado da imprensa Alemanha, é o novo presidente da
televisão, Goodwin acredita que a ten- nacional. O “crescente EMMA, substituindo assim Alfonso

João Reis
dência será a de “as televisões pagas se número de empresas jor- Sanchez Tabernero.
tornarem livres”. nalísticas”, a “estagnação
A programação televisiva esteve também ou o crescimento ligeiro Está satisfeito por ter sido eleito presidente desta
em análise, por Mercedes Medina, do- dos índices de difusão e organização europeia?
cente na Universidade de Navarra, que leitura”, assim como a Sim.É muito importante termos esta rede de
apresentou as conclusões de um estudo existência de “estratégias intercâmbio entre professores que leccionam
que envolveu 14 países. Entre outras comerciais mais agressi- economia e gestão dos media porque esta é uma área
coisas, constatou a investigadora a exis- vas”, são alguns dos fac- em evolução em toda a Europa.
tência de “menos programas america- tores que contribuem pa-
nos no horário nobre”, bem como o ra essa caracterização. Quais são as suas intenções para este mandato?
facto de a França ser o país com Outra das tendências do Começámos a EMMA há dois anos, e temos já uma
“maior” número de produções inde- mercado português resul- boa rede de professores. Mas há que a estabelecer
pendentes. Por outro lado, Mercedes ta na “fragmentação e di- ainda mais para que actue como um agregador
Medina referiu que a programação eu- versificação do negócio”, concreto de conteúdos de ensino em gestão dos
ropeia tende a reflectir uma certa “ho- especialmente nas revis- media. Isso significa que os nossos colegas finlandeses
mogeneização”, assim como a assumir tas. Constata-se ainda a tragam material de ensino sobre a Nokia para que os
pequenas diferenças entre os canais pú- tendência “crescente” e colegas portugueses, por exemplo, tenham a
blicos e os privados. Ainda que a co- “muito visível em Portu- oportunidade de olhar para isso e usar essas
produção seja uma das formas de pro- gal” da adaptação local de informações enquanto ensinam. Trata-se de ter case
dução europeia, o seu crescimento revistas globalizadas, studies para trocar conhecimentos entre professores e
deve-se “não à regulação, mas devido ao exemplo da National Geo- alunos.
mercado ter produtores competitivos”. graphic.
No entanto, não deixou de criticar o A atenção a práticas de Como vê o mercado dos media nos próximos anos?
facto de não existirem propriamente gestão racionais é, na sua Será um grande fascínio, com mudanças estruturais,
programas europeus, mas “diferentes opinião, uma atitude que teremos a digitalização que dará aos consumidores
modelos internacionais adaptados às re- já começa a ser praticada novas experiências e que abrirá novas oportunidades
alidades nacionais”. E, em jeito de con- por algumas empresas às companhias de media de desenvolverem novos
clusão, afirmou que “as cotas europeias jornalísticas, face à cres- modelos de negócio.
são uma ficção”. cente competitividade e
segmentação do mercado. A palavra si- com países com os quais mantém afini-
| O mercado da nacional | nergia liga, por isso, com esta ideia. Co- dades lingüísticas (como o Brasil ou ou-
Cada vez “mais competitivo”. Foi assim mo afirmou Paulo Faustino, “as empre- tros de África), o investigador respon-
que Paulo Faustino, autor do recente- sas jornalísticas parecem tender a deu, sem hesitar, que o próximo passo
mente publicado “A imprensa em Por- integrar-se em grupos multimédia e a “é a internacionalização dos produtos
comercializar a informação não se con- dos media”. A fechar o painel de orado-
formando simplesmente com a difusão res do seminário internacional esteve
em suportes tradicionais”. Gonçalo Reis, membro do Conselho de
01_Tabernero, Robert Em Portugal existe ainda a concentração Administração da RTP, que falou sobre a
Picard e Marco
Gambaro do investimento publicitário, como evolução financeira do operador de ser-
02_Peter Goodwin comprovam os 57% que os três grupos viço público. O responsável sublinhou a
03_Tabernero e de media (Impresa, Lusomundo Media necessidade de a RTP ser “tão eficiente
Paulo Faustino e Media Capital) captam do total do como os operadores privados”, baseada
04_Mercedes Medina mercado publicitário dos media. Ques- numa “lógica de funcionamento orien-
tionado sobre a possibilidade de Portu- tada para a competitividade”.
gal estabelecer relações de cooperação

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| Encontros |
Reflexão sobre o impacto da Internet na cidadania

“Cyber-democracia” não é
para todos
Um encontro para pensar a sociedade de informação
e o impacto psicológico e social das novas tecnologias
| Por Daniela Gonçalves |

Reflectir sobre a Sociedade da Infor- mou Derrick de Kerckhove, muito em-


mação foi o principal objectivo da con- bora, a maioria das pessoas reconheçam
ferência “quatro questões para a “cyber- mais facilmente os seus efeitos físicos. O D. R.
democracy”: electricidade, acesso, especialista introduziu o conceito de
simetria, e responsabilidade, organizada “Netizen”, que representa “um novo Porém, algo que ainda não é efectivo e
pela APDSI (Associação para a Promoção sujeito social e político”, explicou. É abrangente. Isto porque, como adian-
e Desenvolvimento da Sociedade de In- aquele que pode comunicar directa- tou, muitos cidadãos ainda não domi-
formação), que decorreu a 19 de Maio, mente com os seus governantes, expri- nam as novas tecnologias da informação
na Reitoria da Universidade Nova, em mindo as suas reclamações, dúvidas e e não dispõem de meios para aceder à
Lisboa. anseios. Este é, segundo Kerckhove, o Internet. “A cyber-democracia” é filha
O “impacto das novas tecnologias na significado de “cyber-democracy”, e da electricidade”, acrescentou.
nossa inteligência é acentuado”, afir- mais especificamente a “e-governance”.

Países africanos debatem o futuro

Media em Português
Profissionais de informação dos PALOP’s encerraram a terceira edição do curso
organizado pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela Universidade Católica
| Por Cátia Candeias |

José Neto Alves Fernandes, jornalista há que “há uma grande apetência para que munitárias estão a ter no país. Um da-
22 anos e correspondente da RTP Áfri- a comunicação social seja liberalizada”. do importante, já que as rádios con-
ca, foi o primeiro a apresentar a situação Também em Cabo Verde, o Estado se as- vencionais estão “quase todas sediadas
actual do seu país. Reconhecendo que sume como “o maior empregador e em Bissau”.
em Angola “a liberdade de imprensa é proprietário”, como afirmou Alexandre Também em Moçambique a situação é
um facto consumado mas não acaba- Semedo, jornalista cabo-verdiano. Uma difícil. De acordo com vários estudos, só
do”, referiu existirem ainda “muitos das grandes aspirações passa pois pela cerca de 1% dos 18 milhões de habitan-
constrangimentos” ao desempenho da “democratização do espectro televisi- tes acede aos jornais, e a rádio cobre
profissão. Alguns deles passam pelo pre- vo”. Ainda no passado dia 17 de Maio pouco mais de um terço do país. S.Tomé
ço dos jornais e pela distribuição das foram emitidas duas licenças para televi- e Príncipe não foge à regra: o Estado de-
publicações, complicada, num país são por cabo, uma delas apenas com ca- tém uma rádio, uma televisão e um jor-
constantemente em guerra. Mesmo as- pitais chineses. nal, existindo ainda seis jornais priva-
sim, o jornalista referiu que o futuro é Quanto à Guiné Bissau, Salvador Gomes dos, nenhum deles diário.
encarado com “bastante optimismo”, já realçou a importância que as rádios co-

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| Seminário/ ISCTE |
A Sociedade da Informação em debate

Relações Inter-Atlânticas
João Reis

Compreender a posição da região platina


e de Portugal em relação à Europa em
rede foi o motivo deste encontro
| Por Cátia Candeias |

O que une países como o Brasil, o Chile, central é o de sa-


a Argentina e o Uruguai a Portugal? ber qual é a agen-
“Nenhum deles se assume com uma da das políticas
“sociedade de informação plena mas em públicas”. Para Da esquerda para a direita: Pedro Cardim, da Universidade Nova de Lisboa,
transição para essa era”, como afirmou acabar com o pro- Gustavo Cardoso, Juan Pablo Luna e José Eisenberg
Gustavo Cardoso, docente do ISCTE, por blema da exclusão digital – note-se que te em análise, por Carolina Aguerre que
ocasião do Seminário Internacional que no Brasil apenas 1% da classe média se defendeu a necessidade do desenvolvi-
decorreu no dia 12 de Maio e que teve encontra incluída digitalmente –, o in- mento do E-Gov por várias razões. Por
como objectivo apresentar as diferentes vestigador defende que há que pensar um lado, por o Uruguai ser “um dos
visões nacionais dos países envolvidos. “o problema da inserção da rede mun- países com maiores fracturas sociais”.
Para José Eisenberg, professor brasileiro, dial dos computadores no universo lin- Por outro, por as novas tecnologias assu-
a informação passou a ser “a principal guístico das pessoas”. A solução passa, mirem um peso considerável na econo-
coisa que agrega valor a tudo o que é no seu entender, por um conjunto de mia do país, já que “gerou oito mil pos-
produzido” e, por isso, constitui “o “políticas incisivas” e que apostem na tos de trabalho”, tendo sido “o único
meio essencial para a reprodução eco- “construção de bases tecnológicas com sector que não decresceu na grande cri-
nómica das sociedades”. Partindo da línguas da própria comunidade”. Algo se de 2002”. A Argentina, por sua vez,
ideia de que os países se classificam co- que deveria começar a partir do próprio esteve representada por Belen Amadeo,
mo centrais, semi-periféricos e periféri- teclado, por exemplo. para quem um dos grandes problemas
cos, consoante o seu estádio de desen- passa precisamente por 48% da popula-
volvimento em relação à SI, Eisenberg | A outra região Latina | ção nacional estar concentrada em Bue-
situou o Brasil no estádio semi-periféri- Também Juan Pablo Luna, professor da nos Aires. A professora da Universidade
co. Aí, disse, “coexistem pólos centrais Universidade Católica do Chile, recon- Católica da Argentina manifestou ainda
de desenvolvimento de bases tecnológi- heceu que o governo electrónico “não uma posição céptica quanto à existência
cas como Campinas” e, no lado oposto, tem sido central na agenda pública” do do “desenvolvimento de uma política
favelas, autênticos pólos periféricos. E seu país. Uma situação que atravessa ou- local”, já que se constata “uma flutuação
recordou números como os 400 milhõ- tras nações e que, na sua opinião, está de direcções por parte do governo”.
es de habitantes que habitam o Brasil, directamente ligada às próprias “caracte- Portugal, por sua vez, assume “seme-
referindo que vários estudos indicam rísticas institucionais dos governos”. lhanças” com todos os países apresenta-
que “apenas 10% (cerca de dois a três Mesmo assim, Luna identificou o Chile dos, como referiu Gustavo Cardoso, para
milhões) tiveram contacto com uma como um dos países da América Latina quem “não há mudança real no quadro
máquina ATM”. mais desenvolvidos no e-gov. do modelo político” da SI no país.
Em países como o Brasil, “o problema A situação do Uruguai esteve igualmen-

Media XXI | Maio-Junho 2005 | [ Página 51 ]


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| Seminário/ ICAP |
Regras do sector em debate

Publicidade João Reis

Multiplicada
Novas técnicas e suportes publicitários difundem
as mensagens de forma mais rápida. Do
consumidor, a resposta é também imediata em
relação aos meios tradicionais | Por Cátia Candeias |
Da esquerda para a direita: Landerset Cardoso, Alberto da Ponte,
Carmém Henriques, Fernando Contreras e João David Nunes
Estas ideias atravessaram a terceira edi-
ção do seminário organizado pelo Ins- | Condições especiais de recepção | zam este meio de informação enquanto
tituto do Consumidor (IC) e pelo Insti- Para Luís Landerset Cardoso, presidente positivo”, além de constituir “uma ele-
tuto Civil de Auto Disciplina da do Obercom, os novos suportes impli- vada atracção para os anunciantes”, na
Publicidade (ICAP), este ano sobre “As cam “circunstâncias especiais de isola- medida em que cobre mais de 51% da
novas técnicas da comunicação publicitá- mento”, quer das mensagens, quer das população daquelas duas cidades.
ria e sua evolução – experiência ibérica”. próprias pessoas. A publicidade nas ins- Em Portugal, o exemplo veio com a
Os novos suportes tecnológicos de ex- talações sanitárias ilustra bem esta situa- MCO TV, implantada pela Media Capital.
pressão publicitária - de que é exemplo ção em que, apesar de os custos de in- Presente nos 56 ecrãs das estações de
a televisão empresarial do Millenium vestimento serem baixos, têm grande metro de Lisboa, “junta-se a força e a
BCP - possuem, na perspectiva de Car- impacto face ao isolamento do indiví- flexibilidade da televisão à inevitabilida-
men Segade Henriques, jurista do IC, duo, permitindo também a selecção por de e à frequência de contacto do out-
vantagens e desvantagens. Por um lado, género e a segmentação económica. O door”, como afirmou João David Nu-
permitem o contacto directo com o pú- responsável acredita que se esta tendên- nes, responsável por este projecto.
blico alvo, favorecendo a segmentação, cia continuar a crescer em Portugal, as
assim como têm um baixo custo de ma- empresas de media serão obrigadas a | Publicidade omnipresente |
nutenção e conteúdos variados. Por ou- “criar outro tipo de conteúdos para Presente no encontro esteve também
tro, podem assumir-se como elementos manter o seu volume de negócios”. Eduardo Cintra Torres, crítico de televi-
“intrusivos, ruidosos e maçadores”, e, são, para quem “ o product placement –
em muitos casos, “não permitem uma | O exemplo espanhol | inserção de publicidade nos conteúdos
clara identificação da publicidade”. Fernando Contreras, da Associação Es- de programação - já não ocorre apenas
Além disso, dada a sua “dispersão física panhola de Publicidade Exterior, fez na televisão mas em qualquer sítio onde
e temporal”, colocam dificuldades de uma breve exposição de como funcio- estão os consumidores”. E criticou não
monitorização às entidades fiscalizado- nam os canais de televisão nas estações só a experiência espanhola, por ser “in-
ras, e o consumidor não tem liberdade de Metro em Madrid e Barcelona. Sema- trusiva”, na medida em que não define
de escolha, já que “não pode mudar o nalmente, cerca de 17 milhões de pes- as fronteiras, bem como a portuguesa,
canal”. Uma das soluções passa pela au- soas contactam com este meio de co- “praticada pela TVI”, exemplo das nove-
to-regulação do sector através da criação municação, que aposta em blocos de las. Já Vítor Castro Rosa, assessor jurídico
de um Código de Conduta da Televisão informação separados por anúncios pu- da TVI, defendeu que a prática do patro-
Empresarial, bem como pela “aposição blicitários, feitos de forma adequada pa- cínio e do product placement “é a única
da palavra «publicidade» ou «pub» ra o passageiro que não está mais de três forma de manter o sistema de televisão
num dos cantos do écran. minutos na estação. Para o responsável, não pago a funcionar”.
“cerca de 84,6% dos passageiros valori-

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EDIÇÃO 81 6/10/70 8:41 PM Page 53

| Congresso/ APR |
Congresso Nacional de Radiodifusão
João Reis

Rádio mais
profissional
Os dias 29 e 30 de Abril e 1 de Maio
receberam o congresso anual que
discutiu a rádio e elegeu a nova equipa à
frente dos destinos da Associação
Da esquerda para a direita: Catarina Pessanha, Francisco Rui Cádima, Fernan-
Portuguesa de Radiodifusão
do Vicente Silva e Garcia Esparteiro
| Por Paula dos Santos Cordeiro |

ma comunicação metafórica e textual- comercial “do dinheiro pelo dinheiro”,


Decorreu em Oeiras, no Centro de Con- mente muito rica, explicou que os me- sem “preocupações estéticas ou jornalís-
gressos do TagusPark o X Congresso Na- dia nacionais têm vindo a desenvolver ticas e sem defesa dos valores da re-
cional de Radiodifusão, organizado pela uma “tendência para não fa- gião”. A propósito
Associação Portuguesa de Radiodifusão lar do que efectivamente es- OS MEDIA NACIONAIS
da lei da rádio que
(APR) e que marca, anualmente, a agen- tá a acontecer, daquilo que entretanto está em
da radiofónica do país. A discussão deste interessa à maioria dos cida- TÊM VINDO A DESEN- discussão, a opinião
ano centrou-se na profissionalização do dãos”. No caso das rádios, foi consensual rela-
meio e na importância do papel das rá- avançou a ideia de que “as VOLVER UMA “TEN- tivamente à sua ne-
dios locais e regionais no panorama da locais tendem a copiar as cessidade de altera-
comunicação social portuguesa. Sobre o nacionais e reproduzir os ví- DÊNCIA PARA NÃO ção. José Faustino,
papel das rádios de proximidade, Fran- cios”. E se por um lado, as- presidente eleito da
cisco Rui Cádima desenvolveu a tese da sim se conseguem “audiên- FALAR DO QUE EFEC- APR focou os aspec-
“crítica da estratégia da avestruz” e, nu- cias momentâneas”, por tos mais problemá-
TIVAMENTE ESTÁ A
outro, “hipoteca- ticos, ao passo que
João Reis
mos o país”, pois ACONTECER”
Mário de Freitas, da
bastaria que mais ICP/ANACOM
algumas das cerca questionou não só
de trezentas rádios “descobris- o conceito de radiodifusão, como a re-
sem nas suas localidades forças gulação da própria lei, que “persiste no
vivas da região para que o des- modelo analógico, quando o digital já
afio da rádio no desenvolvi- faz parte do quotidiano”.
mento regional e do país tenha Sobre a profissionalização da rádio, Pe-
valido a pena”. Sobre esta ques- dro Tojal avançou a ideia de “profissio-
tão, Garcia Esparteiro, da Asso- nais não na rádio, mas da rádio”, aspecto rei-
ciação de Rádios de Inspiração terado pelos restantes participantes,
Cristã levantou a questão da au- especialmente no que respeita à capacidade
sência de estudos de audiência de adaptação face à convergência e si-
para as rádios locais e o facto de nergias entre meios.
Pedro Tojal, Director de programas da Media Capital Rádios muitas terem uma exploração

Media XXI | Maio-Junho 2005 | [ Página 53 ]


EDIÇÃO 81 6/9/70 8:52 PM Page 54

| Seminário/ APMP |
Governo Electrónico e Indústria Nacional de Conteúdos

Diagnóstico em português
Governo e Empresas com objectivos comuns debatem o futuro da era digital
| Por Cátia Candeias |

João Reis

Cada vez mais competitivo, o mercado


digital obriga a uma maior inovação e
competitividade. Debater os desafios e
os problemas que o mundo digital colo-
ca foi o objectivo do seminário “O Go-
verno Electrónico e a Indústria Nacional
de Conteúdos”, organizado pela Asso-
ciação para a Promoção do Multimédia
em Portugal (APMP) que decorreu no
dia 3 de Maio na Escola Superior de Co-
municação Social de Lisboa.
Para António Câmara, professor e presi-
Da esquerda para a direita: António Câmara, Mário Freitas e Diogo Vasconcelos, num debate
dente da YDreams, empresa portuguesa
moderado por Vasco Trigo
que vende jogos para telemóveis em 44
países, os desenvolvimentos que se têm Com esta última mudança, teremos a ham de contactar com diferentes orga-
registado no “e-government têm tido vantagem, por exemplo, de ao passar- nismos.
um enorme impacto na indústria de mos com o carrinho das compras pela No entanto, se há seis anos o governo
conteúdos”. O responsável criticou, no caixa sabermos automaticamente o valor electrónico era tido como uma tecnolo-
entanto, ser “impossível uma empresa a pagar, sem que os produtos tenham de gia, como um fim em si mesmo, hoje,
nacional sobreviver com a lógica de ho- passar um a um pelo leitor de códigos pelo contrário, o responsável acredita
je”, dando o exemplo de na Polónia um de barras. que ele é “um instrumento para gover-
site custar um terço daquilo que custa nar melhor”.
em Portugal. Apesar disso, reconheceu | Desafios que se avizinham | António Câmara, para quem os conteú-
que “Portugal é um excelente laborató- Presente esteve também Diogo Vascon- dos digitais se assumem como um
rio para as empresas produtoras de con- celos, presidente do Conselho Directivo “meio de facilitar os procedimentos in-
teúdos”, devendo por isso “facilitar a da UMIC – Agência para a Sociedade do ternos das organizações e a comunica-
exportação de produtos e serviços”. Conhecimento, que apresentou os cinco ção externa com os cidadãos”, defendeu
desafios para a sociedade da informação. ainda que “o segredo do desenvolvi-
| O futuro | Por um lado, o acesso generalizado (que mento do governo electrónico está na
Em 2010, António Câmara acredita que implica ter banda larga) e a moderniza- parceria entre o sector público e o pri-
os cidadãos portugueses serão peritos ção da administração pública e dos ser- vado”. Uma opinião partilhada por Má-
em vídeo-jogos, terão experiência em viços. Por outro, a criação de uma nova rio Freitas, director do Departamento de
SMS e MIRC, além de serem mais leito- indústria de conteúdos, de novos mode- Convergência e Desenvolvimento da
res de blogues do que de jornais tradi- los de aprendizagem, sem esquecer a ICP/Anacom, que aproveitou para refe-
cionais. A nível global, 2010 será a meta agenda da Inovação. Quanto ao governo rir que a nova entidade reguladora do
para o domínio da comunicação multi- electrónico, o responsável reconheceu sector dos media deve contribuir para a
média, dos ecrãs públicos interactivos e existirem ainda problemas como deter- “dinamização” dessa mesma indústria
da substituição de códigos de barras por minadas “ilhas de automação”, que de conteúdos.
“radio tags”, uma espécie de sensores. obrigam a que os cidadãos ainda ten-

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EDIÇÃO 81 6/9/70 8:53 PM Page 55

| Jornadas/ Jornalismo Digital |


Dez anos de Jornalismo Digital em Portugal

Online tímido e
pouco criativo
“O estado da arte e cenários futuros” do jornalismo
digital, 10 anos após o seu nascimento, em debate na
Universidade do Minho | Por Rita Cunha |
Rosental Calmon Alves e Ramón Salaverría
A revolução não se faz da noite para o Rosental Calmon Alves, knigt chair de
dia. Dez anos decorridos desde o início Jornalismo Internacional na Universida- tícias – como um resultado expoente
do jornalismo digital em Portugal, mar- de do Texas em Austin, EUA, lamentou a das possibilidades de interacção deste
cado pelo lançamento da primeira ver- situação que vive o jornalismo online meio, Ramón Salaverría, director do La-
são electrónica do Jornal de Notícias em actual, na conferência de abertura: “O boratório de Comunicação Multimédia
Julho de 1995, discutiu-se nos passados jornalismo online continua tímido, da Faculdade de Comunicação de Navar-
dias 2 e 3 de Junho a conjectura econó- económico, burocrático e pouco criati- ra, acredita ser possível superar esta per-
mica e social que coloca em risco o pa- vo”. O professor queixou-se do “sho-
pel do jornalista, ao mesmo tempo que velware”, a cópia integral dos textos
as inovações tecnológicas o empurram dos media tradicionais, “continuar a
para a aventura virtual. ser vergonhosamente o principal méto-
No auditório estiveram cerca de cinco do de produção jornalística”, não se
dezenas alunos, professores e profissio- investindo nas experiências narrativas
nais da Comunicação, mas a audiência multimédia.
destas jornadas, promovidas pelo grupo É no ensino que se começará a valorizar
de investigação Ciberlab e pelo projecto a figura do jornalista digital. Também
Mediascópio, integrantes do Centro de João Canavilhas, da Universidade da Bei-
Estudos de Comunicação e Sociedade da ra Interior, concluiu que só com um in- Moisés Martins, Director do CECS, Guimarães
Universidade do Minho, foi muito vestimento neste sentido se encontrará Rodrigues, Reitor da UM, e Manuel Pinto,
maior, porque a sessão foi transmitida resposta para a crise do sector. O respei- coordenador do Mediascópio
em directo, via Internet. to pelo “parente pobre do jornalista”,
segundo expressão de José Vítor da de “património da palavra” mediante
Malheiros, do Público, conse- a aprendizagem das novas tecnologias e
gue-se, uma vez mais, na sim- manutenção da credibilidade nomeando
ples definição da profissão co- sempre fontes primárias.
mo fazedora de “um produto No fim a organização saiu felicitada por
essencial para a coesão social e Ramón Salaverría pela oportunidade de
para a vivência democrática”. Se questionar “quem somos afinal”, nesta
a revolução (ou evolução) digi- altura de desfocagem de papéis. Jornadas
tal torna flagrante a passagem que serviram ainda para o anúncio do
do poder da palavra para as au- lançamento de um novo mestrado em
diências e a necessidade de as Comunicação Multimédia na Universi-
ouvir – Paulo Ferreira do JN dade do Minho, para o próximo ano
Da esquerda para a direita: Luís Santos, Rosental Calmon Alves, lembrou que na simples obser- lectivo.
Ramón Salaverría e Manuel Pinto vação de blogs se adivinham no-

Media XXI | Maio-Junho 2005 | [ Página 55 ]


EDIÇÃO 81_1 6/10/70 6:35 PM Page 56

| Mesa-redonda/ Universidade Lusófona |


Mediatização da morte e sucessão de João Paulo II

Depois do adeus
João Paulo II soube “entender” Casa da Imagem

os media e utilizar os seus


poderes de difusão para abrir o
Vaticano ao exterior
| Por Frederico Pedreira* |

A mediatização da morte de João Paulo


II e a eleição do novo papa “impuseram-
-se como grandes acontecimentos,
acontecimentos apetecíveis aos media”,
enfatizou António Rego, director do Se-
cretariado Nacional das Comunicações
Sociais da Igreja Católica na mesa-re-
donda organizada, a 23 de Maio, pela
Área de Jornalismo da Universidade Lu- formação transmitida, bem como a for- professor na Universidade Lusófona,
sófona, moderada por Mário Mesquita. mação de “uma comunidade consumin- considerou “compreensível” toda a me-
Este fenómeno mediático ficou em parte do uma comida única, uma mastigação diatização e a forma como os media “se
a dever-se à personalidade de Karol Woj- mundial e consensual”. comportaram” quanto ao funeral de Jo-
tila e à forte influência que exerceu em Graça Franco, directora adjunta de in- ão Paulo II: “a encenação da figura [ao
todo o mundo, analisou Miguel Gaspar, formação da Rádio Renascença, identifi- longo do papado] foi essencial”. O papa
crítico de televisão do Diário de Notí- cou a difusão do jornalismo online e sempre procurou ter um discurso, não
cias, que apontou algum desconheci- dos blogues como dois dos principais apenas para o interior da Igreja, mas
mento por parte dos jornalistas acerca causadores da mega-mediatização da também para o seu exterior, facto que
das matérias religiosas. morte de João Paulo II, que suscitou in- constituiu “uma tentativa de reconfigu-
O também professor na Universidade de teresse em quase todas as culturas do ração” do catolicismo.
Coimbra lembrou que a morte do papa mundo. Os seis intervenientes concordaram que
foi dada como certa algumas horas antes José Pedro Castanheira também realçou João Paulo II foi um grande comunica-
de ser anunciada pelo Vaticano, exempli- a importância actual das novas tecnolo- dor dos tempos modernos, que aprovei-
ficando assim a forma como os media gias na circulação da informação: “os tou a lógica de funcionamento dos me-
conseguem alterar o desenvolvimento jornalistas tomaram conhecimento da dia para chegar mais perto de todo o
dos acontecimentos. “Quando a notícia morte de João Paulo II, não pelo sino, mundo e soube “encaixar” a televisão
oficial foi dada na noite seguinte, uma não pelo fechar das portas, mas pela tec- no conservadorismo do Vaticano. A pro-
parte da carga emocional que estava à nologias mais avançadas da actualida- pósito da “hiper-visibilidade” do Papa,
volta dela já tinha sido gasta”. de”, neste caso, o e-mail. Por outro la- acentuada pelo seu sofrimento, doença
José Augusto Mourão, professor na Uni- do, o jornalista do Expresso mostrou-se e morte, ficou o pensamento de Guy
versidade Nova de Lisboa, sublinhou o surpreendido pela forma “como cente- Debord evocado por José Augusto Mou-
uso e adoração excessivos da imagem e nas de jornalistas reportaram o funeral e rão: “a miséria e a doença tocam-nos
ilustrou esta ideia com a “tele-presença” a eleição do novo Papa a partir da televi- tanto menos quanto mais abertamente
nas cerimónias da religião cristã, sendo são”. Estes jornalistas estavam no Vatica- nos são mostradas”.
esta a única que “transmite um aconte- no, mas “não estavam no acontecimen- * Aluno do curso de Ciências da Comunicação e da Cultura da
cimento sagrado ao vivo”. José Augusto to, não o testemunharam”. Universidade Lusófona
Mourão criticou a uniformização da in- Dimas de Almeida, pastor protestante e

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| Encontro/ Arte e Comunicação |


Quando a arte e a comunicação se cruzam

Nas teias dos novos


media
Temas como a interactividade e as
novas linguagens associadas aos
novos media estiveram em debate
num encontro que durou três dias
| Por Cátia Candeias e Daniela Gonçalves |

interac- Da esquerda para a direita: Delfim Sardo, Maria Teresa Cruz, Pedro Andrade e Maria Augusta Babo
tividade
está, por isso, intimamente ligado a uma é a um nível micro molecular”. Daí que
viagem, apesar de defender que na se interesse por investigar as potenciali-
interacção com o digital “a experiência dades da tecnologia, ao serviço de áreas
humana é o essencial”. como a medicina, em que a simulação
Traçar uma Sociologia das Visibilidades e permite prever determinada situação.
do panoptismo foi o objectivo do soció- Esta técnica pode ter outras aplicações,
logo Pedro Andrade, que apresentou o ao nível do desporto, por exemplo, no
conceito de “arte sociológica”. Na sua sentido em que, ao se confrontarem
óptica, os cidadãos encontram-se vigia- com as imagens simuladas de acções
Peter Weibel, investigador alemão dos pelos media, que apenas apresentam desportivas, como demonstrou o inves-
algumas facetas da sua personalidade, na tigador, os atletas têm a oportunidade de
Reflectir sobre a ligação entre a arte e a medida em que “os media têm disposi- aprender a melhorar o comportamento.
interactividade foi o principal objectivo tivos panópticos”.
do debate realizado no segundo dia do As artes interactivas também mantêm | Arte e Media |
encontro Arte e Comunicação que deco- uma ligação com o erotismo, como ex- Presente esteve também Maria Augusta
rreu no Centro Cultural de Belém nos plicou Moisés Lemos Martins, para Babo, docente da Universidade Nova de
passados dias 2, 3 e 4 de Junho. quem existe mesmo uma “nova erótica Lisboa, que reflectiu sobre o texto na In-
A passagem do analógico para o digital interactiva”. Isto porque se verifica uma ternet, no âmbito do painel sobre “Arte
mereceu especial atenção por parte de “fusão entre o sexo e a tecnologia”. e Media”. No seu entender, através da
Francisco Rui Cádima que desenhou o Com a demonstração de pequenos ex- Internet, o leitor “torna-se decisor e co-
começo da história da interactividade, certos do filme Existenz, Lemos Martins autor do texto”. Um estatuto conferido
referindo as narrativas de Aristóteles e fez a ponte entre “carne e técnica”, refe- pela interactividade e que lhe permite “a
associando a narrativa digital à televisão rindo que “a tecnologia está repleta de recriação da obra [do texto]”. No en-
interactiva. sex-appeal”. tanto, a docente acredita que com o
As incertezas da comunicação e da arte avanço das ligações em rede, o leitor
estiveram no centro de análise de Maria | Da simulação ao estímulo | passou mais para uma posição de con-
Lucília Marcos. “Em vez de certezas, a Peter Weibel, investigador alemão, re- sumidor, devido à própria “formatação
arte digital vem alargar o campo das in- flectiu, no último dia do encontro, so- dos motores de busca”. Para contrariar
certezas”, afirmou. Segundo a docente, a bre a presença de novas linguagens nos esta tendência, Babo defendeu que de-
arte digital usa as tecnologias, o som e a novos media. Caracterizando-os como vem ser criadas “técnicas de navegação
imagem e “cria ficções, trocando os pin- “extensão dos órgãos”, Weibel disse ain- em rede”.
céis pelos ratos e pixels”. O conceito de da que “actualmente a grande revolução

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EDIÇÃO 81 6/9/70 8:55 PM Page 59

| Congresso/ APODEMO |
Êxito da marca depende de estudos de mercado

As opiniões contam
“Inovação em Marketing. O papel dos estudos de mercado” foi o mote para um
encontro marcado pela apresentação de marcas de sucesso | Por Marisa Torres da Silva |

João Reis

Que função podem desempen- nicación), estas “sujeitam-


har os estudos de mercado no -se a uma constante crítica
êxito de uma marca? E que im- por parte dos media, que
portância têm os conceitos de sentem que a audiência
inovação e de criatividade no que lhes é atribuída não
campo do marketing? A respos- corresponde à realidade”.
ta a ambas as questões foi apre- Ainda que as taxas de res-
sentada e discutida pelos parti- posta tenham diminuído
Da esquerda para a direita: Vitor Cabeça, Helena Barbas, Luís Pedro Vieira e
cipantes do 11º Congresso da João Cunha, foram alguns dos oradores do painel sobre os Novos Media significativamente nos úl-
APODEMO (Associação Portu- timos 20 anos, observa-se,
guesa de Empresas de Estudos de Merca- “branding”. porém, uma crescente homogeneidade
do e Opinião) que decorreu nos dias 18 A exploração de conceitos, através da metodológica entre as medições de au-
e 19 de Maio, no Centro Cultural de Be- análise de situação, da criação de ideias diência em todo o mundo. Pelo contrá-
lém. e do “concept screening”, é crucial para rio, na Internet, subsistem dúvidas
Face à saturação dos meios tradicionais e o êxito do projecto – pelo menos, é esta quanto ao melhor sistema para medir
às novas necessidades dos anunciantes, a perspectiva de María Fernandez e de audiências, havendo uma permamente
Luís Pedro Vieira, da GestWash, propôs Paulo Serra, da Kraft, ao apresentarem o oscilação entre a utilização de estudos
alternativas publicitárias como os meios processo de lançamento do chocolate “site-centric”, que mede o tráfego de
multimedia, entre os quais se encon- “Milka Joy”. Também João Dionísio, da um site através dos TAGs (marcadores ou
tram o “Megascreen Luz” e os “Magic Multivária, e Miguel Abalroado, da Eco- pedaços de códigos inseridos nas pági-
Mirrors”. Já Josefa Ramalho, da Mill- nómica, crêem que o planeamento dos nas), e de estudos “user-centric”, que
ward Brown, e Cláudio Russo, da Ange- objectivos, a orientação para os resulta- permitem estabelecer perfis sócio-de-
João Reis lini, procura- dos e a disponibilidade para trabalhar mográficos dos utilizadores. Não obs-
ram mostrar o no processo constituíram elementos tante, será possível encontrar uma solu-
modo como fundamentais na remodelação do jornal ção que integre elementos das duas
os estudos de “Semanário Económico”. alternativas? Helena Barbas e Vítor Cabe-
mercado con- ça, da Marktest, acreditam que, através
tribuíram para | Medição de audiências | do sistema Sim.net, é possível obter da-
o sucesso da Além da apresentação de casos práticos dos mais completos sobre utilizadores
marca “Amu- no lançamento de marcas publicitárias, únicos, páginas vistas, visitas e tempo
Carlos Lamas, kina”, um Carlos Lamas, na sua intervenção como médio, entre outros indicadores. Para os
director-adjunto da AIMC
produto utili- orador convidado do congresso, caracte- oradores, esta solução seria fundamental
zado na lavagem de frutas e legumes: o rizou de forma global as investigações para a valorização dos espaços publicitá-
pós-teste de publicidade obteve resulta- actuais sobre audiências. Segundo o di- rios e para o aumento do investimento
dos muito positivos, constatando-se rector-adjunto da AIMC (Asociación pa- nos sites de Internet.
que a marca tinha um bom nível de ra la Investigación de Medios de Comu-

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EDIÇÃO 81 6/10/70 8:43 PM Page 60

| Portugal Media/ Setúbal |


Imprensa do Distrito de Setúbal

Quotidiano dos
cidadãos no jornal
Os jornais do distrito de Setúbal mostram aos cidadãos “o que

Paulo Chaves
se passa à sua porta” e são seus aliados | Por Daniela Gonçalves |

Criados para preencher as necessida- visa “chamar a aten- mas ligados ao que se passa no concel-
des de informação regional e local ção para problemas ho. Considerado pelo director “o jornal
da população do distrito e para “dar dos referidos conce- das famílias e do comércio”, o Jornal do
voz aos setubalenses”, os jornais de lhos” e uma outra Barreiro é, de acordo com Miguel Sou-
Setúbal, alguns deles gratuitos, são com o nome de “O sa, “o terceiro jornal mais lido em Setú-
bem recebidos pelos cidadãos. A repórter é você” que bal e o mais antigo da região”, sendo o
maior parte dos jornais apresenta convida o cidadão a “único que cobre as notícias da zona”.
como principais secções a infor- ser repórter e a iden-
mação geral, política, sociedade, tificar os problemas | Títulos mais recentes |
cultura, desporto e opinião.Tudo do quotidiano do seu O concelho de Sines viu surgir em 1997
isto, numa abordagem essencialmente concelho, têm lugar o Notícias de Sines, um semanário
regional e local. De salientar que exis- assíduo em cada edi- adaptado às necessidades informativas
tem várias publicações destinadas à ção deste jornal. “Dar regionais deste concelho. A publicação
cobertura de cada um dos concelhos de voz às pessoas, ouvir visa “enaltecer as figuras da
Setúbal, em específico. os seus problemas, di- NOS ÚLTIMOS ANOS TEM- terra e noticiar os problemas
versificar os conteú- da região”, referiu o director,
-SE ASSISTIDO A UMA
| Experiência e Longevidade | dos oferecidos em ca- Alsídio Torres. A Economia é,
Criado em 1855 para, segundo o direc- da edição e informar CRESCENTE TENDÊNCIA a par das referidas secções
tor João Fidalgo, “ser um jornal inde- bem o leitor” são, pa- comuns às outras publicações
pendente e objectivo, capaz de formar ra Cristiana Vargas, a PARA AS PESSOAS SE do distrito, uma das que têm
leitores críticos”, O Setubalense é um mais valia desta publi- carácter fixo no Notícias de
exemplo de uma publicação regional cação. INFORMAREM SOBRE O Sines.
com experiência, longevidade e uma Não deixando de ser “Transmitir informação so-
considerável tiragem. “É a publicação uma publicação com QUE SE PASSA À SUA bre todo o litoral alentejano e
mais antiga do continente”, subli- várias décadas de divulgar a região” é, segundo
nhou o responsável. O jor- existência, o Jornal PORTA o director-adjunto, Marcos
nal centra-se na co- do Barreiro Leonardo, a principal meta
bertura noticiosa dos foi criado para “dar informa- do Litoral Alentejano, criado em 2001.
concelhos de Setúbal, ção sobre o Barreiro aos habi- A Rede Sem Mais é um grupo de comu-
Montijo e Palmela, re- tantes do concelho”, referiu o nicação do distrito de Setúbal que en-
feriu a editora de infor- director, Miguel Sousa. Além globa nove publicações e que começou
mação geral, Cristiana das secções comuns às publi- com um só título, a Sem Mais Revista,
Vargas. Rubricas fixas sobre cações do distrito, apresenta centrada em temas de Economia, Ensi-
associações, pessoas, ruas suplementos quinzenais de no, Ambiente, entre outros. Criado em
históricas, uma designada saúde, automobilismo e os 1998, o Sem Mais Jornal é diferente pa-
“Repórteres pela cidade” que cadernos do Barreiro, com te- ra cada um dos concelhos do distrito de

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EDIÇÃO 81 6/10/70 8:44 PM Page 61

D.R.
ços logísticos, nas tecnologias da infor- Setúbal na 2:
Setúbal e encontra-se “virado para o jor- mação e nos recursos humanos e forma- Estreou, no dia 11 de Junho, na 2, o
nalismo de investigação abrangendo to- ção. programa semanal "Conhecer a Pe-
da a região”, referiu a chefe de redacção, nínsula de Setúbal" que promove a
Etelvina Baía. Os jornais Correio de Se- | Títulos Gratuitos | economia, paisagem e cultura da re-
túbal, Voz do Barreiro, “Distrito” e Palmela e, mais especificamente, a fre- gião. A iniciativa é da Associação para
“Concelho de Palmela Jornal integram guesia de Pinhal Novo conta com uma o Desenvolvimento Rural da Penínsu-
igualmente a rede Sem Mais. publicação que, sendo gratuita, chega fa- la de Setúbal (ADREPES).
Nem só os jornais desenham o panora- cilmente às mãos dos cidadãos do con-
ma de imprensa do distrito de Setúbal. A celho. “O jornal do Pinhal Novo foi cria- se informarem sobre o que se passa à
revista Logística Moderna é a prova dis- do para colmatar a lacuna que havia a sua porta”. Fundado em 2002, o Jornal
so. Foi fundada em 2002 para “ser um nível de cobertura noticiosa desta fre- de Setúbal surgiu para “criar mais uma
projecto de imprensa profissional e um guesia”, explicou a chefe de redacção, alternativa de informação para os se-
veículo de informação para os profissio- Ana Aldegalega. Criado tubalenses”, afirmou a chefe de re-
nais do sec- em 2000, o dacção, Fernanda Matos. Da mesma
tor da logís- A ECONOMIA É, A PAR DAS Jornal da Moita forma, criado em 2005, o jornal
tica” referiu segue a mesma Notícias de Almada, pretendeu “do-
REFERIDAS SECÇÕES
a directora lógica das publi- tar o concelho de Almada de uma
Dora Assis. COMUNS ÀS OUTRAS cações direccio- publicação independente, de
As secções nadas a cada um grande tiragem e que se pudesse
principais da PUBLICAÇÕES DO DISTRITO, dos concelhos do afirmar como a melhor forma de
publicação distrito de Setúbal, comunicar no concelho”, expli-
centram-se UMA DAS QUE TÊM CARÁC- “colmatando assim cou o director, Francisco Rito.
nos aconteci- o vazio informati- Estes jornais gratuitos integram
mentos do TER FIXO NO NOTÍCIAS DE vo sobre a Moita”, o grupo Losango Mágico e apre-
sector, nas referiu o chefe de sentam, na sua maioria, uma ele-
estratégias e SINES. redacção, Luís Gei- vada tiragem. Segundo o director,
soluções que rihas. E acrescentou Francisco Rito, “são financiados
envolvem as empresas, nos seus projec- que “nos últimos anos tem-se assistido a apenas pela publicidade”.
tos implantados e na prestação de servi- uma crescente tendência para as pessoas

Imprensa*
TÍTULO ORIGEM JORNALISTAS** TIRAGEM N.º PÁGINAS ASSINATURAS DISTRIBUIÇÃO SITE

O Setubalense (Trisemanário) Setúbal 6 6300 16 500 Distrito de Setúbal www.osetubalense.pt


Jornal do Barreiro (Semanário) Barreiro 5 3125 20-32 2000 Distrito de Setúbal, França, Canadá, www.jornaldobarreiro.com.pt
E.U.A., Austrália
Notícias de Sines (Semanário) Sines 3 5000 24-32 1000 Distrito de Setúbal Em actualização
Jornal do Pinhal Novo (Semanário) Pinhal Novo 2 5000 16 150 Concelho de Palmela Em actualização
Jornal da Moita (Semanário) Moita 2 10000> 16-24 n. t. Concelho da Moita Em actualização
<15000
Logística Moderna (Mensal) Alcochete 3 4000 44 214 Distribuição Nacional, U.E., Brasil, www.logisticamoderna.com
E.U.A.
Jornal de Setúbal (Semanário) Setúbal 2 15000 15 1 Setúbal e Azeitão Em actualização
Jornal de Notícias de Almada Almada 3 15000 16 n. t. Concelho de Almada n.t.
(Semanário)
Litoral Alentejano (Quinzenário) Santiago do 3 20000 24 n. t. Entre Setúbal e Odemira (Sul do n.t.
Cacém Distrito de Setúbal)

* Dados fornecidos pelas próprios títulos; ** Com Carteira Profissional; (n. t.) Não tem.

Media XXI | Maio-Junho 2005 | [ Página 61 ]


EDIÇÃO 81 6/10/70 8:45 PM Page 62

| Portugal Media/ Setúbal |


Rádios do distrito de Setúbal

Paulo Chaves
A Voz do cidadão
Acompanhar os cidadãos do distrito de Setúbal no seu quotidiano e gerar empatia,
é a principal meta das rádios da região | Por Daniela Gonçalves |

tradições”, são, segundo a directora de análise económica regional e nacional,


Muitas das emissoras do distrito de Se- informação Helga Nobre, os principais explicou a responsável.
túbal surgiram após a legalização das rá- objectivos da Antena Miróbriga, fundada Ainda no mesmo ano, a Rádio Voz de
dios piratas. As grandes apostas são a in- oficialmente em 1986. A receptividade da Setúbal apostou em “estar próxima das
formação e o entretenimento, população em relação à Antena Miróbriga populações, servi-las, e oferecer uma
programadas para chegar perto dos ci- é considerável, segundo Helga Nobre, programação generalista feita por cida-
dadãos do distrito. que acrescenta que esta é “uma das emis- dãos da terra para os seus conterrâne-
A Sesimbra FM foi a primeira emissora soras mais ouvidas do Alentejo, pois os”, afirmou o chefe de informação ge-
de rádio a obter frequência. Esta estação transmitimos cultura popular”. ral, Guilherme Santos. O responsável
generalista foi criada em 1984 para Com objectivos não referiu que “existe uma
“transmitir música e informação regio- muito diferentes, a Po- A SESIMBRA FM FOI A grande cumplicidade entre
nal”, referiu o director, José Manuel Fer- pular FM, fundada em os profissionais e os ouvin-
PRIMEIRA EMISSORA DE
reira. Um ano mais tarde, surgiu a Rádio 1986 pretende ser “a tes”, a avaliar pela interacti-
Seixal que, de acordo com Lister Silva, o rádio próxima dos cida- RÁDIO DO DISTRITO DE vidade verificada nos pro-
director, “está mais direccionada para a dãos do concelho de gramas de antena aberta.
informação, apesar de ser uma emissora Palmela”, explicou à SETÚBAL A OBTER FRE- Três anos mais tarde, em
generalista”. Media XXI, a chefe de 1989, a ECO-FM surgia no
Por seu turno, a PAL FM procura “trans- informação, Claúdia QUÊNCIA. panorama radiofónico do
mitir informação da região” explicou a Carvalho. Informação e distrito de Setúbal, com
chefe de programação da estação, Hele- entretenimento caminham lado a lado, “um objectivo claramente regional de
na Almeida. Criada em 1986 e assumin- apesar da multiplicidade dos espaços in- divulgação das actividades regionais e
do-se como uma rádio generalista, tem, formativos. Nesta estação existem ain- locais, e apostando no entretenimento
nos programas de discos pedidos, uma da, um espaço para “dar voz aos movi- musical, apesar de divulgar notícias re-
“boa interacção” com os ouvintes, ex- mentos associativos”, o “espaço gionais”, explicou um dos fundadores
plicou a responsável. desporto”, uma rubrica semanal cen- da emissora e chefe de marketing, Car-
“Ser a voz da região, prestar serviço pú- trada, no poder dos media na socieda- los Ribeiro.
blico à sociedade, e ser um espelho das de e o “Quiosque Económico”, para
Rádios*
ESTAÇÃO ORIGEM JORNALISTAS** NOTICIÁRIOS REGIONAIS SITE ÁREA ABRANGIDA
Sesimbra FM Sesimbra 1 8 www.sesimbrafm.no.sapo.pt Distrito de Setúbal, Alto Alentejo, Área
Metropolitana de Lisboa
Rádio Seixal Amora 8 24 www.seixalfm.com Distrito de Setúbal, Lisboa, Ribatejo
Antena Miróbriga Santiago do 1 8 www.antenamirobriga.pt Distrito de Setúbal, Baixo Alentejo
Cacém
Rádio Pal-FM Palmela 0 13 www.palfm.com Distrito de Setúbal, Área Metropolitana
de Lisboa
Popular-FM Pinhal Novo 2 10 www.popularfm.com Distrito de Setúbal, Área Metropolitana
de Lisboa
Rádio Voz de Setúbal Setúbal 1 8 Sem site Concelhos de Setúbal, Palmela, Santiago
do Cacém
Eco-FM Alcochete 2 3 www.ecofmradio.web.pt Distrito de Setúbal, Área Metropolitana de
Lisboa

* Dados fornecidos pelas próprias estações; ** Com Carteira Profissional

[ Página 62 ] | Maio-Junho 2005 | Media XXI


EDIÇÃO 81_1 6/10/70 6:36 PM Page 63

| Portugal Media/ Setúbal |

À distância de um
Setúbal na Web

clique
À distância de um
clique
Os cidadãos de Setúbal têm ao seu dispor os principais jornais do distrito, em
formato digital, que divulgam a actualidade informativa da região
| Por Daniela Gonçalves |

Paulo Chaves

prensa regional”, acrescentou o respon-


À semelhança de sável. O Setúbal na Rede tem um prove-
outros distritos, Se- dor de leitor e um conselho de opinião.
túbal aderiu às novas tecnologias da in-
formação. Os principais títulos impres-
sos e rádios do distrito já se encontram
“à distância de um clique”. Além do

do jornal digital Diário do Barreiro


(www.diariodobarreiro.pt), em 2003.
As suas principais secções são Econo-
Em 2001, foi criado o jornal digital mia, Sociedade, Política, Desporto e Cul-
Rostos (www.rostos.pt) para “fundar tura. Contudo, são as rubricas de saúde,
um órgão de comunicação social, direc- automobilísticas e de perfil de persona-
que, os cidadãos do distrito de Setúbal cionado para a vida empresarial, entida- lidades que “fidelizam os leitores”, refe-
têm ao seu dispor jornais digitais que riu a responsável.
relatam também os acontecimentos da Criado em 2004, o portal “Região de
região. Setúbal Online” (www.sado2000.pt)
Reconhecendo que “existia espaço para tem como principais secções: cultura,
criar um projecto sério, e que abranges- gastronomia, história, património e eco-
se a cobertura noticiosa de todo o distri- nomia local. O site www.reporter.onli-
to de Setúbal, surgiu o Setúbal na Rede ne.pt é outro exemplo de projecto que
em 1998”, referiu o director Pedro Nu- disponibiliza notícias sobre o distrito de
no Brinca. Tratar a informação com ri- Setúbal, bem como links de acesso às
gor e isenção é a principal meta deste des e pessoas do distrito de Setúbal”. câmaras municipais, e de informação
jornal digital, disponível em www.setu- “Preencher uma lacuna a nível local”, “útil” para um melhor conhecimento da
balnarede.pt. “Esta política garantiu-nos foi, segundo a chefe de redacção Milene região.
a obtenção do prémio gazeta de im- Aguilar, o principal objectivo da criação

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| Portugal Media/ Setúbal |


Ensino da Comunicação Social em Setúbal

ESE aposta na
Comunicação de Ciência
Na ESE a empregabilidade é
considerável. O próximo

D.R.
desafio é a Comunicação de
Ciência | Por Daniela Gonçalves |

Criada quando o curso passou de bacha- próximo da saturação em algumas áreas


“Formar profissionais de jornalismo relato a licenciatura, a especialização da comunicação social, como é o caso
(rádio e imprensa), bem como técnicos em Jornalismo “foca-se, fundamental- do jornalismo” daí que a ESE esteja a
de publicidade, marke- mente, no jornalismo “apostar na comunicação cultural e na
ting e relações públicas” A EXISTÊNCIA DE radiofónico e im- comunicação de ciência”. Apesar dessa
por um lado, e “incidir a presso”, referiu Ri- realidade, Ricardo Nunes considera que
investigação e estudo nas “PROFISSIONAIS cardo Nunes. as taxas de empregabilidade dos alunos
necessidades e recursos A comunicação das de jornalismo é considerável, corres-
de comunicação social ALTAMENTE organizações está no pondendo a “mais de 80%”. De “su-
regional (imprensa, rá- centro da especializa- blinhar”, segundo o responsável, a im-
dio e empresas privadas ESPECIALIZADOS, ção em Comunicação portância dos estágios curriculares que
e públicas e autarquias Cultural. O terceiro se realizam em três momentos do curso,
TRADUZ-SE NUMA CLARA
da região)” por outro, ramo de especializa- para a concretização destes objectivos.
foram os objectivos que MELHORIA DO ENSINO, DA ção será em Comuni- “Trata-se de uma situação única no pa-
conduziram à criação do cação de Ciência e o norama nacional, na área da comunica-
curso de Comunicação APRENDIZAGEM, E DA APRO- seu começo está pre- ção social”, frisou.
Social na Escola Superior visto para o ano lectivo Os professores do curso de comunica-
de Educação de Setúbal XIMAÇÃO AOS MODOS DE 2005-06. “Contribuir ção social têm formações diferentes, que
em 1993, conforme re- para o desenvolvimen- vão da comunicação social à filosofia.Tal
feriu o Coordenador do TRABALHO EM to de competências ao é, na óptica de Ricardo Nunes, a “mais
curso, Ricardo Nunes. nível da literacia cien- valia” do curso, pois os profissionais es-
O curso de comunicação CONTEXTO REAL” tífica para interpretar, pecializados vêm responder às necessi-
social na ESE surgiu en- re-escrever e divulgar dades de know-how dos ramos de espe-
quanto bacharelato e, em 2000, conver- a ciência” é o principal objectivo deste cialização do curso. A existência de
teu-se em licenciatura com a duração de ramo de especialização, explicou o co- “profissionais altamente especializados,
5 anos, muito embora a sua estrutura ordenador do curso. Para o responsável, traduz-se numa clara melhoria do ensi-
esteja neste momento a ser repensada esta é uma “aposta pertinente” que po- no, da aprendizagem, e da aproximação
tendo por base as regras de Bolonha. São derá trazer mais valias ao nível da inser- aos modos de trabalho em contexto re-
dois os ramos de especialização do cur- ção dos alunos no mercado de trabalho. al”, rematou.
so: Jornalismo e Comunicação Cultural. Explicou que “o mercado está muito

[ Página 64 ] | Maio-Junho 2005 | Media XXI


EDIÇÃO 81 6/10/70 9:10 PM Page 65

| Classificados |

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EDIÇÃO 81 6/10/70 8:50 PM Page 66

| Entrevista/ Jacinto Godinho |

O Porquê das coisas


Um olhar diferente revelado no fascínio,
preocupação e curiosidade em relação aos
princípios do trabalho jornalístico
| Por Cátia Candeias | | Fotos João Reis |

Em conversa com a Media XXI, Jacinto e interrogar por ela.


Godinho, 41 anos, repórter da RTP e
docente da Universidade Nova de Lis- Como foi a sua entrada no
boa, revelou-nos o que o fascina na re- Jornalismo?
portagem. A curiosidade e o esforço por Saí da faculdade em
compreender os porquês das coisas são 87/88 e consegui um
o norte do seu trabalho. estágio na RTP; fui inte-
grado na redacção para
Foi a reportagem que foi ter consigo ou foi o fazer jornalismo des-
Jacinto que a procurou? portivo e, ao fim de seis
Penso que a encontrei através da minha meses, estava numa delegação do Algar- um pensamento e um investimento for-
curiosidade natural. Não sei se natural, ve a fazer reportagem. E ali tinha de to- te ao nível até de coisas mínimas como
mas muito tra- car em todos os campos do jor- a necessidade de ter uma organização da
balhada pelo O REPÓRTER TEM nalismo desde o desporto à redacção que a favoreça e uma mentali-
meu pai que economia, da arte à política. Foi dade, um conjunto de critérios e valores
desde pequeno DE SER AQUELA uma entrada repentina no mun- que motivem o olhar do repórter.
se recusou a res- do da reportagem.
ponder às min- PESSOA QUE O que distingue esse olhar?
has perguntas A reportagem é normalmente Quem é repórter sabe que o seu maior
ENCONTRA UM
nem que eu o associada ao género nobre do treino, a sua maior dificuldade é a ca-
interrompesse às MODO DE ESTAR jornalismo. O que pensa disso? pacidade para apanhar o momento cer-
tantas da noite a É mais um estereotipo do que to, assimilá-lo e não o deixar escapar. O
perguntar “Por- CONSIGO PRÓPRIO, uma prática. Por variadíssimas olhar da reportagem, o modelo, a na-
quê que as estre- circunstâncias, algumas delas cul- rrativa é muito diferente do da notícia.
las brilhavam ou DE SENSIBILIZAR- turais, outras que têm a ver com Na reportagem trabalha-se o momento
porquê que as a organização económica das re- para que alguém que está longe possa
formigas anda- -SE COM TUDO dacções, o espaço prático da re- ver as coisas como uma experiência.
vam todas em portagem tem-se diminuído... Hoje, há um tipo de reportagem que es-
carreirinho...” Ele não tinha uma expli- tá mais perto da notícia, curta, imediata
cação científica, mas tinha sempre uma Podemos chegar ao extremo de não termos e rápida e há outros tipos que infeliz-
bela explicação poética e, portanto, cul- quase reportagem? mente vão soçobrando porque impli-
tivei essa curiosidade de dirigir sempre Reportagem existirá sempre de uma cam outro tipo de investimento que é o
o olhar para qualquer coisa, mesmo o maneira ou de outra. O mais problemá- caso da grande reportagem televisiva ou
mais insignificante e deixar-me fascinar tico é o facto de não haver uma escola, da de investigação.

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“DESDE QUE PERCEBA QUE HÁ ALI UM ASSUNTO INTERESSANTE ENTREGO-ME DE ALMA E CORAÇÃO. “

Mas não lhe parece que o próprio público Quando se refere a simplicidade não se trata ou são integrados numa narrativa políti-
busca essa informação superficial, pronta a de superficialidade... ca ou então ficam de fora, assim como a
consumir? Não! Posso comparar a simplicidade educação. Estamos sempre a ler politica-
Essa é uma visão do público que não àquela simplicidade mente as coisas, não te-
gosto de ter. Não me parece que seja o que encontramos nos HOJE O JORNALISMO É
mos outra capacidade de
gosto das pessoas a comandar as coisas, bons filmes, que são leitura para perceber os
acho que gostam de ouvir estórias, têm capazes de nos pôr em PRATICAMENTE UM acontecimentos. Hoje o
uma forma natural de lidar com elas e contacto com as refle- jornalismo é praticamente
se a estória for bem contada qualquer xões das coisas mais FENÓMENO DE PON- um fenómeno de pontos
assunto, mesmo o mais difícil, pode ser profundas da vida de febris que em determina-
tratado. O problema é que há determi- uma forma directa. Os TOS FEBRIS QUE EM da altura parecem domi-
nados assuntos que são grandes desafios bons filmes encontram nar totalmente o campo
para os jornalistas de hoje em dia: as- as boas fórmulas para DETERMINADA ALTURA da informação e do deba-
suntos bastante complexos, alguns deles nos falarem sobre a te. Tivemos o tsunami, de-
PARECEM DOMINAR
considerados aborrecidos relacionados morte, a eutanásia... pois o Papa, agora o Mou-
com a economia, com o que é adminis- TOTALMENTE O CAMPO
rinho e a seguir teremos o
trativo, ou com os planos do ordena- Existe o perigo de os Campeonato Nacional. Pe-
mento. Assuntos que o próprio jornalis- temas serem definidos DA INFORMAÇÃO E DO lo meio existem dois ou
ta considera “seca” e não faz nenhum apenas em função do que três pontos febris, exem-
esforço para investir nas melhores for- o público é ou não capaz DEBATE plo da Casa Pia.
mas narrativas que tornem o assunto de compreender?
aliciante para as pessoas. Alguns acontecimen- O que pensa das críticas diri-
tos são transportados ao longo do tem- gidas ao peso que a economia tem no
Fazer simples torna-se por vezes po. É o caso do futebol, uma espécie de jornalismo e que, inclusivamente,
complicado... telenovela, grande, esticada, de que to- condicionam a reportagem?
É preciso ser-se muito bom, muito com- dos os dias os jornais e as televisões des- A opção nos últimos anos tem sido
petente, e que o jornalista não seja pre- vendam pequeninos episódios, cons- apostar na pequena notícia, no modelo
guiçoso. truindo o argumento. O mesmo com a CNN: a notícia e o tratamento das coisas
política, damos uma pequena reporta- através do directo. É uma opção válida,
gem política porque isto vai acrescen- mas que implica um grande investimen-
tar alguma coisa ao primeiro-mi- to e um grande esforço económico no
nistro poder manter o estado de sentido de modelar as estruturas das re-
graça ou de perder as eleições dacções para isso, ter bons estúdios, ter
na próxima semana... O equipamentos de exterior que são caros.
problema é que esse con- O problema surge quando temos esse
junto de assuntos começa modelo moldado e queremos fazer ou-
a estreitar-se muito.Tudo tro tipo de jornalismo, ou uma reporta-
aquilo que é novo na gem ou outra coisa qualquer. É sempre
agenda e que não tem um estilo de jornalismo colonizado: pe-
esse comboio que per- ga-se em dois ou três jornalistas que
mite ao espectador ir têm de trabalhar com operadores de câ-
permanentemente en- mara que estão sujeitos à agenda do dia
quadrando todas as pe- a dia que é sempre imperativa. A grande
quenas notícias que vão reportagem tem sido sempre vista por
surgindo, vai sendo esque- esse prisma; ou seja, por ter sido sempre
cido e postos de lado. feita de forma colonizada, trabalhou-se
sempre no mínimo. Quem quiser apos-
Como por exemplo? tar na grande reportagem terá de pensar
A ecologia, ou a saúde. Estes temas nas condições do modelo que possam

Media XXI | Maio-Junho 2005 | [ Página 67 ]


EDIÇÃO 81 6/10/70 8:52 PM Page 68

“O MODELO DE INFORMAÇÃO QUE TEMOS NOS VÁRIOS CANAIS É TODO MUITO IGUAL: MUITO CENTRADO SOBRE O INSTANTE.”

sustentar um projecto a longo prazo. sejam o mais compatí-


E vê espaço para isso acontecer? veis com a necessidade
Não vejo, infelizmente não nos próxi- de manter o rigor eco-
mos tempos. Pensei que, apesar de tudo, nómico.
se podia resguardar de alguma forma a
reportagem, sobretudo a de investiga- Enquanto professor
ção. Pensei que ela pudesse servir como académico, parece-lhe
alguma memória, algum recanto, mas que o Jornalismo e a
nos últimos tempos, a própria imprensa Universidade ainda
tem estado a deslocar o seu modelo, estão de costas
dando prioridade à interpretação e colo- voltadas?
cando muito à frente os comentadores. Para muitas pessoas,
os dois universos es-
Qual dos canais de televisão tem seguido o tão quase sempre de
caminho mais correcto? costas voltadas. A
Penso que, embora com diferentes tona- maior parte dos alu-
lidades, o modelo de informação que nos quando sai da Universidade defende trabalho específico de, na altura certa,
temos nos vários canais é todo muito que o curso não lhes forneceu os mode- detectarmos um campo que não se con-
igual: muito centrado sobre o instante. los suficientes; das redacções há também hece e que implica um esforço para o
uma grande desconfiança em relação à tentar perceber.
A RTP, enquanto modelo de serviço público, prática das universidades. Se analisarmos
deveria seguir outra linha? as ligações entre a universidade e o jor- Apesar de haver essa exigência
O modelo que existia permitia fazer in- nalismo, vemos uma geração formada multidisciplinar, há alguma área que goste
formação da forma mais barata possível, nas universidades que hoje em dia está a particularmente de tratar?
o que implica riscos a longo prazo. Se exercer jornalismo; não digo que o jor- Não...é curioso... Ao longo de todos es-
apesar de tudo se conseguiu assegurar a nalismo se faz da aprendizagem que é tes anos tenho adquirido um prazer
sobrevivência financeira na empresa, te- adquirida nas universidades, porque a imenso em fazer trabalhos tanto sobre
mo que se tenha limitado muito. Não se história de cada empresa é mais influen- informática como sobre arte... Desde
criam alternativas ao modelo de infor- te para a formação do jornalista quando que perceba que há ali um assunto inte-
mação se não chega ao local ressante entrego-me de alma e coração.
existirem resí- do que propria-
HOJE, HÁ UM TIPO DE REPORTAGEM
duos de semen- mente aquilo No seu percurso profissional destaca algum
tes a partir das QUE ESTÁ MAIS PERTO DA NOTÍCIA, que a Universi- trabalho que o tenha marcado?
quais possam dade lhe deixou. É uma pergunta muito difícil porque há
crescer. CURTA, IMEDIATA E RÁPIDA E HÁ Mas a Universi- várias fases. Há fases em que a investiga-
dade tem deixa- ção foi fantástica e o produto final não
E esta OUTROS TIPOS DE REPORTAGEM QUE do uma marca faz jus à investigação nem de perto nem
administração muito forte. de longe; há outras em que a investiga-
não tem INFELIZMENTE VÃO SOÇOBRANDO ção foi paupérrima, a reportagem foi
compreendido Que conselhos feita em três ou quatro dias e depois foi
PORQUE IMPLICAM OUTRO TIPO DE
isso? daria a um a montagem que conseguiu dar brilho
A administra- INVESTIMENTO
estudante de às coisas.. A Crónica do Século foi o
ção tem tenta- jornalismo que mais difícil... Deu-nos muito trabalho
do resolver os quer ser um conviver com o trabalho de investigação
problemas de informação e acho que is- grande repórter? durante um grande período de tempo...
so compete mais à direcção da informa- O repórter tem de ser aquela pessoa que a RTP não é uma casa que tenha valores
ção (DI). A DI é que tem de decidir on- encontra um modo de estar consigo para apreciar esse tipo de trabalhos ex-
de quer investir e deve apresentar as próprio, de sensibilizar-se com tudo: is- tensos no tempo. E isso é muito ingrato.
respectivas soluções à administração que to não é um gosto natural, exige um

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| Investigação em Comunicação |
Relatórios apontam tendências mundiais

Bons ventos
para os media
Os tempos de crise nos media parecem já ter
desaparecido, pelo menos a avaliar pelos
relatórios da World Association of
Newspapers e da Global Advertising Report
| Por Luís Bonixe |
Casa da Imagem
De acordo com o relatório da World As- aumento de 4,8 por cento
sociation of Newspapers (WAN), a ven- nas vendas de jornais em todo o mun- Para além de Portugal e da Polónia, na
da mundial de jornais aumentou 2,1 do. O relatório da WAN sublinha, contu- União Europeia registaram subidas nas
por cento ao longo do último ano. A do, que o crescimento das vendas não se vendas a Estónia (2,39%), a Áustria
WAN justifica os valores alcançados com verificou de igual forma em todo o pla- (1,9%), a Espanha (1,31%), a Bélgica
a fase de renascimento dos periódicos, neta. A América do Sul com 6,3 por cen- (0,54%), a Finlândia (0,53%) e a Itália
marcada pelo aparecimento de to e África com (0,19%). Em oposição, a Eslováquia
novos produtos, formatos, títulos um aumento de 6 (5,14%) e a Hungria (4,55%) foram os
AO NÍVEL DOS MER-
e enfoques editoriais. Este au- por cento foram países onde a quebra de vendas em
mento representa vendas diárias CADOS, O ASIÁTICO É os continentes 2004 foi mais acentuada.
mundiais na ordem dos 395 onde o incre- Em relação aos últimos cinco anos, foi
milhões de exemplares. Os dados AQUELE PARA O QUAL mento foi maior no Reino Unido que se verificou a
constam do relatório elaborado em 2004 quando maior descida de circulação de jornais
anualmente pela WAN que estu- SE PREVÊ O MAIOR comparado com registando uma queda de 11,41 por
da as tendências da imprensa o ano anterior. cento, por oposição à Polónia, que no
mundial, baseando-se nos mer- CRESCIMENTO NESTE Por contraste, os mesmo período alcançou um aumento
cados de 215 países, incluindo mercados da Eu- na circulação de 43,99 por cento.
ANO.
Portugal. ropa e da Améri-
Ainda, de acordo com a mesma ca do Norte des- | Publicidade a crescer |
organização, que considera os valores ceram as vendas em 1,4 por cento e 0,2 As receitas de publicidade nos jornais
agora atingidos como “extraordinaria- respectivamente. também sofreram um aumento signifi-
mente positivos”, foram as vendas regis- Dos cinco maiores mercados mundiais, cativo no ano passado. Os valores indi-
tadas nos mercados emergentes dos paí- três encontram-se no continente asiático cados são de 5,3 por cento, em compa-
ses em vias de desenvolvimento que (China, Japão e Índia). Os Estados Uni- ração com os 2 por cento registados no
mais contribuíram para o crescimento a dos da América e a Alemanha comple- ano anterior. Os jornais são, logo a se-
nível mundial. Apesar disso, Timothy tam a lista. Contrariando a tendência guir à televisão, o meio de comunicação
Baldy, director geral da WAN, lembra mundial, a União Europeia registou social onde mais se investe em publici-
que, nos últimos doze meses, nos mer- uma quebra no ano passado de 0,7 por dade, um cenário que a WAN espera
cados tradicionais também se verificou cento na circulação de jornais e 0,4 por que se mantenha durante os próximos
um acréscimo de vendas. cento nas vendas dos últimos cinco anos. Significativo é o facto das receitas
Nos últimos cinco anos registou-se um anos. oriundas da publicidade nos jornais dos

Media XXI | Maio-Junho 2005 | [ Página 69 ]


EDIÇÃO 81 6/9/70 9:13 PM Page 70

| Investigação em Comunicação |

No capítulo do inves-
timento publicitário,
o ano de 2005, de
acordo com o relató-
rio da GAR também
será favorável a Por-
tugal. Estima o estu-
do que, nos seis
meios de comunica-
ção social, o investi-
mento publicitário
deverá crescer 5,1
por cento em relação
ao ano anterior. Con-
trariando a tendência
mundial, a maior
quota de investimen-
to publicitário em
Portugal não está
destinada para a In-
ternet, mas sim para
Casa da Imagem a televisão. Estima o
GAR que deverá cres-
Estados terem aumentado no último prensa com 3,9 por cento, a rádio e os cer 8 por cento em relação a 2004. O
ano em 3,93 por cento, quando em outdoors com 3,7 por cento. investimento em publicidade na rede
2003 tinham registado apenas 1,9 por Ao nível dos mercados, o asiático é global deverá crescer 6 por cento este
cento. aquele para o qual se prevê o maior ano, muito abaixo dos 20,4 registados a
Se 2004 foi um bom ano para os jornais crescimento neste ano, devendo atingir nível mundial. A rádio e o outdoor de-
no que aos investimentos publicitários 21,5 por cento da quota universal, en- verão crescer apenas 2 por cento.
diz respeito, para este ano a tendência quanto que a Europa deverá possuir
parece manter-se, pelo menos a avaliar uma quota mundial de 22,4 por cento | Casos à parte |
pelo relatório da Global Advertising Re- (em 2000 tinha 26 por cento) e a Amé- A Internet e a circulação de jornais gra-
port (GAR) que estima que o investi- rica do Norte também deverá descer dos tuitos constituem, segundo o relatório
mento publicitário deverá crescer cerca 48,3 por cento que tinha em 2000, para da WAN, dois fenómenos de crescimen-
de 5,8% em relação ao último ano. Este 46,2 por cento em 2005. to. No caso dos sites jornalísticos o trá-
valor representa, mesmo assim, uma fego aumentou 32 por cento no último
quebra no crescimento verificado em | O caso português | ano, e 350 por cento em relação aos úl-
2004 quando se atingiu, a nível global, Portugal acompanhou o ritmo de cresci- timos cinco anos. A esta crescente pro-
um aumento comparado com o ano an- mento da venda mundial de jornais ten- cura correspondem também significati-
terior de 8,1 por cento. De qualquer do registado uma subida em 2004 de vos aumentos nas receitas publicitárias
forma, a perspectiva da GAR aponta para 5,78 por cento. Só a Polónia, no contex- que aumentaram 21 por cento no últi-
a tendência de subida verificada desde to da União Europeia, alcançou valores mo ano.
2002. mais elevados no último ano, com Quanto aos jornais gratuitos, o relatório
A Internet é o meio de comunicação pa- 15,21 por cento. De acordo com o rela- da WAN classifica a sua implementação
ra o qual se prevê o maior crescimento tório da WAN, Portugal foi também um de “impressionante”. A sua distribuição
de investimento publicitário, na ordem dos países no espaço europeu onde se representa em Espanha 40 por cento do
dos 20,4 por cento a nível mundial. Se- tem verificado um maior crescimento mercado, em Itália 29 por cento e na
guem-se o cinema com 8,2 por cento e na distribuição de jornais gratuitos re- Dinamarca 27 por cento.
a televisão com 6,2 por cento, a im- presentando 25 por cento do mercado.

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EDIÇÃO 81 6/10/70 8:55 PM Page 71

| Aula Aberta |

O silêncio das mulheres


Entre 12 e 18 de Novembro de 2000, o Público inseriu 26 presentação mediática das mu-
Cartas ao Director, das quais três eram assinadas por mu- lheres e da influência da femi-
lheres. No mesmo período, na secção Espaço Público, fo- nização do jornalismo. Em “Re-
ram publicados 21 textos de opinião, todos da autoria de presentadas e representantes: as
homens. A propósito de um tema específico – a “pílula do mulheres e os media”, artigo
dia seguinte” – raras foram as vozes femininas que se fize- publicado na última “Media &
ram ouvir. Joaquim Fidalgo, então provedor dos leitores do Jornalismo”, a investigadora in-
diário, questionou: quererá isto dizer que os jornais são daga se o trabalho das mulheres | Carla Martins* |

“dos homens”? dentro dos media pode contri-


Este caso ilustra o problema, estrutural nas sociedades con- buir para uma redução dos problemas de representação
temporâneas e recorrente – como se verificou quando fo- que muitas mensagens mediáticas colocam, uma vez que as
ram divulgados os membros do actual Governo – da des- mulheres podem ser representantes de si próprias.
igualdade da intervenção das mulheres na vida pública. Porém, a existência de mais mulheres jornalistas não signi-
Que factores explicam esta assimetria? Em resposta às dúvi- fica, por um lado, que partilhem os mesmos direitos e res-
das de Fidalgo, Helena Araújo, da Universidade do Porto, ponsabilidades. As mulheres mantêm-se arredadas das posi-
notou que é uma evidência que o espaço público é, na sua ções de chefia e de direcção dentro da estrutura vertical das
concepção e construção, “claramente AS MULHERES MANTÊM-- organizações mediáticas. Por outro lado,
masculino”. “O simples acto de tomar a a assimilação à cultura jornalística dificul-
palavra sempre foi mais difícil para as -SE ARREDADAS DAS ta uma análise do género nas notícias.
mulheres, até porque a palavra, em si, O estudo das rotinas profissionais ao ní-
também é poder”. POSIÇÕES DE CHEFIA E DE vel da selecção da informação e das fon-
O espaço público foi tradicionalmente tes ouvidas é demonstrativo de que a
configurado e controlado por homens, DIRECÇÃO DENTRO DA mais mulheres nas redacções não é por si
depositários das condições de indepen- só sinónimo de selecção de temas mais
ESTRUTURA VERTICAL
dência e de liberdade necessárias à expo- “femininos” ou de dar a ouvir mais vo-
sição e visibilidade. Encerrado numa zes femininas nas “histórias”.
DAS ORGANIZAÇÕES
compleição estereotipada, o papel das A “agenda do dia” continua a ser cons-
mulheres estaria sobretudo vinculado à MEDIÁTICAS truída pelos principais agentes do espaço
esfera da privacidade e do lar, ao domínio público e social e, “numa sociedade es-
dos assuntos domésticos. Privacidade, no sentido arendtia- sencialmente masculina, onde os lugares de decisão, nome-
no, enquanto significando estar escondido e protegido e adamente políticos, são essencialmente masculinos, é difí-
privado de existência público-política. cil subverter essa ordem”. O mesmo se aplica às fontes de
Maria João Silveirinha é uma das principais dinamizadoras, informação. “Se as principais fontes da rotina noticiosa são
em Portugal, dos estudos sobre as representações femininas as autorizadas, então as fontes oficiais serão normalmente
nos media. A professora na Universidade de Coimbra orga- masculinas – pois esse é o lugar que têm na estrutura so-
nizou o volume “As Mulheres e os Media”, de 2004, que cial”.
reúne peças de investigadoras como Cynthia Carter, Elisa- Maria João Silveirinha admite, nesta ordem de ideias, que
beth Frazer, Angela McRobbie, Gaye Tuchman ou Elisabeth as mulheres podem fazer a diferença no jornalismo, en-
van Zoonen. Por exemplo, em “O aniquilamento simbólico quanto co-construtoras da sua própria representação sim-
das mulheres pelos meios de comunicação de massas”, de bólica, apenas na medida em esta tendência fizer parte de
1978, Tuchman conclui que os media de massas represen- “um processo mais vasto de participação das mulheres na
tam as mulheres pelo seu papel de mães, figuras decorati- vida colectiva”.
vas ou elementos do sexo fraco a necessitar de protecção.
Silveirinha, por seu turno, tem-se dedicado à análise da re- *Jornalista e docente universitária

Media XXI | Maio-Junho 2005 | [ Página 71 ]


EDIÇÃO 81 6/10/70 8:56 PM Page 72

| Instituições da Comunicação |
APMP - Associação para a Promoção do Multimédia em Portugal

Portugal na linha
da frente
APMP promove a indústria nacional de multimédia e aposta na formação de
quadros | Por Daniela Gonçalves |
D.R.
Numa sociedade em tores de conteúdos, operadores de tele-
que o poder assenta na comunicações, editores, empresas de
informação e no co- comunicação social, operadores de tele-
nhecimento, é crucial visão, empresas de publicidade, estabe-
que todos os especialis- lecimentos de ensino e de formação, ca-
tas e intervenientes na racterizou o Presidente. Porém, referiu
área do Multimédia se que nem tudo é favorável. Isto porque a
mobilizem para tornar APMP é uma sociedade sem fins lucrati-
Portugal num país mais vos, não sendo “ainda reconhecida co-
competitivo, pensa o mo entidade de utilidade pública”, mui-
Presidente da APMP, to embora “o processo de obtenção
Francisco Miguel. Justi- deste estatuto já esteja a decorrer”, ex-
fica ainda, “as novas plicou o responsável.
tecnologias e a socieda- Para este ano, Francisco Miguel aposta
de da informação colo- no “relançamento” da APMP, daí que es-
cam ao conjunto das tejam já previstas conferências e debates
Francisco Miguel, Presidente da APMP nossas sociedades um sobre multimédia. O Governo Electróni-
enorme desafio”, sendo co e a Indústria Nacional de Conteúdos
“Apoiar a consolidação do mercado de neste contexto que a APMP desenvolve a estiveram no centro do primeiro debate
produtos e serviços multimédia interac- sua actividade. deste ano, realizado em Maio. A forma-
tivos em Portugal; reforçar a competiti- A experiência nacional e ção é uma prio-
vidade empresarial do sector e dinami- internacional da APMP, “AS NOVAS TECNOLOGIAS E A ridade para a
zar a definição de políticas para o sector na área do Multimédia, APMP, desta for-
multimédia” são os principais objectivos principalmente na for- SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO ma, está igual-
da Associação para a Promoção do Mul- mação de quadros, nas mente prevista a
timédia (APMP) em Portugal, explicou à acções de Marketing, e “a COLOCAM AO CONJUNTO DAS apresentação de
Media XXI o Presidente da instituição, motivação e dinamismo” projectos nesta
Francisco Miguel. Criada em 1996, a dos associados, são, se- NOSSAS SOCIEDADES UM área, referiu o
APMP pretende “colocar Portugal na lin- gundo Francisco Miguel, Presidente. “Ser-
ha da frente da sociedade digital”, pro- “os ingredientes que ENORME DESAFIO”. vir a causa do
movendo a indústria nacional de Multi- constituem os pontos progresso na-
média, acrescentou. A associação é fortes da associação”. E acrescenta que cional neste tempo único de transição e
privada, sem fins lucrativos e conta com “são quase 10 anos de experiência a tra- viragem” é a filosofia de actuação da
mais de 3 dezenas de associados das balhar com e para a indústria multimé- APMP, acrescentou o responsável.
mais diversas áreas. dia”. Os associados da APMP são produ-

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| Centros de Conhecimento |
Centro de Investigação em Ciências da Comunicação da Universidade do Algarve

Aprender a usar a net

Os projectos do CICCOM apostam na educação dos jovens para o uso crítico e


consciente da Internet e comparam a utilização das TIC em oito países
| Por Daniela Gonçalves |

Foram dois os principais objectivos que veis, jogos, e outros), e fazer uma análi- dos alunos para o mercado de trabalho,
conduziram à criação do Centro de In- se comparativa, é a meta do principal explicou o Professor Vítor Reia.
vestigação em Ciências da Comunicação projecto em curso no CICCOM, o ME- Na agenda deste ano encontram-se pro-
da Universidade do Algarve (CICCOM), DIAPPRO - Media Aproppriations. Está jectos na área dos estudos de género, da
em Fevereiro de 2004, referiu o direc- também a ser desenvolvida uma investi- comunicação ambiental, das Linguagens
tor, o Professor Vítor Reia. Por um lado, gação sobre “alguns estereótipos na im- Fílmicas e Novos Suportes (curso de Ve-
apostar “nos projectos internacionais de prensa desportiva, formas de comunica- rão), e dos estudos de opinião e sonda-
investigação e desenvolvimento que a ção nos Blogues, conceitos de gens. Ao CICCOM caberá igualmente “a
UALG tinha em curso, designadamente europeísmo na imprensa, alteração de organização das III Jornadas de Comuni-
os projectos EDUCAUNET – Programa linguagens nas cação da Universidade do
de Educação Crítica para a Utilização da mensagens SMS, Algarve”, acrescentou o
Internet e o MEDIAPPRO – Media e estudos no responsável.
Aproppriations”. Por outro, fazer inves- campo do cine- A colaboração do CICCOM
tigação em Comunicação, aproveitando ma”, justificou com os órgãos de comuni-
as capacidades dos profissionais da Vítor Reia. cação social do Algarve é
UALG, explicou o responsável. Afirmou que colaboram no CICCOM uma questão central para Vítor Reia. A
Avaliar o modo como os jovens estudan- cerca de vinte investigadores, a saber: parceria foi alargada também à região
tes de sete países europeus e do Canadá professores doutorados, alunos de dou- da Andaluzia, existindo uma “colabora-
utilizam os media, sobretudo as novas toramento e mestrado e ainda “vários ção próxima” com o Grupo COMUNI-
tecnologias da comunicação (telemó- investigadores estrangeiros que acom- CAR de Huelva.
panham trabalhos Apesar do centro de investigação estar
pós-doc”. Em vista, ainda a dar os seus primeiros passos, já
está a criação de uma foram traçadas algumas conclusões no
revista científica de projecto EDUCAUNET que “são de al-
comunicação e do gum modo inéditas”, para Vítor Reia.
portal do CICCOM. Em vez de tratar os problemas de segu-
“Dar visibilidade aos rança no uso da Internet, e as suas con-
resultados dos dife- sequências, como por exemplo restrição
rentes projectos” é a e proibição de navegação, optou-se pela
principal finalidade “via do conhecimento e da responsabili-
da futura publicação zação, logo pela via da utilização em
e do portal, muito consciência dos riscos”, rematou o di-
embora seja valori- rector do CICCOM.
D.R.
zada a preparação

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| Leituras |

A Entrevista no Investigação e Televisão e Cidadania


Jornalismo Globalização Revista
Manuel Pinto (org.)
Contemporâneo Media & Jornalismo Campo das Letras

Orlando Raimundo CIMJ


Minerva Minerva
A obra colectiva agora lançada pela
Foi recentemente publicado o sexto nú- Campo das Letras inaugura uma nova
Orlando Raimundo apresenta, neste li- mero da revista Media e Jornalismo, pu- colecção desta editora, «Comunicação e
vro, um trabalho minucioso sobre a re- blicada pelo Centro de Investigação em Sociedade», coordenada por Moisés de
portagem que se constitui quase como Media e Jornalismo (CIMJ). Este núme- Lemos Martins. Coordenado por Manuel
um manual para os que fazem do jorna- ro evidencia os diferentes caminhos que Pinto, este primeiro trabalho resulta da
lismo um sonho, ou uma profissão. tem tomado a pesquisa em comunica- colaboração entre a editora e o Centro
Abordando as questões estilísticas, de- ção e apresenta uma entrevista ao inves- de Estudos de Comunicação e Socieda-
ontológicas e éticas, trata o género com tigador Pertti Alasuutari, professor fin- de, que reuniu vários trabalhos do pro-
cuidado e rigor, complementando as- landês de sociologia e editor do jecto de investigação Mediascópio, no
sim, não só a bibliografia sobre jornalis- European Journal of Cultural Studies, re- qual participam vários investigadores do
mo, mas particularmente, sobre a entre- conhecido internacionalmente pelo seu Departamento de Ciências da Comuni-
vista. Trata-se de um livro que resulta da trabalho ao nível da pesquisa qualitativa cação da Universidade do Minho. De
investigação que o jornalista desenvol- sobre os media. Este número inclui ain- acordo com o texto de apresentação, a
veu para a sua pós graduação em Jorna- da um artigo assinado por este investi- proposta de «Televisão e Cidadania»
lismo, no Instituto Superior de Ciências gador, sobre a globalização da pesquisa procura utilizar a vida social enquanto
do Trabalho e da Empresa e que contri- qualitativa, os seus problemas e desafios, centro de gravidade a partir do qual o
bui para a investigação sobre os media nomeadamente no que respeita ao do- serviço público de televisão é pensado,
em Portugal. mínio anglo-americano no mercado estruturado e concretizado.
editorial.
| Paula dos Santos Cordeiro | | Paula dos Santos Cordeiro | | Paula dos Santos Cordeiro |

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| Mercados da Comunicação |

Operadores móveis procuram novas receitas e apostam nos conteúdos

Dinheiro sem Fios


Aos já tradicionais serviços de voz, associam-se agora novos conteúdos para
aumentar os lucros das operadoras e satisfazer as novas necessidades dos
utilizadores | Por Rui Braz |

Na TMN, segundo Carlos Roseiro,


Responsável pelo Departamento de
Serviços de Messaging e Transacio-
nais da Direcção de Negócios de Da-
dos e Conteúdos da empresa, cerca
Os serviços de voz continuam a contri- de 1% a 2% dos clientes aderiu já à
buir com cerca de 80% das receitas dos rede UMTS, ou seja, cerca de 50 a
operadores móveis. Parece certo que por 100 mil subscritores. Estes números
aqui os lucros não podem aumentar deverão ser acompanhados pelos
muito mais, pois a penetração de mer- outros operadores, o que significa
cado atinge já, em muitos casos, mais de que cerca de 250 mil utilizadores de te- (toques para telemóveis), dominada pe-
100%. Com as redes 3G em expansão, é lemóveis deverão, até final deste ano, lo Hip-Hop, apresenta vendas 3 vezes
chegado o tempo dos conteúdos multi- comunicar via UMTS. À medida que os superiores à tabela “Hot Digital Tracks
média. Qual será a “killer application” aparelhos atingem valores mais aceitá- Chart” (downloads digitais a partir de
desta geração de comunicações móveis? veis para o bolso dos portugueses, estes sites como o iTunes). Note-se que um
Muitos apostam numa solução tão velha números deverão disparar, criando um ringtone custa qualquer coisa como
quanto o mundo... gigantesco mercado para conteúdos $2,99, enquanto que uma música intei-
multimédia disponíveis 24 horas por ra custa $0,99. Este aspecto desperta a
| Expansão 3G anima o mercado | dia e entregues literalmente em mão atenção dos gigantes da música: a MTV
Face à concorrência no mercado da voz dos consumidores – Networks está a
– a que se juntam os emergentes servi- nunca a indústria de preparar o lança-
ços VoIP –, os principais operadores do entretenimento dis- mento do Flux, um
nosso mercado apostam nas redes 3G pôs de uma platafor- novo serviço de
para aumentar as suas receitas. TMN, ma de tal modo ubí- download de con-
Optimus e Vodafone têm vindo a lançar qua e omnipresente. teúdos para tele-
novos serviços que tiram partido da móveis que permi-
maior largura de banda proporcionada | Música, jogo e tirá o acesso a
pelo UMTS. A estes serviços juntam-se videojogos à frente | vídeos, cartoons e
os conteúdos multimédia, a começar Presentemente, a programas emiti-
pelo acesso à Internet 3G, desde logo música, e em particular os toques para dos pela MTV, como The Osbournes. O
aos portais multimédia dos diversos telemóveis, constituem 31% das receitas serviço será lançado no Japão, em Junho
operadores, onde pontuam alguns dos de conteúdos móveis. O exemplo para- deste ano, e deverá progressivamente
mais lucrativos negócios móveis: o digmático vem dos Estados Unidos, on- expandir-se a outros territórios.
download de músicas e de jogos Java. de a tabela Billboard “Ringtone Chart” Já em 2009, e de acordo com os analis-

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sua parte, contribuindo com “ape- de Strip Poker, wallpapers, animações,


nas” 2,2 biliões de dólares. clips de vídeo e toques (moantones, ou
gemidos...).
| Conteúdos para adultos |
Mas o negócio dos conteúdos para
adultos não espera por 2009 e já es-
te ano o gigante Playboy lançou, em
conjunto com o operador finlandês Outras empresas procuram ganhar para
Wes, um jogo para telemóveis inti- si uma parte deste mercado que leva já
tulado Playboy Playmate Strip Poker, os europeus a gastar cerca de 34 /ano
em que o jogador enfrenta uma em conteúdos para adultos: a AEBN criou
“coelhinha” – o objectivo, adivi- a Xobile (http://www.xobile.com) para
nha-se. Em paralelo, a Playboy disponibilizar 10 000 filmes distribuí-
tas, o entretenimento móvel irá gerar anunciou o iBod, uma colecção de dos por 150 categorias; a Wi-Fi TV Inc.
qualquer coisa como 59 biliões de Eu- imagens e vídeos para download e re- criou a Euro-tainment com semelhante
ros (fonte: Juniper Research). O jogo produção no iPod da Apple, e uma ou- intenção; a PhoneBox Entertainment,
online participa com cerca de 33% ou tra colecção em tudo semelhante para a
19,3 biliões, seguido de perto dos vi- PlayStation portátil.
deojogos com 31% ou 18,5 biliões. A Também Paris Hilton chegou aos tele- operando os seus sites PhonErotica e
música entra com mais 16% e o despor- móveis: o seu famoso “vídeo caseiro” BoogieBoys via WAP e 3G, atingiu os
to com 8%. A muito falada indústria de foi transformado pela Pimento Mobile 500 milhões de visitas em Fevereiro.
conteúdos para adultos também fará a (www.pimentomobile.com) em jogo

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| Actualidade/ Publicidade e Marketing |


“I’m loving…” ser mais activo D. R.

Hambúgueres
saudáveis?
As marcas mudam e evoluem. A McDonald’s
acompanha o pulsar da sociedade e revela ao
mundo as suas preocupações com a
alimentação e a vida activa | Por Paula dos Santos Cordeiro |

A mudança está relacionada com a edu- em assumir uma atitude


cação das crianças. Ronald McDonald, em relação àquilo que
percebeu, aos 42 anos, que deveria ser conseguimos marcar a
mais activo e vai passar a incutir essa diferença”, explicou Jim
ideia em todos os amantes de hambúr- Skinner, CEO da empresa,
gueres, dando especial atenção aos mais na apresentação pública
novos. da campanha.
A McDonald’s lançou uma campanha a
nível mundial que procura ajudar os | Hambúrgueres light |
consumidores a compreender os benefí- Transformado num líder
cios de uma alimentação saudável e im- de uma alimentação mais
plementar uma vida mais activa. “It’s saudável, Ronald McDonald faz-se fast food. Perante a ameaça da obesidade
what I eat and what I do… I’m lovin it” acompanhar de figuras conhecidas do que, de acordo com alguns estudos, po-
é o tema presente em todos os suportes desporto mundial, e associou-se os atle- derá causar mais mortes nos Estados
de comunicação usados, revelando a tas olímpicos, modelos que podem ser- Unidos do que o tabaco, algumas mar-
preocupação da marca com a educação vir de inspiração para desenvolver esta cas entram em acção por questões de
dos seus consumidores. Já no próximo nova imagem. Vénus e Serena Williams, imagem pública e, acima de tudo, para
Outono, Ronald, a mascote, vai aparecer as tenistas norte-americanas, Diego não perderem quota de mercado. Não
nos dois primeiros vídeos da série pro- Hypolito, ginasta brasileiro ou Sarah Ul- são apenas campanhas de carácter me-
duzida pela marca, criados para mostrar mer, ciclista neo zelandesa, são apenas diático, mas também alterações nos me-
às crianças que o exercício do corpo, da alguns exemplos das pessoas que se jun- nus. A McDonald’s está a desenvolver
mente e da imaginação pode ser muito tam ao palhaço dos hambúrgueres para um menu composto por uma salada,
divertido, contrariando a tendência de o nomear «embaixador oficial da felici- um livro de exercícios e um medidor de
sedentarismo e combatendo a tendência dade» e o associar ao desporto e saúde. passos, tentando com isso, que os con-
para a obesidade infantil de que tantas A campanha inclui iniciativas como a sumidores se mexam mais. O eterno ri-
vezes, a McDonald’s tem sido acusada. que leva sessões de fitness e exercício a val, Burguer King, tem agora um ham-
Sem deixar cair o “I’m lovin it”, lançado escolas primárias os E.U.A., procurando, búrguer que desafia as leis da fast food,
em 2003, a marca faz evoluir o tema e assim, combater a obesidade infantil. apresentando-se com apenas cinco gra-
tenta ligar todas as mensagens em torno Transformado num modelo a seguir, a mas de gordura, contra as habituais qua-
de uma vida equilibrada e mais saudá- mascote da marca contraria agora toda a renta e sete. Em Portugal, a campanha
vel. “Estamos atentos às necessidades história da McDonald’s e contribui para da McDonald’s chega no Verão.
dos nossos consumidores e empenhados delinear uma nova fase na história da

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| Entrevista/ Judite Mota |


Um mercado pequeno, com sintomas de criatividade em crise

Ser diferente entre iguais


Em entrevista à Media XXI, Judite Mota, directora criativa da Bates Red Cell em
Portugal e presidente do Clube de Criativos, falou sobre a conjuntura e as
estratégias para ultrapassar a crise, num ambiente em que a criatividade, é a
primeira a ser prejudicada | Por Paula dos Santos Cordeiro | | Fotos de João Reis |

Os últimos anos têm sido mais longe. Os últimos dois anos não
particularmente difíceis, com uma têm funcionado muito em função da
conjuntura pouco favorável ao criatividade das campanhas, contudo,
investimento publicitário. No seu enten- por mais que a publicidade tenha uma
der, quais têm sido as principais vertente de entretenimento, não podemos
dificuldades e as alterações de descurar a relevância e a originalidade.
mercado?
As dificuldades têm sido muitas, Paralelamente à crise, vivemos uma altura de
contudo, não são tanto económicas excesso de comunicação, particularmente co-
como se tem feito pensar. Para a mercial. Como se consegue continuar a
criatividade, influenciar as
a crise tem NO CASO DA BATES RED CELL, GOS- pessoas?
sido a des- As pessoas, a socie-
culpa para TAMOS DE ESTAR, NÃO UM, MAS dade e os gostos
evitar cam- mudam. O essen-
panhas mais DOIS OU TRÊS PASSOS À FRENTE E cial para a publici-
arriscadas e dade e a comunica-
para reduzir CONSEGUIR LEVAR AS MARCAS ção é estar sempre
as margens em contacto, em
de investi- CADA VEZ MAIS LONGE. relação com essas
mento. Pare- mudanças, saber
ce-me que se trata de um discurso sempre o que é a actualidade das pesso-
algo artificial face aos resultados as e tentar adiantar o que vai ser o
reais das principais empresas. amanhã. Os criativos alimentam-se do
quotidiano da vida das pessoas e do
Não estarão estes factores de crise as- consumidor para terem ideias.
sociados ao aumento do número de
agências a trabalhar em Portugal? Para além da estratégia desenvolvida para
Esse aspecto traduz-se numa difi- cada anunciante, que é sempre diferente, o
culdade acrescida, mas mesmo os que diferencia as agências de publicidade?
clientes mais antigos das agências Diz-se que são as ideias… Não há ne-
usam esses argumentos para não nhuma agência que não se auto-intitule
aceitarem campanhas mais origi- criativa… Seja como for, é a criatividade
nais. No caso da Bates Red Cell, que faz a diferença. Quanto melhores
gostamos de estar, não um, mas forem as ideias, do ponto de vista do
dois ou três passos à frente e con- consumidor, melhor será considerada a
seguir levar as marcas cada vez agência. Há também, um cliente perfei-

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«OS CRIATIVOS ALIMENTAM-SE DO QUOTIDIANO DA VIDA DAS PESSOAS»

to para cada agência, de acordo com os continuam a ser os criativos quem


objectivos de cada um, pois agência e tem maior visibilidade.
cliente funcionam como parceiros e
portanto, neste, como em outros domí- Enquanto criativa, como
nios da vida, há que encontrar a relação caracterizaria o mercado português
certa. de publicidade?
Infelizmente não é um mercado
A criatividade é um conceito muito subjectivo. desenvolvido, nem sequer ao ní-
Fazer publicidade é algo mais técnico ou vel do marketing. Trata-se de um
criativo? Qual o papel da emoção? mercado muito pequeno, em ter-
A emoção tem de estar entre a técnica e mos de competitividade e conco-
a criatividade, muito embora uma das rrência, pelo que não é rentável.
técnicas seja não respeitar a técnica. Este Em termos criativos também não
é um trabalho emocionalmente muito é muito avançado, nem compará-
intenso e, sem vel a mercados
emoções que- O ESSENCIAL PARA A PUBLICIDA- como o espanhol
ro o trabalho, ou o brasileiro.
quero resulta- DE E A COMUNICAÇÃO É ESTAR
do final, não Há anúncios que se
SEMPRE EM CONTACTO, EM RELA-
têm interesse, percebe estarem
pois não basta integrados em
ÇÃO COM ESSAS MUDANÇAS,
uma ideia ser campanhas globais.
engraçada, SABER SEMPRE O QUE É A Esta é uma tendência? beu que não pode dispensar a comuni-
tem também Já foi maior, esta ten- cação local.
de ser relevan- ACTUALIDADE DAS PESSOAS E dência da globalização
te. Em todos total, mas, mais uma No fundo, é a estratégia do «act globaly,
os momentos TENTAR ADIANTAR O QUE VAI SER vez, trata-se de uma think locally»…
do trabalho da questão relaciona- Sim, é isso. Na altura, assustei-me com a
agência, a O AMANHÃ. da com a re- ideia de globalização total pois no
emoção deve dução de contexto global, Portugal tende a
misturar-se muito bem com a técnica na custos. Produzir num desaparecer. Felizmente, os res-
conquista da relevância. país e distribuir pelo ponsáveis de marketing per-
mundo inteiro, para ceberam a importância de
O criativo é a face mais visível da empresa. um grupo maior de comunicar para mercados
Os anunciantes também têm essa ideia? mercados, sai mais locais.
Ainda temos muitos clientes com pouco barato, especialmen-
planeamento estratégico e ideias defini- te porque em to- E o público? Como se
das em relação aos traços mais visíveis dos os mercados conquista? Ou seja, o
da comunicação da empresa e que, por há compartici- que é um bom
isso, tentam impor as suas ideias antes pação nas anúncio? É aquele
de lhes apresentarmos uma proposta. despesas de que vende o
Não é completamente justo que os cria- publicidade produto, ou o que
tivos tenham a maior visibilidade, mas da marca. ganha prémios?
devemos também reconhecer que são Contudo, Idealmente, é o
uma peça muito importante neste pro- a maio- anúncio que
cesso. Em Portugal, ainda não temos ria das consegue fazer
prémios de eficácia e estratégia que pre- empre- as duas coisas. O
meiem directores de contas e planeado- sas já que fica na me-
res estratégicos e, um pouco por isso, perce- mória pela sua

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«É A CRIATIVIDADE QUE FAZ A DIFERENÇA»

história e que, ao mesmo tempo, faz esteja viciado. As ideias estão a acontecer cada um com a sua importância. A ques-
memorizar a marca. Um anúncio que em todo o lado, só é preciso saber usá- tão central é a da relevância da comuni-
serve para entreter e que é interessante, -las. Os anúncios mais populares são os cação num dado momento. Certos
se tiver uma exposição suficiente, acaba que dizem respeito ao dia-a-dia das pes- anúncios, mesmo que sejam aborreci-
por ficar na memória do consumidor. soas. A publicidade alimenta-se da socie- dos, se tiverem relevância para um deter-
Há inclusivamente estudos internacio- dade, mas dá também um retorno, con- minado consumidor, num dado momen-
nais que provam que a criatividade ven- tribuindo para a sua evolução. to, resultam. Contudo, se se tratar de um
de e é com base nesta premissa, que na anúncio engraçado, inovador e estimu-
Bates temos trabalhado. HÁ UM RECEIO MUITO GRANDE EM lante, vai conseguir estabelecer laços
emocionais com o consumidor, inde-
Foi recentemente escolhida para integrar o MOSTRAR ALGO QUE NÃO pendentemente do momento, ou da re-
júri do Festival El Sol e, tanto quanto sei, levância.
também já participou noutros festivais, CORRESPONDA À IDEIA DE
nomeadamente Cannes. Qual o valor dos Mas as pessoas cada vez mais abandonam a
«JOVEM BONITO E BEM VESTIDO»
prémios? TV em função de outros meios…
Cada vez mais, até porque os anuncian- E, COM ISSO, CORRE-SE O RISCO Acho excelente que haja uma dispersão
tes vêm sendo integrados nos festivais dos públicos por outros meios, porque
para aumentar e melhorar esta percep- DOS ANÚNCIOS PARECEREM assim, só vão estar na televisão os anun-
ção em relação à criatividade. ciantes com capacidade para investir
TODOS IGUAIS. nesse meio, e os anúncios mais relevan-
Como se desenvolve este processo em que a tes. Se todos achamos que os blocos de
publicidade influencia o público e se deixa publicidade em Portugal são muito
influenciar por aquilo que, num dado grandes, esta dispersão vai fazer com
momento, se passa na sociedade? Quais são as grandes tendências da que também os anunciantes se disper-
É um círculo vicioso e que espero, não publicidade moderna? sem por outros meios, aliviando a carga
Se a publicidade quer ser cria- publicitária em cada um.
tiva e original, não pode de-
pender ou seguir tendências. Outro desafio que se coloca tem a ver com
Ao nível dos suportes, estamos uma tendência demográfica na Europa e nos
claramente no tempo do mar- Países da América do Norte, de
keting relacional, em que se envelhecimento da população. Já se nota
tenta contactar o consumidor essa tendência na publicidade que se faz em
das formas e nos locais mais Portugal?
inesperados, cada vez menos Não. Já tentei, com produtos e clientes
nos mass media. A eficácia des- diferentes, falar segmentadamente para
tes meios alternativos é muito esse mercado e não consigo, não só por-
difícil de definir, mas desde que Portugal é um país muito conserva-
que consigamos fazer publici- dor, mas porque talvez se esteja à espera
dade que estabeleça laços com que no estrangeiro se comprove esta
o consumidor, ele vai deixar-se tendência. Há um receio muito grande
envolver. em mostrar algo que não corresponda à
ideia de «jovem bonito e bem vestido»
No seu entender como perspectiva e, com isso, corre-se o risco dos anún-
o futuro da comunicação publicitá- cios parecerem todos iguais. A publici-
ria? Será a Internet o veículo do dade tem, acima de tudo, de reflectir a
futuro para este tipo de realidade, ser credível para o consumidor
comunicação? e gerar identificação com o consumidor
Acho que não há um veículo, representando essa mesma realidade.
mas um conjunto de veículos e

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| Vizinhança Mediática |

do primeiro ciclo ao secundário, as ções de metro, cabeleireiros, centros de


ferramentas necessárias para a sua saúde e bombas de gasolina. Por en-
formação enquanto telespectadores. quanto circula apenas em Madrid, mas
Analisar criticamente e interpretar as os seus responsáveis contam poder fazê-
mensagens mediáticas são alguns dos -la chegar às cidades de Barcelona, Va-
objectivos deste programa de educa- lência, Sevilha e Bilbau, aumentando a
ção para os media (em que estão sua tiragem para 350 mil exemplares,
também incluídas referências à rádio, altura em que poderá também passar a
à imprensa e ao cinema). Abordadas semanal. Propriedade das empresas es-
transversalmente nas diferentes estru- panholas FEI e Staff, esta nova publica-
turas curriculares, as temáticas estarão ção vem juntar-se ao já considerável
Casa da Imagem presentes nas aulas de línguas, ciên- mercado de gratuitos da imprensa es-
cias sociais e educação visual e plásti- panhola, constituído pelos matutinos
Prevenir a obesidade ca. Cada escola que se comprometer Metro, 20 Minutos e Qué!, pelo vesper-
infantil com o projecto para os próximos 3 anos tino Ahora e pelo semanário madrileno
contará com um apoio de 1000 euros e Latino.
Numa iniciativa inédita na Europa, o material escolar. Para os professores en-
governo espanhol e os representantes volvidos estão ainda previstas 30 horas
das principais empresas de alimentação de formação.
assinaram um código de auto-regulação
da publicidade de alimentos e bebidas
Barómetro Universitário
dirigida aos menores. O objectivo prin- 2005
cipal deste código é evitar uma excessiva
pressão publicitária sobre os mais pe-
Imprensa gratuita mais A Escola de Estatística da Universidade
quenos e fomentar hábitos saudáveis de cor de rosa Complutense e o jornal universitário
alimentação e estilos de vida. Vai ser da- Menos 25 levaram a cabo um revelador
da atenção à apresentação dos produtos, Com uma tiragem de 150 mil exempla- estudo sobre os hábitos de consumo de
evitando, por exemplo, as mensagens res e uma periodicidade quinzenal, a meios de comunicação dos estudantes
que possam induzir em erro na inter- primeira revista cor-de-rosa gratuita na de Madrid.
pretação das características dos produtos Europa passou a ser distribuída em Maio A Internet e os telemóveis são os mais
ou dos benefícios deles derivados (mais na capital espanhola. valorizados pelos 1.443 estudantes in-
força, popularidade ou inteligência). Pa- De Corazón, com 68 páginas de notí- quiridos. No acesso à rede, a maioria
ra os incumprimentos deste código es- cias, crónicas sociais e muita publicida- dos estudantes (50,8%) afirma ligar-se
tão previstas sanções económicas, que de, mas também com apontamentos de em casa e 35,9% na universidade, sendo
serão utilizadas para financiar o progra- culinária, moda e programação televisi- que mais de metade o faz diariamente.
ma de controlo e aplicação do próprio có- va, está disponível em locais como esta- Depois da Internet, é a oferta dos tele-
digo e campanhas de educação e saúde móveis aquela que, segundo os jovens,
pública que promovam hábitos saudáveis mais vai ao encontro das suas necessida-
de alimentação e de actividade física. des. No que respeita aos media clássicos,
38,1% dos estudantes afirma ler a im-
prensa diariamente e uma percentagem
idêntica revela fazê-lo várias vezes por
semana. Já 65% dos jovens confessa ver
Ver televisão na escola televisão todos os dias, dedicando-lhe
até 3 horas diárias repartidas entre fil-
D. R.
Um inovador programa educativo, leva- mes, informação e séries. Para a rádio fi-
do a cabo pela região catalã, com o Pilar Quilón, Estrella Díaz (directora geral da revis- ca sobretudo reservado o contacto com
apoio do Conselho Audiovisual da Cata- ta) e Nacho Vidal (fundador), na apresentação da a música.
lunha, levará aos alunos de 50 escolas, revista De Corazón.

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| Lá Fora |

How
nanotechnology will
revolutionize new
| Tyrone L. Adams* |

media and society


Smaller, stronger, lighter, more powerful, revolutionary – MRI and PET equipment. Chemical engineers will likely
all of these words and more qualify some of the truly ama- discover new and improved drugs, and drug-delivery
zing work being done in nanotechnology research and de- systems to treat life-threatening illnesses. And, electrical
velopment throughout the world. If you don’t know what engineers will bring forth a host of new methods for con-
nanotechnology is, let’s start out with a general definition: trolling the logical sequencing of charged electron flow in
manipulating matter at the atomic level to create new ma- our modern equipment. However, I do not want to offer
nufacturing processes and pro- you all of these scientific vi-
I BELIEVE THAT THE SMART INVESTOR
ducts. Clearly, this is a definition sions of fancy without more
which deserves reflection. You see, SHOULD BOLDLY MOVE INTO TRUE NANO- definitive proof of what is de-
nanotechnology scientists are in finitively occurring in nanos-
the business of “thinking small.” TECHNOLOGY STOCKS, AND WAIT IT OUT cience. Let me discuss that
How small you may ask? Answer: with which I am most fami-
One nanometer, which is about FOR 10-15 YEARS. THIS IS A SCIENCE liar: computer microcircuitry.
1/1000th the width of a microme- Let’s go back in history, for a
ter (also known as a micron). RICH IN PROMISE, AND TECHNOLOGY HAS moment. Thomas A. Edison
Using powerful atomic force mi- discovered how to harness
croscopes and lithography techni- NOWHERE TO GO BUT TO GET SMALLER. energy through his discovery
ques, nanotechnologists are beco- of thermionic emission in
THE NEXT LEVEL DOWN IS NANOSCIEN-
ming quite versatile at engineering 1883. To put it simply, ther-
matter at its base level – the atom. CE. IT IS NOT A MATTER OF “IF,” IT IS A mionic emission is a rule of
And while this could seem like a electrical engineering which
powerfully boring art, the discove- MATTER OF “WHEN.” claims that electricity will
ries and inventions surrounding “jump” from pole 1 to pole 2,
nanoscience have the disciplines of physics, computer if the energy running through pole 1 is strong enough –
science, microelectronics, and communications abuzz with and the surrounding conditions are right. This rule has be-
the talk of a coming new renaissance within the next deca- en harnessed by basic transistor designs, to allow for the
de. restricted flow of electrons between two points (pole 1 and
The findings will be many. The fields of biological and pole 2) of a modern circuit. If the energy has been orde-
medical science, chemical engineering, and electrical engi- red to flow from pole 1 to pole 2, you have what we call a
neering are most likely to see proceeds first. Biological and “connected” or “closed” circuit. If no energy exists betwe-
medical science may one day benefit from more precise en pole 1 and pole 2, you have what is called a “disconnec-

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ted” or “open” circuit. Please recall that computers work en very successful in guiding us through microcircuit en-
off of binary logic. That is, computers think in 0s and 1s. gineering to this point.
Using complex algorithmic calculations, framed by smaller Microcircuit engineers are perplexed as to what can be do-
bits and bytes of predetermined logic libraries, our com- ne. Yet, there is significant excitement about a new branch
puters can do things as simple as allow us to play solitaire of nanoscience called “spintronics.” In spintronics, nano-
or write a word-processed document (like I am doing circuit engineers are trying to determine the “spin” of a
right now). To put is more simply, our computers basically single electronic – either clockwise or counter-clockwise –
run because we can make energy (in this case electricity) as it comes down a carbon nanotube engineered shaft. If
perform to the “code” of binary logic. the electron is moving clockwise, then the binary logic is a
Now, what does all of this have to do with nanotechno- 1. If the electron is moving counter-clockwise, then the
logy? Well, quite a bit ac- binary logic is a 0. The difference in
tually. Today’s computer IT IS MY OPINION THAT WE ARE ON THE this model is that nanocircuit engi-
chips (also known as the neers are harnessing the flow of one,
EDGE OF A RAGING NEW ARENA OF
central processing unit or single energy-charged electron. On
CPU) condense these small SCIENCE THAT WILL MATURE WITHIN THE
the other hand, microcircuit engine-
circuits by the millions to ers are looking at the flow of thou-
fit on a slice of silicon wa- DECADE. sands of electrons between a traditio-
fer. It is truly amazing that nal circuit. Obviously, once IBM,
we have come so far, so fast, THESE DISCOVERIES – WHICH ARE HUN- Intel, or AMD master the concept of
when you stop to think spintronics, the notion of Moore’s
about it for a moment. Not DREDS MORE THAN I HAVE LISTED HERE Law will be as outdated as the idea
50 years ago, the “digital that the world is flat.
binary” age began at Texas WITH SPINTRONICS – WILL NOT ONLY It is my opinion that we are on the
Instruments, and we have edge of a raging new arena of scien-
USHER IN NEW PRODUCTS THAT WILL
given birth to new media ce that will mature within the deca-
devices that magnify the CHANGE THE WAY THAT WE USE AND de. Likewise, these discoveries –
ideologies that use them by which are hundreds more than I ha-
turning information into a ABUSE NEW TECHNOLOGIES AND MEDIA, ve listed here with spintronics – will
power currency. not only usher in new products that
But, there is a small pro- THEY WILL REINVENT THE PROCESSES BY will change the way that we use and
blem with the current use abuse new technologies and media,
of microcircuits. Intel WHICH THINGS ARE MADE. they will reinvent the processes by
founder Gordon Moore on- which things are made. In the futu-
ce predicted in the 1960s that the amount of chips that re, your computer may not only be the size of a deck of
could be placed on a silicon wafer would double every 14- playing cards, but it may be constructed from the atom up.
18 months. This theory, which has stood the test of time I believe that the smart investor should boldly move into
until recently, has been referred to as Moore’s Law. You see, true nanotechnology stocks, and wait it out for 10-15 ye-
the main problem with Moore’s Law is that the issue of ars. This is a science rich in promise, and technology has
magnetic radiation had not been taken into consideration. nowhere to go but to get smaller. The next level down is
Microprocessor engineers have learned that, indeed, they nanoscience. It is not a matter of “if,” it is a matter of
can continue to reduce the number of chips on a silicon “when.”
surface. But, they have reached a point where the magne-
tism and radiation coming from neighboring circuits on
the wafer is, literally, melting the circuits upon themselves.
In short, the chipsets are getting too hot, and are unable to * Ph.D. Richard D’Aquin Associate Professor of Communications
be cooled by traditional means – like motorized fans. Mo- The University of Louisiana
ore’s Law is not holding up in the 2000s, though it has be-
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| Instituições da Comunicação |
Formação e convergência entre os jornalistas da Europa

European Journalism
Centre
Centro de formação de jornalistas promove a qualidade das competências
profissionais dos jornalistas europeus | Por Filipa Cerol Martins |

O Centro Europeu de Jornalismo dedica bo toda uma série de actividades


a sua actividade à formação profissional de monitorização e investigação,
de jornalistas e profissionais dos media que se traduzem em enumeras
desde 1992. publicações de qualidade.
Perante os novos desafios impostos aos A coordenação fica a cargo de re-
meios de comunicação na Europa, os re- presentantes de organizações
presentantes das indústrias e de organi- profissionais como a Internatio-
zações profissionais foram unânimes na nal Federation of Journalists, a In-
constatação da necessidade de um cen- ternational Federation of Newspa-
tro de confluência e de formação co- per Publishers e a European
mum. Foi nesse contexto que a Europe- Broadcasting Union. Isto porque
an Journalism Training Association o Centro lida com temáticas pro-
(EJTA), com o apoio da Comissão Euro- venientes tanto do mundo da im-
peia e do Parlamento Europeu, consti- prensa, como dos meios audiovi-
tuiu o EJC, uma organização indepen- suais e dos novos media
dente, sem fins lucrativos, que tem nos electrónicos.
seus principais objectivos a elevação dos
padrões da actividade jornalística. | Rede de confluências |
O EJC estabelece contactos entre
| A actividade | os países de toda a Europa, tendo
O EJC começou por ministrar cerca de já estendido a sua actividade aos
50 dias de curso por ano, a uma média novos países membros da EU ou D.R.
de 140 participantes, mas já em 1995 mesmo a outros parceiros como a
havia proporcionado mais de 120 jorna- Tunísia. A sua ambição é a de res-
das e visto o seu número de participan- ponder prontamente às necessidades da O Centro Europeu de Jornalismo pro-
tes aumentar para 750. Desde a sua cria- comunidade dos meios de comunicação porciona sobretudo uma convergência
ção já acolheu cerca de 10 mil europeus. Fazendo uso dos mais moder- de saberes e práticas profissionais. Os
jornalistas oriundos de uma centena de nos métodos de formação para oferecer seus estudantes e estagiários não só be-
países. Editores, jornalistas e estudantes seminários curtos e intensivos, as suas neficiam de um ensino de qualidade,
de jornalismo participaram, nos últimos actividades não acontecem só em Maas- como aproveitam intercâmbios enrique-
anos, nas actividades do Centro. A partir tricht. Para tal, colabora com mais de cedores com os seus pares.
do seu edifício central, sediado na cida- 50 escolas de jornalismo inseridas na Ao mesmo tempo que contribui para a
de holandesa de Maastricht, organiza se- European Journalism Training Associa- melhoria das práticas profissionais, este
minários, conferências e encontros onde tion. Em Portugal a representação é feita centro funciona, assim, como uma
se reúnem também decisores dos media pelo Cenjor. É esta internacionalização enorme rede de confluências e um
internacionais, personalidades políticas, que lhe permite organizar actividades exemplo no contexto da União
altos funcionários e parlamentares euro- numa grande parte das línguas oficiais Europeia.
peus. Para além disso, leva também a ca- europeias.

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| EuroMedia |

Casa da Imagem

Sociedade de Informação volta-se para o crescimento e emprego

i2010
O programa i2010, Sociedade Europeia da Informação, sucede ao eEurope 2005 e
aposta na banda larga para Portugal | Por Inês Rodrigues (em Bruxelas) |
Vivianne Reading, comissária europeia informação e a comunicação são duas apareceram novos serviços como o "born
para os media e a sociedade de informa- das bases tecnológicas essenciais de digital" e o software interactivo. A con-
ção, apresentou em Junho, na comissão crescimento na Europa, dado que um vergência da sociedade de informação
parlamentar da Cultura e Educação no quarto do PIB europeu e 40% da sua numa realidade digital está finalmente a
Parlamento Europeu, o programa qua- produtividade são provenientes das TI. tornar-se quotidiana e, na realidade, as
dro estratégico i2010, “i2010: Socieda- Além disso, algumas das diferenças de TI são cada vez mais inteligentes, pe-
de Europeia da Informação 2010”. Este performance económica entre os países quenas, seguras e rápidas, com conteú-
programa quadro tem como principal da UE são verdadeiramente explicadas dos multimédia em três dimensões.
objectivo, a promoção de um espaço pelo nível de investimento nas TI, tanto Segundo a Comissária, politicas pro-activas
económico digital aberto e competitivo, na sua investigação como no seu uso, e são essenciais para responder a estas
através das tecnologias de informação pela competitividade da industria dos mudanças fundamentais na tecnologia.
(TI). As TI são consideradas hoje em dia media e da comunicação. A convergência digital precisa de uma
pelos centros decisórios europeus uma Nos últimos anos, o desenvolvimento politica dessa convergência e facilidade
fonte importante de crescimento do ní- das tecnologias teve um crescimento ex- de adaptação aos novos quadros regula-
vel da qualidade de vida em cada Estado ponencial, só possível pela multiplicação dores. Neste cenário, a comissão propõe
Membro. O i2010 será a ferramenta da indústria das comunicações, telemó- três prioridades integradas na política
chave da Estratégia de Lisboa para o veis e serviços on-line e mesmo os cha- europeia para os media e a sociedade de
crescimento e emprego, de forma a mados "conteúdos tradicionais", como informação: a criação de um espaço eu-
cumprir as metas previamente definidas. vídeos, filmes e música, já estão disponíveis ropeu único de informação com o fim
Para a Comissária Vivianne Reading, a em formato digital. Neste "boom" também de promover um mercado interno aber-

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to e competitivo para a sociedade de in-


formação e os media, bem como agili-
zar e facilitar a Inovação e o investimen-
to na investigação das TI como
promoção de crescimento e emprego, e,
finalmente, conseguir atingir uma So-

Casa da Imagem
ciedade de Informação Europeia tal, ca-
paz de promover o emprego e a oferta
de trabalho de forma consistente com
um desenvolvimento sustentável que dê
prioridade a um melhor serviço público
e qualidade de vida.

| O novo ciclo |
Para Vivianne Reading, as coisas estão
claras, pois a União Europeia está a pre-
parar-se para dar um novo empurrão à sociedade da informação mais inclusiva rar ultrapassar as divisões sociais e geo-
Estratégia de Lisboa. A comissária enten- e abrangente, a estratégia i2010 está de- gráficas no seio da Europa no que con-
de ser urgente desenvolver propostas de finida para os próximos cinco anos e cerne à problemática da iliteracia digital.
actualização dos quadros legais para as conta com o financiamento do sétimo Considerando os principais concorren-
comunicações electrónicas, a sociedade Programa-Quadro para a Investigação, tes da Europa, a comissária europeia es-
de informação e os media, visando ex- bem como o Programa de Competitivi- pera que, com este quadro regulamen-
plorar a totalidade do mercado interno, dade e Inovação (CIP). tar, muito em breve, metade dos lares
recorrendo ao uso dos instrumentos fi- portugueses estejam ligados à Internet
nanceiros da comunidade para estimular | Conteúdos mais ricos | de alta velocidade, procurando acom-
o investimento estratégico na investiga- Em paralelo, a aposta centra-se no de- panhar a penetração e a velocidade das
ção. Para isso, os Estados Membros, atra- senvolvimento de um plano de acção ligações existentes em outros países, pa-
vés dos programas nacionais a serem ra assim, promover a competitivi-
adoptados em Outubro de 2005, devem A COMISSÁRIA ENTENDE SER URGEN- dade. Espera-se que a banda larga
definir as prioridades para o desenvolvi- continue a implantar-se, bem co-
mento dos instrumentos da Sociedade TE DESENVOLVER PROPOSTAS DE mo a convergência entre a Inter-
de Informação no seu país. Esses progra- net, telefone e a televisão, para for-
mas terão como finalidade dotar os esta- ACTUALIZAÇÃO DOS QUADROS LEGAIS talecer o mercado interno na área
dos membros de capacidade para uma das telecomunicações e serviços
rápida adaptação ao novo quadro regu- PARA AS COMUNICAÇÕES ELECTRÓNI- digitais.
lador, aumentar a despesa nacional em Um dos grandes objectivos deste
investigação e inovação, e desenvolver CAS, A SOCIEDADE DE INFORMAÇÃO E i2010 é o desenvolvimento de um
serviços públicos digitais operativos. mercado europeu no domínio dos
OS MEDIA.
Neste contexto, os Estados membros te- conteúdos multimédia e on-line,
rão que reportar anualmente a Bruxelas de acordo com a cultura europeia
os seus avanços na implementação do para serviços de governo electrónico e as diferentes identidades dos países
programa de acordo com o ciclo da Es- (eGovernment) a avançar já em 2006. A que a constituem. Trata-se de fazer
tratégia de Lisboa. A comissária infor- qualidade de vida está também incluída frente à oferta dos mercados mundiais,
mou também que a Comissão Europeia, neste programa de acção, nomeadamen- fortalecendo o sector e dinamizando
iniciará um diálogo com investidores te no que respeita a tecnologias para o um mercado interno ainda incipiente.
privados para o desenvolvimento deste apoio aos idosos, veículos inteligentes e As medidas passam pela simplificação
programa e os serviços baseados nas bibliotecas digitais, com arranque pre- da regulação e o apoio ao investimen-
tecnologias de informação e comunica- visto até 2007. O plano e-Inclusion, to, conforme explicou Viviane Reding.
ção. Com o objectivo de promover uma marcado para o ano de 2008 irá procu-

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| Internacional/ Rádios Associativas |

O sector de radiodifusão não comercial Casa da Imagem

francês

Rádios Livres,
ou nem
tanto...
Em França, mantém-se a discussão em torno do paradoxo entre financiamento e
liberdade de expressão para as rádios associativas | Por Sayonara Leal, em Paris |
Falar do binómio financiamento e inde- Mas, desde a origem das rádios locais raio de 15 a 30 km de extensão.
pendência nos remete directamente para que persiste o problema da auto-sus-
o princípio de liberdade de expressão tentabilidade. O voluntariado é a base | Regulação |
historicamente reivindicado pelo movi- de funcionamento destas rádios e, o as- Os dois órgãos públicos que regulam o
mento de rádios livres desde a década pecto financeiro, está atrelado ao carác- sistema audiovisual francês são: o Minis-
de 1970. Na altura, o sector de comuni- ter de independência e liberdade de tério da Cultura e das Comunicações e o
cações estava predominantemente sob expressão das rádios livres. Conselho Superior do Audiovisual
monopólio estatal e privado em todo o A legislação francesa enquadra estes (CSA). Este último conta também com a
mundo. Tanto em países europeus como meios de comunicação na categoria estrutura dos chamados Comités Técni-
nos latino-americanos multiplicaram-se (A) de serviços privados não-comer- cos Radiofónicos – CTR, instalados em
as demandas pela liberação das ondas ciais, com vocação para serem de pro- 12 regiões da França Metropolitana e
sob a égide das rádios pira- nos territórios franceses do além-
tas. O engajamento sócio- mar. Existem na França metropoli-
político e cultural e uma O VOLUNTARIADO É A BASE DE FUNCIONAMENTO tana 547 rádios associativas em
comunicação independente, funcionamento, o que representa
DESTAS RÁDIOS E, O ASPECTO FINANCEIRO, ESTÁ
desatrelada do poder eco- 24,9% do total das frequências au-
nómico, formavam o espíri- ATRELADO AO CARÁCTER DE INDEPENDÊNCIA E torizadas pelo CSA (dados do CSA
to das rádios locais não-co- de 31 de Dezembro de 2003). As
merciais. O caso francês de LIBERDADE DE EXPRESSÃO DAS RÁDIOS LIVRES. rádios associativas que cumprem as
radiodifusão não-comercial normas de funcionamento previs-
é bastante paradigmático tos na lei, sobretudo o respeito ao
por se tratar de um dos primeiros países ximidade, comunitárias, culturais ou seu carácter não-comercial, têm acesso
na Europa a legalizar o funcionamento escolares. A sua programação deve ser ao Fundo de Suporte à Emissão Radiofó-
de rádios livres a partir da lei do audio- de interesse local, com a obrigatorieda- nica – FSER - criado em 1982, mantido
visual de 1982 que inaugura a denomi- de de apresentarem um mínimo de por uma taxa parafiscal sobre as receitas
nação de rádios associativas. quatro horas por dia de difusão de publicitárias das rádios e televisões pri-
O movimento de rádios livres na França conteúdos próprios entre 6h e 22h. So- vadas comerciais. Este é um mecanismo
nasce em contraposição ao monopólio mente associações e fundações sem fins de subvenção pública para a instalação,
estatal sobre o sector audiovisual e a fa- lucrativos legalmente constituídas po- manutenção, compra e renovação de
vor da democratização da exploração e dem demandar a exploração deste ser- equipamentos. Mas, para que as rádios
do acesso ao serviço de radiodifusão. viço. Essas rádios podem operar num associativas que se beneficiam de verbas

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Casa da Imagem
publicitárias recebam a ajuda do
Fundo elas devem obedecer ao
dispositivo da lei 86-1067 de 30
de Setembro de 1986, que limita
em menos de 20% a publicidade
sobre o total de receita da rádio.
Aquelas que são atendidas pelo
fundo podem receber anualmente
o máximo de 40 000 euros de
subvenção para a sua manutenção.

| Financiamento |
A questão do financiamento assu-
me lugar privilegiado nos espaços
de debate sobre a dinâmica do sis-
tema associativo de radiocomuni-
cação francês. Os dois órgãos re-
presentativos das rádios de
categoria A na França, o Sindicato
Nacional de Rádios Livres – SNRL – e a presidente da rádio, Jean-Marie Chauo- rin, presidente do SNRL, muitas rádios
Confederação Nacional de Rádios Asso- llet. Esta é uma rádio associativa de cen- da categoria A beneficiadas pelo fundo
ciativas – CNRA – compartilham a preo- tro social que funciona com 38 voluntá- difundem quase 20 horas por dia de
cupação sobre os critérios e restrições rios e dois assalariados que não recorre conteúdos de redes nacionais de rádios,
das subvenções oriundas do Fundo de à publicidade. como as rádios diocesanas integradas à
Sustentação à Expressão Radiofónica. Pa- Para o SNRL, hoje, o que compromete o Rede Rádio Cristã na França que trans-
ra as duas entidades, as rádios associati- financiamento das rádios de categoria A mitem a Rádio Vaticano. Para o sindica-
vas francesas cumprem missões de ser- é a deturpação do princípio de equidade to, estas emissoras não têm as caracterís-
viço público, sendo assim actores no procedimento de concessão dos sub- ticas de rádios locais associativas
sócio-culturais importantes independentes, como prevê a lei. “Não é
nas localidades onde emitem. justo financiar identicamente uma rádio
Da parte do CNRA, o ponto A QUESTÃO DO FINANCIAMENTO ASSUME independente que realiza quase a totali-
crítico do debate sobre o dis- dade de seus programas e uma outra,
LUGAR PRIVILEGIADO NOS ESPAÇOS DE
positivo do financiamento simples repetição local de uma rede na-
destas rádios está nas receitas cional, que concebe menos de 20%”,
DEBATE SOBRE A DINÂMICA DO SISTEMA
necessárias ao FSER para sus- explicam Bouttarin e Andruccioli. Na
tentar a economia das rádios ASSOCIATIVO DE RADIOCOMUNICAÇÃO verdade, questões como princípios de-
de categoria A na França. ontológicos, profissionalização dos ani-
Muitas rádios associativas so- FRANCÊS. madores e do serviço prestado pelas
brevivem dos recursos finan- emissoras perpassam a discussão sobre o
ceiros concedidos pelo fundo, financiamento e a independência das ra-
não contando com ne-nhuma outra sídios do FSER. O sindicato defende um diodifusoras associativas na França.
fonte sustentável de receita. Este é o caso quadro legal que garanta a subvenção Aquilo que pode orientar a continuida-
da Rádio Pacot Lambersart- RPL -, loca- daquelas rádios associativas indepen- de do sector de radiodifusão não-co-
lizada no norte da França, na região me- dentes e engajadas em projectos de co- mercial é a garantia da sua sustentabili-
tropolitana de Lille. A subvenção dada municação social de proximidade, exi- dade financeira e a salvaguarda do
pelo FSER representa aproximadamente bindo em grande parte programas pluralismo de opiniões, de expressões
80% da receita total da RPL. “Em relação próprios. Segundo Gilberto Andruccioli, socioculturais, a promoção do desenvol-
ao nosso futuro o que mais me preocu- representante das rádios associativas na vimento local, a luta contra a exclusão.
pa é a incerteza sobre o FSER”, diz o Comissão do FSER e Emmanuel Boutta-

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EDIÇÃO 81_1 6/9/70 9:52 PM Page 92

| Aldeia Global |
Media e etnicidade em discussão nos EUA 25ª edição da Computex Taipei
Realizou-se em Nova Iorque, no passado dia 9 de Junho, a primeira edi- A Computex Taipei, a segunda maior feira de comu-
ção da National Expo of Ethnic Media, resultado da cooperação entre a nicação e tecnologia a seguir à CeBit, realizou-se en-
Graduate School of Journalism da Universidade de Columbia, a American tre 31 de Maio e 4 de Junho no World Trade Centre
Press Association e a New California Media, uma associação nacional de de Taipei, Taiwan. No ano em que comemorou o seu
cerca de 700 meios de comunicação étnicos. Numa celebração dos valo- 25º aniversário, a feira contribuiu para situar o país
res do jornalismo intercultural, este fórum foi anfitrião como um dos
o palco para a discussão e partilha de ideias mais importantes no ce-
entre profissionais, educadores e estudantes nário dos mercados dos
dos media e participantes de outras áreas da computadores, comuni-
comunicação como publicitários, representan- cações, electrónicas de
tes de variadas comunidades étnicas, activistas consumo e conteúdos di-
e investigadores sociais. Dar relevo aos meios gitais. De acordo com os
de comunicação étnicos e colocá-los sob a organizadores da feira,
atenção dos decisores, publicitários e dos este ano foram batidos
meios de comunicação generalistas foi o prin- todos os recordes de par-
cipal objectivo desta feira, que pretendeu tam- ticipação com 28,254 vi-
bém contribuir para fortalecer os laços entre sitantes internacionais e
diferentes meios de comunicação e desenvolver novas estratégias mediá- compradores profissionais durante os cinco dias do
ticas, numa sociedade cada vez mais globalizada e multicultural. evento, subindo em 7,75% a participação em relação
ao ano anterior. Ainda segundo as estatísticas da or-
ganização, os compradores dos Estados Unidos cons-
tituíram o mais importante grupo comprador estran-
Jornalismo de causa nas ruas de Londres geiro, seguido dos japoneses e dos sul- coreanos.
The Pavement é um jornal A próxima edição da Computex Taipei realizar-se-á
mensal de 8 páginas, de dis- entre 6 e 10 de Junho de 2006.
tribuição gratuita, dedicado
aos sem-abrigo de Londres.
Distribuído em centros de
dia e outros espaços de
Google Inc. é a mais bem cotada
apoio, tem uma tiragem de do mundo
1300 exemplares e é produ- A Google Inc. foi considerada pelos especialistas da
zido exclusivamente por vo- Wall Street a mais valiosa empresa de media do mun-
luntários. Com a reportagem do quando, no início do mês de Junho, as suas ac-
e o cartoon como privilegia- ções chegaram a ser negociadas a cerca de 290 dóla-
dos géneros jornalísticos, a res. Atingindo uma capitalização de mais de 80 mil
redacção fica a cargo de re- milhões de dólares, ultrapassou a Time Warner, gi-
conhecidos profissionais que gante dos media que até então detinha o título.Tam-
dão um pouco do seu tempo bém a sua rival Yahoo apresentou um volume de ne-
livre por esta causa e garan- gócios menor, situado nos 53 milhões de dólares.
tem, assim, a sua credibilida- Considerada por várias revistas da especialidade co-
de. Ao mesmo tempo que mo um dos melhores produtos da internet, começou
procura ir ao encontro das em 1995 como motor de busca simples. Hoje, dos
necessidades informativas de seus serviços fazem também parte a pesquisa de ima-
quem vive na rua, este jornal dá conta dos serviços e equipamentos dis- gens e de mapas, a agregação de notícias ou o recen-
poníveis na cidade. Para manter a ligação próxima, oferece ainda outros te serviço de email - Gmail. A Google fica agora a 17
elos de ligação, como um espaço resposta do leitor ou uma coluna, de- mil milhões de dólares de entrar para o grupo das
senvolvida por uma enfermeira com larga experiência de voluntariado, maiores empresas norte-americanas no que respeita
que funciona como consultório para questões de saúde e não só. à cotação na bolsa.

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| Último Olhar |
Projecto inovador caça talentos

Repórteres online
O “BlogReporters” pretende ser uma janela aberta à
divulgação de trabalhos de jornalismo | Por Cátia Candeias |

Um espaço “no qual se façam finalmen- gação) não só de jornalistas recém-


te as reportagens que nunca ninguém licenciados como de profissionais
ousou fazer em Portugal” e que “valori- deste ou de qualquer outro sector.
ze a investigação e a inovação”. É assim “Não vamos recusar ninguém”, disse riormente submetidos à avaliação e pu-
que Hugo Neves da Silva, profissional Hugo Silva à Media XXI. Segundo o res- blicação dos editores. Se o BlogRepor-
de relações públicas e autor da ideia ponsável, o BlogReporters será, à semel- ters correr como esperado, há ainda a
deste projecto, define o BlogReporters. hança de um jornal diário, constituído intenção de “fazer um protocolo com os
Assim que Hugo Silva publicou a ideia pelas seguintes secções: nacional, local, órgãos de comunicação social”. Em jogo
no blogue LisbonLab, as reacções foram política, economia, social, desporto, cul- estão oportunidades comerciais, na me-
imediatas. Até ao momento, já manifes- tura/lazer, tecnologia e ambiente. Se- dida em que os órgãos de comunicação
taram a intenção de participar no “Blog- guindo ainda a organização de uma pu- que manifestem interesse por algum tra-
Reporters” “cerca de 25 pessoas”. O es- blicação convencional, o projecto terá balho publicado poderão entrar em
paço virtual que “em Agosto deverá também um editor por cada secção, que contacto com o BlogReporters ou direc-
entrar em fase de testes”, convida à pu- será responsável por aceitar ou não os tamente com o autor para eventualmen-
blicação de trabalhos jornalísticos (re- trabalhos enviados. Daí que os partici- te comprar o artigo.
portagens, notícias, trabalhos de investi- pantes só possam publicar drafts, poste-

Informação geolocalizadas

Conteúdos com coordenadas GPS


A indústria das tecnologias da informação e
comunicação prepara uma nova forma de
pesquisar notícias e imagens: coordenadas GPS
para conteúdo online | Por Paula dos Santos Cordeiro |
A possibilidade de pesquisar as notícias aspecto que, se por um lado tem
disponíveis online referentes a uma zo- sido descurado, por outro, tem
na geográfica específica, ao invés da pes- sido habilmente utilizado por
quisa por títulos, palavras-chave ou con- governos e suas organizações e
teúdo é um aspecto começa a ser ganha agora, novos contornos, aumen- ciona em combinação com outro soft-
desenvolvido. A facilidade e precisão das tando as potencialidades da Internet pa- ware, o Magic Maps e permite uma via-
pesquisas, aliada à proximidade gerada ra o utilizador comum. Existem já apli- gem pelas fotografias com base numa
entre o meio, a região e o utilizador são cações informáticas a baixo custo que pesquisa pela área ou região. A Microsof
os aspectos mais relevantes desta nova permitem aos fotógrafos adicionar coor- está também a desenvolver uma tecno-
tendência que começa a ganhar notorie- denadas GPS às suas imagens digitais. logia semelhante.
dade na Internet. A geolocalização é um Uma dessas aplicações – Grazer – fun-

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