You are on page 1of 20

BEM-ESTAR PSICOLÓGICO VERSUS DISTRESS: UM ESTUDO

EXPLORATÓRIO SOBRE SAÚDE MENTAL

PSYCHOLOGICAL WELL-BEING VERSUS DISTRESS: AN EXPLORATORY STUDY ON


MENTAL HEALTH

Diocleide Silva1
Ana Janete de Oliveira Paz2
Bruna Soliva2
Francielle Comiran2
Graziela Picini2
Laerte Bach de Souza2
Marciane Sotoriva2
Renata Savaris2
Sarah Adaias de Souza Marçal2

SILVA, D.; PAZ, A. J. O.; SOLIVA, B.; COMIRAN, F.; PICINI, G.; SOU-
ZA, L. B.; SOTORIVA, M.; SAVARIS, R.; MARÇAL, S. A. S. Bem-estar
psicológico versus distress: um estudo exploratório sobre saúde men-
tal. Akrópólis, Umuarama, v. 17, n. 2, p. 59-68, abr./maio 2009.

Resumo: O mundo contemporâneo e suas demandas sociais e econômicas têm


exigido cada vez mais do sujeito o enfrentamento de novos desafios em rit-
mos cada vez mais velozes. Tais exigências afetam de forma direta a saúde
mental. Tomando por base a idéia de que a saúde mental é muito mais que a
ausência de doença, mas que também envolve o bem-estar psicológico, o qual
presume a ausência de estados de ansiedade e depressão. Neste sentido, o
objetivo geral deste estudo consistiu em investigar o nível de saúde mental dos
moradores da cidade de Cascavel/PR, tendo por objetivos específicos analisar
de que forma os fatores sócio-demográficos contribuem para explicação do
bem-estar psicológico/distress; conhecer os níveis de bem-estar/distress entre
1
Psicóloga, Mestre em Psicologia Social, homens e mulheres e comparar os índices de bem-estar/distress em diferentes
Professora do Departamento de Psicologia faixas-etárias. Participaram deste estudo 440 pessoas, de ambos os sexos
UNIPAR/Cascavel (52,7% fem. – 47,3% masc.) com idade entre 18 e 60 anos (Média 31 anos)
dos diferentes níveis sócio-econômicos. O instrumento que mediou a coleta
2
Acadêmicos do Curso de Psicologia UNI- de dados foi um questionário de saúde geral (QSG-12), contendo 12 questões
PAR/Cascavel, Participantes do Programa com pontuações de 1 a 4, sendo que, quanto mais próximo de 4, maior o nível
de Iniciação Científica de comprometimento da saúde. Os resultados mostram que a média de saúde
geral da amostra pesquisada é de 1,9 o que denota um índice aceitável de
saúde geral da população pesquisada, já que este se encontra muito mais
próximo a 1 do que a 4. O conjunto dos dados nos leva a inferir que o nível sa-
tisfatório de saúde reside no elevado sentimento de autoeficácia apresentado
pelos pesquisados, em detrimento dos sintomas de ansiedade e depressão, o
que contribuiu de forma significativa para o bem-estar e reduziu os efeitos do
distress.
Palavras-chave: Saúde mental; Bem estar; Distress.

Abstract: Contemporary world and its social and economic actions have incre-
asingly required people to face new challenges in a fast pace. Mental health is
directly affected by these requirements. Based on the idea that mental health
is much more than the absence of the disease; it is also seen as psychological
well-being, which states the absence of anxiety and depression. According to
this, the general aim of this study was to investigate the level of mental health for
the inhabitants of Cascavel-PR, with specific aims of analyzing in which ways
the socio-demographic factors contribute to the explanation of psychological
Recebido em março/2009 well-being/distress; to be familiar with the levels of well-being/distress among
Aceito em junho/2009 men and women as well as to compare the levels of well-being/distress in diffe-
rent age groups. Four hundred and forty people (52.7% women – 47.3% men),
aged 18–60 (mean of 31 years), from different socio-economic status, took part

Akrópolis, Umuarama, v. 17, n. 2, p. 59-68, abr./jun. 2009 59


SILVA, D. et al.

in this study. A general health questionnaire (GHQ-12), with sócio-histórico-econômica mundial e, como conse-
12 questions scored from 1 to 4, the closer to 4 the higher quência, as pessoas estão expostas a uma freqüente
the level of health impairment, was used to assess data col-
situação de instabilidade que gera conflitos, ansieda-
lection. Results showed that the general health mean of the
researched sample is 1.9, what is an acceptable level of de, angústia e desestabilização emocional.
general health for the researched population as it is closer É neste cenário que cada vez mais é exigi-
to 1 than 4. All data led us to conclude that the satisfactory da do indivíduo uma adequação no desempenho de
level of health is the high feeling of self-efficiency presented papéis, de forma que a variedade de compromissos
by the researched individuals in relation to anxiety and de-
do mundo moderno – mediada principalmente pelas
pression symptoms, what significantly contributed for their
well-being and reduced the effects of distress. relações produtivas – não o leve à sobrecarga e ao
Keywords: Mental health; Well-being; Distress. adoecimento. O aumento e a diversificação de pa-
péis, divergências de situações, questões familiares
INTRODUÇÃO e afetivas, bem como as questões de empregabilida-
de e desemprego, requerem cada vez mais ajustes
Falar em saúde requer algumas reflexões. que demandam energia, tanto físicas quanto psíqui-
Reflexões estas que perpassam por desconstruções cas. Assim, é travada uma luta diária que perpassa
de uma percepção comum, isto é, da saúde como a pelas questões de sobrevivência e vai até os fatores
ausência de doença. Significa dizer que um sujeito relacionados à qualidade de vida e bem-estar.
não doente não necessariamente é um sujeito saudá- O equilíbrio tão desejado e ao mesmo tem-
vel, isto porque, por vezes, encontra-se em condições po tão distante é visivelmente percebido pelas cres-
de não cidadania, vulnerabilidade social, pobreza e centes queixas cotidianas de sobrecarga, ansiedade
demais formas nefastas de exclusão. Assim, o critério patológica, sentimentos de impotência e depressão.
saúde mental como bem-estar físico e emocional se O alto nível de medicalização, somatizações e afas-
caracteriza por um equilíbrio entre os afetos, em que tamento das atividades produtivas também nos pa-
os afetos positivos predominam sobre os aspectos recem denunciar que as relações entre o sujeito e
negativos. as demandas do meio social estão cada vez mais
Por assim ser, discutir os processos de saú- conflituosas. O desenvolvimento de uma rede de
de implica transitar por áreas que vão desde a res- apoio social surge então como indispensável para o
ponsabilização do estado ao direito do cidadão, sem enfrentamento e minimização destes danos, ou seja,
deixar de pensar no compromisso ético-político das na medida em que as relações afetivas primárias são
ciências comprometidas com o homem. desenvolvidas com qualidade, os mecanismos so-
Com o surgimento da Psicologia, as preocu- ciais de formação e capacitação profissional se am-
pações sobre a compreensão do mundo psíquico do pliam, a rede de suporte social e familiar é eficiente e
indivíduo e suas motivações comportamentais acon- a economia estável, os sentimentos de autoeficácia
teceram após esta sair dos laboratórios experimen- são aumentados e atuam como um redutor dos sen-
tais, e estender-se ao âmbito das intervenções e do timentos de ansiedade e depressão, gerando, assim,
adoecimento psíquico. Assim, a causalidade e suas a sensação de bem estar e saúde.
conseqüências do adoecer e dos processos de saú- Aqui reside um dos maiores desafios da psi-
de/doença ocuparam lugar central no interesse da cologia na atualidade, compreender e buscar intervir
ciência psicológica. no âmbito social maior – ocupar os espaços públicos
Historicamente, as concepções sobre o ado- – de forma a promover a saúde. Diante desta realida-
ecimento psíquico estiveram vinculadas aos mitos e de, o primeiro compromisso é a ampliação da com-
à religião. Desta forma, considerava-se que algo de preensão teórica em relação à saúde, o que exige
sobrenatural acontecia ao sujeito que fugia dos pa- ultrapassar seu significado em termos de normalida-
drões de normalidade vigentes e manifestava com- de, equilíbrio e falta de sintomas (REY, 1997). Isto
portamentos tidos como desviantes. Neste sentido, supõe a ampliação da compreensão do termo saúde,
de acordo com Morris e Maisto (2004), há milhares cabendo assim uma integralidade e não dicotomiza-
de anos comportamentos misteriosos vinculados à ção entre mente e corpo. Neste sentido é pertinente
loucura eram vistos como sinal de que os espíritos considerar que a saúde mental, a saúde física e a
tinham possuído uma pessoa, sendo que, por vezes social são fios da vida estreitamente entrelaçados
esta era tida como mensageira dos deuses, por outra e profundamente interdependentes. À medida que
como possuídos pelo mal, o que sinalizava perigo e cresce a compreensão desse relacionamento, torna-
ameaça à comunidade. se cada vez mais evidente que a saúde mental é in-
Desta forma, nas últimas décadas tem-se dispensável para o bem-estar geral dos indivíduos,
presenciado inúmeras transformações na estrutura das sociedades e dos países.

60 Akrópolis, Umuarama, v. 17, n. 2, p. 59-68, abr./jun. 2009


Bem-estar psicológico...

Saúde versus Doença mental: Aspectos concei- da em quatro diferentes aspectos, considerando sua
tuais construção simbólica e historicamente determinada:
1) como ausência de mal-estar; 2) manifestação de
Em termos gerais, saúde, segundo Ferreira bem-estar subjetivo; 3) manifestação de uma boa
(2004), é a normalidade do funcionamento do estado qualidade de vida; 4) como presença de atributos in-
mental, físico e orgânico. Essa idéia vasta é compar- dividuais positivos (ALVARO e PÁEZ, 1996).
tilhada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) Percebe-se assim que a perspectiva ausên-
que, desde 1958, apresenta saúde como resultado cia de doença não é em si suficiente para o diagnós-
da interação entre um total estado de bem-estar fí- tico de saúde mental e sim um complemento para o
sico. mesmo, sendo que, na maioria das vezes, os critérios
Ainda segundo a OMS, a saúde é um estado utilizados para diagnóstico e compreensão da saúde/
de completo bem-estar físico, mental e social, que não doença mental incluem a existência relativa de sinto-
se caracteriza unicamente pela ausência de doenças. mas, sua duração e o funcionamento não integrado.
Assim, a saúde abrange, entre outras coisas, o bem- Compreender saúde mental somente como
estar subjetivo, a autoeficácia percebida, a autono- ausência de doença é de certa forma reducionista,
mia, a competência, a dependência intergeracional e pois não a conceitua por aquilo que ela necessaria-
a autorrealização do potencial intelectual e emocional mente é, e sim, pelo que lhe falta. Caracteriza um
da pessoa. Numa perspectiva transcultural, é quase indivíduo com enfermidade por meio de um transtor-
impossível definir saúde mental de uma forma com- no mental, excluindo a possibilidade de este não ma-
pleta. De um modo geral, porém, concorda-se quanto nifestar sintomas, sinais definidos, mas possuir um
ao fato de que a saúde mental é algo mais do que a bem-estar psicológico comprometido (DALGALAR-
ausência de perturbações mentais. RONDO, 2000).
Em complemento a esta idéia, Singer (1987) O critério saúde mental como bem-estar físi-
acredita que esta formulação inclui as circunstâncias co e emocional caracteriza-se por um equilíbrio entre
econômicas, sociais e políticas, como também a dis- os afetos, em que os afetos positivos predominam
criminação social, religiosa ou sexual; as restrições sobre os aspectos negativos. Cabe assim salientar
aos direitos humanos de ir e vir de exprimir livremente que afetos, de acordo com Diener (1994 p. 545), re-
o pensamento. Assim, a doença não resulta apenas ferem-se “às experiências emocionais agradáveis e
de uma contradição entre o homem e o meio natural, desagradáveis, que constituem um contexto psicoló-
mas também, necessariamente, da contradição entre gico de natureza afetiva, através do qual o indivíduo
a pessoa e o meio social. Pensar a questão da saúde organiza seu pensamento e emite suas ações”.
mental é, antes de tudo, pensar sobre o homem e Já o bem-estar subjetivo, em termos espe-
sobre sua condição de “ser” e “estar no mundo”. cíficos, seria a estimativa que o indivíduo faz dos
Sabe-se hoje, que a maioria das doenças aspectos globais da vida, de acordo com suas idios-
mentais e físicas são influenciadas por uma combi- sincrasias (DIENER, 1994). Em complemento a esta
nação de fatores biológicos, psicológicos e sociais idéia e com base na investigação psicossocial, é per-
e que elas afetam pessoas de todas as idades, em tinente que seja utilizado como critério compreensivo
todos os países, e que causam tanto sofrimento às a intensidade e freqüência dos estados afetivos e o
famílias e comunidades, quanto aos indivíduos. equilíbrio entre seus pólos positivos e negativos (AL-
Apesar das conceituações acima descritas, VARO e PÁEZ, 1996).
o diagnóstico de saúde mental não é semelhante Pesquisas demonstram que as pessoas re-
para todos os autores. Estudos realizados nos anos lacionam o equilíbrio afetivo com a prevalência de
60 e 70 evidenciaram enormes discrepâncias entre afetos positivos, sendo estes indicativo de bem-estar
os diagnósticos realizados por diferentes psiquiatras e consideram que níveis altos de afetos negativos ou
para pacientes comuns (MENEZES, 1998). positivos atípicos sejam indicativos, de adoecimento.
Isso se deve à impossibilidade de estipular No entanto, alguns autores propõem que esses pó-
um único modelo, concepção de saúde ou enfermi- los são independentes, contínuos e tem correlações
dade mental, frente à grande diversidade de teorias distintas, sendo que uma baixa afetividade positiva
explicativas e variedade de representações sociais estaria associada à depressão e uma alta afetividade
(ROSA, 1987 apud ALVARO e PÁEZ, 1996). Em ou- negativa à ansiedade e ao estresse (WAGNER, 1988
tras palavras, a adoção de determinado critério de apud ALVARO e PÁEZ, 1996). Em complemento, ci-
saúde vai depender de opções filosóficas, ideológicas tam ainda que, quanto maior são os níveis educa-
e pragmáticas de quem estiver a fazer o diagnóstico. cionais e econômicos e menores os sentimentos de
A saúde mental também pode ser concebi- perda e das dificuldades econômicas, maior é o bem-

Akrópolis, Umuarama, v. 17, n. 2, p. 59-68, abr./jun. 2009 61


SILVA, D. et al.

estar e menor é a freqüência de sentimentos negati- e maior comprometimento com as metas traçadas
vos (MIROWSKI e ROSS, 1989). (BANDURA apud CARDOSO, 2007). Nesse sentido,
faz-se necessária a conceituação da autoeficácia,
Fatores implicados no bem-estar psicológico: a como um juízo pessoal referente à capacidade dos
autoeficácia, a ansiedade e a depressão indivíduos de organizar e executar ações em circuns-
tâncias imprevisíveis e geradoras de estresse (RI-
Muitas literaturas utilizam o termo qualidade BEIRO apud BARREIRA e NAKAMURA, 2006).
de vida como sinônimo de estado de saúde. Porém, A autoeficácia perpassa a trajetória de vida
este está mais ligado ao funcionamento físico do indi- e reavaliação das potencialidades do indivíduo. Por
víduo, enquanto que qualidade de vida é mais corre- conseguinte, as percepções concernentes às capa-
lacionada à saúde mental e, além disso, a qualidade cidades de desempenho permitem que os indivíduos
de vida é algo muito subjetivo e particular a cada um criem interações que medeiem o ajustamento social
e se refere às percepções sobre posição na vida, en- necessário para um desenvolvimento sadio do ciclo
volvendo aspectos como cultura, valores, objetivos, vital (RABELO e CARDOSO, 2007).
expectativas, padrões e preocupações do contexto No que diz respeito à sucessão de fases do
atual e individual (SEIDL e ZANNON, 2004). desenvolvimento, observa-se que esse construto
Ao compreendermos as particularidades do emerge na infância, pois é nesse período que os in-
termo qualidade de vida, faz-se necessário também divíduos apresentam percepção de relações causais
que lancemos compreensão sobre o bem-estar psi- derivadas de seus atos e de outrem. Na adolescên-
cológico, isto porque, mesmo tendo fortes influências cia, a fim de dar conta das transformações - papéis
sobre nosso estado de saúde, ainda assim, não é sociais, identidade, tomadas de decisões - o senso
condição suficiente para garantir a ausência de sinto- de eficácia do indivíduo é restabelecido (MANDLER
mas como ansiedade e depressão, que são compo- apud SANTOS, 2003).
nentes do distress. Por ter condições muito subjetivas Já na adultez, um dos períodos avaliados no
na determinação do bem-estar, de alguns fatores nos presente estudo, um forte senso de eficácia favorece
cabe compreensão, dada a natureza do presente es- a associação de diversas instâncias, como amizade,
tudo. Assim, compreender aspectos que constituem trabalho e amor, exigidas à adaptação. Enquanto na
a autoeficácia e como este sentimento individual se velhice, com o comprometimento das questões cog-
constrói numa relação dialética com o meio, torna-se nitivas, de raciocínio, sensorial, de capacidades físi-
relevante. cas, geralmente se observa um fraco senso de auto-
Sabe-se que alguns traços que formam nossa eficácia (MANDLER apud SANTOS, 2003).
personalidade influem no desenvolvimento da autoe- É necessário ressaltar que esse constructo
ficácia. Estudos apontam que pessoas extrovertidas, diz respeito à percepção sobre si e não a real capa-
em termos gerais, tendem a ser mais resilientes e en- cidade de execução e sucesso no desenvolvimento
frentar situações desgastante de uma forma mais efi- de atividades. Assim, a origem dessa “autoconfiança”
caz (DIENER, 1999), o que teria efeitos significativos pode advir de quatro fontes: as experiências de do-
na redução do adoecimento e sofrimento psíquico, mínio, as experiências vicárias, persuasão social e
consequentemente contribuindo para a saúde geral. excitação emocional/fisiológica (SANTOS, 2003).
Parece-nos desafiador, frente às vicissitu- As experiências de domínio ou êxito dizem
des sócio-históricas e consequentes desafios que respeito à experimentação de sucessos na supera-
permeiam os vários âmbitos da vida do homem o ção de obstáculos por meio do esforço pessoal, sen-
desenvolvimento de uma postura mais firme no en- do, dessa forma, a mais influente fonte de criação
frentamento das adversidades. É notório que o ser do senso de autoeficácia. As experiências vicárias
humano tem, em geral, uma elevada necessidade se pautam na observação de modelos sociais para
de realização. Contudo, quando o êxito não é coe- julgamento de suas próprias competências, ou seja,
rente com suas expectativas, tende a sentir-se desa- as observações de um desempenho satisfatório de
nimado. Esse desânimo sentido pode comprometer outrem permitem a redução de ansiedade e dos as-
acentuadamente sua motivação, se este não conhe- pectos negativos da angústia, e justificam os esfor-
cer suas reais possibilidades e limites. Percebe-se, ços despendidos em determinadas atividades (BAN-
então, um importante componente da autoeficácia: o DURA apud SOUZA e SOUZA, 2004).
autoconhecimento. Já persuasão social, de acordo com o mes-
Estudos sobre autoeficácia visam abarcar mo autor, se refere às sugestões externas que in-
essa demanda, pontuando que uma autoeficácia for- fluenciam o senso de capacidade de realização com
te conduz ao desenvolvimento de novas habilidades êxito em atividades desafiadoras, podendo ou não

62 Akrópolis, Umuarama, v. 17, n. 2, p. 59-68, abr./jun. 2009


Bem-estar psicológico...

amplificá-lo. Dessa forma, persuasões negativas po- Braghirolli (1990), ela é um estado psíquico muito
dem debilitar a autoavaliação e persuasões positivas semelhante ao medo, mas um medo vago, sem fun-
encorajá-las. Por fim, os estados emocionais - estres- damento lógico, irracional ou desproporcional ao ob-
se, tensão, humor depressivo - e fisiológicos cansaço, jeto causador. Assim, até certo ponto, a ansiedade é
fadiga - podem comprometer a crença de capacidade sinal de vitalidade e é útil para despertar e motivar o
pessoal, se correlacionado ao sentimento de vulnera- organismo. Sua função serve para a sobrevivência,
bilidade. Vale lembrar que a criação e a manutenção já que põe o organismo de sobreaviso ao aparecer
da autoeficácia podem generalizar a crença de de- algo ameaçador para a integralidade e estabilidade
sempenho satisfatório em diferentes interações. emocional do sujeito. Mas, de acordo com Andrade
As crenças de autoeficácia, provenientes e Gorenstein (1998), quando ela passa a ser despro-
desses quatro fatores mencionados, interferem no porcional à situação que a desencadeia, ou mesmo
gerenciamento humano, pois perpassam o pensa- quando não há um objeto específico em que se dire-
mento, o afeto, a motivação e a cognição. O primeiro cione, ela então se torna patológica.
processo está ligado à seletividade, pois há a escolha Os sentimentos relacionados à ansiedade,
de atividades e ambientes que favoreçam o êxito. O segundo Mirowsky e Ross (1989), são: tensão, can-
segundo correlaciona a crença de autoeficácia com a saço, preocupação irritabilidade e medo, havendo
intensidade das experiências emocionais (MADDUX também incidências físicas com o aparecimento de
e LEWIS apud LEITE et al., 2002). respiração curta, desmaios, vertigem, suor frio, mãos
Em oposição a este componente saudável trêmulas e sensação de calor por todo o corpo. Num
do bem-estar, tem-se o distress, um sentimento de pólo contrário às vivências dos sintomas de ansieda-
sofrimento e desgaste psíquico ocasionado principal- de, estão os sintomas da depressão que, de forma
mente por estados de ansiedade e depressão (MI- correlata, comprometem nosso bem estar e, como
ROWSKY e ROSS, 1989). Para Spielberger (apud consequência, a saúde mental. De acordo com Cape-
PENICHE e CHAVES, 2000), o estado de ansiedade lari (2002), a depressão tem sido considerada como
é uma reação emocional provisória compreendida uma desordem de humor, caracterizada pela perda
pela consciência e caracterizada por sentimentos de ou ausência de interesse e prazer na realização das
nervosismo, preocupação, tensão, apreensão, o que atividades cotidianas. Há também a lentificação, apa-
intensifica a atividade do sistema nervoso autônomo. tia ou agitação psicomotora, humor depressivo ou
Como resposta, ocorrem alterações na frequência irritável, pensamentos negativos, dificuldade de con-
cardíaca, no padrão respiratório além de uma in- centração, diminuição da energia, redução no apeti-
quietação e tremores. O autor ainda ressalta que a te ou peso, alteração no sono e ainda pensamentos
maneira como o indivíduo entende a ameaça é mais de morte e ideação suicida. Para que seja feito um
significativo, do que a própria ameaça em si. diagnóstico de quadro depressivo, deve-se constar
As diferenças individuais devem também ser presente cinco ou mais sintomas durante duas se-
consideradas como aspecto importante no comporta- manas, levando em conta todas as subdivisões que o
mento ansiogênico, pois o sujeito é influenciado por distúrbio apresenta.
experiências anteriores, levando-o a reagir de dife- A etiologia da depressão é uma questão com-
rentes formas, vai depender, de como ele vivenciou plexa, com diversos modelos, biológicos e psicosso-
as situações estressoras. (SPIELBERGER apud PE- ciais, que fornecem explicações acerca do problema.
NICHE e CHAVES, 2000). A compreensão biológica da depressão tem progre-
O termo ansiedade abrange sensações de dido consideravelmente nas últimas décadas, com
medo, antecipação apreensiva, sentimentos de in- inúmeros agentes bioquímicos (neurotransmissores
segurança, conteúdo de pensamento dominado por como a serotonina), anormalidades neuroendócrinas
catástrofes ou incompetência pessoal, sentimento de e fatores genéticos sendo estudados (USDIN, 1984;
constrição respiratória, aumento de vigília ou alerta, WIERZBICKI, 1987 apud MIYAZAKI, 2000). Dentre
tensão muscular que causa dor, tremor e inquietação os modelos psicossociais, os modelos comportamen-
e vários desconfortos somáticos ocasionados pela hi- tais da depressão enfatizam aprendizagem, ambien-
peratividade do sistema nervoso autônomo (ANDRA- te, déficits e habilidades individuais como importantes
DE e GORENSTEIN, 1998) fatores etiológicos. As habilidades sociais constituem
Conceituando ainda o termo ansiedade, An- habilidades de expressar sentimentos, assertividade,
drade e Gorenstein (1998) consideram como um es- desejos de forma honesta, direta e apropriada, sem
tado emocional com componentes fisiológicos e psi- violar os direitos dos outros, aumentando consequen-
cológicos, que faz parte das experiências humanas, temente a ocorrência da autoconfiança, da realização
sendo propulsora da execução de atividades. Para pessoal, redução da ansiedade e da depressão, e o

Akrópolis, Umuarama, v. 17, n. 2, p. 59-68, abr./jun. 2009 63


SILVA, D. et al.

déficit dessas habilidades parece ser também um im- dados foi realizada em lugares que tiveram aglomera-
portante componente da depressão, pois interações ção de pessoas, de forma a abranger o maior número
sociais constituem a base sobre a quais outras habili- de diversidades possível e aproximar as característi-
dades são adquiridas (um exemplo é a habilidade de cas da população geral. Após a avaliação pelo Comi-
comunicação) e déficits nessa área resultam em per- tê de Ética e sua devida certificação, os participantes
da observável de reforçadores (LEWINSOHN, 1996 foram solicitados a participar do estudo, sendo-lhes
apud MIYAZAKI, 2000). explicado o objetivo da pesquisa, assegurado o sigilo
Como discutido, vários aspectos integram e em relação às suas identidades e solicitada a assina-
influem no bem-estar e na saúde. Os fatores apresen- tura do termo de livre participação e esclarecimento.
tados anteriormente constituíram a base do presente
estudo, visto que o instrumento pesquisado (Ques- Apresentação e discussão dos resultados
tionário de Saúde Geral – QSG-12) está estruturado
com base nestes constructos, a saber: autoeficácia, Os dados forma tabulados e analisados me-
depressão e ansiedade. diados pelo SPSS (Social Package for the Social
Sciences) versão 15.0.
METODOLOGIA Ao avaliar o nível de saúde mental da popu-
lação de Cascavel/PR, intencionou-se observar, atra-
Participantes da pesquisa vés das doze perguntas investigadas no questionário
QSG-12, três fatores importantes, sendo o primeiro a
Participaram deste estudo 440 pessoas, depressão, o segundo o nível de ansiedade e, por fim,
moradores da cidade de Cascavel/PR, de ambos os perceber a autoeficácia dos sujeitos pesquisados.
sexos (52,7% fem. – 47,3% masc.) com idade entre A primeira proposição deste estudo foi de co-
18 e 60 anos (Média 31 anos) de diferentes níveis nhecer o nível de saúde geral da população de Cas-
sócio-econômicos e escolaridade. Com relação à es- cavel/PR, de forma a diagnosticar a presença de bem-
colaridade, a maioria, 29,9% disse ter ensino superior estar psicológico ou Distress. Os resultados apontam
incompleto (n = 127), seguido muito próximo dos que para um nível satisfatório de saúde da população, já
fizeram o ensino médio: 29,3%. Percebe-se, pois, que a média de saúde geral obtida foi de 1,9 (numa
uma boa escolaridade entre os participantes. No que pontuação entre 1 e 4, ou seja, quanto mais próximo
se refere ao estado civil, boa parte dos participantes de 1 melhor a saúde/bem estar e quanto mais próxi-
era solteira (44,1% - n = 194), enquanto 32,5% se mo de 4 maior comprometimento na saúde, a aproxi-
disseram casados. No que tange à religião, a maio- mação do índice 3 denota a presença de transtornos
ria dos participantes (67,0%) se disse católicos (n = psiquiátricos).
295). Já em relação à renda, 35,95% tinham renda Ao analisar os resultados a partir dos índices
de até três salários mínimos e 28,6% de quatro a seis individuais dos fatores já apresentados na descrição
salários mínimos. Cabe salientar, no entanto, que, do instrumento, percebe-se que o fator autoeficácia
entre as variáveis sócio-demográficas, a renda é a contribuiu significativamente para o presente resulta-
que tem maior índice de distorção. do, já que este foi o que apresentou a média mais pró-
xima de 1 (média geral entre os pesquisados = 1,7),
Instrumento já os fatores depressão e ansiedade tiveram médias
um pouco maiores, de 2,0 e 2,1, respectivamente.
O instrumento que mediou a coleta de dados
foi um Questionário de Saúde Geral (QSG-12), cons- Fator autoeficácia: resultados e discussão
truído por Goldberg (1972) e validado para a popula-
ção brasileira por Gouveia et al. (2003), contendo 12 O fator autoeficácia foi abordado na pesquisa
questões, cujas respostas são emitidas numa escala por meio de cinco questões, itens 3, 4, 6, 10, 11, que
de quatro pontos, que se referem ao nível de concor- apuram o sentimento de utilidade, a capacidade de
dância de cada um dos itens apresentados. As ques- tomada de decisões, superação de dificuldades e a
tões contemplam os fatores ansiedade, depressão e autoconfiança. Traçando um paralelo com os dados
autoeficácia. Assim, o conjunto destes itens possibili- gerais obtidos na pesquisa, essa variável indepen-
tou conhecer o nível de saúde geral da população. dente apresentou uma média (1,7) próxima ao índice
de saúde geral (1,0), ou seja, dentro de uma escala
Procedimentos de 1 a 4, no qual 1 corresponde a saúde e 4 a trans-
tornos psíquicos, atingiu resultados satisfatórios ao
Por ser um estudo diagnóstico, a coleta dos bem-estar.

64 Akrópolis, Umuarama, v. 17, n. 2, p. 59-68, abr./jun. 2009


Bem-estar psicológico...

Nota-se que a média de autoeficácia, quando colaridade da maioria dos participantes ter sido rela-
confrontada com as médias das demais variáveis in- tivamente alta, contribui para que os sujeitos desen-
dependentes - depressão e ansiedade - é mais baixa, volvam estratégias de enfrentamento internas, o que
ou seja, é mais próxima do estado de saúde mental. aumenta o sentimento de empoderamento pessoal
Quanto se analisam as incoerências da auto- e diminui as instâncias externas de enfrentamento,
eficácia sobre a variável idade, observa-se uma coe- como é o caso da religião.
rência com o que aponta a literatura, já que se pode Observou-se, então, que o fortalecimento do
observar uma diferença significativa entre a média senso de autoeficácia contribui para um desenvol-
de autoeficácia dos indivíduos de 20 a 59 anos (1,7), vimento pessoal satisfatório, criação de habilidades
quando confrontadas com a média apresentada pe- interpessoais, elevação do grau de desempenho e
los sujeitos com idade superior a 60 anos (2,14), con- motivação, que permeiam os níveis de bem-estar e
firmando o que afirma Santos (2003), que o senso qualidade de vida.
de autoeficácia tende a ser mais forte na adultez, já
que é favorecido pela associação de diversas instân- Fator Depressão: resultados e discussão
cias, como amizade, trabalho e amor, com altas exi-
gências à adaptação e tende a decair ao longo dos Faziam parte desse fator quatro questões:
anos. Hipoteticamente porque, na velhice, há o com- a número um, sete, oito e doze. De maneira geral,
prometimento das questões cognitivas, de raciocínio, tais questões abordavam a capacidade de concen-
sensorial, de capacidades físicas, perdas familiares e tração, de desfrutar das atividades diárias, enfrentar
diminuição de perspectivas futuras, enfraquecendo o problemas e conhecer o sentimento de felicidade dos
senso de autoeficácia. pesquisados, considerando todas as circunstâncias
Além de o senso de autoeficácia acompa- da vida. A média geral deste fator foi de 2,0, não de-
nhar as transformações típicas do desenvolvimento notando a presença de estados patológicos de de-
humano, ele pode se correlacionar como outros as- pressão.
pectos como gênero e posição social. No tocante às Ao analisar o fator depressão, em relação à
questões de gênero, estudos têm demonstrado que variável gênero, percebeu-se que a média das mu-
os homens possuem elevada autoeficácia instrumen- lheres (2,06) foi relativamente maior do que a dos ho-
tal – relacionada à ocupação, atividades de criação mens. De acordo com Demetrio (2001), a depressão
e baixa autoeficácia interpessoal – de relações, co- é uma doença com prevalência de 15% da população
municação e habilidades sociais – se comparados às geral, durante a vida. Em mulheres pode chegar a
mulheres. Os dados obtidos no instrumento de ava- 25% ou mais. Tem-se observado que a prevalência
liação de saúde geral (QSG-12) demonstraram que da depressão é duas vezes maior em mulheres do
não houve diferença significativa entre as médias que em homens, sendo estes de apenas 10%, in-
atingidas pelos diferentes gêneros e ambas se apro- dependentemente do país e da cultura. As razões
ximaram do estado de saúde mental. são desconhecidas. Há hipóteses que atribuem es-
No que tange às implicações de posição so- tas diferenças a fatores hormonais, efeitos do parto,
cial, é notório que indivíduos em situação de desem- estressores psicossociais diferentes para homens e
prego ou em ocupações precárias, insuficientes para mulheres e modelos de comportamento de desam-
a manutenção de necessidades, são acentuadamente paro aprendido.
afetados em sua autoconfiança. Vale lembrar que os Na correlação entre situação sócio-econômi-
homens são mais vulneráveis a essas circunstâncias, ca e depressão pôde-se perceber que, quanto maior
devido à exigência social (HANNAH e KAHN apud a renda mensal, menor o índice de saúde mental,
SANTOS, 2003). Somando-se a essas informações, sendo a média dos pesquisados com renda de 11 a
as análises obtidas nesse estudo evidenciam que os 13 salários1 mínimos de 2,11, configurando-se como
aposentados e as donas de casa alcançaram médias mais alta do que a dos sujeitos com rendimentos in-
– 2,2 e 2,14 respectivamente - significativamente su- feriores.
periores às demais ocupações e à média geral dos Em relação à religião, a classe que menos
pesquisados, de 1,7. apresentou saúde mental foram os espíritas, apre-
Um aspecto que nos chama atenção é a ine- sentando a média de 2,3, denotando um aumento
xistência de diferença em termos médios de autoefi- considerável em relação à média da população geral,
cácia entre os que praticam e não praticam alguma que foi de 1,9.
religião. Este fato nos leva a inferir que o fato da es- Em relação ao estado civil, as médias de de-

1
Sendo o valor do salário mínimo durante o período da pesquisa de R$ 430,00.

Akrópolis, Umuarama, v. 17, n. 2, p. 59-68, abr./jun. 2009 65


SILVA, D. et al.

pressão também apresentaram algumas diferenças Na questão profissional, pôde-se observar


importantes. Pôde-se observar, no presente estudo, que as donas de casa, aposentados e autônomos
uma média de depressão de 2,4 nos viúvos e de 2,1 apresentaram a maior média entre as profissões:
nos que são divorciados. Sobre este aspecto, segun- 2,59, 2,57 e 2,38, respectivamente, com uma média
do Nunes (2003), os sintomas depressivos incorrem geral de 2,51. Já os profissionais de saúde, adminis-
com mais frequência em pessoas que não tem rela- tradores e outras profissões com ensino superior ob-
ção interpessoal mais próximas, bem como nas que tiveram as menores pontuações; 1,82, 2,1 e 2,1 res-
são divorciadas e viúvas, isto porque, frequentemen- pectivamente, com média geral de 1,96.
te, estes estados envolvem perdas e mudanças sig- A religiosidade também foi abordada na pes-
nificativas, que podem requerer altos níveis de adap- quisa. Entre as religiões não houve diferença signifi-
tação do sujeito. cativa entre as médias atingidas em nível de ansie-
dade, porém observou-se uma diferença relevante
Fator ansiedade: resultados e discussão entre praticantes e não praticantes, com médias de
2,1 e 2,3 respectivamente, expondo o auxílio que a
Na presente pesquisa, o fator ansiedade foi fé oferece ao aliviar o sofrimento psíquico de seus
contemplado em três questões, que, na somatória seguidores.
geral de todos os participantes, obteve uma média Nas médias de ansiedade em relação à ren-
de 2,1. As questões relacionadas ao fator citado são da dos sujeitos, não houve qualquer diferença. Todas
a 02, a 05 e a 09. Tais questões referem-se a à per- apresentaram média 2,2. Com isso podemos salien-
da de sono devida a preocupações, sentimentos de tar que o fator renda não influencia no grau de ansie-
agonia e tensão e sentimento de pouca felicidade e dade dos sujeitos, pois tanto os indivíduos com maio-
depressão. res condições financeiras quanto os com menores,
Os dados obtidos no instrumento de ava- apresentam médias semelhantes entre si.
liação de saúde geral (QSG-12) demonstraram que
houve baixa significância entre as médias atingidas Considerações Finais
entre gêneros no fator ansiedade, sendo 2,1 para ho-
mens e 2,2 para mulheres, demonstrando que as mu- Tendo em vista que a saúde mental é in-
lheres têm um grau levemente maior de ansiedade. fluenciada por aspectos como traços de persona-
Com relação à idade, os dados apontam que lidade, estratégias de enfrentamento/adaptação e
a menor média foi entre a idade de 38 e 47 anos (2,0), fatores sócio-demográficos, e sabendo-se que o mo-
já a maior foi entre 58 e 68 anos (2,3). Estas diferenças delo econômico vigente - capitalista - é marcado pela
entre as médias, certamente têm implicações com o competição em excesso, busca de status, capital,
mundo produtivo. A maturidade profissional vivencia- reconhecimento, supervalorização do self (individua-
da na faixa etária entre os 38 e 47 anos proporciona lismo) e consumismo, o presente estudo possibilitou
segurança e estabilidade, além da intensificação das a identificação do índice de saúde mental de determi-
relações sociais. Já no período do envelhecimento, nada população (1,9), além de favorecer a análise de
o pouco envolvimento com atividades produtivas e fatores – gênero, faixa etária, nível econômico, ocu-
sociais amplia o sentimento de invalidez e solidão, o pação, religião – que afetam a qualidade de vida do
que pode ser um fator gerador de ansiedade. indivíduo.
No que tange ao fator escolaridade, compa- Esse contexto tem repercutido em vários
rando-se as médias dos sujeitos com até o ensino âmbitos da vida dos indivíduos, que, para suprir as
médio completo com as dos sujeitos com ensino su- imposições sociais advindas desse sistema econômi-
perior completo e pós-graduados, percebeu-se uma co, acabam imersos em um processo de mudanças
diferença significativa, em que os indivíduos com constantes, normatização de comportamentos e di-
menor escolaridade apresentam um maior nível de versidade de papéis sociais, sem que estes tenham
ansiedade apresentando uma média de 2,3 contra tempo hábil para elaborá-las e dar-lhes significado.
2,0 dos mais instruídos. É recorrente, pois, pensar Com isso, as incertezas e inseguranças cotidianas
na atividade produtiva e de autoeficácia como um podem comprometer o bem-estar dos indivíduos na
atributo que medeia os níveis de ansiedade, isto por- medida em que afetam o senso de desempenho (au-
que, quanto maior consciência de suas habilidades e toeficácia) e os níveis de depressão e ansiedade.
competências – que aumenta com o nível de esco- De acordo os dados obtidos, a variável auto-
laridade – maior capacidade de enfrentar situações eficácia, no que diz respeito à ocupação, atingiu índi-
adversas e menor incidência de perda de controle, ces mais afastados de saúde mental nas categorias
desencadeante central da ansiedade. dos aposentados e donas de casa; no quesito gênero

66 Akrópolis, Umuarama, v. 17, n. 2, p. 59-68, abr./jun. 2009


Bem-estar psicológico...

não houve correlação significativa; enquanto que se variações conforme a cultura, a condição econômica
apresentou inversamente proporcional à faixa etária. vigente, mas também perpassa pela condição interna
Essas informações apontam a influência da ideolo- de enfrentamento de cada sujeito na leitura de uma
gia capitalista, que compreende os aposentados, as realidade que é comum a todos, mas que é subjetiva-
donas de casa e os idosos como inaptos e improdu- da de uma forma muito particular.
tivos, desnecessários para o sistema de produção de
riqueza. REFERÊNCIAS
No que tange ao fator ansiedade, observou-
se uma sutil correlação entre altos índices de ansie- ÁLVARO, J. L.; PÁEZ, D. Psicología social de la salu-
dade e baixa escolaridade. Por outro lado, a relação de mental. In: ÁLVARO, J. L.; GARRIDO, A.; TORRE-
entre ansiedade e atividades profissionais mostrou GROSA, J. R. (Coord.). Psicología social aplicada.
considerável significância e os escores obtidos em Espanha: McGraw-Hill, 1996.
determinadas classes – donas de casa e aposenta-
dos – foram os que mais se aproximaram do indica- ANDRADE, L. R. S. G.; GORENSTEIN, C. Aspectos
tivo de distress. gerais das escalas de avaliação de ansiedade. Re-
Já no que diz respeito à depressão notou-se vista de Psiquiatria Clínica, São Paulo, v. 25, n. 6,
que foi o único aspecto que apresentou diferença en- 1998. Disponível em: <http://www.hcnet.usp.br/ipq/
tre os gêneros, embora esse não seja um fator rele- revista/vol25/n6/ansi256a.htm >. Acesso em: 10 out.
vante, para a análise do distress – que atribuiu índices 2007.
semelhantes entre homens e mulheres. É importante
salientar que outro fator influente nos indicativos de BARREIRA, D. D.; NAKAMURA, A. P. Resiliência e
depressão é a escolaridade, dentro de uma relação a autoeficácia percebida: articulação entre conceito.
inversamente proporcional. Cabe pontuar que essa Aletheia, Canoas, n. 23, p. 75-80, jun. 2006.
premissa também perpassa as ideologias capitalis-
tas, que exigem constante aperfeiçoamento dos indi- BRAGHRIROLLI, E. M. et. al. Psicologia geral. 9.
víduos para a inserção no mercado de trabalho. ed. Porto Alegre: Vozes, 1990.
De forma geral, pode-se assinalar que as in-
formações obtidas através da pesquisa corroboraram ANESHENSEL, C. S.; PEARLIN, L. I. Structural con-
os postulados teóricos. Há ainda que se considerar texts of sex differences in stress. In: BARNETT, R. C.;
que, diferentemente do esperado, a média geral de BIENER, L.; BARUCH B. Gender and stress. New
saúde mental obteve índices baixos, tendo em vis- York: The Free Press, 1987. p. 75-95.
ta as situações estressoras do contexto capitalista.
Cabe também assinalar que o fator autoeficácia mos- DIENER, E. Well-Being. Psychological Bulletin, v.
trou-se mais significativo no que se refere aos esco- 95, n. 1, p. 542-575, 1994.
res de saúde mental, pois embora a ansiedade e a
depressão tenham apresentado índices mais eleva- GOUVEIA, V. V. et al. A utilização do QSG-12 na
dos, unidos ao construto autoeficácia a média geral população geral: um estudo sobre sua validade de
de saúde mental decresceu. construto. Psicologia: Teoria e pesquisa, v. 19, n. 3,
Mediante a amplitude das temáticas aborda- p. 241-248, set./dez. 2003.
das e frente à impossibilidade de esgotar o assunto
nestea pesquisa, sugere-se um estudo longitudinal, LEITE, J. C. C. et al. Desenvolvimento de uma escala
que compreenda - por meio de observações regula- de autoeficácia para adesão ao tratamento anti-retro-
res - os fatores implicados na saúde mental, possi- viral. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v.
bilitando uma melhor apreensão do assunto. Para 15, n. 1, p. 121-133, 2002.
uma melhor compreensão é também necessária uma
análise minuciosa de fatores como desemprego e as MIROWSKY, J.; ROSS, C. E. Measuring psychologi-
influências culturais, aspectos que indicam uma influ- cal distress. In: MIROWSKY, J.; ROSS, C. E. Social
ência representativa nos indicadores de bem-estar, causes of psychological distress. New York: Aldine
isto porque o bem-estar psicológico envolve a sa- de Gruyter, 1989. p. 21-56.
tisfação do sujeito em distintas esferas de sua vida,
resultado dos recursos de que o mesmo dispõe para MORAES, M. M. Autoeficácia e estratégias para
a satisfação de suas necessidades físicas, psicoló- criar no trabalho: construção de medidas. 2006.
gicas e sociais, bem como de estratégias para en- 224 f. Dissertação (Mestrado) - Instituto de Psicolo-
frentar as demandas do meio social, tendo, portanto, gia, Universidade de Brasília, Brasília, 2006.

Akrópolis, Umuarama, v. 17, n. 2, p. 59-68, abr./jun. 2009 67


SILVA, D. et al.

MORRIS, C. G.; MAISTO, A. A. Introdução à psico-


logia. São Paulo: Prentice Hall, 2004.

RABELO, D. F.; CARDOSO, C. M. Autoeficácia, do-


enças crônicas e incapacidade funcional na velhice.
Psico-USF, Itatiba, v. 12, n. 1, p. 75-81, jan./jun.
2007.

SANTOS, A. T. Controle percebido, senso de auto-


eficácia e satisfação com a vida: um estudo compa-
rativo entre homens e mulheres pertencentes a três
grupos de idade. 2003. 200 f. Tese (Doutorado) - Uni-
versidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003.

SEIDL, E. M. F.; ZANNON, C. M. L. da C. Qualida-


de de vida e saúde: aspectos conceituais e meto-
dológicos. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.
20, n. 2, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311-
X2004000200027&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 10
out 2007.

SINGER, P. Prevenir e curar. Rio de Janeiro: Foren-


se Universitária,1987.

SOUZA, I.; SOUZA, M. A. Validação da escala de au-


toeficácia geral percebida. Rev. Univ. Rural, Rio de
Janeiro, v. 26, n. 1-2, p. 12-17, jan./ dez. 2004.

68 Akrópolis, Umuarama, v. 17, n. 2, p. 59-68, abr./jun. 2009


Psicologia: Teoria e Pesquisa
Out-Dez 2009, Vol. 25 n. 4, pp. 509-518

Avaliação de Discriminação contra Idosos


em Contexto Brasileiro – Ageismo1
Maria Clara P. de Paula Couto2
Sílvia Helena Koller
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Rosa Novo
Universidade de Lisboa
Pedro Sanchez Soares
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

RESUMO - Buscou-se identificar os tipos predominantes de discriminação contra idosos que ocorrem no Brasil, bem como
o nível de estresse que lhes está associado. Compararam-se também os resultados da amostra brasileira aos de duas amostras
de referência, uma americana e uma portuguesa. Participaram 111 indivíduos, os quais responderam a um questionário
biosociodemográfico e ao Ageism Survey, que integra itens relativos a estereótipos negativos, atitudes e comportamentos de
discriminação face ao idoso. Os resultados revelaram que os tipos de discriminação predominantes foram os relativos aos
contextos sociais e de saúde. Quanto ao nível de estresse, a maior parte dos itens apresentou uma baixa média de estresse. Isso
pode indicar que a vivência de discriminação nem sempre se associa explicitamente ao estresse.

Palavras-chave: discriminação; idoso; Ageism Survey; Brasil; estresse.

An Assessment of the Discrimination against Older Persons


in the Brazilian Context – Ageism
ABSTRACT - This study measured the prevalence of ageism in Brazil, as well as the stress level that is associated to it.
Also, the Brazilian sample was compared to other two reference samples, an American and a Portuguese one. All participants
(111 individuals) answered a sociodemographic questionnaire and the Ageism Survey, which is composed by items related to
negative stereotypes, attitudes and elderly discrimination behavior. The results showed that the discrimination occurs more
in social contexts, followed by those that occur in health contexts. As for the stress evaluation associated to the episodes of
discrimination, in general, the mean of the items associated to stress was low. This may indicate that, for this sample, experiencing
discrimination is not always related to stress.

Keywords: discrimination; older people; Ageism Survey; Brazil; stress.

A estrutura etária da população brasileira tem se modificado çado, e a velhice é permeada por estereótipos e preconceitos
nos últimos anos. Se, por um lado, as baixas taxas de fertilidade que a reduzem a uma fase de declínio e perdas.
e a contínua queda da mortalidade têm provocado mudanças O processo de envelhecimento constitui-se em um
nessa estrutura, por outro, o advento de novas tecnologias e as fenômeno biopsicossocial fortemente influenciado pela
melhorias na prestação de cuidados de saúde têm favorecido cultura e pelas condições e contextos de vida. Para além da
um aumento extraordinário da expectativa de vida populacio- heterogeneidade resultante das influências socioculturais,
nal. Entretanto, essa conquista é acompanhada, sobretudo, nas os pesquisadores enfatizam o fato de o envelhecimento ser
sociedades ocidentais, pela ilusão de que o envelhecimento, um processo altamente individualizado, pelo que variáveis
se não pode ser evitado, pode ou deve ser retardado o mais pessoais diversas têm um peso cumulativo no percurso de
possível. O culto da juventude é, assim, cada vez mais refor- vida de cada um e, também, nos limites e contornos do
seu envelhecimento. Assim, acresce ao contexto cultural e
1 Apoio: CNPq e Programa AlBan (Programa de Bolsas de Alto Nível
da União Européia para América Latina) (bolsa nº E06M103402BR).
social no qual o desenvolvimento ocorre, a qualidade das
Os autores agradecem a colaboração de Débora Verdi, Hanna Sainio relações estabelecidas, as características biológicas e psi-
e Ivalina Porto na etapa de coleta de dados deste estudo. Os autores cológicas da pessoa (Bronfenbrenner, 1979/1996). Apesar
agradecem aos locais de coleta de dados: Centro de Esportes, Lazer e disso, a tendência humana a categorizar simplificadamente
Recreação para o Idoso (CELARI/UFRGS), Meninos da Bocha – Par- os fenômenos leva a que a velhice seja externamente per-
que Alim Pedro, Universidade do Adulto Maior (UAM/IPA), Núcleo cebida como homogênea e, assim, observa-se, sobretudo, a
de Atendimento à Terceira Idade (NATIEx/Policlínica Militar de Porto
Alegre), Projeto QualiVida e Núcleo Universitário da Terceira Idade
valorização das perdas e do declínio associados ao envelhe-
(NUTI/FURG). cimento e o preconceito que lhes é correlativo. De acordo
2 Endereço para correspondência: Av. Jerônimo de Ornelas, 115, Apto com Neri (2005), atitudes de preconceito são derivadas de
204. Santana, RS. CEP 90040-341. Fone: (51) 3276-4236. E-mail: dois tipos de processos cognitivos: supergeneralização e su-
mariaclara.ppc@gmail.com. persimplificação. A manutenção de estereótipos reflete esses

509
M. C. P. P. Couto & cols.

dois processos. No caso da velhice, aos idosos associam-se avaliação de alguém que pertence ao mesmo ou a outro gru-
usualmente estereótipos negativos, os quais contribuem para po etário. Quando o grupo em que o indivíduo está inserido
a manutenção da percepção social negativa e homogênea é considerado, uma das maneiras de ele se sentir bem em
que se tem acerca do envelhecimento (e.g., ‘Os idosos são relação à própria identidade é valorizando os membros do
solitários e dependentes’). próprio grupo. Ou seja, pode-se afirmar que, nesse caso, a
Inserido nesse contexto surge o termo ageismo3. O termo busca por uma autoidentidade positiva é influenciada pela
ageismo foi utilizado pela primeira vez em 1969 por Robert identidade do grupo no qual se está inserido. Assim, os
Butler (Minichiello, Browne & Kendig, 2000), que o definiu membros dos grupos buscam atingir essa autoidentidade
como uma forma de intolerância relacionada com a idade, positiva diferenciando-se positivamente e avaliando-se mais
ou seja, qualquer pessoa poderia ser alvo de discriminação favoravelmente em relação aos membros de outros grupos.
pela idade que tem, sendo crianças e idosos os grupos mais De acordo com essa perspectiva, há um viés intragrupo
vulneráveis (Nussbaum, Pitts, Huber, Krieger & Ohs, 2005). que determina que jovens preferem jovens e que velhos
Mais tarde, Palmore (2004) definiu o termo como forte pre- preferem velhos. Entretanto, a TIS não parte da ideia de que
conceito e discriminação contra pessoas idosas. Trata-se, para os indivíduos desvalorizam todos aqueles que não fazem
o autor, do terceiro grande “ismo” identificado nas sociedades parte do seu grupo, mas que há uma tendência de que se
ocidentais após o racismo e o sexismo. No entanto, o ageismo mantenha sempre uma imagem mais positiva do seu grupo
difere dessas duas formas de preconceito e de discriminação etário face a de outros.
porque teoricamente qualquer pessoa pode ser atingida por Várias situações evidenciam as manifestações de ageismo
ele ao longo de sua vida e desde que viva o suficiente para na vida diária. A forma infantilizada e paternalista por meio
envelhecer. Alguns dos estereótipos e atitudes negativas da qual as pessoas comunicam-se com os idosos é uma delas
associadas aos idosos classificam-nos como inflexíveis, (Nelson, 2005). Uma revisão da literatura sobre a linguagem
solitários, religiosos, improdutivos, doentes, depressivos, ageista revela diferentes versões: discurso simplificado, fala
senis, frágeis e sem energia (Nussbaum & cols., 2005). Para vagarosa, de pouca qualidade etc. Tal linguagem tem impacto
Levy e Banaji (2002), um dos aspectos mais traiçoeiros do significativo na autoestima, na identidade, nas habilidades
ageismo é que, diferentemente de outros tipos de discrimi- linguísticas e na percepção de autoeficácia de idosos (Nuss-
nação, como a racial, religiosa, étnica, o mesmo se articula baum & cols., 2005). Outras manifestações de ageismo são
de modo inconsciente, implícito, sem controle e intenção de percebidas no sistema de saúde, em situações de maus-tratos
prejudicar o seu alvo. físicos, psicológicos e financeiros contra idosos, assim como
Diferentes perspectivas teóricas propõem formas de em alguns locais de trabalho (Nelson, 2005). Manifestações
compreender o ageismo. Cuddy e Fiske (2002) apresentam a positivas de ageismo vinculadas a estereótipos positivos do
Teoria da Modernização como uma possibilidade de compre- idoso (sabedoria e maturidade, por exemplo), embora menos
ensão. De acordo com essa teoria, a redução do status social comuns, também são possíveis de ocorrer.
dos idosos é consequência da transformação das sociedades De acordo com uma pesquisa realizada por Minichiello
agrárias em modernas e industriais. Quatro mudanças são e cols. (2000), todas as formas de ageismo podem ser pre-
propostas na estrutura social como responsáveis pelos pa- judiciais, mas é no âmbito das relações interpessoais que
péis desvalorizados dos idosos. O aumento da expectativa ele pode ter maior impacto. Os aspectos mais evidentes
de vida promovido pelas melhorias das condições de saúde são a autopercepção que os idosos têm de si e o sentimento
resultou no crescimento da população idosa, o que, por sua de segurança na comunidade em que estão inseridos. Ex-
vez, levou à institucionalização da aposentadoria – fenômeno periências de discriminação ocorridas face-a-face podem
que enfraqueceu o poder de contribuição financeira dessa levar o indivíduo a avaliar-se pejorativamente como velho.
população. Por outro lado, os avanços tecnológicos levaram Assim, mesmo em situações de envelhecimento positivo
à criação de novos empregos, para os quais os idosos não podem ocorrer experiências negativas que, ao serem vividas
estariam preparados, ficando, dessa forma, fora do mercado repetidamente, poderão ter efeitos cumulativos e conduzir
de trabalho. Também a urbanização fez com que os jovens ao isolamento.
saíssem de suas casas em busca de melhores condições de No Brasil, numa investigação a respeito das represen-
vida e de trabalho, o que enfraqueceu os vínculos familiares tações sociais do envelhecimento, Veloz, Nascimento-
entre avós e netos, por exemplo. Por fim, com o surgimento Schulze e Camargo (1999) verificaram o predomínio de
da educação pública, estabeleceu-se socialmente uma maioria três tipos de representações: uma representação doméstica
de pessoas alfabetizadas, perdendo os idosos a posição de e feminina em que a perda dos laços familiares tem papel
transmissores da cultura e de sabedoria há muito sustentada central; uma que parte da noção de atividade, conferindo
(Cuddy & Fiske, 2002). ao envelhecimento características de perda do ritmo de
Uma outra maneira de entender o ageismo vincula-se à trabalho; e, finalmente, uma perspectiva de cunho mais
Teoria da Identidade Social (TIS) de Tajfel e Turner (1979, utilitarista, que destaca o envelhecimento como desgaste
citado por Kite & Wagner, 2002). Um dos pressupostos da da máquina humana.
TIS é que os julgamentos baseados na idade implicam uma No campo da psicologia social, muitos estudos têm
sido conduzidos com o objetivo de investigar a influência
3 O termo original em inglês é ageism. Por falta de um correspondente que os estereótipos do envelhecimento têm sobre o fun-
na língua portuguesa, optou-se por uma adaptação linguística do termo: cionamento cognitivo e a saúde física de idosos (Levy,
ageismo. 1996; Levy 2000; Levy, Ashman & Dror, 2000; Wentura &

510 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Out-Dez 2009, Vol. 25 n. 4, pp. 509-518
Ageismo em Contexto Brasileiro

Brandstädter, 2003). Essas pesquisas utilizam uma técnica diretamente, considerou-se que a inserção dos participantes
experimental denominada priming. Essa técnica consiste na em grupos de convivência para idosos era um bom preditor
breve apresentação de estímulos (palavras, por exemplo) de saúde física e mental, bem como de autonomia.
com o objetivo de facilitar o processamento de estímulos
relacionados. Levy (1996) examinou se estereótipos mais
positivos da velhice levavam a melhores performances de Materiais
memória. Os resultados indicaram que os participantes
expostos a estereótipos positivos tiveram uma performan- Foi aplicado um questionário de dados biosociodemo-
ce significativamente melhor nos testes de memória do gráficos, desenvolvido a fim de obter informações relativas
que os expostos a estereótipos negativos. Além disso, os a diferentes aspectos da vida dos participantes como sexo,
participantes expostos a estereótipos positivos informaram idade, escolaridade, satisfação com o nível socioeconômico
autoeficácia vinculada à memória superior à dos que foram e saúde percebida.
expostos a estereótipos negativos. Tais resultados sugerem Para avaliar a discriminação contra idosos, foi utilizada o
que as expectativas de idosos podem mediar o efeito de Ageism Survey. Esse instrumento foi criado em 2000 e testado
sua performance. Em outra pesquisa, Levy, Ashman e em 2001 pelo pesquisador americano Erdmand Palmore, do
Dror (2000) descobriram que a ativação de autoestereó- Centro para o Estudo do Envelhecimento e Desenvolvimento
tipos influenciava a vontade de viver relatada por idosos. Humano da Duke University (Palmore, 2001, 2004). Em sua
Dessa forma, os pesquisadores mostraram que estereótipos versão original, o Ageism Survey foi composto por 20 itens e
negativos da velhice, transmitidos socialmente, podem por três questões sobre a idade, o sexo e o grau de instrução
enfraquecer a vontade de viver de idosos. do respondente. Os itens do instrumento abordam exemplos
A vivência do processo de envelhecimento pode de estereótipos negativos, atitudes e discriminação pessoal
ser comprometida pela manutenção de estereótipos e institucional contra idosos. Na resposta a cada item, a
negativos, de preconceito e de discriminação. Assim, pessoa é instruída a assinalar o número que corresponde à
na velhice, a presença de tais indicadores macrossistê- frequência com que cada episódio descrito ocorreu com ela.
micos negativos pode representar um fator de violência Há três possibilidades de resposta: (0) o episódio “nunca
psicológica contra os idosos. Neri (2005) argumenta que ocorreu”; (1) “ocorreu uma vez”; e (2) “ocorreu mais do
o preconceito em relação à velhice tem o potencial de que uma vez”.
determinar políticas e práticas sociais segregadoras e A fim de comparar as manifestações de ageismo no
discriminatórias que podem privar os idosos do acesso Canadá e nos Estados Unidos, Palmore (2004) utilizou o
a empregos, tratamentos médicos etc. instrumento em uma pesquisa transcultural. Especificamen-
Assim, o objetivo deste estudo foi identificar, em contex- te, testou a Ageism Survey nos EUA, em idosos com idade
to brasileiro, as principais formas de discriminação contra superior a 60 anos, e no Canadá, em adultos com idade
idosos, e avaliar como os idosos percebem tais discrimina- superior a 50 anos. Os indicadores de validade e fidedigni-
ções de acordo com o grau de estresse que atribuem a elas. dade do instrumento foram testados na amostra americana e
Buscou-se ainda comparar resultados de um estudo português considerados aceitáveis. A consistência interna foi medida
(Ferreira-Alves & Novo, 2006) e de um americano (Palmore, por meio do coeficiente alpha de Cronbach para os 20 itens
2001) sobre ageismo com os resultados do presente estudo. e atingiu o valor de 0,81.
No estudo americano, Palmore utilizou o Ageism Survey em Em Portugal, o Ageism Survey foi adaptado recentemente
uma pesquisa transcultural com o objetivo de comparar as (Ferreira-Alves & Novo, 2006). Esses pesquisadores reali-
manifestações de ageismo no Canadá e nos Estados Unidos. zaram um estudo com uma amostra de 324 participantes dos
Já no estudo português, esse instrumento foi adaptado pelos sexos feminino e masculino e com idades entre 60 e 94 anos.
pesquisadores José Ferreira-Alves e Rosa Novo, os quais Os resultados obtidos quanto aos indicadores de validade e
investigaram a percepção de idosos de ocorrências de epi- fidedignidade do instrumento foram, assim como os obtidos
sódios de discriminação. nos Estados Unidos, considerados aceitáveis. A consistência
interna para os 20 itens do instrumento foi expressa pelo
alpha de Cronbach em 0,80.
Método No Brasil, a validação do Ageism Survey ainda não foi
realizada. Para este estudo, foi utilizada a versão de 20 itens
que foi adaptada para Portugal. Entretanto, para aplicação
Participantes no Brasil foi realizada uma adaptação linguística do instru-
mento4 a fim de torná-lo mais fiel à realidade brasileira. Es-
Participaram deste estudo 111 indivíduos com idades pecificamente para este estudo, algumas modificações foram
entre 56 e 85 anos (M = 68,63 anos; SD = 6,57), do sexo implementadas no instrumento. Assim, mantiveram-se os 20
feminino (n = 92) e masculino (n = 19), provenientes de itens da versão original e foram acrescentados cinco novos
Porto Alegre (n = 81) e de Rio Grande (n = 30), e integrados itens. Não se trata de itens que apresentam novos tipos de
em grupos de atividades para idosos. Todos os participantes
tinham condições gerais de saúde física e mental satisfatórias 4 Investigadores responsáveis: Dr. José Ferreira-Alves, Universidade do
e possuíam autonomia e mobilidade para executar as tarefas Minho; Doutora Rosa Novo, Universidade de Lisboa; e Regina Pilar
cotidianas. Embora esses critérios não tenham sido avaliados Arantes, PUCSP.

Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Out-Dez 2009, Vol. 25 n. 4, pp. 509-518 511
M. C. P. P. Couto & cols.

discriminação, mas que questionam o respondente a respeito participantes de Rio Grande. As entrevistas tiveram duração
de ele já ter vivenciado situações em que pudesse ter sofrido o média de 1h.
tipo de discriminação referido. Tais itens foram acrescentados
porque, durante a fase de aplicação piloto que antecedeu à
coleta de dados, percebeu-se que alguns participantes nunca Resultados
tinham sequer vivenciado o tipo de discriminação descrito.
Por exemplo, no item “Negaram-me um cargo de chefia Os dados relativos ao Questionário de Dados Biosociode-
devido à minha idade”, muitos participantes reportaram que mográficos foram analisados por meio de estatística descriti-
depois dos 60 anos não tinham concorrido a cargos de chefia. va. O objetivo dessas análises foi o de caracterizar a amostra
Nesse caso, eles não teriam opção de resposta, uma vez que, em estudo com relação à idade, ao sexo, à escolaridade etc.
se marcassem a opção “Nunca”, esta não representaria a De modo sucinto, a amostra integrou participantes que,
realidade porque indicaria que eles viveram a situação, mas na sua maioria, tinham idade superior a 60 anos (M = 68,63,
nunca foram discriminados. Assim, imediatamente antes de DP = 6,57) e eram do sexo feminino (83%). Considerado o
cada item (especificamente, itens 6, 7, 8, 14 e 15) foi acres- estado civil, os participantes da amostra concentraram-se,
centada uma questão que indagava se o respondente alguma sobretudo, nas categorias “casados ou com companheiros”
vez havia passado pelo tipo de situação descrita no item que (37%) e “viúvos” (40,5%). A maioria dos participantes (47%)
viria a seguir. Em caso positivo, ele deveria respondê-lo. Em tinha entre dois e três filhos. Relativamente à situação atual de
caso negativo, o item não seria respondido e passar-se-ia coabitação, 36% dos participantes vivia “sozinho”, seguida
para o item seguinte. por 27% que vivia com cônjuge ou companheiro. Os parti-
Além dos cinco itens referidos, foi acrescentado um cipantes apresentaram bom nível de escolaridade (55% da
indicador de avaliação do nível de estresse atribuído pelo amostra estudou mais de nove anos), renda familiar elevada
indivíduo a cada um dos eventos de discriminação que afir- (M = 3,8 salários mínimos, DP = 1,4) e, em geral, estavam
mou ter vivenciado. A variável nível de estresse foi avaliada satisfeitos com a renda. O estado de saúde da amostra foi
em uma escala Likert de três pontos em que (0) equivale descrito como bom (35,5% dos participantes consideraram
a “nada estressante”, (1) a “medianamente estressante” e a sua saúde boa, e 25,5%, muito boa). Dado não existirem
(2) a “extremamente estressante”. Quanto mais elevado o situações de doença crônica significativa ou déficits físicos
escore total, maior é a intensidade de estresse atribuída pelo limitativos, os participantes podem ser considerados pessoas
respondente ao evento de discriminação. Esse indicador de saudáveis. Por outro lado, também quanto à percepção dos
estresse foi incluído no instrumento porque se julgou que participantes acerca da própria saúde, a mesma era, em grande
era importante avaliar não só a frequência com que os epi- parte, positiva. A crença religiosa majoritariamente indicada
sódios de discriminação eram vivenciados, mas também o foi a católica (77%).
grau de intensidade de estresse atribuído pelos participantes Quanto aos dados do Ageism Survey, foi observado que
a essas vivências. Essa ideia está fundamentada em Yunes e os resultados da amostra brasileira assemelharam-se aos
Szymanski (2001), que afirmam que a diferenciação entre o obtidos nas amostras americana (Palmore, 2001) e portu-
acontecimento em si e a sua avaliação subjetiva é um aspecto guesa (Ferreira-Alves & Novo, 2006) para alguns itens.
importante na análise de fatores de risco. Por exemplo, o item ‘contar anedota sobre idosos’ teve
porcentagem de ocorrência entre os participantes seme-
lhante à da amostra americana. Por sua vez, o item ‘enviar
Procedimento cartão de aniversário fazendo troça sobre a idade’ teve
porcentagens baixas nas amostras brasileira e portuguesa,
Esta pesquisa foi previamente aprovado pelo comitê de mas não na americana. Alguns tipos de discriminação que
ética da UFRGS (Nº do Protocolo: 2006538). Antes do início tiveram porcentagens semelhantes nas três amostras foram:
da coleta de dados, os coordenadores dos grupos de idosos ‘sofrer insulto’ e ‘ter o aluguel de uma casa recusado devido
que integraram este estudo foram contatados e esclarecidos à idade’ (ver Tabela 1).
sobre o trabalho e, uma vez tendo aceitado participar, assina- Quando comparados os resultados relativos à fidedigni-
ram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, versão dade do Ageism Survey para os 20 itens da versão original
para os coordenadores. Da mesma forma, todos os partici- (expressos pelo alpha de Cronbach), as amostras americana
pantes que aceitaram colaborar com a pesquisa assinaram o e portuguesa apresentam resultados superiores, 0,81 e 0,80,
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, versão para respectivamente, ao da amostra brasileira, 0,65. Entretanto,
os participantes. quando considerados os 20 itens relativos à frequência e os
Os participantes deste estudo foram recrutados em grupos 20 relativos ao impacto do estresse em conjunto, na amostra
de convivência para idosos, cinco em Porto Alegre e um em brasileira, o alpha obtido foi de 0,82.
Rio Grande. De forma geral, os idosos que frequentam esses Conforme aparece na Tabela 1, quando comparadas as
grupos apresentam boas condições de saúde física e mental, porcentagens de ocorrência dos tipos de discriminação da
boa integração social e um grau de autonomia que lhes per- amostra em estudo com as das amostras americana e por-
mite participar das atividades do grupo, o que foi considerado tuguesa, percebe-se que, de modo geral, elas aproximam-se
um bom indicador de saúde e autonomia. mais das porcentagens da amostra portuguesa. Sete itens (2,
A aplicação dos instrumentos ocorreu por meio de entre- 7, 9, 11, 13, 19 e 20) apresentaram baixa porcentagem de
vistas individuais com os participantes de Porto Alegre e de ocorrência entre os participantes (inferior a 14%) nas amos-
entrevistas em grupos de no máximo 10 integrantes com os tras portuguesa e brasileira. Além disso, nos quatro itens (6,

512 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Out-Dez 2009, Vol. 25 n. 4, pp. 509-518
Ageismo em Contexto Brasileiro

Tabela 1. Porcentagem de ocorrências dos tipos de discriminação* vivenciados por três amostras: americana, portuguesa e brasileira.

EUA (N = 84)** Portugal (N = 324)** Brasil (N = 110)


Itens
Nunca 1Vez >1Vez Nunca 1Vez >1Vez Não aplica Nunca 1Vez >1Vez

1. Contar anedota 42 17 42 79 5 16 0 53 2 45

2. Enviar cartão 70 12 18 99 1 .3 1 98 1 0

3. Ser ignorado 69 15 15 77 9 14 2 81 5 12

4. Sofrer insulto 82 10 8 84 7 9 2 83 8 7

5. Paternalismo 61 20 19 79 9 11 4 73 5 18

6. Recusa de aluguel 99 0 1 99 1 .3 84 16 0 0

7. Obter empréstimo 92 5 4 97 3 .3 71 26 2 1

8. Negar liderança 92 7 1 90 1 8 95 5 0 0

9. Rejeição p/ aparência 82 8 10 91 3 6 1 94 2 3

10. Falta de respeito 70 10 20 86 5 9 0 92 4 4

11. Ser ignorado (garçom) 89 6 5 97 2 1 0 100 0 0

12. Associar dores à idade 57 24 19 68 14 18 2 79 8 11

13. Negar tratamento 92 4 5 95 2 3 1 96 2 1

14. Negar emprego 95 5 0 95 4 1 94 1 3 2

15. Negar promoção 90 8 1 96 2 1 97 3 0 0

16. Assumir surdez 67 13 20 70 11 19 0 77 5 18

17. Assumir incompreensão 69 14 17 70 9 21 0 82 4 14

18. Ser demasiado velho 57 17 26 86 6 8 2 84 6 8

19. Casa vandalizada 95 4 1 98 1 1 0 98 1 1

20. Vítima de violência 95 2 2 95 3 2 1 92 4 3

Média 78 10 11 88 6 8 23 67 3 7

*As porcentagens podem não somar exatamente 100 devido ao arredondamento dos valores.
**Amostra de referência americana (Palmore, 2001) e portuguesa (Ferreira-Alves & Novo, 2006).

Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Out-Dez 2009, Vol. 25 n. 4, pp. 509-518 513
M. C. P. P. Couto & cols.

50
PORCENTAGEM
40
EUA
30
Portugal
20
Brasil
10
0
Enviar cartão Paternalismo Falta de Associar dores Ser demasiado
respeito à idade velho

ITENS
Figura 1. Tipos de discriminação mais diferenciados (diferença superior a 15%) entre as amostras americana, portuguesa e brasileira.

8, 14 e 15) avaliados majoritariamente como não aplicáveis Considerando os sete itens (1, 3, 4, 5, 12, 16 e 17) com
na cultura brasileira, a porcentagem de ocorrência na amostra maior porcentagem de ocorrência na amostra brasileira
portuguesa foi baixa (inferior a 10%). Provavelmente, a baixa (>15%), observou-se que a vivência de discriminação em
porcentagem de ocorrência desses itens entre os participan- contextos sociais (itens 1 - ‘contar anedota sobre idosos’,
tes deve-se ao fato de que o seu conteúdo se refere a tipos 3 - ‘ser ignorado’, 4 - ‘sofrer insulto’ e 5 - ‘paternalismo’)
de discriminação que não são tão característicos da cultura representou a maior parte de respostas relativas aos tipos
brasileira e portuguesa, sendo, todavia, mais comuns da de discriminação vividos pelos participantes, seguida pela
cultura americana. Ressalta-se, entretanto, que alguns itens vivência de discriminação em contextos de saúde (itens 12
(6, 7, 8, 13, 14, 15, 19 e 20) também na amostra americana - ‘associar dores à idade’, 16 - ‘atribuição de surdez’ e 17 -
apresentaram porcentagem de ocorrência baixa entre os ‘falta de capacidade de compreensão com atribuição causal
participantes. à idade’) (Figura 2). Quatro itens apresentaram porcentagem
Observa-se que, conforme mostra a Figura 1, houve ten- igual a zero (nas respostas “1 vez” e “mais de uma vez”) na
dências de diferenciação por item nas amostras comparadas. amostra brasileira. Foram eles: itens 6 - ‘recusa de alugar
Em cinco itens (itens 2, 5, 10, 12 e 18) houve percepção de imóvel’, 8 - ‘negar liderança’, 11 - ‘ser ignorado por um gar-
discriminação mais expressiva, superior a 15 pontos per- çom’ e 15 - ‘ter uma promoção no trabalho negada’. O item
centuais, por parte dos americanos quando comparados com 20, ‘ser vítima de violência’, apresentou maior porcentagem
os brasileiros e com os portugueses. Os itens em causa são: de ocorrência (7%) na amostra brasileira do que nas amostras
2 - ‘enviar cartões de aniversário fazendo troça das pessoas americana (4%) e portuguesa (5%). A porcentagem mais
pela sua idade avançada’, 5 - ‘comunicar-se de forma condes- elevada desse item na amostra brasileira pode revelar o fato
cendente ou paternalista’, 10 - ‘tratar com menos dignidade de que, no Brasil, comparativamente aos EUA e a Portugal,
ou respeito devido à idade’, 12 - ‘associar dores à idade’ e há mais violência urbana, provavelmente associada a um
18 - ‘considerar as pessoas idosas demasiado velhas’. maior índice de pobreza e marginalidade.

50

40
PORCENTAGEM

30

20

10

0
Contar Ser ignorado Sofrer insulto Paternalismo Associar dores Assumir Assumir
anedota à idade surdez incompreensão

ITENS
Figura 2. Porcentagens dos tipos de discriminação predominantes no Brasil (porcentagem superior a 15%).

514 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Out-Dez 2009, Vol. 25 n. 4, pp. 509-518
Ageismo em Contexto Brasileiro

Considerou-se, neste estudo, que um aspecto importante A Tabela 2 também indica que, de forma geral, entre os
a investigar foi o nível de estresse atribuído pelo respon- tipos de discriminação mais estressantes (com média superior
dente a cada situação de discriminação por ele vivenciada. a um) predominaram aqueles vinculados ao contexto social.
A Tabela 2 apresenta os 16 tipos de discriminação aos quais Por exemplo, o item ao qual foi atribuído o maior grau de
foram atribuídos algum grau de estresse (nada estressante, estresse foi o ‘ter sido vítima de violência física ou moral
medianamente estressante ou extremamente estressante), a devido à idade’. Os itens ‘falta de respeito’ e ‘rejeição em
porcentagem de participantes que viveu o tipo de discrimi- função da idade’ também foram considerados como eventos
nação e avaliou o seu grau de estresse, a média de estresse com alto grau de estresse. Dois itens (2 e 13) não foram ava-
e o desvio-padrão atribuídos ao tipo de discriminação e a liados como estressantes por nenhum dos participantes que os
ordenação dos tipos de discriminação do mais estressante vivenciaram. O item 2, ‘enviar cartão de aniversário fazendo
ao menos estressante. Muito embora as situações de dis- troça das pessoas por sua idade avançada’, foi referido por
criminação possam ser indutoras de estresse, admite-se um participante, e o item 13, ‘negar tratamento médico pela
variabilidade interindividual consoante às situações vividas. idade avançada’, por três participantes.
Os resultados relativos às respostas do nível de estresse
dos eventos de discriminação indicaram que para a maior
parte dos itens (10 dos 16 itens que foram indicados como Ageismo segundo sexo, idade, escolaridade, satisfação
já tendo sido vivenciados), a média de estresse foi inferior com o NSE e saúde percebida
a um (numa escala que variou de 0 a 2). Isso pode indicar
que apesar de já terem experimentado discriminação, nesses De forma a caracterizar a vivência ou a percepção de
casos, os participantes não a avaliaram como um evento ageismo por parte dos participantes, consideraram-se as
gerador de médio ou alto grau de estresse. variáveis sexo, idade, escolaridade, satisfação com o nível
socioeconômico e saúde percebida. A variável ageismo foi
calculada de modo a compor um único indicador com base
Tabela 2. Porcentagem de ocorrência, média da intensidade de estresse na frequência do tipo de discriminação e na intensidade
e desvio-padrão dos tipos de discriminação ordenados pela média da de estresse a ele atribuído. Para tanto, multiplicou-se a
intensidade de estresse. frequência (F) pela intensidade de estresse (I), sendo o ageis-
Intensidade de Estresse mo uma nova variável que considerou a relação entre frequ-
Item ência dos episódios de discriminação e intensidade de estresse
(%)* M** DP Ordenação a eles atribuído (F x I). Para compor essa variável, os valores
20. Vítima de violência 7 1.75 0.46 1º 0, 1 e 2 relativos à frequência foram convertidos em 1, 2 e 3,
tendo sido criado o valor 0 para a resposta “Não se aplica”. A
07. Obter empréstimo 3 1.67 0.57 2º variável idade foi dividida em três categorias etárias: 56 – 65
10. Falta de respeito 8 1.44 0.72 3º anos, 66 – 75 anos e 76 – 85 anos. As categorias referentes à
escolaridade foram mantidas de modo idêntico ao apresen-
09. Rejeição p/ aparência 5 1.00 0.00 4º tado no Questionário de Dados Biosociodemográficos: 0-4
anos, 5-8 anos, 9-11 anos e curso superior. A variável saúde
14. Negar emprego 5 1.00 1.00 4º
percebida foi categorizada em quatro: saúde má/insatisfató-
19. Casa vandalizada 2 1.00 1.41 4º ria, média, boa e muito boa – escores relativos. Por fim, a
satisfação com o nível socioeconômico foi classificada em
03. Ser ignorado 17 0.94 0.90 5º
três categorias: muito satisfeito/satisfeito, nem satisfeito/nem
17. Assumir incompreensão 18 0.68 0.75 6º insatisfeito, insatisfeito/muito insatisfeito – escores relativos
para base de diferenciação.
12. Associar dores à idade 19 0.63 0.83 7º Os testes estatísticos utilizados para a análise de dife-
04. Sofrer insulto 15 0.53 0.71 8º renças de médias entre os grupos, considerando sexo, idade,
escolaridade, satisfação com o nível socioeconômico e saúde
16. Assumir surdez 23 0.46 0.65 9º percebida, foram o t de Student e a ANOVA one-way (post
01. Contar anedota 47 0.40 0.68 10º hoc Tukey).
A percepção de discriminação, ageismo (F x I), não se
05. Paternalismo 23 0.26 0.44 11º diferenciou significativamente entre os grupos de acordo
18. Ser demasiado velho 14 0.19 0.54 12º
com o sexo, a idade, a escolaridade e a saúde percebida
(p > 0,05). Todavia, o nível socioeconómico revelou-se uma
02. Enviar cartão 1 0.00 0.00 13º variável diferenciadora relativamente ao ageismo (F x I, F(2,80)
= 3,4, p < 0,05). O teste post hoc Tukey demonstrou que o
13. Negar tratamento 3 0.00 0.00 13º
impacto da variável ageismo (F x I) foi significativamente
*As porcentagens podem não somar exatamente 100 devido ao diferente entre os grupos com distintos níveis socioeconômi-
arredondamento dos valores. cos, sendo maior no grupo “nem satisfeito/nem insatisfeito”
**A média da intensidade de estresse (0-2) foi calculada apenas para os (M = 169,10; DP = 39,55) do que no grupo muito satisfeito/
participantes que informaram ter vivido pelo menos uma vez o tipo de
discriminação a ela associado.
satisfeito (M = 91,17; DP = 13,11). Aparentemente, quanto
*** A frequência dos itens 6, 8, 11 e 15 foi igual a zero (i.e. nenhum menos satisfeito se está com o nível socioeconômico, mais
participante informou ter vivido as situações expressas nestes itens). impacto tem a variável ageismo (F x I).

Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Out-Dez 2009, Vol. 25 n. 4, pp. 509-518 515
M. C. P. P. Couto & cols.

Discussão Ou seja, ao invés de comparar-se com jovens com melhor


desempenho em atividades com o computador, um idoso
A discriminação contra os idosos – ageismo – é sustentada tenderia a comparar o seu desempenho em tais atividades
principalmente pela manutenção de estereótipos (negativos com o desempenho de outros idosos que julga não terem
e positivos) quanto à idade avançada. Estudos no campo da tão bom desempenho. Finalmente, o terceiro mecanismo
psicologia revelam que os estereótipos são fontes de influ- pelo qual membros de grupos estigmatizados protegem a sua
ência para a percepção que as pessoas têm de si próprias. No autoestima consiste em desvalorizar aqueles atributos que
caso do ageismo, entretanto, ainda permanece pouco claro o não são desempenhados plenamente pelo grupo e valorizar
quanto os estereótipos negativos influenciam a autopercepção aqueles que o são. Assim, um idoso poderia valorizar a sua
que os idosos têm de si próprios e a que têm dos outros idosos habilidade de leitura, mas não a sua habilidade para praticar
em geral (Pinquart, 2002). esportes radicais, por exemplo. Com esses mecanismos de
Como apresentado, os estudos de priming com idosos proteção, Crocker e Major (1989) propõem que nem sempre
revelam a existência de impacto negativo do ageismo em o preconceito e a discriminação social implicam prejuízos
diferentes domínios. Entre eles, os relacionados com o de- na autoestima de membros de grupos estigmatizados. Assim,
clínio da performance dos idosos em tarefas cognitivas após essas autoras apresentam uma visão positiva de acordo com
a exposição a estereótipos negativos do envelhecimento são a qual indivíduos estigmatizados nem sempre se comportam
um exemplo (Levy, 1996; Levy & Langer, 1994). Todavia, a como meras vítimas, mas ao contrário, são capazes de se
respeito dos efeitos negativos dos estereótipos na manutenção proteger ativamente dos efeitos negativos do preconceito.
de uma autopercepção positiva, Pinquart (2002) sugere que, Destacam, todavia, que com esse argumento não pretendem
de acordo com a teoria da resiliência (ver Wentura, Dräger & negar os efeitos negativos do preconceito e da discriminação
Brandstäter, 1997), tais estereótipos não levariam à deterio- no funcionamento psicológico. Ou seja, embora os indivíduos
ração do self, nem teriam influência, ou esta seria mínima, sejam capazes de proteger a sua autoestima do estigma social,
na percepção que os idosos têm de si próprios. Entretanto, poderá haver outras variáveis para as quais as suas estratégias
Pinquart afirma que o impacto desses estereótipos seria ne- de proteção falhem.
gativo quanto à percepção que os próprios idosos têm dos A respeito da relação entre os estereótipos de envelheci-
idosos em geral. Há, ainda, a questão da auto-relevância dos mento e a autopercepção dos idosos, Rothermund e Brands-
estereótipos. Isto é, se um(a) idoso(a) não se identifica com tädter (2003) apresentam três hipóteses discutidas na literatu-
certos traços estereotípicos do seu grupo de pertença, é pro- ra. Uma delas é a “hipótese de comparação”, de acordo com a
vável que os mesmos não tenham o impacto negativo previsto qual, estereótipos de envelhecimento atuam como se fossem
na sua autopercepção (Hess, Hinson & Statham, 2004). padrões de referência para comparações que favorecem a au-
Um diferencial deste estudo foi a avaliação do nível de topercepção do idoso. Desse modo, os estereótipos negativos
estresse atribuído pelos participantes aos tipos de discrimi- teriam um efeito positivo na autopercepção de idosos. Isso
nação por eles vivenciados. A inclusão de um indicador de ocorreria porque quando deparados com tais estereótipos,
estresse no Ageism Survey tornou possível detectar efeitos os idosos se comparariam e se avaliariam de maneira mais
atribuídos à vivência de ageismo por idosos. Foi reduzido positiva, atribuindo, assim, as características negativas do
o número de itens a que foi atribuído um nível médio ou estereótipo a outros idosos e não a si próprios.
elevado de estresse. Assim, os participantes não avaliaram Os mecanismos de proteção propostos por Crocker e
a maior parte dos episódios de discriminação como sendo Major (1989) e a hipótese da comparação discutida por
acontecimentos geradores de estresse. Tal fato não indica que Rothermund e Brandstädter (2003) podem explicar porque
os idosos entrevistados não percebem o que é discriminação os idosos do presente estudo não admitiram ter vivenciado
contra a idade, uma vez que referem, por exemplo, eventos tantos episódios de discriminação quanto era esperado,
do contexto social e da saúde que geraram maior nível de bem como não atribuíram um grau elevado de estresse a
estresse. Pode, entretanto, relacionar-se ao uso de estratégias maioria dos episódios que viveram. Além desses, outro
de proteção que idosos utilizam para lidar com situações de argumento que pode explicar os resultados deste estudo
discriminação. quanto à frequência e intensidade de estresse dos eventos
Em um artigo que discute os efeitos do estigma social de discriminação, é o da identificação com o grupo etário.
na autoestima, Crocker e Major (1989) indicam três meca- Levy (2003) afirma que a identificação com o grupo é um
nismos através dos quais indivíduos que pertencem a grupos fator fundamental para que idosos reconheçam um este-
estigmatizados podem proteger a sua autoestima de eventos reótipo como parte de sua identidade. Assim, a entrada
negativos, tais como atitudes de preconceito e discriminação. formal na terceira idade, aos 60 anos, não corresponde
O primeiro mecanismo consiste em o indivíduo atribuir ao necessariamente ao momento em que o idoso internaliza
seu grupo as respostas sociais negativas (preconceito) ao os estereótipos do envelhecimento como algo próprio da
invés de atribuí-las a si próprio. Por exemplo, isso pode sua identidade. Para que isso ocorra, é preciso que ele se
ocorrer quando é dito a um idoso que ele não compreende identifique com o grupo dos idosos. Por exemplo, embora os
bem as coisas. Nesse caso, o idoso pode atribuir tal res- idosos possam falar objetivamente sobre sua idade e mesmo
posta negativa ao grupo de idosos em geral, mas não a si usar termos próprios do seu grupo etário, subjetivamente,
próprio (o que o levaria a pensar que realmente não com- eles podem ver-se como sendo mais jovens do que são
preende bem). O segundo mecanismo consiste em utilizar geralmente considerados (Carstensen & Hartel, 2006). Por
estratégias de comparação de resultados pessoais com os não se reconhecerem como idosos, podem, desse modo, não
resultados de indivíduos que pertencem ao mesmo grupo. reconhecer eventos de discriminação vividos.

516 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Out-Dez 2009, Vol. 25 n. 4, pp. 509-518
Ageismo em Contexto Brasileiro

É importante destacar que a amostra deste estudo foi com- dera-se que, na versão original, existe a possibilidade de o
posta por idosos que participam de grupos de atividades para respondente assinalar a resposta “Nunca” com intenção de
a terceira idade. É sabido que o envolvimento nesses grupos indicar nunca ter vivido a situação. Na verdade, essa resposta
contribui para uma reelaboração do significado de velhice. indica que houve vivência da situação, mas sem ter aconte-
O repensar a velhice de forma positiva tem o potencial de cido vivência de discriminação. Assim, recomenda-se que
promover a autoestima, fortalecendo o indivíduo para lidar uma nova forma de apresentação que contemple a precisão
com eventos negativos, tais como o preconceito. das respostas seja implementada na escala a fim de que o
Os resultados do presente estudo sugerem que há ma- instrumento se torne ainda melhor.
nifestações de ageismo em diferentes contextos sociais e
culturais. As três amostras comparadas revelaram diferenças,
mas também similaridades, fato que indica que o ageismo Considerações Finais
tem características de um fenômeno transcultural. Cuddy,
Norton e Fiske (2005) revelam que estudantes universitários Os resultados revelaram a vivência de episódios de dis-
nos EUA, Bélgica, Costa Rica, Hong Kong, Japão, Israel e criminação em contexto brasileiro, tendo sido predominantes
Coréia do Sul avaliam os idosos como mais afetivos do que os relativos aos contextos sociais e de saúde. Quanto ao nível
competentes e como pessoas que têm baixo status social e de estresse atribuído aos eventos de discriminação, de forma
não são competitivas. geral, os itens apresentaram médias baixas (inferiores a um).
A amostra em estudo apresentou um padrão de expe- Esse resultado pode revelar que idosos utilizam diferentes
riência de discriminação mais semelhante ao da amostra estratégias para lidarem com eventos negativos, tais como
portuguesa (Ferreira-Alves & Novo, 2006) do que ao da o preconceito.
americana (Palmore, 2001). O único item em que a amostra A idade é, sem dúvida, uma categoria social que guia
brasileira apresentou resultados mais elevados foi o relativo as atitudes mantidas em relação às pessoas. A partir da per-
à vitimização, o que pode ser explicado pelo fato de no cepção que se tem da idade de uma pessoa, são feitas, por
Brasil haver mais violência derivada dos problemas sociais exemplo, inferências sobre suas competências sociais e cog-
enfrentados. nitivas. São exatamente essas inferências que vão determinar
A execução deste estudo propiciou algumas sugestões o modo como se comportam e o que pensam as pessoas umas
para futuras pesquisas sobre ageismo. O Ageism Survey, em relação às outras (Cuddy & Fiske, 2002). O combate ao
instrumento utilizado para identificar a extensão do fe- ageismo deveria, dessa forma, focar em mudanças de cren-
nômeno ageismo e as condições e situações em que ele ças sociais e de atitudes relativas aos idosos. O preconceito
especificamente é vivenciado, pareceu restrito em alguns contra idosos pode implicar danos para a sua qualidade de
aspectos para aplicação em amostras brasileiras. Alguns vida, podendo também resultar em perdas para a sociedade.
itens, como por exemplo, “Enviaram-me um cartão de Com os avanços da medicina, o processo de envelhecimento
aniversário que ridicularizava as pessoas de mais idade”, tem sido favorecido e, assim, os idosos têm vivido mais e
não são realmente comuns na cultura nacional e, portanto, experienciado menos doenças e deficits físicos. Entretanto, a
não foram indicados como importantes nesta amostra. visão negativa do idoso tem reduzido a chance de a sociedade
Outro aspecto importante é o fato de que a escala exige beneficiar-se das contribuições e dos conhecimentos dessa
uma resposta de experiência de discriminação ocorrida na população (Carstensen & Hartel, 2006).
velhice, isto é, no Brasil, após os 60 anos. Assim, as bai-
xas frequências reportadas pelos participantes em alguns
itens podem refletir o fato de eles representarem situações Referências
pouco frequentes após os 60 anos, na cultura brasileira,
não sendo, portanto, situações típicas de discriminação. Bronfenbrenner, U. (1996). A ecologia do desenvolvimento
O exemplo disso ocorreu quando as pessoas responde- humano: experimentos naturais e planejados (M. A. V. Veronese,
ram aos itens com a opção “Não se aplica”. Entretanto, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original publicado
alguns casos, sobretudo quando as pessoas consideraram em 1979)
que os eventos de discriminação ocorreram, mas que a Carstensen, L., & Hartel, C. R. (2006). Opportunities lost: The
sua vivência não foi estressante, podem refletir o uso de impact of stereotypes on self and others. Em L. Carstensen & C. R.
estratégias que os idosos utilizam para se protegerem da Hartel (Eds.), When I’m 64 (pp. 80-91). Washington DC: Committee
discriminação. on Aging Frontiers in Social Psychology, Personality, and Adult
Um ponto a salientar na adaptação do Ageism Survey foi Developmental Psychology.
a inclusão do indicador de estresse. Esse indicador permitiu Crocker, C., & Major, B. (1989). Social stigma and self-esteem:
acessar como os idosos que experimentam a vivência de The self-protective properties of stigma. Psychological Review,
discriminação a avaliam. Esse é um aspecto fundamental, 96, 608-630.
por exemplo, em pesquisas na área do risco, nas quais a Cuddy, A. J. C., & Fiske, S. T. (2002). Doddering but dear:
percepção subjetiva do sujeito sobre o evento configura-se Process, content, and function in stereotyping of older person. Em
como elemento mais importante do que as características T. Nelson (Ed.), Ageism – Stereotyping and prejudice against older
objetivas em si. persons (pp. 3-26). Cambridge: Bradford Books.
Os cinco itens acrescentados aos 20 da versão original Cuddy, A. J. C., Norton, M. I., & Fiske, S. T. (2005). This
da escala forneceram uma informação mais precisa sobre a old stereotype: The pervasiveness and persistence of the elderly
vivência de discriminação dos idosos entrevistados. Consi- stereotype. Journal of Social Issues, 61, 267-285.

Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Out-Dez 2009, Vol. 25 n. 4, pp. 509-518 517
M. C. P. P. Couto & cols.

Ferreira-Alves, J., & Novo, R. F. (2006). Avaliação da Palmore, E. B. (2001). The Ageism Survey: First findings. The
discriminação social de pessoas idosas em Portugal. International Gerontologist, 41, 572-575.
Journal of Clinical and Health Psychology, 6, 65-77. Palmore, E. B. (2004). Research note: Ageism in Canada and the
Hess, T. M., Hinson, J. T., & Statham, J. A. (2004). Explicit United States. Journal of Cross-Cultural Gerontology, 19, 41-46.
and implicit stereotype activation effects on memory: Do age and Pinquart, M. (2002). Good news about the effects of bad old-age
awareness moderate the impact of priming? Psychology and Aging, stereotypes. Experimental Aging Research, 28, 317-336.
19, 495-505. Rothermund, K., & Brandstädter, J. (2003). Age stereotypes and
Kite, M. E., & Wagner, L. S. (2002). Attitudes toward older self-views in later life: Evaluating rival assumptions. International
adults. Em T. Nelson (Ed.), Ageism – Stereotyping and prejudice Journal of Behavioral Development, 27, 549-554.
against older persons (pp. 129-161). Cambridge: Bradford Veloz, M. C. T., Nascimento-Schulze, C. M., & Camargo, B.
Books. V. (1999). Representações sociais do envelhecimento. Psicologia
Levy, B. (1996). Improving memory in old age by implicit Reflexão e Crítica, 12, 479-501.
self-stereotyping. Journal of Personality and Social Psychology, Wentura, D., & Brandstädter, J. (2003). Age stereotypes in
71, 1092-1107. younger and older women: Analyses of accommodative shifts with
Levy, B. (2003). Mind matters: Cognitive and physical effects a sentence-priming task. Experimental Psychology, 50, 16-26.
of aging selfstereotypes. Journal of Gerontology: Psychological Wentura, D., Dräger, D., & Brandstäter, J. (1997).
Sciences, 58B, 203-211. Alternsstereotype im frühen und höheren Erwachsenenalter:
Levy, B., Ashman, O., & Dror, I. (2000). To be or not to be: Analyse akkommodativer Veränderungen anhand einer Satzpriming-
The effects of aging stereotypes on the will to live. OMEGA, 40, Technik [Age stereotypes in early and late adulthood: Analyses of
409-420. accommodative shifts in a sentence-priming task]. Zeitschrift für
Levy, B., & Banaji, M. R. (2002). Implicit ageism. Em T. Nelson Sozialpsychologie, 28, 109-128.
(Ed.), Ageism – Stereotyping and prejudice against older persons Yunes, M. A. M. & Szymanski, H. (2001). Resiliência: noção,
(pp. 49-75). Cambridge: Bradford Books. conceitos afins e considerações críticas. Em J. Tavares (Ed.)
Levy, B., & Langer, E. (1994). Aging free from negative Resiliência e educação (pp. 13-42). São Paulo: Cortez.
stereotypes: Successful memory in China among the American deaf.
Journal of Personality and Social Psychology, 66, 989-997.
Minichiello, V., Browne, J., & Kendig, H. (2000). Perceptions
and consequences of ageism: Views of older people, Aging and
Society, 20, 253-278.
Nelson, T. (2005). Ageism: Prejudice against our feared future
self. Journal of Social Issues, 61, 207-221.
Neri, A. L. (2005). Palavras-chave em gerontologia. Campinas:
Alínea.
Nussbaum, J. F., Pitts, M. J., Huber, F. N., Krieger, J. R. L., & Recebido em 11.10.07
Ohs, J. E. (2005). Ageism and ageist language across the life span: Primeira decisão editorial em 27.07.09
Intimate relationships and non-intimate interactions. Journal of Versão final em 05.08.09
Social Issues, 61, 287-305. Aceito em 01.10.09 n

518 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Out-Dez 2009, Vol. 25 n. 4, pp. 509-518

You might also like