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Sobre a morte e o morrer

Autora: Elisabeth Kubler-Ross Tradução: Paulo Menezes

INTRODUÇÃO Antigamente, a morte de crianças era freqüente e poucas eram as famílias que não
tinham perdido um parente. A medicina progrediu nas últimas décadas. A vacinação erradic
ou muitas doenças, a quimioterapia e o uso de antibióticos, contribuiu para que dimi
nuísse o número de casos de doenças infecciosas. Uma educação melhor ocasionou um baixo índ
ce da mortalidade infantil. As várias doenças que disseminaram a população de jovens e a
dultos foram dominadas. Cresce o número de idosos, e com isto aumenta o número de víti
mas de tumores e doenças crônicas. Aumentou o número de pacientes com distúrbios psicoss
omáticos e problemas de comportamento. Os médicos cuidam de pacientes mais velhos qu
e procuram não viver somente com suas limitações e habilidades físicas diminuídas, mas, ta
mbém aprender a enfrentar a solidão e o isolamento em que vivem. O livro “Sobre a mort
e e o morrer” tenta demonstrar na prática através de relatos de experiências reais às pess
oas diversas situações em que indivíduos por algum motivo deparam com a morte, seja el
e um moribundo ou um ente que acompanha o estágio final de alguém querido. Além destes
relatos o livro faz comentários interessantes aos profissionais de saúde á equipe mul
tiprofissional mais precisamente de como lidar com as diversas situações da morte em
si. 2
Capítulo I Sobre o temor da morte As mudanças ocorridas nas últimas décadas são responsávei
pelo crescente medo de morrer, pelo aumento dos problemas emocionais e pela gra
nde necessidade de compreender e lidar com os problemas da morte e do morrer. Em
nosso inconsciente, a morte nunca é possível quando se trata de nós mesmos. É inconcebíve
l morrer de causa natural ou idade avançada. A morte está ligada a uma ação má, a um acont
ecimento medonho. A criança vê a morte como algo não permanente, quase não diferenciando
de um divórcio entre seus pais. Quando crescemos e percebemos que nossos desejos
mais fortes, não tem força suficiente para tornar possível o impossível, desaparece o me
do de ter contribuído para a morte de um ente querido e, conseqüentemente some a cul
pa, mas, o medo de morrer permanece “escondido”, só enquanto não for fortemente desperta
do. Uma criança de cinco anos que perde a mãe tanto se culpa pelo desaparecimento de
la, como se zanga porque ela a abandonou. A morte constitui ainda um acontecimen
to medonho, pavoroso, um medo universal, mesmo sabendo que podemos dominá-lo algum
as vezes. Quando permitimos que um paciente, termine seus dias no querido ambien
te familiar, isto requer dele, uma melhor adaptação da morte. O fato de permitirem q
ue as crianças continuem em casa, onde ocorreu uma desgraça, e participem da convers
a, das discussões e dos temores, faz com que não se sintam sozinhas na dor. Morrer é t
riste demais sob vários aspectos, sobretudo é muito solitário e desumano. Morrer se to
rna um ato solitário e impessoal, porque o paciente é removido de seu ambiente famil
iar e levado ás pressas para uma sala de emergência. O caminho para o hospital é o pri
meiro capítulo da morte. Quando um paciente está gravemente enfermo, é tratado como al
guém sem direito a opinar. Quase sempre é outra pessoa quem decide sobre si, quando
e onde um paciente deverá ser hospitalizado. Devemos lembrar que o doente3

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