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Abstract: Essay on the various possibilities for interpreting the human figure drawing,
concentrating on their study as psychological testing and psychology of art. Presents
the analysis of Sigmund Freud on Leonardo da Vinci and of C. G. Jung on Pablo
Picasso as a parameter and the same to the interface of art psychology with clinical
psychology in tne life and work of Edvard Munch, Louis Wain and Van Gogh.
O estilo criado, ou escolhido por cada artista é uma inconfundível marca de sua
personalidade e modo de viver. Leonardo da Vinci, (1452 – 1519) já observava
que o desenho da figura humana traduzia a própria experiência corporal do
artista, ensinava que se tornava necessário uma atenção especial prática para
evitar tal expressão.
Leonardo da Vinci foi um dos poucos artistas plásticos que recebeu atenção
especial dos psicanalistas, e este do criador da psicanálise. Em seu ensaio:
Leonardo Da Vinci e uma lembrança da sua infância, Sigmund Freud, em 1910,
identificaria os elementos de um sonho infantil desse artista relatado por ele em
seus escritos. O abutre que lhe fustigava a boca nesse referido sonho, findou
sendo representado, de modo disfarçado, no manto da madona que segura o
menino em um dos seus quadros, Sant’Ana com a Madona e o menino.
(Freud, (1910), 1970)
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Virgem, Sant’Ana e o Menino (1508) e dois possíveis auto-retratos de Leonardo da Vinci
Entre outros artistas para os quais se dispõe analise psicológicas estão: Van
Gogh, sem dúvida o mais estudado face à sua internação para tratamento
psiquiátrico e posterior suicídio; Pablo Picasso analisado por C. G. Jung que
publicou um ensaio sobre ele em 1932. A análise da vida e obra de cada um
dos autores citados, seu estilo, a relação destes com sua época e suas
motivações são no mínimo objetos de tese de mestrado/ doutorado em
psicologia da arte, sem limitar-se a um simples ensaio, dado à importância que
possuem na história da pintura.
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Contudo, como nos propõe Jung, 1930:
Por outro lado a interface da arte com a clínica se impõe. Autores como Edvard
Munch (1863 – 1944), seja pelos relatos de sua crise nervosa de 1908 ou pelos
seus dramáticos e pungentes quadros sobre as fases críticas da existência
(puberdade, velhice, doença na juventude) associados aos fatores do
desequilíbrio ou equilíbrio dos sentimentos e emoções humanas
(arrependimento, morte, grito) fazem dele um objeto exemplar.
O mesmo pode ser dito quanto a Louis Wain (1860 –1939) que tinha como
tema gatos antropomorfizados, semelhantes aos utilizados em desenhos
infantis e aos 57 anos, iniciou um processo psicótico que resultou em
internações em instituições psiquiátricas nos últimos 15 anos da sua vida. Os
retratos dos gatos que pintava nessa faze tomaram uma forma de gatos que
foram progressivamente transformando-se em abstrações geométricas, quase
mandalas numa interpretação jugniana, que aparentemente indicam uma
evolução do processo psicótico (ver também vaso com girassóis de Van Gogh).
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Por outro lado se analisarmos o período compreendido entre 1888 – 1890,
quando inclusive realizou algumas de suas obras primas ficamos estarrecidos e
cientes da necessidade de auxílio médico – psicológico:
Seu último quadro foi o trigal e os corvos sob o céu tempestuoso (1890), na
sua última carta ao irmão Theo, agradece o dinheiro enviado por ele para o seu
sustento, comenta a dificuldade de reconhecimento no mercado das artes. Em
1958 um de seus quadros foi vendido por 132 mil libras esterlinas.
Gênios da Pintura
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interpretação psicológica do desenho da figura humana. A sua caracterização
como gênios, ou seja, como artistas que inauguraram estilos, formaram escolas
que se destacaram das convenções estéticas de sua época nos remete aos
conceitos de adaptação / inadaptação, parâmetros este dos mais utilizados
para entender a obra de Van Gogh só reconhecida décadas após a sua morte.
Para finalizar deixo aqui mais uma citação de C. G. Jung sabiamente nos fala
que o artista não tem poder de “ver” a sua obra, ele é um instrumento da
memória de sua época e só a educação do sentir nos permite a sua
compreensão, nas palavras dele:
...Não podemos esperar jamais que o poeta seja o intérprete de sua própria
obra. Configurá-la foi a sua tarefa suprema. A interpretação deve ser deixada
aos outros e ao futuro. Uma obra-prima é como um sonho que apesar de todas
as suas evidências nunca se interpreta a si mesmo e também nunca é unívoco.
Nenhum sonho diz: "Você deve" ou "esta é a verdade"; ele apenas propõe uma
imagem, tal como a natureza que faz a planta crescer. Compete a nós mesmos
tirar as conclusões. Quando alguém tem um pesadelo, isto significa que é
demasiadamente medroso, ou que não tem medo algum; assim quando
sonhamos com um mestre sábio, isso quer dizer que precisamos de um
mestre, ou, inversamente, que nossa atitude é excessivamente escolar.
Sutilmente, porém, as duas coisas se ligam, acontecendo o mesmo no tocante
à obra de arte; mas só o percebe quem se aproxima da obra de arte, deixando
que esta atue sobre ele, tal qual ela agiu sobre o poeta. Para compreender seu
sentido, é preciso permitir que ela nos modele, do mesmo modo que modelou o
poeta. Compreenderemos então qual foi a vivência originária desse último...
(p.93)
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Referências
Jung C.G. Picasso in: Jung C.G. O espírito na arte e na ciência. Petrópolis,
Vozes, 2007
Edvard Munch: auto retrato 1906 (com a garrafa); 1908 (em frente ao céu azul); A morte
de Marat I (1907) ; detalhe de O grito (1893) e auto retrato entre o pêndulo e o leito (1940)