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Trabalho de Fundamentos Filosóficos da Educação.

Tema: Educação Liberal e Marxista.

Professor Otávio Lobo


prof.otaviolobo@yahoo.com.br – http://professorotaviolobo.blogspot.com/

Elabore uma dissertação que compare - semelhanças e diferenças - entre cada


texto (O que é educação de Èmile Durkheim e Educação e trabalho de Karl
Marx, vide infra) no que tange às diferentes percepções do sentido da
educação.

(Talvez os textos que seguem poderão ajudar: CHAUÍ, Marilena. A Perspectiva


Marxista in Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, ano 2000. E CHAUÍ, Marilena. Estado de
Natureza, contrato social, Estado Civil na filosofia de Hobbes, Locke e
Rousseau in Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, ano 2000, pág. 220-223. Todos disponíveis em
meu blog e no xerox.

ÉMILE DURKHEIM (1858-1917) nasceu na Por isso, era necessário impor a elas maneiras
França, de uma família de rabinos. É mais adequadas de ver, sentir e agir, às quais dos não
conhecido como sociólogo, mas também foi chegariam espontaneamente.
pedagogo e filósofo. Para Durkheim, a sociologia determinaria os
Durkheim foi o sucessor de Comte na Franca. fins da educação. A pedagogia e a educação não
Pai do realismo sociológico, explica o social pelo representavam mais do que um anexo ou um
social, como realidade autônoma. Tratou em es- apêndice da sociedade e da sociologia; portanto,
pecial dos problemas morais: o papel que desem- deveriam existir sem autonomia. O objetivo da
penham, como se formam e se desenvolvem. educação seria apenas suscitar e desenvolver na
Concluiu que a moral começa ao mesmo tempo criança certo número de estados físicos, intelec-
que o vinculação com o grupo. tuais e morais, exigidos peta sociedade política no
Ele via a educação como um esforço contínuo conjunto e pelo meio espacial a que ela particular-
para preparar as crianças para a vida em comum. mente se destina.

O QUE É A EDUCAÇÃO?

Retirado de DURKHEIM, Émile. Educação e sociologia. São Paulo. Melhoramentos, 1955.

“Para definir educação, será preciso, pois, considerar os sistemas educativos que
ora existem, ou tenham existido, compará-los, e aprender deles os caracteres comuns. O
conjunto desses caracteres constituirá a definição que procuramos.
Nas considerações do item anterior, já assinalamos dois desses caracteres. Para
que haja educação, faz-se mister que haja, em face de uma geração de adultos, uma
geração de indivíduos jovens, crianças e adolescentes; e que uma ação seja exercida pela
primeira, sobre a segunda. Seria necessário definir, agora, a natureza específica dessa
influência de uma sobre outra geração.
Não existe sociedade na qual o sistema de educação não apresente o duplo
aspecto: o de ser, ao mesmo tempo, uno e múltiplo.
Vejamos como ele é múltiplo. Em certo sentido, há tantas espécies de educação,
em determinada sociedade, quantos meios diversos nela existirem. É ela formada de castas?
A educação varia de uma casta a outra; a dos "patrícios" não era a dós plebeus; a dos
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brâmanes não era a dos sudras. Da mesma forma, na Idade Média, que diferença de cultura
entre o pajem, instruído em todos os segredos da cavalaria, e o vilão, que ia aprender na
escola da paróquia, quando aprendia, parcas noções de cálculo, canto e gramática! Ainda
hoje não vemos que a educação varia com as classes sociais e com as regiões? A da
cidade não é a do campo, a do burguês não é a do operário. Dir-se-á que esta organização
não é moralmente justificável, e que não se pode enxergar nela senão um defeito,
remanescente de outras épocas, e destinado a desaparecer. A resposta a essa objeção é
simples. Claro está que a educação das crianças não deveria depender do acaso, que as
fez nascer aqui ou acolá, destes pais e não daqueles. Mas, ainda que a consciência moral
de nosso tempo tivesse recebido, acerca desse ponto, a satisfação que ela espera, ainda
assim a educação não se tornaria mais uniforme e igualitária. E, dado mesmo que a vida de
cada criança não fosse, em grande parte, predeterminada pela hereditariedade, a
diversidade moral das profissões não deixaria de acarretar, como consequência, grande
diversidade pedagógica. Cada profissão constitui um meio sui generis, que reclama aptidões
particulares e conhecimentos especiais, meio que é regido por certas idéias, certos usos,
certas maneiras de ver as coisas; e, como a criança deve ser preparada em vista de certa
função, a que será chamada a preencher, a educação não pode ser a mesma, desde certa
idade, para todos os indivíduos. Eis por que vemos, em todos os países civilizados, a
tendência que ela manifesta para ser, cada vez mais, diversificada e especializada; e essa
especialização, dia a dia, se torna mais precoce. A heterogeneidade, que assim se produz,
não repousa, como aquela de que há pouco tratamos, sobre injustas desigualdades; todavia,
não é menor. Para encontrar um tipo de educação absolutamente homogêneo e igualitário,
seria preciso remontar até às sociedades pré-históricas, no seio das quais não existisse
nenhuma diferenciação. Devemos compreender, porém, que tal espécie de sociedade não
representa senão um momento imaginário na história da humanidade. (...)
A sociedade não poderia existir sem que houvesse em seus membros certa
homogeneidade: a educação perpetua e reforça essa homogeneidade, fixando de antemão
na alma da criança certas similitudes essenciais, reclamadas pela vida coletiva. Por outro
lado, sem uma tal ou qual diversificação, toda cooperação seria impossível: a educação
assegura a persistência desta diversidade necessária, diversificando-se ela mesma e
permitindo as especializações. Se a sociedade tiver chegado a um grau de desenvolvimento
em que as antigas divisões, em castas e em classes, não possam mais manter-se, ela
prescreverá uma educação mais igualitária, como básica. Se, ao mesmo tempo, o trabalho
se especializar, ela provocará nas crianças, sobre um primeiro fundo de idéias e de
sentimentos comuns, mais rica diversidade de aptidões profissionais. Se um grupo social
viver em estado permanente de guerra com sociedades vizinhas, ele se esforçará por formar
espíritos fortemente nacionalistas; se a concorrência internacional tomar forma mais pacífica,
o tipo que procurará realizar será mais geral e mais humano.
A educação não é, pois, para a sociedade, senão o meio pelo qual ela prepara, no
íntimo das crianças, as condições essenciais da própria existência. Mais adiante, veremos
como ao indivíduo, de modo direto, interessará submeter-se a essas exigências. Por ora,
chegamos à fórmula seguinte:
A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não
se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na
criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade
política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destine.”

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KARL HEINRICH MARX (1818-1883) foi As idéias de ROBERT OWEN (1771-1858),
filósofo e economista alemão, ideólogo do CHARLES FOURIER (l 772-1837), CLAUOE-
comunismo cientifico e organizador do HENRI DE SAINT-SIMQN (l760-1825), entre
movimento proletário internacional. Nasceu em outros socialistas utópicos, contribuíram para a
Treves, cidade situada hoje na Alemanha elaboração da proposto de educação defendida por
Ocidental, em 5 de maio de 1818. Era filho de um Marx. Para ele, a educação do futuro deveria
advogado judeu convertido ao protestantismo. nascer do sistema fabril, associando-se o trabalho
Cursou as Universidades de Bonn e Berlim, onde produtivo com a escolaridade e a ginástica. Essa
estudou Direito, dedicando-se, porém educação se constituiria no método para produzir
especialmente à história e à filosofia. Em Berlim seres humanos integralmente desenvolvidos.
ingressou no grupo chamado "hegelianos de Devemos mudar a educação para alterar a
esquerda", que interpretava as idéias de Hegel do sociedade, ou a transformação social é a primeira
ponto de vista revolucionário. condição para a transformação educativa? Marx
Não se limitando aos estudos teóricos, Marx afirmou que uma dificuldade peculiar liga-se a
desenvolveu, durante toda a sua vida, intensa esta questão. De um lado, seria necessário mudar
atividade política, elaborando a doutrina do socia- as condições sociais para se criar um novo sistema
lismo. de ensino; de outro, um novo sistema de ensino
A contribuição do marxismo para a educação transformaria as condições sociais.
tem de ser considerada em dois níveis: o do Para Marx, a transformação educativa deveria
esclarecimento e da compreensão da totalidade ocorrer paralelamente à revolução social. Para o
social, de que a educação é parte, incluindo as desenvolvimento total do homem e a mudança das
relações de determinação e influência que ela relações sociais, a educação deveria acompanhar e
recebe da estrutura econômica, e o específico dos acelerar esse movimento, mas não encarregar-se
discussões de temas e problemas educacionais. exclusivamente de desencadeá-lo, nem de fazê-lo
Nenhum pensador influenciou tão profundamente triunfar.
as ciências sociais contemporâneas como Marx.

ESCOLA E TRABALHO

Retirado de MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Crítica da educação e do ensino. Lisboa, Moraes,
1978.

“Consideramos a tendência da indústria moderna para fazer cooperar as crianças e


os adolescentes de ambos os sexos na grande obra da produção social como um progresso
legítimo e salutar, apesar de a maneira como esta tendência se realiza sob o reinado do
capital ser perfeitamente abominável.
Numa sociedade racional, seja que criança for, a partir da idade de nove anos, deve
ser um trabalhador produtivo, tal como um adulto em posse de todos os seus meios não
pode desobrigar-se da lei geral da natureza, segundo a qual aquele que quer comer deve
igualmente trabalhar, não só com o seu cérebro, mas também com as suas mãos. Mas, de
momento, não temos de nos ocupar senão das classes operárias. Consideramos útil dividi-
las em três categorias que devem ser abordadas diferentemente.
A primeira compreende as crianças de 9 a 12 anos; a segunda, as de 13 a 15 anos;
a terceira, as de 16 e 17 anos. Propomos que o emprego da primeira categoria, em qualquer
trabalho, na fábrica ou ao domicílio, seja legalmente restringido a duas horas; o da segunda,
a quatro horas, e o da terceira a seis. Para a terceira categoria, deve haver uma interrupção
de uma hora, pelo menos, para a refeição e o recreio.
Seria desejável que as escolas elementares começassem a instrução das crianças
antes da idade de nove anos; mas, de momento, só nos preocupamos com os
contravenenos absolutamente indispensáveis para contrabalançar os efeitos de um sistema
social que degrada o operário ao ponto de o transformar num simples instrumento de

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acumulação de capital, e que fatalmente muda os pais em comerciantes de escravos dos
seus próprios filhos. O direito das crianças e dos adultos deve ser defendido, dado que não
o podem fazer eles mesmos. É por isso que é dever da sociedade agir em seu nome.
Se a burguesia e a aristocracia desprezam os seus deveres para com os seus
descendentes, é lá com eles. A criança que goza dos privilégios destas classes está
condenada a sofrer com os seus próprios preconceitos.
O caso da classe operária é completamente diferente. O trabalhador individual não
atua livremente. Em numerosíssimos casos, é demasiado ignorante para compreender o
interesse verdadeiro do seu filho ou as condições normais do desenvolvimento humano.
Contudo, a parte mais esclarecida da classe operária compreende plenamente que o futuro
de sua classe, e por conseguinte da espécie humana, depende da formação da .geração
operária que cresce. Compreende, antes de tudo, que as crianças e os adolescentes devem
ser preservados dos efeitos destruidores do sistema atual. Isso só pode realizar-se pela
transformação da razão social em força social e, nas circunstâncias presentes, só podemos
fazê-lo por meio das leis gerais impostas pelo poder de Estado.Ao impor tais leis, as classes
operárias não fortificarão o poder governamental. Pelo contrário, transformariam o poder
dirigido contra elas em seu agente. O proletariado fará então. por uma medida geral, o que
tentaria em vão realizar por uma multitude de esforços individuais.
Partindo daqui, dizemos que a sociedade não pode permitir nem aos pais nem aos
patrões empregar no trabalho as suas crianças e os seus adolescentes, a menos que
combinassem este trabalho produtivo com a educação.
Por educação, entendemos três coisas:
1. Educação intelectual;
2. Educação corporal, tal como é produzida pelos exercícios de ginástica e
militares;
3. Educação tecnológica, abrangendo os princípios gerais e científicos de
todos os processos de produção, e ao mesmo tempo iniciando as crianças e os
adolescentes na manipulação dos instrumentos elementares de todos os ramos de
indústria.
À divisão das crianças e dos adolescentes em três categorias, de 9 a 18 anos, deve
corresponder um curso graduado e progressivo para a sua educação intelectual, corporal e
politécnica. Os custos destas escolas politécnicas devem ser em parte cobertos pela venda
das suas próprias produções.
Esta combinação do trabalho produtivo, pago com a educação intelectual, os
exercícios corporais e a formação politécnica, elevará a classe operária muito acima do nível
das classes burguesa e aristocrática.
É óbvio que o emprego de qualquer criança ou adolescente dos 9 aos 18 anos, em
qualquer trabalho noturno ou em qualquer indústria cujos efeitos são prejudiciais à
saúde, deve ser severamente proibido pela lei.”

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