Professional Documents
Culture Documents
“informacional”, como prefere Castells, está ligada à O foco sobre a tecnologia pode alimentar a visão ingênua
expansão e reestruturação do capitalismo desde a década de determinismo tecnológico segundo o qual as
de 80 do século que termina. As novas tecnologias e a transformações em direção à sociedade da informação
ênfase na flexibilidade – idéia central das transformações resultam da tecnologia, seguem uma lógica técnica e,
organizacionais – têm permitido realizar com rapidez e portanto, neutra e estão fora da interferência de fatores
eficiência os processos de desregulamentação, privatização sociais e políticos. Nada mais equivocado: processos sociais
e ruptura do modelo de contrato social entre capital e e transformação tecnológica resultam de uma interação
trabalho característicos do capitalismo industrial. complexa em que fatores sociais pré-existentes, a
criatividade, o espírito empreendedor, as condições da
As transformações em direção à sociedade da informação, pesquisa científica afetam o avanço tecnológico e suas
em estágio avançado nos países industrializados, constituem aplicações sociais. Vale reproduzir um comentário de
uma tendência dominante mesmo para economias menos Castells:
industrializadas e definem um novo paradigma, o da
tecnologia da informação, que expressa a essência da É provável que o fato da constituição desse paradigma ter
presente transformação tecnológica em suas relações com ocorrido nos EUA e, em certa medida, na Califórnia e nos
a economia e a sociedade. Esse novo paradigma tem, anos 70, tenha tido grandes conseqüências para as formas
segundo Castells (2000) as seguintes características e a evolução das novas tecnologias da informação. Por
fundamentais: exemplo, apesar do papel decisivo do financiamento militar
e dos mercados nos primeiros estágios da indústria
• A informação é sua matéria-prima: as tecnologias eletrônica, da década de 40 à de 60, o grande progresso
se desenvolvem para permitir o homem atuar sobre a tecnológico que se deu no início dos anos 70 pode, de
informação propriamente dita, ao contrário do passado certa forma, ser relacionado à cultura da liberdade,
quando o objetivo dominante era utilizar informação inovação individual e iniciativa empreendedora oriunda da
para agir sobre as tecnologias, criando implementos cultura dos campi norte-americanos da década de 60... Meio
novos ou adaptando-os a novos usos. inconscientemente, a revolução da tecnologia da informação
difundiu pela cultura mais significativa de nossas sociedades
• Os efeitos das novas tecnologias têm alta o espírito libertário dos movimentos dos anos 60. (Castells,
penetrabilidade porque a informação é parte 2000, pp.25)
integrante de toda atividade humana, individual ou
coletiva e, portanto todas essas atividades tendem a Além do indevido determinismo, incorre-se muitas vezes
serem afetadas diretamente pela nova tecnologia. também em despropositado evolucionismo na discussão
do novo paradigma tecnológico quando a “sociedade da
• Predomínio da lógica de redes. Esta lógica, informação” é vista como etapa de desenvolvimento. Como
característica de todo tipo de relação complexa, pode muito bem alerta Agudo Guevara (2000), melhor seria
ser, graças às novas tecnologias, materialmente referir-se a sociedades da informação, no plural, para
implementada em qualquer tipo de processo. identificar, numa dimensão local, aquelas nas quais as novas
tecnologias e outros processos sociais provocaram
• Flexibilidade : a tecnologia favorece processos mudanças paradigmáticas. A expressão “sociedade da
reversíveis, permite modificação por reorganização de informação”, no singular, seria melhor utilizada, numa
componentes e tem alta capacidade de reconfiguração. dimensão global (ou mundial), para identificar os setores
sociais, independente de sua ubicação local, que participam
• Crescente convergência de tecnologias, “como atores de processos produtivos, de comunicação,
principalmente a microeletrônica, telecomunicações, políticos e culturais que têm como instrumento fundamental
optoeletrônica, computadores, mas também e as TIC [tecnologias de informação e comunicação] e se
crescentemente, a biologia. O ponto central aqui é que produzem – ou tendem a produzir-se – em âmbito mundial”
trajetórias de desenvolvimento tecnológico em diversas (Agudo Guevara, 2000, pp.4).
áreas do saber tornam-se interligadas e transformam-
se as categorias segundo as quais pensamos todos os O determinismo e o evolucionismo distorcem a análise do
processos. complexo processo de mudança social e alimentam uma
atitude passiva, contemplativa, em relação a esse processo.
Tais posturas impedem ou ignoram que a sociedade,
especialmente por intermédio do Estado, tem
desempenhado, no decorrer da história, um papel muito quando a difusão da Internet nos países industrializados
ativo tanto para promover quanto para sufocar o deu suporte ao sonho de integração mundial dos povos
desenvolvimento tecnológico e suas aplicações sociais. Isso por meio de infovias globais. Embora o realismo de estudos
é particularmente claro no que se refere às novas e análises tenha, desde aquela época, contrabalançado o
tecnologias. O avanço tecnológico no novo paradigma foi entusiasmo ingênuo, há que reconhecer como em grande
em grande parte o resultado da ação do Estado e é o Estado parte justificadas as bases e evidências que fundamentam
que está à frente de iniciativas que visam ao especulações positivas sobre a sociedade da informação.
desenvolvimento da “sociedade da informação” nas nações
industrializadas e em muitas daquelas que ainda estão longe Utilizando as características do novo paradigma técnico-
de ter esgotado as potencialidades do paradigma industrial. econômico descrito na seção anterior, pode-se destacar
justificadas expectativas positivas sobre a sociedade da
Adotando a sugestão de Agudo Guevara, um olhar sobre informação. Em primeiro lugar, a substituição de insumos
a experiência concreta das sociedades de informação baratos de energia por informação como fator-chave do
permite revelar como a reestruturação do capitalismo e a novo paradigma representa, para a sociedade, uma saída
difusão das novas tecnologias da informação lideradas e/ inesperada para a questão estrutural da degradação do meio
ou mediatizadas pelo Estado estão interagindo com as ambiente.
forças sociais locais e gerando um processo de
transformação social. Em termos gerais, é consenso entre Se a penetrabilidade das novas tecnologias pode, por um
analistas que a realização do novo paradigma se dá em lado, elevar o temor com possíveis efeitos negativos – a
ritmo e atinge níveis díspares nas várias sociedades. Junto serem analisados na próxima seção – e até reforçar a
com o jargão da “sociedade da informação” já é lugar inevitabilidade das transformações que acarreta, por outro
comum a distinção entre países e grupos sociais “ricos” e lado fundamenta a concepção da sinergia capaz de conferir
”pobres” em informação. As desigualdades de renda e dinamismo ao processo de mudança desde que deflagrado,
desenvolvimento industrial entre os povos e grupos da reforça a idéia da impossibilidade de integração “parcial”
sociedade reproduzem-se no novo paradigma. Enquanto, ao novo paradigma e dá suporte às iniciativas que visam
no mundo industrializado, a informatização de processos preparar a sociedade como um todo para enfrentar e tomar
sociais ainda tem de incorporar alguns segmentos sociais e partido das tendências de transformações técnico-
minorias excluídas, na grande maioria dos países em econômicas.
desenvolvimento, entre eles os latino-americanos, vastos
setores da população, compreendendo os médios e Porque permite implementar materialmente a lógica de
pequenos produtores e comerciantes, docentes e estudantes redes, a tecnologia permite modelar resultados imprevisíveis
da área rural e setores populares urbanos, adultos, jovens da criatividade que emana da interação complexa, desafio
e crianças das classes populares no campo e na cidade, quase intransponível no padrão tecnológico anterior. Se
além daquelas populações marginalizadas como isso dá vazão aos sonhos mais delirantes no âmbito das
desempregados crônicos e os “sem-teto” engrossam a fatia ciências básicas, das aplicações tecnológicas avançadas e
dos que estão ainda longe de integrar-se no novo paradigma da estratégia, não deixa também de alimentar sonhos mais
(Agudo Guevara 2000). Este fato fundamental constitui prosaicos – e não menos significantes – como o de
um dos desafios éticos para a constituição das sociedades finalmente permitir a integração ensino/aprendizagem de
da informação, desafio que somente a ação social forma colaborativa, continuada, individualizada e
consciente poderá superar, já que certamente não será amplamente difundida.
resolvido pelo avanço tecnológico em si mesmo, nem por
uma hipotética evolução natural. A flexibilidade que caracteriza a base do novo paradigma
é, talvez, o elemento que mais fortemente fundamenta as
AS PROMESSAS DO NOVO PARADIGMA especulações positivas da sociedade da informação. É ela
que incorpora, na essência do paradigma, a idéia de
Por que é desejável promover a sociedade da informação? “aprendizagem”. A capacidade de reconfiguração do
sistema refere-se a maior disponibilidade para a
Passadas as primeiras reações de temor diante dos efeitos incorporação da mudança. A noção de “aprendizagem”
da automação dos setores produtivos, os avanços da passa a ser empregada em vários níveis, sendo o
informática e da telemática provocaram uma fase de organizacional sua aplicação de maior significado na
fascinação quase infantil – felizmente em grande parte já reestruturação capitalista no novo paradigma. Obviamente,
superada – particularmente nas três últimas décadas, a flexibilidade também dá fundamento às expectativas de
contínua adaptação de trabalhadores e consumidores, sociais serão a força por trás de mudanças sociais. Em seu
produtores e usuários, o que coloca o contínuo estágio avançado, será uma sociedade de criação de
aperfeiçoamento intelectual e técnico como requisito da conhecimento. O globalismo, a harmonia entre homem e
sociedade da informação. natureza, a auto-disciplina e a contribuição social serão os
princípios orientadores dessa sociedade (Masuda 1985: 620-
A convergência tecnológica reforça os efeitos da sinergia 625).
decorrente da penetrabilidade das tecnologias na sociedade
da informação. Daí é fácil compreender a fascinação (e o Embora o desenvolvimento nas sociedades da informação
temor) com uma utópica sociedade informatizada em que tenha logo mostrado os exageros de uma tal utopia, traços
não apenas o desenvolvimento tecnológico parece não ter semelhantes são ainda encontrados em formulações que
limites nem desacelerar e, dessa forma, alterar procuram antecipar a direção das transformações sociais
continuamente todos os processos que afetam a vida em curso. É curiosa, por exemplo, a especulação de Tiffin
individual e coletiva. Se a corrida espacial frustrou a e Rajansingham sobre as perspectivas que as novas
imaginação popular de viagens interplanetárias ao alcance tecnologias oferecerão no campo da educação.
de todos no século XXI, os avanços da telemática e da
Os autores chamam a atenção para a sala de aula como
microeletrônica prometem colocar ao alcance da mão um “sistema de comunicação que torna possível a um
facilidades nunca antes imaginadas em termos de bem- grupo de pessoas encontrar-se para falar sobre algo que
estar individual, lazer e acesso rápido, ilimitado e eficiente,
desejam aprender, ver figuras e diagramas e ler textos que
ao rico acervo do conhecimento humano.
as ajudem a compreender. Numa sala de aula convencional
isto é tornado possível pelas paredes que dão proteção
As características do novo paradigma justificam, para alguns
contra o barulho e interferência externos de forma que,
analistas, a crença de que a sociedade da informação será
aqueles que estão dentro da sala, podem ouvir e ver uns
completamente diferente da sociedade industrial e que
aos outros e também, no quadro-negro, as palavras,
podemos aguardar para breve a “computopia”, bastando
diagramas e figuras sobre o assunto que está sendo
que compreendamos e direcionemos as forças sociais
aprendido. A questão é, pode a tecnologia da informação
subjacentes.
fornecer um sistema de comunicação alternativo que seja
Uma formulação dessa visão idealizada é a de Masuda pelo menos tão eficiente quanto a sala de aula
(1985), autor do Plano Japonês para uma Sociedade da convencional?”(Tiffin e Rajansingham, 1995, p.6) A
Informação publicado nos anos 70. Nessa utopia, a realidade de muitos países justifica uma resposta afirmativa:
tecnologia dos computadores terá como função vários pontos remotros podem ser conectados graças à
fundamental substituir e amplificar o trabalho ment al telemática em teleconferência nas “salas de aula virtuais”
dos homens; permitirá a produção em massa de seja sob a forma audiográfica mais simples ou em
conteúdo cognitivo, informação sistematizada, tecnologia videoconferências.
e conhecimento. A infra-estrutura pública de computadores A emergência da tecnologia da realidade virtual (RV), na
articulados em redes e bancos de dados substituirá os década de 90, levou a previsões quase ficcionais da
centros de produção de bens como símbolo societário. A revolução no processo de educação.
elevação da capacidade educacional e técnica e de criação
de novas oportunidades econômicas terão o papel A RV oferece-nos a possibilidade de uma turma encontrar-
desempenhado pela descoberta de novos continentes e se na Floresta Amazônica ou no topo do Monte Everest;
aquisição de colônias na expansão do mercado da sociedade poderá permitir-nos expandir nossa perspectiva de
industrial. A liderança da economia será ocupada pela observação até ver o sistema solar operando como um
indústria intensiva em conhecimento. A produção de jogo de bolas de vidro à nossa frente, ou encolhê-la de
informação pelo próprio usuário ganhará grande espaço forma a poder caminhar em meio à estrutura atômica
e importância na estrutura econômica. O mais relevante como se ela fosse uma escultura num parque; poderemos
sujeito de ação social será a comunidade de voluntários, entrar na realidade virtual ficcional no papel de um
não a empresa ou grupos econômicos, e a sociedade não personagem de uma peça, ou na realidade virtual não
será hierárquica, mas multicentrada, complementar e de ficcional para acompanhar um cirurgião na exploração
participação voluntária. A meta social será a concretização microscópica do corpo humano. Usaremos essa
do valor do tempo e não mais a criação de uma sociedade extraordinária tecnologia para fazer avançar o modo pelo
de alto bem-estar. A democracia participativa substituirá o qual aprendemos, ou a utilizaremos para criar versões
sistema parlamentar e a regra da maioria e os movimentos virtuais de salas de aula convencionais? (Tiffin e
contrabalançados pelo próprio aprofundamento das População estimada, milhões (1995) 1.228,7 4.538,7
transformações do paradigma o que inclui uma Produto Interno Bruto per capita (US$) 18.158 1,141
reestruturação sistêmica do emprego e a requalificação dos Taxa estimada de analfabetismo 1,3 29,6
trabalhadores. Em alguns outros casos, como a perda da adulto como % da população (1995)
privacidade, a sociedade tem-se mobilizado para promover Matrícula de terceiro grau, milhões (1995) 18,0 4,3
o que Leal identifica como o “comportamento normal Estimativa de linhas telefônicas/1000 424 45
habitantes (1995)
responsável” inclusive por meio de legislação adequada
Estimativa de assinantes de telefone 91,7 5,8
para proteger os direitos do cidadão na era digital. A perda celular/100 habitantes (1995)
do sentimento de controle sobre a própria vida e a perda Aparelhos de TV/100 habitantes (1996) 524 145
da identidade são temas que continuam preocupantes e Computadores pessoais/1000 habitantes (1996) 156,3 6,5
que estão ainda por merecer estratégias eficientes de Servidores de Internet, milhares (1996) 15.818 435
intervenção. Estimativa de usuários Internet/1000 17,9 0,5
habitantes, 1996
Uma questão ética do novo paradigma não discutida por
analistas como Leal, Brook e Boal diz respeito ao Fonte: Unesco World Communication and Information 1999-2000
Report, pagina 281
aprofundamento de desigualdades sociais, desta vez, sobre
o eixo do acesso à informação. O ritmo do avanço
paradigma dependerá de como serão resolvidas as tensões
tecnológico no alvorecer do novo paradigma tem sido, sob entre as culturas e modos de organização social existentes
qualquer ótica, extraordinário. O ritmo de expansão da e aquelas que começam a se tornar dominantes. As
Internet no mundo levou apenas um terço do tempo que
sociedades desses países terão de adaptar suas estruturas
precisou o rádio para atingir uma audiência de 50 milhões
institucionais para tratar questões importantes como a
de pessoas (Quéau, 1999). A redução dos preços dos
proteção da propriedade intelectual. Terão também de
computadores por volume de capacidade de processamento examinar a conveniência de estabelecer um equilíbrio entre
facilitou grandemente essa difusão, mas não permitiu ainda suas metas de exportação de produtos e serviços de maior
superar a relação entre nível de renda e acesso às novas
conteúdo tecnológico com a criação de oportunidades para
tecnologias. Os dados a seguir ilustram o contraste
ampliar a adoção local das novas tecnologias. Para Mansell
em relação ao acesso à informação pelas populações
e Wehn, “não se pode esperar de estratégias visando acelerar
de países industrializados e em desenvolvimento. a difusão do novo paradigma que erradiquem a pobreza,
em curto prazo, e há riscos de que as novas políticas e
Dispondo de uma população algumas vezes maior, os baixos
investimentos nas aplicações das tecnologias de informação
níveis de renda per capita nos países em desenvolvimento
introduzam novas forças de exclusão” (pp.258).
refletem-se em alta taxa de analfabetismo adulto, baixo
acesso à educação formal avançada e à tecnologia da
Na sociedade globalizada em que avança o novo
informação tanto convencional quanto moderna. paradigma, a emergência de novas forças de exclusão se
dá tanto em nível local quanto global e requer esforços em
O nível de agregação dos dados anteriores esconde diferenças
ambos os níveis no sentido de superá-las. Ações
importantes dentro do mundo em desenvolvimento, mas
fundamentais nessa direção são as que promovem o acesso
mesmo para o terço mais avançado dentre eles, aplica-se a
universal tanto à infra-estrutura quanto aos serviços de
advertência de Mansell e Wehn (1998, capítulo 13) para
informação a preços accessíveis. A conexão internacional
os quais o papel das tecnologias de informação na
dos países em desenvolvimento e até da Europa está
construção de uma “sociedade do conhecimento” inovadora
extremamente concentrada em poucos pontos de acesso.
poderá ser muito relevante e contribuir para o
Como não há a exigência de que os operadores desses
desenvolvimento sustentado, mas será acompanhado de
pontos de acesso partilhem os custos do circuito completo
muitos riscos. Nesses países, em especial os de nível médio
(até o ponto de acesso internacional e retorno ao ponto de
de renda – grupo em que se enquadram muitos dos países
origem), os provedores de serviços de Internet nos países
da América Latina e Caribe – as novas tecnologias e seu
em desenvolvimento devem, na maioria das vezes, pagar
uso requerem investimentos na elevação das capacidades
pelos custos totais das ligações nos dois sentidos, o que
tecnológicas locais e no desenvolvimento das instituições
encarece o serviço e restringe suas possibilidades de
políticas, culturais, econômicas e sociais. O avanço do novo
expansão (Quéau, 1999). Novas parcerias e políticas de
cooperação internacional deverão ser elaboradas para forma sistemática no sentido de apoiar as iniciativas dos
estimular o desenvolvimento e fortalecimento de redes Estados Membros na definição de políticas de integração
intra-regionais. A instalação de backbones regionais de alta das novas tecnologias aos seus objetivos de
capacidade, por exemplo, permitiria ligar cada país a uma desenvolvimento. Na Unesco, o Programa Geral de
rede global de múltipla conexão onde ninguém dominaria Informação (PGI) e o Programa Intergovernamental de
a conectividade. Informática (IIP), hoje fundidos no Programa Informação
para Todos, enfeixavam as ações desse organismo
O acesso universal ao conteúdo e a fontes de conhecimento internacional em duas áreas principais, conteúdo para a
aponta para a necessidade de resolver vários outros desafios. sociedade da informação e “infoestrutura” para esta
Um dos mais relevantes, como apontam Mansell e Wehn, sociedade em evolução, por meio da cooperação para
é o reconhecimento dos direitos de propriedade intelectual. treinamento, apoio ao estabelecimento de políticas de
Do ponto de vista dos países em desenvolvimento, uma informação e promoção de conexões em rede.
delicada negociação com os editores deveria permitir a
extensão da legislação relativa ao “uso justo” aos recursos No espírito da Declaração Universal dos Direitos do
disponíveis na Internet. A essa negociação dever-se-ia Homem que constitui a base dos direitos à informação na
acrescentar ações visando difundir de forma eficiente sociedade da informação, e levando em consideração os
princípios “info-éticos” em relação aos direitos de valores e a visão delineados anteriormente, o novo
propriedade intelectual, inclusive na Internet. Uma outra Programa Informação para Todos deverá prover uma
questão é elevar o volume de informação de qualidade e de plataforma para a discussão global sobre acesso à
domínio público disponível na Internet no(s) idioma(s) de informação, participação de todos na sociedade da
expressão da população de cada sociedade. Isso envolverá informação global e as conseqüências éticas, legais e
convencer o governo e centros produtores de conhecimento societárias do uso das tecnologias de informação e
financiados por recursos públicos a tornarem disponíveis comunicação. Deverá prover também a estrutura para
ao público as informações produzidas. colaboração internacional e parcerias nessas áreas e apoiar
o desenvolvimento de ferramentas comuns, métodos e
No campo educacional dos países em desenvolvimento, estratégias para a construção de uma sociedade de
decisões sobre investimentos para a incorporação da informação global e justa.
informática e da telemática, implicam também riscos e
desafios. Será essencial identificar o papel que essas novas
tecnologias podem desempenhar no processo de
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
desenvolvimento educacional e, isso posto, resolver como
utilizá-las de forma a facilitar uma efetiva aceleração do 1. AGUDO GUEVARA, Alvaro. Etica en la Sociedad de la Informacion:
reflexiones desde America Latina. In: SEMINARIO INFOETICA,
processo em direção a educação para todos, ao longo da 2000, Rio de Janeiro. [s. l. : s. n., 2000?].
vida, com qualidade e garantia de diversidade. As novas 2. BROOK, James, BOAL, Iain A. Resisting the virtual life: the culture and
tecnologias de informação e comunicação tornam-se, hoje, politics of information. San Francisco : City Lights, 1995.
parte de um vasto instrumental historicamente mobilizado 3. CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e
para a educação e aprendizagem. Cabe a cada sociedade cultura. In: A Sociedade em rede. São Paulo : Paz e Terra, 2000. v. 1.
decidir que composição do conjunto de tecnologias 4. LEAL, Fernando. Ethics is fragile: goodness is no. In: KARAMJIT, S.
educacionais mobilizar para atingir suas metas de Gill. (Ed.). Information Society: n e w m e d i a, ethics and
desenvolvimento. postmodernism. London : Springer, 1996.
5. MANSELL, Robin, WEHN, Uta. Knowledge societies: information
O fluxo de informação e da transformação dessa technologies for sustainable development. Oxford : Oxford
informação em conhecimento está no âmago do mandato University, 1998.
da Unesco de contribuir para a paz e segurança por meio 6. MASUDA, Yoneji. Computopia. In: FORESTER, Tom. (Ed.). Th e
da promoção da colaboração entre as nações. Os benefícios information technology revolution. Oxford : Basil Blackwell, 1985.
da participação na sociedade global da informação requer 7. QUÉAU, Philippe. Including the excluded: for the common good of
um consenso internacional dentro deste amplo mandato. all. In: TASKNET CONFERENCE, 1999, Nova Delhi, Índia. [s. l.
: s. n., 1999?].
O progresso da educação, ciência e cultura é
8. TIFFIN, John, RAJASINGHAM, Lalita. In: Search for the virtual class:
fundamentalmente o de compartilhar informação e de criar education in an Information Society. London : Routledge, 1995.
novos meios de aprendizagem e conhecimento.
9. UNESCO. (Paris). World communication and information 1999-2000 report.
Paris, 1999.
Em decorrência de seu mandato, a Unesco tem atuado de