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Antonio Carlos de Sousa Gomes Junior

Súmula Vinculante:

Busca por segurança jurídica e


esperança de uma Justiça mais célere

Belém/Pará
2010

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Antonio Carlos de Sousa Gomes Junior

Súmula Vinculante:
Busca por segurança jurídica e
esperança de uma Justiça mais célere

Belém/Pará
2010

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Diagramação da capa e interna
Antonio C. de S. Gomes Jr.

Foto da Capa
Rogério Nogueira

Foto do Autor
Danielle Vale

Revisão Ortográfica e normas


Danielle Vale /

Gomes Junior, Antonio Carlos de Sousa.


Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e
esperança de uma Justiça mais célere.Belém. Paka-Tatu.
2010.
90p.

ISBN

1 - Direito.

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DEDICATÓRIA
Dedico esta obra a meus filhos Antonio
Carlos e Ana Clara, motivos principais
desta busca por novos conhecimentos e por
um aprimoramento que me possibilitasse
escolher melhores caminhos dentro de
minha profissão.

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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Maria José, pela liberdade de
escolha que me concedeu ao longo de
minha criação, pelo suporte como mãe e
pelo tempo dedicado a meus filhos nos
meus momentos de ausência; ao meu pai
Antonio Gomes, pelo custeio de minha
graduação, a Danielle Vale pelo apoio
incondicional, irrestrito e pelo incentivo
constante; aos Mestres Alan Vale, Cláudio
Serra e José Carlos Gomes pelo apoio
técnico dispensado nos momentos iniciais
do projeto.

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LISTA DE SIGLAS, ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

Ação Direta de Inconstitucionalidade = ADI


Agravo de Instrumento = AgrInst
Arroba = @
Conselho Nacional de Justiça = CNJ
Constituição Federal = CF
Constituição Brasileira = CB
Código de Processo Civil = CPC
Lei da Súmula Vinculante = LSV
Projeto de Emenda Constitucional = PEC
Recurso Extraordinário = RE
Recurso Especial = REsp
Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal = RISTF
Súmula Vinculante = SV
Superior Tribunal de Justiça = STJ
Supremo Tribunal Federal = STF;

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO. .............................................................13
CAPÍTULO 1
O SISTEMA ANGLO-SAXÃO (COMMON LAW), O
ROMANO-GERMÂNICO (CIVIL LAW) E A ORIGEM DO
INSTITUTO.
Sistema anglo-saxão. ....................................................15
Sistema romano-germânico. ..........................................19
A EVOLUÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO. ....................23

CAPÍTULO 2
TRATAMENTO JURÍDICO DADO A SÚMULA
VINCULANTE
CONCEITO. ...................................................................29
A UTILIZAÇÃO DO INSTITUTO. INTERPRETAÇÃO DO
INSTITUTO À LUZ DA CONSTITUIÇÃO. ........................32

CAPÍTULO 3
ARGUMENTOS FAVORÁVEIS E CONTRÁRIOS À
SÚMULA VINCULANTE
ANÁLISE DOS ARGUMENTOS CONTRA E A FAVOR ..43
A APLICAÇÃO DO INSTITUTO. .....................................57

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CAPÍTULO 4
O PROCEDIMENTO DE RECLAMAÇÃO AO STF ....... 61

CONCLUSÃO. ..............................................................67

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................71

ANEXOS
ANEXO 1 – MODELO DE RECLAMAÇÃO. .................. 77
ANEXO 2 – EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45, DE 30 DE
DEZEMBRO DE 2004 (PARTE REFERENTE A SÚMULA
VINCULANTE). ..............................................................81
ANEXO 3 – LEI 11.417/2006. ........................................85

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

INTRODUÇÃO

A Emenda Constitucional 45, de 30 de dezembro


de 2004, chamada de mini reforma do Judiciário, foi feita
com a idéia de criar um conjunto de medidas e mecanismos
que pudessem minimizar alguns dos problemas do Poder
Julgador.
Dentre estes mecanismos temos a Súmula de
Efeito Vinculante, ou simplesmente Súmula Vinculante,
introduzida pela criação do artigo 103-A, da Constituição
de 1988.
Quase dois anos depois de criado, tal dispositivo
foi regulamentado, por intermédio da Lei 11.417, de 19 de
dezembro de 2006.
Na data de publicação deste trabalho, tal instituto
jurídico já era fato e vinte e quatro Súmulas Vinculantes já
haviam sido aprovadas, mantendo-se em vigor.
Pretende-se com este texto, conhecer melhor a
aplicação do instituto em tela, esclarecer os conceitos
básicos para descobrir como utilizá-lo, ao mesmo tempo
em que se tenta averiguar a efetividade e potencialidade
das Súmulas Vinculantes, logo em seguida a sua introdução
em um ordenamento jurídico baseado no Direito Romano.
Para alcançar tais objetivos, o trabalho em questão
fora dividido em quatro partes: na primeira parte, faz-se uma

13

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

comparação entre os sistemas jurídicos ocidentais


originados da tradição do common law e do direito romano-
germânico. Nesse momento pretende-se traçar um breve
apanhado que possibilite entender a origem do precedente.
O que se quer no capítulo seguinte é realizar uma
análise doutrinária para que se possa conhecer o
funcionamento do instituto.
Na terceira parte opõem-se os argumentos
contrários e favoráveis, seguidos de comentários aos
debates de aprovação e das súmulas em vigor, os quais
nos permitem entender com mais clareza os requisitos desta
nova ferramenta, fixando melhor os conceitos que compõe
o instituto.
A última parte, mais direcionada a questão
processual, tenta esclarecer aos operadores do Direito como
aplicar o Precedente Vinculante.
Não há nenhuma pretensão de esgotar o tema, pelo
contrário, sabe-se que o instituto é novo e muito ainda será
argumentado a respeito, na medida em que forem publicadas
novas súmulas.
Este trabalho apenas inicía o assunto, tentando
introduzi-lo de forma democrática e simples no meio
acadêmico.

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

O SISTEMA ANGLO-SAXÃO (COMMON LAW), O


ROMANO-GERMÂNICO (CIVIL LAW) E A ORIGEM DO
INSTITUTO

O SISTEMA ANGLO-SAXÃO

O sistema da Common Law iniciou pela adoção


dos costumes antigos das15 tribos e das nações como fonte
do Direito Inglês 1, criando instintivamente o uso de
precedentes judiciais.
A Lei Comum recebeu este nome, pois fora
difundida no País de Gales e na Inglaterra após a conquista
dos normandos em 1066, quando ainda não havia um
sistema legal único.
Observa-se no então direito consuetudinário um
conjunto de princípios e costumes aceitos tácita ou
expressamente2.
Tais estandartes do Direito resultavam da
Jurisprudência extraída pelos juízes quando julgavam os
casos comuns3.

1
SIFUENTES, Mônica. Súmula Vinculante. Um estudo sobre o poder
normativo dos Tribunais. 2005. p. 9.
2
Ib idem. p. 10.
3
Ib idem.

15

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

Segundo Mônica Sifuentes, REDMOND define o


século XV, como o período em que o Direito Consuetudinário
passou a ser absorvido pelo Direito Jurisprudencial4.
Mais tarde com as treze colônias Inglesas na
América do Norte, priorizou-se o poder dos juízes a ponto
de afastar costumes e leis locais contrárias ao common law5.
Mais explicitamente, com o pacto confederativo
em 1777, as treze colônias se unem para evitar a retomada
Inglesa sem, no entanto, abrir mão de sua independência6.
Dez anos depois, em 1787, firma-se a convenção
da Filadélfia, onde doze, dos treze estados7, federaram-se,
abdicando de sua soberania. Surgem os Estados Unidos
da América do Norte (SORMANI, 2006. P. 40).
Passam a existir dois níveis de governo e
consequentemente dois níveis de esfera judicial: Federal e
Estadual. São criadas a Suprema Corte, as Cortes inferiores
e as Cortes Estaduais8.
4
REDMOND, P. W. D. (LLM). General principles of English law. Fifth edition.
Estover. Plymonth: Mac Donalds an Evans. 1979.
5
SORMANI, Alexandre e SANTANDER, Nelson Luís. Súmula Vinculante.
Ed. Juruá. Curitiba. 2006. p. 39.
6
Ib idem. p. 40.
7
A exceção de Rhode Island.
8
Artigo III, seção 1, da Constituição norte-americana. ARTICLE III. Sect. 1.
The judicial power of the United States shall be vested in one Supreme
Court, and in such Inferior Courts as the Congress may from time to time
ordain and establish. The Judges, both of the supreme and Inferior Courts,
shall hold their offices during good behaviour; and shall, at stated times,
receive for their services a compensation, which shall not be diminished
during their continuance in office. Extraído da página http://memory.loc.gov/
cgi-bin/query/r?ammem/bdsdcc:@field(DOCID+@lit(bdsdccc0801)),
acessada em 25.03.2008.

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

Com essa estrutura descentralizada no judiciário


norte americano ocorre uma proliferação de decisões
díspares, fomentada também pelo afastamento das Leis
contrárias à constituição. Tal situação se constata com o
famoso caso Marbury x Madison (1803), onde ocorre pela
primeira vez, no sistema da common law norte-americano,
a submissão da Lei ao controle do Judiciário9. É o judicial
review.
Na manifestação de seu voto nesse célebre caso,
o Juiz John Marshal diz o seguinte:
É uma proposição por demais clara para
ser contestada, que a Constituição veta
qualquer deliberação legislativa
incompatível com ela; ou que a legislatura
possa alterar a Constituição por meios
ordinários.
Não há meio termo entre estas alternativas.
A Constituição ou é uma lei superior e
predominante, e lei imutável pelas formas
ordinárias; ou está no mesmo nível
conjuntamente com as resoluções
ordinárias da legislatura e, como as outras
resoluções, é mutável quando a legislatura
houver por bem modificá-la.
Se é verdadeira a primeira parte do dilema,
então não é lei a resolução incompatível
com a Constituição; se a segunda parte é

9
SORMANI, Alexandre e SANTANDER, Nelson Luís. Súmula Vinculante.
2006. p. 40.

17

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

verdadeira, então as constituições escritas


são absurdas tentativas da parte do povo
para delimitar um poder por sua natureza
ilimitável.
Certamente, todos quantos fabricaram
constituições escritas consideraram tais
instrumentos como a lei fundamental e
predominante da nação e,
conseguintemente, a teoria de todo o
governo, organizado por uma constituição
escrita, deve ser que é nula toda a resolução
legislativa com ela incompatível10.

Surge o case law, ou seja, a Lei criada pelas


Cortes.
As decisões sobre questões já vistas em casos
anteriores passaram a ser parte do corpo de leis e podem
ser consultadas, na solução de casos semelhantes
posteriores.
O efeito vinculante destes casos passa a chamar-
se stare decisis11.
Com isso surge a figura do juiz profissional,
segundo SIFUENTES (2005, p. 55), a escolha deste
julgador é quase sempre política, selecionado entre

10
COELHO, Inocêncio Mártires. I - Compreensão e pré-compreensão.
Memórias jurídicas e pós-compreensão profissional. Material da 1ª aula
da Disciplina Jurisprudência Constitucional, ministrada no Curso de
Especialização Telepresencial e Virtual em Direito Constitucional – UNISUL
- IDP – REDE LFG.
11
Confiar nas decisões anteriores.

18

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

advogados mais antigos, com grandes qualidades


profissionais e posição social econômica destacada para
garantir sua independência.
É o juiz que herdou a força construtiva da
jurisprudência constitucional, pelo common law, e construiu
a força de declarar a inconstitucionalidade das leis pelo
judicial review (SIFUENTES, 2005. p. 54),

O SISTEMA ROMANO-GERMÂNICO

Nas origens desse sistema 12 , mais


especificamente na fase arcaica ou primitiva, o que se via
era aplicação das decisões dos pontífices. Esses sacerdotes
patrícios não eram questionados nem deviam explicações
aos plebeus13.
Com o passar do tempo, o conhecimento
exclusivo dos patrícios sobre os costumes, fez surgir
conflitos entre as classes e houve necessidade de se
escrever o direito consuetudinário, por intermédio da Lei
da XII Tábuas14.

12
Século II a. c.
13
SORMANI, Alexandre e SANTANDER, Nelson Luís. Súmula Vinculante.
2006. p. 18.
14
Ib idem. p. 18.

19

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

Gravadas em placas de bronze, as normas foram


fixadas no Fórum, dando conhecimento a todos do texto da
Lei e fazendo com que o direito alcançasse o período
escrito15.
Até II a.C. o estado inicia sua ingerência ante os
particulares, com a litiscontetatio, onde estes se submetem
a decisões de pretores aceitos como árbitros em suas
demandas16.
Entre II a.C. e II d.C. estes árbitros passam a ser
obrigatórios e impostos pelo estado. São criadas as
primeiras regras abstratas17.
Na fase seguinte o estado assume a auto tutela,
assumindo de vez o monopólio da Jurisdição18.
Nesse momento, são criados em Roma os
primeiros órgãos e se lançam as bases da Ciência do
Direito.
Pela tradição do sistema romanista apenas a Lei
poderia ser o Instituto com poder de inovar a ordem jurídica19.
Aos poucos a Jurisprudência ganha força e as
decisões dos jurisconsultos são usadas para dirimir os casos
concretos; é o período conhecido como jus civile20.

15
Ib idem.
16
Ib idem.
17
Ib idem.
18
Ib idem. p. 19.
19
SORMANI, Alexandre e SANTANDER, Nelson Luís. Súmula Vinculante.
2006. p. 16.
20
Privativo dos romanos.

20

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

Em contato com outras civilizações ocorre a


conversão desse direito próprio dos romanos, no direito das
gentes21.
No ano de 476 ocorrem as invasões bárbaras e
todo direito romano é esquecido. Adentra-se num período
onde se voltará a adotar o direito consuetudinário, até que
surgem no fim do século XI, início do XII, os glosadores.
Há então uma mescla. Os glosadores fazendo um
estudo entre os costumes dos bárbaros germânicos e os
princípios do Cristianismo22 fazem uma nova leitura do direito
romano. Reinicia a Ciência Jurídica.
O sistema romano ganhou fama e força pela
qualidade de sua produção legislativa23.
Depois do trabalho dos pós-glosadores que
adoçam os textos com seus conhecimentos humano-
filosóficos, floresce a burguesia. Há um clima de
descontentamento com a desorganização e as incertezas
do sistema judiciário da época24.
O que se conhece hoje como democracia-liberal
nasce a quatro mãos. Segundo Vasco Pereira da Silva, a
democracia do estado teve dois pais: HOBBES e
ROUSSEAU, que fundamentam a legitimidade do pacto
social; e duas mães: LOCKE e MONTESQUIEU, que

21
Jus gentium.
22
Direito Canônico.
23
Ib idem.
24
Ib idem. p. 21.

21

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

teorizaram o elemento liberal, criando a idéia de que o estado


deveria se auto limitar para permitir as liberdades
individuais25. A Revolução Francesa (1789) firma esta idéia.
As teorias racionalistas da época fomentam o
surgimento dos primeiros Códigos26.
Nasce juntamente com o Código Napoleônico a
escola de exegese francesa, berço de muitos conceitos
jurídicos utilizados até hoje.
Segundo o entendimento desta escola, o
Legislador ao elaborar a lei é um veículo que transporta a
história e os costumes de um povo.
Uma vez aprovado, o texto legal teria sua intenção
desvendada pelo intérprete. Caberia a este profissional
extrair qual o real objetivo do legislador diante da mutação
social27.

25
SILVA, Vasco Pereira. Para o contencioso administrativo dos
particulares. p. 14-15. apud SIFUENTES, Mônica. Súmula Vinculante.
Um estudo sobre o poder normativo dos Tribunais. 2005. p. 16.
26
O Prussiano, 1792; o Código Civil Austríaco, 1811 e o Código Civil
Francês, 1804. Este último também conhecido como Código Napoleônico
é um marco. Bem redigido, estruturado, claro não deixa margens para
grandes juízos de valores, estabelecendo uma menor margem de erro
e trazendo grande segurança jurídica.
27
SORMANI, Alexandre e SANTANDER, Nelson Luís. Súmula
Vinculante. 2006. p. 28.

22

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

A EVOLUÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO

Com a mudança da família real portuguesa para


o Brasil, em 1808, mais especificamente, em 10 de maio,
criou-se a Casa da Suplicação, semelhante à lisbonense,
mas tendo ares reais de Superior Tribunal de Justiça. Sua
sede fora estabelecida no Rio de Janeiro.
Com tal criação, ocorreu uma divisão: parte dos
distritos28 tinha como foro a Casa da Suplicação de Lisboa
e a outra parte a brasileira.
Após a independência29 buscou-se solucionar os
problemas da unidade nacional, por intermédio da
uniformização da jurisprudência30.
A situação só iria ser decidida em 23 de outubro
de 1875, quando fora aprovado o projeto de Lopes Gama.
Segundo aquele diploma legal, o STF estaria
autorizado a tomar assentos.
Essa prerrogativa fora ampliada em 10 de março
de 1876, com o advento do Decreto 6.142.
Em 1891, o Supremo declarava inconstitucionais
os assentos das antigas Casas das Suplicações.
De 1925 a 1926, o STF realizou uma revisão
uniformizadora, por intermédio da EC de 3 de setembro de

28
Pará e Maranhão.
29
Após a independência e a Constituição de 1824.
30
SIFUENTES. 2005. p. 231.

23

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

1926. Naquele ano, criou-se ainda o recurso de revista, o


prejulgado e o recurso extraordinário.
Em nosso país, a súmula nasceu em 28 de agosto
de 1963.
Por intermédio de uma emenda, o Regimento
Interno do STF (RISTF), instituiu a Súmula da Jurisprudência
Predominante do Supremo Tribunal Federal, com a
finalidade de organizar as teses jurídicas assentes naquela
Corte.
A partir de 13 de dezembro de 1963, o STF
passou a editar súmulas de jurisprudência, enunciando e
sintetizando as decisões em casos semelhantes, que
poderiam ser canceladas e revistas pelo próprio plenário31.
Criado em 1969, por intermédio do Decreto-Lei
424 e ainda em vigor, o parágrafo único, do artigo 867, da
Consolidação das Leis Trabalhistas trata das Sentenças
Normativas da Justiça do Trabalho, as quais homologam os
dissídios coletivos32.
A esse instituto, a Doutrina atribui natureza mista,
de ato jurisdicional e legislativo simultaneamente.
O CPC de 1973 prioriza a orientação sumular do
STF, em detrimento do recurso de revista e do prejulgado33.
31
SIQUEIRA Jr., Paulo Hamilton. Lições de Introdução ao Direito. 2002. p.
195.
32
LOPES, Mônica Sette. A Convenção coletiva e sua força vinculante, p.
103-105 e MAGANO, Otávio Bueno. Manual de Direito do trabalho, v. 3, p.
197 apud SIFUENTES, Mônica. Súmula Vinculante. Um estudo sobre o
poder normativo dos Tribunais. 2005. p. 250.
33
SIFUENTES. 2005. p. 235.

24

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

A súmula do efeito vinculante que será abordada


neste estudo pode ser considerada, pela semelhança na
aplicação, como descendente dos prejulgados do Tribunal
Superior do Trabalho, cuja observância era obrigatória pelos
magistrados dos Tribunais Regionais do Trabalho, Juntas
de Conciliação e Julgamento e juízes investidos na função.
Este instituto fora revogado pela Lei 7.033/82, que
transformou os prejulgados nas súmulas e enunciados do
Tribunal Superior do Trabalho34.
A Legislação Eleitoral também teve seus
prejulgados, que desde o nascimento possuíam efeito
vinculante, sendo este não declarado apenas nos casos
onde dois terços dos membros do Tribunal se opunham a
aprovação de um novo precedente.
Em 1977, com a EC n.º 7, o Procurador Geral da
República ganhou o direito de representar ao STF para
requerer uma interpretação até então teórica de leis e atos
normativos de instâncias federais e estaduais. Era uma forma
de prevenir a demanda iminente.
Combinando a EC 7/77, com a emenda 7/78 feita
ao RISTF, as decisões do STF, proferidas em casos não
contenciosos (sem partes), instaurados pelo Procurador
Geral da República, passaram a ter efeito vinculante. Em
1988 a CF extinguiu este instituto35.

34
Ib idem. p. 236.
35
Ib idem p. 237.

25

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

Em 28 de maio de 1990, com a criação da Lei


que organiza o processo no Superior Tribunal de Justiça e
no Supremo Tribunal Federal, fora introduzido em nosso
sistema legal a súmula impeditiva de recurso, por intermédio
do artigo 38, da Lei 8.038/199036, a qual permitia ao relator
rejeitar o recurso que fosse manifestamente contrário, em
questão de direito, a uma Súmula (ordinária) do STJ ou do
STF.
Tal instituto passaria a constar no próprio Código
de Processo Civil, a partir de 1998, com o advento da Lei
9.756/1998, que alterou o caput do artigo 557 e introduziu
os §§ 1º-A, 1º e 2º.
“Art. 557. O relator negará seguimento a
recurso manifestamente inadmissível,
improcedente, prejudicado ou em confronto
com súmula ou com jurisprudência
dominante do respectivo tribunal, do
Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal
Superior.” (NR)
“§ 1o-A Se a decisão recorrida estiver em
manifesto confronto com súmula ou com
jurisprudência dominante do Supremo
Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior,
o relator poderá dar provimento ao recurso.”
“§ 1o Da decisão caberá agravo, no prazo
de cinco dias, ao órgão competente para o
julgamento do recurso, e, se não houver
retratação, o relator apresentará o processo
36
TAVARES, André Ramos. Nova Lei da súmula vinculante: estudos e
comentários à Lei 11.417 de 19.12.2006. 2007. p. 27.

26

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

em mesa, proferindo voto; provido o agravo,


o recurso terá seguimento.” (NR)
Ҥ 2o Quando manifestamente
inadmissível ou infundado o agravo, o
tribunal condenará o agravante a pagar ao
agravado multa entre um e dez por cento
do valor corrigido da causa, ficando a
interposição de qualquer outro recurso
condicionada ao depósito do respectivo
valor.”
Conforme se verifica pela leitura atenta do § 1º-
A, o instituto ainda permitiria ao próprio relator analisar a
questão e prover sumariamente o recurso, quando a decisão
recorrida fosse contra tais precedentes37.
Em 2001, com a criação dos Juizados Especiais
Federais, foram criados também dois mecanismos de
uniformização da Jurisprudência produzida nas Turmas
Recursais destas Cortes: As Turmas Regionais de
Uniformização Jurisprudência e a Turma Nacional de
Uniformização Jurisprudência38.
No início discutia-se se as decisões da Turma
Nacional teriam efeito vinculante. Situação que acabou se
confirmando por intermédio da Resolução do Conselho
Nacional de Justiça, n.º 330/2003, a qual orientou na direção
do caráter vinculante ao menos no âmbito interno dos
julgados da Turma Nacional39.

37
Ib idem p. 27
38
SIFUENTES. 2005. p. 248.
39
Ib idem p. 249.

27

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

Em 2004, a Emenda Constitucional 45 introduz


no ordenamento jurídico brasileiro a mini-reforma do
Judiciário, criando a Repercussão Geral e Súmula
Vinculante, objeto desse estudo.
Somente em 2006, com o advento da Lei 11.417,
todos os dispositivos do instituto passaram a ter eficácia.
Também em 2006, com a Lei 11.276, a súmula
impeditiva de recursos é ratificada por intermédio da
inclusão do § 1º, no artigo 518, do Código de Processo
Civil.

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

TRATAMENTO JURÍDICO DADO À SÚMULA


VINCULANTE

CONCEITO

André Franco Montoro esclarece que


jurisprudência é o conjunto uniforme e constante das
decisões judiciais sobre casos semelhantes40.
Maria Helena Diniz segue na mesma linha,
ensinando que Jurisprudência é o conjunto de decisões
uniformes e constantes dos tribunais, resultantes da aplicação
de normas em casos semelhantes, constituindo uma norma
geral aplicável a todas as hipóteses similares ou idênticas41.
Marcus Cláudio Acquaviva faz conhecer que a
Jurisprudência é o conjunto de decisões dos magistrados,
as quais revelam perfeita consonância entre si42.
As súmulas, com sua origem na palavra do latim
summula, que significa sumário, resumo, pequena suma,
traduzem-se em breves enunciados, que mostram com
clareza, a jurisprudência pacífica dos tribunais43.

40
MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do direito. 23ª edição. São
Paulo: Revista dos Tribunais. 1995. p. 168.
41
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 15ª
edição. São Paulo: Saraiva. 2003.
42
ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Notas introdutórias ao estudo do direito. 2ª
edição. São Paulo: Ícone. 1990. p. 353.
43
SIQUEIRA Jr., Paulo Hamilton. Lições de Introdução ao Direito. 4ª edição.
São Paulo: Editora Juarez de Oliveira. 2002. p. 195.

29

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

O precedente sumular de efeito vinculante é o


resumo concebido por intermédio de aprovação de texto
que sintetiza as decisões reiteradas e uniformes da corte
constitucional brasileira, em questões específicas que
versem sobre direitos constitucionais, com intuito de sujeitar
os tribunais anteriores e a esfera administrava pública em
geral, a um entendimento único e pacífico.
Trata-se de um novo tipo de controle de
constitucionalidade abstrato, oponível a todos os interpretes-
aplicadores da Lei, mas que todavia é oriundo do Judiciário44.
Súmulas Vinculantes são a jurisprudência
constitucional de caráter não apenas didático, mas
obrigatório, aos demais juízes legisladores 45 e a
administração pública em todo o país.
Os preceitos vinculantes são os resumos de
precedentes reiterados, aprovados pelo Supremo Tribunal
Federal, subsumidos da Lei Constitucional, com vistas a
evitar a proliferação de casos concretos semelhantes aos já
julgados.
Este instituto tem por finalidade uniformizar as
decisões judiciais em ações semelhantes, estabelecendo

44
SIFUENTES, Mônica. Súmula Vinculante. Um estudo sobre o poder
normativo dos Tribunais. 2005. p. 280.
45
CAPPELLETTI, Mauro. Juízes legisladores?. Reimpressão da 1ª edição.
1993. Porto Alegre. 1999. Nesta obra o doutrinador faz utiliza a expressão
Juízes legisladores para demonstrar que a tarefa de buscar uma solução
para o caso concreto a partir da Lei também é um tipo de produção criativa
que gera uma fonte do Direito tão importante quanto a Lei.

30

projeto-livro-sem-sumulas.pmd 30 5/11/2010, 21:17


esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

de forma nítida à sociedade uma pré-conduta determinada


por intermédio de um julgamento já conhecido, capaz com
isso, de desobstruir o serviço do Judiciário nas suas várias
instâncias e encurtando, por intimidação, tanto a proposição
de ações como as fases recursais dos processos.

31

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

A UTILIZAÇÃO DO INSTITUTO. INTERPRETAÇÃO DO


INSTITUTO À LUZ DA CONSTITUIÇÃO E DA LEI 11.417/
2006.

Apesar de pouco nos agradar a ideia de apenas


recitar a Lei nesta obra, em alguns momentos será
necessário a transposição, na íntegra, do texto legal com
vistas a facilitar a interpretação dos institutos.
Voltemos nossa atenção para o artigo 103-A :

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal


poderá, de ofício ou por provocação,
mediante decisão de dois terços dos seus
membros, após reiteradas decisões sobre
matéria constitucional, aprovar súmula que,
a partir de sua publicação na imprensa
oficial, terá efeito vinculante em relação aos
demais órgãos do Poder Judiciário e à
administração pública direta e indireta, nas
esferas federal, estadual e municipal, bem
como proceder à sua revisão ou
cancelamento, na forma estabelecida em
lei.
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade,
a interpretação e a eficácia de normas
determinadas, acerca das quais haja
controvérsia atual entre órgãos judiciários
ou entre esses e a administração pública
que acarrete grave insegurança jurídica e

32

projeto-livro-sem-sumulas.pmd 32 5/11/2010, 21:17


esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

relevante multiplicação de processos sobre


questão idêntica.
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser
estabelecido em lei, a aprovação, revisão
ou cancelamento de súmula poderá ser
provocada por aqueles que podem propor
a ação direta de inconstitucionalidade.
§ 3º Do ato administrativo ou decisão
judicial que contrariar a súmula aplicável
ou que indevidamente a aplicar, caberá
reclamação ao Supremo Tribunal Federal
que, julgando-a procedente, anulará o ato
administrativo ou cassará a decisão judicial
reclamada, e determinará que outra seja
proferida, com ou sem a aplicação da
súmula, conforme o caso.

Para uma melhor compreensão da validade das


normas constitucionais, será imprescindível lembrar da
classificação lançada pelo Doutrinador Celso Ribeiro
Bastos e pelo Ministro Carlos Ayres Brito, quanto à
efetividade das normas contidas no texto da Carta Magna46,
o qual esclareceu com muito clareza em sua tabela a eficácia
das normas constitucionais.

46
BASTOS, Celso R. e BRITTO, Carlos Ayres, Interpretação e aplicabilidade
das normas constitucionais, São Paulo, Saraiva, 1982. Tabela de
classificação da eficácia das normas constitucionais, utilizada durante a
aula de Teoria da Constituição e Hermenêutica Constitucional.

33

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

Tabela de classificação da eficácia das normas


constitucionais.
C LA S S IF IC A Ç Ã O D A S N O R M A S C O N S T IT U C IO N A IS

N orm as Integráveis ( ou N orm as R estringíveis


de Integração) N orm as C om pletáveis
Q uanto à
P rodução de N orm as de C onteúdo e
E feitos N orm as Inintegráveis O peratividade R eforçáveis
( ou de M era
A plicação) N orm as de C onteúdo e
O peratividade Irreforçáveis

N orm as de E ficácia
N orm as C om pletáveis
Q uanto à P arcial
P rodução de
N orm as de E ficácia N orm as Inintegráveis
E feitos
P lena N orm as R estringíveis

Fonte: Celso R. Bastos e Carlos Ayres Britto, Interpretação e aplicabilidade


das normas constitucionais, São Paulo, Saraiva, 1982.

Pela leitura do dispositivo 103-A pode-se concluir


que não se trata de uma norma constitucional de eficácia
plena em todo o seu conteúdo. Parte deste novo instituto
jurídico carecerá de legislação infraconstitucional para que
possa produzir efeitos jurídicos.
Apenas a primeira parte do caput do artigo 103-
A; o parágrafo primeiro e a segunda parte do parágrafo
terceiro têm eficácia plena. Em outras palavras, passaram
a produzir efeito no mundo real a partir do momento em que
decorreu o prazo da publicação da EC 45/2004.

34

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

Os dispositivos previstos na última parte do caput;


no parágrafo segundo e na primeira parte do parágrafo
terceiro, necessitam de norma infraconstitucional para que
possam ter eficácia.
A última parte do artigo 103-A e o parágrafo
segundo foram normatizados pela Lei ordinária 11.417/
200647 e complementados pelo RITSF48. Tais textos legais
estabeleceram como será editada, revista ou cancelada uma
SV cuja iniciativa não tenha partido do STF.
Ao criar o Instituto do Precedente Vinculante o
legislador preferiu conceder tal prerrogativa apenas à Corte
Constitucional (STF) e somente para assuntos relacionados
à matéria constitucional.
O Legislativo não só limitou a responsabilidade
da Suprema Corte, para aprovar textos que vincularão o
Judiciário brasileiro e os demais órgãos da Administração
Pública, mas também lhe impôs a aprovação somente por
maioria qualificada de dois terços de seus membros.
Isto por que, um Ministro da Corte Constitucional
apesar de ter como elemento essencial para sua nomeação,
o notório saber jurídico, além da possibilidade de dispor de
assessores extramente qualificados, também é passível de
erros, interpretações equivocadas e influências externas,

47
O artigo 2º, por meio dos §§ 2º, 3º e 4º e o artigo 3º, disciplinam o
procedimento de proposição da Súmula Vinculante.
48
Artigos 102 e 103 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.

35

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

mas tal situação dificilmente se repetirá oito vezes dentro


do STF.
Outros projetos de Emenda Constitucional49
previram tanto a possibilidade de todas as decisões
sumuladas do STF tornarem-se vinculantes, como
necessidade de maioria qualificada de três quintos. Nem
uma nem outra: predominou a idéia de maioria qualificada
de dois terços.
Seguindo a ordem de disposição dos enunciados,
compreende-se pela primeira parte do caput, a possibilidade
de qualquer membro da Corte Suprema propor uma nova
Súmula Vinculante, a qual deverá tratar de matéria
constitucional reiterada e amplamente debatida.
As expressões reiterada e amplamente debatido,
mencionadas acima, dizem respeito ao amadurecimento do
debate acerca do tema que será cristalizado em Súmula
Vinculante.
Tal exigência é necessária para evitar
precipitações ou súmulas que pudessem ser influenciadas
por um momento de comoção social repentino que o país
estivesse atravessando.
Durante a proposição de uma nova súmula, é
possível verificar, pela análise das transcrições das sessões,
a citação de outros julgados anteriores, em casos

49
PEC 54/95, do Senado Federal, depois renumerado para 500/97 e a
PEC 517/97.

36

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

semelhantes, ilustrando os temas reiterados e amplamente


debatido.
No artigo 8º, da Emenda Constitucional 45/2004
está contida a possibilidade das atuais súmulas do STF
serem convertidas em Súmulas Vinculantes.
O dispositivo em tela prevê que as súmulas atuais
do Supremo Tribunal Federal passariam a produzir efeito
vinculante após aprovadas por dois terços de seus membros.
Aqui cabe um questionamento: qualquer um dos
listados no artigo 103, da CF e no artigo 3º, da LSV poderão
propor a conversão de uma súmula do STF em Súmula
Vinculante ou apenas o Supremo Tribunal Federal, por
intermédio de qualquer um de seus membros terá está
legitimidade?
Fazendo uso dos princípios constitucionais50 para
interpretação de tal dispositivo entende-se neste trabalho
que todos os listados nos artigos acima poderão pedir a
conversão da súmula do STF em SV, isto porque, o legislador
reformador facultou a possibilidade democrática, como se
verá a seguir, do legislador infraconstitucional expandir o rol
previsto no artigo 103, da CF, onde está a listagem dos que
são legítimos para propor Ação Direta de Inconstitucio-
nalidade51.

50
Ressalta-se o da unidade e da conformidade da Constituição.
51
Pessoas legitimadas a propor ADI, listadas no artigo 103, da Constituição
Federal.

37

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

Se o legislador reformador não se preocupou em


restringir a relação de pessoas legitimadas a propor uma
nova Súmula, não haveria de restringir a possibilidade de
propor a conversão de uma Súmula já editada em Vinculante.
O que se vê no parágrafo primeiro é a definição
dos momentos de uso e aplicação do novo instituto. Quando
poderá ser criada uma nova SV, com que objetivo e quais
fundamentos justificam sua proposição.
No parágrafo segundo uma grata surpresa do
legislador reformador. A expressão sem prejuízo do que
vier a ser estabelecido em lei, leva o intérprete consciente
do texto, a concluir que a relação de pessoas autorizadas a
propor nova Súmula Vinculante não se esgota com aqueles
previstos no artigo 103, da CF, podendo ser ampliada pela
legislação ordinária que regular o instituto,
A sugestão do legislador constitucional reformador
foi aceita pelo legislador ordinário que incluiu na Lei da
Súmula Vinculante52 as figuras do Defensor Público-Geral
da União53 e dos Tribunais Superiores, dos Tribunais de
Justiça de Estados ou do Distrito Federal e Territórios, dos
Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais do
Trabalho, dos Tribunais Regionais Eleitorais e dos Tribunais
Militares, além das Prefeituras Municipais, as quais poderão
propor incidentalmente novas Súmulas Vinculantes, durante

52
LSV, Lei 1.417/2006.
53
Inciso VI, do artigo 3øº, da Lei 11.417/2006.

38

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

o curso de processo em que sejam parte, fato que não


suspenderá o andamento da lide.
Tal ampliação do rol parece muito interessante
para a democracia brasileira, em constante amadure-
cimento e para os magistrados, os quais, por intermédio de
seus tribunais, poderão propor súmulas que diminuam em
muito o volume de ações ajuizadas e/ou que são objeto de
recursos.
Ressalte-se que o parágrafo segundo, do artigo
3º, da Lei 11.417/2006 previu a possibilidade da manifesta-
ção de terceiros nos debates da sessão que deliberar a
aprovação de Súmula Vinculante. Para melhor entendimento
esclareceu a Ministra Ellen Gracie na sessão que aprovou o
processo 327.880/200754.

Dentre as deliberações conjuntas tomadas


na Sessão Administrativa de 23.04.2007,
foi aprovada a utilização de um
procedimento ad hoc, de natureza
simplificada, para a edição de enunciados
de súmulas vinculantes de iniciativa
interna, ou seja, produzidas por construção
coletiva dos próprios membros da Corte,
atuação que representará mera
cristalização da jurisprudência pacificada
no Tribunal. Naquela oportunidade,
manifestei-me asseverando que nesse

54
Que aprovou a Súmula Vinculante n.º2, publicado no DJe n.º 78/2007,
de 10 de agosto.

39

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

procedimento – distinto do que será


implementado, por regulamentação
regimental, no caso de provocação
externa, que se dará por meio da atuação
dos legitimados arrolados no art. 3º da Lei
11.417/2006 - não há que se falar em
admissão formal de terceiros. Essa
conclusão é reforçada pela letra do art. 2º,
§ 2º, da Lei 11.417/06, que atribui ao relator
do procedimento de edição, revisão ou
cancelamento de enunciado, a prerrogativa
de admitir a manifestação de terceiros na
questão. Ora, a figura do relator somente
faz sentido quando a Corte for provocada
a editar, a revisar ou a cancelar
determinada súmula vinculante,
instaurando-se aí verdadeiro contraditório,
com abertura de prazos, oitiva de
interessados e admissão de manifestação
de terceiros. (primeiro grifo nosso.
Corrija: Onde lê-se art. 2º, § 2º, leia-se
art. 3º, § 2º).

Já no parágrafo terceiro, do artigo 103-A, o que


se vê é a previsão de medida que assegura a aplicação da
Súmula Vinculante. Neste ponto o legislador reformador
forneceu o remédio jurídico apropriado para rever decisões
que contrariem ou apliquem de forma incorreta, o preceito
vinculante estabelecido pela Corte Constitucional.

40

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

O dispositivo lista as situações em que poder-se-


á interpor a Reclamação ao STF. Já o RISTF determina a
forma de interposição deste remédio55.
A juntada de documentos deverá obedecer às
normas processuais em vigor56.
O artigo 7º da Lei 11.417/2006 prevê a
possibilidade de uso da Reclamação, sem prejuízo de
outros remédios jurídicos, como o mandado de segurança
ou ação ordinária com pedido de tutela antecipada, por
exemplo.
A Reclamação poderá conter pedido liminar, o
qual será analisada pelo relator, sendo deferido ou não, tendo
em vista a possível lesão que poderá ser causada em função
da decisão administrativa ou judicial que não aplicou, ou
aplicou incorretamente uma Súmula Vinculante em vigor57.
As Súmulas Vinculantes editadas e revisadas
terão eficácia imediata, a exceção quando o Tribunal
Constitucional determinar, também, pela maioria qualificada
de dois terços, que sua vigência iniciará em outro momento
ou estará adstrita a resolução de um fato que possa gerar
insegurança jurídica.

55
Artigo 156 a 162, do RISTF.
56
RISTF: art. 113 (conforme leis processuais) – art. 114 (requisição do
Relator) – art. 116 a art. 118 (comprovação de fidelidade); CPC: art. 364 a
art. 389 (prova documental) – art. 396 a art. 399 (da produção de provas);
CPP: art. 231 a art. 238 (dos documentos); Lei n. 8.038/90: parágrafo único
do art. 13 (instrução da inicial).
57
Artigo 14, inciso II, da Lei 8.038/1990.

41

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

ARGUMENTOS FAVORÁVEIS E CONTRÁRIOS À


SÚMULA VINCULANTE

ANÁLISE DOS ARGUMENTOS CONTRA E A FAVOR

Há severas críticas ao instituto da Súmula


Vinculante, dentre as quais pode-se destacar:

L Falta de legitimidade do Poder Judi-


ciário para editar Súmulas com força
normativa de Lei;
L A violação ao princípio da tripartição
de poderes e a
L Violação do princípio do juiz natural e
sua independência.

Dos trabalhos apreciados que trataram sobre o


assunto, destacou-se o periódico da Universidade de Marília
(UNIMAR)58, onde o Professor Lênio Streck faz crítica severa
à vinculação das Súmulas recentemente adotada em nosso
país. Relata o Jurista:
Com o passar dos anos, transitou em
julgado a tese de que a solução para os

58
STRECK, Lênio Luiz. 2004. As Súmulas Vinculantes e o Controle
Panatópico da Justiça Brasileira. p. 14 a 16.

43

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

problemas da justiça brasileira passa,


necessariamente, pela adoção do efeito
vinculante das Súmulas e da
jurisprudência do STF. A solução é esta! É
a panacéia nacional. Esquece-se, com
isto, que o problema da efetividade das
decisões judiciais e da assim denominada
morosidade da justiça não será resolvida
mediante um ataque à funcionalidade do
ordenamento ou do sistema mas, sim, a
partir de uma profunda mudança na
estrutura do Poder Judiciário e das demais
instituições encarregadas de aplicar a
justiça.

STRECK também destaca o problema da


retirada da capacidade hermenêutica dos magistrados das
instâncias anteriores. Segundo STRECK “uma camisa de
força que atingirá, inexorável e impiedosamente, as
instâncias inferiores do Judiciário brasileiro” em questões
onde haja Súmula Vinculante editada.
O professor STRECK critica a ausência da
contextualização necessária para a aplicação do instituto
impositivo, ou seja, ao contrário dos Estados Unidos onde
o magistrado precisa fundamentar a aplicação de uma
Súmula, no Brasil as súmulas que forem vinculantes não
precisarão de justificativa para serem aplicadas (2004. p.
17).

44

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

O aludido doutrinador ainda teme que haja uma


invasão de competência promovida pela atuação da Corte
Constitucional de nosso país, ao editar Súmulas Vinculantes.
Segundo o professor: o Poder Judiciário, por sua
cúpula, passará a legislar, o que à evidência quebrará a
harmonia e a independência que deve haver entre os
Poderes da República (STRECK, 2004. p. 20).
Outra crítica sobre a legitimidade para propor as
súmulas, vem da questão da legitimidade democrática,
segundo a magistrada Mônica Sifuentes:
Uma das questões que se tem arguido o
poder dos juízes de criar o direito reside
na sua alegada falta de legitimidade
democrática. Argumenta-se que um poder
não eleito diretamente pelo povo não
estaria por este habilitado a ditar preceitos
gerais de conduta, em seu nome (2005. p.
280).

Após esclarecer a crítica continua SIFUENTES,


fazendo alusão a Eugênico Zaffaroni, para fazer as
ponderações favoráveis sobre o tema:

Uma instituição não pode ser considerada


antidemocrática unicamente porque não
provenha de eleição popular. Como já
afirmou ZAFFARONI em percuciente
estudo sobre o Poder judiciário, uma
instituição é democrática “quando seja

45

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

funcional para o sistema democrático, quer


dizer, quando seja necessária para sua
continuidade, como ocorre com o
Judiciário”59.

Em verdade as críticas precisam ser dissecadas


para que se avalie sua consistência.
Primeiro é necessário ressaltar que o texto
publicado pelo jurista Lênio Streck é de 2004, fato que por
uma questão cronológica óbvia, impossibilitou ao
doutrinador um direcionamento de sua análise à redação
final dada ao Instituto jurídico Súmula Vinculante, uma vez
que a Emenda Constitucional que a criou60 e a Lei que a
regulamentou61, só foram aprovadas respectivamente em 30
de dezembro de 2004 e de 19 de dezembro de 2006. Por
tais motivos não houve, no texto lido, uma verificação das
súmulas em aplicação.
O texto final que criou o artigo 103-A da
Constituição Federal previu em seu bojo, a possibilidade
da Súmula Vinculante ser aprovada, revisada ou cancelada
por pessoas do direito, que tem legitimidade para propor
ação direta de inconstitucionalidade62, ampliando a garantia

59
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Poder judiciário. p. 43 apud SIFUENTES,
2005. p. 282.
60
EC 45/2004.
61
Lei Federal 11.417/2006
62
Artigo 103-A, § 2º, da Constituição Federal.
CAPPELLETTI, Mauro. Juízes legisladores. Reimpressão da 1ª edição.
63

1993. Porto Alegre. 1999. p. 73.

46

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

de que não haverá um engessamento do Poder Judiciário


ou de que um Presidente mais inescrupuloso possa aprovar
uma jurisprudência vinculante que vise apenas servir aos seus
interesses pessoais, como citou STRECK (2004, p. 22).
Quanto à argumentação de violação da tripartição
de poderes, a princípio poderá parecer verdadeira, todavia
observando as súmulas já publicadas, o que se constata é
uma tentativa da Corte Constitucional de diminuir o volume
de processos repetidos, impedir novas demandas inviáveis
economicamente ou que possam, uma vez multiplicas,
sobrecarregar ainda mais o Poder Judiciário.
Destaca-se também o propósito de unificar os
entendimentos do Judiciário brasileiro, trazendo segurança
jurídica a população.
É a concretização, pelo menos inicial, do que se
propuseram os idealizadores e colaboradores, quando da
gestação deste novo instituto. Isso fica bem claro quando se
verifica, por exemplo, a utilidade da Súmula Vinculante n.º
2, a qual dirime as dúvidas sobre a competência exclusiva
da união para legislar sobre jogos e afins, entendimento até
então não pacificado, diante das diversas leis estaduais que
autorizavam o funcionamento de bingos.
Um raciocínio mais objetivo sobre o uso da SV
n.º 2 e a função do STF, acaba por provocar uma construção
lógica que desmistifica a crítica de violação a tripartição dos
poderes: sendo o Supremo Tribunal Federal um órgão

47

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

deliberador, tal qual as demais instâncias do Poder


Judicante, que só agem quando instadas a manifestar-se e,
tendo tal Tribunal a função de ser o guardião da Constituição,
Lei maior de todo o ordenamento jurídico pátrio, pode-se
concluir que ao criar uma súmula de efeito vinculante que
inibe o desrespeito a Carta Magna, a Corte Constitucional
está unificando o entendimento sobre a competência para
legislar em matéria de jogos de azar e afins, e não pode
estar violando o princípio da divisão dos poderes.
Tal pensamento não é novo. Mauro Cappelletti
soube muito bem esclarecer que a Jurisprudência é o
resultado da criatividade dos Juízes, que ao interpretar a Lei,
acabam por subsumir uma solução para um caso concreto63.
Esclarece:
Tanto o processo judiciário quanto o
legislativo resultam em criação de direito,
ambos são “law-making process”. Mas
diverso é o modo, ou se se prefere o
procedimento ou estrutura, desses dois
procedimentos de formação do direito, e
cuida-se de diferença que merece ser
sublinhada para se evitar confusões e
equívocos perigoso. O bom juiz bem pode
ser criativo, dinâmico e “ativista” e
como tal manifestar-se; no entanto,
apenas o juiz ruim agiria com as formas e
as modalidades do legislador, pois, a meu

63
CAPPELLETTI, Mauro. Juízes legisladores. Reimpressão da 1ª edição.
1993. Porto Alegre. 1999. p. 73.

48

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

entender, se assim agisse deixaria


simplesmente de ser juiz64. (grifo nosso).

Depois de analisar tal conceito transportando-o


para a realidade social e política de nosso país fica fácil
identificar a motivação da criação e utilização do instituto
da Súmula Vinculante.
Não se trata de engessamento do judiciário
anterior a Corte Constitucional, quebra na independência do
livre arbítrio do magistrado, mas nivelamento da produção
jurisprudencial criativa, em prol do demandante e do
demandado.
Ademais, o efeito vinculante de que trata o artigo
103-A, dirigi-se aos Poderes Judiciário e Executivo, não
abrangendo o Legislador65 em sua função precípua.
SORMANI e SANTANDER citam Rodolfo de
Camargo Mancuso66, o qual elaborou uma lista de dez pontos
que justificariam o uso da Súmula Vinculante:

☺ Exercer pressão e controle sobre as


condutas dos cidadãos, na medida
em que exterioriza o estereótipo

64
Ib idem. p. 74.
65
CLÈVE, Cèmenson Merlin. A Filosofia Abstrata da Constitucionalidade
no Direito Brasileiro. 2ª edição revisada e ampliada. São Paulo. Revista
dos Tribunais. 2000. p. 306
66
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Divergência Jurisprudencial e Súmula
Vinculante. p. 343. apud SORMANI, Alexandre e SANTANDER, Nelson Luís.
Súmula Vinculante. Ed. Juruá. Curitiba. 2006. p. 86.

49

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

daquilo que o Judiciário, numa dada


matéria, considera certo e errado;
justo e injusto, jurídico e antijurídico;
☺ Opera como fator de previsibilidade
do resultado judicial das demandas
pendentes e mesmo virtuais, como
que antecipando o teor provável da
futura decisão (donde se ter previsto,
no projeto de Lei 3.804-A, de 1993,
que sendo a ‘pretensão fundada na
tese da Súmula, poderá ser
concedida a antecipação da tutela,
prosseguindo o feito até final
julgamento’ – redação proposta para
o CPC, art. 479, § 4º, “d”);
☺ Passa a atuar como fonte subsidiária
de direito e obrigações entre os
indivíduos, e nas relações destes
com o Estado, por exemplo, servindo
como diretriz para a inserção de
cláusulas contratuais ou no trato entre
Fisco e contribuinte;
☺ Influi, poderosamente, na formação
da persuasão racional do
magistrado, de forma ainda mais
decisiva do que os demais elementos
de convicção (costumes, analogia,
equidade, princípios geris, doutrina);
☺ Simplifica o discurso jurídico, na
medida em que se torna a premissa
menor do silogismo da decisão, que

50

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

de outro modo, seria composta pela


norma legal;
☺ Reduz ou praticamente anula o risco
de decisões conflitantes sobre um
mesmo assunto, assim contribuindo
para a preservação do binômio
justiça-certeza;
☺ Agiliza as decisões, na medida em
que a súmula já significa o extrato do
entendimento predominante do
tribunal competente, acerca da
matéria, pressupondo, assim, a
superação dos possíveis argumentos
em sentido contrário ao seu
enunciado;
☺ Atua eficazmente na desobstrução do
serviço judiciário, diminuindo em
muito o tempo incorrido entre as fases
postulatória e decisória no primeiro
grau e entre a fase recursal e o
trânsito em julgado;
☺ No sistema de recursos, simplifica e
agiliza sua interposição, o juízo de
admissibilidade, e mesmo a
apreciação de seu mérito, sobretudo
nos Tribunais Superiores, com as
alterações trazidas ao CPC e à CLT
pela Lei 9.756/98;
☺ Enfim, propicia a uniformização
contemporânea da jurisprudência
pela aplicação de um único juízo de

51

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

valor aos casos análogos –


pendentes e futuros – sem embargo
de eventual alteração ou mesmo
revogação da súmula num momento
futuro, se e quando tal se justifique,
pela superveniente alteração das
fontes substanciais ou do contexto
normativo;

Não se pode negar a felicidade de MANCUSO ao


criar esta lista. Nela se verifica de forma concisa a ampla gama
de benefícios do instituto, alguns dos quais se constatam com
a simples aplicação das Súmulas em vigor.
Infelizmente não há mecanismos que permitam
computar qual volume de ações deixou de ser proposto em
função das Súmulas existentes.
Em 1995, Saulo Ramos demonstrou de maneira
simples a importância de um instituto que impedisse ou
diminuísse a multiplicação de processos já repetidos. Dos
22.763 acórdãos publicados desde a promulgação da CF até
março daquele ano, 15.551 eram repetições de outros,
totalizando 68,32% de julgamentos com hipóteses
idênticas67 (grifo nosso).
Conforme se vê na tabela abaixo, somente em 2007
este número quase foi alcançado. Foram 22.257, acórdãos
publicados.

67
Questões de efeito vinculante, Cadernos de Direito Constitucional e
Ciência política, n.º 16. São Paulo: RT, jul./set.. 1996. p. 33.

52

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projeto-livro-sem-sumulas.pmd
M ovim entação de processos no S uprem o T ribunalF ederalnesta década

53
M ovim entação
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 TO TA L
S TF

P roc. 884.929
110.771 160.453 87.186 83.667 95.212 127.535 119.324 100.781
P rotocolados

P roc. 731.627
89.574 87.313 109.965 69.171 79.577 116.216 112.938 66.873
D istribuídos

53
906.599
Julgam entos 109.692 83.097 107.867 101.690 103.700 110.284 159.522 130.747
esperança de uma Justiça mais célere.

A córdãos 111.834
11.407 11.685 10.840 10.674 14.173 11.421 22.257 19.377
publicados
F onte:P ágina de estatística do S T F ,
http://w w w .stf.jus.br/portal/cm s/verT exto.asp?servico=estatistica& pagina=m ovim entoP rocessual,acessada em 31 de m arço de
2009.

5/11/2010, 21:17
Antonio C. S. Gomes Jr.
Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

O que se percebe até o presente momento é uma


queda no número de processos protocolados e distribuídos
desde 2006.
Tal constatação é fundamental, pois há
necessidade de fornecer mais tempo para que a Corte
Constitucional possa decidir com qualidade, questões
importantes e prementes e na maioria dos casos, não
contempladas68 pelo Poder Legislativo.

68
Textos legais lacunosos e com possibilidade de conceitos abertos ao
intérprete aplicador.

54

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

AS SÚMULAS VINCULANTES EM VIGOR E SEU


IMPACTO EM NOSSA REALIDADE TÉCNICA E
CIENTÍFICA

Neste ponto, far-se-á uso do modelo de


harmonização da jurisprudência criado pelo doutrinador e
professor associado da UFPA, Antonio Moreira Maués. O
trabalho a que nos referimos fora publicado em artigo
intitulado: Ensaio Sobre a Harmonização da
Jurisprudência Constitucional 69, para ressaltar a
necessidade de compreensão do contexto de criação da
súmula vinculante.
Segundo Maués, o modelo proposto poderia
garantir a igualdade na aplicação judicial do direito em
nosso país, caso fossem preservadas suas três
características:

a) Reconhecimento da possibilidade do juiz


afastar-se do precedente, desde que o
faça de modo fundamentado,
apresentando argumentos que indiquem
sua inaplicabilidade ao caso;

b) Existência de mecanismos que


possibilitam rever o precedente;
69
MAUÉS, Antonio Moreira. Constituição e Estado Social: os obstáculos à
concretização da Constituição. 1ª ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais e Editora Coimbra, 2008.

55

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

c) Reconhecimento da importância das


circunstâncias do caso a interpretação
da norma.
Continua o doutrinador:
O modelo aqui proposto não implica negar
validade ao precedente do STF, mas
reconhecer que as circunstâncias do caso
impedem sua aplicação em nome da
proteção de direitos fundamentais.
Portanto, a fundamentação para deixar de
aplicar uma decisão ou súmula vinculante
não parte da discordância do juiz com a
interpretação realizada pelo STF, mas de
sua inaplicabilidade àquele caso.

Sem tecer comentário sobre o aprimoramento


proposto pelo doutrinador paraense, destacar-se-á apenas
a terceira característica de seu modelo, a qual ressalta a
necessidade de conhecer as circunstâncias do caso, para
justificar a aplicação da súmula.
Verifica-se com o uso das súmulas em vigor, não
se tratar de um instituto que irá sobrepujar todos os outros,
inclusive a Lei, a Doutrina e Jurisprudência, para ser
aplicado.
Trata-se de mais uma ferramenta cujo uso
precisará ser harmonizado, com as Leis e Princípios Gerais
de Direito que cercam a análise da aplicação70.
70
Tal situação poderá ser constatada pela não aplicação da súmula
vinculante 14, no caso do Banqueiro Daniel Dantas, pelo Ministro Eros
Grau, conforme se verá mais adiante, no tópico Questionamentos.

56

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

Há necessidade do aplicador mais atento, da


Súmula Vinculante, conhecer tanto a origem do precedente,
como as circunstâncias do caso em que tenta aplicá-la,
minimizando a possibilidade de erros.

A APLICAÇÃO DO INSTITUTO

Por intermédio dos enunciados das Súmulas


Vinculantes, debates de aprovação, dos precedentes
reiterados utilizados como referência para preenchimento
dos requisitos elementares, além das análises feitas por
ocasião da aplicação do instituto, pode-se compreender
melhor esta ferramenta.
Estes elementos permitem vislumbrar, soluções
viáveis para questões diárias, decorrentes de dúvidas na
aplicação do instituto.
A viabilidade de manifestação de terceiros
durante as sessões de aprovação das Súmulas, fora objeto
de discussão nos debates do Precedente Vinculante n.º 2.
No decorrer da votação houve um pedido de
manifestação feito pela Associação Brasileira de Loterias
Estaduais (ABLE), para que participasse na condição de
amigo da corte71, fundamentada no artigo 3º, § 2º da Lei
11.417/2006.
71
amicus curiae.

57

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

No procedimento de edição, revisão ou


cancelamento de enunciado da súmula vinculante, o relator
poderá admitir, por decisão irrecorrível, a manifestação de
terceiros na questão, nos termos do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal. Tal intervenção fora defendida
sem sucesso pelo Ministro Marco Aurélio.
Em análise da problema, depreende-se dos
elementos coletados, que a defesa, por intermédio de
sustentação oral na Plenária do STF, de um Projeto de
Súmula Vinculante, por não Ministros ou por outra pessoa
além do Procurador Geral da República, só será deferida
nos casos do texto inicial ter origem de alguma daquelas
pessoas habilitadas pelos artigos Constitucionais e pela Lei
do instituto.
Em todas as Súmulas é possível verificar a
preocupação técnica, ortográfica e fonética que alguns
Ministros tem durante a escolha das palavras que irão dar
forma à Súmula Vinculante.
Os textos de algumas Súmulas Vinculantes como
a 6, a 9 e a 13, fazem uso de palavras precisas, que tem
por finalidade conceber um texto sumulado que contemple o
maior número de situações, de forma abrangente, mas sem
ficar adstrito a conceitos estáticos.
Na aprovação da SV de número 7 ocorre o
primeiro caso de conversão de uma Súmula do STF, em
Vinculante, situação que mesmo não prevista
expressamente na Constituição Federal, é viável e está
contida no artigo 8º, da EC 45/2004.
58

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

Além disso, o fato do texto novo ser igual ao antigo


não acarreta nenhuma violação de ordem processual,
servindo ainda o precedente anterior, como exemplo de
reiteradas e consolidadas decisões.
A Súmula singela83 de n.º 648 que tratava de
matéria já pacificada na Corte Constitucional teve seu texto
aprovado na íntegra tornando-se vinculante.
Quando dos debates de aprovação da Súmula
Vinculante de n.º 12, duas questões suscitadas chamam
atenção para os requisitos de formação do instituto:
quorum e vigência.
Durante a criação do precedente n.º 12, estavam
presentes apenas oito dos onze ministros, situação que
exigia aprovação por unanimidade dos presentes.
Infelizmente os debates publicados na página do
STF possuem trechos cancelados, fato que não nos permite
uma melhor análise da preocupação da Corte Constitucional
com o quorum mais qualificado.
O texto do artigo 103-A é claro ao estabelecer que
as súmulas entrarão em vigor a partir de sua publicação,
não alcançando atos pretéritos. Tal entendimento fora
suscitado durante a sessão de aprovação da Súmula n.º 12,
levando a crer, que caso surjam ações a este respeito, a
Corte Constitucional provavelmente deverá desconsiderá-
las.

59

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

Questão que intriga os aplicadores do Direito é a


aplicação de forma absoluta dos Precedentes, quando
houver situações semelhantes que suscitem seu uso.
Em 1º de julho de 2009, ocorreu o primeiro caso
de indeferimento de RECLAMAÇÃO que pugnava pela
aplicação da Súmula Vinculante n.º 14.
Por intermédio de sua decisão em uma
RECLAMAÇÃO proposta pelos advogados do Banqueiro
Daniel Dantas, os quais tentavam ter acesso aos autos de
um inquérito policial em andamento, o Ministro Eros Grau72,
demonstrou que até mesmo uma Súmula Vinculante não
deverá ser interpretada e aplicada de forma isolada, como
se seu texto representasse a palavra derradeira, quanto ao
assunto tratado.
Os demais princípios e determinações
processuais em vigor não podem ser atropelados, por uma
precedente vinculante.
A argumentação do Ministro fora trazida a baila
por intermédio de matéria publicada na pagina do Supremo
Tribunal Federal.

72
Publicado em http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?
idConteudo=108993, acessado em 01 de junho de 2009.

60

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

O PROCEDIMENTO DE RECLAMAÇÃO AO STF

Visando preservar a autoridade do STF, o


Legislador no § 3º, do artigo 103-A, da Constituição Federal
e no caput, do dispositivo 7º, da Lei 11.417/2007, muniu a
parte prejudicada com o desrespeito ao preceito já
estabelecido pela Corte Constitucional em Súmula
Vinculante, com a possibilidade de propor diretamente ao
guardião da Constituição a Reclamação.
Esclarece-nos melhor o Ministro Carlos Brito73 na
decisão proferida quando de sua relatoria em uma
Reclamação proposta pelo Partido Social Cristão:

...a reclamação constitucional


prevista no art. 102, I, “l”, da Carta-
cidadã revela-se como uma
importante via processual para o
fim de preservar a competência
desta colenda Corte e garantir a
autoridade das suas decisões.
Nesta última hipótese, contudo,
sabe-se que as reclamatórias podem
ser manejadas quando há o
descumprimento de decisórios
proferidos, com efeito vinculante, nas
ações destinadas ao controle abstrato

73
Decisão Monocrática da Reclamação 2.871-2, Relator Ministro Carlos
Brito.

61

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

de constitucionalidade e, ainda, em
processos de índole subjetiva, desde
que o eventual reclamante deles
tenha participado (grifo nosso).

O Ministro Celso de Melo74 também contribuiu


para esclarecer a finalidade doutrinária e a origem da
Reclamação:
A reclamação, qualquer que seja a
natureza que se lhe atribua - ação
(PONTES DE MIRANDA,
“Comentários ao Código de
Processo Civil”, tomo V/384,
Forense), recurso ou sucedâneo
recursal (MOACYR AMARAL
SANTOS, RTJ 56/546-548;
ALCIDES DE MENDONÇA LIMA, “O
Poder Judiciário e a Nova
Constituição”, p. 80, l989, Aide),
remédio incomum (OROSIMBO
NONATO, “apud” Cordeiro de Mello,
“O processo no Supremo Tribunal
Federal”, vol. 1/280), incidente
processual (MONIZ DE ARAGÃO, “A
Correição Parcial”, p. 110, 1969),
medida de direito processual
constitucional (JOSÉ FREDERICO
MARQUES, “Manual de Direito
Processual Civil”, vol. 3º, 2ª parte, p.

Decisão Monocrática da Reclamação 2.881-0, Relator Ministro Celso de


74

Mello.

62

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

199, item n. 653, 9ª ed., l987, Saraiva)


ou medida processual de caráter
excepcional (Min. DJACI FALCÃO,
RTJ 112/518-522) - configura
instrumento de extração
constitucional, não obstante a
origem pretoriana de sua criação
(RTJ 112/504), destinado a viabilizar,
na concretização de sua dupla
função de ordem político-jurídica, a
preservação da competência do
Supremo Tribunal Federal, de um
lado, e a garantia da autoridade de
suas decisões, de outro (CF, art.
102, I, “l”), consoante tem enfatizado
a jurisprudência desta Corte
Suprema (RTJ 134/1033, Rel. Min.
CELSO DE MELLO, v.g.) (grifo
nosso).

Diante da distância da maioria dos aplicadores


do direito, da Corte Constitucional brasileira, a propositura
de tal peça poderá parecer algo mais intrincado do que
realmente é.
Antes de tudo, é preciso ressaltar que a
proposição da Reclamação só poderá ocorrer nos casos
de omissão ou ato da administração pública75 quando forem
esgotadas as vias administrativas.

88
Textual do artigo 7º, § 1º, da Lei 11.416/2007.

63

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

Assim, quando for julgada na esfera administrativa


questão que contrarie Súmula Vinculante em vigor, a parte
interessada deverá primeiramente interpor o pedido de
reconsideração e/ou recurso cabível, exaurindo
definitivamente a possibilidade da autoridade infratora
corrigir seu próprio desrespeito.
Somente quando superada a fase recursal
administrava é que se poderá propor a Reclamação
diretamente ao STF.
A peça reclamatória será dirigida ao presidente
do Tribunal e deverá ser instruída com as provas documentais
do desrespeito ao preceito jurisprudencial vinculante.
Uma vez recebida a Reclamação, ela será
autuada e distribuída para um relator, que requisitará
informações da autoridade a qual é imputada a prática de
ato impugnado, tendo está 10 (dez) dias para prestá-las.
Caso haja necessidade de antever lesão ou dano
irreparável, o autor da Reclamação, em sua peça, poderá
requerer que sejam deferidas medidas liminares e o relator
analisará a premência de sua concessão.
Para os membros do Ministério Público ainda será
concedida vistas ao processo, pelo prazo de 5 (cinco) dias
após o fornecimento das informações.
Uma vez deferido o pedido reclamatório, o Pleno
do STF cassará a decisão impugnada e caso se faça
.

64

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

necessário, determinará medidas adequadas para a


manutenção da competência da Corte Constitucional76.
Como a Reclamação contra ato administrativo é
uma peça de competência originária, a mesma deverá ser
proposta diretamente no STF77, neste caso não será cobrada
remessa e retorno dos autos78. Também não há de se cobrar
o preparo e custas79.
Apenas quando a Reclamação versar sobre
alguma classe de processos, das estabelecidas pelo RISTF,
é que se cobrará o valor previsto na tabela de custas em vigor,
ressaltando-se a isenção de pagamento, nestes, casos para
o Procurador-Geral da República80.
A regra da Assistência Judiciária também
prevalece se já houve concessão do Direito em instância
anterior81.
Visando facilitar o início da redação para aqueles
que ainda permanecem confusos, fora anexado a este trabalho
um modelo de Reclamação rascunhado após a leitura e o
entendimento do que fora exposto82.

76
Lei 8.038/1990, artigos 13 a artigo 18.
77
Artigo 6º, inciso I, alínea g, do RISTF.
78
Artigo 3º, inciso I, da Resolução 352/2008 do STF.
79
Informação verbal fornecida pela chefia do protocolo do STF, Sra.
Sayonara.
80
Artigo 1º, Tabela B, inciso VI, da Resolução 352/2008 do STF.
81
Lei 1.060 de 1950 e RISTF, artigo 63, § 3º.
82
Anexo 3.

65

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

CONCLUSÃO

Mesmo diante os olhos de um profissional,


subsumir o direito do ordenamento jurídico em vigor,
aplicável ao caso concreto, não é tarefa fácil.
Ao tomar partido em favor do cidadão que
pretende encontrar a clareza e certeza na obtenção de
seus direitos, a Súmula Vinculante parece ser a solução
mais pragmática cabível para a realidade atual brasileira.
A Súmula Vinculante representa um alívio aos
aplicadores do Direito, advogados ou não, militantes das
instituições integrantes da Justiça e repartições públicas,
que vivem o dia-a-dia de um Judiciário tão assoberbado.
Tal sensação de alívio, também é oriunda de uma
visível priorização, em algumas instâncias, da Justiça pela
Justiça e do Direito pelo Direito; não de uma preocupação
com a eficiência e celeridade, com as quais deveriam ser
conduzidas os processos, na busca pelas respostas às
perguntas feitas pelos jurisdicionados.
O que o demandante pretende é um provimento
rápido e claro da Justiça ou da Administração Pública, ao
seu anseio.
Neste sentido, registre-se que a Súmula
Vinculante diz a que veio, cumprindo a tarefa para que fora
criada.

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

Para termos uma prova conclusiva da importância


e da objetividade da Súmula Vinculante, basta analisar a
Justiça do Trabalho hoje e verificar que, parte da
uniformização dos entendimentos e da segurança jurídica
que aquela casa do Poder Judiciário oferece aos
jurisdicionados, é oriunda dos efeitos causados pelos
prejulgados trabalhistas.
Não se nota, pelo que fora feito até o presente
momento, a extrapolação da cúpula do Judiciário na criação
de precedentes vinculantes, que impliquem na violação ao
princípio da tripartição de poderes.
Porém, é preciso notar que os membros da Corte
Constitucional padecem de grandes responsabilidades.
Uma vez que representam a última instância em
matéria Constitucional, seus posicionamentos têm também
caráter político exacerbado, razão pela qual se percebe em
algumas decisões, a necessidade de buscar uma alternativa
jurídica que não necessariamente será a melhor
interpretação sobre tema, mas que terá como escopo,
solucionar questões complexas e amplas, cujas sentenças
diversas das prolatadas, poderiam desestabilizar o país.
Verifica-se a contribuição da Súmula Vinculante,
que diminui o número de ações propostas e dá mais tempo
para os Ministros do STF, e porque não dizer, por tabela, a
todo o Judiciário brasileiro, para decidir com mais critério,
questões fundamentais ao futuro do país.

68

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

É certo afirmar que são necessários mais tempo


e súmulas em vigor.
Até o presente momento, não se constatou uma
mudança no paradigma de ensino e aplicação do Direito
no Brasil, muito provavelmente em função da pequena
quantidade de súmulas já editadas.
Acredita-se que serão necessárias mais súmulas
distribuídas em áreas mais corriqueiras da rotina das
instâncias do Poder Judiciário e nas esferas administrativas,
anteriores à Corte Constitucional, para que se possa verificar
uma mudança de paradigma.

69

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

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__________________. I - Compreensão e pré-


compreensão. Memórias jurídicas e pós-compreensão
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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

ANEXO 1 - MODELO DE RECLAMAÇÃO

EXMO. SR. MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO


TRIBUNAL FEDERAL

NONONO NONONO NO NONONO, brasileiro,


casado, escritor, domiciliado e residente nesta capital do
estado do Pará, na Avenida Presidente Vargas, n.º 3000,
bairro da Campina, CEP 66.000-000, vem por intermédio
de seu advogado, procuração em anexo (documento 1),
propor RECLAMAÇÃO, contra Exmo. Sr. TORQUATO
FERREIRA, desembargador, estabelecido no Tribunal de
Justiça do Estado do Pará, sito na Av. Almirante Barroso,

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

n.º 3089, bairro do Souza nesta capital do Estado do Pará,


com base no artigo 102, inciso, alínea l, combinado com artigo
103-A, da Carta Constitucional e artigo 55, inciso XX, do
RISTF, nos fatos e fundamentos que passa a expor para ao
final requerer:

DOS FATOS
1. (expor os fatos que levam o reclamante a propor a
reclamação, principalmente qual o direito violado. Ex:
O Exmo. Sr. Desembargador, ao julgar Agravo, deixou
de atentar para existência da Súmula Vinculante n.º 14,
que permite ao advogado acesso aos autos...);
2. Tendo esclarecido os fatos passa a argumentar a
necessidade de concessão de medida liminar;

DO PEDIDO LIMINAR
3. (expor os fatos e fundamentos que levam o reclamante
a solicitar tutela antecipada, caso seja está a situação,
em função de lesão iminente com a manutenção do
ato contrário a Súmula Vinculante. Ex: A manutenção
do cerceamento da defesa, barrando o acesso aos
autos, poderá acarretar dano severo a imagem do
RECLAMANTE);
4. Tendo esclarecido os motivos que traduzem a
necessidade da concessão de liminar, passa a
argumentar o direito;

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

DO DIREITO E DA ARGUMENTAÇÃO
5. (apontar a Súmula Vinculante desrespeitada, apontando
os institutos Constitucionais, da Lei 11.417/2006, do
RISTF, da Lei 8.038/90 ou da Lei 9.784/99, quando for
o caso. Ex: É direito Constitucional de todos, ter acesso
aos processos e procedimentos judiciais. A Súmula
Vinculante n.º 14, prevê o acesso da defesa à prova já
produzida);
6. Tendo argumentado o direto passa a fazer o pedido;

DO REQUERIMENTO
Ante o exposto, requer que seja cassada a
decisão proferida pelo RECLAMADO, determinando as
medidas adequadas para a manutenção dos direitos do
RECLAMANTE, do aludido preceito constitucional
vinculante e da autoridade desta Corte Constitucional.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Belém (PA), ..... de ..................... de ........

Antonio C. S. Gomes Jr.


OAB/PA 9400

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

ANEXO 2 – EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45, DE 30 DE


DEZEMBRO DE 2004 (PARTE REFERENTE A SÚMULA
VINCULANTE) Altera dispositivos dos arts. 5º, 36, 52, 92,
93, 95, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 107, 109, 111, 112, 114,
115, 125, 126, 127, 128, 129, 134 e 168 da Constituição
Federal, e acrescenta os arts. 103-A, 103B, 111-A e 130-A,
e dá outras providências.

AS MESAS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS E DO


SENADO FEDERAL, nos termos do § 3º do art. 60 da
Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao
texto constitucional:
Art. 1º Os arts. 5º, 36, 52, 92, 93, 95, 98, 99, 102, 103,
104, 105, 107, 109, 111, 112, 114, 115, 125, 126, 127, 128,
129, 134 e 168 da Constituição Federal passam a vigorar
com a seguinte redação:
in omissis ...
Art. 2º A Constituição Federal passa a vigorar acrescida
dos seguintes arts. 103-A, 103-B, 111-A e 130-A:
“Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício
ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos
seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua
publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em
relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à
administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão
ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e


a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja
controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e
a administração pública que acarrete grave insegurança
jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão
idêntica.
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a
aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá
ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta
de inconstitucionalidade.
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar
a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá
reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a
procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a
decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja
proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o
caso.”
in omissis ...
Art. 8º As atuais súmulas do Supremo Tribunal Federal
somente produzirão efeito vinculante após sua confirmação
por dois terços de seus integrantes e publicação na
imprensa oficial.
Art. 9º São revogados o inciso IV do art. 36; a alínea h
do inciso I do art. 102; o § 4º do art. 103; e os §§ 1º a 3º do
art. 111.
Art. 10. Esta Emenda Constitucional entra em vigor na
data de sua publicação.
Brasília, em 30 de dezembro de 2004.
Mesa da Câmara dos Deputados

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

Deputado João Paulo CunhaPresidenteDeputado


Inocêncio de Oliveira1º Vice-PresidenteDeputado Luiz
Piauhylino2º Vice-PresidenteDeputado Geddel Vieira
Lima1º SecretárioDeputado Severino Cavalcanti2º
SecretárioDeputado Nilton Capixaba3º
SecretárioDeputado Ciro Nogueira4º Secretário

Mesa do Senado Federal


Senador José SarneyPresidenteSenador Paulo Paim1º
Vice-PresidenteSenador Eduardo Siqueira Campos2º
Vice-PresidenteSenador Romeu Tuma1º
SecretárioSenador Alberto Silva2º SecretárioSenador
Heráclito Fortes3º SecretárioSenador Sérgio Zambiasi4º
Secretário

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. 31.12.2004

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

ANEXO 3 - LEI Nº 11.417, DE 19 DE DEZEMBRO DE


2006.

Regulamenta o art. 103-A da Constituição


Federal e altera a Lei no 9.784, de 29 de
janeiro de 1999, disciplinando a edição, a
revisão e o cancelamento de enunciado de
súmula vinculante pelo Supremo Tribunal
Federal, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA faço saber que o


Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Esta Lei disciplina a edição, a revisão e o
cancelamento de enunciado de súmula vinculante pelo
Supremo Tribunal Federal e dá outras providências.
Art. 2o O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou
por provocação, após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional, editar enunciado de súmula que, a partir de
sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em
relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à
administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou
cancelamento, na forma prevista nesta Lei.
§ 1o O enunciado da súmula terá por objeto a validade, a
interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca
das quais haja, entre órgãos judiciários ou entre esses e a
administração pública, controvérsia atual que acarrete grave
insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos
sobre idêntica questão.

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

§ 2o O Procurador-Geral da República, nas propostas que


não houver formulado, manifestar-se-á previamente à edição,
revisão ou cancelamento de enunciado de súmula vinculante.
§ 3o A edição, a revisão e o cancelamento de enunciado
de súmula com efeito vinculante dependerão de decisão
tomada por 2/3 (dois terços) dos membros do Supremo
Tribunal Federal, em sessão plenária.
§ 4o No prazo de 10 (dez) dias após a sessão em que editar,
rever ou cancelar enunciado de súmula com efeito vinculante,
o Supremo Tribunal Federal fará publicar, em seção especial
do Diário da Justiça e do Diário Oficial da União, o
enunciado respectivo.
Art. 3o São legitimados a propor a edição, a revisão ou o
cancelamento de enunciado de súmula vinculante:
I - o Presidente da República;
II - a Mesa do Senado Federal;
III - a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV - o Procurador-Geral da República;
V - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VI - o Defensor Público-Geral da União;
VII - partido político com representação no Congresso
Nacional;
VIII - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito
nacional;
IX - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara
Legislativa do Distrito Federal;
X - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
XI - os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça de
Estados ou do Distrito Federal e Territórios, os Tribunais
Regionais Federais, os Tribunais Regionais do Trabalho, os
Tribunais Regionais Eleitorais e os Tribunais Militares.

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esperança de uma Justiça mais célere. Antonio C. S. Gomes Jr.

§ 1o O Município poderá propor, incidentalmente ao curso


de processo em que seja parte, a edição, a revisão ou o
cancelamento de enunciado de súmula vinculante, o que não
autoriza a suspensão do processo.
§ 2o No procedimento de edição, revisão ou cancelamento
de enunciado da súmula vinculante, o relator poderá admitir,
por decisão irrecorrível, a manifestação de terceiros na
questão, nos termos do Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal.
Art. 4o A súmula com efeito vinculante tem eficácia imediata,
mas o Supremo Tribunal Federal, por decisão de 2/3 (dois
terços) dos seus membros, poderá restringir os efeitos
vinculantes ou decidir que só tenha eficácia a partir de outro
momento, tendo em vista razões de segurança jurídica ou
de excepcional interesse público.

Art. 5o Revogada ou modificada a lei em que se fundou a


edição de enunciado de súmula vinculante, o Supremo
Tribunal Federal, de ofício ou por provocação, procederá
à sua revisão ou cancelamento, conforme o caso.

Art. 6o A proposta de edição, revisão ou cancelamento


de enunciado de súmula vinculante não autoriza a
suspensão dos processos em que se discuta a mesma
questão.

Art. 7o Da decisão judicial ou do ato administrativo que


contrariar enunciado de súmula vinculante, negar-lhe vigência
ou aplicá-lo indevidamente caberá reclamação ao Supremo

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Súmula Vinculante: Busca por segurança jurídica e

Tribunal Federal, sem prejuízo dos recursos ou outros meios


admissíveis de impugnação.

§ 1o Contra omissão ou ato da administração pública, o


uso da reclamação só será admitido após esgotamento
das vias administrativas.

§ 2o Ao julgar procedente a reclamação, o Supremo


Tribunal Federal anulará o ato administrativo ou cassará a
decisão judicial impugnada, determinando que outra seja
proferida com ou sem aplicação da súmula, conforme o caso.

Art. 8o O art. 56 da Lei no 9.784, de 29 de janeiro de 1999,


passa a vigorar acrescido do seguinte § 3o:

“Art. 56. ....................................................................

§ 3o Se o recorrente alegar que a decisão administrativa


contraria enunciado da súmula vinculante, caberá à
autoridade prolatora da decisão impugnada, se não a
reconsiderar, explicitar, antes de encaminhar o recurso à
autoridade superior, as razões da aplicabilidade ou
inaplicabilidade da súmula, conforme o caso.” (NR)

Art. 9o A Lei no 9.784, de 29 de janeiro de 1999, passa a


vigorar acrescida dos seguintes arts. 64-A e 64-B:

“Art. 64-A. Se o recorrente alegar violação de enunciado


da súmula vinculante, o órgão competente para decidir o
recurso explicitará as razões da aplicabilidade ou
inaplicabilidade da súmula, conforme o caso.”

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