5. Aqueles que estão livres do falso prestígio, da ilusão e da falsa
associação, que compreendem o eterno, que se enfastiaram da luxúria material, que estão livres das dualidades manifestas sob a forma de felicidade e sofrimento, e que com toda a lucidez sabem como se render à Pessoa Suprema alcançam este reino eterno. 6. Essa Minha morada suprema não é iluminada pelo Sol ou pela Lua, nem pelo fogo ou pela eletricidade. Aqueles que a alcançam jamais retornam a este mundo material.
Nos versos anteriores o Senhor Krishna recomenda que devemos
desenvolver interesse em buscar a morada eterna suprema e render- se à Suprema Personalidade de Deus. Agora, portanto, Ele passa a explicar como se efetua o processo de rendição. Primeiramente, o Senhor afirma que temos que nos livrar das garras da ilusão. Na verdade, este tema é o ponto central do Bhagavad-gita. Como já foi explicado, as entidades vivas são partes integrantes do Senhor e, dessa maneira, são consideradas Suas energias divinas. Porém, ao desejarem dominar a natureza material, elas ficam sob as garras da energia material ilusória e não conseguem superar sua influência. É preciso, portanto, aceitar o serviço devocional e, desse modo, atrair a misericórdia do Senhor, que é o único que pode conceder a liberação à alma condicionada. A aceitação do serviço devocional só se torna possível para uma pessoa que, devido a inteligência, tenha se tornado verdadeiramente humilde e tenha se livrado do orgulho absurdo de se julgar o Senhor da natureza material. Antes disso, não há como se iniciar no processo de rendição.
Como foi explicado no Capítulo Sete, o necessitado, o aflito, o
inteligente e o curioso que executaram atividades piedosas se voltam para a adoração do Senhor. De modo geral, quando as dificuldades surgem nas vidas dessas pessoas piedosas, eles não encontram outra alternativa além de buscar abrigo no serviço devocional do Senhor. Entretanto, aqueles que estão acumulando ações impiedosas não podem se aproximar do Supremo. Ao contrário disso, tais pessoas impiedosas permanecem associadas com as atividades falsas da energia ilusória material e nunca se rendem ao Senhor. Na verdade, a menos que a pessoa tenha a misericórdia do Senhor, ela não poderá admitir e entender que este mundo material é um lugar perigoso, cheio de calamidades. O sintoma de uma pessoa verdadeiramente inteligente é que ela desiste de fazer planos para ajustar-se permanentemente a essas calamidades materiais. Ao mesmo tempo, tal pessoa compreende que enquanto estiver neste mundo terá que se deparar com os inevitáveis infortúnios, os quais são considerados como estímulos positivos para o progresso na compreensão espiritual. Compreendendo sua posição como alma espiritual eterna, a pessoa deve manter-se transcendental às aparentes calamidades materiais, as quais são comparadas a um pesadelo. Num sonho, por exemplo, o homem pode ter a sensação que um tigre o está engolindo. Certamente, ele sofrerá com isto. Porém, assim como este ‘tigre’, o sofrimento material é ilusório, pois trata-se unicamente de um pesadelo. Já que são ilusórias, as calamidades desse mundo só poderão afetar a pessoa que não compreendeu a natureza ilusória deste mundo material. Aquele que não se rende ao Senhor, portanto, não pode compreender a verdadeira essência deste mundo. Deste modo, ao invés de dedicar sua vida ao Senhor, uma pessoa tola prefere buscar sua felicidade neste mundo cheio de perigos. Ela não têm informação da morada do Senhor, a qual é eterna e plenamente bem aventurada, sendo livre de qualquer vestígio de calamidades.
Este mundo material é comparado a um oceano turbulento, o qual
deve ser cruzado o mais rápido possível. A conclusão é que, enquanto estivermos neste oceano, sempre estaremos numa posição perigosa, à mercê das ondas violentas. Mesmo que estejamos num grande e resistente barco, a qualquer momento poderá surgir um imprevisto e teremos que nos deparar com as situações mais adversas. Por isso, a nossa única preocupação deveria ser como atravessar o mais rápido possível este oceano de perigos. O Srimad-Bhagavatam explica que quem se refugia no Senhor está aceitando o barco mais adequado para cruzar o oceano da ignorância. Se uma pessoa aceita o abrigo dos pés de lótus do Senhor, ela poderá cruzar o oceano de existência material, assim como pode-se saltar facilmente as águas que ficam acumuladas nas covas criadas pelas pegadas de um bezerro. O destino final deve ser permanecer com o Senhor em Sua residência, que nada tem a ver com o lugar onde existe perigo à cada passo. Já que, enquanto estivermos neste mundo não poderemos evitar suas adversidades, devemos, então, com ou sem elas, cantar Hare Krishna e dedicar-nos ao desenvolvimento de nossa consciência de Krishna para retornarmos ao mundo espiritual, onde tudo é iluminado pela potência interna do Senhor.