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UNIVERSIDADE POSITIVO

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

UM SOLO DE PROTESTO: O ROCK USADO COMO CRÍTICA SOCIAL

LEONARDO SCHENATO BARROSO

CURITIBA

2010
LEONARDO SCHENATO BARROSO

UM SOLO DE PROTESTO: O ROCK USADO COMO CRÍTICA SOCIAL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito da nota do
segundo bimestre da disciplina Produção
Científica em Jornalismo II do Curso de
Jornalismo da Universidade Positivo.

Orientador: Marcelo Fernando de Lima

CURITIBA

2010
SUMÁRIO

EPÍGRAFE......................................................................................................................4

AGRADECIMENTOS......................................................................................................5

1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................6

2. O ROCK ................................................................................................................... 12

2.1 A RELAÇÃO DO ROCK COM O JORNALISMO E A CRÍTICA ......................... 12

2.2 A HISTÓRIA DO ROCK COMO CRÍTICA SOCIAL ........................................... 13

3. JORNALISMO EM RÁDIO ....................................................................................... 30

3.1 CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DO JORNALISMO .................................... 30

3.2 FUNÇÃO SOCIAL DO JORNALISMO E SEU PAPEL NA MÍDIA ...................... 31

3.3 O SURGIMENTO DO JORNALISMO EM RÁDIO ............................................. 34

3.4 CARACTERÍSTICAS DO VEÍCULO RÁDIO...................................................... 36

3.5 O DOCUMENTÁRIO EM RÁDIO ...................................................................... 38

4. O PRODUTO ............................................................................................................ 41

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 48

REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 49

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 51

APÊNDICES ................................................................................................................. 52
EPÍGRAFE

“O Rock ‘n’ Roll é a maior renovação artística desde Homero”.


(Marshall McLuhan)
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente e acima de tudo aos meus pais, Adhemar Barroso


Junior e Daniela Schenato, e avós, Adhemar e Elvira Barroso, cujo apoio financeiro,
humano e – sobretudo – emocional se fez fundamental para a realização de todas as
etapas do presente trabalho e de todos os outros ao longo dos quatro anos do curso
de Jornalismo.

Novamente agradeço aos meus pais e estendo o agradecimento ao meu tio


Gustavo Barroso por, desde a minha infância, introduzirem o rock em minha vida.

Em seguida, agradeço aos colegas Luiz Fellipe Deon e Rodrigo de Oliveira


Muniz pelas participações na vinheta e na narração da primeira edição do
documentário “Um Solo de Protesto” e agradeço ao operador de áudio Márcio Kano
pela sua brilhante atuação na edição do mesmo.

Não esqueço de fazer meu agradecimento aos entrevistados do programa que


dedicaram seu tempo e esforço para possibilitar a execução do radiodocumentário.

Agradeço também aos professores do curso de Jornalismo da Universidade


Positivo - em especial ao meu orientador Marcelo Fernando de Lima - por ampliarem
meu conhecimento acerca da realidade em que estou inserido e possibilitarem uma
formação mais humanizada e completa.

Por último, agradeço a todos os artistas e bandas que foram, de alguma forma,
responsáveis por fazer do rock um tema tão rico e interessante.
1 INTRODUÇÃO

Nos anos 1950, a juventude estadunidense se encontrava em meio ao


crescimento tecnológico e consumista advindo dos ganhos dos EUA na Segunda
Guerra Mundial e o confronto entre o capitalismo e o socialismo. Questionando os
antigos valores e dogmas sociais impostos, mas sem chegar de fato a uma visão
crítica da realidade, surge a geração dos chamados rebeldes sem causa. Os dois
ídolos máximos destes jovens foram James Dean, no cinema, ator de filmes como
“Juventude Transviada”, e na música, Elvis Presley (TINTI, 2009). Elvis se tornava o
“Rei” de um novo estilo - criado a partir da fusão do estilo rhythm & blues, pelos negros
excluídos da sociedade predominantemente branca, com o country & western, que
representava a realidade branca dos camponeses pobres – chamado rock n’ roll,
nome advindo da fusão de duas gírias usadas na época para se referir ao ato sexual
(CHACON, 1982, p.24).

Na época, ouvir rock n’ roll, junto com o uso de jaquetas de couro e


motocicletas, foi a principal manifestação jovem contra os valores impostos, ainda que
não tivesse uma real fundamentação crítica. “A música se firmou como o canalizador
das ideias contestatórias dos jovens, frente à insatisfação com o sistema cultural,
educacional e político. E o rock n’ roll era o ritmo que ditaria esse comportamento”
(TINTI, 2009).

Na década seguinte, com a decadência dos principais ídolos do antigo rock n’


roll, a Inglaterra passa a ser o principal cenário do rock. As duas bandas inglesas de
rock pioneiras em conseguir representatividade internacional foram os Beatles e os
Rolling Stones. Nos EUA, ganhava força a música folk com o ídolo Bob Dylan, que
levava à música a crítica social explícita, falando em nome das minorias como
operários, negros e mulheres. Tanto as bandas inglesas passaram a usar a crítica de
Dylan dentro do rock, como Dylan passou a fazer uso da guitarra elétrica dentro do
folk. Através da junção destes dois estilos, surge a principal influência do que se
tornaria o movimento hippie.

Os hippies eram jovens da década de 60 que pregavam ideais próprios de vida.


“Movidos pelo slogan paz e amor, esses jovens que se entregaram à ideologia do
pacifismo, do amor livre e das viagens de LSD representaram um movimento
importante para a contracultura” (TINTI, 2009). Reunidos em grandes centros,
especialmente São Francisco, na Califórnia, os hippies faziam manifestações pacíficas
que reivindicavam a saída dos EUA da Guerra do Vietnã, uma menor preocupação
com o consumo e com antigos valores pregados pelas velhas instituições (família,
igreja e principalmente o exército) que, pouco a pouco, perdiam sua força. Os
principais ídolos musicais dessa época, além de Bob Dylan e das bandas inglesas já
citadas, foram The Doors, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Cream, Grateful Dead, The
Mamas and The Papas, The Who, entre outras, muitas delas utilizando efeitos
musicais que pretendiam representar sensações e experiências ligadas ao uso de
drogas psicoativas, como a maconha e o LSD, criando o acid rock e o rock
psicodélico. É importante ressaltar que o uso dessas drogas que influenciaram o rock
na década de 1960 também se relacionava com os movimentos políticos ligados à
contracultura. Como cita Bernardo Kucinski:

Nos Estados Unidos, as diferentes manifestações da contracultura,


inclusive seus movimentos políticos, como o Black Power, tiveram
como denominador comum o uso ostensivo da maconha, proscrita
pela moral conservadora, numa tentativa de construção de um novo
ethos, de uma nova forma de ser e agir, dotada de uma ética de
transgressão e de novos modos de consciência. Na Grã-Bretanha era
a adesão especialmente ao ácido lisérgico (LSD) que denotava a
crença de que nenhuma libertação social ou política poderia ocorrer
sem a libertação anterior de cada indivíduo (KUCINSKI, 2003, p. 15).

Nos anos 1970, com a decadência do movimento hippie, a manifestação social


do rock é visível primeiramente no chamado rock progressivo, especialmente com a
banda Pink Floyd que criticava vários aspectos da humanidade, e no punk rock, com
os Sex Pistols e o The Clash, que criticavam a estrutura social britânica e
principalmente a rainha da Inglaterra, a aristocracia inglesa e a reverência à política,
além de fazerem muitas referências a um desejo pela existência da anarquia. Além
destes dois estilos, surge também o hard rock, estilo mais comercial, porém, com
várias críticas explícitas como na banda Grand Funk Railroad, ainda criticando a
Guerra do Vietnã, que só terminaria em 1975.

Na década de 1980, a crítica social podia ser vista principalmente no hardcore,


estilo derivado do punk rock, que criticava explicitamente vários governantes da
época, tendo como principal representante os Dead Kennedys. Também vale destacar
o rock gótico, que seguia a tendência depressiva da época advinda da estagnação
econômica, representado por bandas como The Cure e Joy Division. Outro importante
estilo de rock surgido nos anos 1980, altamente influenciado pelo hard rock, foi o
heavy metal e suas variantes, nas quais se pode encontrar várias críticas a aspectos
como agressão ao meio ambiente, consumismo e despreocupação com o fator
humano.

Nos anos 1990, o estilo que mais traz a crítica social é o chamado grunge, que
surge do tédio existente na cidade de Seattle como um movimento alternativo ao que
estava no cenário principal da música, mas que, aos poucos, vai sendo inserido na
mídia dentro da lógica comercial (SANTANA, 2004). Seu principal representante foi o
Nirvana, banda que teve fim com o suicídio de seu líder e vocalista, Kurt Cobain, que
acabou sendo transformado em ídolo da juventude da década. Também é notável a
crítica social em bandas de funk rock, estilo marcado pela banda Red Hot Chili
Peppers, mas que viu o máximo da crítica social, especialmente à questão política, no
funk metal das bandas Rage Against the Machine e Living Colour. Na Inglaterra, surge
o estilo chamado britpop, que teve bandas como Blur, The Verve, Stereophonics e
principalmente o Oasis como principais representantes. As bandas do estilo
conseguem um sucesso considerável, levando em conta suas vendas de CDs no
mundo inteiro.

Na década seguinte, com a decadência do grunge, o pop tomava o cenário


principal da música, além de haver um crescimento considerável da música eletrônica
e do rap. O estilo de rock que conseguiu se manter comercialmente no início da
década é o poppy punk. Criado na década anterior, mas, chegando ao auge nos anos
2000, foi representado principalmente por bandas como Green Day e The Offspring,
que conseguiam manter um apelo socialmente crítico em suas letras. Porém, com o
passar da década, outro estilo surge baseado no poppy punk, o emocore ou hardcore
emotivo. Com uma temática predominantemente adolescente, o estilo acabou
deixando de lado a crítica social. Outra grande manifestação social do rock nessa
década foi o crescimento da cena independente. Bandas como The Strokes, Arctic
Monkeys, Bloc Party, The White Stripes, Jet e outras surgidas sem o patrocínio de
grandes gravadoras, conseguem através de estúdios próprios, entrar na cena principal
da música junto com outros estilos mais comerciais e se tornarem fenômenos de
venda e de grande aceitação também por parte da crítica.

O produto em questão pretende não seguir a visão muitas vezes insuficiente


dada pela grande mídia brasileira a muitas vertentes do rock por não estarem
necessariamente inseridas na lógica comercial. Conforme o artigo “Interessa mostrar
que o metal tem cara feia”, de Adriana Farias e Bruna Barbosa:
A mídia hegemônica parece esquecer que o jornalismo cumpre uma
função social antes de ser um veículo de caráter comercial, e que a
objetividade e o equilíbrio são valores que alicerçam a boa
reportagem. Na verdade, o problema é de âmbito mais profundo. O
Brasil carece de um bom jornalismo cultural e, inclusive, sofre de
“agendismo crônico”, em que apenas são divulgados datas,
acontecimentos e horários dos eventos culturais. Não há produção
efetiva, não há crítica nessa área e o que se faz é mera publicidade
(BARBOSA; FARIAS, 2009).

E ainda citando o artigo acima mencionado, muitos eventos relacionados ao


rock e que são feitos para defender interesses sociais acabam não sendo tratados
com a devida importância pela grande mídia do Brasil:

Deve passar despercebido das telas e impressos da elite midiática,


da qual Jabor e Veja fazem parte, eventos como o “Live Aid”,
organizado em grande parte por astros do rock, objetivando arrecadar
fundos em prol dos famintos da Etiópia, a homenagem a Freddie
Mercury, ex-vocalista do Queen, reunindo bandas do metal e do hard
rock, a qual teve sua renda revertida para o combate a AIDS e a
reunião, em 2006, do Pink Floyd para angariar verbas destinadas ao
combate à fome na África (BARBOSA; FARIAS, 2009).

Como demonstrado desde o início da introdução, em vários momentos, o rock


serviu para trazer reflexão social e até mesmo para protestar a favor de causas
específicas. Apesar de também poder ser considerado um produto cultural, inserido
pela lógica de mercado no setor ideológico ou de entretenimento (CHACON, 1982, p.
17), o rock como forma de crítica, luta e negação de dogmas e imposições, existiu e
ainda existe. É com esta visão crítica do rock que o presente projeto trabalha.

Os objetivos do trabalho são de levar a conhecimento do público as formas


com que o rock foi usado como crítica social, mostrando quais foram e quais são as
suas causas, seus adversários, suas conquistas e até mesmo suas falhas. Utilizando-
se do alto alcance do veículo rádio, pretende-se fazer com que estas informações
cheguem a conhecimento do maior público possível e com linguagem simples para
que seja compreendido por este.

Também apontar que muitas das principais lutas do rock ainda estão presentes
na sociedade atual, mostrando, por exemplo, que as minorias representadas pelo
estilo durante as décadas anteriores ainda são vítimas de determinados tipos de
discriminação, ou seja, mostrar que a crítica ainda é válida.

O produto também tem como meta mostrar que o rock transcende a definição
de estilo musical, frisar que o rock desde seu ritmo e sua musicalidade até – e
principalmente – as suas ideias é um estilo que não estimula a passividade de seu
receptor. E, ao contrário de outros produtos relacionados ao tema, que muitas vezes
dão ênfase a bandas e artistas específicos, mostrar que, mesmo dependendo deles, o
rock é um movimento cultural que está além dos músicos que o compõem.

O próximo capítulo do trabalho trata sobre o rock. Primeiramente, uma breve


relação dele com o jornalismo e com a crítica, que visa justificar a criação do produto e
também mostrar qual o papel do jornalismo e o da música em geral dentro da crítica.
Em seguida, um traçado histórico da evolução do rock e as críticas sociais presentes
em cada uma de seus décadas de existência, baseado principalmente na análise dos
autores Paul Friedlander, Paulo Chacon e Simone Tinti.

O terceiro capítulo discorre a respeito de três temas centrais. Primeiro


especificamente do jornalismo, as funções dele relacionadas ao produto e suas
características essenciais, havendo as análises de Ciro Marcondes Filho. Em seguida,
o surgimento do jornalismo em rádio. Nessa parte há um breve histórico do surgimento
do rádio, para contextualizar o jornalismo feito no veículo, que é também definido. Por
último, as características do rádio como veículo de comunicação, seus diferenciais e
as especificidades do formato documentário dentro dele, destacando-se referências ao
autor Eduardo Meditsch.

O quarto capítulo é a descrição da primeira edição da série de documentários


“Um Solo de Protesto”. São feitas considerações bastante específicas acerca do tema,
dos entrevistados, da narrativa, dos diferenciais do programa, da trilha sonora e do
conteúdo em geral.
2 O ROCK

2.1 A RELAÇÃO DO ROCK COM O JORNALISMO E A CRÍTICA

Uma das principais funções do jornalista como profissional é trazer aos olhos
do público a crítica social, criando uma discussão sobre novas formas de se enxergar
a realidade a partir de um ponto de vista que não se submeta a favor da autoridade e
dos poderosos, mas combata as injustiças sociais geradas pelo sistema econômico
vigente. O jornalista deve criar um elo entre as diferentes realidades da sociedade.
Como cita Cremilda Medina: “sua função é estabelecer pontes na realidade dividida,
estratificada em grupos de interesse, classes sociais, extratos culturais e faixas até
mesmo etárias” (MEDINA, 1982, p. 22).

Com base nesse raciocínio, é trabalho do jornalista também levantar as


questões sociais existentes dentro das formas de expressão da arte e da cultura.
Paulo Chacon em seu livro “O que é Rock”, discute o papel da música na sociedade.
“Seu papel galvanizador é indiscutível, e a maior prova disso é a necessidade que o
sistema tem de censurá-la quando se vê duramente atingido (...)” (CHACON, 1982, p.
50).

Nesse trabalho especificamente, são trazidas as principais questões sociais


levantadas pelo estilo musical do rock durante as últimas seis décadas. Seria ingênuo
tentar glorificar o rock a ponto de dizê-lo como o único fator a gerar grandes mudanças
sociais, mas sim mostrar que – ainda parafraseando Chacon – o estilo serve como um
meio de catalisar e unificar vontades individuais. “o rockeiro exerce seu papel político
ao cantar ou compor, e nada mais pode ser pedido a ele” (CHACON, 1982, p. 52). Ou
seja, o rock, assim como muitos outros estilos musicais, tem em si um potencial para a
crítica.

A palavra “crítica”, neste trabalho, não deve ser entendida somente pela
definição que necessariamente a associa com reclamações geradas pela reprovação
de alguma atitude ou fato, mas também e principalmente no seu sentido original,
citado por Nicolau Sevcenko, derivada tanto do termo grego krínein, que se equivaleria
ao verbo decidir, como do termo em latim cernere, que além de decidir, significa
também “discernir”. Sevcenko também defende a importância da crítica,
especialmente neste momento da sociedade, a qual estaria vivenciando o fenômeno
denominado pelo autor como a “Síndrome do Loop”. Utilizando-se do brinquedo de
parque de diversões montanha russa e das sensações provocadas por ele como
metáfora para traçar o desenvolvimento científico, social e tecnológico da humanidade
desde o século XVI aos tempos modernos, Sevcenko afirma que a maior parte das
nações estaria passando pela última “atração” do brinquedo, ou seja, o loop, que
representa algo tão rápido e intenso que não se consegue acompanhar. Nesta
metáfora, Sevcenko explica como são recebidas de forma muitas vezes passiva as
novas invenções e suas implicações, sendo que os seres humanos não conseguem
acompanhar os ritmos dessas novas descobertas. Segundo o autor, este é o momento
em que a crítica em seu sentido original torna-se imprescindível. “neste momento
tumultuoso, em que a celeridade das mudanças vem sufocando a reflexão e o diálogo,
mais que nunca é necessário investir nas funções judiciosas, corretivas e orientadoras
da crítica” (SEVCENKO, 2002, p. 19).

Seguindo essa conclusão, o presente trabalhará especificamente com a crítica


social presente no rock.

2.2 A HISTÓRIA DO ROCK COMO CRÍTICA SOCIAL

Os princípios do rock datam da década de 1950, vindo da união de dois estilos


musicais principais nos EUA: o rhythm & blues e o country & western. O primeiro,
segundo Chacon, “é a vertente negra do rock n’ roll. É ali que vamos buscar quase
que exclusivamente (e só digo quase por espírito científico) as origens corpóreas do
rock” (CHACON, 1982, p. 24).

A sociedade americana da década de 1950, que era dominada por brancos,


anglo-saxões e protestantes, só passa a absorver o produto cultural da parcela negra
da população devido à visibilidade dos impactos negativos provocados pelas guerras.
A população americana passou a questionar um modelo de vida que obrigava o
alistamento e defendia uma postura de guerra internacional. E, como cita Chacon,
negar este modelo era uma atitude comum aos negros. Os demais nichos também
afetados pelo alistamento, especialmente o dos jovens, passa a aceitar também a
música negra como forma a demonstrar seu descontentamento (CHACON, 1989, p.
25).
O rhythm & blues trazia características que são as mesmas utilizadas para
denotar o rock na década de 1950: ritmo dançante e ao mesmo tempo agressivo, uso
da sensualidade, vozes fortes e principalmente o uso da guitarra elétrica ligada a
amplificadores.

O outro estilo que também formou as origens do rock foi o chamado country &
western, que, como afirma Chacon, é “a versão branca para o descontentamento dos
pequenos camponeses” (CHACON, 1982, p. 25). Apesar de não ter tido uma influência
no rock tão forte quanto a do rhythm & blues, o estilo teve nomes importantes como
Woody Guthrie, uma das influências iniciais de Bob Dylan, que viria a ser um dos
principais nomes da história do rock como veremos posteriormente.

O termo rock n’ roll foi inventado por um Disc-Jóquei da cidade de Cleveland,


Ohio, chamado Alan Freed. Freed via o quanto o rhythm & blues estava sendo aceito
entre os jovens e resolveu criar um nome que se relacionasse menos com a cultura
negra para ser mais consumido pelos brancos da época. Para isso, ele fez a junção de
duas gírias utilizadas para se referir ao ato sexual, o que também era mais um apelo
para atrair a atenção dos jovens. Também é pertinente a definição de Paulo Sérgio do
Carmo: “Surgido nos anos 1950, o rock foi um grito musical capaz de ser veículo do
descontentamento com um toque de irreverência, expressando as desesperanças e se
associando à delinquência juvenil” (CARMO, 2000, p. 30).

A banda considerada oficialmente – uma vez que esse fato é bastante


contestado - como a primeira de rock da história foi Bill Halley and his Comets, que
fez um grande sucesso na época com o clássico “Rock Around the Clock”. Além da
banda, grandes nomes do rhythm & blues fizeram sucesso entre os fãs do rock n’ roll,
como Chuck Berry e Little Richard. Outros nomes também surgem na mesma época
de Bill Halley, como Buddy Holly, Carl Perkins e Jerry Lee Lewis. Mas, a maior
representatividade do rock n’ roll veio com Elvis Presley, o dito “Rei do rock n’ roll”.

Elvis, como cita Chacon, era o que seu empresário Tom Parker chamou de “um
branco que cantava como um negro”. Levando em conta o racismo da sociedade
muito forte na época, Elvis tinha as características necessárias para ser a figura
musical mais popular dos anos 1950: branco, jovem, carismático e talentoso, Elvis
também inovava em seu jeito de dançar que espantava a parcela conservadora da
sociedade. Além de símbolo sexual e ídolo da massa jovem americana, Elvis se tornou
a imagem do roqueiro que não seguia regras.
Escutar rock n’ roll, na época, significava não seguir o que diziam os pais, os
políticos. Ouvir, cantar e dançar rock era uma forma do jovem de mostrar que não
estava realmente preocupado com antigos dogmas que guiavam a sociedade até a
época. Elvis foi o símbolo máximo disso, mas todos os cantores americanos de rock
dos anos 1950 poderiam ser utilizados como exemplo. E apesar de muitos deles, em
especial o próprio Elvis, terem tido um pesado envolvimento com as drogas, isso ainda
não era uma das máximas defendidas pelo rock como viria a acontecer na década
seguinte. Como cita Eric Clapton em sua autobiografia: “Naqueles tempos beatniks,
pré-hippies, parecia que tudo tinha a ver com a música. Drogas eram raras, e mesmo
a bebida era bastante moderada” (CLAPTON, 2007, p. 37).

Porém, no fim da década e no início dos anos 1960, os antigos ídolos do


rhythm & blues perdiam sua expressividade. Elvis, por sua vez, encontrava-se
“domesticado” pelas grandes gravadoras e fazia sucesso apenas com regravações e
músicas românticas. Além disso, para piorar a situação do rock n’ roll, Buddy Holly
morreu em 1959 em um acidente de avião que viria a matar ainda outros dois músicos
de rock: Ritchie Valens e JP Richardson, conhecido na época como “The Big Bopper”.
É importante ressaltar que, apesar de Elvis e os outros nomes do estilo terem chocado
a parcela reacionária da população, a crítica do rock da década de 1950 era bastante
ingênua.

No Brasil, o rock ainda não havia entrado no repertório da maioria dos cantores
nacionais. Houve uma versão da música “Rock Around the Clock” na voz da cantora
Nora Ney, em 1955 e, após isso, só no fim da década viriam músicas que se
assimilavam ao estilo com os irmãos Tony e Celly Campello, mas a crítica era bem
pouco visível em suas letras. Mas, muitos jovens da época - entre eles Raul Seixas -
ouviam e dançavam o novo ritmo “indecente” em seus bailes e festas, o que acabou
sendo mal-visto pelas autoridades que, em alguns momentos, chegaram a proibir o
ritmo nas reuniões de jovens.

Na década seguinte, a cena principal do rock passava a ser a Inglaterra. Como


cita Chacon, os ingleses tinham mais questionamentos para levar à música do que os
americanos, principalmente o colonialismo, a II Guerra Mundial, os costumes
vitorianos e o puritanismo.

O rock inglês dos anos 1960 era musicalmente mais elaborado que o
americano da década anterior, trazendo inicialmente como principais representantes
bandas como The Kinks, The Who, The Yardbirds (que seria a origem de integrantes
de outras grandes bandas como Cream e Led Zeppelin) e John and The Quarrymen
(que depois se tornariam os Beatles), The Animals, entre outras. Mas, o rock britânico
neste primeiro momento atingia quase que somente o público do país.

Poucos anos depois, duas bandas foram pioneiras em levar o rock inglês até
os EUA - que, como cita Chacon, tinha um mercado maior a ser explorado -, os
Beatles e os Rolling Stones. Ainda parafraseando Chacon, os dois grupos tinham duas
grandes características que lhes deram destaque: a capacidade de representar os
valores seu próprio tempo nas letras de suas músicas e a genialidade. Através de
clássicos como Yesterday, Help! (Beatles), Let’s Spend the Night Together e Jumpin’
Jack Flash (Rolling Stones), as duas bandas estouraram como principais nomes do
rock tanto na Inglaterra como no Reino Unido. Quando as duas bandas chegaram aos
EUA, o país estava com suas atenções voltadas à música folk, com grandes nomes
como Joan Baez, The Byrds e, principalmente, o jovem Bob Dylan. Dylan trazia para
suas músicas a crítica explícita. A batalha das classes operárias, a exploração contra
minorias e eventos isolados de racismo e violência eram contestados por Dylan, que
se tornava símbolo de protesto. Também no início da década de 1960 nos EUA surge
a banda Velvet Underground, liderada pelo guitarrista Lou Reed e financiada pelo
artista plástico Andy Warhol – criador da Pop Art -, que fazia um estilo de música
experimental que foi pouco valorizada na época, mas, com suas letras que tratavam
explicitamente sobre o tráfico e o uso de heroína, o Velvet Underground foi a principal
influência do que, na década seguinte, seria o movimento punk.

Como citado no documentário “A História do Rock”, Bob Dylan foi vaiado


quando, pela primeira vez, utilizou guitarra elétrica para tocar suas composições. Seus
fãs acreditavam que ele havia traído o folk original para fazer uso do produto cultural
britânico. Mas o fato de Dylan ter levado a guitarra elétrica para o folk e dos Beatles e
outras bandas inglesas terem levado a crítica de Dylan para dentro do rock foi um dos
principais influenciadores do que viria a ser a cultura Hippie.

O movimento hippie surgiu entre os jovens americanos, principalmente na


cidade de São Francisco, onde havia um número grande de bares e casas de shows
em que os músicos proeminentes da época faziam suas apresentações. De acordo
com o documentário “A História do Rock”, os hippies pregavam dogmas como o
contato e respeito para com a natureza, liberação sexual, a simplicidade no estilo de
vida, o uso de substâncias como a maconha, o LSD e cogumelos contendo
alucinógenos e, principalmente, a paz e o amor em vez da violência.

Os principais representantes musicais da cultura hippie foram o guitarrista Jimi


Hendrix, a cantora de blues Janis Joplin e o poeta e vocalista da banda The Doors,
Jim Morrison. Além deles, também outras bandas como Jefferson Airplane, Grateful
Dead, Santana e The Mamas and The Papas eram nomes importantes do estilo de
música que ficaria conhecido como acid rock, que tentava demonstrar através da
música experiências com o uso de LSD. Neste quesito, destaca-se Jimi Hendrix, o
primeiro guitarrista a usar efeitos de distorção com este objetivo. Bandas britânicas
que já haviam se consagrado no rock, como os Beatles, os Rolling Stones e o The
Who também se tornaram representantes do estilo no decorrer da década e, além
deles, surge em 1966 na Inglaterra o Cream, formado pelo guitarrista Eric Clapton, o
baixista Jack Bruce e o baterista Ginger Baker. Como citado por Chacon, o trio seria a
principal influência das bandas do estilo chamado rock progressivo, que ganharia
grande expressão na década de 1970.

No Brasil, a década de 1960 inaugurou o que se pode chamar de rock nacional


com a Jovem Guarda, movimento iniciado a partir das regravações dos irmãos
Campello. Neste primeiro momento, nada havia de contestação social em suas letras
e melodias. Os principais temas de suas canções, como aponta Paulo Sérgio do
Carmo, eram namoro, amor, roupas, carros e velocidade, sendo uma música de
entretenimento. Ainda parafraseando Carmo, o estilo deu origem a um programa
televisivo de mesmo nome o qual “preencheu um vazio consumista e encantou
também o universo da garotada, que passou a utilizar suas músicas para animar
festinhas de aniversário” (CARMO, 2003, p.56). A Jovem Guarda foi absoluta em
definir a moda entre os jovens, vendendo roupas e outros produtos ligados a ele. O
principal representante da Jovem Guarda foi Roberto Carlos, junto com Erasmo
Carlos, o “Tremendão”, Wanderléa, a “Ternurinha” e Sérgio Murilo, o “Broto Legal”.

Participando da produção de algumas músicas da Jovem Guarda, mas


apresentando um estilo de rock completamente alternativo e com uma crítica social e
cultural bastante presentes em suas letras, também surge na música a banda
Relâmpagos do Rock, da qual fazia parte o jovem Raul Seixas, que se tornaria um dos
maiores símbolos do rock nacional.

Apesar do estouro da Jovem Guarda, é importante ressaltar que, em 1961,


havia sido criado no Brasil o Centro Popular de Cultura (CPC), com a intenção de
impedir a alienação dos cidadãos através de uma espécie de “controle de qualidade”
da arte. Para o CPC, só era considerado arte aquilo que trazia à tona claramente as
questões sociais do país e também aquilo que se apoiasse unicamente nas bases
nacionalistas da cultura. Dentro desse contexto, dois movimentos surgem de frente
com essa idéia: a bossa nova, de João Gilberto e Nara Leão, que tinha influências do
jazz americano e, mais tarde, o Tropicalismo. Esse último, podendo ser considerado o
principal representante do rock no Brasil, principalmente pelo uso das guitarras
elétricas em sua estética musical. Apesar de sofrerem muitas críticas por parte do
CPC, os principais nomes do movimento, como Caetano Veloso e Maria Bethânia
acabaram trazendo novamente para a música brasileira a atenção de jovens que
haviam tido seu gosto tomado pelas bandas do exterior, especialmente os Beatles.
Quem também teve papel importante nesse sentido foi a banda Mutantes, formada por
Rita Lee e os irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista. Altamente influenciada pelo acid rock,
a banda intitulava seu estilo musical como rock psicodélico e pode ser considerada a
maior representante do rock brasileiro no exterior da história, sendo ativa até hoje com
uma formação alternativa. Todos estes artistas acabaram sendo de alguma forma
censurados, como Roberto Carlos e os Mutantes, ou até mesmo presos, como
Caetano Veloso e Gilberto Gil, durante a Ditadura Militar, que seria a principal
motivadora do protesto das bandas brasileiras de rock da década de 1980.

O principal papel social das bandas de rock na década de 1960, nos EUA, na
Europa e no mundo, foi de criar canções de protesto, principalmente contra a Guerra
do Vietnã (1959 – 1975), na qual muitos jovens americanos perderam a vida, levando
em conta o fracasso americano na mesma. Como também citado no documentário, ao
ver a derrota de seu país e a violência que a guerra representava, os jovens
americanos percebiam que os dogmas das instituições (exército, governo, família,
igreja, etc) estavam fracos e, sob muitos pontos de vista, errados. Vários festivais de
música como o de Monterey e o de Woodstock (que reuniu mais de quatrocentas mil
pessoas) foram realizados para celebrar o auge da cultura hippie. Dentro destes
festivais, o uso de drogas e o protesto social eram feitos tanto pelos artistas quanto
pela platéia de forma explícita, mostrando que não aceitavam o que lhes tentava ser
imposto pela sociedade. Toda essa crítica presente no rock acompanhava os diversos
atos revolucionários ocorridos pelo mundo. Entre eles, destaca-se a revolução cubana
de 1959, a revolta estudantil em vários países da Europa que acabou culminando em
Maio de 1968 na França, quando estudantes, auxiliados pelos membros do movimento
trabalhista, ocuparam a Universidade de Sorbonne em protesto ao presidente francês
Charles de Gaulle, exigindo mudanças no sistema educacional e nas condições de
vida e trabalho. Também é nessa época que surgem movimentos como o Black Power
(poder negro), o Flower Power (poder da flor, símbolo da cultura hippie) e os
relacionados à homossexualidade e aos direitos das mulheres.

Após atingir seu auge, a contracultura entrou em rápida decadência no fim da


década de 1960, impulsionada por quatro fatores principais, citados por Paulo Chacon:
primeiro, a morte de vários ídolos do rock relacionadas ao uso de drogas,
principalmente de Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Brian Jones (guitarrista
base e líder dos Rolling Stones) e Keith Moon (baterista do The Who). Segundo, a
separação dos Beatles, impulsionada por diversos fatores internos da banda. Terceiro,
o fracasso do festival de Altamont, que - entre outros sérios problemas como vaias por
parte da platéia que queria que o espetáculo fosse gratuito e ofensas dos artistas ao
público - resultou na morte de um jovem que tentou subir com uma faca ao palco
durante a apresentação dos Rolling Stones, que continuaram sua carreira mesmo sem
Brian Jones. O quarto, e talvez mais significante de todos, foi a série de atos do
americano Charles Manson, que liderou um grupo de jovens a cometer vários
assassinatos. Em alguns destes assassinatos, o grupo deixava escrito as palavras
“Helter Skelter”, nome de uma música dos Beatles que, segundo Manson, continha
mensagens subliminares da previsão e incentivo de uma grande guerra. Tudo isso fez
com que o rock terminasse com uma imagem violenta e enfraquecida na década de
1960 mesmo com todo o seu papel social durante ela.

Tendo em vista o término negativo do rock na década de 1960, para despertar


novamente a atenção do público, fez-se necessário um novo tipo de abordagem do
estilo. Para este fim, ganha força no início da década de 1970 o estilo chamado rock
progressivo. Influenciados por bandas bastante técnicas de rock dos anos 1960 como
o Cream, pelas óperas de rock como “Tommy” do The Who, pela música erudita e por
outras vertentes artísticas diversas (artes plásticas, cinema, dramaturgia, etc), as
bandas do estilo faziam uso experimental de diversas formas de captura sonora.

O principal nome deste novo estilo foi a banda Pink Floyd, fundada em 1968 na
Inglaterra pelos universitários Syd Barrett (guitarrista, compositor e vocalista) e Roger
Waters (baixista), também integrada inicialmente pelo baterista Nick Mason e pelo
tecladista Richard Wright. No final da década de 1960, a banda começou a ganhar
notoriedade devido a suas obras dentro do chamado rock experimental ou psicodélico.
Syd Barrett, inclusive, foi um dos guitarristas pioneiros em explorar efeitos de distorção
combinados com instrumentos pouco comuns ao rock (triângulos, sinos, xilofones,
etc).

De acordo com o livro “The Dark Side of the Moon: os bastidores da obra-prima
do Pink Floyd”, de John Harris, depois da saída de Barrett – devido ao uso abusivo de
LSD combinado com sua esquizofrenia que fez com que o resto da banda
considerasse impossível manter-se trabalhando com ele – e a entrada do novo
guitarrista David Gilmour, a banda iniciou seus trabalhos dentro do rock progressivo.
Waters, que se tornou o líder da banda, fazia uso de vários recursos de estúdio
anteriormente considerados secundários dentro do rock, além de produzir álbuns de
trilha sonora de filmes e utilizar efeitos sonoros diversos (barulhos de animais,
máquinas, seres humanos, etc) dentro de suas músicas. O Pink Floyd é citado aqui
com destaque devido a explícita e poderosa crítica social que Roger Waters fazia em
suas músicas a diversos setores da sociedade (governo, sistema educacional
americano, capitalismo, consumismo) e da própria humanidade. Mas, além do Pink
Floyd, outras bandas tiveram destaque no rock progressivo, como por exemplo o
Genesis, o Rush, o King Crimson, o Yes, o Uriah Heep e o artista solo Frank Zappa,
que, inclusive, chegou a criar, entre outras obras artística, um filme de Stop Motion
feito com massa de modelar chamado “Baby Snakes”, para o qual também produziu a
trilha a sonora constituída de vários efeitos inovadores. No Brasil, o progressivo é
representado pela banda Casa Das Máquinas, principal banda de rock do Brasil na
época.

Menos interessados em despertar a curiosidade do público que ainda tinha


certo preconceito com o rock devido ao fim da década anterior, mas, ainda assim se
popularizando rapidamente entre jovens roqueiros, surgia o hard rock. Tendo como
principais características uma sonoridade “pesada” devido aos fortes efeitos de
distorção e ao alto volume com que costumava ser tocado, o estilo passou a
representar a principal referência ao rock propriamente dito. Seus principais
representantes nessa época foram o Led Zeppelin (que posteriormente incluiria no
hard rock características de diversos outros estilos musicais como o Blues, o folk e até
mesmo o próprio reggae), o Deep Purple e o Black Sabbath. Esta última, graças a
suas letras que falavam com ironia e agressividade da igreja católica e protestante nos
EUA, foi a banda de hard rock que mais teve seu papel propriamente crítico dentro da
sociedade.

Além das bandas citadas, também se destacam o Kiss, o Aerosmith, o


Whitesnake, o Rainbow, o Van Halen, o Alice Cooper (que também pode ser
considerada uma banda de glam rock), o Blue Cheers, o Queen (que também tinha
características de vários outros estilos de rock como o próprio progressivo e também
destaca-se por ser uma das primeiras bandas a ter um homossexual – Freddy Mercury
- como líder e fazer sucesso), o AC/DC (primeira banda australiana de rock) e o Grand
Funk Railroad (que continuava a criticar a Guerra do Vietnã no início da década de
1970). O grande contingente de bandas do estilo serve para demonstrar a força que o
estilo ganhou entre os fãs de rock da década. Suas músicas não eram muito bem
aceitas pelas gerações mais velhas devido às suas letras, normalmente enfatizando
um estilo de vida onde as festas, a bebida e as aventuras sexuais eram exaltadas e o
trabalho e os estudos eram questionados. Além disso, uma linguagem cheia de gírias
e palavrões era bastante comum no hard rock, demonstrando mais uma vez o público
jovem ao qual o rock se destinava. No Brasil, o principal representante do hard rock,
apesar das inúmeras influências do blues, foi a banda Made in Brazil, formado em
1968 e em atividade até hoje. Vale lembrar que, na década de 1970, o Brasil ainda
passava pela ditadura militar e boa parte da produção cultural acabava sofrendo algum
tipo de censura. Resistindo a isso, Raul Seixas, juntamente com o autor Paulo Coelho,
cria e difunde a idéia da “Sociedade Alternativa”, a qual tinha como máxima o lema
“faz o que tu queres, há de ser tudo da lei”. Alegando que a Sociedade Alternativa se
tratava de uma conspiração que visava a criação de um movimento armado, o
Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), órgão da ditadura, sentenciou Raul
Seixas a prisão e tortura, para que ele entregasse os nomes de quem fazia parte do
movimento. Após o ocorrido, ele se exilaria nos EUA e só retornaria depois do sucesso
de vendas do seu disco “Gita”.

Além do hard rock e do progressivo, outro estilo de rock se destacou na década


de 1970: o punk rock. Os pioneiros do movimento punk dentro da música foram os
New York Dolls e os Ramones. Essas bandas americanas traziam uma sonoridade
veloz e simples, letras bastante agressivas e, principalmente, em contrapartida às
grandes estrelas dos outros estilos de rock da década, a aproximação dos músicos
com os fãs.

O que caracterizava o punk rock além da agressividade era a pouca


preocupação que a maioria dos artistas do estilo tinham em fazer músicas altamente
técnicas e de utilizar muitos recursos de gravação, quase que de forma oposta ao rock
progressivo. Além disso, como cita Paul Friedlander, assim como o movimento hippie
dos anos 1960, o punk foi além da música e influenciou centenas de jovens a
adotarem um estilo de vida (roupas, jeito de falar, forma de agir, etc) que contrariava
os dogmas das antigas instituições (FRIEDLANDER, 2006). Muitos dos jovens punks
eram adeptos ao uso de drogas, principalmente a heroína, a cocaína e anfetaminas.
No caso do punk, porém, as manifestações não eram sempre pacíficas como a dos
hippies, quase sempre incluindo depredações ao patrimônio público, surras, brigas e
roubos. Uma das questões mais combatidas pelos punks na Inglaterra era a
reverência à Rainha da Inglaterra e à corte da monarquia britânica. Inclusive, uma das
máximas do movimento punk era estabelecer a anarquia.
Apesar de ter sua criação nos EUA, o punk rock ganhou sua maior
expressividade na Inglaterra. Foi na segunda metade da década de 1970 que surgiram
as duas bandas que foram os maiores representantes do punk rock: O Sex Pistols e o
The Clash. Os primeiros se destacaram por seus ataques explícitos à corte real
britânica como em “God Save the Queen” (Deus salve a rainha) e “Anarchy in the UK”
(anarquia no Reino Unido). Como citado pelo ex-empresário da banda, Malcolm
McLaren, no documentário “Never mind the bollocks, here’s the Sex Pistols” (Não ligue
para idiotices, aqui estão os Sex Pistols), dirigido por Matthew Longfellow em 2002,
apesar das vendas do disco de mesmo nome, de 1977, ter tido sua venda e
distribuição proibidas em diversos estabelecimentos, as vendas da banda chegavam a
superar as de artistas já consagrados do pop. O The Clash, banda que apesar de ser
punk acabou fazendo uso experimental de diversos outros estilos musicais
(principalmente o rap, o funk e o reggae), destacou-se pela grande aceitação por parte
da crítica musical (diferentemente dos Sex Pistols) e também pelo seu forte ativismo
político ao escrever letras que atacavam o racismo, o imperialismo e o colonialismo
britânico. Foi o experimentalismo musical do The Clash dentro do punk rock que levou
ao surgimento de um estilo que combinava a música pop e o punk rock, o chamado
new wave. Além das bandas citadas, também destacaram-se no Punk: Iggy Pop and
The Stooges (que segundo Friedlander, foram grandes idealizadores do punk rock e
chegaram a incluir em suas músicas até mesmo um liquidificador), The Damned,
Televison, The Troggs, entre outros.

Com o início da década de 1980, dois dos principais estilos a atingir seu auge
nos anos 70, o Rock Progressivo e o punk rock, passavam a perder sua força na cena
musical. O primeiro principalmente pelo fim ou pela crise das principais bandas que o
representavam e o segundo, além do mesmo motivo, também por ter se subdividido
entre dois novos gêneros: O new wave e o hardcore. O new wave, como citado por
Simone Tinti no site Club Rock, era a combinação entre o punk e o pop. A crítica social
do punk ainda existia, mas, sem a agressividade anterior. Os principais elementos do
pop trazidos ao new wave foi o uso de sintetizadores e também o elemento do
videoclipe, que se tornava símbolo musical com a criação da Music Television (MTV)
em 1981. Devido ao uso de videoclipes, o new wave, apesar de ter a crítica social na
letra de suas músicas, é muitas vezes acusado de ser um estilo excessivamente
comercial. Seus principais representantes eram o The Police, os B-52’s, o Blondie, o
The Pretenders (as últimas três trazendo mulheres como líderes das bandas), Elvis
Costello, Talking Heads, Cars, Devo, Joe Jackson e Jam.
O outro estilo que cresceu nos anos 1980 claramente vindo do punk rock foi o
hardcore. Quase que em oposição ao new wave e seus derivados, o hardcore herdou
do punk principalmente as características de simplicidade musical, crítica social
agressiva, ritmo veloz e poucos recursos de gravação. Como lembrado por Simone
Tinti, muitos músicos de hardcore eram relacionados com gravadoras e estúdios
independentes, fanzines e outros gêneros da chamada “subcultura” ou cultura
underground. Os principais representantes do estilo eram os americanos Dead
Kennedys, que satirizavam o conservadorismo político e o fanatismo religioso da
época através de muitos sarcasmo nas letras de suas músicas, como por exemplo o
single “California Über Alles”, que fazia uma crítica explícita ao governador da
Califórnia na época. Além dos Dead Kennedys, outras bandas como Black Flag,
Discharged e Exploited também seguiam na mesma linha de letras e musicalidade.
Essa linha musical seria uma das principais influências ao que seria o movimento
grunge dos anos 1990.

Mas, além dos estilos derivados do punk, um estilo derivado do hard rock
ascendeu na década de 1980: o heavy metal. Ele já podia ser detectado em algumas
bandas do final da década de 1970 como o Motorhead e o Judas Priest, mas foi na
década de 1980 que essas duas bandas chegaram ao auge e várias outras do estilo
também surgiram, as mais notáveis sendo Iron Maiden, Def Leppard, Saxon e
Samson. O heavy metal começou a década sendo um estilo musical “Cult”, apreciado
por poucos, mas, em pouco tempo, acabou ganhando espaço entre o grande público
jovem de rock (FRIEDLANDER in TINTI, 2009). As principais características do estilo
era a grande preocupação técnica na composição musical, a notável velocidade com
que os instrumentistas tocam as notas e acordes (essas duas primeiras características
se comprovam ao vermos que várias técnicas de guitarra como o “Tappin’“ foram
criadas e desenvolvidas junto com a expansão do heavy metal), uma sonoridade
pesada e com vários efeitos de pedal, principalmente a distorção e o volume alto com
que as músicas eram gravadas e apresentadas. Depois que o heavy metal se
popularizou, vários outros estilos semelhantes a ele também foram ganhando espaço
na cena musical, como o hair metal, que trazia mais características em comum com o
hard rock do que o heavy metal e também sofria influências do glam rock,
representado por bandas como Poison, Mötley Crüe, Skid Row, Bon Jovi, Whitesnake
e o Guns n’ Roses, que, além de ter sido a banda de maior representatividade do
estilo, também foi a única com uma questão social visível dentro do hair metal ao fazer
críticas ao comportamento agressivo da polícia em algumas de suas canções. Além do
Hair Metal, ainda surgiriam o speed metal, caracterizado por solos ainda mais velozes
do que no heavy metal e representado principalmente pelo guitarrista Yingwie
Malmsteen, o black metal, estilo que criticou duramente a igreja e estava ligada a
rituais satanistas e outros cultos religiosos. Também o death metal, bem mais técnico
que o black metal e com letras menos ligadas a religião e mais à morte, tendo como
principais nomes o Cannibal Corpse, o Carcass e o Morbid Angel. Também surge o
subgênero do heavy metal que mais conseguiu atingir o público, o Thrash Metal, que
merece destaque por ter entre seus representantes no mercado internacional a banda
brasileira Sepultura, além de Pantera, Slayer, Anthrax, Megadeath e o principal nome
dentro do estilo e que depois acabou fazendo trabalhos também em outros ramos do
metal, a banda Metallica. O mais importante a se frisar a respeito de todos os estilos
de metal é que todos continuaram a existir, apesar de recebendo menos atenção,
durante as décadas seguintes, havendo o surgimento de várias bandas de metal na
década de 1990.

No Brasil, o rock da década de 1980 foi marcado por uma forte crítica, apesar
de, na maioria das vezes de origem burguesa, à ditadura militar que terminaria apenas
em 1985, após a manifestação popular na cidade do Rio de Janeiro pelas eleições
diretas para presidente (“Diretas já!”) que reuniu mais de quinhentas mil pessoas nas
ruas. Com o fim da ditadura, várias músicas anteriormente proibidas tiveram sua
veiculação liberada, assim como outros tipos de obras artísticas (principalmente livros)
e mercadorias, como roupas contendo frases consideradas subversivas. Com essa
nova realidade democrática que se instaurava no país, o rock nacional chegava na sua
“Era de Ouro”. Várias bandas com letras repletas de fortes críticas chegavam ao auge
de seu sucesso, entre elas Blitz, Titãs, Legião Urbana, Capital Inicial, Barão Vermelho,
Ira, Ultraje a Rigor, Plebe Rude, Paralamas do Sucesso, Engenheiros do Havaí, entre
outras. Também destaca-se a banda independente de punk rock Ratos de Porão.

A crítica social do rock nos anos 1990 se evidenciou no estilo americano do


grunge. Surgido num local onde pouco poderia se esperar uma reação tão agressiva,
a cidade de Seattle, no estado de Washington. De acordo com Eduardo Santana, “o
Grunge mantinha um discurso que pregava a revolta contra um sistema que estava
afundando a sociedade americana. Ia contra todos os padrões impostos pela indústria
da época” (SANTANA, 2004, p.15). Queixando-se contra os comportamentos
inicialmente tomados pela sua própria geração, o grunge iniciou-se como um
movimento alternativo, que ia contra os gostos do público da época, revoltando-se
principalmente contra o dogma de ser socialmente bem-sucedido no futuro, as bandas
Mudhoney, Tad, Melvins, L7, Soundgarden e principalmente o Nirvana, maior ídolo do
estilo, começaram a se destacar no cenário musical por fazer canções com as quais
se identificavam os jovens da época que, como afirma Santana “se viam ociosos
durante as longas tardes da provinciana cidade” (Santana, 2004, p.17). O tédio e a
despreocupação, combinados com várias referências ao uso de drogas, eram os
principais temas das bandas grunge e, por possuírem uma sonoridade interessante a
nível instrumental – que pode ser explicada, além do talento, pelo fato dos ídolos
grunge serem de classe média alta e terem acesso a bons instrumentos e recursos
musicais – acabaram sendo inseridos dentro da indústria cultural, especialmente com
a veiculação de suas músicas e videoclipes pela MTV. Nessa época, surgem bandas
de grunge de sucesso, tais como o Stone Temple Pilots e o Pearl Jam, esta última que
acabou sendo a banda grunge comercialmente mais bem aceita.

A chegada deste movimento inicialmente alternativo ao cenário comercial da


música fez com que muitos ídolos do estilo, principalmente o vocalista e compositor do
Nirvana, Kurt Cobain – que acabou sendo apontado pela mídia como uma espécie de
“herói da juventude” – sentissem que haviam caído em controvérsia. Após o suicídio
de Cobain em 1994, o estilo começa a perder sua força com o fim de muitas de suas
principais bandas, até entrar em declínio com a ascenção da música pop dentro da
mídia musical com a proximidade do ano 2000.

Também surgiu nos anos 1990 um estilo baseado no acid rock dos anos 1960,
carregando algumas ideologias da cultura hippie da época, mas, com menos
ingenuidade. Foi o estilo chamado neo-psicodelismo, trazendo como seu principal
representante o Smashing Pumpkins, banda que também sofreu várias influências do
rock gótico dos anos 1980, estilo da banda anterior do vocalista e guitarrista Billy
Corgan. Outras bandas também fizeram sucesso dentro do estilo foram o Cake, o
Black Crowes e o REM, que popularizou-se pelo clipe repetidamente veiculado na
MTV de sua música “Losing My Religion”.

Outro estilo que se popularizou na década de 1990 e possuía um claro nível de


protesto em suas canções era o funk rock ou funk metal. A banda que mais conseguiu
atingir boas vendagens dentro do estilo foi o Red Hot Chili Peppers. Mas as bandas
que também fizeram sucesso e possuíam o maior teor crítico (especialmente com
relação ao exército, ao governo e à classe rica, mas também a alguns dogmas
religiosos) em sua canções foram o Rage Against the Machine e o Living Colour, este
último que chegou a usar trechos de discursos políticos dentro de suas músicas para
enfatizar a sua posição de revolta.

No Brasil, os anos 1990 foram palco da criação da MTV Brasil, cerca de dez
anos após a MTV americana original. Apesar dos questionamentos a respeito da
validade de uma televisão voltada para a música, que inicialmente é feita para ser
ouvida e não vista, o canal foi importante para veicular as maiores bandas de rock
brasileiro surgidas na década, como Skank (que tinha várias influencias do reggae),
Jota Quest, Pato Fu, Raimundos (considerada a principal banda de punk rock do
Brasil), Mamonas Assassinas (que usavam o humor e a paródia junto ao rock), Charlie
Brown Jr e O Rappa (uma das mais importantes na crítica social). Também surgiu
nessa década o movimento musical e cultural do Mangue Beat, liderado por Chico
Science, que combinava o som da guitarra elétrica com ritmos musicais do Nordeste
brasileiro.

No início do novo milênio, o rock havia perdido boa parte de seu espaço para
outros estilos musicais como o rap, a música eletrônica e o pop. A maioria das bandas
de rock que conseguiram atingir o grande público musical no início desta década eram
fortemente impulsionadas por grande produtoras e gravadoras, possuindo um forte
apelo comercial para os jovens em suas obras. O principal estilo surgido a partir desta
lógica foi o chamado poppy punk, com várias influências no punk dos anos 1970 e no
hardcore dos anos 1980, mas, com a crítica social bastante amena, quando sequer
presente. Representado principalmente pelas bandas Green Day, The Offspring, MxPx
e Blink 182. Posteriormente, outras bandas acabam surgindo dentro do estilo, como o
Simple Plan e o Good Charlotte, mas, na metade da década, essas bandas acabaram
alterando seu estilo para o chamado emocore, ou hardcore emotivo, com letras
depressivas e de temática claramente adolescente.

Também bastante presente na cena musical da década de 2000 está o estilo


de metal surgido no fim da década de 1990, o melodic metal. Sendo um estilo
musicalmente cadenciado e muitas vezes tendo a sua frente vocalistas com grandes
habilidades líricas, o estilo inicia-se com bandas como Angra, Stratovarius e Blind
Guardian e posteriormente Nightwish e Evanescence.

Outra vertente do Metal, esta com a crítica bastante presente e atingindo seu
auge na década de 2000 é o new metal. Tendo como representantes bandas como
System of a Down, Körn e Slipknot, o estilo traz riffs menos técnicos que o Heavy
Metal original, mas, mais pesados do ponto de vista sonoro. A clássica banda de
thrash metal, o Metallica, lançou nesta época o disco “St. Anger”, o qual trazia
inúmeras características referentes ao new metal.

A banda por muitos considerada de rock e que mais teve sucesso comercial na
década de 2000 até o momento foi o Linkin Park. Apesar de trazer claramente o peso
de guitarra elétricas do rock na base de sua sonoridade, a banda também mescla em
todas as suas músicas elementos de vários outros estilos musicais, principalmente o
rap e a música eletrônica.

O estilo de música da década de 2000 que mais teve relação com os princípios
do rock foi o chamado indie rock. O nome vem do fato de que vários grupos musicais
do estilo iniciaram sua carreira como bandas de garagem, ou seja, no circuito
independente. Ganharam notoriedade no espaço musical por conseguirem fazer
grande sucesso mesmo sem o impulso por parte das gravadoras ou ter apelo
necessariamente comercial em suas músicas. O principal nome do estilo é a banda
americana The Strokes, que conseguiu se destacar comercialmente e ainda ser
apontada pela crítica como “a salvação do rock”, como cita Simone Tinti. Tendo como
principais influências as bandas de acid rock como Beatles e The Doors e também o
rock experimental do Velvet Underground, todas dos anos 1960, a banda trabalha com
uma sonoridade crua, trabalhada e bem aceita entre diferentes faixas etárias de
público. Esta sonoridade também é visível em outras bandas do estilo, como The
Donnas, The White Stripes, Kings of Leon, Jet, Arctic Monkeys, The Kooks e The
Killers. Mas, outras bandas também rotuladas dentro do Indie Rock, possuem
influências e sonoridades distintas. Entre elas pode-se citar o Franz Ferdinand, que
tem sua linha dentro do chamado art rock, estilo derivado principalmente de artistas do
Rock Progressivo e Experimental dos anos 1970, a banda mescla vários elementos
artísticos às suas músicas. Também existe o exemplo do Bloc Party, banda de indie
rock que segue a linha “pós-punk”, tendo várias influências do punk e do hardcore,
além de mesclar elementos sonoros de bandas góticas dos anos 1980, como o Joy
Division.

No Brasil, houve o crescimento da cena independente no Brasil com bandas


como Dead Fish, CPM22, Mukeka di Ratu, Sugar Kane e Forfun, muitas delas
conseguindo posteriormente contratos com gravadoras.

Como citado durante esse capítulo, há muito o que se explorar da crítica social
no rock além do que é pautado pelos veículos de comunicação de massa. Apesar de
ser, também, um “produto cultural” e estar inserido dentro da lógica de mercado no
setor ideológico ou de entretenimento, o rock como forma de protesto, de luta e de
negação aos dogmas sociais também existiu e existe, e é com esta visão crítica do
rock que o programa “Um Solo de Protesto” pretende trabalhar.
3 JORNALISMO E RÁDIO

3.1 CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DO JORNALISMO

De acordo com Ciro Marcondes Filho, a base para o jornalismo seria a “síntese
do espírito moderno: a razão impondo-se diante da tradição obscurantista, o
questionamento de todas as autoridades, a crítica da política e a confiança irrestrita no
progresso, no aperfeiçoamento contínuo da espécie” (MARCONDES FILHO, 2002, p.
09); apesar deste valor, segundo o autor, ter em muito se dissipado com a queda do
discurso humanista em eventos como os que ocorreram em Auschwitz - onde judeus
foram condenados aos campos de concentração nazistas - e em Hiroshima - cidade
onde ocorreu o primeiro bombardeio atômico da história - e também com o aumento
do poder de sedução da mídia em decorrência do crescimento da influência do
discurso televisivo. Marcondes Filho também aponta que o surgimento do jornalismo
se relaciona com eventos tais como a Revolução Francesa (apesar de já existir antes
dela) e da desconstrução do poder atribuído às Igrejas e universidades, já que “o
controle do saber e da informação funcionava como forma de dominação, de
manutenção da autoridade e do poder, assim como facilitava a submissão e a
servidão” (MARCONDES FILHO, 2002, p. 11) e o jornalismo acaba se tornando uma
forma de divulgação e propagação do saber, provocando uma crise no poder papal.
Como lembra Michael Kunczik, para defender-se do poder do jornalismo, a alta
hierarquia da Igreja Católica institui o primeiro registro que se tem de censura a ele, ao
proibir qualquer publicação que não passasse pela avaliação da corte papal, a
chamada Cúria (KUNCZIK, 2001, p.24).

Ainda que a característica do jornalismo de facilitar o acesso a documentos,


escrituras, informações, ou seja, ao saber de forma geral, seja inerente ao chamado
por Marcondes Filho de “primeiro jornalismo”, ocorrido apenas no início da atividade,
essa função ainda é um dos motivos pelos quais o jornalismo ainda é considerado
uma profissão legítima: tornar a informação acessível a um maior público. Em sentido
geral, o jornalista é definido por Walter Donsbach como quem “está envolvido na
formulação do conteúdo do produto da comunicação de massa, seja na reunião, na
avaliação, na apuração, no processamento ou na divulgação de notícias, nos
comentários ou no entretenimento” (DONSBACH, 1987, apud KUNCZIK, 2001, p.16).
Kunczik também define as principais características da profissão do jornalismo:

(...)pode-se identificar dois tipos de normas jornalísticas profissionais:


as normas técnicas (obtenção rápida de notícias, habilidade para
redação e edição, etc.) e as normas éticas (obrigação para com os
receptores, valores como a responsabilidade, a imparcialidade, o
cuidado, a justiça, a objetividade, etc.) (KUNCZIK, 2001, p.37).

Conclui-se então que o jornalismo possui características essenciais que o


definem como atividade. Essas mesmas características, descritas anteriormente, são
adotadas pelo produto tratado neste trabalho.

3.2 FUNÇÃO SOCIAL DO JORNALISMO E SEU PAPEL NA MÍDIA

Há que se discutir aqui também a verdadeira função do jornalista.


Parafraseando Thiago Guimarães, é impossível ignorar a influência do profissional de
comunicação no cotidiano dos seus receptores. O autor também discorre sobre a ética
da profissão:

Do ponto de vista ético, o jornalista tem para com a sociedade a


responsabilidade de: auxiliá-la em suas decisões, enriquecê-la
culturalmente, colaborar com o fortalecimento da cidadania, divulgar
aquilo que de alguma forma possa contribuir para a ela, denunciar o
que possa vir a ser prejudicial e, sobretudo, se responsabilizar por
tudo o que divulga (GUIMARÃES, 2009).

Seguindo este raciocínio, Guimarães também afirma que há a necessidade de


sempre manter os conceitos éticos ao se exercer a profissão de jornalista, nunca
privando o público de opiniões importantes para a sua formação crítica perante a
realidade.
Atualmente, porém, é produzido o chamado quarto jornalismo, definido por
Marcondes Filho como tendo uma grande preocupação em causar impacto visual e em
ter velocidade de informação, aspectos altamente influenciados pela mundialização ou
globalização, fenômeno do qual a comunicação faz parte e, mais que isso, acaba
sendo veículo de sua legitimação. Além das características técnicas desse fenômeno,
a globalização também gerou transformações no próprio modelo de comunicação,
conforme citado por Jesús Martín-Barbero. Um dos efeitos disso, segundo Milton
Santos, citado por Martín-Barbero, é que o mercado se torna a única dimensão
realmente mundial, e ele, em vez de unir os diferentes espaços do mundo, acaba na
verdade unificando os desejos de consumo. “E atualmente, o que está unificado em
nível mundial não é uma vontade de liberdade, mas sim de domínio, não é o desejo de
cooperação, mas o de competitividade” (MARTÍN-BARBERO in MORAES, 2003, p.
58). Além disso, o profissional de jornalismo acaba tendo sua prática limitada e/ou
submetida à corporação jornalística para a qual trabalha.

O jornalismo das grandes corporações de mídia faz parte do processo


comunicacional global da atualidade. Conforme citado por Dênis de Moraes, estas
corporações têm o poder de incentivar o consumo e fazer com que pessoas de
diferentes partes do mundo aceitem-no como um valor impossível de ser abandonado.

Não apenas legitimam o ideário global, como também o transformam


no discurso social hegemônico, propagando visões de mundo e
modos de vida que transferem para o mercado a regulamentação das
demandas coletivas. A retórica da globalização intenta incutir a
convicção de que a fonte primeira de expressão cultural se mede pelo
nível de consumo dos indivíduos. Como se somente o mercado
pudesse aglutinar o que se convencionou chamar de organização
societária (MORAES, 2003, p. 187).

Moraes também discute sobre o papel da mídia atual na legitimação do sistema


econômico vigente:

A chamada grande mídia fabrica o consenso sobre a superioridade


das economias abertas, insistindo que não há saída fora dos
pressupostos neoliberais. O eixo ideológico consiste em enquadrar o
consumo como valor universal, capaz de converter necessidades,
desejos e fantasias em bens integrados à ordem de produção
(MORAES, 2003, p. 188).
Martín-Barbero, acerca do tema, conclui que a cultura das maiorias é produzida
e reproduzida pelos meios de comunicação de massa, formando uma espécie de
identidade coletiva dos seus receptores em narrativas veiculadas por esses meios,
relacionadas e subordinadas ao mercado e ao consumo (MARTÍN-BARBERO in
MORAES, 2003). José Arbex Junior evidencia o jornalismo como um dos mecanismos
utilizados pela mídia, falando de suas características:

Ao tratar as notícias como “produtos”, sujeitos à “lei do mercado”, a


mídia recorre ao sensacionalismo, ao sexo e à erotização precoce
das crianças, “glamouriza” o crime e cria estratagemas de sedução
dos leitores e espectadores. O “mundo do espetáculo” ou a
“espetacularização do mundo” atenua ou até abole as fronteiras entre
os gêneros “jornalismo”, “entretenimento” e “publicidade” (ARBEX
JUNIOR in MORAES, 2003, p. 385).

Na sequência, Arbex Junior aponta que a mídia produz jornalismo em formato


de novelas e novelas se pretendendo como documentários e reportagens sobre
movimentos sociais e problemas socioeconômicos, o que abre várias possibilidades
de manipulação especialmente em países de elevado índice de analfabetismo
funcional, como o Brasil. O efeito disso são as visões estereotipadas do mundo: a
violência é atribuída somente a certos locais ou pessoas vindas destes locais,
especificamente as favelas, o crime é sempre feito por narcotraficantes perversos que
destroem sonhos de pessoas da elite, homens homossexuais são estereotipados
como afeminados, membros de movimentos sociais sempre como malfeitores e há
uma clara valorização dos personagens ricos, brancos, heterossexuais e que
convivem em ambientes de elite, além da homossexualidade feminina ser mostrada
sempre de forma erotizada, como algo feito para saciar desejos heterossexuais
masculinos, entre outros exemplos. A mídia consegue fazer – e faz - no imaginário
coletivo, através do seu efeito de realidade - com que essas representações pareçam
verdadeiras e legítimas.

O produto tratado nesse trabalho pretende diferenciar-se do jornalismo da


grande mídia pela preocupação em trazer as questões sociais do rock, apontando o
valor da contracultura e da negação dos dogmas e valores pré-existentes e vigentes,
deixando claro que muitas dessas questões sociais ainda estão presentes na
sociedade e mostrando a importância da juventude na manifestação pelo desejo de
mudança e também que é possível ir contra o sistema mostrado na grande mídia
como único e insuperável. E ao estimular a não-passividade dos receptores perante a
realidade, - da qual o monopólio da grande mídia faz parte - o produto também procura
auxiliar indiretamente na luta pela democratização da comunicação.

3.3 O SURGIMENTO DO JORNALISMO EM RÁDIO

De acordo com o autor Eduardo Meditsch (2001), o uso jornalístico do rádio só


ocorreu muitos anos depois de seu surgimento. Até porque, em seu início, era um
meio de comunicação destinado unicamente a uma elite que pudesse importar os, na
época, caríssimos aparelhos receptores. Apesar da história do rádio ser repleta de
controvérsias, não cabe a aqui analisar de forma aprofundada seu surgimento e
descobrimento, mas, em 1870 a existência teórica de ondas eletromagnéticas foi
demonstrada pelo físico inglês James Clerk Maxwell e sua existência empírica dezoito
anos depois pelo alemão Heinrich Hertz, cujo nome serviu para batizar as ondas
eletromagnéticas de hertzianas. Também acredita-se que as primeiras transmissões
via ondas hertzianas tenham sido feitas pelo croata Nikola Tesla, em 1893 - enviando
um sinal sonoro sem fio -, pelo brasileiro Leopoldo Roberto Landell de Moura no Brasil
no mesmo ano e no ano seguinte pelo italiano Guglielmo Marconi, a quem a patente
da invenção radiofônica é atribuída. A primeira transmissão de voz é atribuída ao
canadense Reginald Aubrey Fessenden, no Natal de 1906.

Apesar disso, nessa época nada se discutia sobre o uso do rádio como meio
de comunicação de massa. Pode-se dizer que esse uso surgiu de uma série de
técnicas, conforme cita Meditsch:

(...)não é adequado identificar o invento da comunicação sem fio com


o surgimento do rádio como meio de comunicação de massa. Não foi
o invento de uma técnica que marcou a sua criação, mas o invento de
um determinado uso social para ma constelação de técnicas (a
eletricidade, o áudio, a telefonia, transmissão por ondas, etc.), que se
cristalizaria numa nova instituição (MEDITSCH, 2001, p. 33).
Quem concebeu a ideia do rádio como utensílio doméstico, ainda de acordo
com Meditsch, foi o funcionário de Marconi, David Sarnoff, que em 1912 transmitiu a
lista de sobreviventes do naufrágio do Titanic. Mas apenas no início dos anos 1920 se
contempla a proposta de uma transmissão regular por Frank Conrad, funcionário da
empresa americana Westinghouse, que produzia os aparelhos receptores. Nesse
mesmo ano, patrocinada pela Westinghouse, surge a primeira emissora de rádio
profissional da história, a KDKA, que noticiou em tempo real o resultado das eleições
americanas juntamente com jornal local, o Pittsburgh Post. Aí surgia o interesse pelo
uso jornalístico do rádio.

Ainda de acordo com Meditsh (2001), em 1924, várias empresas jornalísticas já


possuíam suas próprias emissoras sob a premissa de que elas impulsionavam a
venda de jornais impressos. Poucos anos depois, com a queda da bolsa e a recessão
econômica, a disputa pela publicidade faz com que várias limitações sejam impostas
às empresas jornalísticas, mas essas limitações são vetadas após a Segunda Guerra
Mundial, reconhecida sua utilidade social e política, havendo na década de 1930 a
profissionalização do jornalismo e da publicidade no rádio. Desde então, o jornalismo
permanece na programação radiofônica até hoje. “Em muitos países, Portugal e Brasil
incluídos, todas as emissoras de rádio são obrigadas por lei a transmitir notícias (o que
varia é o grau de exigência e de cumprimento da lei)” (MEDITSCH, 2001, p. 39).

Dentro do rádio, o jornalismo adquire características que o diferenciam do de


outros veículos. Algumas delas, principalmente a instantaneidade, não serão tratadas
aqui pelo fato de o produto ser um radiodocumentário, que não tem essa característica
por sua forma de narrativa, que será tratada no item 2.5. Mas, Emilio Prado define
uma das características da informação radiofônica que será usada como base na hora
de fazer o produto aqui tratado e, mais que isso, define a importância do rádio na
transmissão de informações:
(...)sua capacidade de se comunicar com um público que não
necessita uma formação específica para decodificar a mensagem.
Este fato tem importância no caso de um público que não sabe ler,
mas, sobretudo, adquire maior importância para todos aqueles que
não querem ou não têm tempo para ler. Assim, o rádio tem um papel
informativo relevante nas sociedades subdesenvolvidas, com uma
porcentagem elevada de analfabetos. Este papel torna-se ainda mais
importante nas sociedades mais desenvolvidas, nas quais a
organização do tempo obriga aos buscadores de informação a
procurá-la no rádio (PRADO, 1989, p. 28).

Com essa característica, o uso do rádio para transmissão de informação


jornalística continua justificado nos dias atuais.

3.4 CARACTERÍSTICAS DO VEÍCULO RÁDIO

O veículo rádio foi o escolhido para a realização desse produto. O poder de


influência do rádio mostra-se principalmente nas décadas de 1930 e 1940, quando a
televisão ainda não era um meio de comunicação popularizado. Conforme citado por
Valci Zuculoto no artigo “Os Intelectuais Diante do Rádio nos Anos 30 e 40” (in
MEDITSCH, 1998), na década de 1930 existiam mais de 40 milhões de dispositivos
receptores de rádio no mundo, o que representava um número muito significativo para
a época. Também é nessa década que incorporam-se de fato ao rádio o jornalismo e a
publicidade e que o rádio se torna meio importante de entretenimento, existindo brigas
por audiência entre emissoras e programas de entretenimento pré-planejados.

Para confirmar a influência do meio radiofônico nessa época, pode-se observar


que nela ocorreram os fenômenos mais importantes ligados ao rádio e sua capacidade
de interagir com as massas (ZUCULOTO in MEDITSCH, 1998). Nos EUA, Orson
Welles consegue transmitir via rádio sua adaptação de “A Guerra dos Mundos” de H.
G. Wells de forma tão verossímil utilizando os recursos do veículo que fez com que
boa parte de sua audiência acreditasse que se tratassem de eventos reais. Na
Alemanha e na Itália, Adolf Hitler e Benito Mussolini conseguem principalmente
através do rádio mobilizar as massas da população de seus países a aderir ao
movimento nazi-fascista. E até mesmo no Brasil vê-se o rádio sendo utilizado como
forma de politizar os ouvintes para que aceitassem e aderissem ao movimento
populista de Getúlio Vargas. Apesar da influência do rádio ter decaído
precipitadamente após a popularização da televisão como meio de comunicação de
massa, os eventos descritos anteriormente demonstram que o meio tem o poder de
influenciar o ouvinte como um difusor de mudanças nas relações de poder, teoria
defendida pelo autor Bertolt Brecht, citado na bibliografia.

Além do poder de influência, o rádio também foi escolhido por algumas


características comunicacionais relativas à própria estética do meio. A primeira delas é
a mobilidade do veículo. Por ter aparelhos receptores pequenos e de fácil transporte e
alocação, o rádio pode ser ouvido em diferentes locais, ambientes e situações, como
por exemplo em casa, em outros ambientes fechados, dentro de meios de transporte,
etc.

Outra característica do veículo decisiva para sua escolha foi a heterogeneidade


do seu público, ou seja, “a capacidade do rádio de ser entendido por um público muito
diversificado, por não exigir conhecimento especializado para a decodificação e a
recepção nas condições mais diversas...” (PRADO, 1985, p. 18). O produto pretende
se direcionar para diferentes classes sociais, por isso esta característica se faz
imprescindível.

Além disso, uma das peculiaridades deste veículo muitas vezes considerada
negativa, que seria a falta de uma percepção visual da mensagem, como citado por
Emilio Prado, “dá origem a outra característica positiva, que é a capacidade de
sugestão que exerce sobre o ouvinte, que tem que criar mentalmente a imagem visual
transmitida pela imagem acústica” (PRADO, 1985, p. 19). O produto pretende explorar
este viés positivo da falta de recursos visuais do rádio, utilizando de forma inteligente
recursos sonoros que farão parte do produto, sem deixar que eles influam na
qualidade e objetividade da informação transmitida.

Outra consequência positiva da falta de informação visual no rádio e que será


explorada pelo produto é a possibilidade de se realizar outras tarefas enquanto se
escuta o rádio, uma vez que ele exige apenas a audição de seu receptor.

Também será levada em conta pelo produto em questão o fato de que o rádio
tem características de um meio que “se ajusta ao ouvinte, o de meio que se deixa
reger pela cotidianidade de seus receptores, definindo-se como acompanhante e
criado” (MEDITSCH, 2005, p. 272).

Mas o principal fator para sua utilização é o defendido por Rudolf Arnheim
(apud ZUCULOTO in MEDITSCH, 1998), citado em “Rádio e Pânico”, de que o rádio
pode ser visto como um notável meio de expressão artística da música, uma vez que,
segundo a lei geral da economia na arte, ela é feita para somente ser ouvida, fazendo
com que qualquer efeito visual – como videoclipes ou até mesmo a imagem dos
músicos numa apresentação ao vivo - que a ela seja adicionado possa se tornar um
desvio de sua real expressão artística. “E o rádio, por sua estética que prescinde
totalmente do visual, trabalhando única e exclusivamente com o audível, tem potencial
para seguir a risca essa lei” (ZUCULOTO in MEDITSCH, 1998, p. 125).

3.5 O DOCUMENTÁRIO EM RÁDIO

O formato radiojornalístico escolhido para abordar o rock usado como forma de


crítica social foi o radiodocumentário, principalmente devido a extensão desse tipo de
formato e do tema. Esse aspecto é muito bem tratado por Thaís Regina Machado em
seu trabalho de conclusão de curso “Alta Prioridade”:

Contando com um espaço de tempo superior a outras produções, o


documentário tem mais liberdade para ousar e testar novas
tendências. Ele abre precedentes para uma cobertura mais ampla e
detalhada, oferecendo tempo e recursos para inserir várias fontes de
informação, efeitos e dados, que, em outras produções, ficariam
restritas devido ao tempo da programação (MACHADO, 2005, p. 35).

A escolha também foi feita pelo formato permitir um maior uso de efeitos,
elementos e fundos sonoros que se fazem indispensáveis em um tema no qual a
música é elemento predominante.

Conforme citado por Paul Chantler e Sim Harris, na hora de construir um


documentário de rádio é necessário ter em mente que muitos sons podem ser mais
interessantes e até mesmo informativos do que as palavras, ou seja, o uso de
recursos sonoros diversos é uma das chaves para um radiodocumentário de qualidade
(CHANTLER; HARRIS, 1992).

Outro ponto relevante é o nunca esquecer que o mais importante em


programações radiofônicas longas, como o caso do documentário, é a presença do
fator humano, de pessoas, fazer o que as leva ou levou a tomar certos
comportamentos, o que acontece com elas, qual a participação delas no todo. Como
cita o autor Robert McLeish:

Embora estatísticas e fatos históricos sejam importantes, o elemento


crucial é o ser humano. Deve-se, portanto, realçar a motivação e
ajudar o ouvinte a entender por que certas decisões foram tomadas e
o que faz certas pessoas se comportarem de determinada maneira
(MCLEISH, 2001, p. 192).

Como há limite máximo de tempo de 30 minutos cedido pela Universidade


Positivo para cada documentário, é imprescindível selecionar cuidadosamente o
material informativo recolhido nas sonoras para que o produto não fique superficial
demais. E também é necessário ter cuidado para que não haja desvios dentro do tema
abordado. Conforme cita McLeish: “a regra é limitar o material a um objetivo
declarado, sem deixar que se torne difuso e se espalhe por outras áreas” (MCLEISH,
2001, p.192).

A respeito disso, Chantler e Harris também comentam que seria um erro


comum tentar colocar informação demais dentro do documentário, por isso a
necessidade de escolher apenas os sons e as sonoras que realmente tenham o que
acrescentar ao produto e de preferência surpreendam o ouvinte. Segundo os autores,
seria imprescindível fazer o “ouvinte compreender que você está transmitindo
informações importantes e não deixar que ele se distraia. Se você tiver em mãos
algum material que aparente ser enfadonho, deixe-o fora” (CHANTLER; HARRIS,
1992, p. 166).

Os radiodocumentários podem ser feitos com a presença de um narrador ou


sem. O produto aqui fundamentado conta com a presença do narrador com o objetivo
de assegurar uma sequência lógica aos diversos aspectos do tema unindo
informações, identificando entrevistados – uma vez que, caso não haja narrador seria
obrigatório uma auto-identificação da fonte ou a voz do narrador na própria entrevista
para identificá-la - apresentando dados estatísticos e, através de uma boa construção
narrativa, suscitando o interesse do espectador/ouvinte.

McLeish também aponta a importância do uso de sons ambientes das


entrevistas e relacionados ao tema em um documentário de rádio pois, além de ajudar
na criação de um clima mais apropriado, permite que ouvintes que conheçam o
ambiente em questão reconheçam uma autenticidade e então vejam autoridade no
documentário em questão. E o uso de sons não-autênticos, ou seja, representações
de sons reais são defendidos pelo autor, salvo que não sejam usados com intuito de
enganar o ouvinte e fazê-lo pensar que são sons legítimos. “Fundamental é que a
compreensão do ouvinte sobre o que está ouvindo não seja influenciada por um
motivo oculto por parte do radialista” (MCLEISH, 2001, p. 195).

O uso da música em documentários de rádio é defendido pelo mesmo autor,


principalmente para assuntos relacionados à música, como seria o caso desse
produto. Segundo ele, a música ajuda o narrador a criar corretamente uma perspectiva
histórica dos acontecimentos.

Os autores Chantler e Harris (1998) também citam a importância de começar a


fazer um documentário com antecedência, por se tratar de uma produção extensa e,
ainda assim, precisar estar pronta antes da data de transmissão para que se possa
fazer uma análise do resultado final.

Voltando a parafrasear McLeish (2001), depois do documentário pronto, é


preciso que o produtor tente ouvir o produto como alguém que não tem o
conhecimento aprofundado do tema como ele precisa ter. É necessário desconstruir
as informações e analisar se o conteúdo está compreensível, didático e interessante
para um leigo que não estudou o assunto ou, muitas vezes sequer possui interesse
prévio.

Também é oportuno salientar que os entrevistados de um radiodocumentário


colocam seu nome em exposição quando aceitam participar dele. Assim como em
todo trabalho jornalístico, há que se preservar a veracidade das informações obtidas
sem tirá-las de contexto, truncá-las ou utilizá-las de forma eticamente indevida, uma
vez que se está trabalhando com a voz e, consequentemente com o nome e a
reputação dos entrevistados.

Por último, cabe dizer que o formato radiodocumentário é pouco explorado


pelas emissoras de rádio atualmente principalmente pelo tempo necessário para sua
realização fora do ambiente da rádio somado ao tempo que levaria ocupando um dos
estúdios da emissora, indo contra a lógica de uma das principais características do
veículo rádio, a instantaneidade. Ainda assim, a falta de documentários de rádio pode
ser considerada uma falha para o meio, pois o formato é uma das principais formas de
se explorar uma série de recursos sonoros que trabalham com o imaginário do
ouvinte, que é o maior diferencial radiofônico em relação aos demais meios de
comunicação, como o televisivo e o impresso.
4 O PRODUTO

A primeira edição da série de documentários de rádio “Um Solo de Protesto”


tem aproximadamente 30 minutos de duração e se presta ao objetivo de apontar a
importância social do estilo e a crítica social presente nele durante a década de 1950.

Atualmente, o documentário é um formato muito pouco explorado pelo


radiojornalismo em geral, o que é reflexo de uma sociedade onde a velocidade das
informações e avanços tecnológicos - tida como sinônimo de desenvolvimento –
ultrapassa a da capacidade humana de reflexão e compreensão do todo, do contexto
em que essas informações e avanços surgem, temas que são abordados e
aprofundados dentro de um documentário, conforme citado no item 2.5 do capítulo
anterior.

De acordo com o historiador Nicolau Sevcenko, a sociedade como um todo


estaria passando desde a modernidade pelo que ele chama de “Síndrome do Loop”,
utilizando-se da metáfora da montanha-russa, em que as transformações
microeletrônicas ocorrem numa escala muito mais elevada do que as mudanças
ocorridas em períodos como a Revolução Industrial e a Revolução Científico-
Tecnológica, na metáfora vistas como as primeiras descidas do brinquedo. Mas, ainda
de acordo com o autor, uma construção crítica – palavra derivada do termo grego
krínein, que se equivaleria ao verbo decidir, e do termo em latim cernere, que além de
decidir, significa “discernir” – é imprescindível. “Neste momento tumultuoso, em que a
celeridade das mudanças vem sufocando a reflexão e o diálogo, mais que nunca é
necessário investir nas funções judiciosas, corretivas e orientadoras da crítica”
(SEVCENKO, 2002, p. 19). A partir desse raciocínio, evidencia-se o próprio formato do
produto como um diferencial jornalístico e mercadológico.

Outra tendência atual é a globalização de uma sociedade cada vez mais


“icônica”, isso é, cada vez mais representada por imagens que possuem uma relação
de semelhança com o objeto que representam, fazendo com que a aparência e a
imagem em si seja tratada como elemento principal das relações sociais e individuais.
Nesse sentido, um produto destinado ao rádio, pela própria estética do veículo, não
segue essa tendência, pois não trabalha com imagens e, portanto, não estabelece
uma relação icônica entre a mensagem e o receptor.
Os entrevistados do documentário dividiram-se entre os relacionados à música
e os especialistas em outros campos do conhecimento. Os primeiros foram: Paulo Juk,
baixista da banda curitibana Blindagem, Carlos Augusto de Oliveira, dono da antiga
loja de discos de rock Jukebox e ex-apresentador de programas sobre blues na rádio
Paraná Educativa e Lúcio Lowen, professor de guitarra e violão da escola Cantabile.
Os entrevistados especialistas foram: Marcos Dias de Araújo, mestre em História pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Patricia Marcondes de Barros, doutora em
História e Sociedade pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). As entrevistas
foram feitas em gravadores digitais ou em estúdio, o que permitiu que os arquivos
fossem abertos em qualquer computador e, por isso, a seleção dos trechos utilizados
foi feita em locais diferentes antes da edição. O roteiro foi então produzido e o
programa editado conforme as instruções.

É importante ressaltar que todos os entrevistados relacionados à música e


utilizados no documentário são curitibanos e/ou atuam em Curitiba. O objetivo disso é
aproximar o ouvinte curitibano do tema, mostrando que pessoas que de alguma forma
fazem parte da história do rock e vivenciaram a experiência de ser roqueiro, agora
estão inseridas em um contexto muito próximo ao do ouvinte. Normalmente, quanto
maior a aproximação com o tema veiculado na mensagem, maior o interesse do
receptor.

Há também algumas considerações acerca da trilha sonora. Ela foi


cuidadosamente selecionada para estar combinada à informação oral do
documentário, seja por parte do narrador, seja por parte dos entrevistados. Por
exemplo, num momento em que o narrador discorre sobre Bill Halley, a música usada
de fundo musical é o principal sucesso do músico, “Rock Around the Clock”. Ou
também, quando o entrevistado Marcos Araújo irá comentar a influência do country no
rock, a música que precede suas palavras é um rock bastante influenciado pelo
country. E de forma geral, todas as músicas utilizadas são de artistas que tiveram
importância dentro da história do rock. Como os fundos musicais dos programas
jornalísticos em geral são normalmente baseados na trilha sonora usual desses
programas e nos barulhos ambientes onde ocorrem os fatos noticiados, essa
combinação proposital entre informação oral e informação musical da trilha sonora é
mais um diferencial do produto. E como o tema do documentário está intimamente
ligado à música, o uso dela facilita a criação de uma perspectiva histórica dos
acontecimentos, de acordo com o autor Robert McLeish (2001).
O programa abre com uma característica que será comum a todas as edições
da série Um Solo de Protesto, a música “Won’t Get Fooled Again” da banda The Who.
Nesse mesmo momento, há a participação de um narrador diferente do apresentador
do resto do documentário. Isso ocorre para separar o pré-início que visa descrever os
objetivos do programa, do início do documentário em si que começa com uma
narração feita com elementos de suspense, para despertar a atenção do ouvinte, que
não esclarece exatamente o programa que está sendo transmitido. O produto conta
com a presença de um narrador que ajuda a assegurar uma sequência lógica aos
diversos aspectos do tema, unindo informações, apresentando entrevistados e,
através de uma boa construção narrativa, suscitando o interesse do ouvinte. A
linguagem da narrativa respeita a norma gramatical culta da língua portuguesa, mas é
feita de forma coloquial e com uma entonação baseada na linguagem falada para que
haja uma aproximação entre narrador e ouvinte, facilitando a compreensão semântica
dos textos.

As primeiras narrações e a primeira entrevista descrevem o cenário dos


Estados Unidos da América (EUA) na década de 1950, ou seja, contexto histórico no
qual o rock surgiu, tratando das principais questões sociais, econômicas e culturais
desse período e evidenciando os motivos desse surgimento, ligados ao crescimento
do poder de consumo da população estadunidense no pós Segunda Guerra Mundial e
à ascensão da cultura afro-americana. Tanto nesse momento como em vários outros
que serão descritos a seguir, há uma preocupação em demonstrar as causas de todos
os eventos relacionados à aparição do rock, especialmente as que estão ligadas com
fatores sociais e humanos. Isso está baseado nas teorias do autor Robert McLeish
(2001) sobre documentários, citadas no segundo capítulo desse trabalho.

Nas entrevistas seguintes, o objetivo é contar mais especificamente a história


do rock em 1950, com personagens que ganharam crédito pela criação nesse período
e os que de alguma forma fizeram parte do surgimento do estilo musical. Essa história
traz nomes como: o empresário Sam Philips que, tendo preconceito com artistas
musicais negros, pretendia lançar um artista branco que cantasse como negro, o disk
jóquei Alan Freed – citado posteriormente no documentário – que tinha um programa
de rádio onde veiculava músicas de rhythm & blues e criou o termo “rock ‘n’ roll”, entre
outros.

Depois disso, a narrativa e as entrevistas passam a ter o objetivo de definir o


rock como música, ou seja, quais as principais características melódicas do rock, os
estilos de música anteriores que o influenciaram e os principais instrumentos musicais
que definem sua sonoridade. Na prática, o rock surge da mescla entre o blues, estilo
até então feito somente por artistas negros, o rhythm & blues, que é uma releitura mais
agitada do blues tradicional, inicialmente também produzido apenas por negros, mas,
acabou chamando atenção de músicos e do público branco – o que foi definitivo para
o surgimento do rock – e a tradicional música country ou western feita nos interiores
dos EUA, considerada uma marca cultural tipicamente americana. Também podemos
notar alguns elementos do pop em alguns dos principais artistas do rock – sobretudo
Elvis Presley – mas não com elementos musicais, e sim com a característica da
exploração do sex appeal de um “personagem” e a transformação do mesmo em um
herói. Vale lembrar que isso, na música pop e até mesmo no rock, só foi feito com
artistas brancos e dentro dos padrões de beleza impostos pelo establishment. Como o
rock não absorveu elementos musicais do pop, essa influência não foi tratada.

Para esclarecer ao ouvinte a respeito das características musicais absorvidas


pelo rock dos estilos citados anteriormente e também como era a musicalidade deles,
exemplos de cada um são tocados sem nenhum outro som na transmissão, permitindo
uma compreensão bastante apurada. Vale lembrar que, para esse fim, o rádio pode
ser considerado o melhor dos meios de comunicação, conforme o autor Rudolf
Arnheim (apud ZUCULOTO in MEDITSCH, 1998) que define o rádio como um notável
meio de expressão artística da música, uma vez que, segundo a lei geral da economia
na arte, ela é feita para somente ser ouvida, fazendo com que qualquer efeito visual –
como as imagens de vídeo ou a dos artistas numa apresentação ao vivo - que a ela
seja adicionado possa se tornar um desvio de sua real expressão artística. “E o rádio,
por sua estética que prescinde totalmente do visual, trabalhando única e
exclusivamente com o audível, tem potencial para seguir a risca essa lei” (ZUCULOTO
in MEDITSCH, 1998, p. 125).

Outro aspecto importante que é tratado nesse momento do programa são as


alterações sofridas pelos instrumentos musicais. O aperfeiçoamento da guitarra
elétrica e a mudança nos contra-baixos – que passam a ser trastejados, definindo
melhor seu som – permitem que seja feito o estilo baseado numa “cozinha”, ou seja,
no acompanhamento de contra-baixo e bateria, e o destaque na liberdade dos
instrumentos solistas, como o piano, a gaita e, principal e mais especificamente a
guitarra elétrica.

O programa então vai para um intervalo, novamente com a música de


característica do início da edição, a mesma que será usada nos demais documentários
da série. Mas, desta vez, o mesmo narrador do resto do programa é usado por não
haver necessidade de outra voz, o que apenas confundiria o ouvinte nesse momento
do programa. Há um consenso entre produtores de rádio sobre a necessidade de
intervalos na programação, pois o ouvinte talvez precise fazer alguma tarefa que o
afaste do aparelho receptor.

Definidos no primeiro bloco o contexto de surgimento do rock e as


características musicais que denotam o estilo, o segundo bloco inicia-se com o
objetivo de tratar da importância social do rock na década de 1950. Isso é deixado
claro na narração de retorno do intervalo.

A mais significativa mudança na sociedade – ou pelo menos a mais difícil de


ser conseguida – da qual o rock fez parte foi a aceitação e a absorção, de um produto
cultural produzido por afro-americanos de classe social baixa, pela parcela branca e
de classe média da população estadunidense. Isso, conforme explicado nas
entrevistas do documentário, não está ligado unicamente ao surgimento do rock, mas
também ao crescimento do movimento negro – que na década seguinte seria
denominado Black Power – de reivindicação de direitos civis, que surge a partir da
cidade de Montgomery, no estado do Alabama - onde ocorria um movimento bastante
específico que queria a dessegregação dos ônibus na cidade, liderado por Martin
Luther King, não citado no documentário por não ter ligação direta com o rock – e se
espalha por outras regiões dos EUA, principalmente no Sul.

A partir da década de 1950, a cultura afro-americana começa a ser respeitada


pelos diversos grupos da sociedade – o que se tornará ainda mais evidente nos anos
seguintes – e o rock pode ser considerado o primeiro produto dessa cultura, pois tem
sua sonoridade baseada principalmente na do rhythm & blues – estilo outrora
chamado de “race records”, algo que pode ser traduzido como “músicas de raça” –
criado pelos afro-americanos no fim da década de 1940.

Tanto a emergência do movimento negro nos EUA quanto a evolução dos


produtos da cultura negra na sociedade são evidenciados nas entrevistas do começo
do segundo bloco do documentário “Um Solo de Protesto”, mostrando que o rock,
apesar de não ser a única manifestação ligada ao processo de integração dos afro-
americanos na sociedade, certamente foi catalisador desse processo e também a
trilha sonora dele.

Depois de tratada a questão étnico-racial relativa ao rock, passa a ser discutida


no radiodocumentário a emergência de uma cultura predominantemente jovem na
década de 1950, questão que está relacionada ao que foi citado no início do produto
do alto poder econômico da população dos EUA nessa época, permitindo ao jovem a
formação de uma identidade cultural que o diferenciava dos demais grupos pela faixa
etária, sendo assim, pode-se dizer que é nessa época que o jovem passa a ser visto
como um – e talvez o principal – nicho do mercado cultural. Não apenas isso, muitos
jovens dessa época, mesmo sendo privilegiados pelo sistema podendo usufruir de
benefícios como educação superior e alta qualidade de vida, questionam esse
sistema. Não de forma embasada e organizada como viria a acontecer na década de
1960, mas já questionando certos valores pregados pelo establishment americano
como a extrema valorização do trabalho, o alistamento militar e o próprio casamento.

Como mencionado no documentário, o jovem americano percebe que é na


própria juventude que terá condições de, numa expressão bastante comum,
“aproveitar a vida”, ficar despreocupado e não estar atrelado aos padrões impostos
pelo poder vigente. E é nesse momento que surgem ídolos da chamada “juventude
transviada” ou dos “rebeldes sem causa”. Nos cinemas, destacam-se os atores James
Dean e Marlon Brando e, na música, surge quem ficou conhecido como “Rei do rock
‘n’ roll”: Elvis Presley. Comercialmente o mais bem-sucedido e explorado dos artistas
de rock da década de 1950, Elvis torna-se modelo para jovens que desejavam
mostrar-se contra os valores defendidos pelas tradicionais instituições (exército,
família, igreja, etc) e, com o uso evidente do sex appeal, acaba espantando e
provocando desprezo da parte mais velha da população, que tende a proibir seus
filhos de irem a concertos ou até mesmo de ouvirem discos de rock. Constrói-se a
imagem do jovem que vai contra as imposições da sociedade, uma vez que elas foram
construídas num período anterior a ele, ou seja, sem a sua aprovação ou
consentimento. Essa imagem se reflete no rock e se torna uma das principais
características do estilo, desenvolvendo-se ainda mais em 1960, mas já existente nos
anos de 1950.

O documentário “Um Solo de Protesto” também conta como, mesmo sendo


inicialmente rejeitado e “demonizado” pela parcela conservadora da sociedade
americana, conseguiu prosperar culturalmente e comercialmente no país. Isso
relaciona-se com a Guerra Fria, ou seja, a disputa ideológica entre o capitalismo dos
EUA e o comunismo da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), pois o
rock, após o início conturbado, passa a ser visto pelos americanos como um produto
cultural típico do seu país, de uma sociedade baseada numa suposta “liberdade”,
diferente da visão do rock da URSS, que o considera como a decadência do jovem na
sociedade capitalista.
Essa análise ajuda a revelar alguns aspectos do maniqueísmo presente em
ambos os lados do conflito, pois o rock, sendo um produto cultural, é tratado de uma
forma parcial tanto pelos EUA, que dá pequena importância aos conflitos de geração
solidificados pelo estilo para tratá-lo como algo puramente americano e idealizar os
roqueiros como partidários do capitalismo – quanto pela URSS que reforça e mistifica
os aspectos negativos do rock com o intuito de mostrá-lo como uma das
consequências negativas de uma sociedade capitalista.

Tratadas as críticas sociais do rock, o radiodocumentário vai para sua parte


final, que é a definição de cada um dos entrevistados do que ele considera como
sendo o rock, para ajudar o ouvinte a criar sua própria definição do tema. Após isso,
há a ficha técnica, na qual todas as pessoas de alguma forma envolvidas na criação e
execução do produto são citadas e, por último, o encerramento, que dá uma prévia da
edição seguinte para despertar a curiosidade do ouvinte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Particularmente, considero como uma enorme satisfação ter me aprofundado


num tema com o qual tenho contato desde criança: o rock. Na construção desse
projeto, consegui entender melhor o contexto do surgimento do estilo e seus
desdobramentos através das entrevistas utilizadas no produto e também da extensa
pesquisa bibliográfica sobre o tema, o que me possibilitou perceber o quanto as
causas do rock ainda fazem parte das temáticas do presente, como o combate ao
racismo, a afirmação da juventude em relação aos demais grupos etários, a crítica aos
valores do establishment e à desigualdade social, entre outras. Acredito que, da forma
com que a narrativa foi construída no produto e na pesquisa, consegui transmitir esse
conhecimento de forma inteligível aos receptores.

Como o produto tratou da década de 1950, foi sobre ela que obtive maior
conhecimento. Isso aumentou o meu interesse pela música dessa época, após
entender o quanto foram inovadores e vanguardistas os artistas envolvidos com o rock
‘n’ roll e o rhythm & blues, provocando uma revolução estética na musicalidade em
geral e outra revolução, esta comportamental, na própria sociedade americana, com
valores únicos e que representaram uma cultura nova no contexto em que se inseriam.

O presente trabalho cumpre as metas estabelecidas para a primeira edição da


série de radiodocumentários “Um Solo de Protesto” e, de agora em diante, haverá uma
dedicação à produção das próximas etapas deste trabalho – radiodocumentários sobre
as demais décadas de existência do rock, sobre o rock no Brasil e sobre outros
subgêneros específicos do rock - esperando que haja, por parte do mercado
consumidor, uma valorização condizente com a qualidade do projeto.
REFERÊNCIAS

BARBOSA, Bruna, FARIAS, Adriana. Interessa Mostrar que o Metal tem Cara Feia.
Disponível em:

http://whiplash.net/materias/news_875/089736.html > acesso em 05 de abril de 2010

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CHACON, Paulo. O que é Rock. 5ª edição, São Paulo: Brasiliense S/A, 1989

CHANTLER, Paul; HARRIS, Sim. Radiojornalismo. V. 57. São Paulo: Summus


Editora, 1998.

CLAPTON, Eric. Eric Clapton: a autobiografia. São Paulo: Planeta do Brasil, 2007.

FRIEDLANDER, Paul. Rock and Roll: uma história social. 4° edição, Rio de Janeiro,
Editora Record, 2006.

GUIMARÃES, Thiago. A função social do jornalista. Disponível em:

http://pontofim.blogspot.com/2009/03/funcao-social-do-jornalista.html > acesso em 02


de junho de 2010.

KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e Revolucionários. 2ª edição, São Paulo: Editora


da Universidade de São Paulo, 2003.

KUNCZIK, Michael. Conceitos de jornalismo: norte e sul. São Paulo: Edusp, 2001.

LONGFELLOW, Matthew. Nevermind the bollocks: Here’s the Sex Pistols. Londres:
Eagle Rock Entertainment, DVD, 50 min.

MACHADO, Thaís. Alta Prioridade. Trabalho de Conclusão de Curso (Comunicação


Social com habilitação em Jornalismo) – Centro Universitário Positivo, Curitiba, 2005.
[Orientador: Prof. Luiz Witiuk]
MARCONDES FILHO, Ciro. A Saga dos Cães Perdidos. 2ª edição, São Paulo:
Hacker Editores, 2002.

MCLEISH, Robert. Produção de Rádio: um guia abrangente de produção radiofônica.


v. 62. São Paulo: Summus Editora, 2001.

MEDINA, Cremilda. Profissão jornalista: responsabilidade social. Rio de Janeiro:


Forense Universitária, 1982.

MEDITSCH, Eduardo. O Rádio na Era da Informação. 3ª Edição, Florianópolis:


Insular, 2001.

MEDITSCH, Eduardo. Rádio e Pânico. Florianópolis: Insular, 1998.

MEDITSCH, Eduardo. Teorias do Rádio. Florianópolis: Insular, 2005.

MORAES, Denis (org.) Por uma outra comunicação. Rio de Janeiro: Record, 2003.

PRADO, Emilio. Estrutura da Informação Radiofônica. São Paulo: Summus Editorial


Ltda, 1985.

SANTANA, Eduardo. A Invenção do Grunge pela Mídia Brasileira. Trabalho de


Conclusão de Curso (Comunicação Social com habilitação em Jornalismo) – Centro
universitário Positivo, Curitiba, 2004. [Orientador: Prof. Victor Folquening].

SEVCENKO, Nicolau. A Corrida para o Século XXI. São Paulo: Editora Schwarcz,
2002.

TINTI, Simone. História do Rock. Disponível


em:http://www.clubrock.com.br/news/historiadorock.htm > acesso em 20 de novembro
de 2009
BIBLIOGRAFIA

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ARNHEIM, Rudolf. Estética Radiofônica. Barcelona: Gustavo Gili, 1936.

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BRECHT, Bertolt. O Rádio como Aparato de Comunicação in STRAUSS, Neil.


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BURKE, Peter e BRIGGS, Asa. Uma História Social da Mídia. Rio de Janeiro: Zahar,
2004.

HARRIS, John. The Dark Side of the Moon: os bastidores da obra-prima do Pink
Floyd. Trad. Roberto Muggiati. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda, 2005.

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

JAMESON, Fredric. Pós-modernismo: a lógica do capitalismo tardio. São Paulo:


Ética, 1997.

JUNG, Milton. Jornalismo de Rádio. São Paulo: Contexto, 2004.

PESCH, Jefrey. A História do Rock N’ Roll vol. 3. Ohio: Warner Home Vídeo, DVD,
107 min.

THOMPSON, J.B. Ideologia e Cultura Moderna: teoria social crítica na era dos meios
de comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 2000.
APÊNDICES
RADIODOCUMENTÁRIO
UM SOLO DE PROTESTO – 1ª EDIÇÃO – ANOS 50
(20/09/2010)
Lauda 1

Rodrigo - Começa agora a primeira edição do documentário.//

TÉCNICA - CARACTERÍSTICA - (THE WHO – WON’T GET FOOLED AGAIN –


TRILHA SONORA – UM SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 01) – RODA
3’’ E VAI A BG
TÉCNICA – FUNDE COM VINHETA “UM SOLO DE PROTESTO”

Rodrigo – Apresentado por LEONARDO BARROSO e que irá tratar sobre a história e a
importância social do rock na década de cinquenta.//

TÉCNICA – SOBE - RODA 5’’ - DESCE - CORTA


TÉCNICA – FUNDO MUSICAL – (CHUCK BERRY – ROCK N ROLL MUSIC –
TRILHA SONORA – UM SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 02) – RODA
10’’ E VAI A BG

Leonardo - “A música precisa ser rock n roll se você quiser dançar comigo”, dizia CHUCK
BERRY em “Rock n Roll Music”, um dos primeiros hinos do estilo musical./
Mas em qual contexto essa música iria surgir?/ Foi nos Estados Unidos, década
de cinquenta./ Um período de conflitos, como a Guerra Fria e a segregação
racial, e avanços científicos como o descobrimento do DNA e o transplante de
órgãos./ Foi em meio a esse cenário que surgiu o que até hoje é uma das
maiores marcas do protesto: o rock.//

TÉCNICA - FUNDO MUSICAL – (LITTLE RICHARD – LONG TALL SALLY –


TRILHA SONORA – UM SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 03) – RODA
10’’ E VAI A BG
TÉCNICA SOBE – RODA 2’’ - CORTA

(Continua)
RADIODOCUMENTÁRIO
UM SOLO DE PROTESTO – 1ª EDIÇÃO – ANOS 50
(20/09/2010)
Lauda 2

Leonardo - E o surgimento do rock não ocorreu nessa época por acaso, como conta o
mestre em história MARCOS ARAÚJO.//
TÉCNICA - RODA ENTREVISTA MARCOS ARAÚJO – ENTREVISTAS – UM SOLO
DE PROTESTO – ARQUIVO 02 – 1’3’’ - D.I. “NOS ANOS DE” D.F. “O
ROCK VAI SURGIR”
TÉCNICA - FUNDO MUSICAL – (CHUCK BERRY – JOHNNY B GOODE – TRILHA
SONORA – UM SOLO DE PROTESTO) - RODA 11 SEGUNDOS E VAI A
BG. CORTA AO INÍCIO DA ENTREVISTA

Leonardo - O que foi chamado oficialmente de rock n roll foi a adaptação de estilos
musicais negros por músicos brancos./ Quem comenta esse início é CARLOS
OLIVEIRA, conhecido como “BLUESCHIEF”, que foi dono de uma das
primeiras lojas a vender somente discos de rock em Curitiba.//

TÉCNICA - SOBE – RODA 2’’ - CORTA

TÉCNICA - RODA ENTREVISTA CARLOS BLUESCHIEF – ENTREVISTAS


PRONTAS – UM SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 03 – 1’4’’.
TÉCNICA - FUNDO MUSICAL – (BILL HALLEY AND HIS COMETS – ROCK
AROUND THE CLOCK – TRILHA SONORA – UM SOLO DE PROTESTO)
RODA 11’’ - VAI A BG.

Leonardo - Ainda antes de ELVIS PRESLEY, outros artistas também tentaram estourar
como o “branco que cantava como um negro” de SAM PHILLIPS, como BILL
HALLEY na banda “BILL HALLEY E SEUS COMETAS”, oficialmente
tratada como a primeira banda de rock n roll da história./ Mas PAULO JUK,
baixista da banda Blindagem há mais de trinta anos, conta que a história do
rock, na prática, já existia antes de BILL HALLEY.//
TÉCNICA - SOBE – RODA 2’’ – CORTA
(Continua)
RADIODOCUMENTÁRIO
UM SOLO DE PROTESTO – 1ª EDIÇÃO – ANOS 50
(20/09/2010)
Lauda 3

TÉCNICA - RODA ENTREVISTA PAULO JUK – ENTREVISTAS PRONTAS – UM SOLO


DE PROTESTO – ARQUIVO 01 – 20’’- D.I. “A GENTE FALA” D.F. “NOS
ESTADOS UNIDOS”
TÉCNICA - FUNDO MUSICAL – (JERRY LEE LEWIS – GREAT BALLS OF FIRE –
TRILHA SONORA – UM SOLO DE PROTESTO) – RODA 13’’ E VAI A BG,
CORTA AO INÍCIO DA ENTREVISTA

Leonardo - Além do Rhythm & Blues, também podemos perceber no rock um toque da
tradicional música dos interiores americanos, tida como uma das principais formas
de representação da cultura dos Estados Unidos, o Country, como explica o mestre
em história MARCOS ARAÚJO.//

TÉCNICA - SOBE – RODA 2’’ - CORTA


TÉCNICA - RODA ENTREVISTA MARCOS ARAÚJO – ENTREVISTAS PRONTAS – UM
SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 02 – 17’’ – D.I. “NO FUNDO...” D.F.
“...AINDA AO COUNTRY”

Leonardo - Para que fiquem mais claras as características do som de que estamos tratando,
vamos demonstrar as principais influências do rock, tocadas pelo guitarrista
LÚCIO LOWEN, que há quatorze anos é professor de guitarra e violão./ Primeiro:
o Blues.//

TÉCNICA - RODA FUNDO MUSICAL - EXEMPLO DE BLUES – EFEITOS SONOROS –


ARQUIVO 01 – 37’’

Leonardo – Além do blues tradicional, também o Rhythm & Blues, surgido na década de 40.//

TÉCNICA - RODA FUNDO MUSICAL - EXEMPLO DE RHYTHM & BLUES – EFEITOS


SONOROS – ARQUIVO 02 – 29’’
(Continua)
RADIODOCUMENTÁRIO
UM SOLO DE PROTESTO – 1ª EDIÇÃO – ANOS 50
(20/09/2010)
Lauda 4

Leonardo - E por último uma contribuição da tradicional música Country & Western
americana.//

TÉCNICA - RODA FUNDO MUSICAL - EXEMPLO DE COUNTRY – EFEITOS


SONOROS – ARQUIVO 03 – RODA 14’’E VAI A BG

Leonardo - Além das influências musicais, para a construção final do que se tornou a
sonoridade do rock n roll, também foi necessária uma alteração nos próprios
instrumentos musicais, de acordo com o baixista PAULO JUK.//

TÉCNICA – RODA ENTREVISTA PAULO JUK – ENTREVISTAS – UM SOLO DE


PROTESTO – ARQUIVO 01 – 2’-D.I. “ATÉ ENTÃO...” D.F. “TUM TU TÁ”
TÉCNICA - A PARTIR DOS 77’’ FUNDE COM FUNDO MUSICAL “CHUCK BERRY -
SCHOOL DAYS” NO TEMPO 00:05, RODA 18’’ E VAI A BG.

Leonardo - CARLOS OLIVEIRA, que durante anos produziu programas musicais sobre
rock e blues em Curitiba, define também as principais características do som do
rock.//

TÉCNICA - SOBE – RODA 2’’ - CORTA


TÉCNICA – RODA ENTREVISTA CARLOS BLUESCHIEF – ENTREVISTAS
PRONTAS – UM SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 03 – 40’’ – D.I.
“QUEM CRIOU...” D.F. “GUITARRA ELÉTRICA”.
TÉCNICA - CARACTERÍSTICA - (THE WHO – WON’T GET FOOLED AGAIN –
TRILHA SONORA – UM SOLO DE PROTESTO) – RODA 3’’ E VAI A BG

Leonardo - O documentário “Um Solo de Protesto” vai para um breve intervalo./ Mas fique
ligado, porque no próximo bloco, vamos descrever a real importância de
integração social que o rock n roll teve na década de 50./ Voltamos já.//
(Continua)
RADIODOCUMENTÁRIO
UM SOLO DE PROTESTO – 1ª EDIÇÃO – ANOS 50
(20/09/2010)
Lauda 5

TÉCNICA - SOBE, RODA 5’’ E CORTA.

Leonardo - Estamos de volta com o documentário.//

TÉCNICA - CARACTERÍSTICA - (THE WHO – WON’T GET FOOLED AGAIN –


TRILHA SONORA – UM SOLO DE PROTESTO) – RODA 3’’ E VAI A BG
TÉCNICA - FUNDE COM VINHETA “UM SOLO DE PROTESTO”

Leonardo - No primeiro bloco, falamos sobre o surgimento do rock como estilo musical,
suas influências e seu contexto./ Agora, vamos tratar um pouco mais sobre o
impacto do rock na sociedade americana nos anos 50.//

TÉCNICA – FUNDO MUSICAL – (BUDDY HOLLY AND THE CRICKETS – OH BOY –


TRILHA SONORA – UM SOLO DE PROTESTO) RODA 10’’ E VAI A BG.

Leonardo - Como pudemos observar antes do intervalo, a sociedade americana estava


extremamente segregada entre negros e brancos./ Nos anos 50, os negros
passam a reivindicar juntos e com mais força os seus direitos civis./ Quem
explica é o mestre em história MARCOS ARAÚJO.//

TÉCNICA – SOBE – RODA 2’’ - CORTA


TÉCNICA – RODA ENTREVISTA MARCOS ARAÚJO – ENTREVISTAS PRONTAS –
UM SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 02 – 40’’- D.I. “A PARTIR DOS”
TÉCNICA - D.F. “LUGARES ASSIM.”
FUNDO MUSICAL – (CHUCK BERRY – SWEET LITTLE SIXTEEN –
TRILHA SONORA – UM SOLO DE PROTESTO) - RODA 11’’ E VAI A
BG.

(Continua)
RADIODOCUMENTÁRIO
UM SOLO DE PROTESTO – 1ª EDIÇÃO – ANOS 50
(20/09/2010)
Lauda 6

Leonardo - Graças ao crescimento do movimento negro, a cultura negra como um todo


passava a ser melhor absorvida dentro dos Estados Unidos, inclusive a sua
música, que acabou virando base para o rock./ PAULO JUK, baixista da banda
Blindagem, comenta sobre a participação dos primeiros músicos de rock negros
nesse processo.//

TÉCNICA - SOBE – RODA 2’’ - CORTA


TÉCNICA - RODA ENTREVISTA PAULO JUK – ENTREVISTAS PRONTAS – UM
SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 01 – 37’’ – D.I. “ERAM PESSOAS...”
D.F. “FUNDAMENTAL NISSO AÍ”

TÉCNICA - FUNDO MUSICAL – (CARL PERKINS – JAILHOUSE ROCK – A PARTIR


DE 00:07 – TRILHA SONORA – UM SOLO DE PROTESTO) - RODA 10’’
E VAI A BG.

Leonardo - CARLOS OLIVEIRA, que já foi produtor de vários programas de rádio ligados
ao rock, destaca nesse processo o nome do disk-jockey ALAN FREED, que
também foi responsável pela criação do termo “rock and roll”.//

TÉCNICA - SOBE – RODA 2’’ - CORTA


TÉCNICA - RODA ENTREVISTA CARLOS BLUESCHIEF 03 – ENTREVISTAS
PRONTAS – UM SOLO DE PROTESTO – 34’’ – D.I. “O ALLAN FREED”
D.F. “ANOS 50”.
TÉCNICA - FUNDO MUSICAL – (THE BIG BOPPER – WHITE LIGHTNIN’- PARTIR
DE 00:05 – TRILHA SONORA – UM SOLO DE PROTESTO) – RODA 12’’
E VAI A BG.

Leonardo - (Continua)
RADIODOCUMENTÁRIO
UM SOLO DE PROTESTO – 1ª EDIÇÃO – ANOS 50
(20/09/2010)
Lauda 7

Leonardo Mesmo com a interação entre músicos negros e brancos nos anos 50, o primeiro
show oficial no qual eles se de fato iriam se misturar no palco só iria ocorrer na
década seguinte./ CARLOS OLIVEIRA também conta como esse show
aconteceu.//

TÉCNICA - SOBE – RODA 2’’ - CORTA


TÉCNICA - RODA ENTREVISTA CARLOS OLIVEIRA – ENTREVISTAS PRONTAS –
UM SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 03 – 28’’ – D.I. “E AÍ 1963...” D.F.
“MISTURAR TAMBÉM”.
TÉCNICA - FUNDO MUSICAL – (CHUCK BERRY – MAYBELINE – TRILHA
SONORA – UM SOLO DE PROTESTO) - RODA 12’’ E VAI A BG.

Leonardo - A partir do surgimento e da evolução do rock, a cultura negra passa a ser cada
vez mais respeitada e por músicos e fãs brancos das gerações seguintes./
MARCOS ARAÚJO, que há pouco nos explicou sobre a crescida do
movimento negro, comenta esse fato.//

TÉCNICA - SOBE – RODA 2’’ - CORTA


TÉCNICA - RODA ENTREVISTA MARCOS ARAÚJO – ENTREVISTAS PRONTAS –
UM SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 02 – 57’’ – D.I. “SE NÓS
PUDÉSSEMOS...” D.F. “MÚSICA TAMBÉM”.
TÉCNICA - FUNDO MUSICAL – (PAT BOONE - SPEEDY GONZALEZ – TRILHA
SONORA – UM SOLO DE PROTESTO) – RODA 7’’ E VAI A BG

Leonardo - Além da questão étnico-racial tão influente na cultura da época, ainda há na


década de cinquenta outra característica social muito importante: a formação de
uma identidade jovem que se opunha aos valores impostos pelo sistema./ Para
comentar o assunto, convidamos PATRICIA MARCONDES, doutoranda em
história política e autora de diversos trabalhos sobre contracultura.//
(Continua)
RADIODOCUMENTÁRIO
UM SOLO DE PROTESTO – 1ª EDIÇÃO – ANOS 50
(20/09/2010)
Lauda 8

TÉCNICA - RODA ENTREVISTA PATRICIA MARCONDES – ENTREVISTAS


PRONTAS – UM SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 04 – 46’’- D.I. “ATÉ
OS ANOS...” D.F. “CAPITALISTAS E TECNOCRÁTICOS”
TÉCNICA - FUNDO MUSICAL – (EDDIE COCHRAN – C’MON EVERYBODY – UM
SOLO DE PROTESTO – TRILHA SONORA) – RODA 10’’ E VAI A BG

Leonardo - Assim como os negros, os jovens também passaram a ser mais respeitados
como produtores de cultura a partir da década de cinquenta./ Isso se evidencia
no cinema, na música e até mesmo no mercado de consumo. Com a palavra, o
historiador MARCOS ARAÚJO.//

TÉCNICA - SOBE – RODA 2’’ - CORTA


TÉCNICA - RODA ENTREVISTA MARCOS ARAÚJO – ENTREVISTAS PRONTAS –
UM SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 02 – 26’’- D.I. “A CULTURA
JOVEM” D.F. “NESSE CONTEXTO”
TÉCNICA - FUNDO MUSICAL – (RITCHIE VALLENS – LA BAMBA – UM SOLO DE
PROTESTO – TRILHA SONORA) – RODA 11’’ E VAI A BG

Leonardo - Ganhando essa qualidade de principal grupo cultural da sociedade, os jovens da


década de cinquenta fazem do rock o hino de uma geração que não queria mais
aceitar a repressão do sexo e de comportamentos diferentes dos convencionais./
Novamente temos a opinião da pesquisadora de movimentos contraculturais
PATRICIA MARCONDES.//

TÉCNICA - SOBE – RODA 2’’ - CORTA


TÉCNICA - RODA ENTREVISTA PATRICIA MARCONDES – ENTREVISTAS
PRONTAS – UM SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 04 – 33’’- D.I.
“TUDO ISSO” D.F. “SER JOVEM”

(Continua)
RADIODOCUMENTÁRIO
UM SOLO DE PROTESTO – 1ª EDIÇÃO – ANOS 50
(20/09/2010)
Lauda 9

TÉCNICA FUNDO MUSICAL – (ELVIS PRESLEY – A LITTLE LESS


CONVERSATION – UM SOLO DE PROTESTO – TRILHA SONORA) –
RODA 13’’ E VAI A BG

Leonardo Essa nova postura dos jovens americanos provocou um conflito de gerações
entre eles e seus pais, como já foi comentado./ Mas a disputa ideológica entre
os Estados Unidos e a União Soviética, bastante presente na década de
cinquenta, acabou facilitando a aceitação do rock./ O historiador MARCOS
ARAÚJO conta agora como isso aconteceu.//

TÉCNICA - SOBE – RODA 2’’ - CORTA


TÉCNICA - RODA ENTREVISTA MARCOS ARAÚJO – ENTREVISTAS PRONTAS –
UM SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 02 – 38’’ – D.I. “ENTÃO
TAMBÉM” D.F. “AS COISAS”.
TÉCNICA - FUNDO MUSICAL – (CHUCK BERRY – BACK IN THE USA – TRILHA
SONORA – UM SOLO DE PROTESTO) – RODA 10’’ E VAI A BG

Leonardo - E agora para encerrar o programa, pedimos para que todos os entrevistados do
programa definissem o rock com suas próprias palavras./ Primeiro, o antigo
dono da loja Jukebox de discos de rock, CARLOS OLIVEIRA.//

TÉCNICA – RODA ENTREVISTA CARLOS OLIVEIRA – ENTREVISTAS PRONTAS –


UM SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 03 – 20’’- D.I. “O ROCK QUE”
D.F. “NÃO É ROCK”
TÉCNICA - SOBE – RODA 2’’ – VAI A BG

Leonardo – Agora, o baixista da banda blindagem, PAULO JUK.//

(Continua)
RADIODOCUMENTÁRIO
UM SOLO DE PROTESTO – 1ª EDIÇÃO – ANOS 50
(20/09/2010)
Lauda 10

TÉCNICA – RODA ENTREVISTA PAULO JUK – ENTREVISTAS PRONTAS – UM


SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 01 – 43’’ D.I. “EU ACHO QUE” D.F.
“LÁ? ROQUEIROS”
TÉCNICA - SOBE – RODA 2’’ – VAI A BG

Leonardo – O historiador MARCOS ARAÚJO também define o rock em suas palavras.//

TÉCNICA - RODA ENTREVISTA MARCOS ARAÚJO – ENTREVISTAS PRONTAS –


UM SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 02 – 18’’ D.I. “É UMA
MANIFESTAÇÃO” D.F. “TODAS AS CLASSES”
TÉCNICA - SOBE – RODA 2’’ – VAI A BG

Leonardo - E por último, a doutoranda em história política, PATRICIA MARCONDES.//

TÉCNICA - RODA ENTREVISTA PATRICIA MARCONDES – ENTREVISTAS


PRONTAS – UM SOLO DE PROTESTO – ARQUIVO 04 – 12’’ - D.I. “O
ROCK PRA” D.F. “ESTILO MUSICAL”
TÉCNICA - SOBE – RODA 5’’ – VAI A BG

Leonardo - É importante lembrar que, sejam contra o racismo ou contra a supervalorização


do trabalho acima da liberdade do jovem, as lutas do rock na década de
cinquenta ainda estão presentes até os dias de hoje./ Se há uma característica
que é comum a todos os roqueiros daquela época, é a de não aceitar de forma
passiva tudo o que consideravam errado na sociedade.//

TÉCNICA - SOBE – RODA 7’’ - CORTA


TÉCNICA - TRILHA SONORA – UM SOLO DE PROTESTO) – RODA 5’’ E VAI A BG
TÉCNICA - CARACTERÍSTICA - (THE WHO – WON’T GET FOOLED AGAIN –
(Continua)
Leonardo - E a primeira edição do documentário “Um Solo de Protesto” está chegando ao
fim./ Contamos com a participação especial de RODRIGO MUNIZ e LUIZ
FELLIPE DEON, trabalhos técnicos de MARCIO KANO e orientação do
projeto do professor MARCELO LIMA./ Narração e produção de
LEONARDO BARROSO./ Na segunda edição, iremos tratar da década de 60, a
cultura hippie e a psicodelia./ Até a próxima.//

TÉCNICA SOBE – RODA 5’’ E CORTA.

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