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HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
CURITIBA
2010
LEONARDO SCHENATO BARROSO
CURITIBA
2010
SUMÁRIO
EPÍGRAFE......................................................................................................................4
AGRADECIMENTOS......................................................................................................5
1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................6
2. O ROCK ................................................................................................................... 12
4. O PRODUTO ............................................................................................................ 41
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 48
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 49
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 51
APÊNDICES ................................................................................................................. 52
EPÍGRAFE
Por último, agradeço a todos os artistas e bandas que foram, de alguma forma,
responsáveis por fazer do rock um tema tão rico e interessante.
1 INTRODUÇÃO
Nos anos 1990, o estilo que mais traz a crítica social é o chamado grunge, que
surge do tédio existente na cidade de Seattle como um movimento alternativo ao que
estava no cenário principal da música, mas que, aos poucos, vai sendo inserido na
mídia dentro da lógica comercial (SANTANA, 2004). Seu principal representante foi o
Nirvana, banda que teve fim com o suicídio de seu líder e vocalista, Kurt Cobain, que
acabou sendo transformado em ídolo da juventude da década. Também é notável a
crítica social em bandas de funk rock, estilo marcado pela banda Red Hot Chili
Peppers, mas que viu o máximo da crítica social, especialmente à questão política, no
funk metal das bandas Rage Against the Machine e Living Colour. Na Inglaterra, surge
o estilo chamado britpop, que teve bandas como Blur, The Verve, Stereophonics e
principalmente o Oasis como principais representantes. As bandas do estilo
conseguem um sucesso considerável, levando em conta suas vendas de CDs no
mundo inteiro.
Também apontar que muitas das principais lutas do rock ainda estão presentes
na sociedade atual, mostrando, por exemplo, que as minorias representadas pelo
estilo durante as décadas anteriores ainda são vítimas de determinados tipos de
discriminação, ou seja, mostrar que a crítica ainda é válida.
O produto também tem como meta mostrar que o rock transcende a definição
de estilo musical, frisar que o rock desde seu ritmo e sua musicalidade até – e
principalmente – as suas ideias é um estilo que não estimula a passividade de seu
receptor. E, ao contrário de outros produtos relacionados ao tema, que muitas vezes
dão ênfase a bandas e artistas específicos, mostrar que, mesmo dependendo deles, o
rock é um movimento cultural que está além dos músicos que o compõem.
Uma das principais funções do jornalista como profissional é trazer aos olhos
do público a crítica social, criando uma discussão sobre novas formas de se enxergar
a realidade a partir de um ponto de vista que não se submeta a favor da autoridade e
dos poderosos, mas combata as injustiças sociais geradas pelo sistema econômico
vigente. O jornalista deve criar um elo entre as diferentes realidades da sociedade.
Como cita Cremilda Medina: “sua função é estabelecer pontes na realidade dividida,
estratificada em grupos de interesse, classes sociais, extratos culturais e faixas até
mesmo etárias” (MEDINA, 1982, p. 22).
A palavra “crítica”, neste trabalho, não deve ser entendida somente pela
definição que necessariamente a associa com reclamações geradas pela reprovação
de alguma atitude ou fato, mas também e principalmente no seu sentido original,
citado por Nicolau Sevcenko, derivada tanto do termo grego krínein, que se equivaleria
ao verbo decidir, como do termo em latim cernere, que além de decidir, significa
também “discernir”. Sevcenko também defende a importância da crítica,
especialmente neste momento da sociedade, a qual estaria vivenciando o fenômeno
denominado pelo autor como a “Síndrome do Loop”. Utilizando-se do brinquedo de
parque de diversões montanha russa e das sensações provocadas por ele como
metáfora para traçar o desenvolvimento científico, social e tecnológico da humanidade
desde o século XVI aos tempos modernos, Sevcenko afirma que a maior parte das
nações estaria passando pela última “atração” do brinquedo, ou seja, o loop, que
representa algo tão rápido e intenso que não se consegue acompanhar. Nesta
metáfora, Sevcenko explica como são recebidas de forma muitas vezes passiva as
novas invenções e suas implicações, sendo que os seres humanos não conseguem
acompanhar os ritmos dessas novas descobertas. Segundo o autor, este é o momento
em que a crítica em seu sentido original torna-se imprescindível. “neste momento
tumultuoso, em que a celeridade das mudanças vem sufocando a reflexão e o diálogo,
mais que nunca é necessário investir nas funções judiciosas, corretivas e orientadoras
da crítica” (SEVCENKO, 2002, p. 19).
O outro estilo que também formou as origens do rock foi o chamado country &
western, que, como afirma Chacon, é “a versão branca para o descontentamento dos
pequenos camponeses” (CHACON, 1982, p. 25). Apesar de não ter tido uma influência
no rock tão forte quanto a do rhythm & blues, o estilo teve nomes importantes como
Woody Guthrie, uma das influências iniciais de Bob Dylan, que viria a ser um dos
principais nomes da história do rock como veremos posteriormente.
Elvis, como cita Chacon, era o que seu empresário Tom Parker chamou de “um
branco que cantava como um negro”. Levando em conta o racismo da sociedade
muito forte na época, Elvis tinha as características necessárias para ser a figura
musical mais popular dos anos 1950: branco, jovem, carismático e talentoso, Elvis
também inovava em seu jeito de dançar que espantava a parcela conservadora da
sociedade. Além de símbolo sexual e ídolo da massa jovem americana, Elvis se tornou
a imagem do roqueiro que não seguia regras.
Escutar rock n’ roll, na época, significava não seguir o que diziam os pais, os
políticos. Ouvir, cantar e dançar rock era uma forma do jovem de mostrar que não
estava realmente preocupado com antigos dogmas que guiavam a sociedade até a
época. Elvis foi o símbolo máximo disso, mas todos os cantores americanos de rock
dos anos 1950 poderiam ser utilizados como exemplo. E apesar de muitos deles, em
especial o próprio Elvis, terem tido um pesado envolvimento com as drogas, isso ainda
não era uma das máximas defendidas pelo rock como viria a acontecer na década
seguinte. Como cita Eric Clapton em sua autobiografia: “Naqueles tempos beatniks,
pré-hippies, parecia que tudo tinha a ver com a música. Drogas eram raras, e mesmo
a bebida era bastante moderada” (CLAPTON, 2007, p. 37).
No Brasil, o rock ainda não havia entrado no repertório da maioria dos cantores
nacionais. Houve uma versão da música “Rock Around the Clock” na voz da cantora
Nora Ney, em 1955 e, após isso, só no fim da década viriam músicas que se
assimilavam ao estilo com os irmãos Tony e Celly Campello, mas a crítica era bem
pouco visível em suas letras. Mas, muitos jovens da época - entre eles Raul Seixas -
ouviam e dançavam o novo ritmo “indecente” em seus bailes e festas, o que acabou
sendo mal-visto pelas autoridades que, em alguns momentos, chegaram a proibir o
ritmo nas reuniões de jovens.
O rock inglês dos anos 1960 era musicalmente mais elaborado que o
americano da década anterior, trazendo inicialmente como principais representantes
bandas como The Kinks, The Who, The Yardbirds (que seria a origem de integrantes
de outras grandes bandas como Cream e Led Zeppelin) e John and The Quarrymen
(que depois se tornariam os Beatles), The Animals, entre outras. Mas, o rock britânico
neste primeiro momento atingia quase que somente o público do país.
Poucos anos depois, duas bandas foram pioneiras em levar o rock inglês até
os EUA - que, como cita Chacon, tinha um mercado maior a ser explorado -, os
Beatles e os Rolling Stones. Ainda parafraseando Chacon, os dois grupos tinham duas
grandes características que lhes deram destaque: a capacidade de representar os
valores seu próprio tempo nas letras de suas músicas e a genialidade. Através de
clássicos como Yesterday, Help! (Beatles), Let’s Spend the Night Together e Jumpin’
Jack Flash (Rolling Stones), as duas bandas estouraram como principais nomes do
rock tanto na Inglaterra como no Reino Unido. Quando as duas bandas chegaram aos
EUA, o país estava com suas atenções voltadas à música folk, com grandes nomes
como Joan Baez, The Byrds e, principalmente, o jovem Bob Dylan. Dylan trazia para
suas músicas a crítica explícita. A batalha das classes operárias, a exploração contra
minorias e eventos isolados de racismo e violência eram contestados por Dylan, que
se tornava símbolo de protesto. Também no início da década de 1960 nos EUA surge
a banda Velvet Underground, liderada pelo guitarrista Lou Reed e financiada pelo
artista plástico Andy Warhol – criador da Pop Art -, que fazia um estilo de música
experimental que foi pouco valorizada na época, mas, com suas letras que tratavam
explicitamente sobre o tráfico e o uso de heroína, o Velvet Underground foi a principal
influência do que, na década seguinte, seria o movimento punk.
O principal papel social das bandas de rock na década de 1960, nos EUA, na
Europa e no mundo, foi de criar canções de protesto, principalmente contra a Guerra
do Vietnã (1959 – 1975), na qual muitos jovens americanos perderam a vida, levando
em conta o fracasso americano na mesma. Como também citado no documentário, ao
ver a derrota de seu país e a violência que a guerra representava, os jovens
americanos percebiam que os dogmas das instituições (exército, governo, família,
igreja, etc) estavam fracos e, sob muitos pontos de vista, errados. Vários festivais de
música como o de Monterey e o de Woodstock (que reuniu mais de quatrocentas mil
pessoas) foram realizados para celebrar o auge da cultura hippie. Dentro destes
festivais, o uso de drogas e o protesto social eram feitos tanto pelos artistas quanto
pela platéia de forma explícita, mostrando que não aceitavam o que lhes tentava ser
imposto pela sociedade. Toda essa crítica presente no rock acompanhava os diversos
atos revolucionários ocorridos pelo mundo. Entre eles, destaca-se a revolução cubana
de 1959, a revolta estudantil em vários países da Europa que acabou culminando em
Maio de 1968 na França, quando estudantes, auxiliados pelos membros do movimento
trabalhista, ocuparam a Universidade de Sorbonne em protesto ao presidente francês
Charles de Gaulle, exigindo mudanças no sistema educacional e nas condições de
vida e trabalho. Também é nessa época que surgem movimentos como o Black Power
(poder negro), o Flower Power (poder da flor, símbolo da cultura hippie) e os
relacionados à homossexualidade e aos direitos das mulheres.
O principal nome deste novo estilo foi a banda Pink Floyd, fundada em 1968 na
Inglaterra pelos universitários Syd Barrett (guitarrista, compositor e vocalista) e Roger
Waters (baixista), também integrada inicialmente pelo baterista Nick Mason e pelo
tecladista Richard Wright. No final da década de 1960, a banda começou a ganhar
notoriedade devido a suas obras dentro do chamado rock experimental ou psicodélico.
Syd Barrett, inclusive, foi um dos guitarristas pioneiros em explorar efeitos de distorção
combinados com instrumentos pouco comuns ao rock (triângulos, sinos, xilofones,
etc).
De acordo com o livro “The Dark Side of the Moon: os bastidores da obra-prima
do Pink Floyd”, de John Harris, depois da saída de Barrett – devido ao uso abusivo de
LSD combinado com sua esquizofrenia que fez com que o resto da banda
considerasse impossível manter-se trabalhando com ele – e a entrada do novo
guitarrista David Gilmour, a banda iniciou seus trabalhos dentro do rock progressivo.
Waters, que se tornou o líder da banda, fazia uso de vários recursos de estúdio
anteriormente considerados secundários dentro do rock, além de produzir álbuns de
trilha sonora de filmes e utilizar efeitos sonoros diversos (barulhos de animais,
máquinas, seres humanos, etc) dentro de suas músicas. O Pink Floyd é citado aqui
com destaque devido a explícita e poderosa crítica social que Roger Waters fazia em
suas músicas a diversos setores da sociedade (governo, sistema educacional
americano, capitalismo, consumismo) e da própria humanidade. Mas, além do Pink
Floyd, outras bandas tiveram destaque no rock progressivo, como por exemplo o
Genesis, o Rush, o King Crimson, o Yes, o Uriah Heep e o artista solo Frank Zappa,
que, inclusive, chegou a criar, entre outras obras artística, um filme de Stop Motion
feito com massa de modelar chamado “Baby Snakes”, para o qual também produziu a
trilha a sonora constituída de vários efeitos inovadores. No Brasil, o progressivo é
representado pela banda Casa Das Máquinas, principal banda de rock do Brasil na
época.
Com o início da década de 1980, dois dos principais estilos a atingir seu auge
nos anos 70, o Rock Progressivo e o punk rock, passavam a perder sua força na cena
musical. O primeiro principalmente pelo fim ou pela crise das principais bandas que o
representavam e o segundo, além do mesmo motivo, também por ter se subdividido
entre dois novos gêneros: O new wave e o hardcore. O new wave, como citado por
Simone Tinti no site Club Rock, era a combinação entre o punk e o pop. A crítica social
do punk ainda existia, mas, sem a agressividade anterior. Os principais elementos do
pop trazidos ao new wave foi o uso de sintetizadores e também o elemento do
videoclipe, que se tornava símbolo musical com a criação da Music Television (MTV)
em 1981. Devido ao uso de videoclipes, o new wave, apesar de ter a crítica social na
letra de suas músicas, é muitas vezes acusado de ser um estilo excessivamente
comercial. Seus principais representantes eram o The Police, os B-52’s, o Blondie, o
The Pretenders (as últimas três trazendo mulheres como líderes das bandas), Elvis
Costello, Talking Heads, Cars, Devo, Joe Jackson e Jam.
O outro estilo que cresceu nos anos 1980 claramente vindo do punk rock foi o
hardcore. Quase que em oposição ao new wave e seus derivados, o hardcore herdou
do punk principalmente as características de simplicidade musical, crítica social
agressiva, ritmo veloz e poucos recursos de gravação. Como lembrado por Simone
Tinti, muitos músicos de hardcore eram relacionados com gravadoras e estúdios
independentes, fanzines e outros gêneros da chamada “subcultura” ou cultura
underground. Os principais representantes do estilo eram os americanos Dead
Kennedys, que satirizavam o conservadorismo político e o fanatismo religioso da
época através de muitos sarcasmo nas letras de suas músicas, como por exemplo o
single “California Über Alles”, que fazia uma crítica explícita ao governador da
Califórnia na época. Além dos Dead Kennedys, outras bandas como Black Flag,
Discharged e Exploited também seguiam na mesma linha de letras e musicalidade.
Essa linha musical seria uma das principais influências ao que seria o movimento
grunge dos anos 1990.
Mas, além dos estilos derivados do punk, um estilo derivado do hard rock
ascendeu na década de 1980: o heavy metal. Ele já podia ser detectado em algumas
bandas do final da década de 1970 como o Motorhead e o Judas Priest, mas foi na
década de 1980 que essas duas bandas chegaram ao auge e várias outras do estilo
também surgiram, as mais notáveis sendo Iron Maiden, Def Leppard, Saxon e
Samson. O heavy metal começou a década sendo um estilo musical “Cult”, apreciado
por poucos, mas, em pouco tempo, acabou ganhando espaço entre o grande público
jovem de rock (FRIEDLANDER in TINTI, 2009). As principais características do estilo
era a grande preocupação técnica na composição musical, a notável velocidade com
que os instrumentistas tocam as notas e acordes (essas duas primeiras características
se comprovam ao vermos que várias técnicas de guitarra como o “Tappin’“ foram
criadas e desenvolvidas junto com a expansão do heavy metal), uma sonoridade
pesada e com vários efeitos de pedal, principalmente a distorção e o volume alto com
que as músicas eram gravadas e apresentadas. Depois que o heavy metal se
popularizou, vários outros estilos semelhantes a ele também foram ganhando espaço
na cena musical, como o hair metal, que trazia mais características em comum com o
hard rock do que o heavy metal e também sofria influências do glam rock,
representado por bandas como Poison, Mötley Crüe, Skid Row, Bon Jovi, Whitesnake
e o Guns n’ Roses, que, além de ter sido a banda de maior representatividade do
estilo, também foi a única com uma questão social visível dentro do hair metal ao fazer
críticas ao comportamento agressivo da polícia em algumas de suas canções. Além do
Hair Metal, ainda surgiriam o speed metal, caracterizado por solos ainda mais velozes
do que no heavy metal e representado principalmente pelo guitarrista Yingwie
Malmsteen, o black metal, estilo que criticou duramente a igreja e estava ligada a
rituais satanistas e outros cultos religiosos. Também o death metal, bem mais técnico
que o black metal e com letras menos ligadas a religião e mais à morte, tendo como
principais nomes o Cannibal Corpse, o Carcass e o Morbid Angel. Também surge o
subgênero do heavy metal que mais conseguiu atingir o público, o Thrash Metal, que
merece destaque por ter entre seus representantes no mercado internacional a banda
brasileira Sepultura, além de Pantera, Slayer, Anthrax, Megadeath e o principal nome
dentro do estilo e que depois acabou fazendo trabalhos também em outros ramos do
metal, a banda Metallica. O mais importante a se frisar a respeito de todos os estilos
de metal é que todos continuaram a existir, apesar de recebendo menos atenção,
durante as décadas seguintes, havendo o surgimento de várias bandas de metal na
década de 1990.
No Brasil, o rock da década de 1980 foi marcado por uma forte crítica, apesar
de, na maioria das vezes de origem burguesa, à ditadura militar que terminaria apenas
em 1985, após a manifestação popular na cidade do Rio de Janeiro pelas eleições
diretas para presidente (“Diretas já!”) que reuniu mais de quinhentas mil pessoas nas
ruas. Com o fim da ditadura, várias músicas anteriormente proibidas tiveram sua
veiculação liberada, assim como outros tipos de obras artísticas (principalmente livros)
e mercadorias, como roupas contendo frases consideradas subversivas. Com essa
nova realidade democrática que se instaurava no país, o rock nacional chegava na sua
“Era de Ouro”. Várias bandas com letras repletas de fortes críticas chegavam ao auge
de seu sucesso, entre elas Blitz, Titãs, Legião Urbana, Capital Inicial, Barão Vermelho,
Ira, Ultraje a Rigor, Plebe Rude, Paralamas do Sucesso, Engenheiros do Havaí, entre
outras. Também destaca-se a banda independente de punk rock Ratos de Porão.
Também surgiu nos anos 1990 um estilo baseado no acid rock dos anos 1960,
carregando algumas ideologias da cultura hippie da época, mas, com menos
ingenuidade. Foi o estilo chamado neo-psicodelismo, trazendo como seu principal
representante o Smashing Pumpkins, banda que também sofreu várias influências do
rock gótico dos anos 1980, estilo da banda anterior do vocalista e guitarrista Billy
Corgan. Outras bandas também fizeram sucesso dentro do estilo foram o Cake, o
Black Crowes e o REM, que popularizou-se pelo clipe repetidamente veiculado na
MTV de sua música “Losing My Religion”.
No Brasil, os anos 1990 foram palco da criação da MTV Brasil, cerca de dez
anos após a MTV americana original. Apesar dos questionamentos a respeito da
validade de uma televisão voltada para a música, que inicialmente é feita para ser
ouvida e não vista, o canal foi importante para veicular as maiores bandas de rock
brasileiro surgidas na década, como Skank (que tinha várias influencias do reggae),
Jota Quest, Pato Fu, Raimundos (considerada a principal banda de punk rock do
Brasil), Mamonas Assassinas (que usavam o humor e a paródia junto ao rock), Charlie
Brown Jr e O Rappa (uma das mais importantes na crítica social). Também surgiu
nessa década o movimento musical e cultural do Mangue Beat, liderado por Chico
Science, que combinava o som da guitarra elétrica com ritmos musicais do Nordeste
brasileiro.
No início do novo milênio, o rock havia perdido boa parte de seu espaço para
outros estilos musicais como o rap, a música eletrônica e o pop. A maioria das bandas
de rock que conseguiram atingir o grande público musical no início desta década eram
fortemente impulsionadas por grande produtoras e gravadoras, possuindo um forte
apelo comercial para os jovens em suas obras. O principal estilo surgido a partir desta
lógica foi o chamado poppy punk, com várias influências no punk dos anos 1970 e no
hardcore dos anos 1980, mas, com a crítica social bastante amena, quando sequer
presente. Representado principalmente pelas bandas Green Day, The Offspring, MxPx
e Blink 182. Posteriormente, outras bandas acabam surgindo dentro do estilo, como o
Simple Plan e o Good Charlotte, mas, na metade da década, essas bandas acabaram
alterando seu estilo para o chamado emocore, ou hardcore emotivo, com letras
depressivas e de temática claramente adolescente.
Outra vertente do Metal, esta com a crítica bastante presente e atingindo seu
auge na década de 2000 é o new metal. Tendo como representantes bandas como
System of a Down, Körn e Slipknot, o estilo traz riffs menos técnicos que o Heavy
Metal original, mas, mais pesados do ponto de vista sonoro. A clássica banda de
thrash metal, o Metallica, lançou nesta época o disco “St. Anger”, o qual trazia
inúmeras características referentes ao new metal.
A banda por muitos considerada de rock e que mais teve sucesso comercial na
década de 2000 até o momento foi o Linkin Park. Apesar de trazer claramente o peso
de guitarra elétricas do rock na base de sua sonoridade, a banda também mescla em
todas as suas músicas elementos de vários outros estilos musicais, principalmente o
rap e a música eletrônica.
O estilo de música da década de 2000 que mais teve relação com os princípios
do rock foi o chamado indie rock. O nome vem do fato de que vários grupos musicais
do estilo iniciaram sua carreira como bandas de garagem, ou seja, no circuito
independente. Ganharam notoriedade no espaço musical por conseguirem fazer
grande sucesso mesmo sem o impulso por parte das gravadoras ou ter apelo
necessariamente comercial em suas músicas. O principal nome do estilo é a banda
americana The Strokes, que conseguiu se destacar comercialmente e ainda ser
apontada pela crítica como “a salvação do rock”, como cita Simone Tinti. Tendo como
principais influências as bandas de acid rock como Beatles e The Doors e também o
rock experimental do Velvet Underground, todas dos anos 1960, a banda trabalha com
uma sonoridade crua, trabalhada e bem aceita entre diferentes faixas etárias de
público. Esta sonoridade também é visível em outras bandas do estilo, como The
Donnas, The White Stripes, Kings of Leon, Jet, Arctic Monkeys, The Kooks e The
Killers. Mas, outras bandas também rotuladas dentro do Indie Rock, possuem
influências e sonoridades distintas. Entre elas pode-se citar o Franz Ferdinand, que
tem sua linha dentro do chamado art rock, estilo derivado principalmente de artistas do
Rock Progressivo e Experimental dos anos 1970, a banda mescla vários elementos
artísticos às suas músicas. Também existe o exemplo do Bloc Party, banda de indie
rock que segue a linha “pós-punk”, tendo várias influências do punk e do hardcore,
além de mesclar elementos sonoros de bandas góticas dos anos 1980, como o Joy
Division.
Como citado durante esse capítulo, há muito o que se explorar da crítica social
no rock além do que é pautado pelos veículos de comunicação de massa. Apesar de
ser, também, um “produto cultural” e estar inserido dentro da lógica de mercado no
setor ideológico ou de entretenimento, o rock como forma de protesto, de luta e de
negação aos dogmas sociais também existiu e existe, e é com esta visão crítica do
rock que o programa “Um Solo de Protesto” pretende trabalhar.
3 JORNALISMO E RÁDIO
De acordo com Ciro Marcondes Filho, a base para o jornalismo seria a “síntese
do espírito moderno: a razão impondo-se diante da tradição obscurantista, o
questionamento de todas as autoridades, a crítica da política e a confiança irrestrita no
progresso, no aperfeiçoamento contínuo da espécie” (MARCONDES FILHO, 2002, p.
09); apesar deste valor, segundo o autor, ter em muito se dissipado com a queda do
discurso humanista em eventos como os que ocorreram em Auschwitz - onde judeus
foram condenados aos campos de concentração nazistas - e em Hiroshima - cidade
onde ocorreu o primeiro bombardeio atômico da história - e também com o aumento
do poder de sedução da mídia em decorrência do crescimento da influência do
discurso televisivo. Marcondes Filho também aponta que o surgimento do jornalismo
se relaciona com eventos tais como a Revolução Francesa (apesar de já existir antes
dela) e da desconstrução do poder atribuído às Igrejas e universidades, já que “o
controle do saber e da informação funcionava como forma de dominação, de
manutenção da autoridade e do poder, assim como facilitava a submissão e a
servidão” (MARCONDES FILHO, 2002, p. 11) e o jornalismo acaba se tornando uma
forma de divulgação e propagação do saber, provocando uma crise no poder papal.
Como lembra Michael Kunczik, para defender-se do poder do jornalismo, a alta
hierarquia da Igreja Católica institui o primeiro registro que se tem de censura a ele, ao
proibir qualquer publicação que não passasse pela avaliação da corte papal, a
chamada Cúria (KUNCZIK, 2001, p.24).
Apesar disso, nessa época nada se discutia sobre o uso do rádio como meio
de comunicação de massa. Pode-se dizer que esse uso surgiu de uma série de
técnicas, conforme cita Meditsch:
Além disso, uma das peculiaridades deste veículo muitas vezes considerada
negativa, que seria a falta de uma percepção visual da mensagem, como citado por
Emilio Prado, “dá origem a outra característica positiva, que é a capacidade de
sugestão que exerce sobre o ouvinte, que tem que criar mentalmente a imagem visual
transmitida pela imagem acústica” (PRADO, 1985, p. 19). O produto pretende explorar
este viés positivo da falta de recursos visuais do rádio, utilizando de forma inteligente
recursos sonoros que farão parte do produto, sem deixar que eles influam na
qualidade e objetividade da informação transmitida.
Também será levada em conta pelo produto em questão o fato de que o rádio
tem características de um meio que “se ajusta ao ouvinte, o de meio que se deixa
reger pela cotidianidade de seus receptores, definindo-se como acompanhante e
criado” (MEDITSCH, 2005, p. 272).
Mas o principal fator para sua utilização é o defendido por Rudolf Arnheim
(apud ZUCULOTO in MEDITSCH, 1998), citado em “Rádio e Pânico”, de que o rádio
pode ser visto como um notável meio de expressão artística da música, uma vez que,
segundo a lei geral da economia na arte, ela é feita para somente ser ouvida, fazendo
com que qualquer efeito visual – como videoclipes ou até mesmo a imagem dos
músicos numa apresentação ao vivo - que a ela seja adicionado possa se tornar um
desvio de sua real expressão artística. “E o rádio, por sua estética que prescinde
totalmente do visual, trabalhando única e exclusivamente com o audível, tem potencial
para seguir a risca essa lei” (ZUCULOTO in MEDITSCH, 1998, p. 125).
A escolha também foi feita pelo formato permitir um maior uso de efeitos,
elementos e fundos sonoros que se fazem indispensáveis em um tema no qual a
música é elemento predominante.
Como o produto tratou da década de 1950, foi sobre ela que obtive maior
conhecimento. Isso aumentou o meu interesse pela música dessa época, após
entender o quanto foram inovadores e vanguardistas os artistas envolvidos com o rock
‘n’ roll e o rhythm & blues, provocando uma revolução estética na musicalidade em
geral e outra revolução, esta comportamental, na própria sociedade americana, com
valores únicos e que representaram uma cultura nova no contexto em que se inseriam.
BARBOSA, Bruna, FARIAS, Adriana. Interessa Mostrar que o Metal tem Cara Feia.
Disponível em:
CARMO, Paulo Sérgio do. Culturas da Rebeldia. São Paulo: Senac, 2003.
CHACON, Paulo. O que é Rock. 5ª edição, São Paulo: Brasiliense S/A, 1989
CLAPTON, Eric. Eric Clapton: a autobiografia. São Paulo: Planeta do Brasil, 2007.
FRIEDLANDER, Paul. Rock and Roll: uma história social. 4° edição, Rio de Janeiro,
Editora Record, 2006.
KUNCZIK, Michael. Conceitos de jornalismo: norte e sul. São Paulo: Edusp, 2001.
LONGFELLOW, Matthew. Nevermind the bollocks: Here’s the Sex Pistols. Londres:
Eagle Rock Entertainment, DVD, 50 min.
MORAES, Denis (org.) Por uma outra comunicação. Rio de Janeiro: Record, 2003.
SEVCENKO, Nicolau. A Corrida para o Século XXI. São Paulo: Editora Schwarcz,
2002.
BURKE, Peter e BRIGGS, Asa. Uma História Social da Mídia. Rio de Janeiro: Zahar,
2004.
HARRIS, John. The Dark Side of the Moon: os bastidores da obra-prima do Pink
Floyd. Trad. Roberto Muggiati. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda, 2005.
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
PESCH, Jefrey. A História do Rock N’ Roll vol. 3. Ohio: Warner Home Vídeo, DVD,
107 min.
THOMPSON, J.B. Ideologia e Cultura Moderna: teoria social crítica na era dos meios
de comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 2000.
APÊNDICES
RADIODOCUMENTÁRIO
UM SOLO DE PROTESTO – 1ª EDIÇÃO – ANOS 50
(20/09/2010)
Lauda 1
Rodrigo – Apresentado por LEONARDO BARROSO e que irá tratar sobre a história e a
importância social do rock na década de cinquenta.//
Leonardo - “A música precisa ser rock n roll se você quiser dançar comigo”, dizia CHUCK
BERRY em “Rock n Roll Music”, um dos primeiros hinos do estilo musical./
Mas em qual contexto essa música iria surgir?/ Foi nos Estados Unidos, década
de cinquenta./ Um período de conflitos, como a Guerra Fria e a segregação
racial, e avanços científicos como o descobrimento do DNA e o transplante de
órgãos./ Foi em meio a esse cenário que surgiu o que até hoje é uma das
maiores marcas do protesto: o rock.//
(Continua)
RADIODOCUMENTÁRIO
UM SOLO DE PROTESTO – 1ª EDIÇÃO – ANOS 50
(20/09/2010)
Lauda 2
Leonardo - E o surgimento do rock não ocorreu nessa época por acaso, como conta o
mestre em história MARCOS ARAÚJO.//
TÉCNICA - RODA ENTREVISTA MARCOS ARAÚJO – ENTREVISTAS – UM SOLO
DE PROTESTO – ARQUIVO 02 – 1’3’’ - D.I. “NOS ANOS DE” D.F. “O
ROCK VAI SURGIR”
TÉCNICA - FUNDO MUSICAL – (CHUCK BERRY – JOHNNY B GOODE – TRILHA
SONORA – UM SOLO DE PROTESTO) - RODA 11 SEGUNDOS E VAI A
BG. CORTA AO INÍCIO DA ENTREVISTA
Leonardo - O que foi chamado oficialmente de rock n roll foi a adaptação de estilos
musicais negros por músicos brancos./ Quem comenta esse início é CARLOS
OLIVEIRA, conhecido como “BLUESCHIEF”, que foi dono de uma das
primeiras lojas a vender somente discos de rock em Curitiba.//
Leonardo - Ainda antes de ELVIS PRESLEY, outros artistas também tentaram estourar
como o “branco que cantava como um negro” de SAM PHILLIPS, como BILL
HALLEY na banda “BILL HALLEY E SEUS COMETAS”, oficialmente
tratada como a primeira banda de rock n roll da história./ Mas PAULO JUK,
baixista da banda Blindagem há mais de trinta anos, conta que a história do
rock, na prática, já existia antes de BILL HALLEY.//
TÉCNICA - SOBE – RODA 2’’ – CORTA
(Continua)
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Lauda 3
Leonardo - Além do Rhythm & Blues, também podemos perceber no rock um toque da
tradicional música dos interiores americanos, tida como uma das principais formas
de representação da cultura dos Estados Unidos, o Country, como explica o mestre
em história MARCOS ARAÚJO.//
Leonardo - Para que fiquem mais claras as características do som de que estamos tratando,
vamos demonstrar as principais influências do rock, tocadas pelo guitarrista
LÚCIO LOWEN, que há quatorze anos é professor de guitarra e violão./ Primeiro:
o Blues.//
Leonardo – Além do blues tradicional, também o Rhythm & Blues, surgido na década de 40.//
Leonardo - E por último uma contribuição da tradicional música Country & Western
americana.//
Leonardo - Além das influências musicais, para a construção final do que se tornou a
sonoridade do rock n roll, também foi necessária uma alteração nos próprios
instrumentos musicais, de acordo com o baixista PAULO JUK.//
Leonardo - CARLOS OLIVEIRA, que durante anos produziu programas musicais sobre
rock e blues em Curitiba, define também as principais características do som do
rock.//
Leonardo - O documentário “Um Solo de Protesto” vai para um breve intervalo./ Mas fique
ligado, porque no próximo bloco, vamos descrever a real importância de
integração social que o rock n roll teve na década de 50./ Voltamos já.//
(Continua)
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Lauda 5
Leonardo - No primeiro bloco, falamos sobre o surgimento do rock como estilo musical,
suas influências e seu contexto./ Agora, vamos tratar um pouco mais sobre o
impacto do rock na sociedade americana nos anos 50.//
(Continua)
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Lauda 6
Leonardo - CARLOS OLIVEIRA, que já foi produtor de vários programas de rádio ligados
ao rock, destaca nesse processo o nome do disk-jockey ALAN FREED, que
também foi responsável pela criação do termo “rock and roll”.//
Leonardo - (Continua)
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Lauda 7
Leonardo Mesmo com a interação entre músicos negros e brancos nos anos 50, o primeiro
show oficial no qual eles se de fato iriam se misturar no palco só iria ocorrer na
década seguinte./ CARLOS OLIVEIRA também conta como esse show
aconteceu.//
Leonardo - A partir do surgimento e da evolução do rock, a cultura negra passa a ser cada
vez mais respeitada e por músicos e fãs brancos das gerações seguintes./
MARCOS ARAÚJO, que há pouco nos explicou sobre a crescida do
movimento negro, comenta esse fato.//
Leonardo - Assim como os negros, os jovens também passaram a ser mais respeitados
como produtores de cultura a partir da década de cinquenta./ Isso se evidencia
no cinema, na música e até mesmo no mercado de consumo. Com a palavra, o
historiador MARCOS ARAÚJO.//
(Continua)
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Lauda 9
Leonardo Essa nova postura dos jovens americanos provocou um conflito de gerações
entre eles e seus pais, como já foi comentado./ Mas a disputa ideológica entre
os Estados Unidos e a União Soviética, bastante presente na década de
cinquenta, acabou facilitando a aceitação do rock./ O historiador MARCOS
ARAÚJO conta agora como isso aconteceu.//
Leonardo - E agora para encerrar o programa, pedimos para que todos os entrevistados do
programa definissem o rock com suas próprias palavras./ Primeiro, o antigo
dono da loja Jukebox de discos de rock, CARLOS OLIVEIRA.//
(Continua)
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