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Identificação: Luísa Diz Lopes, Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de

Português/Inglês, pela Universidade do Porto. Professora do quadro da Escola Secundária

Abade de Baçal, em Bragança. Coordenadora do Clube de Jornalismo e responsável pela edição

do jornal “Outra Presença”

Jornal escolar – um projecto multidimensional

Luísa Diz Lopes

“Para saber é necessário mobilizar um conjunto de competências intelectuais”

Bernard Rey (Revista Palavras, nº 28)

Introdução

Um jornal escolar mobiliza competências diversificadas, actualiza saberes, relaciona o aluno

com a escola e com o meio em que se integra e contribui para que os alunos implicados na sua

construção sejam cidadãos mais críticos, abertos,

responsáveis e conscientes da sua cidadania. Não é

por isso resultado de uma recolha de textos avulsos

criados em aulas diversas, mas o produto de uma

planificação elaborada a partir de um alinhamento

previamente estabelecido, no qual a prioridade são

os géneros jornalísticos, mas existe espaço para

outro tipo de trabalhos escritos, orais ou icónicos.

Aponta para actividades significativas

maioritariamente relacionadas com o domínio da

língua materna, desenvolvendo competências

verbais, aperfeiçoando a sensibilidade artística e a

capacidade de usar as novas tecnologias e contribuindo para o desenvolvimento da formação

pessoal e social do aluno de forma integrada.

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É, então, um produto que, fruto das dinâmicas criadas nas escolas, contribui para a melhoria

da qualidade das aprendizagens, da formação do indivíduo, das relações Escola-Meio, da imagem

dos intervenientes e da própria instituição.

José Gil, no seu livro Portugal, Hoje aponta a falta de “inscrição” dos cidadãos portugueses.

Sendo um jornal numa escola um espaço de inscrição de cada um, é um bom início para que este

hábito se enraíze. Numa época em que tudo é cada vez mais efémero, a escrita é a luta contra essa

velocidade e a forma de guardar no tempo os acontecimentos e as pessoas. Um jornal escolar

escreve a história de uma escola e, ao mesmo tempo desenvolve competências de leitura, escrita e

oralidade, de trabalho em equipa, de observação e de análise crítica e de utilização de meios

audiovisuais e informáticos.

Por tudo isto, a animação dos Clubes de Jornalismo é uma mais-valia que importa reforçar. A

composição destes grupos varia anualmente, o que faz com que cada início de ano lectivo seja um

recomeço do projecto. O ideal é que exista um núcleo de alunos que se mantenha pelo menos três

anos para servirem de ponte e cooperarem na integração e no trabalho dos mais novos. No presente

ano lectivo, o Clube de Jornalismo da Escola Secundária Abade de Baçal é composto por 5 alunos do

ensino secundário (3 raparigas de 10º ano e dois rapazes do 11º, do curso científico-tecnológico) e 15

do básico ( 1 rapaz e 7 raparigas de 7º ano e 7 raparigas de 8º), com idades compreendidas entre os

12 e os 16 anos). É evidente a maior adesão dos alunos do sexo feminino a estes projectos, que em

parte decore da sua maior maturidade e do facto de muitos rapazes preferirem as actividades do

Desporto Escolar, que habitualmente decorrem em simultâneo com as dos restantes clubes na

escola, dada a sobrecarga horária dos alunos e a necessidade de encontrar um horário que convenha

a todos os interessados. Constata-se, também, que são os alunos do 3º ciclo que estão mais abertos

a iniciativas extra-curriculares, mas a experiência tem comprovado que os alunos que integram o

grupo durante este período, se mantém no clube, mesmo quando ingressam no secundário e se

sentem mais pressionados com a exigência das várias disciplinas e das médias que pretendem para

ingressar no curso desejado.

Outra Presença – do papel ao digital

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O jornal da Escola Secundária Abade de Baçal, cujo percurso pode ser lido na secção Historial

do jornal Outra Presença on-line, alojado no sítio http://www.outrapresenca.com, surgiu em 1959,

como revista, com o nome “Presença”, quando a escola era comercial e industrial. Ressurgiu no final

da década de 80 com o nome Outra Presença. Entre 2001 e 2003, viveu fortes mudanças,

impulsionadas pelo Clube de Jornalismo, então criado: mudou de rosto, de logótipo, de formato e

diversificou-se interiormente. A dinâmica do

jornal adquiria um novo ritmo, que se manteve

até hoje.

Inserido num universo em permanente mudança

e num espaço cujos membros são os poderosos

adeptos dessa transformação, o jornal escolar

tem obrigatoriamente que se adaptar e adquirir

um formato electrónico.i Foi o que aconteceu em 2007 com o jornal Outra Presença, que surgiu

também em formato digital, procurando, assim, continuar a responder aos anseios da comunidade

que representa e em função da qual vive. O universo digital confere ao jornal escolar actualidade,

versatilidade, periodicidade, e interactividade, essenciais à sua condição e torna-o mais atractivo ao

público jovem. O trabalho torna-se mais visível porque é mais abrangente e oportuno e a resposta a

ele é mais imediata, não só porque é publicado imediatamente após a sua conclusão, mas também

porque qualquer pessoa o pode comentar logo após a sua leitura, recorrendo às possibilidades que a

internet e o correio electrónico lhe fornecem. Tornou-se, então, possível anunciar o amanhã e

noticiar o ontem, continuando o jornal a espelhar a identidade de

um estabelecimento e a manter-se como veículo activador do

processo ensino-aprendizagem.

A blogosfera é, também, inevitável neste contexto. A criação e

gestão de blogues, mais fácil que a de páginas, atrai os alunos e

estes espaços podem ser transformados em sítios de escrita criativa, de testemunhos de leitura ou

fóruns de discussão. Foi esta a opção que a equipa do Outra Presença tomou: criou inicialmente um

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primeiro blogue – A Presença de Todos, http://outrapresenca.blogspot.com/, no qual são colocadas

questões/temas/notícias para debater; depois foi a vez do Escrevinhar,

http://palavrasdomeudia.blogspot.com/, dedicado à escrita criativa, e finalmente surgiu o Ler Muito,

http://www.lermuito.blogspot.com/, que se preenche com

testemunhos de leitura e surgiu este ano, em colaboração com a

Centro de Recursos da Escola, e na sequência da implementação do

Plano Nacional de Leitura. Os blogues permitem, assim, diversificar

as matérias de um jornal escolar tornando-o uma publicação mais

abrangente e integradora, porque alarga o seu universo de referência.

Um ano – um projecto

Construído num ambiente de lazer, o jornal escolar resulta de um trabalho de grupo, orientado,

como na sala de aula, por professores, mas que é realizado de forma voluntária.

Cada trabalho, que pressupõe um acordo prévio entre os professores dinamizadores e os alunos que

o vão realizar, é pertinente naquele lugar e naquele momento. É, sem que o aluno esteja disso

consciente, um pequeno projecto de curta duração. Implica uma planificação prévia, mais ou menos

alargada, consoante o produto que se pretende, e há questões que o aluno tem de equacionar: O

que é que eu sei sobre isto? Que aspectos preciso de ver mais esclarecidos? Quem me pode esclarecer?

Onde posso procurar informações? Quando e onde vai ocorrer o acontecimento? Como ilustro o meu

trabalho? Quem vai ler o meu trabalho?

Todas estas questões implicam que ele desenvolva mecanismos de obtenção de informação

diversificados, pois se a “internet” lhe dá informações sobre determinado assunto, algumas só se

conseguem se, como verdadeiro repórter, se deslocar ao local para ver, ouvir e sentir, outras exigem

um contacto em modo de entrevista e outras pedem-lhe que em prol da autenticidade seja também

fotógrafo ou se faça acompanhar de alguém que o possa ajudar nesta área.

O jornal - activador de competências múltiplas

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O trabalho que é efectuado ao longo das

sessões de um Clube de Jornalismo e que se

estende para além delas, devido à própria

natureza deste projecto, mobiliza múltiplas

competências, e é por isso essencial que os

professores dinamizadores as tenham

presentes para que as possam potenciar,

contribuindo, assim, para o seu desenvolvimento.

A produção de textos como uma curta notícia ou uma reportagem desenvolve os mecanismos de

investigação e de selecção de informação essencial, a distinção entre o essencial e o acessório, a

capacidade de síntese da informação obtida, de aperfeiçoamento e rescrita de documentos

informativos, a planificação de informação por tópicos Acresce a este o facto de o aluno necessitar

de procurar o acontecimento que deve ser noticiado – ordenar e textualizar os dados que lhe foram

entregues, recolher informação em falta, observar o espaço e os intervenientes, obter a imagem

certa. Uma reportagem coloca, além dos já apresentados, outros desafios. O aluno desloca-se ao

local e o seu olhar alarga-se, a sua atenção não se restringe a uma pessoa, foca-se no acontecimento

e no ambiente físico e humano que o rodeia. Toma decisões relativamente a testemunhos que

considera essencial recolher e que contribuem para que ele perceba como é que tudo está a

acontecer e por que razão. A forma como se preparou para este momento e a sua capacidade de

observação e de análise são, por isso, determinantes no sucesso do seu trabalho e no

desenvolvimento da sua autonomia.

A um trabalho mais complexo corresponde frequentemente uma maior diversidade de

competências que o aluno se vê obrigado a desenvolver. Uma entrevista pressupõe capacidades

como: planificar, investigar e seleccionar temas a abordar; escutar com atenção para poder

retorquir, pedir esclarecimentos e relacionar; intervir de forma oportuna e num registo no mínimo

corrente; tomar notas durante a preparação e a realização da mesma, implicando frequentemente

um contacto formal com o entrevistado através de uma carta, correio electrónico ou do telefone;

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redigir o texto final, sendo esta tarefa mais árdua pelo tratamento que a transposição do oral para o

escrito exige e pelo facto de o texto estar sujeito a um espaço limitado; utilizar de forma eficaz

meios audiovisuais e informáticos – gravador; máquina fotográfica, computador.

A crónica exige uma capacidade de observação crítica que faz com que o aluno procure descobrir a

importância daquilo que à partida lhe parece insignificante e que exponha as suas ideias de forma a

cativar quem o lê, porque ele adquiriu a consciência de que neste tipo de texto o leitor não procura

informação objectiva sobre acontecimentos, quer antes sentir-se deleitado ao ler a opinião de

alguém sobre eles. Desenvolvendo a sua capacidade de atenção ao meio, o aluno vai tentar construir

um texto aparentemente leve no qual dará os primeiros passos no campo da ironia, da

coloquialidade escrita e consciente, da literariedade, da argumentação, características do texto

de opinião.

A crítica, não especializada naturalmente, tem a vantagem de contar com o interesse que o aluno já

possui relativamente a um filme, livro, exposição de pintura ou aplicação informática. Mas qualquer

destes elementos, que já contariam com o tempo do aluno, vai agora receber uma atenção

redobrada e analisado com um olhar que aliará o deleite à reflexão. O aluno vai, assim, fruir dele,

integrá-lo no seu universo de conhecimentos e, simultaneamente, efectuar uma reflexão escrita

sobre ele, que exigirá, por exemplo, que o compare com outros trabalhos do mesmo género que

conhece e que domine vocabulário específico da área em que o objecto em estudo está integrado.

Serão, portanto, importantes auxiliares os glossários e dicionários temáticos e as revistas da

especialidade, que ele consultará.

Em nenhum dos trabalhos anteriores a leitura está descurada. Há, como ficou claro, um trabalho

prévio que é necessário fazer, que exige a leitura de documentos variados e, além disso, outro que

não é menos importante: a leitura de vários textos que exemplificam com qualidade o tipo de texto

que se vai trabalhar. Só depois de ter lido várias notícias, reportagens, entrevistas, crónicas é que o

aluno se vai sentir capaz de escrever uma.ii

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A realização de inquéritos, por exemplo, é uma actividade frequente e que implica, além dos passos

exigidos para os outros trabalhos, o tratamento estatístico de dados, que permite uma parceria

com a disciplina de Matemática, contribuindo para a aproximação desta à realidade quotidiana.

Todos os trabalhos são planificados, textualizados, sintetizados, revistos, aperfeiçoados e a sua

avaliação é o sucesso do projecto que eles integram na comunidade a que este pertence. Por isso o

ambiente em que se desenvolvem é o de uma oficina de escrita alargada e dinâmica que decorre ora

na escola, ora em casa ou noutro espaço que o aluno escolha para a realizar e alterna a formação em

presença com a formação à distância, possível devido ao uso das novas tecnologias e da internet.

Como se processa, então, este laboratório de imprensa? Acompanhados pelos professores

dinamizadores, os alunos reflectem sobre assuntos prementes da actualidade, e seleccionam a

forma de os abordar, discutindo a pertinência da realização de uma entrevista, notícia, crónica,

inquérito, reportagem. Já em pequeno grupo, orienta-se o trabalho fazendo uma planificação do

texto, analisando a necessidade de um trabalho de investigação, que obedecerá, também, a um

guião de pesquisa, ponderando a informação a transmitir. Cada aluno/grupo deve depois trabalhar

autonomamente, sendo este processo acompanhado com sugestões de aperfeiçoamento sempre

que necessário. Terminado o trabalho, este é corrigido, aperfeiçoado e rescrito pelo aluno que o

produziu. Pode ser pertinente o uso de fichas de auto-correcção para o aluno aplicar antes de

entregar o trabalho ao professor, no caso de haver tempo para este processo e de o trabalho ser

parcialmente feito fora do espaço do clube, como muitas vezes acontece.

Num jornal há, ainda, espaço para o texto icónico: a fotografia, o desenho, a caricatura são registos

habituais na imprensa que exigem um olhar diferente sobre a realidade e uma forma também

diferente de a exprimir, mesclando a objectividade da imagem com o espírito crítico e a criatividade

do homem. Analisar páginas de jornais e revistas, cartazes publicitários, cartoons, tiras de banda

desenhada são actividades que podem constar do plano de um clube de imprensa, como forma de

sensibilização para a selecção da melhor imagem a acompanhar um texto ou para a construção de

um anúncio publicitário. Estas actividades, aliadas a eventuais visitas a exposições de pintura e/ou

fotográficas contribuem para o desenvolvimento da capacidade de observação, apuramento da

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sensibilidade artística e espírito crítico dos jovens, ao mesmo tempo que introduzem os alunos em

programas de tratamento de imagem.

Do que ficou dito, se vê como o treino da escrita e da leitura são uma constante neste tipo de

projectos. E a oralidade? Que efeitos produz a produção de um jornal neste domínio de extrema

importância na sociedade contemporânea da informação e que nem sempre recebe a atenção que

devia na aula de Língua Portuguesa, em virtude do elevado número de alunos e do pouco tempo que

é dedicado a esta disciplina no currículo do aluno? O Clube de Jornalismo é um espaço privilegiado

na produção do oral que pode ajudar o aluno a expressar-se de forma desbloqueada e autónoma em

função de objectivos comunicativos diversificados. Espaço informal de análise e discussão da

actualidade, permite a expressão e a fundamentação de opiniões, os pedidos de esclarecimento, a

justificação de opções. Espaço de comunicação ajuda a mobilização de um registo mais formal, na

realização de uma entrevista, por exemplo. Todas estas formas do oral são significativas para os

membros deste clube pois fogem à simulação que o espaço-aula frequentemente exige. Aqui a

entrevista é realizada, não porque é um elemento de avaliação, mas porque é uma forma de

obtenção de informação que é pertinente naquele momento, por isso o aluno mobiliza os

conhecimentos que adquiriu sobre este tipo de actividade e os assuntos que vai abordar. Este

trabalho vai ser divulgado e o aluno sente a dupla responsabilidade de o executar com o

profissionalismo que está ao seu alcance.

Todas estas tarefas evidenciam que a potencialidade primeira do jornal escolar é o facto de ele partir

da realidade para a realidade, de se basear no concreto e de possuir uma meta claramente definida.

O aluno desenvolve um trabalho sobre um acontecimento real, visível ou com efeitos visíveis, que

será publicado em determinada secção no próximo número ou, no caso das versões digitais, na

próxima actualização do jornal, num dos dias seguintes ao da sua produção, imediatismo permitido

pela existência de um jornal em linha.

Pela sua diversidade e abrangência pode promover o intercâmbio e a facilitar a integração de

diferentes culturas alojando no seio da equipa responsável pela sua elaboração elementos diversos.

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É além disso transversal a todas as disciplinas. Os assuntos abordados podem estar relacionados

directamente com conteúdo programáticos de diversas disciplinas, como a Matemática (as razões

do seu insucesso; um entrevista a um colega “génio” ou a um professor; um inquérito que procure

averiguar o modo como os alunos trabalham e o tempo que dedicam à disciplina), a Química (uma

crónica sobre a pertinência do investimento no biodiesel; uma reportagem sobre o Dia da Ciência); a

Física (artigo sobre a nanotecnologia…) ou a História. Em qualquer destes casos o aluno é um

elemento activo na construção da sua própria aprendizagem. Ele necessita de assimilar os

conhecimentos, processá-los e dar-lhes um tratamento próprio. A sua cultura é enriquecida não só

através deste trabalho, mas do interesse que os diversos assuntos abordados pelos colegas desperta

em si e da abertura que manifesta relativamente à actualidade que o rodeia.

Na fase final, a informática é rainha. Edição, revisão e correcção de texto, edição de imagem,

elaboração e análise de gráficos, paginação (que implica uma preocupação com o design gráfico da

página e, por isso, exige também a pesquisa sobre possibilidades de arranjo gráfico) são alguns dos

exemplos das infocompetências que são activadas e que o aluno vai desenvolver, ao utilizar os

programas que lhe permitem efectuar estas acções. A existência do jornal electrónico ergue um

novo desafio e mobiliza novos saberes: os que permitem a criação e gestão de páginas na internet.

Da responsabilidade habitualmente de um professor, o aluno é convidado a tornar o seu papel

gradualmente mais activo, familiarizando-se com esta actividade, cada vez mais importante na

sociedade em que vive. O ambiente virtual permite-lhe um envolvimento maior pelo facto de poder

acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos à distância.

Conclusão

Por tudo isto é evidente o impacto do clube de jornalismo nas aprendizagens das várias disciplinas.

Face às matérias com que, na sala de aula, contactou e que podem relacionar-se com as actividades

do clube, num determinado momento, o aluno necessita de processar a informação que recebeu na

aula sobre um determinado tema, procurar mais dados, esclarecer-se com o professor dessa área e

trabalhar os elementos que possui textualmente. Por isso é essencial diversificar os temas a abordar:

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assinalar efemérides diversas com trabalhos diferentes, debater os organismos geneticamente

modificados, o aborto, a eutanásia, noticiar acontecimentos, exprimir opinião relativamente a

hábitos de leitura, novas tecnologias, actividades na aula, conteúdos programáticos diferenciados

são exemplos de actividades de forte impacto na disciplina de Português, como facilmente se

comprova se se analisarem os primeiros textos que um aluno escreve e os que apresenta um ano

depois ou a maior facilidade com que expõe oralmente a sua posição face a determinado assunto,

ou, ainda, a atenção com que olha o que o rodeia.

É também importante apostar na continuidade destes projectos, pois um clube que muda

radicalmente de coordenação todos os anos, arrisca-se a pôr em causa a integridade do produto que

constrói. A continuidade é, por isso, a chave do sucesso de actividades extra-curriculares deste

género: o jornal produzido renova-se sem perder identidade; os alunos que as integram de forma

continuada melhoram, habitualmente, o seu desempenho na aula de Língua Portuguesa, vêem o

seu interesse aumentado em matérias de outras disciplinas e olham de frente para os jornais que

encontram nas bancas. A sua história é-lhes familiar.

Num projecto deste tipo, os conhecimentos individuais e do grupo permitem a realização de tarefas

que fazem com que os alunos activem os seus saberes e, por isso, o jornal escolar, sendo um

projecto multidimensional, no centro do qual está o aluno, elemento dinâmico na construção da sua

aprendizagem, capaz de actualizar competências múltiplas e de diversas áreas do saber, deve ser

uma presença forte e constante numa escola, pois enriquece aqueles que nela se constroem e,

simultaneamente, solidifica esse espaço educativo ao ser um arquivo dinâmico das suas memórias.

Bibliografia

Briggs, Mark . Journalism 2.0: How to Survive and Thrive- A digital literacy guide for the information age

( tradução de Carlos Castilho - Jornalismo 2.0 – Como sobreviver e prosperar), Centro Knight para o Jornalismo

nas Américas, da Universidade do Texas (Austin), 2007

10
Castanheira, José Pedro. No reino do anonimato – estudo sobre o jornalismo online, Edições Minerva,Coimbra,

2004

Gil, José. Portugal, Hoje O medo de Existir, Relógio d’Água Editores, Lisboa, 2004

Hughes, Ted. O fazer da Poesia, Assírio & Alvim,Lisboa, 2002

Rey, Bernard. “Pedagogia Diferenciada, saberes e competências”. In Palavras, 28, pp 19-34.

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i
Mark Briggs (Jornalismo 2.0 – Como sobreviver e prosperar, tradução de Carlos Castilho)defende que “A digitalização
do jornalismo já é uma realidade, embora o novo perfil da profissão ainda esteja em construção. Muitos dizem que
ele jamais terá uma cara definitiva, porque a comunicação tornou-se irremediavelmente fluida”

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Esta situação é ilustrada no livro O Fazer da Poesia de Ted Hughes, que tem como referência a construção de textos
literários, mas o princípio é o mesmo.

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