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Fotos: Lyderwan Santos

SGBD com Extensão Espacial


e Sistemas de Geoinformação:
Um Casamento Perfeito
Cleber Hostalácio de Melo
Engenheiro Eletricista (1984) e mestre em Ciência da Computação (1988)
pela UFMG. Trabalha na Prodemge desde 1989 como analista de
tecnologia, em prospecção e implementação de novas tecnologias de
informação, com ênfase atualmente em banco de dados, recuperação de
informações textuais e ferramentas e tecnologias associadas à
linguagem de programação Java.

Márcio Azevedo de Menezes Guerra


Engenheiro metalurgista (1979) e especialista em modelagem e simulação
de processos siderúrgicos (1980) pela UFMG. Trabalha na Prodemge há
10 anos como analista de informática, com ênfase em geoprocessamento,
prestando consultoria e desenvolvimento de aplicações SIG.

RESUMO
O artigo inicialmente apresenta um breve relato da história e evolução da área de geoprocessamento,
desde a década de 60 até os nossos dias, apresentando os principais conceitos e evoluções tecnológicas.
Em seguida, ele descreve as arquiteturas básicas para se implementar a gerência de dados em sistemas
de geoinformações e conclui, apresentando o resultado de um estudo comparativo realizado na
Prodemge, envolvendo os seguintes SGBD objeto-relacionais e suas extensões espaciais: MySQL,
Oracle e PostgreSQL.

Palavras-chave: Geoprocessamento, Sistemas de Informações Geográfi-


cas, SIG, Sistemas de Geoinformações, SGBD Objeto-
Relacionais, Oracle, MySQL, PostgreSQL

Onde Tudo Começou?


O ser humano sempre coletou do tempo essa coleta de infor- para a organização em sociedade
informações sobre a geografia ao mações evoluiu, incluindo novos exigiu que essas informações fos-
seu redor, procurando a existên- elementos, tais como obstáculos sem consolidadas e organizadas,
cia de determinado recurso neces- naturais e recursos minerais. para possibilitar a sua difusão e
sário a sua sustentação. Ao longo A evolução natural do homem compartilhamento entre todos os

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interessados. Começa a utilização Geographic Information Systems camada poderia ter sido originada
de papel, escala e notações espe- – GIS). Essas ferramentas per- da(s) empresa(s) de transporte
ciais para representar grafica- mitem análises complexas, com- municipal.
mente essas informações, na forma binando dados alfanuméricos A partir de 1980, com a re-
que ficou universalmente conhe- com dados geográficos. Os dados dução de custo e evolução da ca-
cida como mapa. Essa forma de geográficos são denominados pacidade computacional do hard-
representação possuía limitações temas ou camadas (em inglês: ware, iniciou-se a popularização
inerentes como, por exemplo, themes ou layers). Um determi- do geoprocessamento. Novos
combinar e analisar informações nado tema pode ser representado recursos foram introduzidos nos
provenientes de diversos mapas por uma ou mais camadas, SIG, em especial a estatística e o
distintos. dependendo da complexidade, da sensoriamento remoto (SR), o
A partir de 1960, com a evo- forma de representação dos dados que contribuiu ainda mais para
lução na tecnologia de infor- ou de ambos. Exemplificando, a alavancar a sua popularização.
mação, tornou-se possível repre- análise do deslocamento dos Através de sensores orbitais
sentar essas informações em alunos para chegar a determinada (satélites) ou sensores aerotrans-
ambiente computacional. Os da- escola pode envolver três cama- portados (ex. aerofotos), tornou-
dos passam a ser organizados de das localizadas geograficamente se possível "descobrir", com
forma a facilitar a análise de seus ou seja, georreferenciadas: maior rapidez e precisão, eventos
inter-relacionamentos, com o obje- 1. a primeira camada contém ou fenômenos à distância. Tor-
tivo de gerar novos dados e repre- as escolas existentes; nou-se viável a captura de ima-
sentá-los no espaço geográfico. 2. a segunda apresenta os en- gens de satélites de uma determi-
Surge então o geoprocessamen- dereços residenciais dos nada localização em intervalos de
to. Utilizando técnicas matemáti- alunos e também será tempo regulares e ajustáveis.
cas e computacionais, o geopro- georreferenciada com base Com esse recurso pode-se, por
cessamento permite a correlação no cadastro de quadras e exemplo, monitorar queimadas e
e a análise de dados geográficos e lotes do município; desmatamentos de forma mais
de dados alfanuméricos (seus 3. a última camada representa efetiva e acurada. Outro uso
atributos), facilitando a tomada as linhas de transporte dessa tecnologia é suprir infor-
de decisão em diversas áreas, tais urbano em operação. mações de regiões onde os dados
como planejamento urbano e re- Uma característica relevante geográficos são insuficientes ou
gional, gestão de recursos natu- dessa abordagem é que os dados mesmo inexistentes. A união dos
rais, transporte, gestão nas áreas em cada camada podem ser origi- SIG com as ferramentas de sen-
de Saúde e Educação. nados de diversas fontes distin- soriamento remoto possibilitou o
No ambiente computacional, tas. No exemplo anterior, a pri- surgimento de novas aplicações,
as ferramentas de software meira e segunda camadas seriam como o controle de determinadas
utilizadas para realizar o geo- geradas pela Secretaria de Edu- endemias, causadas por fatores
processamento são denomi- cação, a partir do Cadastro Técni- naturais e ambientais.
nadas Sistemas de Informações co Municipal da Secretaria da A estatística permite determi-
Geográficas - SIG1 (em inglês: Fazenda, enquanto a terceira nar a relação de dependências

1 A sigla SIG é normalmente utilizada tanto para representar o substantivo singular (sistema) quanto plural (sistemas).

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entre variáveis indicando as rela- análise, ampliando assim as possi- minadas regiões da Amazônia está
ções de causa – efeito. Agregan- bilidades de indicação das causas associado à construção de estradas,
do então a geoestatística aos sis- de determinado evento ou fenôme- ao gerar um aumento da ocupação
temas de geoprocessamento, variá- no. A comprovação de que o au- humana, é um bom exemplo da
veis geográficas são incluídas na mento de desmatamento em deter- aplicabilidade desses recursos.

Evolução dos SIG


Os SIG surgiram na década tecnológico derivado diretamente gerenciamento de banco de
de 60 no Canadá, como parte de da criação de diversos centros de dados (SGBD). Essa interligação
um programa governamental pa- pesquisa e desenvolvimento vol- possibilitou a manutenção dos
ra inventário e controle de recur- tados para o geoprocessamento e dados alfanuméricos em SGBD,
sos naturais. Esses SIG eram evi- a incorporação de novas ferra- ampliando a utilização dos SIG.
dentemente limitados pela tec- mentas de análise, o que con- O conceito de sistemas de
nologia da época: hospedados em tribuiu ainda mais para a po- geoinformação surgiu na década
grandes e onerosos computadores pularização desses produtos. de 90 com a união entre os siste-
(mainframes), com terminais de Mas, ainda nessa época, os mas de informações tradicionais
vídeo de baixa resolução, funções SIG tinham uma capacidade limi- e os SIG. Para que isso ocorresse,
reduzidas e quase nenhuma capa- tada de incorporar dados alfanu- foi necessário que a funcionali-
cidade de análise. Eles eram, por- méricos. Eles reconheciam ape- dade desses SIG fossem disponi-
tanto, usados mais como substitu- nas formatos de dados proprie- bilizadas através de interfaces
tos da cartografia tradicional. tários e apresentavam para seus (Application Programming Interface
A partir de 1980 começam a usuários interfaces pouco amigá- – API), acessíveis por outras fer-
aparecer os primeiros SIG comer- veis. Caracterizavam-se princi- ramentas ou componentes de
ciais, motivados basicamente pe- palmente como ferramentas de software. Essa tendência se am-
lo surgimento da microinformá- automatização e representação pliou ainda mais com a evolução
tica, que promoveu a redução de cartográfica. Com o aumento do dos SGBD, que passaram a su-
custo de aquisição e manutenção interesse na utilização da análise portar também o armazenamento
de hardware e software. Pode-se espacial, desenvolveram-se mais e gerenciamento dos dados geo-
citar ainda como outros fatores funções e iniciou-se a ligação gráficos de uma aplicação, além
importantes: o desenvolvimento entre os SIG e os sistemas de dos seus dados alfanuméricos.

Arquiteturas de Gerência de Dados dos SIG


Conforme apresentado em baseadas em SGBD: dual, exclusivamente o sistema de
[1], atualmente um diferencial integrada em um SGBD relacio- arquivos do sistema operacional
importante entre os SIG é a nal, e integrada utilizando hospedeiro para armazenar
forma como os dados alfa- uma extensão espacial sobre tanto os dados alfanuméricos
numéricos e geográficos são um SGBD objeto-relacional. quanto as suas representações
armazenados e gerenciados. Há Embora não relacionada com geográficas. Portanto, essa
basicamente três arquiteturas o escopo deste artigo, existe arquitetura não faz uso de ne-
de gerenciamento de dados ainda a arquitetura que utiliza nhum SGBD.

106 FONTE
Arquitetura Dual
Nessa abordagem, os atribu- do banco de dados alfanumérico componente de software à
tos ou dados alfanuméricos da pode comprometer a sua quali- parte – sobre os arquivos
aplicação são armazenados em ta- dade e a eficiência do processo de que armazenam os dados
belas (relações) de um banco de consulta e de análise dos mesmos, geográficos e, finalmente,
dados relacional, gerenciado por pelas seguintes razões: a terceira que irá consoli-
um SGBD. Os dados geográficos 1. os dados geográficos estão dar, agrupar e relacionar os
associados a esses atributos são fora do domínio de atuação resultados obtidos nas eta-
armazenados isoladamente em dos mecanismos de back- pas anteriores;
arquivos do sistema operacional up, recuperação, controle 3. a integração com outras
hospedeiro, em um formato pro- de transação e controle de ferramentas (ex. outro SIG,
prietário do SIG. A associação ló- concorrência do SGBD. software estatístico, etc.)
gica ou conceitual entre um dado Como conseqüência, fica torna-se mais complexa
geográfico e seu atributo alfanu- comprometida a garantia devido ao formato proprie-
mérico (ex. população de uma ci- de sua própria consistência tário de armazenamento
dade) é feita através do comparti- e da integridade referencial dos dados geográficos;
lhamento de um valor identifica- em relação aos seus atribu- 4. a administração do am-
dor único (chave primária) atribuí- tos, armazenados no banco biente operacional torna-se
do simultaneamente para ambos. de dados relacional; mais complexa e onerosa,
Essa é uma arquitetura sim- 2. a manipulação (consulta, visto que usualmente as
ples e possibilita a utilização de inserção, alteração e remo- empresas delegam a profis-
qualquer SGBD do mercado, ção) dos dados tende a ser sionais com perfil e capa-
mesmo aqueles mais elementares, mais lenta, pois é efetuada citação distintos a respon-
que não possuem nenhum suporte em, geralmente, três etapas: sabilidade de administrar
para o armazenamento e manipu- uma pelo SGBD para a cada um desses ambientes:
lação de objetos binários longos manipulação dos dados no administrador de banco de
(BLOB). No entanto, o armazena- banco de dados relacional, dados e analista de suporte
mento dos dados geográficos fora a outra pelo SIG – ou a sistemas operacionais.

Arquitetura Integrada em um SGBD Relacional


Essa arquitetura considera Embora elimine ou pelo me- os dados geográficos não con-
que os dados geográficos serão nos reduza as desvantagens da seguem ter sua semântica
armazenados em colunas do tipo Arquitetura Dual, essa aborda- interpretada pelo SGBD. Isso
objeto binário longo (BLOB) nas gem ainda possui algumas res- impossibilita a manipulação, via
mesmas tabelas do banco de da- trições, que são inerentes à Teoria SQL2 (Structured Query Lan-
dos onde estão armazenados seus Relacional [2]. Por serem arma- guage), dos dados geográficos
atributos alfanuméricos. zenados como cadeias binárias, baseada em seu conteúdo e na

2 Structured Query Language (SQL): linguagem de dados padrão dos SGBD relacionais do mercado e que engloba comandos para
definição, inserção, consulta, atualização e remoção de dados, bem como a garantia de sua integridade e segurança de acesso.

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associação desses dados aos seus então ainda ao SIG, ou outro associado, a tarefa de suprir essas
atributos alfanuméricos. Cabe componente de software a ele deficiências.

Arquitetura Integrada via Extensão Espacial


A arquitetura de gerência de foram incorporados à lin- no desempenho das con-
dados dos SIG teve sua mais guagem SQL para ma- sultas envolvendo dados
recente e principal evolução com nipular dados espaciais, espaciais, como aquela
a incorporação pelos SGBDs tais como: distância entre exemplificada anterior-
relacionais de recursos para a pontos, interseção entre li- mente.
definição, armazenamento e ma- nhas e polígonos. Além A partir de 2000, essa abor-
nipulação de dados complexos disso, é possível mesclar, dagem se consolidou com o esta-
através da orientação por objeto. em um mesmo comando belecimento de padrões abertos
Os produtos que seguiram essa SQL, operadores e predi- de serviços e intercâmbios de
tendência, tais como Oracle, cados alfanuméricos e es- informações geográficas, deter-
DB2, Informix e PostgreSQL, paciais, o que possibilita a minadas pela Open Geospatial
passaram a ser denominados de execução de consultas do Consortium (OGC) [3]. A OGC é
SGBDs objeto-relacionais. tipo: "Quais são as cidades uma organização internacional
Com a capacidade de incor- com mais de 100 mil habi- sem fins lucrativos e formada por
porar novos tipos de dados, inclu- tantes que estão locali- 271 associados, entre os quais:
sive objetos complexos, e de es- zadas em um raio de 200 empresas, agências governamen-
tender a linguagem de dados SQL quilômetros de Belo Hori- tais, universidades e institutos de
com funções e operadores para zonte?"; pesquisa. Ela tem como objetivo
manipulá-los, surgiram as exten- - implementam novos meca- o desenvolvimento de padrões
sões espaciais que agregam aos nismos de indexação especí- consensuais para serviços geoes-
SGBD pelo menos as seguintes ficos para dados espaciais paciais e de localização. Cum-
funcionalidades: (R-Tree e Quad-Tree), que prindo suas atribuições, esse con-
- suportam tipos de dados são devidamente incorpora- sórcio estabeleceu padrões para a
espaciais (tipo geométri- dos ao processo de otimiza- distribuição e interligações de
co), tais como: ponto, ção de consultas do SGBD. dados de diversas fontes, facili-
linha, polígonos, etc; Em conjunto, possuem efei- tando a construção de Sistemas
- novas funções e operadores tos extremamente positivos de Geoinformação [4].

Comparando algumas Extensões Espacias


Existem atualmente no mer- cle Spatial e PostgreSQL/Post GIS. clientes, no sentido de alavancar
cado diversas opções, proprie- A Prodemge já utiliza alguns a utilização desse tipo de recurso
tárias ou livres, de extensão espa- desses SGBD – DB2, MySQL e nos sistemas existentes ou a
cial para SGBD objeto-relacio- Oracle – mas sem fazer uso de serem desenvolvidos, foi rea-
nais: IBM/DB2 Spatial Extender, seus mecanismos de extensão lizado na Prodemge um estudo
Informix Spatial Datablade, espacial. Levando em conta o de prospecção de SGBD para
MySQL Spatial Extension, Ora- interesse da empresa e de seus geoprocessamento [5]. O seu

108 FONTE
principal objetivo foi analisar e A razão dessa premissa é O MySQL [6] é um SGBD
avaliar, sob o ponto de vista minimizar os riscos de se gratuito e de código aberto, po-
funcional, as características de optar por um produto cuja dendo ser distribuído tanto com
alguns dos principais produtos qualidade técnica não uma licença comercial quanto
do mercado, com o intuito de tenha sido devidamente com uma integralmente baseada
identificar aquele que possa ser comprovada por um na GNU/GLP. É um produto
melhor utilizado no desenvolvi- universo significativo de muito utilizado e conhecido co-
mento de sistemas de geoinfor- usuários e, assim, conse- mo sendo simples, fácil de operar
mação no âmbito do Governo do qüentemente comprometer e com excelente desempenho. A
Estado de Minas Gerais. a qualidade de serviço da sua extensão espacial só foi dis-
O escopo dessa avaliação Prodemge. ponibilizada a partir da versão
ficou limitado aos produtos Esse trabalho teve como prin- 4.1.0, lançada em abril de 2003.
MySQL, Oracle e PostgreSQL, a cipal balizador o documento A Prodemge vem utilizando-o
fim de satisfazer as seguintes pre- OpenGIS Simple Features nos últimos anos em sistemas
missas: Specification For SQL [4] pro- web de pequeno e médio portes,
1. excluir o DB2 do processo duzido pelo Open GIS porém sem fazer uso de seus
de análise, por ser um Consortion (OGC). Esse docu- recursos espaciais.
SGBD usado exclusiva- mento, abreviadamente SFSSQL, Embora sua implementação
mente na Prodemge em é uma proposta de especificação tenha seguido de perto as fun-
aplicações legadas em de um conjunto de geometrias cionalidades especificadas na
mainframe; e de operações topológicas que SFSSQL, a sua extensão espacial
2. restringir-se aos SGBD já geram novas geometrias em apresenta algumas limitações que
utilizados na Prodemge pa- tipos de dados vetoriais. O seu podem restringir significativa-
ra evitar uma proliferação principal objetivo, segundo seus mente a sua utilização, sendo que
excessiva de produtos na realizadores, é definir um pa- as principais são:
empresa e, assim, garantir drão da linguagem SQL que 1. a extensão espacial só está
o nível de qualidade de suporte o armazenamento, recu- disponível para o tipo de
suporte técnico e reduzir peração, consulta e atualização tabela MyISAM, que é a
os custos com treinamento de dados geoespaciais, bem como estrutura de armazenamen-
dos funcionários; de seus atributos descritivos to original e mais simples
3. para os produtos com li- alfanuméricos. do MySQL. O problema é
cença de uso proprietária e O escopo do trabalho se limi- que, nesse caso, são inexis-
paga, considerar aquele tou à análise funcional dos produ- tentes os mecanismos de
que possa ser disponibili- tos. Portanto, não foram realiza- controle de transação e de
zado em Linux, que é o sis- dos testes operacionais, sejam integridade referencial, o
tema operacional com li- eles de instalação, avaliação que limita a sua aplicabili-
cença livre utilizado exten- de desempenho, de estabilidade e dade a sistemas com baixo
sivamente na Prodemge e de facilidade de uso. A seguir requisito de robustez e
em seus clientes (vide pre- estão brevemente descritos os de complexidade. Essas
missa 1); produtos analisados, ressaltando limitações, no entanto,
4. considerar apenas produ- algumas de suas características nem sempre são condi-
tos com ampla divulgação positivas e negativas. Uma visão zentes com a realidade
e aceitação no mercado mais detalhada está nas Tabelas da Prodemge e de seus
internacional e nacional. de 1 a 5. clientes;

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2. apenas um número muito armazenamento, recuperação e curiosamente, até então, a sua lin-
reduzido de produtos da área análise de dados espaciais. Ela guagem de dados original era o
de geoprocessamento faz também adere à especificação PostQUEL, diferente da maioria
interface atualmente com o SFSSQL, embora com total dis- dos produtos concorrentes que se-
MySQL (vide Tabela 5). A cordância em relação à nomen- guiram o padrão SQL. No mesmo
sua utilização fica mais clatura original das funções e ano, o seu código-fonte foi dis-
uma vez restrita apenas ao procedimentos. Esse fato, prova- ponibilizado na web, onde um gru-
desenvolvimento de siste- velmente por razões históricas e po de desenvolvedores mundial-
mas autocontidos, sem inte- de compatibilidade, não só difi- mente distribuídos o vem manten-
ração com outros produtos culta a identificação dessas fun- do e atualizando. Apesar de não ser
ou componentes de software ções e procedimentos perante a um produto tão popular como o
correlatos, tais como biblio- especificação original, como tam- MySQL, o PostgreSQL é bastante
tecas de software, servido- bém limita a interoperabilidade utilizado e reconhecido pela sua
res de exibição de mapas com outras soluções baseadas na origem e qualidade acadêmica,
(map servers), exibidores SFSSQL. Contraditório, portan- bem como pela abrangência de sua
de dados espaciais, etc. to, com os próprios objetivos e funcionalidade [9].
O Oracle é um SGBD utiliza- premissas da padronização pro- Embora possua suporte nativo
do na Prodemge e em seus posta pela OGC. Essa incoerên- a dados espaciais, seus recursos
clientes desde meados da década cia em relação aos padrões abertos originais não são muito abran-
de 90 e oferece dois tipos de re- não seria um obstáculo tão gran- gentes e eficientes. Para suprir
cursos para manipulação de da- de para a maioria dos seus usuá- essas deficiências e oferecer uma
dos espaciais: o Oracle Locator e rios potenciais quanto é o valor alternativa aos produtos com
o Oracle Spatial. [7] de sua licença de uso – principal- licença proprietária, a empresa
O Oracle Locator está incluí- mente se comparado com a gra- Refractions Research Inc. (http:
do regularmente e sem custo adi- tuidade dos outros dois produtos //www.refractions.net) desenvol-
cional nas duas principais distri- analisados. Além dos US$ 40.000 veu e mantém a extensão espacial
buições do Oracle: Standard por processador necessários para PostGIS, que é distribuída gratui-
Edition e Enterprise Edition. No licenciar o Oracle Enterprise tamente sob licença GNU/GPL, e
entanto, ele provê um conjunto Edition, deve-se ainda desembol- oferece ao PostgreSQL o suporte
limitado de funcionalidades, que sar mais US$ 10.000 por proces- a objetos espaciais de acordo com
são úteis apenas em sistemas de sador para habilitar a Oracle a especificação SFSSQL. As fun-
geoinformação mais simples. De Spatial. O investimento inicial é cionalidades dos recursos espaci-
uma forma geral, ele oferece ape- então de no mínimo US$ 50.000 ais foram então ampliadas e
nas um conjunto de recursos es- mais os US$ 11.000 por ano (22%) diversos produtos de grande pe-
paciais básicos e limitados, o que a título de manutenção (suporte netração e renome no mercado de
exclui o referenciamento linear técnico e atualização de versões). geoprocessamento, com licença
(linear referencing), funções para O PostgreSQL [8] é um livre ou proprietária, possuem
análise espacial, transformações SGBD objeto-relacional, gratuito algum tipo de interface com essa
de coordenadas espaciais, entre e distribuído sob a licença BSD. solução. Concluindo, essas carac-
outros. Ele teve sua origem no SGBD terísticas o tornam, de acordo
O Oracle Spatial é uma ex- Postgres, que foi desenvolvido com o escopo e premissas do
tensão espacial só disponível na entre 1986 e 1993 na Universi- estudo efetuado, uma excelente
distribuição Oracle Enterprise dade da Califórnia, em Berkeley. alternativa técnica e econômica
Edition e representa uma solução Em 1994, foi incorporado o su- ao Oracle Enterprise Edition com
tecnologicamente completa para porte à linguagem SQL, visto que a extensão Oracle Spatial.

110 FONTE
Tabela 1: Identificação dos Produtos

MySQL Oracle Spatial Oracle Locator PostgreSQL/PostGIS

PostgreSQL Global
Oracle Oracle
Fabricante MySQL AB Development Group e
Corporation Corporation
Refrations Research

8.0 (PostgreSQL)
Versão analisada 4.1 10g 10g
0.9.1 (PostGIS)

PostgreSQL: BSD
Tipo de licença GNU/GPL Proprietária Proprietária
PostGIS: GNU/GPL

US$ 5.000/
US$ 40.000/ processador
Custo do SGBD Gratuito Gratuito
processador (Standard Edition
One)

Custo da US$ 10.000/ Incluído na


Gratuito Gratuito
extensão espacial processador licença do SGBD

Tabela 2: Requisitos de Software

MySQL Oracle Spatial Oracle Locator PostgreSQL/PostGIS

Oracle Enterprise Oracle Standard


Requisitos de SGBD Código-fonte do SGBD
Edition Edition

Outros (bibliotecas de soft-


GEOS, Proj4
ware, componentes, etc.)

Funcionalidade ou característica: ATENDIDOS INTEGRALMENTE.


Funcionalidade ou característica: ATENDIDOS PARCIALMENTE.
Funcionalidade ou característica: NÃO ATENDIDOS.

FONTE 111
Tabela 3: Compatibilidade com a SFSSQL

MySQL Oracle Spatial Oracle Locator PostgreSQL/PostGIS

Padrão SQL suportado


pelas colunas geométricas

Formatos de dados
espaciais suportados

Métodos (ou atributos) em


geometrias

Métodos (ou atributos) para


teste de relacionamentos
espaciais

Métodos (ou atributos) de


suporte à análise espacial

Métodos (ou atributos)


sobre uma geometria ou
coleção de geometrias

Tabelas de meta dados

Funcionalidade ou característica: ATENDIDOS INTEGRALMENTE.


Funcionalidade ou característica: ATENDIDOS PARCIALMENTE.
Funcionalidade ou característica: NÃO ATENDIDOS.

112 FONTE
Tabela 4: Funcionalidade

MySQL Oracle Spatial Oracle Locator PostgreSQL/PostGIS

Tipos de objetos
espaciais suportados

Número de dimensões
suportadas nas 2 2, 3 e 4 2, 3 e 4 2, 3 e 4
geometrias

Transformação de
sistemas de coordenadas

Carga transacional de
dados espaciais

Carga em lote de dados


espaciais via utilitário
proprietário

Suporte a dados
geodésicos

Sistema de referência
linear

Suporte ao armazenamen-
to e manipulação de
imagens Raster

Método de indexação R-Tree R-Tree e


R-Tree R-Tree (linear)
espacial (quadratic) Quad-Tree

Funcionalidade ou característica: ATENDIDOS INTEGRALMENTE.


Funcionalidade ou característica: ATENDIDOS PARCIALMENTE.
Funcionalidade ou característica: NÃO ATENDIDOS.

FONTE 113
Tabela 5: Conectividade com outros produtos

MySQL Oracle Spatial Oracle Locator PostgreSQL/PostGIS

ArcGIS

FME Engine

GeoServer

GeoTools

GDAL

GRASS

JUMP

MapInfo MapXtreme
Java Ed.

MapInfo Professional

OGR Simple Feature


Library

QGIS

TerraLib

UMN MapServer

Funcionalidade ou característica: ATENDIDOS INTEGRALMENTE.


Funcionalidade ou característica: ATENDIDOS PARCIALMENTE.
Funcionalidade ou característica: NÃO ATENDIDOS.

Referências
[1] Câmara, G. & Queiroz, G. R. Arquitetura de Sistemas de Informação Geográfica. In: Banco de Dados Geográficos. Capítulo em
livro on-line disponível em abril/05 no endereço eletrônico: http://www.dpi.inpe.br/gilberto/livro/bdados/
[2] Codd, E. A Relational Model for Large Shared Data Banks. CACM, 13:6, June 1970.
[3] Open GIS Consortion, Inc. http://www.opengeospatial.org/ (disponível em abril/ 05)
[4] Open GIS Consortion, Inc. OpenGIS Simple Features Specification For SQL Revision 1.1. OpenGIS Project Document 99-049.
May 5, 1999. Disponível em abril/05 no endereço eletrônico: http://www.opengeospatial.org/docs/99-049.pdf
[5] Melo, C.H. Prospecção de SGBD para Geoprocessamento. Relatório Técnico Interno. Prodemge, fevereiro de 2005.
[6] MySQL AB MySQL Reference Manual - version 4.1. Disponível em abril/05 no endereço eletrônico:
http://dev.mysql.com/doc/mysql/en/index.html
[7] Oracle Corporation. Oracle Spatial - User´s Guide and Reference 10g Release 1 (10.1). December, 2003.
[8] PostgreSQL Global Development Group http://www.postgresql.org (disponível em abril/ 05)
[9] Howard, P. Pervasive joins the open source bandwagon. IT-DIRECTOR.COM, 17th January, 2005. Disponível em abril/05 no
endereço eletrônico: http://it-director.com/article.php?articleid=12506

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