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indígenas que habitaram e habitam o Brasil. Sendo uma das atividades culturais mais
importantes na socialização das tribos, a música dos índios brasileiros é polimorfa e de
enorme variedade, tornando impossível um detalhamento extenso no escopo de um
único artigo. A seguir se descrevem algumas características genéricas, lembrando que
os casos individuais podem apresentar mesmo discrepâncias significativas em relação a
este resumo.
Alguns grupos foram contactados de imediato pelos Jesuítas desde o século XVI, foram
fixados na terra pela criação das Missões ou Reduções, e ali contribuíram ativamente,
como instrumentistas, cantores e construtores de instrumentos, para criar uma fascinante
e original cultura musical, embora toda nos moldes europeus e infelizmente conhecida
apenas através de relatos literários. Este porém foi um fenômeno isolado, e não é central
a este artigo, e tampouco as manifestações híbridas folclóricas nascidas nas regiões de
contato entre índio, branco e negro.
Rituais
Uma das bases do sistema social indígena são os grandes rituais como o Quarup, o
Yawari, o Iamurikumã e os rituais de iniciação. Estes cerimoniais, dos quais muitos são
intertribais, funcionam como uma língua franca de comunicação não-verbal entre etnias
diversas. Segundo Franchetto e Basso, "as festas costuram a sociedade alto-xinguana,
um circuito cerimonial que veicula alianças e metaboliza conflitos, absorvendo
ritualmente a alteridade. (…) Esta visão do ritual intertribal como linguagem franca
coloca a música no cerne do sistema xinguano, considerando-se que estes rituais são,
por excelência, rituais musicais".[9]
A voz e o canto são dominantes na música indígena, mas existe um muito variado
instrumental de apoio e séries de peças orquestrais autônomas. Na maioria dos casos a
música é associada à dança ritual. O ritmo é fluente, em geral, binário ou ternário, às
vezes alternado em um mesmo verso. Muitas vezes sua música não está baseada na
existência de uma unidade de tempo (pulso) rígida, gerando uma contínua flutuação do
pulso.[11] A estrutura das composições também diverge da ocidental, e é enormemente
variada, dependendo bastante do texto que ilustra, tendo as repetições e variações um
papel central.
Além disso, o som é relacionado à espacialidade física. "As canções são um caminho,
nomeiam os lugares, e articulam a cartografia da floresta ao movimento dos seus
habitantes, além de estarem ligadas ao mundo espiritual dos pássaros"[12]
Oralidade
A cultura indígena é basicamente oral, nela a música é uma extensão da fala, e seus
limites às vezes são sutis e imprecisos. Um discurso pode acabar em canto, ou o
inverso. Dentre as espécies vocais, existem subdivisões de acordo com o objetivo de
cada canção:
[Música instrumental
Índios Kamaiurá tocando uma flauta típica, uruá.
É nas festas dedicadas aos Apapaatai, uma classe de poderosos espíritos, que acontece a
maior parte da música instrumental. As festas Apapaatai têm como motivo essencial a
cura xamânica.[13]
Dentre toda a música instrumental indígena as peças para as flautas sagradas ocupam
uma posição de destaque. Estas flautas são elementos fundamentais na cosmologia
xinguana, o que é expresso concretamente pela existência de uma casa das flautas, onde
são guardadas, casa que é também chamada de casa dos homens, um espaço
exclusivamente masculino localizado sempre no centro das aldeias. Seu uso está
cercado de tabus. Quando são tocadas as mulheres e crianças se fecham em suas casas.
Se uma mulher vê os instrumentos, é penalizada com um estupro coletivo.
Instrumentos
Karai Guarani com Maracá