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Santos
2009
2
Santos
2009
4
À Sophia e Priscila,
RESUMO
planejamento.
7
ABSTRACT
This dissertation aims to analyze the municipal autonomy in metropolitan areas. The
there is no regulation of the device, which creates doubts and doctrinal divergence in
the management of these areas: its institutionalization, by states , would affect the
autonomy of municipalities to the extent that the effects of the conurbation not
Sumário
1–
Introdução............................................................................................
.....................................9
2 – Entidades Federativas no
Brasil................................................................................................14
2.1 – Conceito de
Federalismo..............................................................................................................
14
2.2 –
Histórico...................................................................................................................
.....................17
2.3 – Federalismo
Brasileiro..................................................................................................................
18
2.4 – Repartições de
Competências......................................................................................................22
2.4.2 – Competências
Ambientais.........................................................................................................27
2.5 – A
União........................................................................................................................
.................34
2.6 – Os Estados
Membros...................................................................................................................
.34
2.6.1 –
Autoorganização.......................................................................................................
.................35
2.6.2 –
Autolegislação..........................................................................................................
..................37
2.6.3 –
Autogoverno.............................................................................................................
.................37
2.6.4 – Auto-
administração...........................................................................................................
........38
2.7 – Os
Municípios................................................................................................................
...............39
2.8 – O Distrito
Federal.....................................................................................................................
....42
2.9 – Os
Territórios.................................................................................................................
...............43
10
3 – Regiões
Metropolitanas......................................................................................
......................46
3.1 –
Conceito...................................................................................................................
.....................46
3.2 –
Histórico...................................................................................................................
.....................50
4.4.2 – Caracterização
Regional.............................................................................................................88
5.2 – O planejamento
regional..............................................................................................................96
6–
CONCLUSÕES........................................................................................
..................................106
11
7–
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................
..................................111
1. Introdução
entre os rios Tigre e Eufrates, região conhecida como Mesopotâmia. Evoluindo, num
Percebe-se que o ser humano tem uma tendência natural a viver em sociedade,
Evidentemente, não nos cabe aqui, contar toda a história das cidades e de sua
evolução. Basta-nos os dados apresentados por Scarlato e Pontin 4, que indicam que
segundo depois de 125 anos, o terceiro após 33 anos, o quarto 14 anos depois e o
quinto bilhão foi atingido 13 anos depois em 1987. Importante salientar, também,
que, se em 1800 apenas 5% da população mundial vivia nas cidades, no ano 2000,
com a população passando a casa dos 6 bilhões, 50% deles viviam nos centros
população urbana do Brasil era de cerca de 32% do total em 1940, 45% em 1960,
pública.6
3
Milaré, Édis. Op. Cit., 2008, p. 37.
4
Scarlato, Francisco Capuano e Pontin, Joel Arnaldo. O ambiente urbano. São Paulo:
Atual, 1999, p. 10.
5
Morand-Deviller, Jaqueline. A cidade sustentável, sujeito de direito e de deveres. In
Políticas Públicas Ambientais: estudos em homenagem ao Professor Michel Prieur. D´Isep,
Clarissa Ferreira Macedo, Nery Junior, Nelson e Madauar, Odete (Orgs.). São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 348.
6
Silva, Jose Afonso da. Op. cit. p. 27.
13
poluição do ar; IV) a poluição sonora; V) a poluição visual; VI) a degradação da flora;
A percepção do professor Édis Milaré de que passa pelo Poder Público a solução
desse problema é a mesma de José Afonso da Silva, ao afirmar que este (Poder
Público) “procura transformar o meio urbano e criar novas formas urbanas”, pela
na renovação urbana”.9
10
Grifo nosso.
11
Embora Cubatão não seja exatamente um município litorâneo encontra-se na região
estuarina
12
Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá, Peruibe, Praia Grande, Santos e São
Vicente.
13
Lei Complementar Estadual nº 815, de 30 de julho de 1996.
15
Qual a função das Regiões Metropolitanas? Qual sua natureza jurídica? Como
elas podem ajudar com a preocupação da Constituição Federal e do Estatuto da
Cidade na busca por um meio ambiente equilibrado, de uma sadia qualidade de vida
e de cidades sustentáveis?
14
Constituição Federal, art. 25, § 3°.
16
2.1Conceito de Federalismo
15
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos (...)”
16
Silva, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros
Editores. 2008, p. 33.
17
concêntricas”.17
ganhando contornos locais nos Estados onde foi adotado, e representa segundo
Estado unitário, o qual, via de regra, todo o poder está concentrado no governo
Dessa maneira, cada uma das esferas federativas possui um rol próprio de
competências, que salvo hipótese de delegação, deve exercer com exclusão das
demais. Assim, basicamente, as competências privativas da União estão
enumeradas nos art. 21 e 22, as municipais encontram-se arroladas no art. 30 e
as estaduais no art. 25, todos da Constituição Federal.20
Como bem define Zulmar Fachin, não existe entre os membros da federação,
17
Cunha, Sergio Sérulo da. Fundamentos de Direito Constitucional, São Paulo: Saraiva.
2004. Vale ressaltar e observar a diferenciação que o autor faz entre os termos “ente”,
“entidade” e sua escolha pelo termo “instâncias”. Porém, usaremos nesse trabalho, por
vezes, os três termos com o mesmo significado, conforme a doutrina majoritária.
18
Ver Araujo, Luiz Alberto David e Nunes Junior, Vidal Serrano. Curso de Direito
Constitucional, São Paulo: Saraiva, 2008, p.26.
19
Serrano, Pedro Estevam Alves Pinto. Região Metropolitana e seu regime constitucional.
Ed. Verbantim, 2009, p.28.
20
Araujo, Luiz Alberto David e Nunes Junior, Vidal Serrano. Curso de Direito
Constitucional, São Paulo: Saraiva, 2008, p.26
18
competências que lhe foram atribuídas pelo Texto Constitucional, e que, ao reverso,
ente federativo21.
tributárias e ressalta ainda oito princípios que devem estar previstos na Constituição
Outra lembrança do mesmo autor24 é que o constituinte de 88, no art. 60, § 4º,
possível por meio de uma Assembléia Constituinte originária e nunca por meio de
Celso Ribeiro Bastos e Ives Gandra Martins que fazem a mesma proteção do
21
Fachin, Zulmar. Direito Constitucional. São Paulo: Editora Método, 2008, p. 353
22
No Brasil, cada estado-membro e o Distrito Federal contam com a mesma
representação no Senado Federal, 3 senadores cada, independente do número de
habitantes. Aqui, reside uma crítica na colocação do Professor Alexandre de Morais. Os
Municípios brasileiros são, por comando constitucional, entes federativos, no entanto, não
possuem representação no Poder Legislativo Federal (Senado ou Câmara Federal). Assim,
essa não seria uma característica primordial para a existência de um Estado federal.
23
Moraes, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2002, p. 267.
24
Moraes, Alexandre de. Op. cit. P.267
19
Princípio Federativo são a Angola (art. 38), Costa Rica (art. 195), Cuba (art. 141),
Dinamarca (art. 42 e 88), Espanha (art. 167), Filipinas (art. IX, seção 1.4), Finlândia
constitucionalmente prevista.
2.2 Histórico
Essa forma confederativa, porém, mostrou-se frágil e inadequada, sendo que com
o passar do tempo, foi sendo concebido um sistema pelo qual não haveria cessão
comprometido.
25
Bastos, Celso Ribeiro; Martins, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil. São
Paulo: Saraiva, 1988. V.4. Tomo I, p. 357
26
Cunha, Sérigo Servulo da. Fundamentos de Direito Constitucional, São Paulo: Saraiva,
2004, p. 405
20
membro, sendo que a divisão política ocorreu de acordo com a divisão geográfica
existente27.
Bem coloca Marcos Mendes que o objetivo dos founding fathers era uma forma
assim formar um novo Estado Federal, o qual reconheceria a autonomia das outras
unidades de poder29.
político-administrativa.
27
Serrano, Pedro Estevam Alves Pinto, Op. Cit., p. 28-30.
28
Mendes, Marcos. Federalismo Fiscal, in Economia do Setor Público no Brasil. Campus
Editora, p. 422. O autor lembra ainda o exemplo atual do Canadá que manteve unido
canadenses de origem inglesa e francesa graças ao federalismo.
29
Zulmar Fachin. Direito Constitucional, São Paulo: Editora Método, 2008, p. 347
21
III a descentralização foi muito acentuada, sendo que em cada fazenda ou porção
territorial teria seu controle por meio de um poder central, sendo que no Brasil, a
força os anseios populares pela federação como solução dos problemas do País31.
Em 1834, com a Lei n. 16, as províncias, ainda sob o poder central, passaram a
deter poder legislativo e de tutela sobre os municípios. Em 1840, com a edição da lei
parte das prerrogativas das províncias, concentrando ainda mais o poder no governo
central.
governo provisório, do Decreto nº 1, escrito por Rui Barbosa que, no seu art. 2º,
30
Serrano, Pedro Estevam Alves Pinto. Op. Cit. p. 31.
31
Lustosa, Isabel. Revista Rumos: Os Caminhos do Brasil em Debate, publicação da
Comissão para as Comemorações do V Centenário do Descobrimento do Brasil, n.2,
mar./abr., 1999, p. 27 e 28.
22
no qual os Estados soberanos abriram mão dessa soberania por meio de um pacto
32
Araujo, Luiz Alberto David e Nunes Junior, Vidal Serrano. Curso de Direito
Constitucional, São Paulo: Saraiva, 2008, p.258
33
Pedro Serrano demonstra em sua obra como em momentos de ditaduras ou após
golpes de Estado ocorreram movimentos de centralização do poder e em momentos de
maior democracia foram acompanhados da descentralização. Serrano, Pedro Estevam
Alves Pinto. Região Metropolitana e seu regime constitucional. Ed. Verbantim, 2009, p.33-
38
23
organizar os municípios.34
autogoverno e auto-administração.
sentido, devendo ser registrada a posição de José Afonso da Silva, para quem os
34
Bercovici, Gilberto. Dilemas do Estado Federal Brasileiro. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2004, p. 55.
35
Morais, Alexandre de. Op. cit. p. 274.
24
sendo que somente os estados membros, por meio do Senado Federal, são
unidades representadas.
Além disso, afirma que a intervenção nos municípios é decretada pelos estados,
estadual, num período pré-determinado em lei complementar federal (art. 18, § 4º), e
representar no Senado Federal, não afetando sua posição de ente federado prevista
Fazem ainda uma ampla leitura do texto constitucional, citando os artigos 1º; 18;
21, I; 13, caput; 12, I,a; 12; e que dessa forma, a Constituição Federal de 88
36
Silva, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros,
2008, p. 249-250.
37
Araujo, Luiz Alberto David e Nunes Junior, Vidal Serrano. Op. cit. p. 255 - 257.
25
dos municípios no rol dos entes federados pela Constituição Federal uma
administrativas e tributárias39, sendo, por esse motivo pedra basilar e ponto nuclear40
38
Serrano, Pedro Estevam Alves Pinto. Op. cit. p. 39.
39
Moraes, Alexandre de. Op. cit. p. 287.
40
Barruffini, José Carlos Tosetti. Direito Constitucional 2. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 12.
41
Silva, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros,
2002, p. 477.
26
aqueles assuntos de interesse local, sendo que o Distrito Federal acumula aquelas
Constituição43.
Já no sentido vertical, além das competências comuns (art. 23) 45, existem aquelas
matéria a mais de um ente, sendo que à União caberá a fixação de normas gerais e
Nesse caso, quando a União legislar sobre esses assuntos, por meio de lei
federal, ocorrendo assim a superveniência, a lei estadual perderá sua eficácia (§§ 1º,
2 º, 3 º e 4º do art. 24).46
federalismo fiscal.
ente federativo.
45
O parágrafo único do referido artigo prevê, ainda, que a cooperação entre União,
Estados, Distrito Federal e Municípios deve ser regulada por meio de lei complementar,
visando o equilíbrio do desenvolvimento e do b m estar em âmbito nacional.
46
Ver Ferreira Filho, Manoel Gonçalves, Curso de Direito Constitucional. São Paulo:
Saraiva, 2001, p. 58.
28
Dessa forma, a divisão das receitas tributárias tem por objetivo o equilíbrio
visa garantir uma maior eficiência na Administração pública, pois os entes federados
Assim a execução de tais metas e obrigações passa a ser possível por meio da
obtenção de recursos próprios. Esses recursos são captados, em sua maioria, por
47
Silva, Mauro Santos, Nova Economia, Belo Horizonte, janeiro-abril de 2005, p.119
48
Entendida como capacidade de instituir tributo com base na competência
constitucional. Artigo 145 e seguintes da Constituição.
29
governo, isto é, o grau de autonomia que permita o alcance de uma situação Pareto-
eficiente49.
comum (art. 23); II – competência legislativa, que pode ser: a) exclusiva (art. 25, §§
1º e 2º); b) privativa (art. 22); c) concorrente (art. 24); e d) suplementar (art. 24, § 2º).
privativo podemos entender aquilo que seja próprio da pessoa, particular 50. Nesse
poderá legislar. Entre eles, estão aqueles relacionados ao meio ambiente, a saber, o
inciso IV sobre águas, o XII ao se referir a jazidas, minas e outros recursos naturais
49
Pareto-eficiente é um conceito de economia desenvolvido pelo economista italiano
Vilfredo Pareto, que afirma que uma situação é ótima quando não pode ser melhorada
sem afetar outras condições.
50
Freitas, Vladimir Passos de. A Constituição Federal e a Efetividade das Normas
Ambientais. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2005, p. 55
30
Podemos então concluir que a competência dos Estados não é própria, mas
concorrente, quando pertencer aos dois entes federais ou por exclusão, quando não
51
Freitas, Vladimir Passos de.Op. cit., p. 56
52
Freitas, Vladimir Passos de. Op. cit. p. 57
31
artigo que garante aos Estados para, na ausência de lei geral da União, suprir a falta
dessas normas por meio de legislação estadual, a fim de atender suas necessidades
e particularidades regionais.
forma, cabe ao Distrito Federal legislar de forma concorrente com a União, como
Constituição, e não aquela prevista no art. 23, que trata tão somente da competência
Isso devido ao fato de que o legislador constituinte no inciso I do art. 30, embora
local não pode se sobrepor aos interesses de outros entes federativos, não podendo
Já o professor Paulo Affonso Leme Machado, ao citar Celso Bastos, Hely Lopes
Meireles e José Cretella Júnior, defende que o interesse local não se caracteriza
União e dos estados prevalecendo sua legislação naquilo que for de seu
expressamente diploma legal que defina regras gerais sobre determinado assunto,
podendo ser mais restritiva que a norma geral, conforme seu interesse, mas não se
sobrepondo a tudo.
Municipal.55
53
Sobre essa posição ver: Ferreira Filho, Manoel Gonçalves. Comentários à Constituição
brasileira. Vol.2, p.218; Quintanilha, Ellen de Castro. Ensaio dobre competência do
município para legislar sobre meio ambiente. Boletim de Direito Municipal, p. 37 e Greco,
Leonardo. Competências constitucionais em matéria ambiental. RT, vol. 687, p. 30.
54
Leme Machado, Paulo Affonso. Direito Ambiental Brasileiro. Malheiros Editores, São
Paulo:2009, p. 31.
55
Brasil. Ministério do Meio Ambiente. Administração Municipal para o Meio Ambiente.
Roteiro Básico. p. 19.
33
norma. E “é identificada pelo uso dos verbos ‘prover’, ‘editar’, ‘autorizar’, ‘promover’,
‘administrar’ e ‘organizar’”.56
de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural” (inciso IV); “proteger o meio
ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas” (inciso VI); bem como
56
Freitas, Vladimir Passos de. Op. cit. p. 70.
34
máquina pública57.
acabou por restringir o campo de atuação dos estados. A Constituição Federal nos
art. 25 define as atividades dos Estados-membros, sendo que o art. 26 define quais
Porém, o art. 25, § 2º, reserva aos Estados o direito de exploração do gás
atividade.
manteve sanção imposta pelo Estado de São Paulo com base em legislação federal,
sendo que as considerações feitas sobre a competência legislativa são aqui também
57
Almeida, Fernanda Dias Menezes. Competências na Constituição de 1988. 2 a edição.
Atlas. São Paulo: 2000 p.91.
58
Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial 48.753-6/SP, relator Min. Américo Luz, j.
08.03.1995, DJ 17.04.1995.
35
município, como na proteção do patrimônio histórico que poderá ser objeto de zelo e
Nesse artigo o constituinte utilizou vários verbos que representam ações típicas
da atividade material como zelar (inciso I), cuidar (inciso II), proteger (inciso III),
proporcionar (inciso V), preservar (inciso VII), fomentar (inciso VIII) e outros. São
entes ou até mesmo de forma individualizada por meio de políticas públicas locais,
sendo que os incisos III, VI e VII são aqueles que fazem referencia ao meio
59
Freitas, Wladimir Passos de. Op. cit. p. 72.
60
Silva, José Afonso da. Op. cit. p. 79.
61
Freitas, Wladimir Passos de. Op. cit. p. 72
36
2.5 A União
Distrito Federal e Municípios, sendo pessoa jurídica de Direito Público Interno. Não
é, portanto, o conjunto dos demais entes federativos, como pode sugerir o uso do
designativo e não se confunde com o Estado Federal, esse sim, constituído pela
Esse mal entendido pode ser desfeito com a leitura do art. 18 do Constituição que
62
Moraes, Alexandre de.Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, p. 269
63
“O Estado Federal – a República Fderativa do Brasil – é que é a pessoa jurídica de
Direito Internacional. Na verdade, quando se diz que a União é pessoa jurídica de Direito
Internacional, não se está dizendo bem, mas quer-se referir a duas coisas: (a) as relações
internacionais da República Federativa do Braisl realizam-se por intermédio de órgãos da
União, integram a competência desta, conforme dispõe o art. 21, incs. I a IV; (b) os
Estados federados não tem representação nem competência em matéria internacional,
nem são entidades reconhecidas pelo Direito Internacional, são simplesmente de direito
interno.”. Silva, José Afonso. P. 492 e 493.
64
Silva, José Afonso da. Op. Cit. p. 490-491
37
2.6 Os Estados-membros
presente.
2.6.1 Auto-organização
65
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
observados os princípios desta Constituição.
66
Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito
Federal, eleitos segundo o princípio majoritário
67
Ferraz, Anna Cândida da Cunha. Poder Constituinte do Estado-membro. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1979, p. 54.
38
sujeito ao poder soberano mais alto e delimitado pela Constituição Federal, que
impõe aos constituintes estaduais a observância de limites, previstos no art. 34, VII
Além disso, ensina Anna Cândida da Cunha Ferraz70 que a Constituição Estadual
68
Cf. José Afonso da Silva, Op. cit. p. 589 – 590; Alexandre de Moraes, Op. cit. p, 270; Luiz
Alberto David Araujo e Vidal Serrano Nunes Júnior, Op. cit. p. 205; Pedro Serrano, Op. cit.
p 82 e 83.
69
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: (...)VII -
assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana,
sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c)
autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do
ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.
70
Ferraz, Anna Cândida da Cunha. Op. cit. p. 134.
39
da Constituição Estadual.
unilateral do agente do Poder Constituinte” e que ela é “entregue ao Estado para ser
cumprida e observada pelo povo e pelos governantes”. Baseia sua tese no direito
Completa:
2.6.2 Autolegislação
71
Silva, José Afonso da. Op. cit. p. 590 – 591.
72
Ferraz, Anna Cândida da Cunha. Op. cit. p. 104.
40
o qual cada estado membro poderá, por meio de sua Assembléia Legislativa, adotar
2.6.3 Autogoverno
(art. 27) por meio das assembléias legislativas, do Executivo (art. 28) que é exercido
pelo Governador e do Judiciário (art. 125), por meio de cada Tribunal de Justiça.
bem como dos representantes do Poder Legislativo e estabelece regras para sua
2.6.4 Auto-Administração
asseguradas pela Constituição, especialmente aquelas do art. 25, § 1º, para que o
estado-membro possa gerir seu orçamento e exercer seu poder de polícia dentro de
73
Silva, José Afonso da. Op. cit. p. 589
74
Cf. José Afonso da Silva, Op. cit. p. 590; Alexandre de Moraes, Op. cit. p. 273; Pedro
Estevam Alves Pinto Serrano, Op. cit. p. 83-84.
41
urbanas e microregiões.75
2.7 Municípios
da sociedade humana”.76
momento foi implantado o Federalismo como união de estados, até então chamados
de províncias.
75
Art. 25, § 3º - “Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões
metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos
de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de
funções públicas de interesse comum.”
76
Serrano, Pedro E. A. Pinto. Op. cit. p. 88.
77
Ferreira Filho, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva,
2001, p. 68
42
arts. 1º, 18, 29, 30 e 34, VII, c, formando a pedra angular da autonomia municipal
municipal (art. 34, VII, c), sendo que a inobservância desse preceito implica em
78
Bonavides, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 311 e
314.
79
Ferreira Filho, Manoel Gonçalves. Op. cit. p. 68
43
Celso Ribeiro Bastos define município como “pessoa jurídica de direito público
administração própria”.80
capacidades:
orgânica própria;
80
Bastos, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 311.
81
Silva, José Afonso. Op. cit. p. 620, 621.
44
auto-organizar por meio de uma lei orgânica municipal. É nela que o legislador
na Constituição Federal.
Nas palavras de Pedro Estevam Alves Pinto Serrano pode-se definir a lei orgânica
como
nos alinhamos àqueles que acreditam ser a lei orgânica verdadeiramente uma
constituição municipal84.
Garantido pela constituição como ente federativo, o Distrito Federal, goza, como
82
Serrano, Pedro Estevam Alves Pinto. Op. cit. p. 117.
83
Silva, José Afonso. Op. cit. p. 622.
84
Cf. Regina Maria acedo Nery. Direito Municipal. São Paulo: Revista dos tribunais, 2005,
p. 88 e, Pedro Estevam Alves Pinto Serrano. Op. cit. p. 118
45
Distrito Federal e dos Territórios que é de competência exclusiva da União, por força
municípios.
Seu governo será exercido pelo Governador, eleito diretamente pelo povo,
entes federativos.
2.9 Territórios
irrelevante para o presente estudo por dois motivos: a) não integram o pacto
federativo, isto é não são entes federativos e b) não existe atualmente nenhum
Constituição Federal em seu art. 4387, possibilitou a criação, pela União, de regiões
Porém, atualmente, tal arranjo será meramente administrativo e não conta com
federativos.
Da mesma forma, no art. 174, § 1º, o constituinte estabeleceu, por meio de lei, o
87
Art. 43. Para efeitos administrativos, a União poderá articular sua ação em um mesmo
complexo geoeconômico e social, visando a seu desenvolvimento e à redução das
desigualdades regionais
88
Bonavides, Paulo. Op. cit. p.324.
89
Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado
exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo
este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. § 1º - A lei
estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional
equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de
desenvolvimento.
47
Desenvolvimento do Centro-Oeste)93
90
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, criada pela Lei Complementar nº
125, de 03/01/2007.
91
Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia, criada pela Lei Complementar
N°124, de 3/01/ 2007.
92
Superintendência da Zona Franca de Manaus, criada pelo Decreto-lei n° 288 de
28/02/1967.
93
Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste, criada pela lei n° 5.365 de
1/12/1967.
48
3 Regiões Metropolitanas
3.1 Conceito
Regiões Metropolitanas, embora aquela não seja essencial para a criação destas.
Metropolitana.
94
Essa expressão foi criada por Patrik Geddes em 1915 para definir a cidade de Londres e
as cidades que a cercavam no livro Cities in evolution. Ver Eros Roberto Grau, Regiões
Metropolitanas. São Paulo: Buhatsky, 1974, p. 14.
95
Serrano, Pedro Estevam Alves Pinto. Região Metropolitana e seu regime constitucional.
São Paulo: Editora Verbatim, 2009, p. 127-128.
96
Cadava, Maurício E. Guimarães e Gomide, Alexandre. Mobilidade urbana em regiões
metropolitanas. In: Fonseca, Rinaldo B, Dananzo, Áurea e Negreiros, Rovena (orgs.). Livro
verde: desafios para a Região Metropolitana de Campinas. Campinas: Uicamp/IE/Nesur,
2002.
50
município-pólo”. 98
grandes cidades do mundo, como é o caso de Paris, Los Angeles, São Francisco,
Toronto, Londres e Nova Délhi e pode ser resumida como a delimitação de uma
zona de influência da metrópole, sob uma única administração, que planeje de forma
escolhido pelo legislador constituinte não comporta uma nova entidade política.100
97
Eros Roberto Grau. Op. cit. p.25-26.
98
Silva, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2002,
p. 645.
99
Meirelles, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2001, p.82-83.
100
Meirelles, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2001, p.83.
51
Esse novo conceito imposto pela atual Constituição prevê além da cooperação, a
funções estatais de interesse comum dos Estados e dos Municípios que fazem parte
Não há sentido, como bem observou Pedro Estevam Alves Pinto Serrano, em
portanto, de dois entes federados e sem hierarquia entre si), por ato de inteira
Entendimento diverso tem Alaôr Caffé Aleves sobre o tema. Segundo ele, a
101
Ferrari, Regina Maria Macedo Nery. Direito Municipal. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2005, p. 94.
52
brasileira e o PIB (produto interno bruto) de R$ 1,139 bilhões e o PIB per capita de
R$ 10.713,63.103
3.2 Histórico
Sem dúvida, trata-se de uma embrião das regiões metropolitanas tais quais
efetivarem na prática, uma vez que o período político vivido no país à época não
permitiu tal arranjo entre os municípios, visto que os interesses ditatoriais acabavam
102
Alves, Alaôr Caffé. Regioes Metropolitanas, Aglomerações urbanas e Microrregiões:
novas dimensões constitucionais da organização do Estado brasileiro, p. 18-19.
103
Fonte: Governo do Estado de São Paulo. Secretaria de Estado dos Transportes
Metropolitanos. Regiões Metropolitanas do Estado de São Paulo. 2008, p.29.
53
hoje, na Constituição de 1967 que facultou a União sua instituição por meio de lei
época representava uma realidade urbanística que não poderia ser ignorada pelos
administradores
104
Cf. Pedro Estevam Alves Pinto Serrano. Op. cit. p. 131.
105
Art. 157, § 10: A União, mediante lei complementar, poder á estabelecer regiões
metropolitanas, constituídas por Municípios que, independentemente de sua vinculação
administrativa, integrem a mesma comunidade sócio-econômica, visando à realização de
serviços de interesse comum.
106
Toshio Mukai. O regime Jurídico Municipal e as Regiões Metropolitanas. São Paulo:
Sugestões Literárias, 1976, p. 75-76.
54
a redação de 67.
instituição das regiões seria feita pelo poder central, isto é, pela União, sem
constitucional, quais sejam São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife,
de Janeiro.
Através desse conjunto de leis foi estabelecido um formato de gestão por meio de
lista tríplice organizada pelo prefeito da capital do estado e outro, pelos demais
representado por quatro membros, num total de seis, sendo os dois restantes um
Esse modelo de gestão definido pelo legislador federal logo foi taxado de
criação das unidades por meio de lei complementar federal e pela hegemonia dos
Até o advento da Constituição de 1988, esse foi o arcabouço jurídico basilar das
regiões metropolitanas no ordenamento jurídico pátrio. Não se pode negar que era,
exceção pelo qual o Pais passava, com profundo retrocesso na democracia e com
inaugurando, nas palavras de Alaôr Caffé Alves107, o novo Texto “inaugura uma nova
exemplo dessa cooperação entre os níveis de poder num mesmo espaço territorial.
metropolização.
Essa nova redação trouxe substanciais inovações. Se por um lado, fez do estado-
além das regiões metropolitanas, foi possível a qualificação dentro desta categoria
Esse foi o entendimento, por exemplo, do constituinte estadual do Ceará 108, que
discriminações:
110
Alves, Alaôr Caffé. Op. Cit. p. 25
59
Ora, se o Texto Magno não previu qualquer tipo de consulta aos municípios ou
Legislativa para incluir municípios na lei complementar estadual que irá criar a região
Essa gestão metropolitana deve ser feita por representantes dos dois níveis de
Essa linha de raciocínio foi adotada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo em
112
Alves, Alaôr Caffé. Op. Cit. p. 25-26.
113
Alves, Alaôr Caffé. Op. Cit. p. 26.
62
questão deverá ser tratada de forma que os interesses regionais e locais se inter-
Vejamos a ementa:
metropolitana.
117
Art. 30. Compete aos Municípios: (...); V - organizar e prestar, diretamente ou sob
regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de
transporte coletivo, que tem caráter essencial;
65
político-administrativo”.118
uma mesma região, sem articulação entre si, podendo gerar situações de conflito
dentro da Região.
Essa possibilidade pode gerar no órgão ambiental licenciador dúvidas sobre qual
regional.
118
O autor cita a página 145 da edição de 1995 da obra Direito Urbanístico Brasileiro de
José Afonso da Silva.
66
final de efluentes e resíduos sólidos, que segundo ele, nas regiões metropolitanas
“algumas dessas funções podem ser exercidas pelo poder local, outras devem sê-lo
Acaba por citar o professor José Afonso da Silva 121 que ao afirmar em sua obra
que “a titularidade não pode ser imputada a nenhuma das entidades em si, mas ao
aceitar o entendimento que Alaôr Caffé Alves dava para a titularidade dos serviços
comuns”.
Porém, embora José Afonso da Silva122 defenda que a titularidade não pode ser
vontade, como no caso do Rio Grande do Sul (art. 16, § 1º), onde a participação do
119
Moreira, Danielle de Andrade e Guimarães, Virgínia Totti. As Regiões Metropolitanas e
o Licenciamento Ambiental. In Coutinho, Ronaldo e Rocco, Rogério (org). O Direito
Ambiental das Cidades. DP&A Editora: Rio de Janeiro, 2004, p. 99.
120
Alves, Alaôr Caffé. Op. Cit. p. 33-34.
121
Alves, Alaôr Caffé. Op. Cit. p. 32-33
122
Silva, José Afonso. Direito urbanístico brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 164.
67
Municipal.
níveis, se dá pelo fato de que a lei complementar estadual deve definir quais são as
Metropolitana e ao Estado, e não somente aos Municípios, sendo que a lei não
poderá definir como de interesse comum aqueles de intrínseco interesse local, nem
Metropolitana.
Cita, por exemplo, o caso da Constituição do Estado de Minas Gerais, que no art.
ambiental, na forma que dispuser a lei federal; VII – outros serviços incluídos na
Em sua recente obra, Pedro Estevam Alves Pinto Serrano, porém, faz ressalvas
constituída, não é e não pode ser menos autônomo que o município que não faça
parte de nenhuma unidade regional, alegando que o único diploma normativo capaz
E conclui
Desta ilação concluímos que ao tomar essa decisão pretendeu exatamente dividir
123
Serrano, Pedro Estevam Alves Pinto. Op. Cit. p. 136.
124
Serrano, Pedro Estevam Alves Pinto. Op. Cit. p. 145.
125
Serrano, Pedro Estevam Alves Pinto. Op. Cit. p. 149-150. Grifo do autor.
69
interesses locais, dificultando e até mesmo evitando a ação integrada dos entes que
implantação dessas áreas. Segundo ela, essa característica pode ser resquício de
partidária) que envolve os chefes dos poderes executivos municipais, mas o certo é
que
por meio de lei complementar estadual, das regiões metropolitanas, e não da busca
126
Teixeira, Ana Carolina Wanderley. Op. Cit. p.84.
70
Por isso mesmo, como bem aborda Pedro Estevam Alves Pinto Serrano
Como vimos, não é possível negar que o constituinte originário tenha conferido
autonomia aos entes federados e que essa previsão, juntamente com a igualdade
do sistema.
“legislar sobre os assuntos de interesse local”, como poderia conferir a outro ente
pode ser tratado como dogma, visto que as soluções ultrapassam as fronteiras
127
Saneamento básico, transporte intermunicipal ou até mesmo o transporte dentro de
um determinado território municipal, mas com reflexos na região metropolitana – como
por exemplo o caso do Metro de São Paulo.
128
Serrano, Pedro Estevam Alves Pinto. Op. Cit. p. 138
71
geográficas dos Municípios, sendo que por vezes, os interesses locais e os regionais
locais das unidades que formam a Região Metropolitana, visto que o interesse
comum está ligado à unidade metropolitana, sendo que seu reconhecimento jurídico
metropolitano.
Ana Carolina Wanderley Teixeira, por seu turno, defende em sua obra o modelo
que o Estado de Minas Gerais adotou para o estabelecimento das funções públicas
de interesse comum.
Segunda ela, por ser de competência de cada Estado-membro definir quais são
desconstitucionalizando a matéria.
deixou de considerar uma determinada função como de interesse comum, por não
existir, uma nova lei complementar terá que ser editada para que essa função passe
existência.
Exatamente por esses motivos é que o conceito deve ser dinâmico e se adaptar
133
Alves, Alaôr Caffé. Op. Cit. p. 37-38
134
Alves, Alaôr Caffé. Op. Cit. p. 37-38
74
contrário, caso não consiga enfrentar os desafios da conurbação sem a atuação dos
municípios vizinhos, constata-se que o assunto “deve ser entregue à região, formada
135
Alves, Alaôr Caffé. Op. Cit. p. 38
136
Teixeira, Ana Carolina Wanderley. Op. Cit. p. 89.
137
Moreira, Danielle de Andrade e Guimarães, Virgínia Totti. As Regiões Metropolitanas e
o Licenciamento Ambiental. In Coutinho, Ronaldo e Rocco, Rogério (org). O Direito
Ambiental das Cidades. DP&A Editora: Rio de Janeiro, 2004, p. 91-92.
75
princípio previsto no texto federal, notadamente ao art. 3º, que define como objetivo
Alguns pontos do referido artigo precisam ser analisados com um pouco mais de
cautela.
O primeiro deles é que nem o texto federal nem o estadual falam em conurbação
estadual, como veremos a diante, adotou como um dos critérios para a definição de
municípios devem ter suas áreas urbanas “coladas” ou “grudadas” umas nas outras,
mas tão somente façam parte de uma mesma realidade sócio, econômica e
territorial.
interesse comum”.
138
Art. 153 – O território estadual poderá ser dividido, total ou parcialmente, em unidades
regionais constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, mediante lei
complementar, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções
públicas de interesse comum, atendidas as respectivas peculiaridades.
77
Novamente faremos uso dos dicionários para tentar entender qual o motivo que
levou o constituinte a usar esse mesmo termo no diploma mais importante na divisão
mesma terminologia.
incorporar-se.
Podemos concluir que o intuito dos constituintes, ao usar tal termo, foi o de que as
interesse comum.
quando couber, também pela União, quando o interesse deixar de ser meramente
139
Não se confunde, aqui, Estado com Estado-membro.
140
Houaiss, Antonio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Editora Objetiva.
141
Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 2º
Edição. Revista e Ampliada. Editora Nova Fronteira.
78
ambiental dessas regiões, que deve ser ainda mais eficiente para que se possa
dos entes políticos e nem podem editar normas onde o interesse for
devem tomar medidas integrativas para a efetivação dos serviços comuns dos entes
metropolitana.
142
Moreira, Danielle de Andrade e Guimarães, Virgínia Totti. As Regiões Metropolitanas e
o licenciamento ambiental. In: Coutinho, Ronaldo e Rocco, Rogério (orgs.). O Direito
Ambiental das Cidades. Rio de Janeiro: DP&A, 2004, p. 87.
79
pelo constituinte federal, que somente facultou aos estados suas criações.143
Os critérios adotados pelo constituinte estadual paulista para definir, uma vez que
de São Paulo.
143
Como o presente trabalho diz respeito somente as Regiões Metropolitanas, focaremos
nessa espécie de unidade regional em detrimento das demais.
80
da Baixada Santista.
145
Art. 2° da Lei Complementar Estadual n° 760, de 1° de agosto de 1994.
146
Art. 1° da Lei Complementar Estadual n° 760, de 1° de agosto de 1994.
82
execução das funções públicas de Interesse comum, dos entes públicos nela
econômica”.
No art. 7° a Lei Complementar elenca uma série de funções que podem ser
entendidas como sendo de interesse comum dentro das unidades regionais147. Não
nos parece, no entanto, que esse rol seja taxativo, hermético, sendo somente
exemplificativo, uma vez que novas funções podem passar a ser de interesse
e deliberativo, para cada unidade regional, paritário, formado por representantes dos
147
Art. 7 (...): I - planejamento e uso do solo; II - transporte e sistema viário regionais; III -
habitação; IV - saneamento básico; V - meio ambiente; VI - desenvolvimento econômico;
e VII - atendimento social.
83
na lei148.
negociações para a criação da RMBS são antigas, sendo que desde os anos 60 já
148
Art. 14 da Lei Complementar Estadual n° 760, de 1° de agosto de 1994.
149
Os dados apresentados a seguir foram obtidos no sítio da Agem
<http://www.agem.sp.gov.br/rmbs_historia.htm>, acessado em 23 de fevereiro de 2010
84
designada como São Paulo Exterior, que incluía também as regiões de Jundiaí e
Bragança Paulista, áreas essas que, da mesma forma que a Baixada Santista,
Esse cenário durou até o ano de 1970, quando pelo Decreto 52.576, de 12 de
federal em Santos, General Clóvis Bandeira Brasil. Essa comissão era formada por
nutrisse uma expectativa nesse sentido não foi instituída pela Lei Complementar.
Sem ter sido instituída em 1973, a região continuou se articulando e em 1976 foi
convênio entre os municípios e o Estado, mas que também não surtiu grandes
resultados.
A partir dos anos 80 teve início um movimento coordenado pelo Centro das
em duas frentes:
• Gestões junto aos Prefeitos Municipais, para que fosse constituída a Associação
região.
Nesse mesmo período o Governo do Estado passou a fazer uma divisão do seu
da Região Metropolitana.
Note-se que dos temas propostos, três tem relação direta com o meio ambiente
Estadual.
760 que o Estado de São Paulo estabeleceu diretrizes para a organização regional
de 1996.
Estado.
Santista – AGEM, como entidade autárquica do Estado de São Paulo, com sede e
anualmente, a sua ampla divulgação; VI - exercer outras atribuições que lhe sejam
legalmente conferidas.
Como vimos, a RMBS foi criada em 1996 com nove municípios, que ocupam uma
área total de 2.373 Km², que representam 1% do território total do Estado, e tem
Serra do Mar153, sua rede hidrográfica é composta por diversos rios, com destaque
152
Art. 3° da Lei Complementar Nº 853, de 23 de dezembro de 1998.
153
A Serra do Mar forma um conjunto de escarpas que se estende do Rio de Janeiro até
Santa Catarina. No Estado de São Paulo é a borda do planalto, encontrando-se em
91
UGRH Baixada Santista, sendo que parte das águas trazidas do Alto Tietê
A partir dos anos 1950 a região passou por um processo de intenso crescimento
inundações que são constantemente observadas nas cidades da região, que está
altitudes entre 800 e 1.200 metros.
154
As informações são do Governo do Estado de São Paulo, Fundação Sistema Estadual
de Análise de Dados – SEADE. Perfil Regional. Região Metropolitana da Baixada Santista.
Atualização em abril de 2009.
155
O município de Santos é um dos mais populoso da região, além de ser um dos mais
densamente povoados do Estado, com 1.537,4 habitantes por Km². Cerca de 80% da
população da RMBS concentra-se em quatro das nove cidades: Santos, São Vicente,
Guarujá e Praia Grande.
92
sujeita a esses fenômenos por conta de seus acidentes geográficos, sobretudo nas
como
Para José Afonso da Silva, por ser uma ciência e técnica interdisciplinar, o
156
Conceito disponível em
<http://sburbanismo.vilabol.uol.com.br/o_urbanismo.htm#_ftn1> acessado em
15/03/2010.
157
Silva, José Afonso da Silva. Op. Cit. p. 28 - 31
158
Meirelles, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2001, p.510.
159
Documento resultante do IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna.
94
Nesse sentido caminhou a Constituição Federal quando nos artigo 225 buscou a
José Afonso da Silva nos ensina que o Direito Urbanístico é aquele que vai
particulares.
46.
163
Op. Cit. p.55.
164
Previsto no art. 5°, II da Constituição Federal: “ninguém será obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.
96
fixadas em lei.
165
As regiões a que se refere o inciso não são as regiões metropolitanas, mas as regiões
formadas por vários estados-membros, prevista no art. 43 da CF.
166
Artigo 1°, § único da Lei 10.257 de 2001.
97
assegura que a competência para a União legislar sobre normas gerais não exclui a
lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade
seu art. 2°, inciso II estabelece como diretriz da política urbana “a garantia do direito
nosso).
167
Nas palavras de José Afonso da Silva, competência suplementar “significa o poder de
formular normas que desdobrem o conteúdo de princípios ou normas gerais ou que
supram a ausência ou omissão destas (art. 24, §§ 1° ou 4°)”. Curso de Direito
Constitucional Positivo, 2009, p. 481.
168
Milaré, Édis, Op. cit. p. 45.
98
tempo.
impróprios para esse fim surgiram na região com reflexos de grande impacto e
degradação ambiental.
interesse local, bem como do artigo 182 que reserva ao Poder Público municipal a
seus §§, que assegura o direito de legislar concorrentemente com a União sobre
169
Granziera, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Editora Atlas, 2009, p.
477.
99
urbanísticas.
170
Silva, José Afonso da. Op. Cit. p, 127. Para maiores detalhes ver os capítulos “Dos
Planos Urbanísticos Estaduais” e “Do Plano Urbanístico Metropolitano”.
171
Ministério das Cidades. Política Nacional de Desenvolvimento Urbano. Brasília,
Ministério das Cidades, 2004
100
O próprio Estatuto da Cidade, artigo 4°, incisos I e II, define como instrumentos a
projeto ainda previa como exigência das unidades regionais um Plano Diretor
integrantes.172
que couber, bem como os planos estaduais ao plano diretor dos municípios e as
prioridades locais:
172
Dentre outros pontos o projeto definia como função pública de interesse comum a
atividade ou serviço que executado isoladamente poderia causar impactos nos outros
municípios ou ser inviável. Carmo, Silvia de Castro Bacellar do, e Falcoski, Luiz Antônio
Nigro. Um olhar sobre o planejamento e gestão metropolitanos. A Região Metropolitana
da baixada Santista in Cadernos Metrópoles, n° 14, 2005, p. 133-134.
101
Tais planos regionais conterão, além das necessidades locais, na visão de José
Afonso da Silva:
Claro está que tanto a Constituição Federal, como a Estadual (São Paulo) e a
artificial), sendo, assim, um dos mais importantes instrumentos na busca por cidades
173
José Afonso da Silva utiliza o termo microrregional levando-se em consideração o
prisma nacional, não se confundindo com a figura da unidade regional da microrregião.
174
Silva, José Afonso da. Op. Cit. p, 130-131.
102
Cidade são ainda mais visíveis e perniciosas nas Regiões Metropolitanas, onde a
nas cidades conurbadas, motivo pelo qual o legislador incluiu no rol dos municípios
obrigados a elaborar o plano diretor (artigo 41, II) aqueles integrantes de regiões
fixadas as diretrizes, os objetivos, o que deve ser feito na cidade para se alcançar
Não sem sentido, portanto, que no seu artigo 155 a Constituição do Estado de
São Paulo determina que os municípios, no que couber, deverão compatibilizar seus
175
Obviamente o plano diretor deverá ser pautado pelos princípios constitucionais e
deverá ser pautado pelo equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação
ambiental – desenvolvimento sustentável.
103
com os planos diretores dos Municípios, bem como levará em conta as prioridades
locais.
Metropolitana da Baixada Santista, tal plano seria elaborado pela AGEM (órgão
176
Conselho de caráter normativo e deliberativo. No caso da RMBS o CONDESB.
104
urbana, tal qual um verdadeiro plano diretor metropolitano, deveria ser aprovado em
Nesse sentido podemos tomar como exemplo a Lei Específica da Billings, que
(APRM-B).
São Bernardo do Campo, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, além de São Paulo,
Além disso, a lei prevê que a gestão da área seja compartilhada, entre o Estado e
Legislativa.
Essa lei tem caráter tanto ambiental como urbanístico, estabelecendo regras tanto
como já dito, da AGEM. Dentre os vários projetos e planos elaborados pelo órgão, o
178
Fonte: Secretaria do Meio Ambiente. Governo do Estado de São Paulo. Minuta de lei
específica da Área de Proteção e Recuperação dos Mananciais do Reservatório Billings
APRM-B.
179
Atualmente existem várias perspectivas de investimentos na região, principalmente
relacionadas à cadeia de exploração e distribuição de petróleo e gás natura (estaleiros,
bases de apoio, aeroportos e heliportos), à indústria, e à expansão dos portos de Santos e
São Sebastião.
180
Fonte: Secretaria do Estado do Meio Ambiente,
<http://www.ambiente.sp.gov.br/cpla/pino.php>, acessado em 05/03/2010.
181
Fonte: Agência Metropolitana de Desenvolvimento da Baixada Santista,
<http://www.agem.sp.gov.br/projetos_pmdi.htm>, acessado em 20/10/2010.
106
desenvolvimento da região num prazo de 12 anos (2002 a 2014)182. O Plano não tem
caráter normativo, visto que não foi aprovado em lei pela Assembléia Legislativa,
não podendo obrigar particulares ou Poder Público e nem regular qualquer atividade
O PMDI tem por objetivo: 1) fornecer aos agentes públicos e particulares que
182
Emplasa. Plano de Desenvolvimento Integrado – PMDI 2002 – Região Metropolitana da
Baixada Santista, p. 4.
107
6 Conclusões
federalismo brasileiro, buscamos uma base teórica que servisse de alicerce para o
Esse estudo não é fácil, uma vez que a Constituição de 1988 pouco falou sobre a
institucionalização dessas entidades regionais, que mesmo não sendo uma inovação
da atual Carta, sofreu sérias mudanças na sua estrutura, o que dificulta (ou mesmo
Porém, o estudo das atribuições das regiões metropolitanas deveria ser cada vez
mais profundo e profícuo, vez que, atualmente, a grande maioria da população vive
preconceitos ou discriminação.186
pois, mesmo sendo os centros econômicos mais dinâmicos, suas periferias abrigam
emprego e renda, mas principalmente que o uso dessas regiões pelo Poder Público
e futuras gerações.
Evidente que as regiões não são entes federativos ou pessoas políticas. São
dificuldades da conurbação.
diferente dos estados e dos municípios. Portanto, não existe o falso dilema de que o
alguma forma, , ferir sua autonomia constitucional, ceifando parte das competências
são competentes para, individualmente, atuar quando o interesse for comum, isto é,
território municipal.
O município que integre uma unidade regional, no caso região metropolitana não
é menos autônomo que o município que não a integre. Porém as necessidades são
diferentes.
constituição federal de criar região metropolitana não está excedendo seu limite de
competência estipulado pela Constituição. Pelo contrário, exerce um direito, pois foi
competências.
aos planos regionais, bem como o estado, compatibilizar seus planos aos planos
estadual, mas um órgão formado por estado e municípios, que conjuntamente irão
comum.
Esse é o espírito da Lei Complementar 760 de 1994, que definiu as diretrizes para
a divisão regional do Estado de São Paulo, bem como, também é a intenção da Lei
envolvidos.
187
Constituição do Estado de São Paulo, artigo 155 e parágrafo único.
112
região, evitando uma “colcha de retalhos” formada por vários planos diretores que
7 Bibliografia
188
Os planos diretores são obrigatórios para cidades com mais de 20 mil habitantes ou
integrantes de regiões metropolitanas (Lei 10.257/2001, artigo 41, I e II).
113
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