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“APRENDENDO COM

AS LIÇÕES
DA VIDA ”

Luciano Montenegro Castelo


APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

PREFÁCIO

Tenho o prazer de apresentar o livro Aprendendo com as Lições


da Vida, que se constitui em um manancial de ensinamentos sobre o poder
ilimitado de criar do ser humano, atitudes que devemos internalizar e
cultivar, importância de alimentar os nossos sonhos e saber tirar proveito
de situações, muitas vezes, adversas e imprevistas.

Devo dizer que fiquei encantada com o seu conteúdo. Cada nova
fábula ou episódio apresentado levava-me a refletir sobre situações
freqüentes no curso da vida, onde superar os próprios limites, buscar o
equilíbrio, deixar fluir as idéias criativas, pode fazer a diferença.

O seu autor – Luciano Montenegro Castelo – é sociólogo,


psicólogo, psicanalista e consultor de empresas e professor dos programas
de MBA da FGV do Rio e dos programas para executivos do PDG/IBMEC
do Rio de Janeiro. Vem desenvolvendo um trabalho de excepcional
qualidade no processo de ajudar as pessoas a se conhecerem, usufruírem de
seus recursos criativos, desenvolverem habilidades interpessoais, fazendo
uma diferença positiva no seu ambiente de trabalho.

Agradeço ao Luciano pelo privilégio de ter tido acesso ao texto em


primeira mão. Estou certa de que o leitor se deixará encantar, como eu,
com a lição da vida a se extrair de cada página, com a leveza e
profundidade de seu conteúdo, com os ensinamentos para a vida diária e
com as possibilidades de crescimento que o texto oferece.

Eunice Soriano de Alencar, Ph.D.

Autora de diversos livros, como Criatividade, A Gerência da Criatividade,


Como Desenvolver o Potencial Criador, Psicologia. Introdução aos
Princípios Básicos do Comportamento, entre outros.

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APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

ÍNDICE

1. Introdução 5
2. Cachorro Criativo (adaptação de uma fábula africana) 6
3. Habilidade nas Entrevistas (fábula) 7
4. Pai Autoritário 8
5. Cachorro Inseparável 9
6. Predisposição no Trânsito 10
7. Concessão Fatal (fábula ) 11
8. Os Porcos Espinhos na Antártica (fábula) 12
9. A Importância dos Dois Remos (fábula) 13
10. Acreditando e Agindo com Muita Determinação:caso acontecido na
Grécia Antiga) 13
11. Grande Exemplo de Perseverança e Persistência: Abraão Lincoln 14
12. Outro Admirável Exemplo de Crescimento com as Perdas 15
13. A Criatividade Muitas Vezes Vem de Quem Está Mais
Abaixo(exemplos) 16
14. O Feitiço Pode Voltar-se Contra o Feiticeiro 19
15. Diretor de Hospital Esperto? 19
16. O Indeciso 20
17. Decisão Sábia (sem excesso de ansiedade) 21
18. Habilidades Políticas Boas (Exemplos) 22
19. Risco da Acomodação (fábula) 23
20. Riscos da Comunicação (exemplo tirado de um filme de
treinamento) 24
21. Saber Brincar (exemplo de brincadeira inadequada) 26

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22. Julgamentos Precipitados Baseados na Aparência (exemplo tirado de


um filme) 27
23. Saber Preparar-se para os Imprevistos 30
24. Saber Esperar para não Desesperar 31
25. O Abacaxi da Vida 32
26. O Rio de Janeiro Tem Muitos Cegos ou Cego foi Quem Assim
Viu? 34
27. Pai Criativo 35
28. O Risco das Interpretações Precipitadas Movidas pelo Medo
(exemplos de casos reais) 36
29. Como se Reage às Dores 38
30. Saber Não Se Iludir pelo Poder das Drogas (exemplo) 39
31. Parecia loucura mas era verdade 40
32. Saber Representar Sem Desistir ( exemplo de um grande ator russo
que não desistiu) 42
33. Há males que vem para o bem! 43
34. Fábulas Chinesas:
I)O Fogo e a Água 45
II)Os Sons da Floresta 46
III)A Lição do Pequeno Riacho 47
35. Qualidade de Vida (conto) 48
36. Copa do Mundo: As Cinco Lições do Penta 57
37. Sobre o autor 60

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1.Introdução

O presente texto está baseado em fábulas e casos simbólicos bem como


em situações reais acontecidas, sem mencionarmos, na maioria dos
casos, quem, onde e quando mas o que. É o que interessa as lições que
poderemos tirar da realidade. Aprende-se com a vida. Os erros admitidos
e encarados com positividade são fatores de crescimento pessoal e de
desenvolvimento da criatividade, conforme poderemos ver em vários
casos. Noutros, as mensagens são transmitidas através de situações
simbólicas muito ricas de ensinamentos. Tanto em um caso como noutro,
o importante é estar aberto para a aprendizagem, saber aprender com o
que acontece mesmo não sendo favorável. Esperamos e desejamos que o
caro leitor tire de tudo o que vai ser apresentado o melhor proveito.
Nossa intenção é a de usar a criatividade e o humor como formas de tirar
lições importantes tanto para a vida pessoal quanto para o trabalho. Em
certos momentos, vamos passar a mensagem através de trocadilhos com a
intenção de ajudar o leitor a registrá-la melhor. Esperamos que, tanto ao
ler fábulas e casos simbólicos muito interessantes como também algumas
situações reais incríveis que vamos apresentar, o leitor possa ficar não
apenas mais consciente mas sobretudo mais conscientizado. Esta é uma
distinção importante que procuraremos esclarecer melhor mais ao final
deste texto, quando apresentaremos um conto sobre Qualidade de Vida,
porém vamos antecipá-la para não deixar o leitor ansioso: a consciência é
o saber das coisas de forma apenas puramente racional. Somente a

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consciência não muda comportamentos. Por exemplo, saber que fumar


faz mal à saúde. Não basta isto. Os médicos sabem muito bem e muitos
fumam. O que muda comportamentos é a conscientização, quando se fica
impregnado, determinado a mudar, envolvendo o todo da nossa
personalidade e levando-nos a refletir e decidir com muita força de
vontade.
Como o perfil dos leitores é variado, provavelmente, uns gostarão mais de
determinados textos e exemplos citados e outros de outros. O importante é
que cada leitor registre bem os casos com os quais se identificou mais para
tirar lições deles, e, se possível, voltar a lê-los periodicamente para
aprofundar as reflexões.

2 – Cachorro Criativo (Adaptação de uma fábula africana)


Um cachorro foi levado por sua dona para um passeio na floresta. Lá
chegando, afastou-se dela, foi para o mato e começou a comer um osso. De
repente, percebeu que uma onça se aproximava para devorá-lo. Sentiu que
não daria mais para correr e fugir. Fingiu então que não a viu e quando ela
estava perto falou alto para a onça ouvir: “ Que onça gostosa acabei de
comer. Agora está na hora de procurar outra onça para matar, pois minhas
táticas não falham.” Ouvindo isto, a onça ficou apavorada e foi embora.
Um macaco, que estava no alto de uma árvore, tudo viu e ficou com muita
inveja do cachorro. Disse: “Essa, não! Eu pensava que era o animal mais
esperto e agora vejo que esse cachorro é mais esperto do que eu.. Vou dar
um jeito nisso.” Literalmente comportou-se como amigo da onça. Foi
correndo atrás dela e, quando a alcançou, falou para ela que fora enganada
pelo cachorro esperto.
Quando o cachorro percebeu, a onça estava voltando com o macaco
montado nela. Fingiu novamente que nada viu, ficou de costas e, quando a

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onça estava mais perto, falou alto: “Cadê o macaco que foi buscar outra
onça para eu matar e comer que não chega? “
Ouvindo isso e sentindo que fora enganada pelo macaco, a onça o matou e
comeu. E o cachorro esperto e criativo fugiu e voltou para os braços de sua
dona.

Conclusão: Diante de uma situação difícil, como nos assaltos e situações


violentas em geral, é necessário ter tranqüilidade para não reagir de forma
descontrolada e saber usar a criatividade. Com tranqüilidade/controle
emocional, pode-se encontrar uma saída criativa que não seja perigosa e
evite o perigo, quando possível. A necessidade, enfrentada positivamente,
estimula a criatividade. Na crise, tire o s, crie! (mensagem de um autor
desconhecido).
-O esperto ou invejoso, como o macaco da fábula, termina dando-se mal!

3 – Habilidade na Entrevista
O presidente de uma empresa precisava contratar um executivo para um
alto cargo muito bem remunerado. Este presidente não tinha as duas
orelhas.
Foi entrevistar três candidatos ao cargo. O primeiro entrevistado saiu-se
muito bem, mas, no final da entrevista, o dirigente perguntou: “notou
alguma coisa em mim?” Ele respondeu: “Notei sim. O senhor não tem as
duas orelhas.” O dirigente, ofendido em seu amor próprio, ficou furioso e o
despediu: “não está contratado!” Com o segundo candidato foi a mesma
coisa. Saiu-se bem na entrevista e, no final, o presidente fez a mesma
pergunta e o candidato disse também que notara que ele não tinha as duas
orelhas e não foi contratado. O terceiro candidato também se saiu bem na
entrevista e quando o presidente perguntou se ele tinha notado alguma
coisa nele e respondeu que sim, o presidente perguntou, já descontrolado e

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preparado para a resposta, o que notara. Ele disse: “Notei que o senhor usa
lentes de contato.” O presidente ficou impressionado e comentou: “É
incrível como você é uma pessoa de visão conseguindo perceber que uso
lentes de contato. Parabéns! Está contratado!”
Ao sair, foi abordado pelos dois outros candidatos que pediram para
explicar como conseguira ser contratado. Ele respondeu: “Quando o
presidente perguntou se eu havia notado alguma coisa nele, pensei: é
evidente que ele não tem as duas orelhas, mas não fica bem para o amor
próprio dele falar isto. Raciocinei rápido: é claro que pela idade ele precisa
usar óculos, mas, como não tem orelhas, não tem como usar óculos, por
isso usa lentes de contato. Foi o que respondi. Falei a verdade da forma
como seria melhor. Fui hábil sem deixar de dizer a verdade!”

Conclusão: Precisamos sempre dizer a verdade, mas com habilidade e


criatividade, evitando ofender o amor próprio das pessoas, de forma que ela
possa ser ouvida. Quando a mesma verdade pode ser dita com habilidade
por que dizê-la de forma mais dura, correndo o risco de não ser aceita?

4 – Pai Autoritário
Um pai autoritário falava enquanto estava na mesa de sua casa durante o
jantar. O garoto, seu filho, disse-lhe: “Pai!”. O pai respondeu de forma
descontrolada: “Cale a boca, filho, porque seu pai está falando!” O garoto
insistiu: “Pai!” O pai cortou a sua fala de forma ameaçadora: “Cale a boca,
menino, já falei, senão eu lhe castigo!” O pai falou, falou. Depois de muito
tempo, disse para o filho: “Agora pode falar, filho.” Este respondeu: “Pai,
agora já é tarde, porque eu queria avisar-lhe de que tinha uma mosca em
sua sopa e você já a engoliu pois não me deixou falar!”

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Conclusão: O autoritário, pai ou mãe autoritários na vida pessoal, ou


chefes autoritários no trabalho ou na atividade pública, pode pagar muito
caro por não saber ouvir. Quem está abaixo, quando está vendo coisas
erradas, ou não consegue falar ou se fala não consegue ser ouvido, é
obrigado a calar-se.

Acréscimo: Uma funcionária de um supermercado próximo de minha casa,


quando leu esse caso falou-me o seguinte: “Comigo aconteceu um caso
parecido, até pior. O meu pai muito autoritário que já faleceu, quando eu
tinha 11 anos, recebeu em sua sala um grupo de amigos que veio buscá-lo
para saírem juntos e foi para o seu quarto arrumar-se. Ao passar na porta do
seu quarto, eu o vi saindo já todo arrumado de seu banheiro, mas, por
distração, com a braguilha aberta e o seu pênis do lado de fora. Quis avisá-
lo e disse: pai. Ele reagiu com raiva: “Cale a boca e não fale nada, não
quero lhe ouvir.” Saiu então assim do seu quarto e, quando chegou na sala,
os seus amigos morreram de rir.”

5 – Cachorro Inseparável
Uma mulher, como muitas outras, tinha um cachorro, seu amigo
inseparável. Viajou de férias e o levou. Voltando, ao final das férias, para
sua cidade junto com a bagagem embarcou o cachorro. Depois de
desembarcar, os funcionários da empresa pela qual viajara foram pegar
sua bagagem e constataram que o cachorro estava morto. Acharam que ela
ia ficar muito triste e, para agradá-la, planejaram o seguinte: inventaram
uma desculpa para ela, demoraram a entregar a bagagem até encontrarem
um cachorro igual ao dela e, quando encontraram, deram fim ao cadáver do
cachorro e entregaram a bagagem com o outro cachorro. Quando a mulher
viu o cachorro, gritou transtornada: “Este cachorro não é o meu!”
Responderam-lhe: “Este é o cachorro que a senhora embarcou.” Ela disse:

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“Não é o meu, porque o meu embarquei-o morto para enterrar junto a mim
no meu jardim!” Tiveram que pagar uma quantia altíssima à mulher para
ela não entrar na justiça contra a empresa do transporte!

Conclusão: Nunca se deve enganar ao cliente, ainda que com a intenção


de agradá-lo! É sempre perigoso enganar. É melhor dizer sempre a verdade,
embora sabendo dizê-la com habilidade, preparando primeiro o ambiente.

6 – Predisposição no Trânsito
Um indivíduo, estando com suas emoções descontroladas, conduzia seu
carro numa estrada de mão e contramão. De repente, vindo dirigindo seu
carro na direção contrária, uma mulher, ao passar por ele, gritou “porco!” .
Ele reagiu e respondeu gritando: “vaca!” e pensou: essa mulher me xingou,
dei o troco que ela merecia. Logo depois, atropelou o porco! A mulher
estava apenas querendo avisá-lo de que havia um porco na estrada.

Conclusão: Este exemplo mostra o perigo das pessoas de interpretarem


mal o que lhes é falado. Este perigo é maior ainda no trânsito e piora
quando se está emocionalmente descontrolado, com raiva. A psicologia
mostra o risco, quando se está com raiva, de passar a raiva adiante sem
perceber. Descarrega-se no outro que não tem nada a ver com a causa da
raiva. Em função disto, soube que, em determinada capital de um estado
brasileiro, os psicólogos estão fazendo um trabalho com as esposas dos
motoristas de ônibus para elas não brigarem com os esposos quando eles
estão saindo para o trabalho. Se já podem ser perigosos no volante,
imaginem eles saindo de casa com raiva! Pensando bem, este trabalho seria
ainda mais importante com as esposas dos policiais que saem de casa

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armados. Mas a lição vale para todos nós. Todo cuidado é pouco
quando se está com raiva para não passar a raiva adiante.1

7 – Concessão Fatal (fábula)


Um porco espinho chegou em um local onde, animados, os gatos angorás
estavam se divertindo, dançando e comendo e bebendo ótimas comidas e
bebidas. O porco espinho tentou participar dessa animada festa mas foi
rejeitado e chutado para fora. Começou a chorar. Um dos gatos chegou até
ele e deu-lhe uma sugestão para que pudesse ser aceito: ir a um gato
barbeiro e cortar todos os espinhos. Aceitou a sugestão. Sem espinho, foi
aceito e dançou com o gato uma bela falsa. Aparentemente dera tudo certo.
O que aconteceu? Ao final da dança, foi comido pelo gato!

Conclusão: Fez uma concessão fatal. Para ser aceito, concedeu além dos
limites. Primeiro: um porco espinho sem espinho não é mais porco espinho,
perdeu a identidade; Segundo: sem espinhos, não tem mais defesas. Pode
ser comido, como de fato aconteceu. Este exemplo mostra as concessões
além dos limites que, por insegurança e desespero, as pessoas correm o
risco de fazer, concedendo aquilo que não pode ser concedido. Para viver e
ou trabalhar junto é necessário saber fazer concessões, porém as
concessões devem ser de ambos os lados e dentro dos limites, não se
concedendo o que não pode ser concedido, prejudicando-se a si ou aos
outros.
Um exemplo de concessão fatal atualmente é o de trabalhar com estresse
excessivo de forma continuada, prejudicando-se a si próprio e à família,
deixando de ter qualidade de vida e correndo risco de adoecer ou morrer
mais cedo. Uma gerente de uma empresa confidenciou, muito frustrada,

1
O exemplo acima foi tirado do filme “A Questão dos Paradigmas”, de Joel Barker, distribuído
no Brasil pela Siamar.

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que há nove anos seu marido, que é gerente financeiro de uma empresa
familiar, não consegue tirar férias com ela e seus filhos. O diretor dele diz
que a sua função é de extrema confiança e não transferível e que, por isto,
não pode prescindir da presença dele e, portanto, não pode tirar férias. Está
exausto e a família frustrada e revoltada, mas ele não sabe dizer não ao
diretor! Não percebe o diretor que, além de prejudicar o seu gerente e sua
família, a médio longo prazo está também prejudicando a empresa pelo
risco de perdê-lo cedo e também de, muito estressado, não conseguir
trabalhar com a mesma qualidade. Estresse excessivo e qualidade do
trabalho são incompatíveis!
Outro exemplo de concessão fatal é o de aceitar agir fora da ética.2

8 – Os Porcos Espinhos na Antártica (fábula)


Não suportando mais na Antártica viver com tanto frio, os porcos espinhos
tomaram a decisão de ir morar juntos muito perto uns dos outros para se
aquecerem. O que aconteceu? Passaram a se ferir uns aos outros e, não
suportando também mais isto, voltaram para a vida anterior, vivendo
isolados e com muito frio. Novamente chegaram a uma situação em que
não toleravam mais tanto frio e voltaram a viver juntos, porém aprenderam
com a experiência anterior e estabeleceram um limite de proximidade para
não se ferirem mais.

Conclusão: O ser humano é um animal social, as pessoas ganham sabendo


viver e também trabalhar juntas e unidas. Tornam-se mais fortes pois se
ajudam e se complementam desde, porém, que se respeitem mutuamente e
saibam manter o limite da privacidade de cada um e sem que um fira o
outro. No relacionamento humano, a virtude está no meio. Nem devem as

2
A fábula acima foi tirada do filme Concessão Fatal, distribuído no Brasil pela Intercultural.

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pessoas manterem-se frias, indiferentes e distantes, nem invasivas e


dominadoras, desrespeitando a personalidade e liberdade de cada um.

9 – A Importância dos Dois Remos


Um homem precisava atravessar um rio. Apareceu um barqueiro para
conduzi-lo para o outro lado. Ao entrar no barco, percebeu que em um dos
remos estava escrito acreditar, no outro agir. Perguntou ao barqueiro o que
significava aquilo. Ele respondeu: “vou lhe mostrar.” Começou a remar
com o remo acreditar e o barco ficou girando. Depois deixou este remo e
passou a remar com o remo agir e o barco ficou girando no sentido
contrário. Agora você vai ver, disse. Pegou os dois remos, remou com eles
e o barco foi para onde pretendia.

Conclusão: Para conseguir atingir o que se quer é necessário acreditar e


agir. Acreditar sem agir não leva a lugar nenhum. É utopia. Agir sem
acreditar também não adianta, é falta de visão. Como diz Joel Barker, no
filme Visão do Futuro (Siamar) um sonho se torna visão quando
passamos a acreditar nele e agir para que aconteça. É necessário agir no
sentido do que acreditamos com muita determinação e persistência como
veremos nos dois exemplos que seguem.

10 – Acreditando e Agindo com Muita Determinação


Demóstenes, o maior orador da Grécia antiga, sonhava em ser um bom
orador mas tinha alguns problemas sérios que o impediam. Tinha uma
dicção muito ruim, gaguejava e, pior ainda, ao falar, sempre levantava um
dos ombros fazendo as pessoas morrerem de rir, achando-o ridículo. Não se
abateu nem se entregou. Muito determinado, acreditando e agindo, retirou-
se para um lugar isolado para lá treinar intensivamente. Para não ceder à
tentação de sair de lá sem estar preparado tirou a barba e o bigode de um

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dos lados do seu rosto, deixando o outro lado com barba e bigode. Se
saísse de lá assim, seria muito ridicularizado. Passou a treinar com muita
intensidade. Primeiro todo dia fazia uma longa corrida porque correndo
melhorava sua respiração para falar melhor. Depois, ficava se exercitando a
falar diante de um espelho da seguinte forma: procurava falar com seixos
que colocava dentro de sua boca porque assim ia aos pouco melhorando a
sua dicção por causa do esforço que fazia. Pior do que isto. Pendurou uma
espada que encostava no seu ombro e cada vez que levantava o ombro ao
falar a espada penetrava nele e tinha dores terríveis. Com tudo isso,
conseguiu deixar de levantar o ombro ao falar, melhorou muito a dicção e...
tornou-se o maior orador da Grécia!!! 3

11 – Grande Exemplo de Perseverança e Persistência


Ele fracassou como homem de negócio em 1831. Perdeu a eleição para
legislador estadual em 32, tentou outro negócio em 33 e fracassou de novo.
A sua noiva faleceu em 35 e ele teve um colapso nervoso em 36. Em 43
candidatou-se ao Congresso para deputado e perdeu. Tentou novamente em
48 e perdeu. Em 55 tentou concorrer ao senado e foi derrotado. Em 56
disputou a vice-presidência e perdeu. Em 59 concorreu novamente ao
senado e mais uma vez foi derrotado. E...em 1860 foi eleito presidente dos
Estados Unidos! Este homem é o Abraão Lincoln!

Conclusão: Os exemplos de Demóstenes e de Abraão Lincoln mostram


que é necessário acreditar e agir com persistência e determinação. Nunca
desistir! Na maioria dos casos, o sucesso é fruto da perseverança, nunca
desanimando e sabendo aprender com os erros e eventuais fracassos!

3
Texto baseado no livro de Reinaldo Polito: “Como Falar Corretamente e Sem Inibições” – Ed
Saraiva

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12 – Outro Admirável Exemplo de Crescimento com as Perdas


O famoso roteirista americano de filmes Gore Vidal relata em seu livro de
memórias Palimpsesto um exemplo incrível de determinação acontecido
com seu avô. Quando este avô tinha oito anos, um dia, brincando com
outros garotinhos de jogar setas em um animal, um dos coleginhas errou e
acertou a seta em um de seus olhos, perdendo a visão do mesmo.
Fatalidade. Quando tinha dez anos, foi a festa de aniversário de outro
coleginha e levou de presente uma arma de brinquedo que, quando se
apertava o gatilho, soltava uma faísca. O coleginha tentou e não conseguiu.
Apertou o gatilho e nada saiu. Deixe-me tentar, disse ele. Colocou a arma
de brinquedo bem perto do olho em que enxergava e, quando apertou, a
faísca atingiu este olho perdendo a visão. Ficou cego de ambos os olhos. O
seu pai disse-lhe: “Lamento, filho, mas vou ter que tirá-lo da escola.”
“Nada disto, pai, respondeu. Quero continuar estudando. Ponha alguém ao
meu lado para fazer as anotações por mim.” Assim foi feito e conseguiu
formar-se como advogado. Mais do que isto. Foi eleito duas vezes senador!
Na primeira vez em que se candidatou, sabendo do preconceito que os
eleitores poderiam ter por ele ser cego, conseguiu esconder dos mesmos
que era cego. Os eleitores viram menos do que ele! Uma vez eleito, abriu o
jogo e como o seu desempenho foi bom conseguiu ser reeleito. Sonhava até
em vir a ser presidente dos Estados Unidos!

Conclusão: São as perdas, enfrentadas com positividade e determinação,


que fazem as pessoas crescerem. Isto está bem colocado, no livro
traduzido, da psicanalista Judith Viorst: Perdas Necessárias. Não Há
Crescimento Sem Perdas da Ed. Melhoramentos. A vida é inevitavelmente
constituída de perdas. A primeira é o nascimento, quando se sai do bem
bom do útero materno, a segunda perda o desmame, a terceira quando a

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mãe volta para o trabalho, a quarta a mudança de idade, etc. Na mitologia


grega, nenhum herói foi criado pela mãe. Todos eram órfãos. Protegido em
excesso, não dá para tornar-se herói. Diante das perdas, ou crescemos
quando as enfrentamos bem ou nos deprimimos, se não buscamos dentro de
nós força para enfrentá-las bem e com persistência pois os bons resultados
normalmente não aparecem logo. No Brasil, temos também um caso de
perda que pode também servir de exemplo. Quando criança e morava em
Cachoeira do Itapemirim no Espírito Santo, nosso famoso cantor Roberto
Carlos perdeu uma das pernas atropelado por um trem. Tudo indica que foi
este acidente fatal que o levou a crescer e tornar-se um grande cantor.
Tinha que procurar atividade diferente e desafiante.

13 – A Criatividade Muitas Vezes Vem de Quem Está Mais Abaixo


a) Primeiro Exemplo: Quando uma grande empreiteira brasileira
construía o primeiro aeroporto supersônico do Brasil, aconteceu o
seguinte, conforme me revelou o engenheiro chefe da área de
produção. Ele reuniu os peões e comunicou-lhes: “Lamentavelmente,
com prejuízo de material e, pior ainda, com risco de atraso no prazo
da entrega da obra que para nós é fatal pois seremos multados,
teremos que quebrar o concreto do primeiro piso, imenso, porque em
um tubo que passa dentro do mesmo nós nos esquecemos de colocar
um fio que é fundamental” . Como o clima já estava bom, a partir
dos treinamentos de integração que eu havia conduzido, um peão
conseguiu chegar ao engenheiro chefe e falar-lhe o seguinte:
“Doutor, não precisa quebrar o concreto. Existe uma solução bem
mais simples. Um rato, quando entra em um lugar, procura a saída. É
só amarrar o fio no rato, doutor, e colocá-lo na entrada do tubo que
ele vai levá-lo para o outro lado.” Isto foi feito e resolveu! Não
precisaram quebrar o concreto.

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b) Segundo Exemplo de Criatividade Vinda de Baixo: Duas


cidades brasileiras ligadas uma a outra, de um lado da rua era uma,
do outro lado a outra cidade, como costuma acontecer nestes casos,
tinham muita rivalidade. Eram as duas atendidas pela mesma
companhia telefônica que precisava editar uma mesma lista para as
duas. Surgiu o impasse., Devido à rivalidade existente, nenhuma das
duas cidades aceitava ficar em segundo lugar na lista nem mesmo
pelo critério de ordem alfabética. Foi uma telefonista quem deu a
solução criativa que resolveu o impasse. Duas capas de frente, uma
no sentido inverso da outra. Além de cada uma estar na frente, ainda
deixava a rival de cabeça para baixo. Resolveu e este exemplo foi
imitado por outras cidades vizinhas uma da outra.

c) Mais Um Exemplo da Solução Criativa Vinda de Baixo: Um rei


diminuiu pela metade a pena de todos os prisioneiros. Surgiu um
impasse. Como diminuir pela metade a pena de quem tem pena
perpétua? Não se sabe quanto tempo ele vai viver. Foi um carcereiro
quem deu a solução: Vinte e quatro horas preso, vinte e quatro horas
solto. Ir alternando. Resolveu o que parecia impossível.

d) Outro Exemplo, Vindo de Mais Baixo Ainda: Numa guerra, os


carros do exército precisavam passar com urgência para o outro lado
do rio. Acontece que a ponte era fechada em arcos e os carros do
exército também eram fechados em cima. Por questão de milímetros
os carros não podiam passar. A engenharia militar, apesar da
urgência, ordenou que fosse construída outra ponte. Um garoto
passou e deu a solução criativa, bem mais simples. “Não precisa
construir outra ponte. Basta baixar a calibragem dos pneus.”
Resolveu!

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e) Os Loucos Podem Ser Criativos: Um motorista ia por uma


estrada quando ao passar na frente de um hospício, um dos pneus
furou. Ele foi mudar o pneu e depois de trocado, quando foi pegar as
porcas estas caíram dentro de um buraco profundo. Ele
exclamou:”não posso sair daqui, perdi as porcas do pneu”. Um louco
que tudo assistiu, disse-lhe: “É simples, é só pegar uma porca de
cada um dos outros três pneus.” Ele disse para o louco: “Você é
louco, como é que acertou?” “Sou louco, disse ele, mas não sou
burro.”

Conclusões: Com muita freqüência quem está em um nível mais em


baixo, com a mão na massa, tem a solução melhor e mais criativa. Daí a
importância de saber estimulá-los e ouvi-los. Os autoritários perdem
muito com isto. Por falta de segurança, não sabem nem conseguem
ouvir e muito menos estimular quem está mais abaixo. Isto vale no
trabalho e também na vida pessoal. As crianças são muito criativas. Em
função disso, li que, na Suécia, empresas colocaram crianças para
participarem de exercícios de tempestade de idéias e foi um sucesso. Os
loucos também muitas vezes são mais criativos porque não têm o medo
do ridículo nem excesso de auto-crítica e deixam sair as idéias que lhes
venham à cabeça. Aliás, para sermos mais criativos, temos que
exercitar mais o nosso lado artista e deixar sair, sem auto-crítica e sem
críticas externas, todas as idéias que venham a cabeça. Depois de
lançadas é que se deve passar as idéias pelo crivo do juiz e não antes. A
educação tradicional castrou muito a criatividade por não estimulá-la e
por reprimi-la.” não diga bobagem!”, diziam às vezes pais e educadores.

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14 – O Feitiço Pode Se Voltar Contra o Feiticeiro


O dono de uma clínica, numa capital brasileira, deu uma ordem
antiética.. Determinou que, por mais urgente que fosse a necessidade de
internar um cliente em estado grave, não deveria ser internado sem os
documentos de identidade e sem comprovação de seguro de saúde.
Aconteceu o seguinte. Um adolescente foi atropelado quase em frente à
clinica. Quem atropelou foi embora e um motorista que vinha atrás
parou e levou o jovem que perdia muito sangue para a clínica. Lá na
recepção, perguntaram: “ Ele tem seguro de saúde e está com os
documentos pessoais?” “Não sei, respondeu quem o levou. Encontrei-o
na rua, atropelado e o seu caso é urgente.” “Então não podemos
autorizar sua internação. São ordens do dono da clínica.” O adolescente
não foi internado e morreu. Era filho do dono da clínica que dera esta
ordem anti-ética e desumana! Aprendeu?

Conclusão: A ética é uma regra básica para a sobrevivência. Quem falta


à ética, não percebe que um dia pode dar-se mal!

15 – Diretor de Hospital Esperto?


Uma jovem e bonita enfermeira foi trabalhar em um hospital. Lá
começou a namorar um enfermeiro. Um dia este veio falar com ela
indignado. “Eu soube, disse, que o diretor da clínica está espalhando
para todo mundo que você saiu com ele e foram para um motel.” “É
mesmo? Respondeu ela. Ele inventou isto? Pois aguarde o troco que vou
dar.” Ela combinou com o namorado e todos os amigos para irem jantar
em um restaurante que ficava perto do hospital.” Foi então até o diretor
e o convidou para ir jantar com ela neste restaurante. É claro que ele
aceitou e ficou todo orgulhoso. Pensou que desta vez o encontro
fantasioso dos seus sonhos com a linda enfermeira aconteceria. Quando

Luciano Montenegro Castelo 19


APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

os dois estavam na mesa do restaurante e ela percebeu que todos os


amigos já estavam nas mesas próximas, ela falou alto para o diretor do
hospital de modo a todos no restaurante ouvirem: “ Que decepção!
Fomos a um motel e você foi um fracasso. Deixou totalmente a desejar
como homem.” Ele retrucou: “Que mentira é esta? Porque está
inventando isto?” “Da mesma forma, disse ela, como você inventou e
espalhou no hospital que fomos para um motel.” Todos caíram na
gargalhada no restaurante. A enfermeira perdeu o emprego, mas ficou
feliz com o troco que deu. Ele saiu de lá humilhado.

Conclusão: Há pessoas que confundem aquilo que elas fantasiam com a


realidade. O que fantasiam e gostariam que acontecesse passam a
espalhar como se tivesse acontecido. Não percebem que um dia vão
descobrir a verdade e elas ficam desmoralizadas. Como se diz, a mentira
tem pernas curtas! O esperto pensa que é esperto, mas, em geral, a
médio e longo prazo, tende a dar-se mal, torna-se ex perto da
vantagem!

16 – O Indeciso
Um homem muito indeciso que tinha medo de decidir, receando as
conseqüências não desejadas de uma decisão, chamou um mestre de
obras para reformar o banheiro de seu quarto, sua suíte. Disse para ele:
“Para ser prático, coloque dois vasos sanitários em minha suíte. Assim,
quando eu e minha mulher estivermos igualmente apertados, estará
resolvida a situação. Não, disse ele, pensado melhor, é ridículo. Coloque
um vaso só. Bobagem, ponha dois vasos, afinal a privada é a coisa mais
privada da vida privada. Não, ponha um vaso só. Já ia saindo e voltou
atrás: Ponha dois vasos. Já estava na rua, quando se arrependeu. Voltou
para mudar a decisão. Quando chegou, o mestre de obras disse-lhe: Já

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APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

resolvi pelo senhor. Pus somente um vaso sanitário porque, indeciso


como o senhor é, já pensou na hora do aperto? Que vaso vou usar? E
fará merda onde não deve!

Conclusão: Desculpem a expressão mais forte que usarei. Fiquei


indeciso se a usava ou não, mas conclui que não devo ser indeciso! Por
isso, vou falar: o indeciso, com medo de tomar uma decisão de merda,
faz merda não decidindo!

17 – Decisão Sábia
Um famoso presidente da General Motors no passado,muito sábio,
dirigia uma reunião de comitê da empresa, quando um dos participantes
do comitê deu uma sugestão de mudança importante na empresa. Ele
perguntou: “ Alguém vê algum inconveniente ou efeito não desejado
nesta mudança?” Ninguém viu. Disse então: “como esta mudança é
muito importante e não é urgente, vamos deixá-la para decidir no comitê
do próximo mês.” O que aconteceu? Tendo tempo para pensar, os
membros do Comitê conseguiram perceber todos os efeitos não
desejados da mudança e ela foi rejeitada por unanimidade. Se o
presidente fosse muito ansioso e precisasse tudo decidir logo, teria
tomado uma decisão desastrosa.

Conclusão: Uma coisa é precisar decidir logo o que tem urgência, tendo
que assumir os riscos inevitáveis, outra é decidir logo por excesso de
ansiedade o que não tem urgência. Quando a decisão é importante e não
é urgente, como diz a sabedoria popular, o travesseiro é o melhor
conselheiro. Tendo tempo, pode-se ver melhor, pesando bem os dois
lados da decisão, as conseqüências desejadas e as não desejadas. Os
extremos são inadequados. Um é o indeciso, tem dificuldade em decidir

Luciano Montenegro Castelo 21


APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

mesmo o que é urgente, o outro é o ansioso em excesso. Decide logo o


que pode e deve esperar. A virtude está no meio, no equilíbrio. E você,
caro leitor, onde está? Qual o seu risco maior: indecisão ou ansiedade?
Responda sem ansiedade, mas também não fique indeciso, sem saber
responder!

18 – Habilidades Políticas
Quando Tancredo Neves foi eleito governador de Minas Gerais, contam
que um deputado muito esperto e ambicioso, querendo se impor para
ocupar uma secretaria de estado, chegou para o Tancredo Neves e falou:
“Governador, está todo mundo perguntando se eu vou ocupar tal
secretaria... Que é que eu respondo.” Tancredo respondeu habilmente:
“Diga que eu convidei e que você recusou. Confirmarei esta versão.”
Também contam que quando Getúlio Vargas era presidente, ocupando o
tradicional Palácio do Catete no Rio de Janeiro, um dia ele estava reunido
com os ministros. Na mesa, diante de cada um dos ministros, havia um belo
cinzeiro de prata, todos iguais e de grande valor. Getúlio notou que um
determinado ministro pegou o cinzeiro e o colocou no bolso do seu paletó
para levá-lo. Sua reação muito hábil foi a seguinte: “Vou fazer uma
mágica. Colocarei o cinzeiro no bolso de meu paletó e aparecerá no bolso
do paletó de um ministro.” Fez isto e mandou que os outros ministros
procurassem o cinzeiro no bolso do tal ministro. Gritaram: “mágica!” e o
ministro ficou desmoralizado e totalmente sem graça. Foi muito melhor do
que se o Getúlio tivesse explodido com ele. Atingiu o objetivo de forma
hábil.
- Contam de um governador brasileiro mineiro, mas li que isto
aconteceu mesmo foi no Oriente Médio. Morreu um secretário de estado
e o filho dele, muito ambicioso, queria ocupar o lugar do pai. Tão
ambicioso e frio que esperou o momento mais emocionante, a hora em

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APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

que o caixão do pai era colocado na cova, para dirigir-se ao governador.


Disse: “Governador, agora posso ocupar o lugar do meu pai?” O
governador, habilmente, respondeu: “Meu filho, esta é uma questão
entre você e o coveiro. Vá lá e converse com ele.”
- O seguinte exemplo que vamos dar não é de político, mas é um bom
exemplo de saber dizer as coisas com habilidade, saber ser político no
bom sentido. Um bem sucedido advogado cearense estabelecido em
S.Paulo, onde tem uma empresa de direito trabalhista, contou-me que
um dia foi procurado por uma síndica que lhe disse: “Doutor, falaram-
me que o senhor é um excelente advogado, por isso estou lhe
procurando. É que estou precisando de um advogado muito bom para
conseguir tirar uns nordestinos do meu prédio.” Ele habilmente
respondeu: “A senhora está certa, para isto só mesmo procurando um
bom advogado nordestino.” Ela, toda envergonhada, disse: “ desculpe,
desculpe, doutor.” Além disso, para se resgatar enviou clientes para ele.

Conclusão: A habilidade política é boa quando o objetivo é bom. Como


já foi colocado, é melhor dizer as coisas difíceis, mas que não devem deixar
de ser ditas, com habilidade. A habilidade política é má, quando o
objetivo é mal, buscando cobrir ações desonestas ou criar a aparência de
um comportamento ético que não existe.

19 – Risco da Acomodação: fábula das moscas


Duas moscas estavam voando e, de repente, caíram dentro de um copo de
leite. Começaram a nadar. Uma delas, cansada, desanimou e deixou de
nadar e morreu afogada. A outra, com muita determinação, continuou
nadando, nadando, até que o leite tornou-se manteiga e, andando sobre ela,
pode voar e sair do copo.

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APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

Algum tempo depois, novamente esta mosca caiu em outro copo de leite e
começou a nadar. Uma outra mosca que passava avisou-lhe: tem um
canudo no copo. É só você subir nele que conseguirá sair daí. Ela não quis
ouvir este conselho. Respondeu: deixe comigo, já tenho experiência e sei
como sair. Continuou nadando, nadando, até que, cansada, morreu afogada!

Conclusão: Quando se consegue o sucesso, todo cuidado é pouco para não


se acomodar, deixando de aprimorar-se e atualizar-se sempre! A mosca da
fábula não quis ouvir porque já tinha sido bem sucedida noutra situação
semelhante e achou que obteria novamente o sucesso sem nada mudar. Para
ajudar o leitor a registrar melhor esta mensagem vamos passá-la através de
um trocadilho:
“Se você é uma pessoa ou uma empresa bem sucedida e se acomoda,
cuidado! Pode tornar-se bem sucedida noutro sentido, isto é, bem
substituída!”

20 – Riscos da Comunicação
O caso que apresentaremos é baseado em um filme de treinamento que não
é recente, porém, muito bom, de David Berlo: “Como evitar lapsos na
Comunicação.”
Uma empresa americana tinha como um de seus principais clientes uma
grande empresa. Para atendê-la bem, foi feito um alto investimento.
Acontece que um concorrente estava de olho nesta empresa cliente. A
demora de entrega do que era produzido para esta empresa era de quatro
dias por via terrestre. Por motivo de emergência, o diretor desta pediu ao
gerente local para que os produtos fossem enviados para ela por via aérea.
Aconteceu o seguinte. O gerente local tentou entrar em contato com o vice-
presidente porque somente ele poderia autorizar o embarque por via aérea.
Ele estava em reunião e mandou a secretária dizer que ele não poderia

Luciano Montenegro Castelo 24


APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

atender ao telefonema. O gerente insistiu que era urgente. Então o vice-


presidente atendeu rápido e, ansioso para voltar à reunião, pediu que sua
secretária se comunicasse com o gerente da área de embarque para
autorizar o embarque via aérea. O gerente não estava e quem atendeu foi a
sua secretária. As duas não se davam bem. Ao fazer a comunicação, pela
forma de passar a mensagem, ( “você está certa de que entendeu?” )
ofendeu o amor próprio da outra. Com raiva, esta comunicou para o chefe
de embarque que os produtos para a empresa cliente deveriam seguir de
imediato voando. Na realidade, ela queria que a outra secretária é que
voasse. E perguntou ao chefe de embarque: “entendeu?” Este respondeu: “
entendi sim, irá hoje voando” Depois que desligou, perguntou a si próprio:
“ o que ela quer dizer com voando? Via aérea não pode ser porque é contra
as normas da empresa. Então deve ser caminhão especial, embora fique
mais caro do que por via aérea. Mas normas são normas.” Assim o fez e a
empresa perdeu seu grande cliente!

Conclusão: As distorções da comunicação são muito freqüentes. Muitas


vezes é o óbvio que não é óbvio para quem recebe a mensagem. Para evitar
este risco, David Berlo dá uma regra de ouro: “Nunca pergunte a alguém
se está claro ou se entendeu, mas o que entendeu ou o que vai fazer.”
Quando alguém diz que entendeu, existem dois riscos: O primeiro é o de
achar que entendeu mas entendeu outra coisa. Na comunicação o
significado está nas pessoas de acordo com sua lente tendo em conta os
fatores psicológicos, culturais e técnicos. O outro risco, particularmente
quando quem recebe a comunicação é de um nível hierárquico mais baixo,
é o de dizer que entendeu pelo receio de achar que pega mal dizer que não
entendeu. No caso acima, outras causas de distorção são bem analisadas
por Berlo, como o grau de competição da mensagem, no caso do vice-
presidente, a ameaça ao ego e status, no caso das secretárias, as falsas

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APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

expectativas ( o responsável pelo embarque achava que não ficaria bem


dizer que não entendeu), e o número de elos. Quanto mais elos, mais
distorções tendem a acontecer. Por isso, é sempre importante checar para
verificar como a mensagem foi entendida.

21 – Saber Brincar
Uma equipe, que trabalhava na área de uma empresa, estava em um hotel
fora da cidade participando de um programa de integração, conduzida por
um consultor visando não somente uni-los como também motivá-los mais.
A razão principal é que os membros desta equipe estavam desmotivados
porque reclamavam que eram pior remunerados do que os funcionários das
outras áreas da empresa. Isto era sentido por eles como falta de
reconhecimento.
Aconteceu o seguinte. No terceiro dia, quando o clima já estava bom,
chegou ao hotel o emissário do vice-presidente da empresa e fez uma
brincadeira que foi considerada péssima e irritou os participantes. Falando
na sala em nome do vice-presidente, ele afirmou de forma bastante séria:
“Vocês se queixam de que são pior remunerados do que os colegas das
outras áreas de nossa empresa, pois tenho uma surpresa boa.” “Qual?”,
perguntaram. Ele disse: “Vou sortear um carro novinho ( escrevi como os
participantes entenderam) para um de vocês.” “É sério?”, perguntaram.
Respondeu: “É sim.” O sorteio saiu exatamente para o funcionário mais
velho. Os outros o abraçaram e ele chorou de emoção. Achou que havia
ganhado um carro novo. O emissário do vice-presidente então abriu uma
sacola e tirou uma garrafa de vinho com um carrinho de brinquedo dentro.
Era um carro no vinho! Os funcionários ficaram muito revoltados e o
pobre do sorteado muito arrasado.

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APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

Conclusão: Brincar é muito importante. Cria um clima mais saudável com


comunicação transparente, aproxima líder e liderados e facilita a
criatividade. Está provado pelos especialistas que o grupo que brinca é
mais criativo porque perde o medo do ridículo e deixa as idéias novas
saírem mais facilmente. Mas... tem-se que saber brincar! A brincadeira
deve ser oportuna e não ser agressiva. A brincadeira só é brincadeira
quando o outro lado aceita a brincadeira e quando não fica frustrado ou
humilhado, como no caso acima. Usou-se indevidamente uma pegadinha de
comunicação, gerando uma expectativa que não correspondia à realidade!
Brincar além dos limites, faltando ao respeito, é sadismo mascarado de
brincadeira.

22 – Julgamentos Precipitados Baseados nas Aparências


Tentaremos sintetizar aqui um filme não recente, muito bom para
treinamento, rico em mensagens importantes: “ Doze Homens E Uma
Sentença” de Henry Fonda. A edição original do filme é em preto e
branco, mas já foi modernamente reeditado a cores e com outros atores e,
quem se interessar, pode encontrá-lo nas casas de vídeo. Pessoalmente,
prefiro a edição original, mas a reedição é fiel ao filme. Se o leitor estiver
interessado em ver o filme, é melhor deixar para ler o texto que segue
depois de assistir ao filme.
Em um estado norte-americano em que a pena para o crime de assassinato é
a pena de morte, doze jurados se reúnem para decidir se um rapaz, acusado
de ter assassinado o pai, é culpado ou não. Se for, irá para a cadeira
elétrica. A lei exige unanimidade porque se trata de pena de morte. O que
acontece? Quando cada um se manifesta, aparece o seguinte: onze jurados
declaram que o rapaz é culpado. Apenas um, um arquiteto, papel
desempenhado com sucesso por Henry Fonda, vota pela inocência do
rapaz. Como precisa haver unanimidade, eles começam a debater. O

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arquiteto diz: tentem me convencer. Mas, à medida em que cada um vai


expondo suas razões e provas, o arquiteto, com muita habilidade, vai
demonstrando que elas não tem fundamento e as desmascara. Terminado o
primeiro debate, o arquiteto diz: “votem novamente. Se todos continuarem
votando pela culpa do rapaz, mudarei meu voto”. Eles vibram, pensando
que está tudo resolvido. Surpresa: Apenas dez votaram pela culpa do rapaz.
Mais um votou pela inocência. Vão ter que continuar debatendo e ... um a
um irá mudando o seu voto até que todos votam pela sua inocência! O mais
resistente e último a mudar foi um pai cujo filho o tinha enfrentado e batido
nele. Inconscientemente, projetava no rapaz o filho dele. Só mudou quando
o retrato do filho caiu no chão e ele o apanhou e gritou “filho ingrato” e
rasgou o retrato. Somente então percebeu que estava transferindo para o
rapaz a raiva contra o filho e vontade de castigá-lo.

Conclusão: Em grupo, decidir por votação, vencendo a maioria sem que


primeiro haja debate, é um grande risco. A minoria, mesmo que seja um só
como no filme, pode estar certa. Numa decisão em conjunto não se deve
julgar que a maioria está certa somente por ser maioria. É necessário, antes
de decidir, saber debater, ouvindo a todos de forma correta, em um clima
saudável e transparente em que cada um possa dizer o que pensa e sente e
saiba ser receptivo para as outras opiniões, sem defesas e imposições. Em
um verdadeiro debate, o objetivo não é querer prevalecer. O importante é
que se saiba aceitar a melhor opinião venha de onde vier. Querer impor
para ver quem vence, não é mais debate, é jogo e pode tornar-se até em luta
e ninguém sai ganhando com isto. O debate nas condições adequadas, em
que todos estejam abertos para ouvir e dispostos a ceder diante do melhor
argumento, é fundamental. Além de saber ouvir, é necessário também,
como o arquiteto do filme, saber defender com habilidade a opinião que se

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APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

julga certa. Se o arquiteto se acomodasse porque era um contra onze, o


rapaz teria sido condenado injustamente.
O filme mostra vários riscos quando se faz julgamentos, inclusive em
situações graves, estando a vida de uma pessoa em jogo. O primeiro risco
é o de tirar conclusões apressadas, julgando pelas aparências. O outro,
como já visto, muito sério, é o de inconscientemente estarmos transferindo
para os outros traumas e situações pessoais vividas, como o pai que, sem
perceber, projetava no rapaz o filho atrevido. É um problema que acontece
muito nos relacionamentos pessoais e de trabalho. Inconscientemente
projeta-se no outro, por exemplo, no cônjuge ou na cônjuge, problemas
vividos na infância com os pais. É a mesma coisa no trabalho. Quem teve
um pai autoritário, se não amadurecer, vai projetá-lo no chefe, temendo-o,
ou, pior ainda, corre o risco de repetir o estilo autoritário e agressivo do pai,
quando assume um cargo de chefia. Outro risco é ser movido pela
ansiedade, querendo decidir logo. Um dos jurados votava com a maioria
porque a sua preocupação era sair logo dali para não perder um jogo que
queria assistir. Quando a metade mais um mudou, ele também mudou. O
importante para ele era que o julgamento acabasse logo.

23 – Saber Preparar-Se Para Os Imprevistos


O que a seguir relataremos, é muito importante como bom exemplo a ser
seguido. Anos atrás, a revista Exame, em 11/03/98, publicou uma
entrevista muito interessante com Ben Carson, que é considerado o melhor
neurocirurgião pediátrico norte americano. Ele conseguiu realizar com
sucesso operações nunca antes conseguidas como a cirurgia que ele fez
para separar as cabeças de duas crianças gêmeas, siamesas, que nasceram
juntas.
Ele relata dois pontos que foram fundamentais para o seu sucesso nesta e
noutras neurocirurgias. O primeiro ponto foi o seguinte: Para conseguir

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APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

separar com sucesso as duas cabeças dos bebês, procurou preparar-se bem,
planejando-se detalhadamente, sabendo ver o máximo de tempo que a
cirurgia poderia demorar e, em função disto, quanto tempo poderia durar
cada atividade do processo da cirurgia. Mais do que isto, o ponto que foi
fundamental. Ele se preparou para os imprevistos. O que deveria fazer,
se uma determinada etapa da cirurgia demorasse mais do que o tempo
máximo previsto. E foi isto o que aconteceu. Uma atividade, que deveria
durar três minutos demorou vinte minutos, muito mais do que o tempo
previsto. Como estava preparado para este imprevisto, conseguiu encontrar
a solução e a operação terminou dentro do tempo máximo previsto e...as
crianças sobreviveram! Outro ponto importante, dentro da linha do que já
vimos noutros exemplos: ele declarou que é necessário acreditar até o
fim, sem desistir. E dá o seguinte exemplo incrível. Uma criança, em
situação muitíssimo delicada, estava internada com os aparelhos ligados.
Ela tinha apenas 1% de chance de sobreviver. Mas ele disse para sua
equipe. “Vamos acreditar, ter muita fé e tentar o máximo ao nosso
alcance!” Até que um dia ele chegou e sua equipe disse-lhe: “Agora não há
mais esperança, temos que desligar os aparelhos.” “Não, disse ele, vamos
esperar mais vinte e quatro horas.” E falou para a mãe da criança rezar,
tendo muita fé. O que aconteceu? No dia seguinte, quando chegou, a
criança estava se movendo e...sobreviveu! Deveu sua vida à positividade,
fé e persistência deste grande neurocirurgião.

Conclusão: É, sem dúvida, um notável exemplo para todos nós, na vida


pessoal e profissional. Primeiro porque, como já vimos noutros exemplos,
não basta acreditar sem agir e para agir temos que saber nos planejar. Ele se
planejou muito bem, preparando-se detalhadamente e com empenho para o
que fazer e, o que é mais importante, o que fazer quando aquilo que
planejamos sofre imprevistos. A vida é feita de imprevistos! Não

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podemos deixar de tê-los em mente, preparando-nos para o que fazer


quando acontecem! Um bom planejamento não pode ser rígido. Deve ser
flexível, aberto aos imprevistos. O segundo ponto confirma muito bem o
que também já vimos noutros exemplos. Ele acreditou, com muita
positividade, quando as chances de a criança sobreviver eram mínimas e
isto foi fundamental.

24 – Saber Esperar Para Não Desesperar


Um profissional, casado e pai de duas crianças, trabalhava em uma grande
empresa em uma área que gostava muito e tinha um bom desempenho.
Embora trabalhasse muito, não se estressava tanto porque adorava o que
fazia e não via o tempo passar. Acontece que, devido ao seu bom
desempenho, foi transferido para outra área que não tinha muito a ver com
ele e que não o atraia. Não soube dizer não. Pior do que passar a fazer o
que não gostava, foi o novo chefe ao qual ficou subordinado. Era
autoritário e descontrolado. Por isso, embora não trabalhando mais do que
trabalhava antes, o seu estresse aumentou muito. Resolveu então pedir
demissão. Primeiro ele se abriu com um psicólogo consultor que o
aconselhou a não se precipitar e a não pedir demissão antes de ter outro
emprego certo. Muito desgastado com seu chefe e com o trabalho, ele não
conseguiu ouvir esse conselho e saiu do emprego.
O que aconteceu? Está a quase dois anos desempregado e aí o seu desgaste
e estresse ficou ainda muito maior, culpado e desesperado por não poder
dar à sua família as condições financeiras necessárias e, além disso, sem
ocupar a sua mente de forma saudável. Está arrependido da decisão
precipitada que tomou.

Conclusão: Trabalhar além do limite de forma continuada é muito


estressante, porém mais estressante do que isto é fazer um trabalho de que

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não se gosta ou com quem não se gosta, particularmente quando se trata de


um chefe ultrapassado e descontrolado que não sabe atuar como um bom
líder moderno. Mas existe um estresse pior: é ficar muito tempo
desempregado. O pior patrão é o desemprego! Por isso, na crise de
desemprego que infelizmente vivemos, é importante que as pessoas que
estão insatisfeitas com seu trabalho saibam conter-se e não saiam do
mesmo precipitadamente, antes de ter outro trabalho certo. Quem não se
diz espera, um dia desespera! Ficar muito tempo sem trabalhar é péssimo,
não apenas financeiramente, mas também para a saúde e para a qualidade
de vida, para o corpo e para a mente. É fundamental ocupar a mente. Por
isso mesmo, é que a boa aposentadoria não é parar, mas diversificar,
passando a fazer um tipo de trabalho de que se gosta. Quem para,
deixando de ocupar a mente e também o corpo, corre o risco maior de
morrer mais cedo ou de esclerosar.

25 – O Abacaxi da Vida
O que vamos relatar aconteceu no Brasil em um estado do Sudeste, várias
décadas atrás.
Um padre era pároco de uma cidade do interior que ele adorava. Para sua
frustração, foi transferido pelo arcebispo, pessoa de personalidade forte,
para outra cidade de sua arquidiocese. Quando chegou à nova cidade e, sem
conhecê-la ainda bem, julgando-a apenas pelas primeiras impressões, o
padre exclamou: “ Que abacaxi o arcebispo me deu!” Isto chegou ao
conhecimento do arcebispo. Muito esperto, este deixou passar alguns meses
para dar o troco e, quando soube que o padre já estava adorando a nova
cidade, mandou chamá-lo para almoçar com ele. Pediu então à sua
cozinheira para ela procurar um abacaxi muito gostoso para ser servido
como sobremesa. Quando o abacaxi foi servido, o padre, ao prová-lo,
exclamou: “Que abacaxi gostoso!” O arcebispo então falou para ele: “ Pois

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é, padre, abacaxi é gostoso, não é? Igual ao abacaxi da nova paróquia que


lhe dei!”

Conclusão: Podemos tirar várias conclusões deste caso. A primeira é a do


risco, quando se muda de cidade, estado ou país, de julgar precipitadamente
a nova realidade onde vamos viver, sem conhecê-la mais profundamente,
levado apenas pelas primeiras impressões. Diz bem a sabedoria popular:
“As aparências enganam.” Em geral, depois que passamos a conhecer e
entender melhor a nova cultura, é que começamos a gostar mais dela e
descobrir as coisas boas. Conheço paulistas que tinham preconceito contra
o Rio e que passaram a adorá-lo, depois que moravam no Rio há mais de
um ano e, vice-versa, cariocas que adoram S.Paulo, depois que se
adaptaram à cidade.
A segunda mensagem é que toda mudança inevitavelmente envolve perdas.
Como já vimos, temos que saber lidar positivamente com as perdas para
crescer e descobrir as coisas boas da nova realidade. O padre, do caso
acima, inicialmente não conseguia ver as coisas boas da nova cidade
porque estava ainda lamentando muito a perda da anterior que ele adorava.
A terceira mensagem, relacionada ao que colocamos, é a do simbolismo do
abacaxi para a vida. A vida é como um abacaxi! Quando se descasca o
abacaxi, ele é gostoso, assim a vida! Quem enfrenta positivamente os
problemas da vida é igual a quem descasca o abacaxi. Descobre as
coisas boas da vida. Quem não sabe enfrentar bem os problemas da
vida é igual a quem não descasca o abacaxi. Fica se arranhando e
arranhando os outros!

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26 – O Rio De Janeiro Tem Muitos Cegos Ou Cego Foi Quem Assim


Viu?
O caso que vamos contar confirma o que comentamos sobre os riscos de
conclusões precipitadas e das generalizações.
Um executivo brasileiro do Rio de Janeiro hospedou em seu apartamento,
localizado no início do bairro da Urca, um executivo inglês, amigo seu.
Depois de alguns dias, ele perguntou para o executivo inglês o que estava
achando do Rio. Este respondeu: “Estou achando o Rio de Janeiro uma
cidade maravilhosa. Apenas me surpreende como o Rio tem cegos
demais!” A explicação é a seguinte: Muito próximo ao apartamento deste
executivo brasileiro está o Instituto dos Cegos. Da varanda, a toda hora, ele
via os cegos atravessarem a rua, dirigindo-se ao Instituto, quando o sinal
próprio para cegos sinalizava com ruídos. Vendo tantos cegos ali, ele
pensou que o Rio de Janeiro todo era assim cheio de cegos. Generalizou e
tirou conclusões apressadas.

Conclusão: Quando estamos fora de nossa cidade, corremos o risco de


generalizar o que vemos. Por exemplo, se em nossa cidade alguém na rua
pisa em nosso pé e não pede desculpa, dizemos: “Que pessoa mal
educada.” Se isto é em outra cidade ou país que mal conhecemos, corremos
o risco de dizer: “Que povo mal educado!” Isto me faz lembrar um artigo
que li de um jornalista francês quando estudei na França. Ele comentava
em seu artigo que viajara para a Índia e que após uma semana lá se achava
em condições de escrever um livro sobre a Índia. Passado um mês,
concluiu que as suas observações eram apressadas e que ele mal tinha
condições de escrever um artigo. Teria que ficar bem mais tempo e
pesquisar muito mais para conseguir escrever um livro sobre a Índia. A
coisa não era tão fácil como aparecia à primeira vista!

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27 - Pai Criativo
Um executivo, profissional muito bem sucedido em sua área de atuação,
contou o seguinte. Ele já era separado pela segunda vez e morava em um
bom apartamento na zona sul do Rio com suas quatro filhas que preferiram
ficar com ele e juntas. As duas mais velhas, com mais de vinte anos, eram
de seu primeiro casamento, as duas mais novas, adolescentes, eram de seu
segundo casamento. Acontece que as quatro gastavam muito e não sabiam
fazer economia nas despesas domésticas. Um dia ele teve uma idéia que
funcionou. Reuniu-se com as quatro filhas na mesa e falou para elas o
seguinte: “ A partir de hoje a nossa casa é uma empresa. Eu sou o
presidente e cada uma de vocês diretora, sendo as quatro responsáveis pelo
orçamento mensal. A verba para as despesas mensais de nossa casa é tanto.
Se ela for ultrapassada, a diferença será tirada da mesada de vocês. Se ficar
abaixo, a diferença ficará para vocês.” A partir daí, elas mudaram
radicalmente. Passaram a se preocupar com os gastos e a economizar em
tudo o que podiam nas despesas domésticas. Começaram até, às vezes, a
pressionar o pai: “Pai, desligue este ar condicionado, para economizar!”.
Ou: “Pai, apague esta luz!”. “Pai, não é necessário comprar isto ou aquilo.”

Conclusão: Como pais e como educadores precisa-se ter a firmeza


necessária para saber por os limites, mas, como este exemplo mostra de
forma muito interessante, a habilidade e a criatividade são muito
importantes na forma de saber comunicar e motivar. Este pai foi muito
criativo para conseguir mudar o comportamento de suas filhas e torná-las
mais responsáveis com os gastos. Soube torná-las co-responsáveis na
administração doméstica.

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28 – O Risco das Interpretações Precipitadas Movidas pelo Medo


Vamos relatar três fatos surpreendentes ocorridos para depois tirar a
conclusão:
a) Na cidade de Campos, no Estado do Rio de Janeiro, em um
determinado dia do ano 2001, as pessoas que estavam no início do
dia no cemitério, acompanhando enterros, de repente viram alguém
levantar-se e sair de dentro de uma cova, pedindo ajuda. Elas,
julgando ser um defunto, saíram todas correndo apavoradas.
Ninguém conseguiu ajudá-lo. A realidade foi a seguinte: Tratava-se
de um homem que fora baleado de madrugada por bandidos com
duas balas em sua cabeça, uma tendo ficado em seu cérebro.
Achando que ele estava morto, os bandidos o levaram para o
cemitério, colocaram o suposto cadáver em uma cova rasa e o
cobriram com areia. Três horas depois, ele voltou a si e, mesmo
tendo engolido muita areia, conseguiu levantar-se. Embora ninguém
o tenha ajudado, felizmente, ele pôde caminhar um quilômetro e
meio até o hospital. Chegando lá, até constatarem a veracidade do
seu depoimento, a equipe de atendimento não sabia se o internava ou
se o mandava para uma clínica psiquiátrica. Foi feita uma cirurgia
delicada para retirar a bala de seu crânio e ele sobreviveu,
continuando internado por muito tempo.
b) Este caso me faz lembrar um outro acontecido muitos anos atrás
em Minas Gerais. Um caminhoneiro levava de uma cidade para
outra, na carroceria de seu caminhão, um caixão vazio de defunto.
Começou a chover e o ajudante, que estava na carroceria, entrou
dentro do caixão para não se molhar. Mais adiante, alguém pediu
carona. O motorista, sem saber que o ajudante entrara no caixão,
brincando, disse: pode subir na carroceria, mas cuidado, tem um

Luciano Montenegro Castelo 36


APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

defunto aí em cima. A um certo momento, o ajudante, querendo


saber se ainda chovia, levantou a tampa do caixão, estendeu a mão e
perguntou: está chovendo ainda? O pobre coitado que pedira carona
achou que era um defunto que levantara a mão e pulou do caminhão
em velocidade, machucando-se.
c) Na cidade do Rio de Janeiro, em um bar perto do cemitério São
João Batista, um homem bebeu além do limite e, alcoolizado,
terminou batendo em uma mulher. Foi levado a uma delegacia. Lá
chegando, ele falou ameaçador para o delegado: “Seu delegado, o
senhor pode me prender pois um dia eu vou sair da prisão. Vou lhe
dizer uma coisa: quando eu lhe prender, o senhor não vai mais poder
sair!” O delegado ficou apavorado, achando que se tratava de
alguém com poder ou ligado a algum poderoso, e o liberou. Tratava-
se de um coveiro que trabalhava no cemitério São João Batista!
Realmente, quando ele prende alguém... na cova, não sai mais!
Contei este caso para um coveiro do cemitério e ele confirmou que
isto era verdade, revelou até o nome do coveiro.

Conclusão: Todo cuidado é pouco, devido ao que podemos chamar de lado


animal do ser humano com reações impulsivas movidas pelo instinto, para
não se fazer julgamentos precipitados e tomar decisões abruptas que podem
ser nocivas a nós próprios ou aos outros. A não ser que já se tenha um nível
de controle emocional e de amadurecimento muito grande, não se pode
saber com certeza como se reagiria se se estivesse presente nas situações
acima. É necessário estar muito atento e ter muito controle para não
permitir que possamos ter reações abruptas causando pânico gerado por
situações imprevisíveis. Rimos das pessoas que saíram correndo do
cemitério achando que era um defunto saindo da cova ou de quem pulou de
um caminhão em velocidade, ao julgar que percebeu um defunto erguendo

Luciano Montenegro Castelo 37


APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

as mãos de dentro do caixão, mas nós, como reagiríamos se estivéssemos


presentes? Correríamos, gritaríamos ou teríamos o controle suficiente para
poder colaborar? Só podemos ter certeza de nossas reações depois que elas
acontecem. Mas temos que nos preparar para não ter esse tipo de reação
em situações inesperadas e aparentemente fora do normal.

29 – Como Se Reage Às Dores


Uma psicóloga que estava fazendo um trabalho com as mulheres grávidas
em uma grande favela do Rio, preparando-as para elas conseguirem ter
parto sem dor, contou o seguinte. Ela falou para uma mulher, pessoa bem
simples que já tinha dois filhos e estava grávida do terceiro: “Eu vim
conversar com a senhora para ajudá-la a conseguir ter um parto sem dor.”
A mulher respondeu, surpreendida: “Uai, doutora, e parto tem dor?” Tinha
dois filhos e não sabia o que era dor de parto!!!

Conclusão: Este caso mostra, sem dúvida, que se pode até não sentir ou
não dar importância à dor física ou, pelo contrário, torná-la mais forte e
intensa de acordo com a parte psicológica/emocional do ser humano. A dor
física não é pois de natureza puramente orgânica. O que receamos,
fantasiamos e como reagimos, com ou sem controle e equilíbrio emocional,
a afeta. O medo e pior ainda o pânico podem tornar a dor muito mais
forte. Existe a força do condicionamento. Condicionada deste criança de
que o parto tem dores, a mulher pode sentir dores do parto muito mais
fortes. Assim em tudo o mais. Cada pessoa tem o seu perfil para enfrentar
as dores com mais força e coragem ou, pelo contrário, com medo e até
pavor. Uma dentista revelou que é impressionante esta diferença. “Existem
homens fisicamente fortes, disse ela, que dão berros e mulheres
aparentemente frágeis e sensíveis que reagem muito melhor às mesmas
intervenções.” Funcionários que trabalham em laboratórios para colher

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APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

sangue confirmam isto. Nossa postura de como enfrentar a dor é,


portanto, muito importante. Apavorados, sem dúvida, vamos ter muito
mais dor! De certa forma, começa-se até a senti-la antes. A preocupação é
uma pré ocupação, provocando um desgaste antes do tempo e receando o
pior que pode nem vir a acontecer!

30 – Saber Não Se Iludir Pelo Poder Das Drogas


O caso que segue é impressionante. Um gerente de uma grande empresa,
sediada em S.Paulo, em um encontro de integração de equipe, contou para
seus colegas a sua história pessoal, surpreendente e admirável. Ele nasceu e
foi criado em uma favela no Estado do Rio de Janeiro. Quando chegou ao
início da adolescência, percebeu que quase todos os seus coleguinhas de
infância, desesperados para ganhar dinheiro, tinham passado a trabalhar
para o tráfico,vendendo drogas. E ficaram tentando-o para entrar pelo
mesmo caminho. Não concordando com isto, ele ficava o tempo todo
dentro de sua casa, estudando. Conseguiu tornar-se um ótimo aluno e
graças a isto ganhou bolsa de estudos para estudar em uma grande
universidade do Estado do Rio de Janeiro. Várias vezes, ao voltar para
casa, ele teve o pesar de encontrar cadáveres de garotos, antigos colegas
seus, mortos a mando do chefão ou na luta com outras facções que queriam
dominar a área. Quando se formou, ele foi contratado para professor da
universidade onde estudou. E um dia, reencontrou um dos poucos colegas
de infância, ligados ao tráfico, que não morrera. Esse colega perguntou a
ele quanto ele e seu pai estavam ganhando. Quando ele falou, o colega riu,
zombando. E afirmou: “Vendendo droga para o meu chefe, eu ganho muito
mais do que o que você e seu pai ganham!” Ele disse para o colega: “Mas
essa sua atividade é muito perigosa!” “Não para mim, respondeu, porque o
meu chefe é muito meu amigo”. Poucos dias depois, o cadáver deste jovem,
que se achava protegido pelo chefão, foi encontrado. Este o mandara matar

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como queima de arquivo! E esse nosso herói, que teve a coragem e a visão
de não se entregar à tentação de ganhar um dinheiro aparentemente fácil
com a venda de drogas, graças ao seu valor, recebeu convite para ir
trabalhar em uma grande empresa em S.Paulo. Aceitou e felizmente está
muito bem! Seus colegas de trabalho ficaram comovidos e impressionados
com o seu depoimento. Não imaginavam tudo o que ele tinha enfrentado e
a capacidade que teve para vencer.

Conclusão: Trata-se, sem dúvida, de um grande exemplo que, se fosse


possível, precisaria ser mostrado pelos meios de comunicação para as
crianças e jovens pobres que, desesperados, são atraídos pelo dinheiro
aparentemente fácil do tráfico. Não percebem eles que a grande maioria
morre cedo como vítimas das lutas entre gangues e também como queima
de arquivo, além da possibilidade de serem presos ou mortos na luta com a
polícia. Compensa? Já o nosso gerente acima, foi forte e muito determinado
para saber resistir e teve muita visão, sabendo explorar o seu potencial
intelectual e conseguindo ser reconhecido pela sua competência. É um
vitorioso enquanto a grande maioria de seus colegas de infância foi cedo
para o túmulo.

31 – Parecia Loucura Mas Era Verdade


No ano de 1999 nos Estados Unidos, o gerente da divisão de carros Pontiac
da General Motors recebeu uma estranha carta de reclamação de um cliente
que comprara um carro Pontiac. Ele dizia que poderia parecer louco mas
era verdade o seguinte: toda noite, ele ia com o carro a uma sorveteria para,
seguindo uma tradição da família, comprar sorvete e o que estava
acontecendo? Sempre que ele comprava o sorvete de baunilha, o carro não
funcionava. Quando comprava outros sorvetes, o carro funcionava. Esta
carta, e outras que ele continuou escrevendo para a General Motors, gerou

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muitas risadas e muitas piadas dentro da empresa. O fato terminou


chegando ao conhecimento do presidente. Ele levou o assunto a sério e
mandou um engenheiro examinar a situação junto ao autor das cartas. O
engenheiro o acompanhou à noite para comprar sorvete de baunilha e
realmente o carro não funcionou após a compra do sorvete. Foi novamente
com ele noutras noites e, quando comprava outros sorvetes, o carro
funcionava. Quando voltava a comprar sorvete de baunilha, o carro
novamente não funcionava! O engenheiro fez uma pesquisa detalhada e,
após duas semanas, descobriu o seguinte: O sorvete de baunilha ficava na
frente da sorveteria e o atendimento era muito mais rápido do que para a
compra de outros sorvetes, possibilitando voltar rápido para o carro.
Descobriu então que o carro estava com um problema em que o motor não
funcionava quando, após ser desligado, era rapidamente ligado de novo
porque não esfriava. Com isso os vapores do combustível não se
dissipavam, impedindo que a nova partida fosse instantânea. A partir desse
episódio, a Pontiac mudou o sistema de alimentação de combustível de
todos os modelos a partir de 99. E o autor da reclamação ganhou um carro
novo!

Conclusão: Conforme a própria General Motors reconheceu, este caso


mostra que, por mais ridícula ou absurda possa ser uma reclamação de um
cliente, ela sempre deve ser levada em consideração, analisando-se bem a
queixa, não se ficando apenas nas aparências que, como no caso
apresentado, podem parecer absurdas ou sem sentido. O cliente sempre
pode ter razão. Essa mensagem vale também para todos nós. Devemos ter
muito cuidado para não fazer julgamentos baseados apenas nas aparências
como nesse caso e noutros antes mostrados. Freud já passava esta
mensagem de não correr o risco de julgar o problema apenas pela
aparência, usando o simbolismo do iceberg. Não julgar que o iceberg é

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apenas aquilo que se vê sobre a superfície do mar. Ele é tão grande quanto
a profundidade do mar. Isto é mais importante ainda quando se corre o
risco de julgar precipitadamente comportamentos ou nos problemas
aparentes de saúde. Achar que o problema é somente aquilo que está
aparecendo como no caso do iceberg.

32 – Saber Representar Sem Desistir


O que vamos relatar, aconteceu na Rússia. No Instituto de Teatro (escola de
teatro), foi aberto um concurso para selecionar jovens para se tornarem
atores. Numerosos jovens se inscreveram, mas alguns somente seriam
selecionados. Um dos jovens, da família Petrov, não passou nos exames de
avaliação realizados por um professor. Este disse para ele: “Você está
eliminado porque jamais será um bom ator, não sabe representar bem”.
Aflito, o jovem foi embora. No dia seguinte, lá chegou uma senhora idosa
que disse ser tia desse rapaz que fora eliminado. Ela começou a gritar,
exigindo que seu sobrinho fosse admitido. Pediu para falar com o diretor do
Instituto de Teatro. O secretário que a atendeu disse-lhe: “O diretor não
está, mas o professor que avaliou o seu sobrinho está aí ao seu lado e a
senhora pode falar com ele”. “É uma injustiça, disse ela para o professor,
meu sobrinho tem talento e os que foram selecionados não são melhores do
que ele.” O professor: “Seu sobrinho não sabe representar, ele jamais será
um bom ator”. “Não sabe,é?”, respondeu ela, arrancando a máscara: “Eu
não sei representar?”. Era o jovem!!! Então o professor reconheceu que
havia errado ao avaliá-lo e disse: “Desculpe! Reconheço meu erro. Vejo
que você sabe representar muito bem até para desempenhar papeis
femininos!”. O jovem foi selecionado e logo se tornou um ator famoso!

Conclusão: Desse caso real acontecido na Rússia, podemos tirar duas


mensagens. A primeira é o risco de precipitar nas avaliações. Quem avalia,

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deve tomar muito cuidado para não errar em decisões rápidas, não
conseguindo ver e julgar bem o avaliado, ficando preso às primeiras
impressões que podem ser influenciadas por outras razões. A segunda
mensagem, muito importante, na mesma linha de outros exemplos já
apresentados, é a de, da parte de quem foi julgado indevidamente, não se
abater, não desistir e a de usar a determinação e a criatividade. Esse
ator não desistiu e foi criativo!

33 – Há Males Que Vem Para O Bem!


Muito recentemente, no dia 12 de outubro de 2002, em Bali, na Indonésia,
aconteceu mais uma violência terrível causada por terroristas. Explodiram
uma boate matando cerca de duzentas pessoas, sendo muitas delas turistas,
inclusive dois brasileiros. Dentro deste terror, uma notícia boa. Cinco
brasileiros, que faziam turismo em Bali, por questão de minutos escaparam.
Por quê? Eles estavam indo para a boate muito tarde porque um deles se
atrasou muito e isto irritou os quatro outros. Ele foi sem hora!!! De
repente, um pouco antes de chegarem, a boate explodiu e, por causa da
explosão da boate, eles transformaram a explosão emocional deles contra o
colega atrasado em agradecimento! Se não fosse o seu atraso, muito
provavelmente todos teriam morrido. Há males que vem para o bem!
Podemos dar mais um exemplo. Há muitos anos, em S.Paulo, um
empresário paulista, que tinha um compromisso de negócio
importantíssimo noutro pais, não podia perder o seu vôo. O que
aconteceu? Por problemas de congestionamento no trânsito, chegou
atrasado ao aeroporto e recebeu a notícia de que seu avião tinha acabado de
levantar vôo. Ficou arrasado. “Como me aconteceu esta desgraça?”, disse.
“Vou ter um grande prejuízo!”. Mal acabou de falar, chegou a notícia de
que seu avião havia caído e que todos os passageiros haviam morrido.
Transformou o desespero em alegria.

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Conclusão: Estes casos reforçam mensagens que já tiramos de outros


apresentados. Mesmo em situações difíceis com perdas e prejuízos,
precisamos saber reagir e ser positivos, não se abatendo. É natural sentir a
perda, o prejuízo, mas nunca se abater, ficar arrasado, nem tão pouco
explodir. É mais fácil perceber o que se perde do que o que se deixa de
perder com isto que poderia ser muito pior ou o que se poderá vir a ganhar
com a perda. Por exemplo, uma mulher, que ficara arrasada por ter sido
abandonada pelo marido que não a fazia muito feliz, sentia-se muito
rejeitada. Por insegurança, achava que nenhum homem interessante se
interessava por ela. Graças à sua filha de oito anos, que a fez ver que um
homem que ela achava muito atraente e legal estava desejando-a e ela não
conseguia perceber (“mãe, ele está interessado em você e você não percebe,
mãe!), encontrou o seu grande amor da vida e foram muitos felizes! Outro
caso: Um funcionário bom foi demitido. Não se abateu, correu atrás e
terminou encontrando outro emprego muito melhor. São as perdas
necessárias, como já foi citado, ou, repetindo, os males que vêm para o
bem!

33 – Fábulas Chinesas
As fábulas que seguem foram descritas em “ A Arte de Comandar sem
Tropeçar” de W. Chan Kim e Renée Mauborgne e publicadas na revista
Exame de 28 de outubro de 1992. Elas têm mensagens importantes.

I – O Fogo e a Água
No século IV aC, Chuang assumiu o governo da província de LU. O
distrito havia prosperado bastante na gestão anterior, mas com ele ia
mal. Confuso com o seu fracasso, ele se dirigiu à montanha para receber
os conselhos do Mestre, Mu-sun Este fez com que Chuang se sentasse

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ao seu lado por longas horas, vendo o fogo queimar brilhante, durante
toda a noite. Pela manhã, não havia mais fogo, tudo se transformara em
cinza. Mun-sun então apontou para o rio e falou: “Agora você entende
porque é incapaz de fazer como seu predecessor fez para sustentar a
grandeza de seu distrito.” Perplexo, Chuang não entendeu nada. Mun-
sun disse: “Reflita sobre a natureza do fogo. Era forte e poderoso. Mas o
que sobrou dele? Somente cinzas. Por ser forte ele tudo destrói,
inclusive ele próprio. Ele se consome com sua própria força. O rio não.
É calmo e quieto, vai rolando, crescendo, tudo fertilizando, sempre em
frente, de vagar e sempre.
Assim, disse, são os administradores. Há aqueles que são fogo,
poderosos e autoritários, destruidores. E há os que são como a água,
humildes, donos de uma força interior de grande alcance e capazes
de ganhar o coração das pessoas. Os administradores que são fogo
não constroem, destroem. Os que são água constroem. Reflita,
Chuang, sobre qual estilo de administrador você é. A resposta para seus
problemas está aí.
E você, caro leitor, qual é o seu estilo como líder? Fogo devorador que
tudo destrói inclusive a ele próprio ou água que com habilidade e
persistência penetra, fertiliza, motiva? Na linha da fábula, a sabedoria
popular afirma: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.” E:
“fulano é fogo de palha”, como um foguete tem ascensão rápida e queda
vertiginosa.

II – Os Sons da Floresta
No séc. III d.C. , o rei Tsao mandou o seu filho Tai`, ir estudar no
templo com o grande mestre Pan Ku. O objetivo era prepará-lo para
sucedê-lo no trono como um grande administrador. Quando o príncipe
chegou ao templo, o mestre mandou que ele fosse à floresta para depois

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APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

descrever os sons da floresta. Passado o prazo marcado, ele retornou e


foi descrever os sons de tudo o que tinha conseguido ouvir. “Mestre,
disse, pude ouvir o canto dos cucos, o roçar das folhas, o alvoroço dos
beija-flores, a brisa batendo novamente na grama, o zumbido das
abelhas e o barulho do vento cortando os céus.” O mestre mandou-o de
volta à floresta para ouvir tudo o mais que fosse possível. Ficou
intrigado com a ordem do mestre.
Por longos dias e noites ficou sozinho na floresta, ouvindo, ouvindo.
Então, certa manhã, sentado entre as árvores da floresta, começou a
discernir sons vagos, diferentes de tudo que ouvira antes. Quanto mais
atenção prestava, mais claros os sons se tornavam.
Quando retornou ao templo, o mestre lhe perguntou o que ele mais tinha
conseguido ouvir. “Mestre, respondeu, quando prestei mais atenção,
pude ouvir o inaudível. O som das flores se abrindo, do sol aquecendo
a terra e da grama bebendo o orvalho da manhã.” O mestre acenou com
a cabeça em sinal de aprovação. “Ouvir o inaudível é ter a disciplina
necessária para se tornar um grande administrador, observou. Apenas
quando aprende a ouvir o coração das pessoas, seus sentimentos
mudos, os medos não confessados e as queixas silenciosas, um
administrador pode inspirar confiança a seu povo, entender o que
está errado e atender às reais necessidades dos cidadãos. A morte
de um pais começa quando os líderes ouvem apenas as palavras
pronunciadas pela boca, sem mergulhar a fundo na alma das
pessoas para ouvir seus sentimentos, desejos e opiniões reais.”
Empatia!

III – A Lição Do Pequeno Riacho


No século IV aC. havia guerras entre as províncias da China. O grande
general da província de Chin, a mais forte, estava em sua sala no palácio

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real, tendo ao lado Meung, o futuro general da Terceira Divisão. “


Grande general, anunciou o tenente Yu que acabara de chegar, as nossas
tropas da Primeira Divisão são maiores que as da Segunda Divisão,
numa proporção de quatro para um. Temos armas e munição em
abundância e as tropas estão bem alimentadas. O general Li anuncia que
a vitória será nossa e que a bandeira de Chin será hasteada para
sempre.” Mas o general, à medida em que recebia o relato, ia tendo
uma reação de angústia. Assim que o tenente terminou de falar,
ordenou-lhe que providenciasse reforços e retornasse ao campo de
batalha imediatamente. Depois que o mensageiro saiu, o grande general
foi até a janela e disse: “Mais uma de nossas divisões vai falhar.”
Meung, perplexo, disse: “Perdoe intrometer-me, mas não entendo essa
sua certeza. A divisão do general Li é superior em homens e armas.
Ainda assim o senhor está convencido de que a vitória não será nossa.
Por quê?” O general levou Meung até um grande lago, nos fundos do
palácio, e jogou uma folha na água e ela apenas flutuou.
Meung inquiriu novamente: “Grande general, o que isto significa?
Estive meditando durante uma hora e sua lição não me levou a resposta
nenhuma.” O general fez com que Meung o seguisse até um pequeno e
estreito riacho, de águas ruidosas, onde atirou uma folha de papel. Desta
vez o papel não apenas flutuou como deslizou riacho abaixo e sumiu. O
general virou-se para Meung e perguntou: “Agora você entende porque
o regimento do general Su nos vencerá?” Meung pediu explicações.
“ A Primeira Divisão é como o lago, enorme e cheia de munição. Mas
note a posição do general Li. Está tão certo da vitória que não luta. Ele
se posicionou atrás, na defesa. Não é o que faz o general Su. Ele está na
linha de frente, ao lado de suas tropas. Está disposto a morrer para
vencer. Isso gera compromisso e confiança nas tropas. Seu regimento
é como o riacho que corre numa direção e carrega facilmente o papel,

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enquanto o grande lago o faz apenas flutuar. A Segunda Divisão pode


ser pequena em tamanho, mas está unida pelo compromisso e vencerá.
Lembre-se de que homens e artilharia são importantes, mas é a
determinação que dará a vitória. “Quatro dias depois, o tenente Yu
chegou com reforços ao local da batalha.
A bandeira de Wei, não a de Chin, tremulava ao vento. A Primeira
Divisão tinha sido derrotada.
Conclusão: A proximidade do líder, dando o exemplo e dando força
e atuando em conjunto é fundamental. Distante o líder, o grupo está
distante dos resultados!

35 – Qualidade De Vida
Vamos ilustrar este texto com um conto sobre Qualidade de Vida. A maior
parte do que colocarei no conto está baseada em situações reais que tive
oportunidade de conhecer ao fazer consultoria em empresas.

QUAL VIDA
Qual vida você está vivendo e qual vida precisaria viver.
Como é e como precisaria ser sua empresa.

O senhor Mega é um grande homem de negócios. É fundador e


presidente da empresa “Sucesso a Qualquer Preço” , a SQP. Recebeu o
prêmio de Dirigente do Ano, pelos resultados alcançados a partir de uma
fortíssima pressão de trabalho. Os funcionários tinham hora de chegar mas
não hora de sair. Quem saísse no horário, às 18hs., era alvo de zombaria e
crítica:
- Lá se vai a turma da Ave-Maria!
Muitos, às vezes, eram pressionados a trabalhar até alta madrugada,
sem nenhum adicional financeiro e, pior, sem nenhum reconhecimento.

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Pelo contrário, conforme se queixou um deles, quando acontecia de chegar


no dia seguinte ao trabalho um pouco atrasado depois de ter trabalhado até
tarde da noite, levavam a maior bronca do chefe.
Em geral, os que precisassem sair no horário normal, por motivos
vários, não conseguiam dizer “não” à solicitação do chefe e ficavam
trabalhando, ou para agradá-lo, ou por medo de perder o emprego, já que
era bastante alto o número de desempregados no mercado. O pior exemplo
de pressão foi o caso de uma funcionária que estava indo para a lua de mel
e foi chamada para voltar com urgência para o trabalho, interrompendo a
viagem de lua de mel. Ela não soube dizer “não”, deixando o noivo triste e
com raiva. Fez uma concessão fatal!
Surgiram dois problemas sérios que começaram a afetar a SQP:
Primeiro, o Sr. Mega passou a sentir-se mal, com dores no peito. Quando
aconselhado a ir ao cardiologista, sempre respondia:
-Mais tarde. Agora não tenho tempo.
Aconteceu, porém, que logo a seguir a mãe dele que morava com ele
começou a sentir-se mal e ele, então, encontrou tempo para levá-la ao
cardiologista afim de fazer os exames necessários. Terminados estes, ele
aproveitou a oportunidade e disse ao médico:
-Doutor, eu estava sem tempo de vir aqui procurá-lo porque estou
sempre muito ocupado, embora sinta umas dores no peito. Mas já que estou
aqui, gostaria de fazer meu check-up.
O médico o examinou minuciosamente, submetendo-o a todos os testes.
Pediu então para que a mãe dele se retirasse da sala. Isto preocupou o Sr.
Mega.
-É grave, doutor, o caso de minha mãe?
- Sua mãe está ótima, não tem nada de sério. Seu caso é que é muito
preocupante. Por que não veio me procurar antes?

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APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

-Porque, como disse, sou muito ocupado, não tinha tempo. Sei que
ando muito cansado mas compenso isto de duas formas.: durante o dia fumo
muito. Isto me distrai; à noite, antes de dormir, no pouco tempo que me resta,
relaxo bebendo. Atualmente, doutor, a bebida, o fumo e o prazer da comida
são as três principais formas que encontro para equilibrar o grande estresse do
meu trabalho. Sempre chego em casa muito cansado. Para falar francamente,
lá o meu principal prazer é quando minha mulher diz: “Está na mesa”. Sento-
me e como compulsivamente.
-É mesmo? comentou o médico. E o prazer da cama, quando ela diz:
“Estou na cama?”
-Com o meu cansaço e tensão não há tesão, doutor. Atualmente, meu
tesão está todo no trabalho. Posso confidenciar aqui, entre estas quatro
paredes onde ninguém nos escuta: minha vida sexual está fraca, sempre
vou para casa muito estressado e sem disposição.
- É mesmo? Então você me permite lhe passar uma mensagem
através de um trocadilho forte, porém verdadeiro?
- É claro que pode. Estou aqui para ouvir a verdade mesmo se doer.
- É o seguinte: Quando o homem se preocupa em demasia – veja
bem, em demasia – com os negócios da empresa, esquece o próprio negócio.
Os negócios da empresa vão para o alto e o seu negócio para baixo!
O Sr. Mega riu meio sem graça e comentou:
- Tenho que reconhecer que isto é verdade. E o pior, nestes casos, é
que nem viagra resolve. Eu teria é que tomar um anti-viagra na minha
empresa para diminuir meu tesão exagerado pelo trabalho. Reconheço que
é fuga. É como se só me sentisse capaz para o trabalho. Como esposo e
como pai deixo a desejar.
- Você é duplamente alcoólatra, disse-lhe o médico.
- Como assim, doutor?

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APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

- É alcoólatra do trabalho e da bebida e assim está se matando. Pelo


menos faz caminhadas regularmente?
- Nada disso, doutor. Vou dizer mais uma vez: Não tenho tempo.
- Pois não caminhando está caminhando para a morte. Tem que parar
de fumar também.
- Prometo, doutor, que vou me esforçar para mudar. Mas o que eu
faço para conseguir parar de fumar?
O médico riu e respondeu: Eu também gostaria de saber!
Quando o Sr. Mega saiu, o cardiologista acendeu o cigarro e pensou
alto: “Eu não ponho em prática nada do que sei e digo. Sou muito
estressado, fumo demais e também bebo além do limite. É a diferença,
como já ouvi em uma palestra de um psicólogo consultor, entre
consciência (saber das coisas) e conscientização, isto é, estar impregnado,
determinado a por em prática aquilo que se sabe que é melhor para a saúde.
Reconheço.
O Sr. Mega saiu do consultório preocupado e durante algumas
semanas melhorou. Cortou o fumo, deixou de beber, não trabalhou em
excesso. Encontrou tempo para ficar com a família e passou a fazer
caminhadas. Mas...depois tudo voltou a ser como antes e as dores no
peito recomeçaram.
O segundo problema a que nos referimos, que afetou a SQP, se deveu a
queda vertiginosa dos resultados e à conseqüente insatisfação dos clientes
ante à má qualidade dos produtos e serviços oferecidos. Funcionários
estressados que passaram a faltar por motivo de doença, outros que
trabalhavam desmotivados ou irritados, os conflitos e desentendimentos
que surgiam ou aumentavam, tudo isso contribuía para a falta de qualidade
na Empresa. Diante desse quadro, piorou o estado de saúde do Sr Mega que
foi hospitalizado às pressas.

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APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

Vencido o auge da crise, foi informado de que deveria ser submetido a


uma cirurgia para implantação de cinco pontes de safena, pois estava com
as artérias obstruídas, algumas 90%. Por sorte, ainda não sofrera de um
enfarte fulminante que poderia acontecer a qualquer momento.
Ao receber esse comunicado, o Sr. Mega disse:
- Doutor, tenho uma viagem de negócio importante, inadiável.
Preciso ir ao México, Estados Unidos e Europa. Na volta, daqui a vinte
dias, eu faço essa cirurgia.
- Nada disso, respondeu o médico. Seu caso é sério, se viajar pode
estar viajando é para o outro mundo. Você tem que ser operado de
imediato!
O Sr. Mega concordou, submetendo-se à cirurgia. Depois da mesma,
enquanto hospitalizado, ele passou a refletir muito. Em conversa posterior,
o cardiologista disse-lhe:
- Parabéns! Você nasceu de novo. Muitos não têm esta chance.
- Eu reconheço. Comprometo-me, a partir de agora, a mudar.
Enquanto estive aqui internado refleti muito e me conscientizei. Aliás, um
trocadilho que me foi passado que não sai da minha cabeça é o seguinte: Se
a vida é curta, então curta a vida! Mas não curta a vida de forma
indevida, tornando ainda mais curta a curta vida! Reconheço que até
aqui sempre oscilei entre os extremos. Em geral não curtindo a vida, apenas
trabalhando. Em alguns momentos, para compensar, procurava curtir em
excesso, bebendo além dos limites e fumando. Para isto, administrarei
melhor meu tempo. Acabou-se esta história de “não tenho tempo!”. Vou
encontrar tempo para curtir minha família e para minhas indispensáveis
caminhadas diárias e outros momentos prazerosos. Além disso, minha
alimentação vai ser balanceada com frutas, legumes, pouco sal e nada de
muita gordura. Agora quero viver.

Luciano Montenegro Castelo 52


APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

- Gostei da palavra conscientizado, disse o cardiologista. Por


coincidência, eu também tenho pensado muito nela. Acredite, Mega, que a
minha vida também não tem sido um exemplo em termos de Qualidade de
Vida. Eu também andava muito estressado, fumava e bebia além dos
limites. Enquanto isso, você vai rir de mim, eu ensinava tudo o que não
fazia para os meus clientes. Mega, você se salvou e me salvou. Obrigado!
E o beijou.
- Eu não salvei apenas a mim e ao senhor, doutor. Vou salvar
também a minha empresa. Ela também vai renascer. Agora vai ser
diferente. A primeira coisa vai ser o meu exemplo porque, como dizia
Santo Agostinho, conforme me lembro quando isto foi falado no colégio
onde estudei, “as palavras comovem, os exemplos arrastam”. Vou
começar mudando o nome da empresa: ao invés de SQP, o nome será
“VISÃO”. Como uma empresa de visão, procuraremos trabalhar unidos,
em equipe, motivados, cada um dando o melhor de si dentro dos limites,
repito, dentro dos limites, e a empresa dando o melhor por eles. Descobri
que um negócio só é bom quando é bom para ambos os lados. Ao invés de
um regime autoritário, haverá mais autonomia e participação de todos. A
administração do tempo vai ser fundamental. Nada de imediatismos e de
tudo para ontem. A ansiedade excessiva não faz mal apenas à saúde das
pessoas, mas também à saúde da empresa. Descobri que é melhor prevenir
do que remediar. Sei, naturalmente, que a mudança não se fará da noite
para o dia, mas progressivamente a partir de muito treinamento, pois
cultura e mentalidade não se mudam de repente. Ah! Uma idéia
importante que tive: vou criar na Visão Programas de Promoção de
Saúde, incluindo, além de cursos e palestras de Qualidade de Vida e de
atividades culturais e de lazer, uma academia de ginástica e também uma
mini creche para que as funcionárias que não tenham com quem deixar
seus bebês, durante o expediente, possam deixar seus bebês e assim

Luciano Montenegro Castelo 53


APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

trabalhar muito mais tranqüilas. Segundo li, pesquisas, realizadas em


grandes empresas do primeiro mundo, demonstraram que o
investimento na qualidade de vida e saúde em geral dos funcionários
tem um retorno muito maior para a empresa. A empresa que investe
na Qualidade de Vida é, portanto, uma empresa de visão. Por isso,
como já falei, minha empresa será Visão.
- Estou encantado, disse o médico. Posso trabalhar na Visão?
- É claro que pode, pois vou precisar de um médico, um psicólogo e
de um educador físico na equipe de Qualidade de Vida que vou criar.
E os dois se abraçaram.
Com o passar do tempo, o ambiente da Empresa tornou-se
maravilhoso. Todos trabalhavam com entusiasmo, saiam mais cedo e
produziam mais porque trabalhavam mais motivados e mais unidos com,
mais sinergia e criatividade. Diziam que a cirurgia dera ao Sr Mega um
grande coração! Já no segundo ano, a Visão superou em muito as
concorrentes e ganhou o prêmio de Qualidade Total!
Em um encontro de Qualidade de Vida promovido pela Visão, foram
cantados os seguintes versos:

Mensagens de Qualidade de Vida com Humor

Estressado, você sabia


Que a Qualidade de Vida
É uma qualidade devida
E indica qual será sua idade de vida?

Reflita, isto é urgente!


Ouça e pense como gente,
Seja inteligente.

Luciano Montenegro Castelo 54


APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

Se a vida é curta, curta a vida


Mas não a curta de forma indevida REFRÃO
Tornando ainda mais curta a curta vida!

Aprenda sem demora


A fazer o que você adora,
Sabendo viver o aqui e agora
Depois a oportuna idade foi embora!

Se trabalha sob alta pressão


Por não saber dizer não
Vai sofrer de pressão alta
O seu coração

Realize-se no trabalho e na vida pessoal


Evitando viver mal;
Seja uma pessoa de brio
Vivendo com equilíbrio

Se você se preocupa demais com o trabalho


Vão para o alto os negócios da empresa
E vai para baixo o “seu negócio”
Ai que surpresa!

Se no trabalho for inevitável a correria


Faça uma caminhada a cada dia
Uma alimentação balanceada
Atenção e carinho para a família amada!

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APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

Cuidado com o sabotador interno


Sua vida pode virar um inferno!
Não basta ser bem informado
É necessário estar conscientizado.

A empresa que investe na Qualidade de Vida


Por ser uma qualidade devida
É na verdade uma empresa de visão
Alcança grandes resultados e evita divisão!

36– Copa do Mundo de 2002: As Cinco Lições do PENTA do Brasil

Este texto “Aprendendo Com As Lições Da Vida” escrevi pouco tempo


antes da Copa do Mundo de 2002, quando o Brasil se tornou penta
campeão. Na mesma linha de muitas mensagens que tínhamos passado,
podemos tirar do Penta, por coincidência, cinco lições importantes:

1 – A primeira lição foi a do risco de perder devido ao sucesso. As três


seleções consideradas as melhores e com mais condições de ganhar a
Copa: Argentina, França e Portugal foram eliminadas na primeira fase.
Isto não parece por acaso ou mera coincidência. O esporte, e
particularmente o futebol, mostra muito bem o risco da perda ou derrota
após o sucesso, provocando a acomodação. Nada pior do que o entrar
em campo com o “já ganhou”. Vejamos o exemplo da Argentina. Saiu-
se excepcionalmente bem nas eliminatórias. E...foi logo eliminada. Foi
como o Brasil noutras ocasiões. Como disse um torcedor, entrevistado
após a Copa, todas às vezes que o Brasil foi disputar a Copa como
favorito não conseguiu ganhar. O melhor exemplo foi o da copa de

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APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

1950 no Brasil. O sucesso parecia total, tínhamos certeza da copa e, no


Maracanã, com todo o apoio da torcida,...perdemos para o Uruguai na
final. Conclusão: O favoritismo é um grande adversário!

2 – A segunda lição está no extremo oposto. A seleção brasileira, tendo


tido muita dificuldade em se classificar, ao contrário da Argentina, foi
para a copa desacreditada e muito criticada. Foi até esnobada por um
jogador da seleção francesa: “ É um futebol em decadência”, disse de
forma depreciativa. E esse futebol em decadência ganhou a Copa,
superando de muito as expectativas! Isto comprova o que vimos. As
crises e as perdas, quando bem enfrentadas, são fatores de
crescimento. Nosso time não se entregou, acreditou, lutou com
determinação e cresceu. Esta lição também é passada por países até
então considerados inexpressivos no futebol, como Coréia e Turquia, e
que se saíram bem com o terceiro e quarto lugar.

3 – A terceira lição está relacionada ‘a segunda. Diz respeito a


Ronaldinho e ao Rivaldo. O Ronaldo, além do problema do final da
copa na França, enfrentou,durante mais de dois anos, problemas sérios
de contusão que poderiam deixá-lo sem condições de nunca mais poder
jogar e muito menos de poder participar de uma copa. Não se entregou.
Ele sintetizou isto muito bem numa frase que falou: “Sou um soldado
ferido, não morto!” Lutou, acreditou e... foi o artilheiro da copa, o
salvador do time brasileiro! A mesma coisa o Rivaldo. Teve problema
de contusão sério, pouco antes de começar a copa. O médico do
Barcelona, o seu time, queria que ele fizesse uma cirurgia no joelho que
o impediria de participar da copa. Ele não aceitou. Foi em frente e deu-
se muito bem na copa, tendo sido essencial para nosso time.

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APRENDENDO COM AS LIÇÕES DA VIDA

4 – A quarta lição tem a ver com o técnico, popularmente chamado de


Felipão ( Luis Felipe Scolari). Foi muito criticado e censurado.
Mostrou-se determinado, sem se abater. Mas o ponto fundamental dele
foi sua proximidade com a equipe. Igual ao que é mostrado em uma das
fábulas chinesas: para se vencer, o líder tem que estar próximo,
atuando junto e dando força. Foi o que ele fez. Só não concordamos
com suas declarações depois da Copa. Em entrevista, três semanas
depois, afirmou que Ronaldo era um jogador mimado. Mesmo isto
sendo verdade, não cabe ao líder fazer este tipo de declaração para fora
da equipe. Ronaldinho, a meu ver, deu uma boa resposta. Afirmou: Às
vezes é mais difícil para as pessoas se comportarem bem depois de
vitórias e conquistas do que depois de derrotas. Ele está certo: todo
cuidado é pouco quando se consegue o sucesso!

5 – A última lição é fundamental: a importância de trabalhar bem em


equipe, todos muito unidos. Nossos jogadores reconheceram ter sido
esse o ponto mais importante. Nada de estrelismos ou individualismos.
Isso ficou muito claro no último gol, quando Rivaldo, ao invés de tentar
fazê-lo para ter a chance de se tornar artilheiro, deixou a bola passar
para Ronaldo, melhor posicionado. O importante era que a equipe
ganhasse! Trabalhar realmente em equipe é o mais importante e
mais desafiante. É também uma questão de visão. Em equipe somos
mais fortes!

(e a história continua...)

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37 - Sobre o autor:

Luciano Montenegro Castelo


Contato: lucianocastelo@globo.com

Mini- Curriculum:

 Cursos superiores: Filosofia ( Petrópolis / RJ)


 Ciências Sociais ( Paris / Fr)
 Psicologia ( Rio de Janeiro/ RJ )
 Psicanálise (Rio de Janeiro/ RJ )
 MBA em Administração pela FGV do Rio.
 Atua como consultor de empresas na área comportamental e
professor nos cursos de MBA da FGV do Rio.

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