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2008

Filosofia da Educação 2
Autores - suplemento

Felipe D. S. Santos
FORUM/APROCEFEP
26/06/2008
FORUM/APROCEFEP
APOSTILA 2 - Suplemento de Autores de Filosofia da Educação

Conteúdo

O "Livro da Educação" do Livro dos Ritos ...............................................3


"O Livro da Educação" ......................................................................5
Sobre o Autor ............................................................................... 11
CONTRA OS PROFESSORES ............................................................... 13
Sobre o Autor ............................................................................... 14
O CORÃO E A INSTRUÇÃO DA CRIANÇA MUÇULMANA ............................ 15

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Confúcio
O "Livro da Educação" do Livro dos Ritos

Introdução e tradução: Ho Yeh Chia

Introdução

O texto, cuja tradução apresentamos a seguir, foi escrito há milhares de


anos, por sábios chineses antigos. Mais tarde foi incluído no Livro dos Ritos,
uma obra desde sempre muito valorizada pelos intelectuais chineses, desde
sua edição por Confúcio.

Como profissional em educação, às vésperas do terceiro milênio, é sempre


estimulante o diálogo com esse texto e renovar a grata surpresa do
encontro com a sabedoria educacional da antiga China.

Se, hoje, a nossa educação está dividida entre dar instrumentos básicos
para que os cidadãos possam sobreviver na sociedade (incluída a formação
técnica para o mercado de trabalho) e a formação do homem como pessoa
(com suas emoções e em suas dimensões física e psicológica), como ser
ético, como cidadão (ser social); podemos, através deste texto, constatar
que outrora - em termos abstratos - não foi muito diferente. No entanto,
quanto ao modo de educar, os antigos chineses eram preparados de modo
bem distinto. E o mesmo se diga da formação dos mestres.

Na concretude dos pequenos valores (que, afinal, não deixam de veicular e


consubstanciar os grandes ideais educacionais) encontram-se muitas
diferenças (embora os grandes princípios sejam eternos e possamos ver no
texto que eles continuam plenamente atuais). Tal como ocorre hoje, a
educação escolar tinha preocupações muito amplas, porém os antigos
privilegiavam pontos que, para nós, estão esquecidos, sobretudo nas
escolas. Quem hoje prioriza valores como: o respeito para com os
virtuosos; o senso para distinguir o certo do errado; o bom relacionamento
entre colegas; o respeito aos mestres; a capacidade de escolher amigos
certos: a boa compreensão das realidades do mundo; ter opiniões próprias,
firmes e sem hesitações, e ao mesmo tempo saber não contrariar e não
ofender seu mestre?

Por outro lado, é oportuno notar que há idéias nesse texto, tão antigo, que
vêm ao encontro de muitos ideais educacionais hoje propostos. Destaco
alguns como: a importância da educação e do processo de aprendizagem no

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âmbito pessoal e social (aliás, esta preocupação é característica de


sociedades confucionistas); a preocupação com a tranqüilidade interior do
aprendiz; o sentido construtivo de benefício mútuo entre o aprender e o
ensinar; o estímulo à pesquisa e aos estudos em grupo; a idéia de que as
perguntas, dúvidas e percepção de erros devem partir dos próprios
aprendizes; obter o interesse e bom resultado dos aprendizes conquistando
primeiramente seu gosto por aprender e despertando seu amor pelas artes
e outros objetos de estudo; evitar erros antes de que eles aconteçam;
orientar os educandos no exato momento em que eles necessitam; saber
ensinar adequadamente conforme o nível de cada um; seguir uma ordem
do processo de aprendizagem sem pressa; e fazer com que cada um cultive
suas qualidades e corrija seus defeitos.

Assim, parece-me extremamente oportuno trazer esse texto para a reflexão


pedagógica de hoje, como luz que nos ajude a examinarmos nossos êxitos e
fracassos.

Cabe lembrar nesta Introdução, que uma das características dos antigos
chineses (e do Oriente em geral) é sua maneira concreta de ver e de lidar
com o mundo: os "argumentos" e as explicações são feitos por meio de
comparações, geralmente com realidades imediatamente compreensíveis
pelo leitor. Atente-se também para a valorização - incomensurável com a
nossa sociedade - da figura do professor e a reverência para com a
educação. Outro fator imensamente sugestivo é o da interação - já se disse
que o Oriente não é ativo nem passivo, mas voz média - entre o ensinar e o
aprender: o mestre aprende ensinando. Note-se, ainda, a perspectiva ampla
e universalista de relacionamento da aprendizagem que o texto propõe.

Na tradução, procuramos preservar algo do sabor original do chinês


clássico.

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"O Livro da Educação"

Aquele que tem comportamentos adequados às leis e que busca a amizade


de pessoas boas, só pode fazer pequenas realizações; não pode despertar a
admiração dos outros. Aquele que respeita os virtuosos e que ama até os
que estão longe de si, pode comover e despertar a admiração de multidões.
Um príncipe que deseja tornar o povo civilizado, tem de começar pela
educação.

A esmeralda que não é talhada, não pode se tornar um vaso; um homem


que não é educado, não pode se tornar um sábio. Todos os Antigos
Príncipes, que fundaram uma dinastia e que governaram um povo,
começaram por privilegiar a educação. Diz o Livro das Escrituras: "Deve-se
pensar sempre em aprender, desde o princípio até o fim".

Pode haver deliciosos alimentos, mas se não os experimentarmos, nunca


conheceremos seus sabores; pode haver grandes sabedorias, mas se não
estudarmos, nunca conheceremos o bem que elas podem nos proporcionar.
É por estudar que descobrimos a nossa ignorância; é por ensinar que
sabemos onde estão as dificuldades. Somente quando reconhecemos a
nossa ignorância é que podemos nos examinar e refletir concretamente;
somente quando sabemos onde estão as dificuldades é que podemos
progredir. Portanto, aquele que ensina e aquele que aprende se beneficiam
mutuamente. É nesse sentido que se disse no Livro das Escrituras: "Ensinar
pode aumentar metade do seu saber".

Antigamente, para cada vinte e cinco famílias, havia uma escola primária;
para cada quinhentas famílias, havia uma escola média; para cada quinze
mil famílias, havia uma escola secundária; e havia Escolas Superiores em
todas as cidades que tinham um príncipe ou um duque. Todos os anos havia
alunos principiantes, a cada dois anos era feita uma avaliação geral do
desempenho e do progresso dos estudantes: no primeiro ano o estudante
era avaliado pela sua capacidade de leitura correta (pausas, cortes, frases,
pontuação) [no antigo chinês, a pontuação, não grafada, ficava
exclusivamente por conta do leitor] e seu senso de distinguir o certo do
errado; no terceiro ano, era avaliado pelo seu conhecimento e pelo seu
relacionamento com colegas; no quinto ano, avaliava-se a abertura e a
amplitude de seus estudos e também seu respeito aos mestres; no sétimo
ano, avaliava-se sua capacidade de investigar e indagar os conhecimentos e
sua capacidade de escolher amigos. Se fosse aprovado, formar-se-ia como
"Pequeno Realizado". No nono ano, o estudante deveria compreender bem
as realidades do mundo, deveria ter opinião própria (firmes e sem
hesitações), e ao mesmo tempo saber não contrariar e nem ofender seu
mestre: então tornar-se-ia um "Grande Realizado".

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Só depois de ter atingido esse nível é que poderia ensinar as pessoas e


torná-las civilizadas, e assim poderia conquistar os que estivessem perto; e
os que estivessem longe viriam admirá-lo e segui-lo.

Este é o caminho da Grande Aprendizagem. É nesse sentido que se


compreende o que está escrito nos registros antigos: "Os filhotes das
formigas aprendem o tempo todo como carregar as terras, pois só assim é
que se poderá construir um grande formigueiro".

As primeiras coisas que se aprendem ao ingressar na "Escola Superior" são:


o uso dos vestes rituais e as cerimônias de sacrifício aos mestres antigos,
para que pratique a manifestação adequada do respeito; as três primeiras
canções dos Cantares (Xiau-Ya), para que saiba como servir à pátria;
tocam-se os tambores para atrair e reunir os alunos novos, abrem-se as
estantes para distribuir os livros, e os barulhos dos tambores servem de
alerta aos alunos para que se dediquem aos estudos. Esvaziar as estantes
lembra aos alunos que devem aprender com dedicação. Jia e Chu (caules e
raízes finas das árvores) impõem o respeito alertando os alunos para que
observem as regras e que se comportem conforme determinam os ritos.

Príncipes e Duques, se não assistirem previamente ao Grande Sacrifício,


não visitarão as escolas, para que cada um siga seus ideais. Mestres
observam o tempo todo seus discípulos sem dizer nenhuma palavra, para
que cada um, ao estudar com atenção, possa perceber suas dúvidas e erros
(e então investigá-las, pois as questões devem partir dos próprios alunos).
Os mais novos só assistem à aula, não fazem perguntas, para que não
saltem os níveis de aprendizagem. Estes sete pontos são os grandes
princípios da educação. Por isso, diz-se nos Registros Antigos: "para
aprender a ser um oficial, aprende-se antes sobre como resolver um
problema público; para aprender como ser um erudito, aprende-se antes
sobre como firmar a vontade [gosto] pelo estudar".

O ensino da "Escola Superior" é dividido pelas Estações do ano.

Cada Estação tem seus determinados estudos a ser cumpridos. Se, por
alguma razão, o aprendiz tem de ficar em casa, terá também seus estudos
a cumprir em casa. Não pode haver pressa na aprendizagem: não se pode
aprender bem a tocar os instrumentos musicais de corda sem antes ter feito
trabalhos pequenos (de limpeza, de manutenção ou de afinação dos
instrumentos); não se pode aprender bem os cantares sem antes ter feito
amplamente sentenças de comparações; não se pode aprender bem os ritos
sem antes ter aprendido sobre as vestes rituais; não se pode gostar de
aprender sem antes ter despertado em si o gosto pelas artes. Portanto, a
aprendizagem de um junzi [o homem sábio e bom] está permanentemente
em seu pensamento, exige seu esforço constante, até nos momentos de
descanso e de lazer; só assim é que se pode aprender com total

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tranqüilidade e que se pode aproximar intimamente dos mestres,


relacionar-se bem com os amigos e confiar na sua aprendizagem; assim,
mesmo longe de seus mestres, ele não cometerá erros.

Por isso, dizem as Escrituras: "Para que o estudo se realize é preciso que
dedique toda sua vontade, aprenda com modéstia, e busque, sem
desperdiçar o tempo, o progresso com diligência".

Os professores atuais cometem erros por apenas fazer leituras dos textos,
por fazer advertências antecipada e demasiadamente (sem esperar que os
aprendizes descobrem seus próprios erros ou dúvidas), por ter pressa em
avançar as lições, e por não se preocupar com a tranqüilidade interior - a
compreensão dos estudos - dos alunos, por orientar sem sinceridade e sem
convicção, por ensinar sem o total desempenho, esforço, e talento.
Portanto, o que ensinam não respeita a ordem do processo de
aprendizagem, e o que "cobram" dos alunos é inadequado.

Assim, os alunos sofrem com os estudos e acabam odiando os professores,


pois só encontram dificuldades nos estudos, não encontram a sabedoria;
ainda que terminem o estudo, esquecer-se-ão com facilidade. Eis as razões
pelas quais a educação fracassa.

O ensino da Grande Aprendizagem deve saber evitar erros antes de que


eles aconteçam; deve orientar os alunos no exato momento em que eles
necessitam; deve saber ensinar adequadamente conforme o nível de cada
um; deve fazer com que os alunos se observem, estudem, discutam as
lições juntos e progridam com ajuda mútua (fazer com que aprendam com
as qualidades dos colegas). Esses quatro pontos são fatores responsáveis
pelo sucesso da educação. É muito difícil corrigir ou evitar a repetição de
um erro uma vez cometido; é muito difícil aprender algo depois de ter
passado o momento oportuno; é muito difícil ensinar fora da ordem do
processo de aprendizagem; é muito difícil descobrir sozinho sem ter colegas
para discutir. Fazer amizade com pessoas inadequadas, facilmente opõe-se
aos ensinamentos dos mestres; seguir um caminho errado, facilmente leva
ao abandono dos estudos; eis os seis fatores que levam ao fracasso da
educação. Um sábio [junzi] que conhece os fatores que podem levar ao
fracasso e ao sucesso da educação pode ser um mestre. Portanto, o
ensinamento de um sábio apenas guia e orienta, não força nem obriga;
apenas motiva, incentiva e firma o gosto pelo estudo, não priva, não proíbe,
não controla; apenas abre o caminho para os grandes princípios e não
discute os pequenos detalhes. A educação que orienta e não obriga pode
fazer com que os alunos sintam sua suavidade e afabilidade; a educação
que incentiva e que não controla pode fazer com que encontrem facilidades
para estudar; ensinar apenas o principal e não dar detalhes "mastigados"
faz com que pensem e investiguem por conta própria. Conseguir que os
alunos sintam suavidade e facilidade na aprendizagem, e fazer com que

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busquem respostas através de investigação e pensamento próprios, pode-


se dizer que isto é saber ensinar.

Aprendizes podem ter quatro tipos de defeitos, os mestres devem conhecê-


los: há aqueles que aprendem excessivamente, buscando quantidade e não
qualidade (erram por aprender muito); há outros que aprendem
insuficientemente (erram por aprender pouco); há aqueles que buscam
velocidade e não a profundidade e amadurecimento (erram por aprender
superficialmente); há outros que se satisfazem pelo pouco que aprenderam,
limitam-se a si próprios e param de progredir (erram por parar de
aprender).

Esses quatro tipos de defeitos têm suas diferenças, um mestre deve


conhecê-las e, então, orientar discípulos de modo que possam suprir e
superar seus defeitos. A educação deve fazer com que cada um cultive suas
qualidades e corrija seus defeitos. Se há uma pessoa com dom de cantar,
sua voz deve ser um exemplo para os outros; se há uma pessoa com dom
de ensinar, seus propósitos [saberes, intenções, - não são técnicas ou
métodos] devem ser um exemplo para os outros: suas falas devem ser
simples, objetivas e claras, profundas e precisas.

Sua falas devem ser simples e claras, devem ser poucas e precisas e usar
comparações de fácil compreensão.

Um sábio deve conhecer as dificuldades e as facilidades nos estudos, deve


conhecer o potencial de cada aluno, só assim é que poderá ensinar a muitos
com sucesso, e então ser um mestre; somente sendo um mestre é que
poderá ser um líder, e então ser um chefe. Pois ser um mestre é ser um
chefe. Portanto, devemos ter muita prudência na escolha de um mestre.
Nos Livros Antigos está escrito: "Os três Reis que fundaram seus Estados, e
que governaram por quatro gerações, todos souberam escolher e respeitar
seus mestres".

No caminho da aprendizagem, respeitar mestres é um difícil aprendizado,


mas somente respeitando seu mestre é que pode um homem respeitar o
saber; somente respeitando e valorizando o saber é que poderá se dedicar
ao aprender. Um Príncipe Dirigente não trata um vassalo como subalterno
em duas circunstâncias: durante um ritual de cultivação de espíritos
divinos, quando o vassalo está ritualmente representando algum espírito
divino; e quando o vassalo é seu mestre. Segundo a "Grande Escola",
quando um mestre dá aula para um Príncipe Dirigente [Filho do Céu], não
deve cumprir ritos de reverência a este como um vassalo comum, porque
até mesmo um príncipe deve respeitar seu mestre, não deixando que este
curve seu corpo diante de um discípulo seu.

Ensinando a uma pessoa que sabe como aprender, o mestre poupará muito
trabalho, e ainda assim obterá o dobro do resultado, e o mérito do mestre é

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louvado. Ensinando a uma pessoa que não sabe como aprender, o mestre
terá muito trabalho, e ainda assim só obterá a metade de resultado
esperado, e o fracasso do mestre é odiado. Um aprendiz que sabe fazer
perguntas certas, é como cortar madeiras: cortando primeiramente as
partes fáceis e só depois a parte dos nós, assim, com o tempo, o aprendiz e
o mestre vão mergulhando na compreensão dos estudos de forma profunda
e com alegria. Já um aprendiz que não sabe fazer perguntas, faz
justamente o contrário.

Um mestre que sabe responder as dúvidas é como um bom tocador de


sinos: quando toca com leveza, o som será suave; quando toca com força,
o som será vibrante, e cada tom estará no seu devido lugar e na sua boa
hora, e será possível distinguir todos os diferentes tons. Quem não sabe
responder às dúvidas, faz justamente o contrário. Isso tudo é caminho para
boa aprendizagem e bom ensinamento.

Apenas memorizar um grande número de informações diferentes, não é


suficiente para constituir um mestre. Um mestre deve saber esperar que o
próprio aprendiz faça perguntas segundo suas próprias dificuldades, e então
dar-lhe respostas certas. Se o aprendiz não tiver capacidade para fazer
perguntas, aí é que o mestre deve expor as explicações; e se mesmo dando
respostas certas o aprendiz ainda não puder compreender, pode-se deixá-lo
provisoriamente de lado.

O filho de um bom ferreiro saberá bem as técnicas de fundir as lâminas de


ferro para consertar recipientes e até sabe aplicar a mesma "lógica" para
consertar vestes de pele de animais. O filho de um bom artesão de arco
saberá usar a técnica de encurvar arcos para fazer outros instrumentos
como uma cesta de arroz, por exemplo. Quando se ensina cavalos a puxar
carros, deve-se colocar os filhotes para seguir seus pais, por trás dos
carros, assim eles também aprenderão. Só quando um sábio começa a
observar esses três exemplos é que ele pode começar a se dedicar a
aprender.

Os antigos aprendizes gostavam de fazer comparações com coisas


semelhantes: o tambor não faz parte das notas musicais, mas as notas não
serão harmoniosamente tocadas sem o tambor; a água não faz parte das
cores, mas as cores não poderão ser distinguidas sem a água; a
aprendizagem não faz parte dos sentidos humanos, mas os sentidos não
serão desenvolvidos sem a aprendizagem; o mestre não faz parte das
relações de parentesco, mas as relações de parentesco não poderão ser
harmoniosas sem o ensinamento do mestre. Diz um sábio [junzi] que "as
grandes virtudes não estão limitadas a realizar apenas uma certa tarefa; os
grandes saberes não têm apenas uma função; os grandes confiáveis não
necessitam fazer promessas; as grandes ordens nem sempre têm limites
bem definidos". Quando alguém puder compreender esses quatro pontos,

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pode começar a estudar. Antigamente, os Reis, quando sacrificavam ao


Espírito da Água, sacrificavam primeiramente ao Espírito do Rio e só depois
é que sacrificavam ao Espírito do Mar. Porque tudo deve ser realizado com
ordem: há aqueles que pertencem ao princípio e ao começo das coisas, e há
aqueles que pertencem ao fim. Tem que haver a distinção do antes e do
depois; e a isto se denomina "a ordem das coisas".

Fonte: http://www.hottopos.com/notand3/chia.htm

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Sexto Empírico
Sobre o Autor

Médico e filósofo grego de origem incerta, um dos representantes mais


importantes do ceticismo pirroniano, cujos escritos têm sido fonte da
maioria das referências desta corrente filosófica. Não se sabe com exatidão
de onde era originário, porém viveu em Atenas, Alexandria e Roma. O
sobrenome Empírico veio de suas concepções filosóficas e, especialmente,
por sua prática médica. Escreveu vários livros dedicados ao pirronismo,
doutrina criada por Pirro de Elida (365-275 a. C.), também conhecida como
ceticismo, hoje conhecidos através de diversos manuscritos traduzidos e
guardados especialmente em bibliotecas espanholas.

Seus três primeiros livros são conhecidos como Argumentações Pirrônicas.


Em seus escritos nota-se uma forte influência de Pirro de Élida (365-275 a.
C.) e Enesidemo de Cnossos, e são dirigidos contra a pretensão dogmática
de conhecer a verdade absoluta, tanto em questões de moral como de
ciência, pensamento que caracterizou sempre a escola cética. Os céticos
também são chamados de zetéticos por seu afã de indagar e observar,
eféticos pela suspensão do juízo produzida pela investigação, aporéticos por
duvidar de tudo e pirrônicos por causa de Pirro, o fundador do ceticismo.

Seus escritos têm uma importância fundamental para o conhecimento do


pensamento antigo. Por exemplo, em sua obra de sete livros Adversus
mathematicos, dirigida especialmente contra os professores, relata dados
importantes para o conhecimento da história da astronomia, gramática e
ciência antiga, ou em termos gerais, a teologia estóica. Também é
conservado um tratado seu sobre medicina.

Fonte: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/SextEmpi.html

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Sobre o ceticismo

Escola filosófica fundada pelo grego Pirro (360 a.C.-272 a.C.) que questiona
as bases do conhecimento metafísico, científico, moral e, especialmente,
religioso. Nega a possibilidade de se conhecer com certeza qualquer
verdade e recusa toda afirmação dogmática - aquela que é aceita como
verdadeira, sem provas. O termo deriva do verbo grego sképtomai, que
significa olhar, observar, investigar. Para os céticos, uma afirmação para
ser provada exige outra, que requer outra, até o infinito. O conhecimento,
para eles, é relativo: depende da natureza do sujeito e das condições do
objeto por ele estudado. Costumes, leis e opiniões variam segundo a
sociedade e o período histórico, tornando impossível chegar a conceitos de
real e irreal, de correto e incorreto. Condições como juventude ou velhice,
saúde ou doença, lucidez ou embriaguez influenciam o julgamento e,
conseqüentemente, o conhecimento. Por isso, os seguidores de Pirro
defendem a suspensão do juízo, o total despojamento e uma postura neutra
diante da realidade. Se é impossível conhecer a verdade, tudo se torna
indiferente e equilibrado. Para eles, o ideal do sábio é a indiferença.

Ainda na Antiguidade, o grego Sexto Empírico (século III?) e os empiristas


vêem o ceticismo como um modo de obter o conhecimento pela
experiência. Não excluem a ciência, mas procuram fundamentá-la sobre
representações e fenômenos encontrados de modo indiscutível e inevitável
na experiência. Esse ceticismo positivo tem papel fundamental no
pensamento do escocês David Hume (1711-1776), um dos maiores
expoentes da filosofia moderna. Para os empiristas modernos, na
impossibilidade de conhecer as coisas em si, o homem se utiliza da crença e
do hábito para poder agir. A filosofia contemporânea, inspirada no
ceticismo, discute questões da relatividade do conhecimento e dos limites
da razão humana.

Fonte: http://www.maiseducacao.com/filosofia/ceticismo.html

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CONTRA OS PROFESSORES

... Por agora vamos conceder aos professores que exista uma matéria
ensinada, que exista um professor e igualmente um discípulo, e
seguidamente iremos abordar o método de ensino. Pois bem, o ato de
ensinar tem lugar ou por uma evidência sensível, ou então por meio da
linguagem. Porém destes dois meios a evidência sensível aplica-se a objetos
passíveis de serem mostrados, e aquilo que se pode mostrar é manifesto, e
o manifesto, enquanto tal, é perceptível por todos por igual, e o que é
perceptível igualmente para todos não pode ser ensinado; portanto aquilo
que se manifesta por evidência sensível não é ensinável. Quanto à
linguagem, ou ela significa algo ou não significa nada. Se não significa nada
também não ensina nada; se significa algo, o fará por natureza ou por
convenção. Só que a linguagem não significa algo por natureza, pois nem
todos entendem todos: nem os gregos aos bárbaros, nem os bárbaros aos
gregos, nem mesmo os gregos aos gregos ou os bárbaros aos bárbaros. Já
se ela significa algo por convenção somente quem já previamente
apreendeu os objetos aos quais as palavras fazem referência irá apreender
também as respectivas palavras, e assim estas palavras não lhes ensinam
coisas que eles ignoravam, mas é como se voltassem a olhar para o que já
sabiam; e por conseguinte quem quiser ser instruído em coisas que ignora
não poderá consegui-lo.

Assim pois, se não existe matéria ensinada, nem o professor, nem o aluno,
nem tampouco o método de ensino, então é óbvio que o ensino não existe,
nem ninguém que o pratique.

Livro 1- IV (Acerca do professor e do aluno)

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Ibn Khaldun
Sobre o Autor

Ibn Khaldun é um precursor das ciências sociais e é reconhecido como o


historiador principal do mundo árabe em seu tempo. Mas, o mundo árabe
de então dominava também o Mediterrâneo, Espanha e metade de Europa
do leste. É considerado como hispânico-árabe pois sua família foi uma das
principais e mais antigas de Sevilha, embora tivesse nascido na Tunísia e
morrido no Cairo. Era diplomata e estadista, professor nas instituições
precursoras do que hoje associamos a idéia de universidade e magistratura.

Sua obra mestra é “Muqaddimah” ou “introdução à história”, que trata do


mundo árabe e muçulmano. Entretanto, julgou necessário conformar uma
teoria da história e do seu método, e ao o fazê-lo, produziu um tratado que
segundo alguns, como Arnold Toynbee ( Inglaterra, 1889 – 1975 ) ,
«desarrolla una filosofía de la historia que es sin duda lo más grandioso de
su tipo jamás escrito, en cualquier tiempo o lugar». Mais do que um
tratado da história ou da sua filosofia, é um exemplo de um enfoque
analítico sobre o fenômeno social que hoje em dia nós chamamos
Sociologia. O livro I de sua história é um tratado geral da Sociologia; o II e
o III são sobre a sociologia da política (o que hoje chamamos de Ciência
Política); o IV é sobre economia política e o V versa sobre educação e
conhecimento.

Toda a obra está estruturada em torno de um conceito que chamou


“asabiyah”, ou coesão social. Este é o elemento ordenador do fenômeno
social que surge espontaneamente das relações entre as pessoas e os
grupos, que pode ser conformado e institucionalizado pela cultura e a
religião, mas que também pode ser destruído ou debilitado pela decadência.

Ibn Khaldun é um precursor das ciências sociais modernas ao anunciar a


existência de determinada ordem social subjacente ao fenômeno político,
econômico, legal e moral.

Em suas palavras, ao definir, o que viu como a ciência nova que chamou
“im al umran”, ou ciência da cultura: “Esta ciência tem seu próprio objeto
de estudo, ou seja, a sociedade humana, com seus problemas e suas
mudanças que se sucedem conforme essa natureza própria da sociedade”.

Fonte: Internet

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O CORÃO E A INSTRUÇÃO DA CRIANÇA MUÇULMANA

É sabido que o ensino do Corão às crianças é um símbolo do Islã.


Muçulmanos têm e praticam tal ensino em todas as cidades porque
imprime nos corações uma firme crença nos artigos da fé, os quais derivam
dos versos do Corão e de certas tradições proféticas. O Corão tornou-se a
base da educação, o fundamento de todos os hábitos que podem ser
adquiridos mais tarde. Os métodos de instruir as crianças no Corão variam
de acordo com as diferenças de opinião quanto aos hábitos que devem
resultar dessa instrução. O método do Maghreb restringe a educação das
crianças à instrução no Corão e à prática, no decurso da instrução, na
ortografia do Corão e nos seus problemas, assim como às diferenças entre
os especialistas do Corão nesse domínio. Os habitantes do Maghreb não
trazem para as suas aulas quaisquer outros assuntos, como as tradições, a
jurisprudência, a poesia ou a filologia arábica, até o aluno estar hábil no
Corão. Consequentemente os habitantes do Maghreb conhecem a ortografia
do Corão e sabem-na de cor, melhor do que quaisquer outro muçulmano.

O método hispânico é instruir lendo e escrevendo. É a isso que prestam


atenção ao educar as crianças. Todavia, visto que o Corão é a base e o
fundamento de tudo isto e a fonte do Islã e de todas as ciências, fazem dele
o ponto de partida da educação, mas não restringem exclusivamente a ele a
instrução das crianças. Juntam-lhe também outros assuntos especialmente
a poesia e a composição; dão às crianças um profundo conhecimento do
árabe e ensinam-lhes uma boa caligrafia.

O povo de Ifriqiyah combina usualmente a instrução das crianças no Corão


com o ensino das tradições. Ensinam também normas científicas básicas e
certos problemas específicos. Todavia preocupam-se mais com dar às
crianças um bom conhecimento do Corão e oferecer-lhes as suas várias
recensões e leituras do que com qualquer outra coisa. Em seguida insistem
na caligrafia. Em geral o seu método de instrução pelo Corão está mais
perto do método hispânico porque a sua tradição deriva dos Shaykhs
espanhóis que fugiram quando os cristãos conquistaram a Espanha e
pediram hospitalidade em Tunis. De então para cá eles são os professores
das crianças muçulmanas. O povo do oriente, tanto quanto sabemos,
parece ter um currículo misto. Disserem-nos que se preocupam com ensinar
o Corão e depois os trabalhos e normas básicas do ensino religioso à
medida que as crianças crescem. Não combinam a instrução pelo Corão
com a aprendizagem escrita. Aqueles que desejam aprender uma boa
caligrafia têm de o fazer mais tarde com calígrafos profissionais segundo o
grau do seu interesse e desejo.

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