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UM GRITO AINDA ECOA EM


NOSSOS OUVIDOS
Davi Pereira Freitas

Davi Pereira Freitas é bacharel em Estatística pela universidade Federal do


Ceará e Pós-Graduando em Políticas e Gestão em Segurança Pública pela Estácio│FIC.
e-mail: davi_ccc@yahoo.com.br

Resumo
  Esse artigo é um breve relato dos desafios encontrados e que ainda encontra-se
para efetiva atuação dos Direitos Humanos no Brasil voltado para um grupo de pessoas
que passou mais de 500 anos sendo lhes furtado os direitos essenciais para existência
humana.

Palavras-Chaves

Direitos Humanos. Ações afirmativas. Inclusão social.

2011

E
 
m meio a um cenário de guerra, onde a violação dos direitos individuais é uma
realidade vivida em cada esquina, onde o medo impera através da violência,
onde pernas são decepadas tirando assim o direito à locomoção, onde línguas são
arrancadas tirando assim o direito à voz, onde cabeças são decepadas tirando assim o
direito à vida, surge um grito, “o grito dos excluídos”.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela


resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de
1948 é uma forma de buscar meios que assegurem os direitos fundamentais do homem.
Mesmo não sendo um documento que obriga sua plena execução pelos Estados-
membros se tornou um marco histórico e um norte, pois introduziu a mais nova
concepção de direitos humanos dos dias atuais que tem como marca a universalidade e a
indivisibilidade desses direitos, e é através dela que começa a desenvolver-se o Direito
Internacional dos Direitos Humanos.

Em contra partida surge um problema, visto que a Declaração de 1948 trata o


indivíduo de forma genérica, geral e abstrata, renegando as peculiaridades de cada
pessoa. É preciso criar uma proteção mais específica, mais detalhada onde vise
resguardar as diferenças que são inerentes ao ser humano. Exigindo assim uma nova
colocação do direito individual que o alcance dentro de suas particularidades,
estabelecendo, portanto um tratamento especial para certos grupos de indivíduos.

Com isso chega-se a grupos excluídos devido às discriminações e aos massacres


sofridos por toda a história da humanidade.

Surge assim, em 1965 a aprovação pelas Nações Unidas, a Convenção sobre a


Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, que tem como um dos
propósitos “promover e encorajar o respeito universal e a observância dos direitos
humanos e das liberdades fundamentais para todos, sem discriminação de raça, sexo,
idioma ou religião” e com plena convicção de que “a doutrina da superioridade baseada
em diferenças raciais é cientificamente falsa, moralmente condenável, socialmente
injusta e perigosa, e que não existe justificação para a discriminação racial, em teoria ou
na prática, em lugar algum”. Reiterando que a discriminação é um obstáculo para
convivência pacífica entre as pessoas e entre os povos sendo capaz de interromper a paz
e a segurança mundial.

 
Em poucas linhas escreveram-se tudo que se precisava escrever, foi fincado uma
base que sobre ela se construiria um novo futuro, um futuro em que as pessoas estarão
em igualdades de condições, onde os direitos individuais de cada pessoa serão
preservados, porém não seria suficiente, só foi feito o alicerce, precisaria introduzir na
consciência da sociedade através de programas e ações para assim alcançar realmente o
futuro tão esperado.

A partir daí surgiu o conceito dos programas e ações afirmativas que tinham
como objetivo a diminuição das desigualdades entre os cidadãos e grupos sociais e que
eles fossem aplicadas por certo período até que se alcançassem seus objetivos.

A busca do reconhecimento

Agora como introduzir um programa no combate a discriminação e a


desigualdade racial, em um país onde uma pesquisa divulgada pelo Datafolha indica que
91% dos entrevistados afirmam que os brancos apresentam preconceito de cor em
relação aos negros, entretanto, quando a pergunta é pessoal, apenas 3% (excluindo os
negros) admitem ter preconceito, e como isso ocorre em um país em que os resultados
mostram que diminuíram as manifestações de preconceito racial, porém verifica-se que
os estudantes das Universidades Públicas em sua grande maioria são brancos, como por
exemplo.

Outra importante pesquisa publicada revela essa triste realidade dentro de uma
instituição pública, salientando que não é uma unanimidade nas instituições brasileiras.
Na Polícia Militar de Pernambuco verificou-se através da pesquisa que existe uma
filtragem pela cor na seleção de suspeitos e ratificou outras pesquisas quando se
perguntou aos entrevistados se eles são preconceituosos e se existe preconceito dentro
da corporação, as respostas são as esperadas, pois se sabe que as instituições são
formadas por pessoas selecionadas de dentro da sociedade.

Com base nesses estudos é que uma das frentes defende que seja elaborado um
projeto que possa ser aplicado nos representantes do estado, pois o estado através de
seus agentes é o ente mais próximo das pessoas que necessitam desses projetos, o que
garante uma grande amplitude de alcance dos programas voltados aos direitos humanos.

 
A busca do conhecimento

Superado então mais um grande obstáculo que é a falta de reconhecimento,


esbarra-se em outro grande problema na aplicação dessas ações, causando assim uma
ampla discussão sobre o tema, tendo inclusive quem defenda que essas ações seriam
forma de discriminar outros grupos de indivíduos.

Podemos observar que já em 1965, na Convenção sobre a Eliminação de Todas


as Formas de Discriminação Racial, onde o Brasil passou a fazer parte em 1967, no art.
1° parágrafo 4 fala que “Não serão consideradas discriminação racial as medidas
especiais tomadas com o único objetivo de assegurar o progresso adequado de certos
grupos raciais ou étnicos ou de indivíduos que necessitem da proteção que possa ser
necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de
direitos humanos e liberdades fundamentais, contanto que tais medidas não conduzam,
em consequência, à manutenção de direitos separados para diferentes grupos raciais e
não prossigam após terem sido alcançados os seus objetivos”, porém o que vemos no
Brasil quando se tenta aplicar um programa social voltado para a superação das
desigualdades econômicas é uma grande resistência, embora todos concordem que algo
deva ser feito para diminuição dessa desigualdade.

Problemas históricos

Os Direitos Humanos no Brasil passaram por fatos históricos marcantes, que até
hoje causa problemas quando da discussão sobre esse assunto. Um desses
acontecimentos está ligado ao fato dos opositores ao regime militar terem sido
fortemente apoiado pelos direitos humanos, pois comungavam das mesmas ideias, que
se referia a direitos políticos e civis, e a partir do momento em que foram nitidamente
associados aos prisioneiros comuns que se juntavam em grandes quantidades nas piores
condições nos presídios superlotados, e onde era de conhecimento de todos, vítimas
constantes de torturas e de todo tipo de sofrimento físico e mental, criando assim uma
fábula que “direitos humanos é privilégio de bandido”.

 
Considerações finais

É preciso resgatar a capacidade e a confiança de cada um, colocando-os em


igualdades de condições, para que assim possa haver uma busca justa de colocação na
sociedade. É preciso haver reconhecimento de que seus direitos foram violados, que
carregam sobre si um peso colocado injustamente por várias gerações por pessoas
desassociada da realidade e da verdade. É preciso devolver o que foi arrancado de
maneira brutal, tentando assim reparar minimamente um erro grave que ocorreu durante
toda a história da humanidade.

 
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