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DA SAÚDE
MANUAL DE TRAUMA
MAIO DE 2002
ÍNDICE Pág.
1 Abordagem do Politraumatizado 3
2 Trauma Crâneo-Encefálico (TCE) 8
3 Trauma Vértebro-Medular (TVM) 11
4 Trauma Torácico 14
5 Trauma Abdominal / Bacia 19
6 Fracturas 21
7 Queimados 25
8 Trauma na Grávida 32
9 Trauma Pediátrico 35
10 Choque 42
Anexos 48
A Lesão oculta 49
B Acidentes de Submersão 54
C Escala de Trauma Revista (Revised Trauma 56
Scale)
1 - ABORDAGEM DO POLITRAUMATIZADO
1 - GENERALIDADES
O trauma é um grave problema de saúde pública. Ele é a
principal causa de morte entre o ano de idade e os 40 anos.
Além de taxas de mortalidade elevadas, as lesões traumáticas
condicionam taxas de morbilidade muito altas, com todas as
repercussões pessoais e sociais que essas situações acarretam.
Um outro aspecto importante deriva dos encargos económicos
resultantes do trauma, quer pelos encargos directos em gastos
de saúde, quer pela diminuição da capacidade produtiva dos
indivíduos afectados (o politraumatizado típico é um adulto
jovem).
Em Portugal, como em alguns outros países, a principal causa
de lesões traumáticas são os acidentes de viação e, com um
significado estatístico muito inferior, as quedas e as
agressões.
De modo a minimizar as consequências desta situação
preocupante, reduzindo as elevadas taxas de mortalidade e de
morbilidade, os profissionais de saúde devem estar devidamente
preparados para uma abordagem correcta do politraumatizado,
factor de importância capital para a redução desses
indicadores.
Vários estudos têm demonstrado que o período mais crítico,
após a ocorrência que provocou o trauma, é a primeira hora. Do
que for ou não for feito nesta “golden hour” (hora dourada),
vai depender, em primeiro lugar, a sobrevivência do
politraumatizado e, em segundo lugar, o grau e a duração das
suas sequelas. Frequentemente, o fundamental resume-se à
execução de técnicas e de gestos, na sua maioria pouco
complicados, que, se não forem executadas na altura correcta,
vão condicionar um prognóstico menos favorável.
De modo a permitir uma abordagem integrada e sistematizada do
politraumatizado, é fundamental que os profissionais de saúde
apliquem uma metodologia correcta, precisa e, tanto quanto
possível, com provas dadas, para a resolução dos muitos e
complexos problemas que o trauma levanta.
A metodologia ABCDE enquadra-se na definição anterior. Esta
forma metódica de avaliar e tratar o politraumatizado, tem
sido aplicada em todo o mundo, ao longo das últimas décadas,
em milhões de traumatizados e mantém-se como a referência para
a abordagem destes doentes.
Ela assenta num protocolo de avaliação e actuação
concomitantes, não sendo lícito passar para outra fase sem que
a anterior esteja sob controlo. A ênfase deve ser dada à
estabilização dos parâmetros vitais. Este método de abordagem
do politraumatizado divide-se em duas etapas: avaliação
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2 - AVALIAÇÃO PRIMÁRIA
A VIA AÉREA (com controlo da coluna cervical)
B VENTILAÇÃO
C CIRCULAÇÃO (com controlo de hemorragias externas)
D DISFUNÇÃO NEUROLÓGICA (registo dos défices encontrados)
E EXPOSIÇÃO (com controlo da temperatura)
Nota: as iniciais ABCDE resultam do inglês airway,
breathing, circulation, disability, exposure
A - Via aérea
B – Ventilação
Manutenção de oxigenação adequada. Por vezes é necessário
apoiar a ventilação com:
• Máscara facial ou tubo endotraqueal e insuflador manual:
O2 a 100 %, 10-15 l/min, com 12 ventilações/min.
• Se ventilação mecânica: volume corrente 8 -12 ml/kg, FR
12/min e FiO2 50 %
Em caso de dificuldade considerar:
• Obstrução da via aérea: considerar hipótese de
cricotirotomia, se outras opções falharem
• Pneumotórax: drenar rapidamente em caso de compromisso
respiratório
• Hemotórax (ver Cap. de trauma torácico)
• Retalho costal: imobilizar rapidamente (ver Cap. de
trauma torácico)
• Lesão diafragmática com herniação
O diagnóstico requer avaliação seriada do doente e integração
de dados da inspecção, palpação, percussão e auscultação, não
devendo existir hesitação em actuar perante uma lesão que
ponha a vida em perigo.
C – Circulação
Avaliar
• Pulso: valorizar taquicardia como sinal precoce de
hipovolémia
• Temperatura e coloração da pele: hipotermia, sudorese e
palidez
• Preenchimento capilar: leito ungueal
• Pressão arterial: inicialmente estará normotenso
• Estado da consciência: agitação como sinal de
hipovolémia
Considerar relação entre % de hemorragia e sinais clínicos
(graus do choque):
Actuação
1. RCP, se necessário.
2. Controlo de hemorragia com compressão externa.
3. Acessos venosos: o traumatizado deve ter 2 acessos
com catéteres G14, «nunca» com menos do que G16.
Eventualmente, poderá ser colocado um catéter numa
jugular externa ou utilizada a via intra-óssea (a
considerar também no adulto). Em caso de trauma torácico
ou abdominal grave, garantir um acesso acima e outro
abaixo do diafragma.
4. Reposição de volume: a escolha entre cristalóides e
colóides não deve basear-se necessariamente no grau de
choque, não estando provada qualquer diferença de
prognóstico na utilização de um ou outro. O volume a
infundir relaciona-se com as perdas e a resposta
clínica. Deve ser utilizado como guia para a reposição
de fluídos uma relação entre as perdas aparentes e o
volume a administrar de 1:3 no caso dos cristalóides e
de 1:1 no caso dos colóides.
5. Atenção aos TCE, TVM e grávida politraumatizada
sendo à partida, ainda que discutível, privilegiar
colóides.
6. Regra geral, não utilizar soros glicosados no
traumatizado, existindo apenas interesse destes no
diabético ou na hipoglicemia confirmada.
7. Por norma, os soros administrados na fase inicial
num adulto politraumatizado não são suficientes para
originar um edema pulmonar, mesmo em doentes cardíacos.
Não se deve insistir tanto na recomendação de cuidado
com a possibilidade de sobrecarga numa situação de
hipovolémia, mas sim tratar esta última.
8. Vigiar estado da consciência e perfusão cutânea,
avaliando parâmetros vitais de forma seriada.
D - Disfunção neurológica
Avaliar
• GCS (Escala Coma Glasgow), de uma forma seriada
• Tamanho, simetria/assimetria pupilar e reactividade à
luz
• Função motora (lateralização à dor)
Actuação
1- Administrar Oxigénio 10 - 12 l/min e actuação de
acordo com protocolo específico.
2- Imobilização da coluna vertebral com colar cervical,
imobilizadores laterais da cabeça, com plano duro ou
maca de vácuo.
Regra: não originar mais lesão, evitando lesão
secundária, fruto de hipóxia e/ou hipotensão
E – Exposição
1- Despir e avaliar possíveis lesões que possam ter
passado despercebidas, mantendo cuidados de imobolização
da coluna vertebral. Utilizar técnicas de rolamento.
2- Evitar a hipotermia. Utilizar manta isotérmica.
Manter
1. Vigilância parâmetros vitais e imobilização.
2. Analgesia de acordo com as necessidades: Morfina 2 mg
(0,03 a 0,05 mg/kg) EV bólus (1 ampola de 10 mg diluída
até 10 ml de SF e administrar 2 ml = 2 mg). Titular
consoante resposta e, se necessário, administrar mais,
de 1 a 2 mg de cada vez, até máximo de 0,1 mg/kg. Em
caso de necessidade administrar Naloxona 0,4 mg EV (1
ampola).
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3 - AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA
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1 - INTRODUÇÃO
O TCE constitui uma fonte significativa de morbilidade e
mortalidade, sendo a causa mais frequente de morte em
indivíduos jovens. Em grande parte este panorama deve-se às
lesões secundárias resultantes de um socorro, levantamento e
transporte deficientes.
2 - OBJECTIVOS
• Optimizar a oxigenação, evitar a hipercapnia e manter o
débito cardíaco de forma a evitar um aumento da pressão
intracraniana e isquémia por diminuição da pressão de
perfusão cerebral. A hipotensão arterial, hipóxia e
hipercapnia são causas frequentes e graves de lesão
secundária.
• Evitar a hipo/hiperglicémia, dor, reacção ao tubo
endotraqueal, entubação acordada no doente reactivo e
factores de infecção.
• Reduzir a hipertensão intracraniana (HIC) e tolerar uma
pressão arterial mais alta: manter a pressão de perfusão
cerebral (pressão arterial média - pressão
intracraniana).
• Prevenir, reconhecer e tratar lesões associadas.
3 - AVALIAÇÃO INICIAL
ABCDE. Avaliar e tratar imediatamente passo a passo.
A - Via aérea permeabilizar, considerar hipótese de
trauma cervical
B – Ventilação hiperventilar se sinais de hipertensão
intracraniana
C – Circulação manutenção da pressão arterial
D - Disfunção neurológica GCS, pupilas, lateralização à
dor, parésias evidentes
E – Exposição evitar hipotermia
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5 - ACTUAÇÃO
1. O2 em alta concentração (com máscara de Hudson) se GCS
≤ 8.
2. Manter imobilização cervical.
3. Entubação orotraqueal: até prova em contrário todo o
TCE tem fractura da base do crânio e daí a contra-
indicação para tubos naso-traqueais ou sondas
nasogástricas.
a. Indicações genéricas:
- Sem reflexos laríngeos eficazes (GCS ≤ 8)
- Ventilação irregular ou taquipneia > 30
ciclos/min
- Sinais de HIC ou focais
b. Etomidato 0,3 mg/kg EV a administrar durante 30 a
60 seg.
c. Considerar succinilcolina 1,5 mg/kg EV e lidocaína
1 mg/kg EV (a lidocaína atenua a resposta
hemodinâmica, ↑ TA e da FC, à entubação
endotraqueal)
d. Ventilação: 10 ml/kg volume corrente, FR 12
ciclos/min e FiO2 > ou = 50 %
4. Acesso venoso: 2 catéteres G14, sempre que possível.
5. Evitar a hipotensão arterial e a hipoventilação.
Perante TCE com hipotensão arterial, esperar outra
causa e procurar trauma associado.
Não utilizar soros glicosados e privilegiar colóides na
relação de 1:1 (perfusão:perdas).
Controlar hemorragia (comprimir com cuidado evitando
pressão sobre fracturas com afundamento).
6. Não tratar HTA com vasodilatadores (ex. Nifedipina).
Tolerar HTA como mecanismo que garante a pressão de
perfusão cerebral em caso de aumento da pressão
intracraniana.
7. Convulsões: diazepam 0,1 mg/kg EV.
8. Perante sinais de HIC: alterações do estado da
consciência, cefaleia, náusea, vómito, ventilação
irregular, bradicardia e/ou hipertensão arterial):
tratar com hiperventilação e diuréticos: manitol a 20 %
0,5-1 g/kg EV (1 ml = 0,2 g), em 20 - 30 minutos.
Em caso de sinais focais, muito particularmente
anisocoria e assimetria da resposta motora, administrar
manitol a 20 %: 250 ml (= 50 g), em 15 - 20 min.
9. Assépsia das feridas abertas, não explorar feridas.
10. Documentar situação, medidas tomadas e resposta.
Situações específicas
Fractura com afundamento
- Risco de convulsões e infecção.
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3 - TRAUMATISMO VÉRTEBRO-MEDULAR
1 - GENERALIDADES
As lesões vértebro-medulares são situações graves que
influenciam dramaticamente a qualidade de vida de uma vítima,
podendo ser fatais nas lesões da coluna cervical, exigindo o
máximo de cuidado e perícia na sua manipulação.
A actuação nas lesões vértebro-medulares passa basicamente
pela prevenção do aparecimento ou agravamento das lesões
existentes.
O diagnóstico deste tipo de lesões é inicialmente um
diagnóstico de suspeita, que deve ser ponderado sempre que:
• Acidentes de viação (50 %)
• Acidentes de mergulho
• Quedas (20 %) ou saltos de altura
• Traumatismos acima das clavículas
• Lesões por soterramento
• Choques eléctricos
• Armas de fogo
• Politraumatizados
• Vítimas inconscientes após traumatismo craniano
• Traumatismos directos da coluna vertebral
É fundamental na observação de uma vítima com suspeita de
lesão vértebro-medular determinar se:
- a vítima foi mexida (por quem ?)
- a vítima se mexeu após o acidente (75 % dos doentes
dentro deste grupo recuperam a sua função normal)
- os sintomas se estão a alterar – progressão do quadro.
Nas lesões cervicais é importante ter conhecimento que
as lesões a nível de C5 conduzem à paralisia dos
músculos intercostais e a nível de C4, ou acima, à
paralisia diafragmática, com consequente paragem
ventilatória.
2 - SINAIS E SINTOMAS
• Dor local e/ou à palpação da coluna vertebral
• Parestesias
• Alterações da sensibilidade a nível dos membros
• Incontinência de esfíncteres
• Diminuição da força muscular a nível dos membros
• Paralisias
• Dificuldade ou paragem ventilatória
• Alteração dos parâmetros vitais (diminuição da PA por
bloqueio simpático) - Choque rosado. Não esquecer
hipótese de hemorragia por lesão associada.
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3 – ACTUAÇÂO
Avaliação primária
ABCDE descrito no protocolo do politraumatizado, tendo sempre
em mente a hipótese de trauma cervical e a necessidade
permanente de imobilização.
O tratamento inicial dos traumatismos vértebro-medulares passa
basicamente pela prevenção do agravamento das lesões sofridas.
É importante ter a noção de lesão secundária por hipóxia e
hipotensão ou mobilização intempestiva. O objectivo
fundamental é, pois, impedir que a vítima se mova, mantendo um
perfeito alinhamento da coluna vertebral (ponta do nariz,
umbigo e pés), que passa basicamente pelo cumprimento de
algumas regras fundamentais na abordagem destas vítimas:
Todas as vítimas de trauma inconscientes, deverão ser tratadas
como potenciais TVM.
Estas vítimas NUNCA devem ser mobilizadas desnecessáriamente.
• Utilizar sempre manobras de levantamento em bloco com
seis elementos (no mínimo, quatro), sempre após
colocação de colar cervical.
• Imobilizar a vítima em plano duro.
• Manter a vítima aquecida.
Na estabilização destes doentes devemos ainda ter em
especial atenção a sua incapacidade de vasoconstrição
(bloqueio simpático), que conduz a:
• Perdas calóricas elevadas com evolução fácil para a
hipotermia
• Hemorragias de difícil controlo
• Quando em choque os sinais habituais (palidez) não estão
presentes, podendo induzir erro na avaliação (em choque
e rosado)
Para além destas medidas de imobilização de uma vítima com
traumatismo vértebro-medular, é importante do ponto de vista
terapêutico diminuir o mais possível o metabolismo basal
destes doentes, pelo que poderão ter que ser sedados (cuidado
com os efeitos respiratórios e hemodinâmicos dos fármacos num
doente já instável). A ansiedade provocada por uma situação
deste tipo vai repercutir-se com aumento do referido
metabolismo e originar agitação indesejada.
Actuação
1. Administração de Oxigénio
2. Nas lesões medulares a nível cervical estar preparado
para eventual dificuldade ou paragem respiratória.
3. Imobilização da coluna vertebral: sempre com colar
cervical e plano duro.
4. Acessos venosos: 2 abocath G14, nunca inferior a G16.
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Registar
• Dor local e/ou à palpação
• Diminuição da força muscular
• Ausência de mobilidade
• Parestesias
• Diminuição ou ausência da sensibilidade (registar
dermátomo e traçar com uma caneta, o nível de
sensibilidade, que deve ser avaliado periodicamente e
novamente registado)
• Sinais de traumatismo directo da coluna vertebral
(equimoses, hematomas, feridas…)
• Incontinência de esfíncteres
Avaliação secundária
Avaliação global do indivíduo, com destaque especial para a
avaliação neurológica e músculo- esquelética.
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4 - TRAUMATISMO TORÁCICO
1 - GENERALIDADES
As lesões torácicas são directamente responsáveis por 25 % das
mortes devidas a traumatismo, geralmente por hipóxia e/ou
choque hipovolémico. São ainda factor contribuinte noutros 25
%.
Deve estar sempre presente a probabilidade (geralmente alta)
de coexistência de lesões associadas. Pelas implicações
evidentes em termos de cuidados com a manipulação do
traumatizado, merecem particular destaque os traumatismos
vértebro-medulares. Não esquecer também que os traumatismos
torácicos podem provocar lesões de órgãos intra-abdominais,
particularmente quando há fracturas das últimas costelas.
Os traumatismos torácicos podem ser divididos em traumatismos
abertos ou fechados; dessa divisão não devem ser extraídas
conclusões quanto à gravidade do traumatismo. No entanto essa
divisão permite salientar alguns aspectos:
• Os traumatismos abertos podem facilitar a avaliação das
lesões deles resultantes, na medida em que a localização
da ferida e o conhecimento das circunstâncias em que ela
foi produzida podem fazer suspeitar de determinado tipo
de lesões.
• Embora a presença de sinais (marcas, equimoses ou
abrasões) a nível da parede torácica possa sugerir
determinadas lesões no caso de um traumatismo fechado a
verdade é que, frequentemente, esses sinais são poucos
ou nenhuns.
• Um caso particular merece destaque: as feridas
provocadas por armas de fogo. Nunca esquecer que a um
orifício de entrada de um projéctil geralmente (mas nem
sempre) está associado um orifício de saída, quase
sempre maior. Nunca partir do princípio que um projéctil
segue sempre em linha recta e não se fragmenta. Para que
estas duas premissas deixem de se verificar basta que o
projéctil atinja uma estrutura óssea.
• Num traumatismo aberto com um objecto empalado nunca se
deve tentar a remoção do mesmo. Deve-se controlar a
hemorragia e estabilizar o objecto da melhor maneira. A
título de exemplo, uma faca ou punhal podem ser
estabilizados envolvendo-os com compressas e tapando
tudo com um copo de plástico invertido e devidamente
seguro.
As lesões resultantes de traumatismos torácicos podem ser de
vários tipos, mas existem seis situações que representam risco
de vida imediato e que exigem uma intervenção rápida, “life
saving”:
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3 - AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA
Nesta fase, devem ser pesquisadas outras lesões específicas,
de acordo com o tipo de traumatismo e as circunstâncias em que
ele ocorreu.
Lesões associadas: atenção a escoriações na base do hemitórax
e no flanco esquerdo (eventual lesão hepática e/ou esplénica).
Transferência: o traumatizado que permanece instável apesar da
infusão rápida de soros e após se ter excluído qualquer uma
das situações de risco de vida imediato ou de se ter efectuado
o seu tratamento, pode ter necessidade de cirurgia torácica
emergente. Nesta situação, pode ser indicado o seu transporte
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1 – GENERALIDADES
As lesões abdominais e pélvicas são responsáveis por 10 % das
mortes devidas a traumatismo, geralmente por choque
hipovolémico. Os traumatismos abdominais podem causar
hemorragias apenas controláveis com cirurgia emergente. Assim,
todo o traumatismo abdominal, aberto ou fechado, deve ser
rapidamente avaliado por um cirurgião.
O objectivo primordial da abordagem inicial não é o
estabelecimento de um diagnóstico específico mas tão somente a
manutenção dos parâmetros vitais e, neste caso, a determinação
de haver ou não uma lesão abdominal. O estabelecimento de um
diagnóstico preciso, não sendo impossível, consome tempo. Esse
tempo pode ser fundamental para o controlo de uma lesão intra-
abdominal e pode significar a diferença entre a sobrevivência
ou a morte do traumatizado.
Deve estar sempre presente a probabilidade (geralmente alta)
de coexistência de lesões associadas.
Ter sempre presente que os traumatismos torácicos,
particularmente os que causam fracturas das últimas costelas,
podem provocar lesões de órgãos intra-abdominais.
Os traumatismos abdominais podem ser divididos em traumatismos
abertos ou fechados; dessa divisão não devem ser extraídas
conclusões quanto à gravidade dos mesmos. Um traumatismo
abdominal fechado, sem qualquer sinal a nível da parede
abdominal pode causar uma hemorragia fulminante, ao passo que
uma ferida abdominal com saída de vísceras pode evoluir sem
complicações significativas. De qualquer forma importa reter
alguns pontos:
Nas feridas provocadas por armas de fogo, nunca esquecer que a
um orifício de entrada de um projéctil geralmente (mas nem
sempre) está associado um orifício de saída, quase sempre
maior. Pode não ser suficiente controlar a hemorragia de um
orifício, o doente atingido por arma de fogo deve ser sempre
examinado cuidadosamente. Nunca partir do princípio que um
projéctil segue sempre em linha recta e não se fragmenta. Para
que estas duas premissas deixem de se verificar basta que o
projéctil atinja uma estrutura óssea.
Num traumatismo aberto com um objecto empalado nunca se deve
tentar a remoção do mesmo. Deve-se controlar a hemorragia e
estabilizar o objecto da melhor maneira. A título de exemplo,
uma faca ou punhal podem ser estabilizados envolvendo-os com
compressas e tapando tudo com um copo de plástico invertido e
devidamente seguro.
2 - ACTUAÇÃO
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6 - FRACTURAS
1 - GENERALIDADES
As fracturas dos membros, geralmente, não colocam em perigo a
vida de uma vítima. No entanto, se tratadas incorrectamente,
podem condicionar tempos de internamento e morbilidade mais
elevados.
A abordagem das fracturas passa basicamente pela sua correcta
imobilização. Deve-se dar atenção à estimativa de perdas
sanguíneas, muito especialmente da bacia e fémur (> 1 litro).
2 - CLASSIFICAÇÃO
As fracturas classificam-se em:
• Expostas:
Grau I Ferida < 1 cm
Grau II Ferida > 1 cm e < 5 cm
Grau III Ferida > 5 cm
• Fechadas
3 - SINAIS E SINTOMAS
• Dor: diminui com a tracção e imobilização da fractura; é
o sintoma mais fiel.
• Impotência funcional: por vezes é possível a mobilização
do membro, mas sempre de uma forma dolorosa e limitada.
• Deformidade: resulta da angulação dos topos ósseos e
encurtamento do membro.
• Crepitação: sensação de mobilidade anormal que se pode
ouvir e sentir, não devendo no entanto ser pesquisada
dado ser muito dolorosa.
• Edema: quase sempre, já que representa uma reacção
normal do organismo à agressão traumática.
• Equimoses ou hematomas: mais frequentes nos traumatismos
directos. Se presentes na região perineal e escroto,
estão habitualmente associados a fracturas da bacia.
• Exposição dos topos ósseos: significa habitualmente
grande violência traumática.
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7. Fracturas do fémur
As lesões mais frequentes a este nível são as fracturas do
colo do fémur do idoso que cursam com rotação externa do pé e
encurtamento do membro. Lembrar que o doente ambulatório pode
ter fractura do colo de fémur alinhada; suspeitar e
imobilizar. A sequência de tracção, alinhamento e imobilização
é igualmente válida para este tipo de fracturas, devendo
existir o cuidado de imobilizar a bacia. Nunca tentar levantar
ou sentar o doente.
As fracturas diafisárias do fémur resultam habitualmente de
traumatismo muito violentos sendo portanto obrigatória a
pesquisa de outras lesões à distância. Imobilizam-se segundo
as regras básicas de imobilização de fracturas, utilizando
talas até à cintura.
8. Lesões a nível do joelho
As lesões a nível do joelho podem ser graves, já que não
raramente se associam a lesões vásculo-nervosas (nervo
ciático, pópliteu externo e artéria popliteia). Quando a lesão
resulta de um traumatismo directo, devemos estar atentos à
possibilidade de lesões associadas à distância (fracturas do
fémur e bacia). A imobilização segue os princípios já
descritos para o cotovelo ou seja, imobilizar com a máxima
extensão possível sem forçar e de preferência com a
colaboração activa do doente. Nos casos de fractura exposta
devemos ser ainda mais insistentes na sua lavagem e
desinfecção, já que nesta região anatómica, para além de
infectar facilmente, as infecções são de difícil resolução e
extraordinariamente incapacitantes.
9. Fracturas dos ossos da perna
Tal como a nível dos ossos do antebraço os sinais e sintomas
podem encontrar-se mascarados se só um dos ossos estiver
lesado. São as fracturas que mais frequentemente sofrem
exposição, dada a sua situação anatómica praticamente
subcutânea. As fracturas da extremidade mais proximal da
perna, quando cominutivas, desenvolvem com alguma frequência
síndromas de compartimento para os quais devemos estar
atentos: presença de palidez, parestesias, dor intensa para
além do normal, mesmo após a imobilização e ausência de pulso.
Considerar a necessidade de fasciotomia urgente.
10. Lesões a nível da articulação tíbio-társica e pé
O edema a este nível é de rápida instalação, pelo que o
calçado deve ser retirado tão precocemente quanto possível.
Nas lesões da tibio-társica associadas a luxação, em que
exista compromisso vascular do pé, deve-se tentar o
alinhamento do membro com gestos não bruscos e, se necessário
com sedação do doente (ex. morfina). Em caso de grande
resistência, imobilizar na posição encontrada. Nas fracturas a
nível do pé, consideram-se de particular importância as
fracturas do calcâneo, muitas vezes bilaterais e habitualmente
resultantes de quedas em pé. Apresentam como lesão associada
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7 – QUEIMADOS
1 - INTRODUÇÂO
As queimaduras são dos acidentes mais frequentes, ocorrendo em
variadíssimas circunstâncias e em todas as idades. A maioria
são lesões minor que decorrem sem grandes complicações.
Contudo, algumas podem ser fatais ou potencialmente fatais,
pelo que o seu tratamento deve ser correcto e o mais precoce
possível, pois dele depende não só o resultado funcional e
estético como a sobrevivência imediata.
A actuação inicial consiste resumidamente em "arrefecer" a
queimadura, administrar oxigénio, infundir Lactato de Ringer
ou SF, cobrir com um lençol esterilizado, evitar a hipotermia
e controlar a dor.
2 - EPIDEMIOLOGIA
Um estudo de 1986 nos EUA revelou uma incidência de 4,7 %,
correspondendo a 2,4 % dos casos de trauma. A incidência no
sexo masculino é o dobro da do sexo feminino, maior nas
crianças com menos de 5 anos e nos adultos entre os 25 e os 34
anos. A maioria dos acidentes ocorre em casa ou no trabalho.
Dois terços são devidos a substâncias quentes ou corrosivas e
um quarto devido a fogo ou chamas.
Embora pouco frequentes, de todos os desastres em que há mais
de 20 mortos, 70 % são classificados como fogos ou explosões
devidas a colisões de comboio, acidentes aéreos e desastres
subterrâneos.
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5 - EXAME PRIMÁRIO
Como noutras situações de trauma, consiste em dirigir a
atenção para o ABCDE e para a necessidade de imobilizar a
coluna cervical.
A - Via Aérea
As vítimas com lesão inalatória ou com traumatismo da
face, pescoço, ou tórax devem ser identificadas
imediatamente e a necessidade de suporte ventilatório
equacionada logo desde o início e de forma continuada.
A inalação de vapor e gases quentes provoca edema da via
aérea superior, que pode evoluir rapidamente para
obstrução. Rouquidão progressiva é um sinal de obstrução
iminente, pelo que a entubação endotraqueal deve ser feita
antes que se torne impossível. A fixação do tubo pode ser
difícil no caso de queimadura da face, podendo ser
necessário utilizar fita de nastro.
Suspeitar de queimadura respiratória quando:
Existe história de:
Queimadura em espaço fechado
Inalação de vapores
Perda de conhecimento (por hipóxia?)
A observação revela:
Queimadura da face
Queimadura de cílios nasais
Queimadura da mucosa oral
Rouquidão ou tosse
Expectoração fuliginosa
Broncospasmo
Indicações para entubação traqueal:
• Vítima inconsciente, com suspeita de envolvimento da
via aérea
• Dificuldade respiratória aguda
• Quando se prevê instalação de dificuldade
respiratória
Nota: A decisão de intubar uma vítima suscita maiores
dúvidas quando esta se encontra consciente ou
com um grau superficial de coma e,
simultaneamente, com alguma dificuldade
respiratória. A experiência do médico é um
factor importante a ponderar. Intubar a via
aérea com uma mucosa edemaciada, friável e com
as referências anatómicas distorcidas é difícil
e a manipulação desta área pode agravar a
obstrução e ser fatal.
Perante dificuldade respiratória e risco de edema da
glote, com edema da orofaringe, rouquidão ou estridor,
proceder à entubação endotraqueal antes de falência
respiratória:
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Imobilização cervical
Deve ser colocado colar cervical em todos os queimados
envolvidos em explosões ou acidentes com desaceleração.
Medida a ter em conta no controlo da via aérea e
ventilação.
B - Ventilação
A principal causa de morte num incêndio é a inalação de
gases nocivos e não a lesão térmica em si.
Apesar de assegurada a permeabilidade da via aérea, a
ventilação pode não ser eficaz devido à inalação de fumo.
O monóxido de carbono e o cianeto de hidrogénio (libertado
na combustão de polímeros sintéticos - por ex:
revestimentos de cozinha, interiores de automóvel) são os
principais produtos tóxicos implicados. Mesmo na ausência
de lesão inalatória, o aumento de permeabilidade da
microcirculação pode contribuir para o aparecimento de
edema pulmonar.
Os sinais de intoxicação por monóxido de carbono são:
0 - 15 % CO - nenhum sintoma
15 - 20 % CO- cefaleia e confusão
20 - 40 % CO- desorientação, fadiga, perturbações
visuais
40 - 60 % CO- alucinações , coma
60 % CO - morte
Nota: Não se observa cianose nem descida da saturação de
O2.
A administração de oxigénio a 100 % reduz a semi-vida da
carboxihemoglobina de 4 para 1 hora.
A intoxicação por cianetos também reduz a disponibilidade
de O2 e constitui outra indicação para oxigenoterapia.
Oxigénio em alta concentração, de preferência
humidificado, deve ser administrado a todas as vítimas
mesmo sem sinais óbvios de dificuldade respiratória.
Doentes queimados com entubação endotraqueal devem ser
ventilados com 100 % de oxigénio.
Na presença de broncospasmo está indicada a administração
de um broncodilatador (salbutamol ou aminofilina – ver
protocolo específico).
As queimaduras circunferenciais do tórax podem, em casos
extremos, formar uma couraça e causar uma síndrome de
dificuldade respiratória. A escarotomia de emergência só
deve ser realizada se absolutamente imprescindível. A
técnica inclui duas incisões em linhas cefalocaudais,
paralelas, laterais aos mamilos, unidas por uma incisão
perpendicular na região abdominal alta. Esta deve ser
realizada "a minima" e deve interessar apenas a escara
para que não se torne sangrativa.
C - Circulação
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6 - EXAME SECUNDÁRIO
Para determinar a existência de outros problemas para além das
queimaduras óbvias, torna-se necessário reobservar as
características do acidente, identificar os mecanismos de
lesão, proceder a um interrogatório e exame objectivo.
Retiram-se todas as roupas que ainda possam estar a arder e os
adereços (anéis, pulseiras). Se a roupa estiver aderente à
pele, deve ser recortada e os fragmentos aderentes embebidos
em soro.
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7 - ÁREA DA QUEIMADURA
É importante o cálculo da área de pele queimada e a avaliação
da profundidade das lesões (1º, 2º e 3º graus). Disso pode
depender a decisão de iniciar fluidoterapia ou de evacuar
directamente para um hospital com unidade de queimados. Em
situações de catástrofe permite fazer uma triagem dos
indivíduos que não necessitam de evacuação prioritária e dos
que têm pouca probalidade de sobreviver, mesmo que assistidos
numa unidade de queimados:
• Lesões minor: locais não críticos - penso
• Lesões minor: locais críticos (mãos, pés, face e
períneo) - internar
• Lesão minor e associadas ex. vias aéreas - tratar de
imediato e internar
• Área 20 - 60 % - internar em unidade de queimados
• 60 % - mortalidade elevada
8 - QUEIMADURAS QUÍMICAS
Na avaliação das queimaduras químicas, para além do
cálculo da extensão da queimadura é necessário identificar uma
eventual lesão inalatória e suspeitar de toxicidade sistémica.
É exemplo disso a queimadura por ácido fluorídrico (comum na
indústria vidreira e presente nos “limpa ferrugem”), que
apresenta risco de morte por hipocalcémia e hipomagnesiémia.
As manifestações incluem hipotensão, prolongamento do
intervalo QT, arritmias ventriculares e paragem cardíaca.
A morte nestas circunstâncias é muito pouco frequente no
pré-hospitalar.
9 - QUEIMADURAS ELÉCTRICAS
Deve-se caracterizar se a queimadura ocorreu com alta (> 1000
V) ou baixa tensão, se com corrente alterna ou contínua.
Podem produzir lesões internas gravíssimas e exteriormente
serem pouco evidentes. É importante observar as portas de
entrada e de saída. Estas nem sempre são aparentes no exame
físico à chegada ao hospital. A observação da vítima no local,
orientada pelas características do acidente é muitas vezes a
melhor maneira de identificar as queimaduras.
A electrocussão é frequentemente causa de morte por paragem
respiratória ou cardíaca. A reanimação cárdio-respiratória
nestas vítimas é relativamente bem sucedida mas pode tornar-se
prolongada.
10 - LESÕES ASSOCIADAS
Dependendo das características do acidente, deve-se pesquisar
a existência de outros tipos de lesões:
• Critérios de suspeição de queimadura respiratória já
referidos.
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11 - TERAPÊUTICA
Genericamente:
Permeabilidade das vias aéreas
Fluidoterapia
Lavagem
Analgesia
O início da fluidoterapia é mandatório em todas as queimaduras
major e nas queimaduras eléctricas (excepto nas mais pequenas
e com baixa tensão). Contudo, a obtenção de linha endovenosa,
duas G14 ou 16, não deve atrasar o transporte ao hospital,
especialmente se:
• O acesso venoso é difícil, o transporte se prevê
inferior a 1 hora e é possível continuar os esforços
durante o mesmo. Não hesitar em utilizar a via intra-
óssea no adulto.
• Em crianças com menos de 5 anos de idade utilizar a via
intra-óssea.
Devem preferencialmente ser cateterizadas duas veias em membro
superior numa área de pele sã. Contudo, em caso de necessidade
é correcto puncionar uma veia do membro inferior ou através de
pele queimada.
Uma fluidoterapia insuficiente pode ser causa de insuficiência
renal irreversível ou insuficiência hepática.
O cálculo das necessidades em soros é orientado por algumas
fórmulas, entre as quais a de Parkland, é das mais usadas.
A queimadura inalatória implica uma área de queimadura não
visível. Lesões traumáticas associadas podem também aumentar
as necessidades hídricas.
O soro mais frequentemente recomendado é o Lactato de Ringer.
Não utilizar soro glicosado para repor volume. A utilização de
colóides nas primeiras horas, embora preconizada por alguns
autores é desaconselhada em muitos centros, por se considerar
pouco eficaz e poder interferir com o tratamento da
queimadura.
Em caso de electrocussão, queimadura grave extensa ou
esmagamento, administrar manitol 100 a 200 ml/70 kg EV a fim
de promover a diurese e evitar a insuficiência renal.
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13 - ANALGESIA
A cobertura das queimaduras é o primeiro passo para diminuir a
dor.
Morfina 0,1 mg/Kg EV, é o analgésico recomendado. Na prática
pode ser administrado em incrementos faseados de 2 a 4 mg. Em
princípio, a via intramuscular e subcutânea não devem ser
utilizadas, porque a absorção dos fármacos se vai tornar
demasiado imprevisível. Se não existirem acessos EV, a
Ketamina (se disponível) é uma alternativa, na dose de 3 a 7
mg/kg IM.
14 - OUTROS CUIDADOS
Os grandes queimados arrefecem com facilidade por perda de
termorregulação. A hipotermia pode ser prevenida evitando
pensos molhados em evaporação livre e usando cobertas
isotérmicas.
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8 - TRAUMA NA GRÁVIDA
Sistema respiratório
• Edema dos tecidos moles, dificultando o manuseamento da
via aérea.
• Aumento do volume corrente em 20 %, sem alteração da
frequência respiratória.
• Hipocapnia, resultante da hiperventilação.
• Diminuição do volume residual e, consequentemente, da
capacidade de reserva de O2.
Sistema cardiovascular
• Aumento do volume sanguíneo até 40 - 50 %, pela 34ª
semana de gravidez. Diminuição do hematócrito, dado o
aumento do volume plasmático ser maior do que o dos
glóbulos vermelhos: anemia fisiológica.
• Aumento da frequência cardíaca em cerca de 20 por
minuto.
• Diminuição da PA em cerca de 10 mmHg durante o 2º
trimestre. Risco de HTA na pré-eclâmpsia ou eclâmpsia.
• Aumento do débito cardíaco até 20 - 30 % no final do 1º
trimestre.
• ECG: desvio esquerdo do eixo e ondas T achatadas ou
invertidas em D III, aVF ou nas derivações pré-cordiais.
• Compressão aorto-cava pelo útero na posição de decúbito
dorsal (fim da gravidez), podendo originar diminuição do
retorno venoso e do débito cardíaco até 40 %.
Aparelho digestivo
• Esvaziamento gástrico atrasado e incompetência do
esfíncter esofágico inferior: risco de regurgitação e
aspiração.
Sistema urinário
• Aumento do débito urinário e glicosúria, com diminuição
da ureia e creatinina.
Útero e placenta
• Útero protegido pela sínfise púbica até a 12ª semana.
Nível da cicatriz umbilical pela 20ª semana. Altura
máxima na 36ª semana.
• Parede uterina mais fina com a evolução da gravidez e
daí menos protectora.
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2 - MECANISMOS DE LESÃO
Lesão penetrante
• Maior o Aumento do volume uterino, maior a probabilidade
de lesão.
• Camada muscular absorve muita energia das lesões
penetrantes.
• Relativa protecção das vísceras abdominais.
• A pequena frequência de lesões viscerais confere relativo
bom prognóstico à mãe.
Lesão fechada
• Líquido amniótico actua como tampão de lesões fetais.
• Lesão fetal indirecta por contacto violento contra
superfície ou mecanismo aceleração/desaceleração.
• Cinto de segurança protege mãe mas aumenta a incidência
de lesão fetal.
• Cinto de segurança pode provocar rotura uterina.
• Cintos verticais com protecção de ombros melhoram o
prognóstico do feto em caso de acidente (a força de
desaceleração é mais distribuída).
4 - PRIMEIRA OBSERVAÇÃO
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5 - ACTUAÇÃO
Via aérea
Nunca esquecer que a grávida é um estômago cheio.
Se necessário entubação endotraqueal, deve-se utilizar
uma técnica sequencial rápida, isto é:
• Pré-oxigenar com O2 a 100 %.
• Etomidato 0,3 - 0,5 mg/kg EV, se hemodinâmicamente
instável, administrado em bólus rápido, seguido de
succinilcolina 1 - 1,5 mg/kg EV.
• Compressão da cartilagem cricóide, após inconsciência
(manobra de Sellick).
Nota: não ventilar com máscara e entubar 1 min após a
administração da succinilcolina ou após surgirem as
fasciculações.
Posicionamento da doente grávida
1. Se for possível excluir suspeita de traumatismo
vértebro-medular.
• Colocar a doente em semi decúbito dorsal esquerdo
para ser observada e transportada. Pode ser
factor importante para evitar diminuição da
perfusão placentária e hipotensão da grávida
provocada pela compressão da aorta e da veia cava
inferior pelo útero.
2. Se existe suspeita de traumatismo vértebro-medular
(até prova em contrário existe sempre).
• Está indicado o uso de colar cervical.
• Se tivermos que manter a doente em decúbito
dorsal, elevar a anca direita e deslocar
manualmente o útero para a esquerda.
Acessos venosos
Dois acessos G 14 ou G 16 (mínimo).
Fluidoterapia
Cristalóides: apenas utilizar Lactato de Ringer. O Soro
Fisiológico consome tampões e agrava a acidose fetal).
Considerar colóides (500 ml de Haemacel equivalem, na
capacidade de preenchimento vascular, a 1500 ml de Lactato
de Ringer).
6 - OBSERVAÇÃO SECUNDÁRIA
• Observação por segmentos anatómicos e aparelhos e
sistemas.
• Proceder conforme indicado para os vários segmentos
anatómicos.
7 - MONITORIZAÇÃO DA GRÁVIDA
Monitorização standard: pressão arterial,
electrocardiograma, oximetria de pulso.
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9 - TRAUMA PEDIÁTRICO
1 - PARTICULARIDADES ANATÓMICAS
• Tamanho absoluto Peso, estatura, superfície corporal:
usar material e doses adequadas
2 - PARTICULARIDADES FISIOLÓGICAS
• Respiração:
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• Circulação:
No lactente o débito cardíaco é mantido, sobretudo, à
custa da frequência cardíaca, pela existência de um
volume de ejecção relativamente menor e fixo. Suporta
por períodos prolongados frequências até 200/min sem
insuficiência cardíaca. Pela idade dos 2 anos a função
miocárdica e a resposta aos fluidos é semelhante à do
adulto.
Frequência cardíaca (em repouso) / Idade
Idade FC / min
< 1 ano 110 - 160
2-5 anos 95 - 140
5 a 12 80 - 120
anos
> 12 anos 60 - 100
3 - PARTICULARIDADES PSICOLÓGICAS
Na idade pediátrica o suporte emocional é fundamental. O
acompanhamento da criança por uma “pessoa conhecida” é
mandatório e contribui para:
• uma melhor avaliação do estado da consciência e da
gravidade da situação, facilitada por quem conhece o
estado habitual da criança.
• auxiliar a comunicação, diminuindo o medo e melhorando a
colaboração, evitando o agravamento da situação de base
(ex. obstrução respiratória alta ).
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C - CIRCULAÇÃO
CHOQUE
As crianças possuem uma grande reserva fisiológica. Os
sinais de choque são tardios e surgem só após grandes
perdas sanguíneas (> 25 %). Até uma queda de 15-20 % da
volémia, os únicos sinais verificados precocemente são a
tumefacção local (eventualmente) e taquicardia
desproporcional.
PELE
Pele fria e Cianose mais ↓ preenchimento
pálida, cianose intensa capilar
↓ débito ↓↓↓↓ débito sem débito
RIM urinário
urinário urinário
urina concentrada
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6 - TRAUMATISMO CRÂNEO-ENCEFÁLICO
A sobrevida das crianças com TCE relaciona-se mais com os
factores de co-morbilidade (hipotensão, hipóxia, hipovolémia,
convulsões) do que propriamente com o traumatismo cranio-
encefálico.
Manter sempre a actuação ABCDE
Avaliação
• Pode existir hipotensão por sangramento de estruturas
cranianas
• Crianças com TCE, sem suturas encerradas toleram melhor
lesões expansivas
• Coma na criança pequena (< 3 anos) é normalmente muito
grave
• Vómitos não implicam hipertensão intracraniana (HIC)
• Edema cerebral como causa de HIC é frequente
• Escala de coma de Glasgow deve ser adaptada para
utilização na criança (< 4 anos)
• Adaptação da Escala de Coma de Glasgow para a criança -
resposta verbal
1 nenhuma resposta
2 agitado, inquieto
3 persistentemente irritável
4 chora mas consolável
5 palavras apropriadas, sorriso social, fixa e segue
com olhar
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7 - TRAUMATISMO VÉRTEBRO-MEDULAR
Diferenças anatómicas
• Maior flexibilidade das estruturas ligamentares e
capsulares
• Corpos vertebrais deslocados para a frente e tendem a
aumentar esta posição em caso de extensão (atenção à
posição da cabeça e pescoço durante a entubação
traqueal)
ACTUAÇÃO:
• Usar colar cervical e estabilizadores de cabeça e velcro
frontal
• Na impossibilidade de usar o colete de extracção (só
existe para adultos), utilizar um plano duro para
estabilizar a coluna vertebral para o acto de
desencarceramento
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9 - ANALGESIA
Serão de lembrar 3 pontos importantes:
• a dor é causa de agitação (possível interferência com
avaliação neurológica)
• a dor é “consumidora” de reserva fisiológica, tão
necessária na altura de um traumatismo grave
• não é humanamente admissível deixar de analgesiar uma
criança vítima de um ou vários traumatismos
Recomendações gerais:
• Usar morfina: administrar 0,05 mg/kg EV.
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10 - CHOQUE
1 - INTRODUÇÃO
O choque é uma entidade clínica bem definida, que constitui
uma emergência médica. Ao avaliarmos um doente com uma
hemorragia, que se encontra pálido, suado, frio, hipotenso e
taquicárdico, tradução clínica de uma situação em que o aporte
sanguíneo e de oxigénio não é suficiente face às necessidades,
não hesitamos em dizer que ele está em CHOQUE.
71
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3 - QUADRO CLÍNICO
A observação de um doente em CHOQUE revela-nos, normalmente,
um indivíduo hipotenso, taquicárdico, com pulsos periféricos
finos, com as extremidades frias, suadas, mal perfundidas,
taquipneico, em oligúria ou anúria e com estado da consciência
alterado, podendo estar apenas ansioso, agitado ou, mais
frequentemente, prostrado e comatoso.
A hipotensão é normalmente definida como uma PA média < 60
mmHg
PA sist + 2 ( PA
PA média = diast )
3
74
CHOQUE HIPOVOLÉMICO
Como o próprio nome indica, é devido à diminuição do volume
intra-vascular. Pode ser devido a perdas hemáticas
(hemorragias externas ou internas), ou a perda de outros
fluidos, como acontece nos queimados ou nos gravemente
desidratados.
CHOQUE CARDIOGÉNICO
Traduz as situações em que, havendo uma volémia normal, o
coração não consegue manter um débito adequado, por patologia
intra-cardíaca. Pode ser devido à insuficiência da sua função
como bomba, nomeadamente por arritmia, ou por alterações
mecânicas, devidas a enfarte ou valvulopatia.
CHOQUE OBSTRUTIVO EXTRA-CARDÍACO
Neste caso, não há qualquer problema intra-cardíaco. O
reduzido débito cardíaco deve-se ao obstáculo ao enchimento
ventricular, por patologia extra-cardíaca. O exemplo de
eleição é o tamponamento cardíaco que, funcionando como uma
carapaça pouco distensível, impede o enchimento ventricular
diastólico. Outra situação frequente é o trombo-embolismo
pulmonar maciço, condicionando hipertensão pulmonar súbita,
com a consequente dificuldade de ejecção do ventrículo
direito.
Os três exemplos anteriores resultam em hipoperfusão por
redução do débito cardíaco.
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CHOQUE DISTRIBUTIVO
O choque distributivo é o resultado da falha no outro
componente regulador da perfusão tecidular, as resistências
vasculares periféricas.
A abertura de comunicações arterio-venosas anómalas (shunts) e
a desregulação da permeabilidade vascular resulta na
diminuição das resistências vasculares, com a perda do tónus
dos vasos e a consequente hipotensão.
O choque séptico é o exemplo mais frequente desta situação. O
choque verificado nas reacções anafiláticas e nos traumatismos
vértebro-medulares também é explicado pelo mesmo mecanismo.
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6 - ABORDAGEM ESPECÍFICA
6.1 CHOQUE HIPOVOLÉMICO
A abordagem desta situação deve permitir a rápida reposição da
volémia. Além das medidas gerais preconizadas, a prioridade é
infundir rapidamente fluídos EV. Os colóides serão os mais
indicados.
6.2CHOQUE CARDIOGÉNICO
Deve ser suspeitado sempre que houver queixas cardíacas
anteriores ao estabelecimento do choque.
A abordagem terapêutica vai depender do estado de repleção
vascular. A infusão de soros deve restringir-se aos
cristalóides e deve ser lenta. É importante lembrar que não há
significativa perda de volémia, mas sim a sua acumulação no
território venoso. Assim, a infusão de soros deve ser apenas a
suficiente para corrigir a hipoperfusão arterial e permitir a
infusão de drogas.
Normalmente é necessário o uso de aminas vasoactivas, cuja
escolha e dose varia consoante os casos. Será sensato iniciar
a terapêutica com dopamina numa dose intermédia para um
inotropismo correcto (melhoria da contractilidade).
A falência cardíaca pode acompanhar-se de outros eventos,
necessitando de terapêutica específica. É o caso das
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queixas
edema laríngeo cardíacas
broncoespasmo queimado alterações ECG
injecção politraumatizad jugulares
recente o distendidas
mordida hemorragia edema pulmonar infecção
⇓ ⇓ ⇓ ⇓
ANAFILÁTICO HIPOVOLÉMICO CARDIOGÉNICO SÉPTICO
⇓ ⇓ ⇓ ⇓
manter via colóides E.C.G. cristalóide ou
aérea cristalóide, colóide
adrenalina lento aminas
cristalóides aminas
corticóides
anti-
histamínicos
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ANEXOS
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ANEXO A
LESÃO OCULTA
1. INTRODUÇÃO
Na área do trauma a abordagem do politraumatizado segue um
padrão de prioridades que é gerido pela resolução prioritária
dos problemas que mais depressa ameaçam a vida do
politraumatizado.
Esta metodologia é aliás seguida na abordagem dos doentes em
geral. A metodologia ABCDE (A: via aérea com controlo
cervical, B: ventilação, C: circulação com controlo de
hemorragias externas, D: disfunção neurológica e E: exposição
com controlo da temperatura), com respectiva resolução dos
problemas à medida que vão surgindo, é claramente benéfica.
No contexto do trauma, não só mas fundamentalmente neste, há
uma grande preocupação com as lesões que não são visíveis;
nessa medida há frequentemente a actuação do "trata-se da
lesão X até prova em contrário". A confirmação de determinada
lesão é, frequentemente, feita em hospitais devidamente
equipados e com os recursos humanos necessários para a
resolução definitiva dos problemas relacionados com o trauma.
Assim, cabe aos técnicos de saúde que abordam pela primeira
vez este tipo de doentes, lidar sistemática e frequentemente
com a chamada lesão oculta.
No caso particular dos acidentes de viação, os primeiros dados
a considerar são, evidentemente, os que se prendem com os
mecanismos de lesão. Sabendo em que circunstâncias se deu o
acidente é, muitas vezes, possível suspeitar de determinada
lesão oculta.
MECANISMOS DE
PADRÕES DE LESÃO
LESÃO
Lesão Cervical
Vollet Costal
Contusão Miocárdica
Pneumotórax
IMPACTO FRONTAL Rotura Aorta
Fractura Baço e/ou Fígado
Fractura/Luxação da ANCA
e/ou Joelho
Lesão Pescoço contra–
lateral
Lesão Cervical
Vollet Costal
Pneumotórax
IMPACTO LATERAL Rotura Aorta
Rotura Diafragma
Fractura do Baço, Fígado ou
Rim
Fractura Bacia e/ou
Acetábulo
IMPACTO TRASEIRO Lesão Cervical
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2. CABEÇA
Neste segmento anatómico existe a possibilidade de existirem
lesões ocultas que poderão ser potencialmente ameaçadoras da
vida num tempo diferido em relação ao momento em que estamos a
observar o doente.
O traumatismo craniano (TCE) pode ser classificado de diversas
formas: tipo de traumatismo, gravidade, mecanismo de lesão.
A gravidade do TCE pode ser aferida pela pontuação da Escala
de Coma de Glasgow (GCS) e ser classificado como:
LIGEIRO GCS 14-15 MODERADO GCS 9-13 SEVERO
GCS 3-8
O mecanismo de lesão pode diferenciar os TCE fechados e
penetrantes.
O tipo de traumatismo pode ser dividido em fracturas de crânio
(da calote ou da base) e lesões intracranianas (focais -
extradurais, subdurais e intracerebrais; difusas - concussão
leve, concussão clássica e lesão axonal difusa).
Apesar desta classificação há sinais de suspeição e de perigo
que devem alertar quem lida com estes doentes. A existência de
perda de consciência num doente que recuperou pode ter vários
significados; pode corresponder a um TCE moderado com
prognóstico benigno ou pode corresponder à fase inicial de um
hematoma extradural. A amnésia para o acidente pode ser uma
manifestação de um TCE ligeiro ou pode também corresponder a
um TCE de maior gravidade.
Será de lembrar que cerca de 3 % dos doentes com TCE ligeiro e
10-20 % com TCE moderado deterioram abruptamente entrando em
coma (GCS ≤ 8).
Qualquer doente com história de TCE terá também até prova em
contrário, uma fractura da lâmina cribiforme do etmóide; este
facto deverá lembrar que a colocação de sonda nasogástrica
está totalmente contra-indicada; deverá optar-se por sonda
orogástrica.
Não deve ser assumida a pouca gravidade de um TCE pela
suspeita de intoxicação alcoólica ou por outros depressores do
sistema nervoso central (SNC) concomitante a uma situação de
trauma.
3. PESCOÇO
Esta estrutura anatómica pode ser definida como aquela que se
situa entre o tórax e a cabeça. O pescoço contém estruturas
vitais. Por questões de organização e sistematização poderá
ser útil pensar em: estruturas da via aérea e ventilação,
vasculares, nervosas, osteo-ligamentares e de partes moles.
A lesão oculta da via aérea é a 1ª que poderá ameaçar a vida
do traumatizado, comprometendo de seguida a ventilação; a
presença de rouquidão, tosse com expectoração com sangue vivo
e a presença de aumento de volume do pescoço são muito
indicativas de fractura do eixo laringo-traqueal; estas
situações deverão ser abordadas prontamente, sob pena do
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86
4. COLUNA VERTEBRAL
Quando nos é possível observar equimoses ou escoriações em
regiões determinadas, palpar regiões dolorosas, nomeadamente
sobre o trajecto da coluna vertebral ou observar défices
neurológicos temos pistas muito concretas sobre a
possibilidade de existir uma lesão óssea, ligamentar e/ou
neurológica. O grande desafio é suspeitar sobre essa
possibilidade nas situações em que não existe qualquer tipo de
clínica indicadora. Neste âmbito, a história do acidente e o
mecanismo de lesão são fundamentais para elevar o nosso grau
de suspeição e obrigar a que sejam tomadas medidas de acordo
com tal suspeita.
A coluna vertebral, nos seus 4 segmentos (cervical, torácico,
lombar e sacro-coccígeo), tem estruturas de suporte que
resistem a um grande número de traumatismos. Com o evoluir dos
tempos evoluíram também as múltiplas possibilidades de
traumatismo, assim como a sua gravidade. Os mecanismos de
lesão são variados (carga axial, flexão, extensão, rotação,
lateralização, torção, etc.) e deles resultam uma série de
lesões neurológicas, que podem ou não ser clinicamente
aparentes.
A pesquisa da força muscular deverá ser constante (Grau 0 a 5
- 0 paralisia, 1 contracção visível ou palpável, 2
movimentação sem superar a força da gravidade, 3 movimentação
superando apenas a força da gravidade, 4 movimentação com
força menor que o normal e 5 força normal). Da mesma forma, o
nível de sensibilidade e motricidade devem ser pesquisados
sistematicamente devendo o nível de sensibilidade ser assumido
como o mais caudal com sensibilidade normal bilateral e o
motor de igual modo com uma força mínima de grau 3/5. A lesão
neurológica pode ser total ou parcial.
Se a ausência de défices não exclui lesão neurológica, a sua
presença pode significar uma lesão incompleta com grande
potencial de recuperação.
As zonas mais instáveis são a cervical (C1a C7 e T1), a
transição T11-T12-L1 e a região Lombar.
Devem ser tomadas sempre medidas de protecção com os
dispositivos de imobilização adequados, devendo ser sempre
mantida a imobilização, ainda que seja necessário efectuar
algum procedimento.
5. TÓRAX
O tórax é um segmento anatómico especialmente vulnerável à
ocorrência de lesões, quer visíveis quer, ocultas. A dimensão
e localização do tórax, bem como os mecanismos de lesão
habitualmente presentes nos acidentes de viação, quedas ou
outros traumatismos (lesões penetrantes), concorrem para uma
tão elevada frequência de lesões.
A presença de equimoses, escoriações, crepitação à palpação ou
enfisema subcutâneo devem fazer suspeitar de impactos de
grande intensidade evidenciando a possibilidade de lesões
87
6. ABDÓMEN / BACIA
O abdómen é um segmento anatómico com órgãos sólidos, ocos,
fixos e móveis. Um órgão móvel está mais sujeito a lesões por
desaceleração, um órgão fixo poderá sofrer bastante nos casos
de lesões por compressão ou esmagamento. Os órgãos sólidos
estão especialmente vulneráveis a lesões provocadas por
fragmentos de costelas fracturadas.
No âmbito do doente politraumatizado, a presença de
escoriações ou equimoses são sinais de alerta para regiões
subjacentes (flanco e hipocôndrio esquerdo - baço e rim
esquerdo; flanco e hipocôndrio direito - fígado e rim
direito).
Ao mencionar este tipo de lesões, importa referenciar as
fracturas da bacia. Este tipo de fractura pode ser responsável
por grande fonte de sangramento, com hipovolémia importante. A
procura de deformidades, encurtamento de um membro, equimose
perineal ou sangue no meato urinário, são sinais que poderão
fazer suspeitar fortemente de fractura da bacia. Esta pode
cursar com lesões de qualquer órgão pélvico ou abdominal
inferior.
88
7. EXTREMIDADES
O traumatismo das extremidades ocorre em 85 % dos doentes
traumatizados. A presença de sinais externos de trauma, como
escoriações, equimoses, leva a suspeitar de lesão interna; se
também existir edema e limitação funcional por dor,
acompanhados por sensação de crepitação o diagnóstico de
fractura é muito provável.
Nas situações de traumatismos das extremidades, além de haver
a possibilidade de ocorrência de lesão vascular e/ou nervosa,
há locais especialmente propensos à ocorrência de síndromes de
compartimento (antebraço e perna, sem esquecer da
possibilidade de qualquer outro segmento).
A presença de pulsos periféricos apenas nos diz que há
continuidade de aporte de sangue arterial ao local onde
estamos a palpar; com efeito, na fase inicial da síndrome de
compartimento (SC) os pulsos arteriais distais estão
presentes, deixam de estar quando a pressão dos tecidos sob
tensão ultrapassam a pressão arterial sistólica; nesta fase a
viabilidade do membro está enormemente comprometida. Na fase
inicial do SC há dor (maior do que esperado para o tipo de
lesão subjacente), parestesias, diminuição funcional dos
nervos que atravessam o território e edema sob tensão. O
preenchimento capilar não dá informações válidas neste
contexto. Este SC deve ser uma preocupação nas situações de
Desencarceramento prolongado já que é uma lesão dependente do
tempo. Está indicada fluidoterapia generosa pelo risco de
insuficiência renal por precipitação de mioglobina nos túbulos
renais.
A imobilização das fracturas dos ossos longos é importante
porque diminui o sangramento, a dor, podendo diminuir a
possibilidade de embolia gorda.
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ANEXO B
ACIDENTES DE SUBMERSÃO
AFOGAMENTO
Morte devido a acidente de submersão (e habitualmente
asfixia), em água ou outro fluido, nas 24 horas seguintes ao
acidente.
PRÉ-AFOGAMENTO
Acidente de submersão do qual a vítima sobrevive, pelo menos
temporariamente (mais de 24 horas).
SÍNDROME DE IMERSÃO
O
Paragem cardíaca após exposição repentina a água fria (< 20
C), desencadeada por reflexo vagal («reflexo do mergulho»).
«AFOGAMENTO SECO»
Acidente de submersão em que não existe aspiração de líquido,
devido a laringospasmo (ocorre em aproximadamente 10 % dos
casos).
Notas:
• O principal acontecimento fisiopatológico após a imersão
(seja em água doce ou salgada) é a hipoxémia arterial;
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ANEXO C
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Reservados todos os direitos. Esta publicação não pode ser reproduzida nem
transmitida, no todo ou em parte, por qualquer processo electrónico,
mecânico, fotocópia, gravação ou outros, sem prévia autorização escrita da
Direcção dos Serviços Médicos do Instituto Nacional de Emergência Médica.
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