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BREVE HISTÓRIA DA OR DEM DO TEMPLO

Continuação - 5/7

GUARDAS DAS SAGRADAS RELÍQUIAS

Além das propriedades, enormes reservas de dinheiro, os Templários eram


também ricos em relíquias.

As relíquias eram os restos das pessoas ou coisas que tinham sido


caracterizadas nas histórias do Novo Testamento. Uma relíquia popular era
naquele tempo um pedaço de madeira da cruz verdadeira — a cruz em que
Jesus foi crucificado. Outra era a cabeça de S. João Batista. Os povos na idade
média tinham uma adoração desesperada por relíquias, que veneravam com
admiração. Mas como seria de esperar, havia uma abundância de fraudes.
Diversas cabeças de João Batista estavam em circulação. E havia bastante
lascas da madeira da verdadeira cruz que davam para fazer uma enormidade
de crucifixos!

Os Templários tinha em sua posse a coroa dos espinhos, tirada da cabeça de


Cristo. Tiveram também o corpo da mártir Santa Eufémia de Chalcedon
(julgava-se ter poderes de cura divinos). Tiveram uma cruz feita de um banho
usado supostamente por Jesus, uma cruz de bronze feita da bacia que Jesus
usava para lavar os pés dos seus discípulos na última ceia, e uma coleção
apreciável de outras relíquias. O escritor popular Ian Wilson, no seu livro best-
seller The Turin Shroud, é levantada a questão que eles compraram também
o lençol em que Cristo foi envolvido no seu túmulo na Terra Santa.

Mas a relíquia mais estimada era o próprio Santo Graal — o cálice que Jesus
usou na última ceia. Era comentado que tinha sido descoberto enterrado no
velho templo de Salomão em Jerusalém. No princípio do século XIII o poeta
alemão Wolfram von Eschenbach visitou Outremer especialmente para
aprofundar o estudo da Ordem. É verdade, admitiu ele. "Os Templários
possuíam certamente o Santo Graal". Este foi mais tarde corroborado por
Trevrizent, que declarou: "é sabido que muitos formidáveis guerreiros
repousam em Munsalvaesche com o Santo Graal".

A verdade remanescerá provavelmente sempre em mistério uma vez que


todos os casos de Templários foram conduzidos em segredo. Todo o membro
da Ordem que revelasse os procedimentos das reuniões dos Templários era
punido com a expulsão. Eram proibidos de fazer cópias das estátuas dos
Templários e das regras da Ordem, para não caírem nas mãos erradas. Era
esta não mais do que uma aplicação do princípio de que nas épocas de guerra,
'Conversas descuidadas custam vidas?' Ou guardavam algum segredo mais
sinistro? Muitos de seus contemporâneos acreditaram no último.

O JULGAMENTO
E ra Sexta-feira, 13 de Outubro de 1307. Um dia fatal para os Templários, e
lembrado supersticiosamente ainda nos nossos dias como a azarenta ‘Sexta-
feira 13’. Ao fim da tarde, agentes do rei Filipe IV atacaram. Num assalto
fulminante, acusaram e prenderam Templários por toda a França. A data tinha
sido escolhida pela coincidência da visita à França de vários líderes
Templários, incluindo o próprio Grande Mestre Jacques de Molay. Mas quando
os agentes entraram no Templo em Paris, sede dos Templários, descobriram
que todos os documentos e, mais importante ainda para Filipe, o tesouro tinha
sido removido. Os agentes também tentaram capturar a frota Templária, a
maior da Europa, que estava atracada em La Rochelle. Mas uma vez mais se
frustrou a intenção — a frota já tinha partido. Até hoje a vasta riqueza dos
Templários nunca foi encontrada. Nem tão pouco foi descoberto para que porto
a frota seguiu — ou onde atracou. Mas os Templários não tentaram esconder-
se e na manhã seguinte, vários milhares tinham sido feitos prisioneiros.

Juridicamente falando, essas prisões eram ilegais. Os Templários respondiam


unicamente ao Papa. Mas o atual Papa, Clemente V, devolveu essa condição
para Filipe. O rei Francês que transferiu o assento papal de Roma para
Avignon em França, pediu essa cedência. Filipe esteve também por trás da
morte suspeita do precedente Papa, deixando assim o trono papal livre para
Clemente.

Inevitavelmente, o Papa toma o partido de Filipe. E com apoio papal, ataques


similares foram feitos aos Templários através da Europa. Iriam ser todos
levados a julgamento. Aqueles que acatavam as acusações levadas contra
eles eram abandonados com uma mísera pensão, deixados na miséria ou
ainda como pedintes. Qualquer um que recusasse era encarcerado para toda a
vida. Mais de 120 foram queimados na fogueira. Após as torturas, confissões e
execuções, Clemente V aboliu oficialmente a Ordem dos Cavaleiros Templários
a 22 de Março de 1312.

O Grande Mestre patriarca, Jacques de Molay, foi um dos que confessou. Mas
a 14 de Março de 1314, enquanto ele era exibido no exterior da catedral de
Notre Dame em Paris para ouvir a sua sentença de prisão perpétua, De Molay
discursou uma dramática declaração:

"Penso verdadeiramente" — proferiu ele, "Que neste solene momento


eu deva proferir toda a verdade. Ante o céu e a terra, e com todos vocês
aqui como minhas testemunhas, eu admito que sou culpado da mais
grotesca das iniquidade. Mas essa iniquidade foi eu ter mentido ao ter
admitido as grotescas acusações emitidas contra a Ordem. Declaro que a
Ordem está inocente. A sua pureza e santidade estão acima de qualquer
suspeita. Eu admiti de fato que a Ordem era culpada. Mas unicamente
assim agi para evitar contra mim as terríveis torturas — A vida foi-me
oferecida, mas pelo preço da infâmia. Por este preço, a vida não vale a
pena ser vivida."

Como publicamente retratou a sua confissão, Jacques de Molay, o último de 22


Grandes Mestres da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e Templo de
Salomão, foi queimado vivo em Paris. E enquanto expirava, amaldiçoou o rei
Francês e o Papa. Disse que no prazo de um ano seriam chamados a prestar
contas pela perseguição aos Templários. Apenas um mês depois, o Papa
Clemente V faleceu, aparentemente de causas naturais. A 29 de Novembro do
mesmo ano, Filipe IV morreu também num acidente a cavalo enquanto caçava.
Teriam assim os Templários poderes ocultos? Teria realmente efeito a praga
de Molay?

Mas porque terá tudo isso acontecido? Que fizeram os Templários? Nos
julgamentos, eles eram acusados de heresia — de participar em práticas
obscenas, cuspindo na imagem de Cristo e adorando ídolos (especialmente
uma cabeça chamada Baphomet). Eram acusados de bruxaria. Foram ainda
acusados de homossexualidade.

Para tentar compreender as razões pela qual os Templário caíram em


desgraça, precisamos de retroceder no tempo. Já mencionamos acusações de
arrogância e avareza espalhadas pela sua história. Foram fundados com uma
nobre causa — defender a Terra Santa. Mas a Terra Santa já tinha sido
tomada. Eles tinham falhado, para além de todas as despesas e percas de
vidas — e o povo ressentia isso mesmo. Argumentavam que os Templários se
encontravam demasiado ocupados tratando dos seus próprios negócios, ou
combatendo Ordens rivais, para que pudessem manter uma defesa segura na
Terra Santa. Talvez eles tenham até colaborado com o inimigo. Mas este
ressentimento era dirigido não só ao Templários, mas também aos
Hospitalários e aos Cavaleiros Teutônicos, os quais eram igualmente 'culpados'
pela perca de Outremer.

Então que haveria de tão terrível acerca dos Templário, para estimular as
hostilidades do rei Filipe IV? E isto para além do fato deste ter já fortes relações
com a Ordem. Jacques de Molay era padrinho do seu filho. E quando Filipe se
viu confrontado com uma sublevação popular em 1291 em Paris, o rei escolheu
o Templo como refúgio. Eram também os banqueiros reais.

Em primeiro lugar, havia a resistência própria a mudanças. Através da sua


história houve chamadas para a unificação com os Hospitaleiros. Os
Templários objetaram sempre. Mas recentemente o influente escritor Ramon
LHull renovou a chamada para a unificação. Este tinha em mente um rei
guerreiro cavalgando à frente das ordens unificadas expulsando os
Muçulmanos para fora de Espanha e da Terra Santa. Isto era música para os
ouvidos do Rei. Via-se a si próprio tal qual esse rei guerreiro. Sugeriu mesmo
ao Papa que os reis Franceses deveriam ser os Mestres desta Ordem
unificada, com acesso livre aos ganhos extras de todas as Ordens! Portanto
não restam dúvidas pela constante resistência dos Templários à unificação.

Em 1305 Filipe candidatou-se inclusive, a juntar-se à Ordem. Mas os


Templários breve se aperceberam que um homem com a sua enorme ambição
nunca estaria satisfeito enquanto não tivesse disposto de tudo. Rejeitaram a
sua candidatura, sem qualquer explicação.

Eles tinham recusado o rei! Como governante de um maior e mais poderoso


reino que os seus predecessores, Filipe considerava-se a si próprio quase
divino. Como se atreviam eles a recusá-lo!

Para uma satisfatória explicação contudo, deveremos ter em conta uma razão
muito simples: ganância. Filipe encontrava-se quase falido. tinha herdado
dívidas enormes do seu pai e das guerras contra a Inglaterra e Flandres. Um
dos conselheiros mais próximos do rei, William de Nogaret, sugeriu a que a
solução mais simples para solucionar a crise financeira de Filipe era confiscar o
máximo que pudesse da fortuna dos Templários. O desonesto William já tinha
sido excomungado em 1304 por ter feito parte na tentativa de rapto do Papa
Bonifácio VIII. Nessa altura, estava meramente cumprindo ordens do rei Filipe.
O Rei vinha olhando para ele próprio como o chicote contra a heresia e o
purificador do reino. Em 1306, tinha expulsado os Judeus de França,
remetendo-lhes vagas acusações de sacrilégio e bruxaria. Se William pudesse
fornecer provas que também os Templários eram heréticos e bruxos — e que a
sua fé cristã estava em perigo de ser poluída — então poderia legitimamente
avançar. Não eram os Templários, então, notoriamente secretos? Havia muitas
considerações acerca do seu ‘grande segredo’. O que era? Para eles que
amealharam tamanhas riquezas ao longo de dois séculos, supostamente devia
ser algo de muito poderoso — talvez mesmo oculto.

William apoiava um rancoroso renegado Templário de seu nome Esquin de


Florian de Béziers, que tinha sido expulso da Ordem. Esquim já se tinha
aproximado do rei de Aragão, oferecendo-lhe a venda do ‘grande segredo’ dos
Templários. Ao mesmo tempo tinha-os acusado de blasfêmia e todo o tipo de
práticas escandalosas. William tinha forjado tudo isso. Com a ajuda de Esquin,
arranjava maneira de colocar espias nas Casas Templários. A plataforma
estava montada para as grandes detenções. E, como William esperava, para o
melhoramento das finanças do rei.

Mas o plano correu mal de todo. Depois de terem terminado todos os seus
julgamentos, o Papa entregou todas as propriedades e bens aos Templários
que estes puderam reaver não do rei Francês, mas sim dos Hospitalários!

O FIM DA ORDEM
E assim foram feitas as primeiras prisões e interrogatórios. As autoridades na
Escócia e em Portugal mostraram-se relutantes em entregar os seus
Templários à Inquisição. Na Escócia, Robert the Bruce foi excomungado e não
tomou qualquer previdência. Mas noutros locais centenas de membros da
Ordem foram entregues — na sua maioria, obviamente simples membros em
vez de cavaleiros, uma vez que a maioria deles se encontrava em Chipre.

Assim são descritos os retratos plausíveis, o que acarreta um enorme


problema. E se as acusações de heresia e bruxaria fossem apenas um
"complot" para o rei Francês ficar com o tesouro dos Templários, porque é que
a grande maioria confessava esses mesmos crimes? Pode existir aqui alguma
verdade nessas acusações? Obviamente, as ameaças de tortura devem ter
feito pessoas confessarem crimes contra a sua vontade. Outras simplesmente
seguiram os seus líderes. Quando Jacques de Molay e os seus altos colegas
confessaram, outros os corroboraram. Em alguns casos, a evidência foi
certamente distorcida. Sabemos de um caso em que um iniciado foi levado ao
"tesouro" de uma casa pertencente a um Templário Aí ele viu uma estátua
dourada, provavelmente roubada no Médio Oriente. Durante o seu julgamento,
o tesouro tornou-se num cofre secreto. A estátua era um 'ídolo'. E
consequentemente todo este inocente episódio subitamente tomou contornos
sinistros.

Deste modo, um grande número de confissões foram aceitas. Não devemos


assumir que muitos, ou nenhum, Templário estava na realidade culpado dos
muitas acusações contra eles: idolatria, homossexualidade, e por aí em diante.
Estas eram as acusações principais que se faziam contra os heréticos nesse
tempo. E eles vão contra elementos específicos nas regras da Ordem. Mas é
possível que muitos dos Templários não fossem Cristãos ortodoxos — e outras
acusações eram feitas para conseguir a verdade. Nesse tempo, havia muitas
seitas de cristãos não ortodoxos na Europa. Havia os Waldensians, os
Franciscanos Espirituais, os Brethren do Espírito Livre — várias pequenas
minorias para preocuparem as autoridades eclesiásticas. Até um Messias falso
ocasionalmente havia. Era um tempo de fermentação religiosa, e é
inteiramente possível que os Templários possam ter desenvolvido uma
qualquer prática não ortodoxa da qual necessitavam guardar segredo da Igreja
oficial.

A seita mais notória seria talvez a dos Cátaros do Sul de França, que
desprezavam os procedimentos da igreja cristã pelas suas posses materiais.
Os Cátaros (cujo significado é ‘puro’), eram pessoas que acreditavam que
assim como existia um Deus bom, também havia um Demônio a governar o
mundo. Estes a quem chamavam heréticos não tinham qualquer lealdade ao
Papa. Em 1208, um dos enviados Papais foi assassinado em território Cátaro.
Inocêncio III ordenou uma cruzada contra eles. Cerca de 30 000 soldados do
Norte da Europa desceram até essa região e massacraram milhares de civis
inocentes.

‘Mas como podemos diferenciar os heréticos dos verdadeiros seguidores


da fé?’ Perguntou um soldado quando da entrada destes na cidade de Beziers.
‘Matem-nos a todos’. Retorquiu o representante do Papa. ‘Deus
reconhecerá os seus’. 15000 cidadãos foram assassinados, alguns deles no
santuário da igreja.

Havia um grande número de Casas de Templários em Provence, berço do


Catarismo, e é perfeitamente possível que tenham vindo a ser enclaves
secretos de heresia. Também corriam rumores que as suas práticas religiosas
incorporavam elementos da religião Islâmica como resultado da sua vivência
no Médio Oriente. Poderá ter sido esta a origem da acusação de que eles
adoravam uma cabeça chamada Baphomet. A palavra pode ser simplesmente
a corrupção de Mohammed.

Uma vez que nunca foram encontrados testemunhos, muito da história dos
Templários continua incerta. É dito freqüentemente que eles próprios
destruíram os registos para que nunca pudessem ser usados contra eles. De
qualquer modo, como acontece com tantos arquivos históricos, é possível que
estes se tenham simplesmente perdido — provavelmente em Chipre alguns
anos mais tarde.

Mas ainda que livros e papeis sejam fáceis de destruir, para onde foi o Tesouro
dos Templários? Dada a sua rede de influência e aliados políticos, os
Templários quase certamente foram avisados com antecedência do ataque que
lhes iria ser movido. Uma teoria era a que o seu tesouro foi secretamente
transportado pelos esgotos de Paris. A complexidade de catacumbas e esgotos
que se encontram por baixo da capital Francesa nunca foi mapeada. Mas os
Templários tinham reputação de terem mapas detalhados dessas passagens
subterrâneas. Uma vez em segurança, o tesouro foi transportado para um
destino desconhecido por uma frota Templária, e posteriormente nunca mais foi
visto.

Então para onde se deslocou a frota? Que aconteceu ao seu fabuloso tesouro? E em que
se tornaram os Templários sobreviventes, particularmente na Escócia, Inglaterra,
Irlanda e Portugal, onde muito poucos foram conduzidos até à Inquisição. Ou na
Espanha, Alemanha e Chipre, onde todos foram declarados inocentes?

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