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TÍTULO: MASTOFAUNA BRASILEIRA E EXÓTICA: CONHECIMENTO E


INTERESSE DOS VISITANTES DO HORTO DE DOIS IRMÃOS, RECIFE, PE.
AUTORES: Patrícia F. Rosas Ribeiro, Ana Gabriela D. Bieber, Paulo Milet-Pinheiro,
Fabiana Minhaqui S. G. Morais, Maria da Paz S. Monteiro, Simão D. Vasconcelos
e-mail: patriciafarias@hotmail.com
INSTIUIÇÃO: Universidade Federal de Pernambuco
ÁREA TEMÁTICA: Meio ambiente

INTRODUÇÃO

A melhor estratégia para a proteção a longo prazo da diversidade biológica é a


preservação de comunidades naturais e populações no ambiente selvagem (preservação in-
situ). No entanto, para grupos com poucas espécies ou grandes exigências de espaço, como
os vertebrados terrestres, provavelmente a melhor maneira de evitar a extinção seja manter
os indivíduos em condições artificiais sob a supervisão humana (preservação ex-situ), como
por exemplo, nos zoológicos (Primack & Rodrigues, 2001). Indivíduos criados em cativeiro
também ajudam a educar a população sobre a necessidade de preservar as espécies (Ibid.).
Quanto maior a transmissão do conhecimento ecológico, maior o envolvimento do público
com a conservação (Padua, 1994). O desconhecimento da fauna, por sua vez, leva à
disseminação de mitos errôneos em relação aos animais, influenciando muitas vezes a
atitude das pessoas (Bizerril, 2000).
Os jardins zoológicos modernos são planejados por etólogos, sociólogos,
educadores ambientais, entre outros e, juntamente com outras instituições, mantêm mais de
700.000 animais em cativeiro, representando 3.000 espécies de mamíferos, aves, répteis e
anfíbios em todo o mundo (Groombridge, 1992). No Brasil existem cerca de 91 zoológicos,
responsáveis pela manutenção de 40.000 espécimes de animais em cativeiro (MMA, 1998).
Devido ao grande número de visitantes, os zoológicos são locais propícios para a
divulgação de informações sobre os animais silvestres e a formação de hábito e atitudes
positivas em relação à conservação da natureza (Bizerril, 2000). Muitas vezes os jardins
zoológicos são a única maneira da população entrar em contato com a fauna exótica,
porém, a grande ênfase dada a estes animais tende a ignorar espécies menores e mais
ameaçadas, como os animais nativos da Mata Atlântica (Gippoliti & Amori, 1998; Primack
& Rodrigues, 2001). Devido a esta ênfase em relação à fauna exótica dada pelos meios de
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comunicação em geral, espera-se que exista um maior interesse e conhecimento desta por
parte dos visitantes. O objetivo do presente trabalho foi analisar o conhecimento e interesse
dos visitantes do Horto de Dois Irmãos, Recife-PE, em relação à mastofauna nativa e
exótica.
Pesquisas que enfoquem a exibição de fauna exótica e nativa por jardins zoológicos
são raras, mas de extrema importância para guiar programas de educação ambiental, e
consequentemente para a conservação da natureza. Neste contexto, as universidades podem
assumir papel fundamental, através de projetos de extensão que promovam a interação do
conhecimento científico sobre biologia e ecologia animal e a percepção deste conhecimento
pelo público não-acadêmico.

ÁREA DE ESTUDO

O Horto de Dois Irmãos, único zoológico do Recife, localiza-se no bairro de Dois


Irmãos, PE. Encontra-se integrado à Reserva Ecológica de Dois Irmãos e, em conjunto,
possuem área de 388,67 ha. A infra-estrutura do parque é formada por Sede Administrativa,
trilhas, placas, Quarentena, Centro de Educação Ambiental (CEA) e Museu (Pernambuco,
2001). Durante o presente estudo o Horto contava com 30 exibições de mamíferos, sendo
18 nativos e 12 exóticos, além de aves e répteis. Anualmente é visitado por cerca de
240.000 pessoas, em sua maioria, de classes sociais mais baixas e moradoras da Região
Metropolitana do Recife (Fernandes et al., 2000).

MATERIAIS E MÉTODOS

Para testar o conhecimento e a preferência dos visitantes em relação a animais


nativos e exóticos foram entrevistadas 120 crianças e adolescentes entre oito e quinze anos
de idade após terem percorrido todo o zoológico. A entrevista, realizada em agosto de
2002, consistiu em apresentar fotos de doze mamíferos expostos no zoológico, seis nativos
(existem naturalmente no Brasil – onça, tamanduá, raposa, macaco aranha, anta e cutia) e
seis exóticos (não ocorrem naturalmente no Brasil – tigre, lhama, hipopótamo, leão,
babuíno e canguru). Sobre cada um dos animais, foram feitas três perguntas: “Qual é o
nome do animal?”, “Este animal existe no Brasil?” e “O que ele come?”. Todas essas
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informações são fornecidas nas placas de identificação dos animais. Caso o entrevistado
declarasse não saber o nome do animal apresentado, as perguntas sobre o hábito alimentar e
a origem não foram feitas, supondo-se que o desconhecimento do entrevistado
comprometeria as demais. Ao final das entrevistas, também se perguntou qual era o animal
exposto no Horto que cada visitante preferia.
Os dados foram analisados agrupando-se sempre os animais em categorias “nativos”
ou “exóticos”. O número de acertos por categoria foi comparado para cada pergunta
utilizando o teste do Qui-quadrado, disponível no programa BioEstat 2.0. Os animais
preferidos foram agrupados em quatro grupos: répteis, aves, mamíferos nativos e
mamíferos exóticos.

RESULTADOS

Observou-se um maior número de acertos para os animais exóticos (Tabela 1). A


diferença entre o número de respostas certas para animais nativos e exóticos foi
significativa para todas as perguntas (Figura 1). Foram acertados 59,02% dos nomes dos
animais exóticos, contra 42,50% para animais nativos (χ²=19,048, p<0,001, g.l.=1). Em
relação à origem do animal, 72,10% das respostas de animais nativos foram certas contra
apenas 34,05% das repostas para exóticos (χ²=46,773, p<0,001, g.l.=1). Quanto ao hábito
alimentar, houve mais acertos (70,93%) para animais exóticos do que para nativos
(49,64%) (χ²=25,058, p<0,001, g.l.=1). Nas perguntas sobre origem e hábito alimentar, a
porcentagem de acertos foi calculada excluindo-se aqueles animais que os visitantes
disseram não conhecer. Também foram excluídos destas perguntas a cutia e o canguru, já
que a placa informativa ainda não continha dados sobre o hábito alimentar e origem destes
animais.
Em relação à origem do animal, foi notada uma maior porcentagem de acertos para
os animais exóticos menos conhecidos (lhama e babuíno) do que para os animais mais
conhecidos (leão, hipopótamo e tigre) (Figura 2). Quanto à preferência, o número de
mamíferos exóticos citados foi significativamente maior em relação aos outros três grupos,
répteis, aves e mamíferos nativos (χ²=148,054, p<0,001, g.l.=3) (Figura 3). Os animais
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mais citados pelo público foram: leão (47 vezes), tigre (15), macacos (9), hipopótamo (8),
urso (5) e canguru (5).

DISCUSSÃO

Os resultados apresentados confirmam a hipótese de que os visitantes do Horto têm


maior conhecimento e preferência pela mastofauna exótica. Como o Horto de Dois Irmãos
expõe mais mamíferos nativos do que exóticos, esses resultados podem apenas ser
explicados pelo interesse dos visitantes. Dois fatores podem justificar isso, o maior
tamanho e exposição dos animais exóticos nos meios de comunicação.
O tamanho de animais do zoológico como variável que influencia a resposta do
público tem sido analisado em diversos trabalhos. Balmford (2000) e Silva (2000), ao
avaliarem o número de visitantes e o tempo destes em frente às exposições, notaram que
não houve diferença entre animais pequenos e grandes. Porém, quando se mostravam fotos
de animais de vários portes, a popularidade dos animais grandes foi maior (Ward et al.,
1998), como aconteceu neste trabalho em que a fauna exótica é de porte relativamente
maior que a nativa. Entrevistas usando imagens dos animais, como salientado por Balmford
(2000), não devem ser usadas para avaliar a viabilidade das exposições, pois para isso deve-
se corrigir os resultados pelo custo do animal; entretanto podem ser usadas para perceber a
preferência do público por animais maiores.
Vertebrados grandes e carismáticos, que normalmente são exóticos, têm sua
imagem freqüentemente usada em campanhas publicitárias, cartões, brinquedos, livros
infantis e didáticos, entre outros. Assim, a sociedade, por estar mais exposta a esses
animais, apresenta maior empatia com os mesmos. Gippoliti & Amori (1998) mostraram
que o destaque atribuído à megafauna acaba proporcionando uma visão estreita do mundo
animal, como sendo dominado por grandes criaturas, ignorando a maior porção da
biodiversidade do planeta, representada pelos invertebrados.
Apenas os resultados relativos à origem dos animais sugeriram que a fauna nativa
seja mais conhecida. Isso é, porém, uma idéia falsa e advém de uma tendência dos
entrevistados a considerarem que a maioria das espécies apresentadas existia no Brasil; isso
foi observado principalmente em relação àqueles animais mais conhecidos. Talvez, por
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estarem freqüentemente expostos a informações sobre esses mamíferos (leão, tigre e


hipopótamo), eles tenham uma idéia equivocada de proximidade (Figura 2). Já a lhama e o
babuíno, menos conhecidos, eram mais facilmente considerados exóticos.
É importante então, que aliados à exposição de animais nativos no zoológico,
também se tenham programas educativos que chamem a atenção dos visitantes para a fauna
brasileira, pois, sabendo quais animais a compõem, sua alimentação e até algumas
curiosidades, as pessoas se conscientizarão mais facilmente da necessidade de sua
preservação. O papel da Universidade, principalmente os cursos de Ciências Biológicas e
Ciências Ambientais, é fundamental neste processo educativo; seja realizando pesquisas e
contribuindo com informações valiosas sobre os zoológicos e seus visitantes, ou apoiando e
formando pessoas capazes de trabalhar com educação ambiental nesses parques.

AGRADECIMENTOS

Esse trabalho não teria sido possível sem a ajuda da Administração do Horto de
Dois Irmãos e demais funcionários, que nos permitiram entrevistar os visitantes do parque
e, gentilmente, nos cederam as fotos dos animais usadas em nossa entrevista. Também
gostaríamos de agradecer à Maria Alice Mendes da Silva, pela vasta bibliografia
disponibilizada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Balmford, A. (2000) Separating Fact from Artifact in Analyses of Zoo Visitor Preferences.
Conservation Biology 14(4), 1193-1195.

Bizerril, M. (2000) Humanos no Zoológico. Ciência Hoje 28(163), 64-67.

Fernandes, A. C. A.; Morais, D. A. L.; Avellar, C. (2000) Estimativa dos Valores


Comercial e de Custo de Viagem “Travel Cost” na Reserva Ecológica de Dois Irmãos,
Recife-PE, Brasil. Biota 1, 5-9.

Gippoliti, S.; Amori, G. (1998) Rodent Conservation, Zoos, and the Importance of the
“Common Species”. Zoo Biology 17, 263-265.

Groombridge, B. (1992) Global Biodiversity: Status of the Earth’s Living Resources.


Compiled by the world Conservation Monitoring Centre, Cambridge, U.K. Chapman and
Hall, London.

MMA – Ministério do Meio Ambiente (1998) Primeiro Relatório Nacional para a


Convenção sobre a Diversidade Biológica, Brasil. Brasília.
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Padua, S. M. (1994) Conservation Awareness through an Environmental Education


Programme in the Atlantic Forest of Brazil. Environmental Conservation 21, 145-151.

Pernambuco (2001) Diagnóstico das reservas ecológicas – Região Metropolitana do


Recife. SECTMA – Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, 79p.

Primack, R. B.; Rodrigues, E. (2001) Biologia da conservação. Editora Vida, Londrina,


Paraná, 328p.

Silva, M. A. M. (2002) Estudos de Audiência e o Planejamento de Exibições em


Zoológicos Tropicais: um Estudo de Caso no Parque Estadual de Dois Irmãos, Recife,
Pernambuco. Dissertação de Mestrado, Departamento de Zoologia, Universidade Federal
de Pernambuco, 44p.

Ward, P. I.; Mosberger, N.; Kistler, C.; Fischer, O. (1998) The Relationship between
Popularity and Body Size in Zoo Animals. Conservation Biology 12(6), 1408-1411.

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