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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO


Jor

A pauta
Segundo o “Manual de redação e estilo de O Estado de São
FACULDADE DEPaulo”
JORNALISMO
(Martins, 1992), pauta é tanto:
1. o conjunto de assuntos que uma editoria está cobrindo para determinada edição do jornal, como
2. a série de indicações transmitidas ao repórter, não apenas para situá-lo sobre algum tema, mas, principalmente, para
orientá-lo sobre os ângulos a explorar na notícia.
Portanto, a pauta inclui tanto os temas de uma determinada publicação quanto as indicações ao repórter para o tratamento do tema. O
que seria esse “conjunto de assuntos”, a primeira acepção do manual?
Sob um aspecto muito geral, significa portanto que a pauta de um jornal de interesse geral são tópicos de interesse geral, que a pauta de
um jornal de esporte são novidades do esporte etc.
No caso da publicação experimental Lide, a pauta, sob um aspecto muito geral, são os tópicos de interesse geral que afetem a cidade de
Campinas ou a região.
A pauta, sob um sentido mais estrito, significa quais os assuntos serão abordados na próxima edição do jornal, revista etc.
No caso da publicação experimental Lide, a pauta, sob um aspecto mais estrito, inclui os seguintes tópicos:
1. Uma entrevista com uma personalidade regional (de preferência da área do jornalismo, mas não obrigatoriamente). A
entrevista deve conter uma declaração forte ou trazer um fato inédito.
2. Uma reportagem sobre alguma novidade da mídia regional
3. Duas reportagens sobre alguma novidade a respeito de temas de cidades (comportamento, administração pública, política etc)
4. Uma reportagem sobre alguma novidade de economia
5. Duas reportagens sobre alguma novidade dos esportes regionais
Conforme destacado nos cinco tópicos acima, toda pauta pressupõe “novidade”. É o princípio da “atualidade” que orienta a construção
de uma pauta. Como saber se há algo “novo” sobre o caso? Pesquisando! É isso que recomenda o jornalista Roberto Guzzo:
3. “Informe-se previamente sobre sua pauta. Apesar de um jornalista poder escrever sobre todos os assuntos, dominar
todas as áreas do conhecimento é humanamente impossível. Hemingway costumava dar um único conselho a quem
lhe perguntava como escrever bem: "Conheça o seu assunto". Como vencer este paradoxo? A maneira mais
eficiente é informar-se previamente sobre aquilo que você vai escrever.”
O que significa, até essa altura do texto, pautar? Significa primeiro entender a natureza da publicação na qual você está. Ou seja, o que
costuma ser notícia na publicação em que você está atuando? Se você entender isso, começará a entender o que vale como notícia para
sua publicação.
A pauta, de acordo com Nilson Lage (2004), inclui:
4. Eventos programados (julgamento de acusados, votações em assembléias, inaugurações de obras etc.) ou sazonais
(início do ano letivo, vendas de fim de ano, mobilização de bóias-frias para a colheita etc.);
5. Eventos continuados (greves, festejos, pontos de estrangulamento no trânsito etc.);
6. Desdobramentos (suítes, continuações) de fatos geradores de interesse (acompanhamento de investigações policiais,
recuperação de vítimas de atentados ou acidentes, repercussão de medidas econômicas etc.); e
7. Fatos constatados por observação direta e que estão lá, esperando ser noticiados (mudanças nos costumes, ciclos de
moda, deterioração ou recuperação de zonas urbanas etc.).
Sob um aspecto mais restrito, a pauta é também o conjunto de recomendações para um repórter realizar uma reportagem. Vamos
retomar o verbete do Estadão:
8. “A pauta constitui um roteiro mínimo fornecido ao repórter. Se ela for muito específica e pedir que ele apure apenas
alguns aspectos da notícia, o repórter deverá obedecer a essa orientação, para evitar que suas informações
conflitem com as de outros jornalistas que estejam trabalhando no mesmo caso ou as repitam.”
Ou seja, muitas pautas, quando destinadas a repórteres experientes, são apenas pequenas breves instruções sobre o que o jornalista deve
fazer ao sair a campo, como podemos ver no Manual do Estadão:
9. Pautas óbvias não necessitarão de muito texto. Espera-se, por exemplo, que um repórter de cidade saiba o que
perguntar ao prefeito ou a um secretário, o que apurar numa mudança de trânsito, como cobrir uma expulsão de
invasores de área pública, etc.
Nenhuma pauta deve ser considerada como uma “camisa de força”. Ou seja, se você foi cobrir para um jornal de interesse geral uma
reportagem de entretenimento e se depara com uma história forte, avise a redação, “derrube” a sua pauta e passe a desenvolver a pauta
que realmente interessa, ok? É o que nos recomenda o Manuel de Redação do Estadão:
10. O repórter deverá também ter bom senso suficiente para mudar a angulação de uma pauta sempre que um assunto
levantado no meio de uma entrevista ou cobertura se sobrepuser aos demais pedidos pela pauta. Em caso de
dúvida, convém que ele entre em contato com o pauteiro ou editor para saber se a sua decisão é correta. (...) não
hesite em tornar uma pauta grande, sempre que o julgar necessário. Qualquer aspecto específico de um assunto

Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)


site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
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somente poderá ser cobrado do repórter se tiver sido pedido na pauta. Mais do que isso, porém: o pauteiro, por sua
própria função (tentar cercar todos os ângulos da notícia), pode ter idéias que não ocorreriam ao repórter e vice-
versa: por isso, é igualmente indispensável que o repórter complemente uma pauta que tenha deixado de lado
FACULDADE
algum aspecto importante DE JORNALISMO
de um assunto.
A produção da pauta é também um processo produção de matéria. O manual de redação da Folha de São Paulo enfatiza a importância
de o jornalista conceber, antes mesmo de apurar um “pré-lide” e um “pré-título” que vai orientá-lo depois na construção do texto:
11. “(A Pauta) ... Deve conter sempre uma hipótese a ser confirmada ou refutada,
uma questão principal a ser respondida. Já a partir da pauta é possível prever
títulos prováveis. A pauta não deve ser só uma agenda. Precisa se preocupar em
levantar enfoques diferenciados sobre os temas, buscar ângulos novos de
abordagem, mostrar agilidade na identificação de novas tendências. É
recomendável que a pauta tenha entre seus objetivos prestar um serviço ao
leitor, de forma que o produto final seja útil para a vida prática de quem lê.”
Há, por fim, a pauta fotográfica. Toda, ou quase toda reportagem, é acompanhada de fotografias. As
fotos podem até não ser usadas, mas são o jornalista, o pauteiro, o chefe de fotografia e o editor
precisam levar em conta a necessidade de imagens para a reportagem (há sempre a chance de uma
ilustração ou infografia fazer o papel da foto, mas no jornalismo esse recurso é incomum e nunca
deve ser pensado como primeira hipótese. As reportagens costumam ter 3 tipos de fotos:
1. Foto informativa. São fotos “... que procuram impacto e nunca mostram as condições
materiais de um evento, mas os resultados deste, principalmente se desastrosos” (GOMES,
2000, P. 90). Uma reportagem sobre um incêndio em um prédio ilustrada, por exemplo,
pela foto do prédio em chamas. Na capa do jornal norte-americano Greeley Tribune de
fevereiro de 2003 vemos uma foto dos destroços do ônibus espacial Columbia e o título
“lágrimas no céu” (Tears in heaven).
2. Foto de contexto. É o caso, por exemplo, de uma reportagem a respeito de uma pessoa
famosa. Digamos que não foi possível fotografá-la naquele dia por algum motivo (teríamos
então uma “foto informativa”, mas isso não ocorreu por algum motivo). Usa-se então uma
foto da pessoa em um outro momento para ilustrar a matéria (Idem, ibidem). Na capa da
revista alemã Focus, de dezembro de 2004 vemos não fotos de um evento recente, mas uma
série de imagens retratando temas relativos à reportagem
principal da revista.
3. Foto ilustrativa. São fotos que se subordinam ao texto
escrito (Idem, ibidem). Trata-se de imagens de impacto,
mas que poderiam ser vistas independentes da reportagem.
A obra do grande repórter fotográfico norte-americano
Steve McCurry, que imortalizou os olhos assustados de uma refugiada de 12 anos, é um
exemplo disso. A reportagem era sobre a Guerra Civil afegã. Tratava-se de uma adolescente
em um acampamento na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. A foto foi capa da
edição de junho de 1985 da revista norte-americana National Geographic. Desde então, essa
imagem tem sido usada em tapetes e tatuagens, tornando-se uma das fotografias mais
reproduzidas no mundo todo. É impossível prever em uma pauta que você terá à disposição
depois uma foto ilustrativa. É possível tentar uma foto informativa. É possível contar de
antemão com uma foto de contexto, mas é impossível “prever” que você terá, antes de
começar a apurar e fotografar, uma foto ilustrativa.
Em nosso projeto editorial da revista Lide, vamos produzir não só textos, mas também fotos. Por isso
nossas pautas terão sempre previsão de fotografia, que serão feitas por vocês. Vamos ver o formulário na página a seguir.
Bibliografia
FOLHA DE S. PAULO. Novo manual de redação. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_redacao.htm.
Acessado em dez/2007. São Paulo: Folha de S. Paulo, 1996.
GOMES, Mayra Rodrigues. Jornalismo e ciências da linguagem. São Paulo. Hacker-Edusp, 2000.
GUZZO, Roberto. J.R. Guzzo dá 10 dicas para escrever melhor. Curso Abril de Jornalismo: disponível em
http://cursoabril.abril.com.br/servico/noticia/materia_253041.shtml ; acessado em 14 de dezembro de 2007.
LAGE, Nilson. A Reportagem: teoria e prática de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro : Record 2004.
MARTINS, Eduardo. Manual de redação e estilo. São Paulo : O Estado de S. Paulo, Maltese, 1992.

Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)


site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
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