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CAPÌTULO I

1 - DISCUTINDO EVASÃO NA PERSPECTIVA DE ALGUNS TEÓRICOS

Vários técnicos da educação já se debruçaram sobre o problema da evasão escolar e


suas conseqüências sem, no entanto, conceitua-la até o presente, visto que, ao tentarem
traçar um perfil de tal problemática, esbarram em várias outras situações-problema que
não são necessariamente os responsáveis diretos, mas que fazem parte dela.

O sistema educacional brasileiro produz uma educação vinculada a interesses da


classe dominante, deixando de considerar a realidade social dos alunos que freqüentam
a escola, impossibilitando que a educação seja de fato um instrumento fundamental às
mudanças e transformações em nossa sociedade.

Para ALBUQUERQUE ( 1995 ), evasão escolar tem conseqüências mais amplas,


pois,

É a exclusão da participação de cidadãos na sociedade, pois a inserção destes,


fora comprometida com a ausência de requisitos básicos adquiridos com a
escolarização, para uma atuação social consciente e comprometida com os
problemas atuais.

A alienação resultante dessa má formação favorece para que a democracia seja


retardada e a população confirme, sendo introduzida por pessoas consideradas capazes e
superiores por terem níveis intelectuais maiores.

A escola que é feita para todos e que deveria dar chances iguais à todos, induz à
reprodução da divisão de classes sociais, promove a ideologia dominante e impede a
classe dominada a ter liberdade de expressão.
O horizonte político-social, cultural e econômico exige da escola uma ressignificação
do papel, no sentido da aquisição, construção e reconstrução dos conhecimentos
necessários a inserção, permanência e ascensão do aluno na sociedade.

Um alerta que vem de CECCON (1985) nos indica que:

Há quem pense que, enquanto as relações de poder na sociedade não mudarem,


a escola continuará funcionando do mesmo jeito. Esse pessoal acha que não
adianta tentar mudar a escola. Ora, os que assim pensam esquecem que,
justamente porque a Escola está dentro da sociedade quando mexemos na
escola, estamos mexendo na sociedade.

Desta feita, cabe à escola, tomar para si o objetivo de formar cidadãos capazes de
atuar com competência e dignidade na sociedade, buscando eleger, como objeto de
ensino, conteúdos que estejam em consonância com as questões sociais que marcam
cada momento histórico, cuja aprendizagem e assimilação são as considerações
essenciais para que os alunos possam exercer seus deveres e reivindicando seus direitos.

Para entendermos melhor a questão da evasão escolar e analisar e analisar as razões


que levam um evadido a não querer voltar para escola os fragmentos, a seguir, de um
depoimento que indiretamente e de forma tão explicita nos dá uma certeza da existência
desse problema.

Um repetente fala sobre currículo:

“Não, eu não vou à escola. Esta é a segunda vez que eu repito a 4ª série e
sou muito maior que os outros alunos... Eles estão sempre me rodeando
e isto compensa o que acontece na sala. Eu não sei porque a professora
não gosta de mim, na verdade, ela nunca me dá atenção. Parece que
nunca acredita que a gente sabe alguma coisa, a não ser que a gente
possa dizer o nome do livro onde aprendeu. Na escola a gente tem que
aprender tudoo que está no livro e eu não consigo guardar. N o ano
passado fiquei na escola depois da aula, todos os dias, durante semanas,
tentando aprender os nomes dos estados brasileiros. Claro que eu não
conhecia todos. Conhecia alguns, como Espírito Santos, São Paulo e
Paraná, para onde meu tio com a família plantar café.
...Eu costumo fazer as contas e escrever as cartas todos os três
fazendeiros
sobre os porcos e bois abatidos. Houve apenas três erros em dezessete
cartas, e diz minha tia: só problemas de virgulas. Se eu pudesse escrever
as composições bem assim...

Outro dia o assunto era: “O que uma rosa leva da primavera” e não deu...
E eu quero ser um bom cidadão, mas detestava ficar depois da aula,
porque um bando de meninos estavam limpando um terreno para fazer
um campo de futebol para as crianças da nossa comunidade. Eu até fiz as
traves do gol, usando uns canos velhos. Conseguimos dinheiro, vendendo
verduras da nossa horta para comprar bola e um jogo de camisas. O pai
disse que eu posso sair da escola quando fizer quinze anos. Estou doido
para fazer isso, porque há um mundo de coisas que quero aprender e já
estou ficando velho”.

Percebemos no depoimento do adolescente que o mesmo estudou, como é o caso da


maioria das escolas, perdeu grandes oportunidades de fazer desse aluno alguém
entusiasmado pelos estudos, usando o seu conhecimento prévio e privilegiando-o.

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