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A escola que é feita para todos e que deveria dar chances iguais à todos, induz à
reprodução da divisão de classes sociais, promove a ideologia dominante e impede a
classe dominada a ter liberdade de expressão.
O horizonte político-social, cultural e econômico exige da escola uma ressignificação
do papel, no sentido da aquisição, construção e reconstrução dos conhecimentos
necessários a inserção, permanência e ascensão do aluno na sociedade.
Desta feita, cabe à escola, tomar para si o objetivo de formar cidadãos capazes de
atuar com competência e dignidade na sociedade, buscando eleger, como objeto de
ensino, conteúdos que estejam em consonância com as questões sociais que marcam
cada momento histórico, cuja aprendizagem e assimilação são as considerações
essenciais para que os alunos possam exercer seus deveres e reivindicando seus direitos.
“Não, eu não vou à escola. Esta é a segunda vez que eu repito a 4ª série e
sou muito maior que os outros alunos... Eles estão sempre me rodeando
e isto compensa o que acontece na sala. Eu não sei porque a professora
não gosta de mim, na verdade, ela nunca me dá atenção. Parece que
nunca acredita que a gente sabe alguma coisa, a não ser que a gente
possa dizer o nome do livro onde aprendeu. Na escola a gente tem que
aprender tudoo que está no livro e eu não consigo guardar. N o ano
passado fiquei na escola depois da aula, todos os dias, durante semanas,
tentando aprender os nomes dos estados brasileiros. Claro que eu não
conhecia todos. Conhecia alguns, como Espírito Santos, São Paulo e
Paraná, para onde meu tio com a família plantar café.
...Eu costumo fazer as contas e escrever as cartas todos os três
fazendeiros
sobre os porcos e bois abatidos. Houve apenas três erros em dezessete
cartas, e diz minha tia: só problemas de virgulas. Se eu pudesse escrever
as composições bem assim...
Outro dia o assunto era: “O que uma rosa leva da primavera” e não deu...
E eu quero ser um bom cidadão, mas detestava ficar depois da aula,
porque um bando de meninos estavam limpando um terreno para fazer
um campo de futebol para as crianças da nossa comunidade. Eu até fiz as
traves do gol, usando uns canos velhos. Conseguimos dinheiro, vendendo
verduras da nossa horta para comprar bola e um jogo de camisas. O pai
disse que eu posso sair da escola quando fizer quinze anos. Estou doido
para fazer isso, porque há um mundo de coisas que quero aprender e já
estou ficando velho”.