EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA
___ª VARA DA CÍVEL DA COMARCA DE CASCAVEL, ESTADO
DO PARANÁ.
PAULO ROBERTO PEGORARO JUNIOR, brasileiro, solteiro,
advogado inscrito na OAB/PR sob nº 36.723, inscrito no CPF/MF sob nº xxx.xxx.xxx- xx, e ADELINO MARCON, brasileiro, casado, advogado inscrito na OAB/PR sob nº 8.625, inscrito no CPF/MF sob nº xxx.xxx.xxx-xx, ambos residentes e domiciliados em Cascavel/PR, com escritório na Avenida Brasil, 6282, Edifício Central Park, 8º e 9º andares, Centro, CEP 85.810-000, telefone (45) 3304-4848, vêm à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos arts. 23, inc. XII, e 37, caput, ambos da Constituição da República, no art. 320 do Código de Trânsito Brasileiro, e na forma da Lei nº 4.717/1965, propor
AÇÃO POPULAR, COM PEDIDO DE LIMINAR,
em face da COMPANHIA DE ENGENHARIA DE TRANSPORTE
E TRÂNSITO - CETTRANS, empresa pública inscrita no CNPJ/MF sob nº 73.407.017/0001-31, com sede e foro em Cascavel/PR, na Avenida Assunção, 1757, sala 201, Bairro Alto Alegre, telefone (45) 3036-8088, e FISCAL TECNOLOGIA E AUTOMAÇÃO LTDA., sociedade empresária limitada inscrita no CNPJ/MF sob nº 00.113.691/0001-30, com sede e foro em Curitiba/PR, na Rua Engenheiro Júlio Cesar de Souza Araújo, 266, Cidade Industrial, CEP 81.290-270, pelos motivos de fato e de direito que passa a expor: 2
Por meio da Concorrência nº 02/2010 a CETTRANS contratou a
empresa FISCAL TECNOLOGIA E AUTOMAÇÃO para “locação de solução integrada, objetivando a prestação de serviços de monitoramento, registro e fiscalização de trânsito através de equipamentos eletrônicos” na cidade de Cascavel/PR, tendo as operações se iniciado em 3 de janeiro de 2011, a partir de quando as infrações de trânsito passaram a ser eletronicamente constatadas e autuadas pela segunda Ré.
A empresa sagrou-se vencedora da licitação com a proposta no
valor de R$ 6.483.030,48 (seis milhões, quatrocentos e oitenta e três mil, trinta reais e quarenta e oito centavos), sendo o serviço prestado pelo prazo de 36 (trinta e seis) meses, período no qual a segunda Ré receberá a soma mensal de R$ 180.084,18 (cento e oitenta mil, oitenta e quatro reais e dezoito centavos).
Ocorre que a contratação de empresa privada para operação da
fiscalização do trânsito municipal representou a prática de ato lesivo ao princípio da moralidade e tem objeto ilícito, por delegar à particular poder de polícia e por utilizar receita arrecadada com a cobrança de multas de trânsito para remunerar aquela, como se verá demonstrado.
DA INDELEGABILIDADE DO PODER DE POLÍCIA PELO
AGENTE DE TRÂNSITO MUNICIPAL.
A administração pública tem como objetivo precípuo a realização
dos interesses da coletividade. Para cumpri-lo, certas vezes a atividade estatal tem de condicionar a liberdade e a propriedade dos cidadãos, delimitando, pelo chamado poder de polícia, a esfera juridicamente tutelada dos interesses particulares em razão da supremacia dos valores sociais.
Nessa categoria se insere a fiscalização das normas de trânsito,
cuja atividade não é delegável a particulares, aos quais não pode ser atribuído “o encargo de praticar atos que envolvem o exercício de misteres tipicamente público quando em causa liberdade e propriedade, porque ofenderiam o equilíbrio entre os particulares em geral, ensejando que uns oficialmente exercessem supremacia sobre 3
outros” (Celso Antônio Bandeira de Mello, in Curso de Direito Administrativo, Ed.
Malheiros, São Paulo - 2006, p. 797).
No mesmo sentido, Diógenes Gasparini anota: “Não existe,
portanto, qualquer possibilidade de delegação do poder de polícia de trânsito a empresas paraestatais ou de administração indireta. O exercício desse poder é uma de suas atividades jurídicas exclusivas e, de forma alguma, poderá ser feito por entidade que congregue capital ou interesse particular, muito menos por intermédio de seus agentes, por não restar vínculo direto e estrito com o Poder Público” (In Tribuna da Magistratura, Os Municípios e o Policiamento, n. 7, p. 371, set/1998).
A licitação realizada pela CETTRANS incluiu também por
finalidade o processamento e a geração de AITs - Auto de Infração de Trânsito bem como a instrumentalização da defesa prévia, ações típicas do poder de polícia. A municipalidade não está transferindo somente a constatação da eventual infração de trânsito por meio de equipamento eletrônico, mas sim delegando a sua própria atividade de poder de polícia à empresa vencedora da licitação.
A tal respeito, confira-se algumas das disposições contratuais
firmadas pela CETTRANS com a segunda Ré que atestam a delegação do poder de polícia à empresa privada (vide anexo):
CLÁUSULA PRIMEIRA – (Objeto)
Contratação de empresa para locação de solução integrada, objetivando a prestação de serviços de monitoramento, registro e fiscalização de trânsito através de equipamentos eletrônicos, conforme as especificações abaixo: 1.1. Equipamentos de fiscalização eletrônica, para detecção de infrações por excesso de velocidade e registro de imagens do tipo fixo para fiscalização de 20 (vinte) faixas, com transmissão de dados em tempo real, disponibilização de infraestrutura mecânica, sinalização vertical e infraestrutura eletrônica, sistemas, link para comunicação on-line e aferição da faixa fiscalizada junto ao INMETRO; Sendo que do total das 20 faixas, 06 (seis) fiscalizadas deverão dispor de sistema de reconhecimento automático de placas veiculares com consulta on-line em banco de dados para identificação de veículos em 4
situação irregular com transmissão de dados em tempo real, com
as seguintes características: (...) B) Características técnicas: Funcionalidades básicas: Os equipamentos de fiscalização eletrônica deverão realizar a medição de velocidade, o registro através de imagem dos veículos infratores por excesso de velocidade e contagem estatística; (...) Os equipamentos eletrônicos de fiscalização no limite estabelecido, deverão dispor de software OCR (Optical Character Recognition) que realize o reconhecimento automático das placas dos veículos que trafegarem pelos pontos monitorados, independente de suas velocidades, com operação 24 (vinte e quatro) horas por dia ininterruptamente; Os equipamentos deverão ainda, operar de forma on-line com a Central de Processamento de Imagens/Autos de Infrações e Jari, com transmissão dos dados registrados em tempo real; (...) C) Detecção da velocidade dos veículos: O equipamento deverá detectar os veículos que transitarem pela via através de sensores de pista, mais especificamente laços indutivos, possibilitando o cálculo de suas velocidades; (...) 1.3.Equipamento de fiscalização eletrônica, para detecção de infrações por excesso de velocidade, avanço de sinal vermelho e parada sobre a faixa de pedestres e registro de imagens do tipo fixo, para fiscalização de 25 (vinte e cinco) faixas, com transmissão de dados em tempo real, com disponibilização de infraestrutura mecânica, sinalização vertical, infraestrutura eletrônica, link para comunicação online, e aferição da faixa fiscalizada junto ao INMETRO, com as seguintes características: A) Características gerais Instrumento para fiscalização de trânsito, com funcionamento utilizando sensores indutivos de pista, com captação automática de imagens através de câmeras eletrônicas, com capacidade de monitorar até 04 (quatro) faixas de trânsito simultaneamente e registrar infrações de trânsito por avanço de sinal vermelho e/ou permanência sobre a faixa de pedestres e/ou excesso de velocidade. 5
A automação do processamento dos autos de infrações geradas
pelos equipamentos fica evidenciada nas Cláusulas 1.7 do Contrato firmado, inclusive quanto à cobrança das multas geradas:
1.7.Central de Processamento de Imagens/Autos de Infrações e
Jarí, com disponibilização de: equipamentos e mobiliários, de sistemas de reconhecimento automático de placas de veículos, de link para comunicação on-line. Entende-se por Central de Processamento de Imagens/Autos de Infrações e Jari, o local onde haja computadores dos tipos servidores de dados e imagens, servidores de aplicativos, servidor de Internet, monitores e estações de trabalho e mais, toda a infraestrutura de conectividade, de segurança de rede, de cópias de segurança (backup), de controle de acesso de usuários, de softwares, mobiliários e outros itens que se fizerem necessários a perfeita realização dos serviços demandados de: gerenciamento, administração e processamento de autos de infração e de controle de cobrança e arrecadação de multas aplicadas, gerenciamento e processamento de recursos interpostos às multas aplicadas, controle e gerenciamento da JARI, cujas principais funcionalidades requeridas são: A) Do Sistema de Processamento de Imagens O Sistema de Central de Processamento de Imagens/Autos de Infrações proposto deverá ser capaz de receber de forma On- Line os dados e imagens transmitidos pelos equipamentos de campo. (...) A Central de Processamento de Imagens/Autos de Infrações e Jari deverá automaticamente, ou seja, sem intervenção humana, ser capaz de receber os dados (imagens e estatísticas), dos equipamentos em operação, em intervalos pré-programados e em tempo real de forma a permitir: (...) A CONTRATANTE fornecerá à CONTRATADA, o layout dos Arquivos de Dados de Infrações, necessários a geração dos Autos de Infração de Trânsito (AIT) eletrônicos, de acordo com as determinações do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN). As imagens originais digitais, vindas dos equipamentos de campo, sofrerão análise e validação para a produção dos AIT eletrônicos. (...) 6
Serão analisadas em uma ou mais etapas todas as imagens
geradas pelos equipamentos de campo e as imagens consistentes serão utilizadas para a elaboração dos AIT eletrônicos correspondentes. (...) A Central de Processamento de Imagens/Autos de Infrações e Jari proposta deverá possuir sistema para viabilizar a execução dos serviços de gerenciamento, administração e processamento de autos de infração, contemplando a validação e consistência dos autos de infração. (...) D) Do Sistema de Gerenciamento de Autos de Infração O Sistema de Gerenciamento dos autos de infração de trânsito deverá contemplar, no mínimo, as seguintes funcionalidades: 1. Autuação com consulta ao Cadastro de Proprietário de Veículos; 2. Consolidação dos autos de infração de trânsito em uma única fase de digitação; 3. Possuir rotinas de procedimento e processamento da consistência dos Autos de Infração; 4. Rotinas que permitam a manutenção e atualização do Cadastro de Proprietários de Veículos; 5. Possibilitar a correção de erros de digitação de Autos de Infração, de acordo com critérios estabelecidos pela CONTRATANTE; 6. Cadastro de usuários do sistema; 7. Restrição às operações pelo nível de acesso do usuário; 8. Registro de todas as operações efetuadas no sistema pelos usuários; 9. Segurança do sistema e de acesso aos dados por software. E) Atividades de Processamento As atividades de processamento das informações geradas pelos equipamentos eletrônicos deverão ocorrer de forma totalmente integrada na Central de Processamento de Imagens/Autos de Infrações e Jari. K) Cobrança de multas de veículos do Município, contemplando: 1. cobrança de débitos de taxas e multas em aberto quando do licenciamento ou transferência de propriedade de veículos registrados no Estado, bem como o repasse e transferência dos valores provenientes desta cobrança, de acordo com critérios estabelecidos pelo Município; 2. atualização de dados e informações sobre todas as penalidades aplicadas ou multas que tenham sido pagas ou 7
recorridas em primeira ou segunda instância, ou que tenham
sido canceladas; (...) L) Suporte à Defesa Prévia e JARI, com ênfase em: 1. controle de andamento de processos e geração de relatórios; 2. registro de resultados de julgamentos; 3. relatório de recursos interpostos fora do prazo; 4. elaboração de ata e respectiva súmula de cada reunião; 5. relatórios gerenciais de apoio à atividade. M) Processamento de arrecadação, contemplando: 1. cobrança bancária, via boletos bancários, e recepção de pagamento via home banking; 2. baixa de multas pagas; 3. relatórios de cobranças; 4. relatório indicativo de pagamentos em duplicidade e/ou pagamentos efetuados para multas com recursos deferidos; 5. relatórios de multas vencidas e vincendas; 6. relatórios de arrecadação por banco, com os totais arrecadados num período, mostrando eventuais diferenças, e por agência, detalhando cada multa paga, com diferenças ocorridas; 7. relatórios com valores a arrecadar; 8. emissão de extrato/recibo/compensação bancária com os dados das multas a serem pagas, permitindo a cobrança bancária através de compensação de acordo com padrões FEBRABAN - Federação Brasileira de Bancos; 9. relatórios diversos de arrecadação.
A conceituação do Poder de Polícia pode ser encontrada no
Código Tributário Nacional, que o define da seguinte maneira:
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração
pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. (Redação dada pelo Ato Complementar nº 31, de 28.12.1966) Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, 8
tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem
abuso ou desvio de poder.
O poder de polícia, em geral, resulta em delimitações e
vedações de condutas e, ainda, em imposição de penalidade. Segundo Maria Sylvia, "o fundamento do poder de polícia é o princípio da predominância do interesse público sobre o particular, que dá à Administração posição de supremacia sobre os administrados" (Maria Sylvia Zanella di Pietro, Direito Administrativo , São Paulo, Atlas, 2006, p.144).
Segundo José Cretella Júnior, tal poder consiste no "conjunto de
poderes coercitivos exercidos in concreto pelo Estado, sobre as atividades dos administrados, através de medidas impostas a essas atividades".
Já para Hely Lopes Meirelles, "é a faculdade de que dispõe a
Administração Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades, direitos individuais, em benefício da coletividade ou do próprio Estado".
Logo, o poder de polícia limita os direitos e liberdades individuais
em prol do interesse coletivo sendo, portanto, inadmissível que o particular o exerça, sob pena de ameaça aos princípios basilares do próprio Estado Democrático de Direito, ou, no entender do eminente José Cretella Júnior "sob pena de falência virtual do Estado" (grifamos).
Importante destacar o ensinamento do professor Edimur Ferreira
Faria sobre a competência para o exercício da polícia administrativa: "... só a Administração pública direta, nas três esferas da Administração Pública, e as autarquias têm competência para exercer a polícia administrativa...". Acertadamente, inclui, este doutrinador, como competente para o exercício de tal poder, as fundações públicas por serem, hoje, verdadeiras autarquias. E completa: "As demais integrantes da Administração indireta e as concessionárias de serviços públicos não têm legitimidade para exercer a polícia administrativa". 9
O E. Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 1.717, já firmou entendimento no sentido da indelegabilidade dos poderes estatais, entre eles, o poder de polícia:
DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 58 E SEUS PARÁGRAFOS DA LEI FEDERAL Nº 9.649, DE 27.05.1998, QUE TRATAM DOS SERVIÇOS DE FISCALIZAÇÃO DE PROFISSÕES REGULAMENTADAS. 1. Estando prejudicada a Ação, quanto ao § 3º do art. 58 da Lei nº 9.649, de 27.05.1998, como já decidiu o Plenário, quando apreciou o pedido de medida cautelar, a Ação Direta é julgada procedente, quanto ao mais, declarando-se a inconstitucionalidade do "caput" e dos parágrafos 1º, 2º, 4º, 5º, 6º, 7º e 8º do mesmo art. 58. 2. Isso porque a interpretação conjugada dos artigos 5°, XIII, 22, XVI, 21, XXIV, 70, parágrafo único, 149 e 175 da Constituição Federal, leva à conclusão, no sentido da indelegabilidade, a uma entidade privada, de atividade típica de Estado, que abrange até poder de polícia, de tributar e de punir, no que concerne ao exercício de atividades profissionais regulamentadas, como ocorre com os dispositivos impugnados. 3. Decisão unânime. (ADI 1717, Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em 07/11/2002, DJ 28-03-2003 PP-00061 EMENT VOL- 02104-01 PP-00149)
Corroborando com este entendimento, de que o poder de polícia,
notadamente para a fiscalização do trânsito, é indelegável a uma entidade com personalidade jurídica de direito privado, existem várias decisões do E. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, das quais é exemplo a abaixo transcrita:
Mandado de Segurança – Infração de Trânsito – Impossibilidade
do Exercício do Poder de Polícia por Pessoa Jurídica de Direito Privado – Penalidade Aplicada por Autoridade Incompetente. Ausência de Elemento Essencial a Validade do Ato Administrativo, que Conduz a sua Nulidade. Manutenção da Sentença em Grau de Reexame Obrigatório. (Processo n. 2002.009.00435 - Sétima Câmara Cível – Relator Desembargador Caetano E. da Fonseca Costa) 10
Câmara Cível – Relator Des. Antônio César Siqueira - Julgado em 10/06/2003), e (Processo n. 2003.009.00052 – Sétima Câmara Cível – Relator Desembargador Paulo Gustavo Horta).
Logo, indiscutível que o poder de polícia é indelegável a uma
entidade privada, podendo ser exercido tão somente por pessoa jurídica de direito público interno, como destaca Sérgio Jacob Braga (Por que a BHTRANS não pode multar. Indelegabilidade do poder de polícia. Imoralidade administrativa. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1218, 1 nov. 2006. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/9106>. Acesso em: 8 mar. 2011).
A Constituição Federal atribuiu ao Município competência
concorrente para implantar política de educação para segurança do trânsito. O policiamento ostensivo de natureza punitiva compete à União (art. 21, inc. XIV) e aos estados-membros (art. 144, § 6º, CR). Implantar política de educação para a segurança do trânsito não pressupõe delegar poderes para fiscalizar e policiar, mas apenas desenvolver estratégias de forma a conscientizar os motoristas e usuários da via pública, o que tem caráter meramente educativo, verbis:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios: XII – estabelecer e implantar política de educação para segurança do trânsito.
Mesmo a previsão constitucional de criação de uma guarda pelo
município (art. 144, § 8º, CR) é taxativa e restringe sua competência unicamente à proteção patrimonial.
Logo, em que pese ser entidade integrada ao Sistema Nacional
de Trânsito e de toda previsão legal (federal e municipal) acerca da fiscalização e policiamento de trânsito pela CETTRANS, o disposto no Código de Trânsito Brasileiro, mormente o artigo 280, § 4º, não deve ser interpretado isoladamente. Dispõe o referido artigo acerca da possibilidade dos agentes da autoridade de trânsito competentes para lavratura do auto de infração serem servidores civis, estatutários ou 11
celetistas. Contudo, tal dispositivo legal não encontra consonância com os comandos emanados da Constituição da República.
Delegar ao município o poder de polícia para fiscalizar o trânsito
é uma inovação a real intenção do legislador constituinte, portanto, inconstitucional. Ademais, o que tem ocorrido é ainda mais grave, ou seja, a delegação do poder de polícia a uma empresa privada, no caso, a FISCAL TECNOLOGIA, o que faz aumentar a insegurança jurídica quanto aos atos praticados.
Ora, a Administração pública compreende dois fenômenos: a
descentralização administrativa e a desconcentração administrativa. O primeiro fenômeno consiste, nos dizeres de Maria Sylvia Di Pietro, na distribuição de competência de uma para outra pessoa, seja jurídica, seja física. O segundo, para a mesma autora, refere-se à distribuição interna de competência. Para o professor Edimur Faria, "não pressupõe criação de pessoa jurídica, mas a repartição de competência ou poder entre órgãos da mesma entidade centralizada".
Assim, por meio da descentralização administrativa, cria-se uma
pessoa jurídica a qual comporá a Administração Pública Indireta, integrada por entes públicos dotados de personalidade jurídica própria, tal como ocorre com as autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas.
Contudo, para fiscalizar o trânsito, que integra as questões de
segurança pública, e ter competência para autuar os motoristas e veículos infratores, torna-se necessário delegar o poder de polícia àquelas sociedades, o que traduz dentre outras ilegalidades, um privilégio, em indubitável afronta à Constituição Federal, consoante igualmente já reconheceu o E. Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO POPULAR - LICITAÇÃO -
TERCEIRIZAÇÃO DO MONITORAMENTO ELETRÔNICO DAS NORMAS DE TRÂNSITO COM A EMISSÃO DE AUTO DE INFRAÇÃO – DELEGAÇÃO DE PODER DE POLÍCIA CARACTERIZADA – CONTRAPRESTAÇÃO PROPORCIONAL AO NÚMERO DE INFRAÇÕES AUTUADAS – VIOLAÇÃO DO 12
ARTIGO 320 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO E DOS
PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E MORALIDADE ADMINISTRATIVA - DECLARAÇÃO DE NULIDADE DO CERTAME E DOS AUTOS DE INFRAÇÃO GERADOS - DEVOLUÇÃO AOS ADMINISTRADOS DOS VALORES DAS MULTAS - IMPOSSIBILIDADE – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. A licitação que visa terceirizar o serviço de monitoramento eletrônico das normas de Trânsito, incluindo o processamento e a geração de AITs - Auto de Infração de Trânsito bem como a instrumentalização da defesa prévia, opera ilegítima delegação de atividade própria do poder de polícia do Município. A contraprestação que tem por base de cálculo o número de infrações apuradas nos equipamentos tecnológicos fere os princípios da razoabilidade, da legalidade e da moralidade administrativa, pois desvirtua a norma do artigo 320 do Código de Trânsito Brasileiro e ocasiona o indevido enriquecimento de uma entidade privada em detrimento do regular emprego do dinheiro público em obras e ações de interesse social. Conquanto declarada a nulidade dos autos de infração, a condenação do Município na devolução dos valores pagos é medida que se desvia do objetivo da Ação Popular de restituir ao ente público o patrimônio diminuído. (TJ/MT, 1ª C. Cív., Recurso de Apelação Cível nº 59005/2006 - Classe II - 19 – Comarca da Capital, Rel. Des. Rubens de Oliveira Santos Filho, j. 12/03/2007, Município de Cuiabá X Sérgio Ricardo de Almeida, unânime, disponível em <http://www.tjmt.jus.br/servicos/jurisprudencia/ViewAcordao.aspx ?key=f4f8d501-9c1b-421a-a081-02739c100123&render=1>, acesso em 08/03/2011).
Assim, insustentável a delegação de poder de polícia
representado pela licitação objeto da presente, de modo que o ato deve ser declarado nulo, para que não produza qualquer efeito.
DA OFENSA AO PRINCÍPIO DA MORALIDADE
ADMINISTRATIVA.
Outro motivo que obsta a possibilidade da segunda Ré autuar
motoristas e veículos por infrações cometidas decorre da difícil sincronização da 13
função social daquela empresa e o Princípio da Moralidade, tendo em vista sua
constituição sob a forma de empresa privada, cujo fim é a persecução do lucro.
Não parece possível a coexistência dos princípios norteadores
da administração pública, previstos no artigo 37 da Carta Magna, às exigências de um mercado especulativo, que gira em função do capital e do lucro. Apesar do mercado ser regulado por normas e ter suas entidades fiscalizadoras (CADE, OMC, etc), tais diretrizes são frágeis diante de negociações que envolvem alto capital.
Destaca-se que a segunda Ré está recebendo mensalmente a
quantia de R$ 180.084,18 (cento e oitenta mil, oitenta e quatro reais e dezoito centavos) para autuar e fiscalizar os motoristas cascavelenses, sendo que no período total do contrato, ou seja, 36 (trinta e seis) meses, terá recebido a considerável soma de R$ 6.483.030,48 (seis milhões, quatrocentos e oitenta e três mil, trinta reais e quarenta e oito centavos), o que por certo terá que ser custeado com as multas pagas pela população, mesmo que indiretamente, repita-se.
Ora, uma sociedade empresária particular, que vise o lucro e
possa exercer o poder de polícia, aplicará tantas multas quantas bastem para enriquecer seus cofres e aumentar indiscriminadamente seu ativo. Tal fato contribui para o surgimento da famigerada indústria da multa, tantas vezes denunciada nos meios de comunicação e que aos poucos os cascavelenses vêm sentindo na pele.
A imensa capacidade arrecadatória da CETTRANS, decorrente
da delegação de seu poder de polícia, não se coaduna com os princípios norteadores a que deve se submeter a administração pública, padecendo de moralidade e legalidade o exercício de fiscalização do trânsito pela FISCAL TECNOLOGIA.
Flagrantes, assim, a violação ao princípio da moralidade
administrativa e a ocorrência de grave lesão ao erário, já que a terceirização na forma licitada causa o indevido enriquecimento de uma entidade privada em detrimento do regular emprego do dinheiro público em obras e ações de interesse social. 14
Na lição de Hely Lopes da Silva Meirelles, “os direitos pleiteáveis
na ação popular são de caráter cívico-administrativo, tendentes a repor a Administração nos limites da legalidade e a restaurar o patrimônio público de desfalque sofrido” (In Mandado de Segurança, ed. Malheiros, São Paulo - 2003, p. 131).
A despeito da remuneração da empresa privada não se dar pelo
número de infrações, é evidente que o valor arrecadado com as multas está servindo para as despesas com aquela, de modo que se está utilizando o dinheiro das multas de modo desvirtuado, que atinge aludido princípio.
A nulidade decorre também da ofensa aos princípios da
finalidade e da moralidade administrativa, já que “os serviços públicos hão de vislumbrar o interesse coletivo, seja ele próximo ou remoto” (Carvalho Filho). Para José Afonso, “o ato administrativo só é válido quando atende o seu fim legal, ou seja, o fim submetido à lei. Logo, o fim já está sujeito ao princípio da legalidade, tanto que é sempre vinculado”. Hely Lopes Meirelles destaca-o deste, para lhe dar consideração especial, para mostrar que ele “impõe que o administrador público só pratique o ato para o seu fim legal’, que a finalidade é inafastável do interesse público, de sorte que o administrador tem que praticar o ato com finalidade pública, sob pena de desvio de finalidade, uma das mais insidiosas modalidades de abuso de poder”.
Além disso, ressalta o mesmo doutrinador:
(...) a Constituição quer que a imoralidade administrativa em si
seja fundamento de nulidade do ato viciado. A idéia subjacente ao princípio é a de que a moralidade administrativa não é moralidade comum, mas moralidade jurídica. Essa consideração não significa necessariamente que o ato legal seja honesto (...) A lei pode ser cumprida moralmente ou imoralmente. Quando sua execução é feita, por exemplo, com intuito de prejudicar alguém deliberadamente, ou com o intuito de favorecer alguém, por certo que se está produzindo um ato formalmente legal, mas materialmente comprometido com a moralidade administrativa. (obra e autor citados, p. 668) 15
É cristalino que a forma de remuneração prevista no contrato
favorece deliberadamente a CETTRANS e a segunda Ré, que obteriam lucros e receitas cada vez maiores à medida que os administrados, donos e usuários de veículos, tomassem conhecimento do – e passassem a pagar pelo – inusitado e contínuo método pedagógico adotado para educá-los.
O contrato priorizou o lucro de empresa privada e o aumento da
arrecadação da CETTRANS, em detrimento do interesse público primário, da coletividade. A finalidade transparente e buscada pelo legislador, quando positivou a admissão da utilização de equipamentos eletrônicos como meio de prova da existência material de infrações de trânsito, não era o lucro privado ou o aumento da receita pública, mas, sim, “facilitar suas comprovações para desestimular novas ocorrências, diminuir acidentes, melhorar a qualidade do trânsito nas vias públicas e, com isso, a vida das pessoas”, como já destacou o Ministro HAMILTON CARVALHIDO, em decisão monocrática perante o E. STJ (RESP 1.107.151/MT, d. 05/10/2010).
O Min. Celso de Mello, no julgamento da ADI-MC n. 769/MA,
registrou que a Ação Popular destina-se “a preservar, em função de seu amplo espectro de atuação jurídico-processual, a intangibilidade do patrimônio público e a integridade do princípio da moralidade administrativa (CF, art. 5., LXXIII).” (ADI-MC 769/MA, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 22/04/1993).
Depois, a decisão do Recurso Extraordinário n. 170768/SP
restou assim ementada:
“AÇÃO POPULAR. ABERTURA DE CONTA EM NOME DE
PARTICULAR PARA MOVIMENTAR RECURSOS PÚBLICOS. PATRIMÔNIO MATERIAL DO PODER PÚBLICO. MORALIDADE ADMINISTRATIVA. ART. 5º, INC. LXXIII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. O entendimento sufragado pelo acórdão recorrido no sentido de que, para o cabimento da ação popular, basta a ilegalidade do ato administrativo a invalidar, por contrariar normas específicas que regem a sua prática ou por se desviar dos princípios que norteiam a Administração Pública, dispensável a demonstração de prejuízo material aos cofres 16
públicos, não é ofensivo ao inc. LXXIII do art. 5º da Constituição
Federal, norma esta que abarca não só o patrimônio material do Poder Público, como também o patrimônio moral, o cultural e o histórico. (....) Recurso nãoconhecido. (RE 170768/SP, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 26.03.1999).
A esse respeito, confira-se ainda a lição de Rodolfo de Camargo
Mancuso:
A moralidade administrativa pode e deve ser considerada uma
categoria jurídica autônoma, significando dizer que um ato administrativo pode ser: a) legalmente formal; b) não lesivo ao erário; mas, inobstante, ser moralmente insustentável. Nesse caso, será sindicável em ação popular. Aliás, como argutamente observa José Afonso da Silva, a se exigir que um ato administrativo imoral seja também ilegal, isso irá ‘liquidar com a intenção do legislador constituinte de contemplar a moralidade administrativa como objeto de proteção desse remédio. (In Ação Popular, RT, São Paulo - 2003, p. 112).
Assim, sem que haja impedimento de apreciação da violação do
princípio da moralidade em sede de ação popular, deve ser declarada a nulidade da licitação levada à cabo pela CETTRANS, posto que prestigia o lucro de empresa privada em detrimento do interesse público ou do objetivo de fiscalização do trânsito.
DA VIOLAÇÃO AO ARTIGO 320 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO
BRASILEIRO.
Dispõe o art. 320 do Código de Trânsito Brasileiro:
Art. 320. A receita arrecadada com a cobrança das multas de
trânsito será aplicada, exclusivamente, em sinalização, engenharia de tráfego, de campo, policiamento, fiscalização e educação de trânsito.
Fica claro que a remuneração da empresa vencedora da
licitação (ora segunda Ré) se dará, ainda que indiretamente, pelo valor arrecadado dos infratores autuados, no que implica igualmente em violação ao apontado comando 17
legal, com claro desvirtuamento do objeto arrecadatório disciplinado pelo Código de
Trânsito Brasileiro, já que tal quantia não deverá ser utilizada para remunerar empresa privada pela locação dos equipamentos.
DO PEDIDO LIMINAR.
O art. 5º, § 4º, da Lei da Ação Popular, admite a suspensão
liminar do ato lesivo impugnado, na defesa do patrimônio público, tal como se apresenta na presente, mormente pela matéria exclusivamente de direito ora enfrentada, pelo que requer seja liminarmente suspensa a eficácia do contrato de locação de solução integrada firmada com a segunda Ré, para que a CETTRANS se abstenha de emitir autuações de trânsito em decorrência dos equipamentos instalados, bem como que se abstenha de impor qualquer penalidade em face dos infratores, até o julgamento do feito, de modo a não agravar os danos já sofridos pela população em razão das ilegalidades apontadas.
Aliás, a concessão da liminar atende não apenas aos interesses
da coletividade, mas também do próprio erário, na medida em que poderá haver posterior devolução dos valores arrecadados (vide próximo pedido), o que pode onerar ainda mais os cofres públicos.
DA DEVOLUÇÃO DO VALOR QUE TENHA SIDO RECEBIDO
PELA SEGUNDA RÉ.
Com o esperado reconhecimento da nulidade do contrato
firmado com a segunda Ré, e não tendo aquele gerado qualquer efeito jurídico, deverá esta ser condenada a devolver à CETTRANS os valores que já tiver recebido pela prestação do serviço, a ser apurado em liquidação de sentença.
DA DEVOLUÇÃO DOS VALORES ARRECADADOS COM AS
MULTAS DE TRÂNSITO E DA EXCLUSÃO DA PONTUAÇÃO DOS MOTORISTAS APENADOS. 18
Com a esperada declaração de nulidade do contrato
administrativo firmado com a segunda Ré, as respectivas autuações lavradas pelo uso dos equipamentos eletrônicos estarão fadadas a não produzir quaisquer efeitos, inclusive quanto aos aspectos pecuniários e ao lançamento da pontuação no prontuário dos condutores, de modo que a CETTRANS deverá ser condenada, ainda, a devolver os valores que tenham sido arrecadados a tal título, com incidência de correção monetária desde o recolhimento e juros moratórios a contar da citação.
Além disso, eventuais pontos lançados nos prontuários dos
condutores deverão ser excluídos, seja pela CETTRANS seja pelo próprio DEPARTAMENTO DE TRÂNSITO DO ESTADO DO PARANÁ – DETRAN/PR, de modo a não penalizar ilicitamente os motoristas supostamente infratores.
DO PEDIDO.
ANTE O EXPOSTO, requerem seja concedida a liminar, initio
litis et inaudita altera parte, com a finalidade de determinar a imediata suspensão do contrato firmado pela CETTRANS com a segunda Ré, e, bem como, que se abstenham aquelas de lavrar quaisquer autuações de trânsito constatadas pelos equipamentos objeto da locação, até o julgamento da lide.
Ato contínuo, requerem a citação dos Réus para que apresentem
contestação no prazo de 20 (vinte) das, e, ainda, a intimação do representante do Ministério Público para que acompanhe o feito.
Ao final, requerem seja a ação popular julgada procedente,
para que seja:
a) declarada a nulidade do contrato firmado pela CETTRANS
com a segunda Ré, destinado à prestação de serviços de monitoramento eletrônico no perímetro urbano de Cascavel para a detecção de infrações de trânsito, ante o inconstitucional delegação do poder de polícia pelo agente da autoridade de trânsito, a violação ao princípio da moralidade e o descumprimento do art. 320 do CTB; 19
b) decretada a nulidade de todos os autos de infrações de
trânsito elaborados com base nas informações dos dispositivos eletrônicos de monitoramento instalados e operados pela segunda Ré, prestadora do serviço;
c) determinada a repetição individualizada de todos os valores
porventura pagos por cada um daqueles que foram multados, desde que a o auto de infração tenha por origem informação de algum dos diversos equipamentos eletrônicos instalados nesta Urbe e operados pela segunda Ré, corrigidos monetariamente e com juros de mora na forma do art. 406 do Código Civil;
d) determinada a exclusão, pelo DETRAN/PR, de todos os
registros de pontuação nas Carteiras Nacionais de Habilitação de cada um dos supostos Infratores, se porventura tenha sido cumprido o disposto no art. 259 do CTB, desde que tenham sido autuados pelos dispositivos eletrônicos que foram instalados pela segunda Ré; e
e) condenada a segunda Ré FISCAL TECNOLOGIA E
AUTOMAÇÃO LTDA. a devolver à CETTRANS o valor que tenha recebido pela prestação do serviço a que foi contratada.
Requerem, ainda, sejam as Rés condenadas ao pagamento das
custas judiciais, despesas processuais e honorários advocatícios, em valor a ser arbitrado.
Consoante art. 5º, inc. LXXIII, da Constituição da República, e
art. 10, da Lei da Ação Popular, informam que os Autores são isentos do recolhimento de custas processuais (REsp 1098028/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 09/02/2010, DJe 02/03/2010; AgRg no Ag 1103385/MG, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/04/2009, DJe 08/05/2009).
Dá-se à causa, para efeitos de alçada, a importância de R$
6.483.030,48 (seis milhões, quatrocentos e oitenta e três mil e trinta reais e quarenta e 20
oito centavos), correspondente ao valor da proposta vencedora apresentada pela