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ADUBAÇÃO NITROGENADA NA AVEIA PRETA COMO CULTURA DE

COBERTURA NA DEPRESSÃO CENTRAL GAÚCHA

O. B. Rossato; ; J. A. A. Acosta; T. J. C. Amado; A. Santi; O.G.R. Santi


Departamento de Ciência do Solo, Universidade Federal de Santa Maria, 97105-900
*e-mail: brotavio@mail.ufsm.br
Projeto financiando pelo FAPERGS

No Rio Grande do Sul, atualmente, cultiva-se mais de 5 milhões de hectares, com


culturas econômicas de verão sob o Sistema Plantio Direto, sendo que após adoção deste
sistema, o uso de culturas de cobertura de inverno que produzam elevadas quantidades de
resíduos tem sido uma busca constante por parte dos produtores. Neste sentido, a aveia preta
tem se destacado como uma alternativa eficiente em aportar resíduos ao solo em quantidade e
qualidade para proporcionar boa cobertura para a cultura em sucessão.
Atualmente, esta gramínea é a principal cultura de cobertura hibernal, ocupando
extensas áreas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná (Pötker & Roman, 1994). Entre
as principais vantagens do cultivo da aveia preta como cultura de cobertura destacam-se:
redução da erosão e do escoamento superficial, o aumento da infiltração de água e do
conteúdo de carbono orgânico no solo, a ciclagem de nutrientes, a mobilização de cátions no
perfil, o controle de inços, e outros benefícios ao solo e às culturas comerciais cultivadas em
sucessão (Debarba & Amado, 1997; Bayer & Mielniczuk, 1997; Spagnollo, 2000).
A aveia preta quando utilizada, na maioria das vezes, é sub-adubada ou não recebe
adubação. Neste caso, a sua nutrição baseia-se na adubação residual da cultura econômica.
Este manejo pode limitar o seu desenvolvimento e, por conseqüência, influenciar
negativamente todo o sistema plantio direto. Grande parte dos benefícios ao solo advindo do
cultivo da aveia preta é dependente dos resíduos produzidos. O nitrogênio (N) é o nutriente
que tem maior efeito no crescimento da aveia e o que, freqüentemente, mais limita a sua
produção de fitomassa. A adubação nitrogenada na aveia preta pode ser uma das alternativas
para produzir resíduos com qualidade e quantidade, uma vez que essa gramínea possui
elevada capacidade de extração e de acúmulo de N, podendo alcançar, em condições
favoráveis, até 150 kg ha-1 na parte aérea e raízes (Derpsch et al., 1985).
Com o objetivo de avaliar o efeito da adubação nitrogenada na aveia preta como
cultura de cobertura, esta pesquisa tem-se desenvolvido por mais de 5 anos, sendo este
trabalho fruto da sucessão de resultados ao longo destes anos. As hipóteses que fundamentam
este trabalho são: a) a elevada disponibilidade de N para a aveia preta, aumentaria a
quantidade de N absorvido por esta cultura, reduzindo a relação C/N dos resíduos culturais,
tornando-os passíveis de rápida decomposição e liberação de N ao solo. Neste caso, a
liberação de N pela aveia ocorreria de forma gradual coincidindo com a demanda do nutriente
pela cultura do milho; b) o parcelamento da adubação nitrogenada entre a cultura da aveia e
do milho poderia contribuir para o aumento da eficiência da adubação nitrogenada que
manejada nas condições climáticas de inverno (temperaturas mais amenas e umidade
freqüente) poderia reduzir perdas por volatilização na aplicação, aliada elevada população de
plantas de aveia, muito superior a do milho, que também favoreceria a maior absorção de N.
O trabalho foi conduzido na área experimental do Departamento de Solos da UFSM,
RS, na Depressão Central do Estado, em um Argissolo Vermelho Distrófico arênico
(Embrapa, 1999). Teve início em junho de 1998, e foi conduzido por cinco anos consecutivos
em Sistema Plantio Direto, com sucessão aveia/milho. O clima da região é subtropical úmido,
tipo Cfa 2, conforme classificação de Köppen (Moreno, 1961). A temperatura média das
mínimas do mês mais frio é 9,3º C e a temperatura média das máximas do mês mais quente é
31,8º C, com precipitação média anual de 1769 mm.
O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso com treze tratamentos e quatro
repetições. As parcelas experimentais mediam 25 m2 (5 x 5 m). A área útil considerada nas
avaliações realizadas no ciclo da aveia correspondia a 16 m2 e durante o ciclo do milho era de
14,4 m2. Os tratamentos antecederam a cultura do milho e constavam de plantas de cobertura
de inverno (aveia preta – Avena strigosa e ervilhaca – Vicia sativa) e pousio, como segue: dez
tratamentos com aveia preta, dos quais sete foram aplicadas as seguintes doses de nitrogênio
(na forma de uréia aplicada a lanço na superfície do solo): 0, 40, 80, 120, 160, 200, 240 kg ha-
1
e três com a adubação parcelada na aveia: 0, 40, 80 kg ha-1 e no milho: 160, 120, 80 kg ha-1,
respectivamente. Foram utilizados como tratamentos de referência a ervilhaca (leguminosa) e
dois pousios de inverno, onde apenas um recebeu adubação nitrogenada no milho (160 kg de
N ha-1). A aveia preta foi semeada com espaçamento de 17 cm entre linhas, sempre no mês de
maio. A quantidade de semente utilizada foi de 80 kg de sementes ha-1. Para a adubação de P
e K foi aplicado a quantidade recomendada pela CFS-RS/SC (1995), conforme análise de solo
anual. A avaliação da aveia ocorre sempre no mês de setembro, em que a mesma apresenta-se
em fase de grão leitoso. Para a determinação da matéria seca da aveia preta foram realizadas
duas amostragens ao acaso de 0,49 m2 (0,7 x 0,7 m) por parcela, antes do manejo da aveia. A
parte aérea das culturas foi coletada e secas em estufa a 65º C até peso constante. As amostras
foram moídas em triturador de forrageiras; subamostradas e moídas novamente em um
moinho tipo Willey equipado com peneira 40 mesh. O nitrogênio e o carbono da fitomassa da
aveia foram extraídos e determinados segundo a metodologia descrita em Tedesco et al.
(1995). Os dados referentes à produção de matéria seca; acúmulo de nitrogênio; relações C/N
e reflexos na produtividade de grão de milho foram analisados através de análise de regressão
em função das doses de N e quando comparados os tratamentos entre si foi realizada análise
de variância e teste de Duncan a nível 5% de erro.
A produção de matéria seca da aveia, na média de cinco anos, apresentou resposta
crescente à aplicação de N, com ponto de máxima eficiência técnica (MET) de 180,5 kg ha-1
(Figura 1). No entanto, a equação quadrática, ajustada aos dados experimentais, indica que as
maiores respostas quanto a relação N aplicado e produção de MS foram encontradas nas doses
iniciais e decresceram com doses superiores a 120 kg de N ha-1. Esses valores concordam com
a faixa de adubação de nitrogênio recomendada pela CFS-RS/SC (1995), de 140 a 180 kg ha-
1
, para solos com menos de 2,5% de matéria orgânica, como o solo onde esta sendo conduzido
o experimento. Na ausência da adubação nitrogenada, a produção de matéria seca alcançou
apenas 52 % da máxima eficiência técnica. Este resultado evidencia que o N fornecido pela
mineralização da MO desse solo não foi suficiente para, de forma isolada, maximizar a
produção de matéria seca da aveia.

Figura 1. Curva de produção de matéria seca em Figura 2. Quantidade de N acumulada e relação C/N
função das doses de N aplicadas na aveia preta, na da parte aérea da aveia preta em função das doses de
média dos anos 1998 a 2002. N aplicadas, na média dos anos de 1998 a 2001.
A quantidade de nitrogênio acumulado pela aveia preta aumentou linearmente com as
doses de N aplicadas (Figura 2) e, correspondeu a um acréscimo de aproximadamente 320 %,
quando comparado ao tratamento sem a aplicação de N. Assim, diferentemente da produção
da matéria seca, houve resposta no acúmulo de N na fitomassa da aveia até a maior dose de N
aplicada, indicando possibilidade de resposta a doses ainda maiores do que 240 kg ha-1. A
quantidade de N estocada na parte aérea da aveia preta alcançou, aproximadamente, 111 kg
ha-1 para a maior dose de N avaliada. Com base na equação ajustada aos dados experimentais,
a recuperação aparente do N aplicado, pela parte aérea da aveia foi de 32%. A fonte de N
(uréia) e a forma de aplicação (a lanço) podem ter favorecido a ocorrência de elevadas perdas
por volatilização, conforme determinado por Lara Cabezas et al. (1997a;b). Este fato
justificaria, pelo menos em parte, a baixa recuperação de N verificada nesse experimento.
Além disso, parte do N aplicado pode ter sido imobilizado pela população microbiana, uma
vez que este solo possui baixo teor de MO, aliado à presença de resíduos de milho, de alta
relação C/N, condições estas que favorecem esse processo.
O aumento da dose de N aplicado na aveia foi inversamente correlacionada com a
relação C/N dos resíduos (Figura 2). Este fato indica que a medida que o requerimento de N
pela cultura é atendido, verifica-se incremento da concentração deste nutriente no tecido,
promovendo a redução da relação C/N. Esta redução pode alterar a dinâmica da
decomposição e da liberação de N dos resíduos da aveia, pois a relação C/N é considerada um
dos principais fatores que governam estes processos (Tian et al., 1992; Mary et al., 1996).
A equação linear ajustada aos dados experimentais, na média do período estudado,
indica que a cada 9 kg ha-1 de N aplicado houve uma redução de, aproximadamente, uma
unidade na relação C/N da aveia (Figura 2). A relação C/N dessa gramínea foi reduzida em
52% na maior dose de N aplicada, em relação àquela obtida na ausência de adubação
nitrogenada. O decréscimo da relação C/N pode aumentar o potencial da aveia em fornecer N
para a cultura em sucessão. Além disso, o decréscimo dessa relação pode ser importante
estratégia na melhoria da sincronia entre a disponibilização de nutrientes pelos resíduos com a
demanda da cultura em sucessão, aumentando a eficiência da ciclagem de nutrientes.

(a) (b)

Figura 3. Rendimento de grão de milho nos diferentes manejos de adubação nitrogenada (a) e rendimento de
grão de milho em função das doses de N na aveia (b), na média dos anos de 1999 a 2001. Médias seguidas
pela mesma letra minúscula não diferem entre si pelo teste de Duncan a nível de 5% de erro (CV.12,1 %).
Quanto ao parcelamento da adubação nitrogenada entre a cultura da aveia e o milho,
verifica-se o baixo rendimento quando se retira parte da adubação em cobertura do milho para
por na aveia. Apesar da adubação nitrogenada na aveia aumentar a produção de matéria seca e
nutrientes ciclados, não houve ganhos no rendimentos de grãos de milho cultivado em
sucessão (Figura 3a). Por outro lado, o tratamento com aveia como cobertura invernal, com
adubação nitrogenada no milho (160 kg de N ha-1) foi superior, na média dos três anos, em
662 kg de grão em relação ao pousio adubado com a mesma quantidade de N. Essa diferença
demonstra o efeito da cobertura do solo no aumento do rendimento de grão, sendo
provavelmente o efeito resultante da ciclagem de nutrientes e proteção do solo proporcionado
pela palhada de aveia. Os resultados apresentados neste trabalho indicam o elevado potencial
da aveia preta como cultura de cobertura de inverno, quando o requerimento de N é atendido
porém a utilização de nitrogênio na aveia preta visando fornecimento deste nutriente ao milho
mostrou-se ser uma prática de baixa eficiência (Figura 3b) e viabilidade econômica quando
comparada à aplicação de nitrogênio na cultura econômica.

Referências Bibliográficas

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