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Glauco Medeiros Comin1, Aderbal Silva Aguiar Jr 2, Cláudio Búrigo de Carvalho Filho3.
1
Graduando em Fisioterapia da UNISUL, campus Tubarão.
2
Professor do curso de Fisioterapia e Pesquisador do Núcleo de Ciências do Movimento da UNISUL, campus Tubarão.
3
Professor do curso de Medicina e Pesquisador do Núcleo de Ciências do Movimento da UNISUL, campus Tubarão.
Endereço para correspondência: Prof. Aderbal Silva Aguiar Júnior, Curso de Fisioterapia, Av José Acácio Moreira 787 Dehon
88.704-900. Tubarão-SC. E-mail: aderbaljr@unisul.br
RESUMO
INTRODUÇÃO A dor cervical é um problema ortopédico e reumatológico comum, geralmente tratada de maneira
conservadora, como por exemplo a terapia manual, sendo esta contra-indicada no caso de insuficiência da artéria vertebral.
OBJETIVOS O presente trabalho estabeleceu como objetivo principal a caracterização da espondilose cervical quanto às
relações dos aspectos funcionais, clínicos, ultrasonográficos, psicológicos e estilo de vida. MATERIAIS E MÉTODOS
Realizamos um ensaio clínico diagnóstico inter-sujeito e intra-sujeito, com a amostra de idade 51,9±7,9 anos, sendo 15
mulheres no grupo controle e 15 mulheres no grupo experimental, caracterizado clinicamente por espondilose cervical.
Avaliamos a dor e suas características, escala de depressão e ansiedade, estilo de vida sedentário e tabagismo, e velocidade
de pico sistólico cm×s-1 (VPS) das artérias vertebrais (AVs). Utilizamos testes ANOVA e distribuição de Student (p=5%).
RESULTADOS Encontramos associação no grupo espondilose da depressão, ansiedade e sedentarismo com a presença de
espondilose, sem associação ao tabagismo. O ultra-som eco-doppler das AVs do grupo espondilose não apresentou
significância estatística da VPS nas posições de flexão,extensão, inclinação lateral e rotação cervical, em relação ao grupo
controle e a posição neutra, a exceção da artéria vertebral direita na flexão apresentando sinais de estenose, com 56,7±22,4
cm×s-1. CONCLUSÃO A cervicalgia tem relevante patologia psicológica e anatômica, sem alterações importantes na VPA ao
ultra-som eco-doppler, permitindo o manuseio conservador seguro.
SUMMARY
INTRODUCTION Cervical pain is a common ortophaedic and reumatologic disease, generally treated in a conservative way, as
for example the manual therapy, being this contraindicated in the case of vertebral artery insufficience. MAINS The present
study established as a main objective the characterization of cervical spondylosis related to the relations of functional, clinical,
ultrassonographics, psychological the aspects and style of life. MATERIALS AND METHODS We carryed out a clinical
diagnostic trial inter-citizen and intra-citizen, with the sample of age 51,9±7,9, being 15 women in the group has controlled and
15 women in the experimental group characterized for clinical cervical spondylosis. We evaluate pain and its characteristics,
scale of depression and anxiety, sedentary style of life and smoking, and sistolic peak speed cm×s-1 (SPS) of the vertebral
artery (VAs). We use tests ANOVA and distribution of Student (p=5%). RESULTS We found association in the espondilose
group with depression, anxiety and sedentarism, without association to the smoking. Ultrassom echo-doppler of the AVs of the
group espondilose did not present significance statistics of the SPS in the positions of flexion, extension, lateral inclination and
cervical rotation, in relation to the controlled group and the neutral position, except the right vertebral artery in the flexion
presenting signals of estenosis, with 56,7×22,4 cm×s-1. CONCLUSION The neck pain has psychological and anatomical
pathology, without important alterations in the SPS to ultrassom echo-doppler, allowing safe conservative manuscript.
MATERIAIS E MÉTODOS
A população do estudo foi composta de seres humanos de meia idade e adultos alfabetizados, do gênero feminino,
da região da Associação dos Municípios da Região da Laguna – Santa Catarina (AMUREL).
A amostra teve seleção não-probabilística, de tamanho 30 (15 grupo controle / 15 grupo experimental), com idade do
grupo controle de 52,6±7,5 anos e do grupo experimental de 51,1±8,5 anos. Baseando-se nos ensaios clínicos, utilizamos os
seguintes critérios de inclusão do grupo controle:
• assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (anexo F);
• ausência de história de dor / parestesia cervical e,
• teste de Compressão ou Jackson negativo.
Para critério de inclusão do grupo experimental abordou-se:
• assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (anexo F);
• a ordem dos nomes presentes na lista de espera de ortopedia (coluna) da Clínica Escola de Fisioterapia da
Universidade do Sul do Estado de Santa Catarina – UNISUL, campus Tubarão;
• seres humanos com diagnóstico clínico fechado de espondilose cervical;
• presença de dor / parestesia cervical, irradiada ou não para membros superiores e,
• teste de Compressão ou Jackson positivo caracterizando uma amostra do tipo estratificada.
Foram critérios de exclusão do estudo:
• seres humanos com diagnóstico clínico de Síndrome do desfiladeiro torácico;
• teste de Ross positivo;
• teste de abdução de Wright positivo;
• teste de Compressão ou Jackson negativos e,
• seres humanos com tumor ou doença maligna, história de fratura de coluna, doença neurológica primária e outras
condições que a critério do pesquisador, não incluam o paciente no quadro de variáveis interessantes à pesquisa.
Resultados
Tabela 1 – Depressão e Ansiedade. Análise inter-sujeito. Valores expressos em média ± desvio padrão, sendo
adimensionais.
Variável Controle Espondilose Famostral Fcrítico α
Depressão 2,2±3,2 31,1±8,6 149,4719
4,1959 0,05
Ansiedade 2,1±2,4 43,6±8,6 320,8754
Fonte: Pesquisa elaborada pelo autor, 2004.
Tabela 2 – Tabagismo e Atividade física. Análise inter-sujeito. Valores expressos em freqüência relativa.
Variável Controle Espondilose χ2amostral χ2crítico α
Fumo 27% 53% 3
3,841 0,05
Sedentarismo 47% 93% 7,7777
Fonte: Pesquisa elaborada pelo autor, 2004.
Tabela 3 – Escalas de dor
Dor Número de descritores escolhidos Índice de Dor
McGuill Sensorial 6,1 16,1
McGuill Afetivo-avaliativo 4,3 9,4
EVA 7,2
Fonte: Pesquisa elaborada pelo autor, 2004.
Tabela 4 – Ultra-sonografia intra-sujeito Eco-doppler da artéria vertebral. Variáveis descritas de acordo com a posição
da cabeça do sujeito e artéria avaliada. Os valores estão expressos em média ± desvio padrão, sendo dimensionados
×s-1.
em cm×
Velocidade de Artéria Vertebral Artéria Vertebral
t amostral t crítico α
Pico Sistólico Esquerda Direita
Neutra 46,1±11,9 47,7±2,18 0,3587
Extensão 53,8±34,4 55,6±33,4 0,4988
Flexão 48,7±22,7 56,7±22,4 1,8699 2,1447 0,05
Inclinação Lateral 44,1±23,0 42,6±17,9 -0,2634
Rotação 48,1±16,8 51,3±17,8 0,9296
Fonte: Pesquisa elaborada pelo autor, 2004.
Tabela 5 – Ultra-sonografia inter-sujeito Eco-doppler da artéria vertebral. Variáveis descritas de acordo com a posição
da cabeça do sujeito e artéria avaliada. Os valores estão expressos em média ± desvio padrão, sendo dimensionados
×s-1.
em cm×
Variável Controle Espondilose Famostral Fcrítico α
Posição neutra, artéria direita 42,1±8,3 47,7±2,18 0,8596
Posição neutra, artéria esquerda 51,9±14,0 46,1±11,9 1,4968
Inclinação lateral direita, artéria direita 45,7±12,6 42,6±17,9 0,3146
Inclinação lateral esquerda, artéria esquerda 53,7±17,6 44,1±23,0 1,6642 4,1959 0,05
Rotação lateral direita, artéria esquerda 46,1±11,5 48,1±18,8 0,1389
Rotação lateral esquerda, artéria direita 48,6±15,5 51,3±17,8 0,1885
Flexão, artéria direita 41,1±10,0 56,7±22,4 6,0953
Flexão, artéria esquerda 40,8±13,8 48,7±22,7 1,3252
Extensão, artéria direita 50,4±11,1 55,6±33,4 0,3358
Extensão, artéria esquerda 53,1±16,5 53,8±34,4 0,0044
Fonte: Pesquisa elaborada pelo autor, 2004.
Tabela 6 – Análise intra-sujeitos da ultra-sonografia Eco-doppler da artéria vertebral direita (AVD), demonstrando a
velocidade de pico sistólico (VPS) de sangue,do grupo espondilose, de acordo com a posição da cabeça do sujeito.
×s-1.
Os valores estão expressos em média e desvio padrão, sendo dimensionados em cm×
Variável AVD posição AVD neutra t amostral t crítico α
Inclinação Lateral Direita 42,6±17,9 2,4542
Flexão 56,7±22,4 1,9536
47,7±2,18 2,1447 0,05
Extensão 55,6±33,4 -2,0068
Rotação Lateral Esquerda 51,3±17,8 -1,0442
Fonte: Pesquisa elaborada pelo autor, 2004.
Tabela 7 - Análise intra-sujeitos da ultra-sonografia Eco-doppler da artéria vertebral esquerda (AVE), demonstrando a
velocidade de pico sistólico (VPS) de sangue,do grupo espondilose, de acordo com a posição da cabeça do sujeito.
×s-1.
Os valores estão expressos em média e desvio padrão, sendo dimensionados em cm×
Variável AVE posição AVE neutra t amostral t crítico α
Inclinação Lateral Esquerda 44,1±23,0 0,3835
Flexão 48,7±22,7 -0,6056
46,1±11,9 2,1447 0,05
Extensão 53,8±34,4 -1,2784
Rotação Lateral Direita 48,1±18,8 -0,4556
Fonte: Pesquisa elaborada pelo autor, 2004.
DISCUSSÃO
Luo et al (2004) e Carroll, Cassidy e Cote (2004) encontraram grandes índices de disfunção cervical, associadas ao
alto estresse, a presença de depressão e o tabagismo. Porém, Persson L. C. e Lilja A. (2001) e Vander Windt D., Croft P. e
Penninx B. (2002) encontraram baixos níveis de ansiedade e depressão em pacientes com cervicobraquialgia, quando
relacionando as queixas mais aos aspectos psicológicos, do que aos aspectos somáticos, embora nosso estudo demonstrou
que os fatores psicológicos podem ser classificados como efeito desencadeante ou de associação a espondilose cervical. O
grupo espondilose cervical apresentou maiores índices da depressão e ansiedade que o grupo controle, em relação as
variáveis dependentes da espondilose, de acordo com a tabela 1, com p = 5%, demonstrando uma diferença estatística
também observada nos gráficos 1 e 2.
Outros trabalhos também se divergem em relação a este assunto, alguns como Hughes et al (1986), Tilley (1987) e
Jorm et al (1999), confirmando a discussão presente, juntamente com Rondina, Gorayeb e Botelho (2004), que afirmam existir
associação entre ansiedade, depressão, incluindo-se outros distúrbios psicológicos e o tabagismo, que discutiremos a seguir.
Ocorre que Rondina, Gorayeb e Botelho (2004), também impossibilitam uma conclusão concreta comentando que outros
autores não confirmam essa associação, como por exemplo, Canals et al (1996) e Kick e Cooley (1997).
50,0
Escore de Depressão
40,0
Espondilose
30,0 Controle
20,0
10,0
0,0
Gráfico 1 – Depressão
Fonte: Pesquisa elaborada pelo autor, 2004.
70
Escore de Ansiedade
60
50
espondilose
40
controle
30
20
10
0
Gráfico 2 – Ansiedade
Fonte: Pesquisa elaborada pelo autor, 2004.
Quanto ao tabagismo, não encontramos dependência entre este e a espondilose cervical (p=5%), neste modelo de
estudo, conforme transparecido na tabela 2.
Tabagismo
47% Sim
53%
Não
Com relação à prática de atividade física ou não, significando “sedentarismo”, Schonstein E. et al (2003), citam
que os programas de condicionamento físico que incorporam uma abordagem cognitiva, como, por exemplo, a ansiedade e a
depressão, reduzem o número de dor cervical crônica quando comparados ao cuidado usual, ou seja, somente com objetivo de
melhorar o corpo.
Atividade Física
7%
Ativo
Sedentário
93%
No objetivo de encontrar relações entre a prática de atividade física, o aspecto psicológico e a “dor nas costas”,
Schonstein E. et al (2003), chega às mesmas conclusões de nossa pesquisa, encontrando evidência de que os programas de
condicionamento físicos que incluem uma aproximação cognitiva associada podem reduzir a dor na coluna.
Segundo Oliveira (2000), o Diagnostic and Statistical Manual IV (DSM-IV) classifica as síndromes dolorosas crônicas
entre os transtornos somatoformes, transtornos factícios e a simulação. A dor também pode ser manifestação de doença
psiquiátrica, como depressão, ansiedade e psicose, como já vimos anteriormente no grupo de pacientes com espondilose. Nos
transtornos somatoformes a dor pode fazer parte do transtorno de somatização, quando é acompanhada de sintomas
gastrointestinais, sintoma sexual e sintomas pseudoneurológicos. Quando a dor é o único sintoma, é classificada como
transtorno doloroso. Os transtornos somatoformes são considerados de natureza inconscientes e involuntários, ao contrário
dos transtornos factícios e simulação, que são conscientes e voluntários. Somatização é diagnosticada quando a pessoa
apresenta padrão de queixas somáticas múltiplas, recorrentes e importantes clinicamente, a ponto de haver necessidade de
um tratamento psicológico ou psiquiátrico. Deve haver história de dor relacionada a, pelo menos, quatro locais. Deve haver
também história de, pelo menos, dois sintomas gastrointestinais que não dor. Dor é a mais comum das formas de
apresentação de conversão. Reação de conversão (também conhecida como histeria) é caracterizada pela presença de
sintomas ou déficits afetando à função motora ou sensitiva voluntária que simulam uma condição neurológica ou outra
condição clínica geral. Os sintomas conversivos são chamados de pseudoneurológicos por estarem relacionados ao
funcionamento motor ou sensitivo voluntário.
Os sintomas motores e sensitivos conversivos são diagnosticados pela sua variabilidade e distribuição que não se
enquadram em padrões anatômicos e fisiológicos conhecidos. Estes sintomas ocorreriam porque a pessoa deseja obter algum
ganho, financeiro ou interpessoal. Os sintomas da reação de conversão são precipitados por conflitos ou outros fatores
tencionais.
O diagnóstico de reação de conversão não é feito pela simples exclusão de uma doença orgânica ou por
características de personalidade. Pode ser feito clinicamente, como em várias outras doenças médicas, diagnosticadas
exclusivamente em bases clínicas, sem exames comprobatórios. Nosso estudo demonstrou que o grupo espondilose apresenta
uma reação de conversão, como visto na tabela 1, mas este grupo também apresenta um fator anatômico de destaque, como
visto na tabela 3, pois os valores do Formulário de McGuill quantificam uma dimensão sensorial da dor associada a estímulos
reais, ou seja, a lesão na região cervical existe, causa dor e ainda está associada a ansiedade e depressão, na amostra
estudada.
Portanto Posner e Glew (2002), defendem que o sucesso do tratamento está definido numa escala multifatorial e
subjetiva, relacionada à percepção dos pacientes.
O uso do ultra-som de Doppler, de acordo com Strek et al (1998), é considerado um seguro método diagnóstico não
invasivo, que permite avaliar a influência de mudanças degenerativas na coluna cervical em distúrbios hemodinâmicos.
A circulação vértebro-basilar é complexa porque condiciona diversos fatores. Os ultra-sons permitem o estudo de
muitos de seus aspectos, tanto hemodinâmica, como anatômicamente.
Berni A., Tromba L. e Tombesi T. (1998) obtiveram vários dados da examinação de 50.000 pacientes sobre 25 anos,
sendo que os últimos 1.000 pacientes foram examinados por meio de Doppler trans-cranial. Observou-se que o fluxo da artéria
basilar (230±40 ml×min-1) é similar da carótida interna (245±50 ml×min-1). Em pacientes idosos, a ausência da artéria
comunicante posterior foi de (28%), de ambas as artérias comunicantes foi de (13%) e a ausência da artéria comunicante
anterior foi de (7%). Em pacientes normais essas variações não modificaram o fluxo da artéria basilar. Observaram também,
que quando alterada, a artéria subclávia modifica completamente a hemodinâmica da artéria vertebral. Na conclusão, a
hemodinâmica vertebral foi considerada diferente da hemodinâmica da artéria basilar e a artéria basilar pode ser considerada
como um lado do polígno de Willis, porque é uma anastomosi entre as artérias vertebrais.
Em outro estudo realizado com 25 pacientes com insuficiência vértebro-basilar Gulsun et al (2003) sugerem que para
a melhor análise das artérias, deve-se usar a ressonância magnética, porém, o mesmo, cita que a ultra-sonografia também
apresenta bons resultados, sendo mais barata na nossa opinião.
100,0
[cm/s]
Flexão
40,0
Extensão
20,0
Rotação Esquerda
0,0
artéria vertebral direita
Gráfico 5
Fonte: Pesquisa elaborada pelo autor.
100,0
Velocidade de Pico Sistólico
80,0
Neutro
Esquerda
Flexão
40,0
Extensão
20,0
Rotação Direita
0,0
artéria vertebral esquerda
Gráfico 6
Fonte: Pesquisa elaborada pelo autor.
Avaliando-se a posição neutra, nosso estudo não encontrou diferença estatística significante entre o grupo
espondilose e o grupo controle.
Os achados relativos de nossos valores estão de acordo com Pfadenhauer K. e Muller H. (1995), num estudo com 85
indivíduos normais, avaliados na posição neutra de coluna cervical, encontraram velocidade de pico sistólico de 59±17 cm×s-1,
podendo assim ser motivo de comparação sob forma de unidade de medida, no caso, centímetros por segundo (cm×s-1).
Entretanto, outros estudos como o de Strek et al (1998), demonstraram uma diminuição da velocidade do fluxo
arterial quando relacionado às mudanças degenerativas da coluna cervical.
Zaina at al (2003) também percebeu que a velocidade de pico era menor em ambas artérias vertebrais no retorno à
posição neutra em comparação à rotação, porém a diferença era significante somente para o artéria vertebral esquerda com
(p=0.005). Nas outras posições do teste durante o repouso, o estudo não encontrou nenhuma mudança na taxa de fluxo com
(p=0.349). O mesmo estudo em seus resultados comentou não existir diferença estatística entre as amplitudes totais dos
movimentos em relação à posição neutra.
Conforme observado nos gráficos 5 e 6 evidenciando as inclinações laterais do pescoço, também não encontramos
diferença estatística significante nas rotações laterais bilateral.
Um estudo feito em cadáveres, descrito por Simon et al (1994), alia-se ao nosso estudo quando afirma que as
velocidades do fluxo do sangue em ambas as artérias vertebrais não foram alteradas pela rotação principal.
Mas, em contradição, Rossiti S. e Volkmann R. (1995) e Mitchell (2003) comentam que a rotação máxima da coluna
cervical pode significativamente afetar o fluxo vertebral do sangue arterial, particularmente quando usada em pacientes sob
tratamento vascular.
Diferente das demais posições abordadas, na flexão de cabeça, nosso estudo encontrou diferença estatística entre a
velocidade de pico sistólico na artéria vertebral direita, quando comparados à mesma artéria, entre o grupo de pacientes com
espondilose cervical e o grupo controle.
Nos gráficos 5 e 6 observamos que esta diferença sugere um aumento da velocidade nos pacientes com espondilose
cervical em relação ao grupo controle, o que por tal motivo, inspeciona-se estenose, conforme conceitos de outros autores.
O que Filho et al (2000) comenta, é que os fatores locais que alteram a onda de fluxo e, conseqüentemente, o
espectro das velocidades desta onda, são os mesmos que alteram à arquitetura do vaso, sendo representados pelas
estenoses arteriais.
Filho et al (2000) também discute que alterações degenerativas da coluna vertebral podem levar a uma tortuosidade
do vaso sem provocar obstrução na maioria dos vasos. Quando existe obstrução no nível do foramen magno da apófise
transversa, o diagnóstico é feito pela identificação da alteração de fluxo no ponto de partida da artéria. A presença de fluxo
turbulento nessa região sugere estenose.
Para nós, no grupo espondilose, quando se observa presença de fluxo, tem-se certeza de perfusão tecidual distal, e
como se identificou aumento da velocidade do fluxo sistólico, também sugere-se estenose.
Não diferente das demais, e como já citado, sendo a flexão única exceção, na extensão da cabeça não observamos
alteração estatística do fluxo sanguíneo.
Segue, encontrou-se vantagem quanto à aplicabilidade da técnica do exame sobre esta posição, proporcionada pela
anatomia e pela posição funcional do transdutor do ultra-som.
Um fato observado nos gráficos de ultra-sonografia, e de interesse clínico, foram às médias dos picos de velocidade
sistólica serem maiores aos movimentos nos pacientes com espondilose cervical em relação ao grupo controle, embora todos
sem significância estatística com erro de 5%, à exceção da flexão de cabeça, conforme já comentado, sugerindo estenose.
Portanto, é de interesse para o tratamento conservador, esses dados que acusam uma “semelhança” entre os
pacientes com espondilose e o grupo controle considerado “população normal”, principalmente para as escolas de terapia
manual como, por exemplo, a osteopatia, que junto a suas técnicas de atuação, utiliza a manipulação cervical como recurso
terapêutico para o tratamento da espondilose cervical dentre outras patologias.
Estudos como o de Licht et al (1998) comentam não terem encontrado nenhuma mudança significativa em sujeitos
de outra maneira saudáveis, porém, com disfunção da biomecânica da coluna cervical, ou seja, alterações osteopáticas. As
principais mudanças na velocidade do pico de fluxo da artéria vertebral, antes e depois da terapia de manipulação da coluna
cervical, foram consideradas sem significância estatística.
Outro fato observável durante a coleta de dados, e de interesse sócio-econômico cultural, foi à disposição financeira
do grupo controle em relação ao experimental. Tal motivo diverge a condição do grupo controle ter maior condição financeira
para aplicabilidade diária, e cabendo a esta condição, investir na atividade física, e conforme constatado, fator este, conceito
preventivo da espondilose cervical.
Esta disposição faz-se pelo critério de convocação dos membros da pesquisa, grupo controle, ordem aleatória
convocada pelo pesquisador seguindo critérios de inclusão e exclusão da amostra; grupo experimental, indivíduos cadastrados
na lista de espera de ortopedia da Clínica escola de fisioterapia – UNISUL, provenientes do setor de serviço social justificado
pelo serviço abordar o trabalho filantrópico destinado à comunidade carente da região abordada (AMUREL).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Fisioterapia é uma ciência que utiliza uma fundamentação sistematicamente estudada e estabelecida através de
métodos científicos próprios.
Descrita pesquisa, como resultados, encontrou-se significância variável quando analisada a caracterização da
espondilose cervical em relação aos aspectos funcionais, clínicos, ultrasonográficos, psicológicos e estilo de vida abordado
pelos indivíduos amostrais.
Concluímos:
• Existe relação entre a ansiedade e depressão com espondilose cervical, na amostra estudada.
• A dor na espondilose cervical do grupo estudado tem importante origem anatômica, mas também com influências
psicológicas, da depressão e da ansiedade.
• Pode-se afirmar que o tabagismo não exerce influência como fator predisponente para instalação ou agravo da
espondilose cervical.
• A atividade física é importante, onde consideramos fator preventivo da espondilose cervical.
• Não existem diferenças importantes em relação às alterações do fluxo sanguíneo nos movimentos de inclinação
lateral, rotação e extensão cervical, em comparação com a posição neutra e ao grupo controle, com exceção ao
movimento de flexão de cabeça na artéria vertebral direita.
Dando-se fim ao estudo, sugerimos novas pesquisas com o tema, porém, considerando fatores como o aspecto
sócio-econômico e a carga de trabalho, pontos estes observados na coleta de dados e que podem possuir relevância.
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