1. Como o salmista celebra a grandeza de Deus? 2. Como os seres humanos, plantas e animais coexistem no planeta? 3. Qual o papel do Espírito de Deus no mundo? O salmo que acabamos de refletir e rezar canta a grandeza de Deus, testemunhada no ciclo da natureza. Ele nos apresentou Deus envolvido na imensidão do universo. O salmista celebra a harmonia que existe entre as plantas, animais e os seres humanos; reconhece o mistério da natureza, descobrindo nele o mistério de Deus. A natureza é mesmo um livro aberto para reconhecermos a grandeza e sabedoria de Deus. A criação de Deus é admirável. É tão bem feita que ela mesma tem o seu controle e sua defesa naturais. Somente quando o ser humano quer dar uma de “criador” é que as coisas se complicam. A CF 2011 está chamando a nossa atenção para uma grave crise que ameaça o nosso planeta. Desde que começou girar em torno do sol, a Terra passou por muitas mudanças até chegar ao equilíbrio entre o frio do inverno e o calor do verão. É essa variação que permitiu a grande diversidade de formas de vida na face da Terra, com inúmeras espécies adaptadas a cada sistema ecológico. Mas hoje a Terra está dando sinais de que poderá tornar-se inabitável para nós e para muitas outras espécies de plantas e animais. Há quem calcula que, se as coisas continuarem assim, antes de 2100 a população humana será muito pequena e só conseguirá sobreviver nas regiões polares, tão quente estará a Terra. Aos poucos, estão aumentando em todo o mundo as secas (e os incêndios florestais), as tempestades (e as enchentes), os furacões e a temperatura média. Essas mudanças no clima mostram que alguma coisa estranha está acontecendo e que precisa ser melhor compreendida para ser corrigida. A CF 2011 nos convida a pensar com seriedade: por que elas estão acontecendo? Quais as conseqüências dessas mudanças para o planeta Terra e para a vida humana? Quais as exigências da fé cristã diante do aquecimento global? Qual a boa notícia que nós, discípulos e discípulas de Jesus, temos para dar ao mundo ameaçado de se tornar um grande deserto? O primeiro passo é tomar consciência de que a interferência humana no ciclo da natureza tem grande responsabilidade no aquecimento global. Os seres humanos, diferentemente dos outros seres vivos, não se contentam em consumir os produtos da natureza: nós a transformamos antes de consumir e por isso produzimos lixo. Tiramos o minério, fazemos aço e com ele construimos automóveis, geladeiras e edifícios que depois de velhos são jogados fora. Já os outros animais não produzem lixo, e sim esterco... Um dos piores lixo que existe é quase invisível: são os gases resultantes da queima de carvão mineral e petróleo. Embora uma parte seja absorvida pelas algas marinhas e pelas florestas, outra parte vai para a estratosfera e é uma das causas do “efeito estufa” que está aumentando a temperatura da Terra. Essa queima de combustíveis fósseis em grande escala começou com a indústria (há cerca de trezentos anos atrás) e só fez aumentar até agora. Mas como diminuí-la, se aumenta o número de pessoas que usam o automóvel, viajam de avião e consomem mercadorias transportadas por caminhão? Enquanto a economia de mercado nos oferecer mercadorias apetitosas e capazes de satisfazerem nosso desejo de consumo a preço acessível, quem vai recusar? E assim a espécie humana está tomada pelo sistema produtivista e consumista que, a menos que seja corrigido agora, só terá fim quando se esgotarem os recursos naturais do Planeta...Essa consciência de que é preciso tomar medidas drásticas para reduzir o “efeito estufa” levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a criar em 1985 o painel Intergovernamental sobre mudança climática (IPCC), com a finalidade de medir melhor a emissão de gases e de outros fatores do “efeito estufa”. Mas até agora nem os países desenvolvidos nem os que estão em fase de desenvolvimento (como o Brasil) chegaram a um acordo quanto à contribuição de cada um para diminuir o aquecimento global. A sede do lucro dos bancos, do comércio e da indústria fala mais alto. E para se ter lucro é preciso produzir e consumir cada vez mais. Hoje sabemos que o desenvolvimento só será sustentável quando estiver focado primeiramente na vida (humana e do Planeta) e não no lucro. O Brasil já está sofrendo o efeito dessas mudanças climáticas. Um exemplo é a região Amazônica, onde ocorreu uma grande seca em 2005. Ela é a região de maior potencial hídrico do mundo, mas seu desmatamento poderá transformá-la em uma savana. Isso diminuiria muito a quantidade de chuvas no centro-oeste e sudeste e o estado de São Paulo poderia tornar-se deserto. Ela já foi devastada em 17%. De acordo com os cientistas, se a sua destruição chegar a 30%, o restante da floresta poderá se deteriorar inteiramente. Outro risco é a caatinga do nordeste ser transformada numa vegetação ainda mais árida, com uma grande quebra das safras de alimentos. As mudanças climáticas aumentam a migração causada pelo êxodo rural, provocando o inchaço das cidades e aumentando os problemas sociais.A Campanha da Fraternidade já vem se empenhando há vários anos nesta questão ambiental. Muitas experiências estão acontecendo na recomposição do meio ambiente. Sobre isso voltaremos a falar mais adiante. Pergunta para aprofundamento: Estamos nos conscientizando do aquecimento global? Estamos vendo somente seus efeitos ou também as suas causas? PERDA DO RUMO E DO PRUMO DE DEUS Texto bíblico: Amós 8,4-8 1. A denúncia de Amós se dirige a quem? Por quê? 2. Com que idéia os ricos freqüentavam o santuário e as festas religiosas? 3. Qual é a aplicação das denúncias de Amós para hoje? O profeta Amós denuncia que o povo de seu tempo tinha perdido o rumo e prumo do projeto de Deus. Sua denúncia era feita em cima do acúmulo dos ricos gananciosos em favor de sua própria curtição. Viviam na desonestidade, às custas de violências e opressões (3,10-12). Na leitura que fizemos acima, Amós bate de frente contra o comércio que visava apenas o lucro, sem levar em conta a vida dos pobres. Chega a dizer que os ricos daquela época freqüentavam o santuário e não faltavam às festas religiosas. No entanto, no momento em que estavam rezando, ficavam planejando o que iriam fazer para aumentar mais os seus lucros. Para Amós esta situação estava ficando insustentável. Estava na hora de correr o fio de prumo do projeto de Deus, para que o sopro de seu Espírito fecunde verdadeiramente a vida, como nos sugere a figura acima. A CF 2011 está nos convidando, de uma maneira bem concreta, a correr o fio de prumo do projeto de Deus em nossa situação de hoje, de modo especial no que se refere ao aquecimento global. O que está acontecendo não dá prumo com o projeto original de Deus para o nosso planeta. Amós nos convida a passar o fio de prumo do projeto de Deus nas motivações, nos “por quês” de nosso atual desenvolvimento. Nosso modelo de desenvolvimento arranjou outro fio de prumo e outra linha para alinhar seus planos de construção de uma economia de mercado. Esses instrumentos orientam a construção pelo prumo do lucro e pela linha do consumo. Este modelo de economia é regido pelas engrenagens da extração em todos os campos, sem consciência ambiental; pela produção a qualquer custo; e por um comércio que só quer alimentar o consumismo insaciável. A economia de mercado não prioriza um projeto humano e ecológico, mas sim o lucro. Este tipo de economia está fazendo surgir “barrigas”, quer dizer, ameaças de destruição da vida do planeta terra. Para este tipo de economia, desenvolvimento é o mesmo que crescimento da riqueza, por isso ele não é sustentável e se torna uma ameaça à humanidade. Ele está promovendo o aquecimento global, responsável pelas variações climáticas, diminuição da biodiversidade, poluição do ar, das águas, do solo e redução da camada de ozônio. A CF 2011 nos convida a continuar a linha profética da CF 2010, passando o fio de prumo e a linha do projeto de Deus para desmanchar as “barrigas” deixadas pela economia de mercado e retomar a construção do projeto de Deus que é de uma economia solidária. Ela nos chama a atenção para dois desvios sérios: 1. Desvalorização do humano. Numa sociedade em que o lucro tem a última palavra, o ser humano se torna apenas um meio para que seus objetivos sejam atingidos. As pessoas são tratadas como “recursos humanos”, ou seja, algo à disposição das empresas que delas lançam mão, aproveitando-as para produzir e vender e as descartam quando não são mais úteis para seus esquemas de gestão. A pessoa humana perde sua dignidade, deixa de ser vista em sua totalidade e seus direitos podem até ser desrespeitados e violados se isso for lucrativo. Ou seja, o ser humano não é visto como um valor por si mesmo, mas sim pelo que faz ou produz; não se realiza como pessoa, pois é apenas um meio para se alcançar um fim; não se relaciona, é usado. E o pior é que muitas pessoas que agem assim afirmam ter fé num Deus Pai e Criador! A conclusão da desvalorização do ser humano é que ele passa a ser visto apenas como consumidor em potencial e reduzido à função do mercado; é orientado para a competição, conseqüência da concorrência do mercado, sem abertura para a cooperação e a solidariedade nas relações. O foco é a satisfação pessoal. 2. Desvalorização da natureza. Este é o outro grande desvio da atual sociedade de produção e consumo. A natureza deixa de ser o lugar da vida para tornar-se um recurso a ser explorado até esgotar-se. O resultado disto é que perdemos os valores básicos no relacionamento com a natureza. Vamos esquecendo e até desprezando, como coisa do passado, o relacionamento integrado dos povos tradicionais com o meio ambiente. Naquele tipo de relacionamento as pessoas retiravam da natureza aquilo que precisavam para a satisfação de suas necessidades básicas sem agredir nem degradar o meio ambiente, pois ele voltava a recuperar-se. Sabiam reconhecer os sinais da natureza: tempo de chuva, tempo de seca, o que pode ser cultivado em determinados lugares e não pode em outros. As culturas tradicionais estão perdendo sua identidade. O próprio IBAMA pensa assim quando diz: “A relação entre as populações tradicionais e o meio ambiente é positiva quando há possibilidade de manter o progresso humano, de maneira permanente até um futuro longínquo”. Nesta visão o progresso entendido como aumento da produção é colocado acima dos valores culturais e da convivência com o meio ambiente a partir de suas raízes. O progresso passa a determinar a cultura, a técnica determina o humano em vez de estar a serviço dele. Pergunta para aprofundamento: Qual têm sido o rumo e o prumo de nossas ações pessoais, comunitárias e sociais? Por quê? CAMPANHA DA FRATERNIDADE PASCAL Texto bíblico: Romanos 8,19-25 1. Qual é a situação da criação? 2. O que a criação abriga dentro de si? 3. Qual é a nossa esperança? O texto que refletimos fala de uma esperança, de um desejo expresso nos clamores da natureza e da humanidade. É a esperança da vitória final contra o egoísmo que ameaça todos os seres criados. A natureza espera ser libertada do uso egoísta que a espécie humana faz dela, para que possa enfim cumprir o projeto de Deus: ser a Terra onde vivam todas as espécies em harmonia, e não mais usada apenas como fonte de enriquecimento. Ao libertar a natureza da exploração, a humanidade também espera ser libertadado egoísmo que a divide entre ricos e pobres.. O Documento de Aparecida constata que “no coração e na vida de nossos povos pulsa um forte sentido de esperança, não obstante as condições de vida que parecem ofuscar toda a esperança. Esta se experimenta e se alimenta no presente, graças aos dons e sinais de vida nova que se compartilha; compromete-se na construção de um futuro de maior dignidade e justiça e aspira “os novos céus e a nova terra” que Deus nos prometeu em sua morada eterna” (DAp 536). O mistério da salvação, realizado por Jesus, reconciliou não só o ser humano, mas todo o universo. Toda a criação foi libertada em Cristo e santificada pelo Espírito Santo para uma vida nova, para que possamos santificar todas as coisas levando à plenitude a sua obra. Jesus veio reunir em si todas as coisas, as da terra e as do céu (Ef 1,10). Ele é a plenitude de toda a criação (Cf DAp 176). A reconciliação de Jesus não é um ato mágico. Na verdade o sangue de Jesus tem poder. Mas é preciso que nossas vidas sejam banhadas, encharcadas nele, para que aconteça uma conversão no nosso relacionamento humano e com a natureza. Sem esta conversão não chegaremos a uma solidariedade verdadeiramente ecológica. A quaresma, com a Campanha da Fraternidade, é um momento importante para completarmos o que falta à paixão de Cristo. Ainda nos falta muito envolvimento concreto e bem situado nesta reconciliação universal de Jesus, porque muitas são as situações de morte que dificultam uma vida plena. O lema da CF deste ano lembra os gemidos da natureza, que sente sua resistência e sua vida se encurtando. Mas proclama que esse gemido anuncia uma nova vida: “a criação geme em dores de parto” (Rm 8,22). O 12º intereclesial das CEBs, realizado em Porto Velho de 21 a 25 de julho de 2009, lembrou os gemidos da realidade amazônica: o grito das populações indígenas, a contaminação dos rios pelo mercúrio das mineradoras, o agronegócio que devasta as florestas, a urbanização desregulada. Esses gemidos protestam contra a ação egoísta e pecaminosa de seres humanos, pois o pecado nos faz usar a ciência e a tecnologia não para compreender e desenvolver a natureza, mas para matar nossa sede de lucro. Diante destes gemidos doídos da natureza que afetam a todos nós, a CF 2011 reafirma sua convicção de que ela deve ser bem mais do que uma informação sobre a situação de nosso planeta. Ela deve ser uma Campanha Pascal. Isto significa que, a exemplo do Deus libertador (Ex 3,7-9), devemos ouvir com atenção e compaixão os clamores provenientes das mudanças climáticas e descer para libertar nosso planeta e seus viventes da sua força destruidora. Trata-se de tomar uma posição clara e propor uma ação concreta para acudir o gemido mais doído da natureza em nosso município, em nossa comunidade. A CF 2011 repete para nós a voz de Deus a Moisés: “vá eu envio você” (Ex 3,10) para salvar o Planeta Terra do aquecimento global, a partir do lugar onde você mora. Fazer CF 2011 é fazer uma páscoa, uma passagem da ameaça de morte para a vida plena. Uma CF 2011 Pascal nos responsabilizará muito mais na celebração do tríduo pascal. Vamos celebrar na quinta feira santa não só uma eucaristia onde o pão e o vinho se transformaram no corpo de Jesus, mas também a transformação de quem os recebe em agente de salvação do nosso planeta. A celebração da sexta feira santa vai ser para nós um sério exame de consciência para verificarmos onde estamos crucificando a Terra. Qual vai ser o sentido de nosso beijo na cruz: compromisso de mudança ou apenas um rito? A vigília pascal vai celebrar qual gesto pascal de libertação de nosso planeta? Esta CF vai realizar a Páscoa da nova criação profetizada por Isaías 65,17-25. Vai transformar os gemidos da humanidade e da natureza em gritos de esperança de que a ação do mal não é definitiva. Pergunta para aprofundamento: Qual será a ligação de nossa semana santa com a nossa responsabilidade com o meio ambiente?