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Em seu livro “Médicos e assassinos na ‘Belle Époque’”, Pierre Darmon traça uma
análise sobre o processo da medicalização do crime e dos estudos científicos sobre as
características associadas à inclinação criminosa.
A escolha do período coincide com as grandes descobertas científicas do mundo
moderno, dispostas na Exposição Universal de Paris, em 1889. É lá que Darmon inicia sua
investigação sobre a medicalização do crime.
A partir do segundo capítulo, Darmon volta sua atenção aos estudos de Cesare
Lombroso e seu “criminoso nato”, que também realizou estudos sobre a mulher criminosa, a
prostituição, o gênio e os epilépticos.
Em 1885, Lombroso conhece o ápice de sua carreira, como presidente do Primeiro
Congresso Internacional de Antropologia Criminal, onde pôde impôr suas concepções como se
fossem dogmas, dando às suas teorias o caráter positivista que imperou no início de seus
estudos. Cesare Lombroso chega a demonstrar tendências a ver criminosos natos por toda
parte e ataca o sistema penal em seus fundamentos através da negação da responsabilidade
criminal.
Entretanto, a ideia de ocupar-se menos do crime que do criminoso não era nova.
Lombroso teve diversos precursores, desde a antiguidade clássica, como Aristóteles, até os
pensadores dos séculos XVI e XVII, como Cardan, mas principalmente os médicos do século
XIX. Alguns nomes que deram corpo às teorias do criminoso nato, à craniometria e à
fisiognomonia foram Pinel, Pritchard, Ferrus, Dr. Lauvergne, Morel, entre outros.
Lombroso diz sistematizar essas teorias em sua obra “O Homem Criminoso”. Na
verdade, os médicos anteriores a ele se preocuparam em estudar as anomalias psíquicas dos
criminosos, Lombroso se ocupou mais da organização física destes. Na primeira parte, ele se
ocupa da embriologia do crime, onde constata que os germes da loucura moral e do crime se
encontrariam nos primeiros anos de vida. A segunda parte da obra consagra-se à anatomia
patológica e antropometria do crime, ao estudo da sensibilidade física do homem criminoso
que, segundo Lombroso, vive em uma espécie de anestesia e vários capítulos são dedicados às
tatuagens, gírias e incidência de epilepsia nos criminosos.
Sobre as mudanças na obra de Cesare Lombroso, Pierre Darmon conclui: "Sem negar
os princípios de sua doutrina, Lombroso introduziu nela múltiplas nuanças. Essa reviravolta
disfarçada não impediu que o criminoso nato ganhasse fama e se tornasse, no espaço de dois
ou três decênios, um dos grandes personagens da arena médica.”