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A PERSPECTIVA WESLEYANA DA ESPIRITUALIDADE

Em seu Completo Dicionário Inglês (1753), John e Charles Wesley definiram o Metodista
como “alguém que procura viver, através do método aplicado da Bíblia”. Na família de Samuel e
Susanna Wesley, cada um dos dez filhos, que sobreviveu à infância, foi ensinado a ler a Bíblia e a
orar de manhã e a noite. Este alicerce das Escrituras e oração tornou-se, para os irmãos de Wesley e
o povo Metodista primitivo, os principais pontos de referência nas jornadas espirituais deles, e para o
corpo do povo chamado Metodista. Neste artigo, sugiro respostas a duas questões básicas. (1) O que
podemos conhecer da estrutura única da espiritualidade e missão Metodista que capacitou este
movimento a alcançar e mover o vento do espírito? Como os Wesleys entrelaçaram os vários ramos
da devoção e prática, palavra e obra, teologia e ação, música e ministério, até que houvesse um
movimento, com caráter e qualidade suficiente, para atrair, nutrir, amadurecer, e enviar seus adeptos
para todos os vilarejos, cidades e nações? (2) Como este conhecimento é relevante hoje?

A Estrutura da Espiritualidade e Missão Metodista


Para entender completamente as contribuições que John e Charles Wesley trouxeram ao
movimento Metodista, devemos entender a visão de mundo, a perspectivas deles sobre a vida cristã,
e seu entendimento da missão cristã. Eles acolheram os testemunhos bíblicos de que a natureza da
humanidade e da vida neste mundo é aquela de uma jornada espiritual. A convicção de John Wesley,
“Eu sou um espírito que veio de Deus e retornarei a Deus... Eu desejo conhecer uma só coisa, o
caminho para o céu – como aportar seguro naquele feliz ancoradouro”, era verdade para Charles
também. De qualquer forma, o desejo da salvação pessoal deve ser entendido dentro da missão de
Deus e da igreja, o que os Wesleys entenderam, incluía uma dimensão social igualmente. A salvação
era, ao mesmo tempo, muito pessoal (salvar a própria alma) e incorporada (ajudar outros a encontrar
a salvação). A missão do Metodismo era encontrar o caminho de casa até Deus, para si mesmo, e
para muitas outras pessoas, tanto quanto possível.
O entendimento de Deus era profundamente Trinitário, assim como sua teologia de missão.
Como Jesus encarnou, trazendo cura e inteireza, ou salvação para os corpos e almas daqueles que ele
encontrou nas estórias evangélicas, assim Wesley e seus seguidores buscaram fazer o bem aos
corpos das pessoas e às suas almas. As obras de devoção (a prática das disciplinas espirituais) nunca
estiveram separadas das obras de misericórdia (alimentar o faminto, vestir o nu, e prisioneiros). A
teologia da missão Metodista estava apoiada nos hinos e poemas de Charles Wesley. Ela estava
também incorporada nas pequenas e grandes estruturas do movimento. Omitir um desses três
elementos essenciais da teologia, estrutura e hinologia, seria diminuir a realidade do movimento, e
distorcer o entendimento do observador. A teologia Wesleyana da graça era apoiada pela hinologia
Metodista e estruturas. Alguém pode imaginar o que acontece ao centro da vida e missão cristã, se
qualquer um dos lados do triângulo é significativamente diminuído? Não apenas a forma do
triângulo ficará distorcida, mas a área no centro será reduzida também significativamente. O mesmo
pode ser verdadeiro, se um dos lados fosse significativamente estendido, ou aumentasse, sem o
aumento dos outros dois lados.
Eu convido o leitor a refletir sobre este discernimento, tanto em relação ao nosso próprio
entendimento do Metodismo primitivo, quanto sua corrente aplicação no ministério. Você consegue
ver a relação, entre o entendimento dos irmãos Wesley, a respeito da graça (preveniente,
convincente, justificadora e santificadora), seus hinos, e poemas sagrados da graça, e as estruturas
dos pequenos grupos que incorporaram a teologia deles e capacitaram os participantes a crescerem
em seu entendimento e experiência de Deus? Existem equivalentes dinâmicos em sua igreja local e
ministério hoje?
O segundo conceito-chave que se refere à formação e missão cristã na tradição Wesleyana é
aquele de igual peso na balança. De um lado da escala, a balança representa o conceito,
discernimento, ou entendimento que um indivíduo ou grupo necessita. Por exemplo, no século
dezoito, o entendimento da natureza de Deus era uma questão maior. Muitos nas classes de trabalho
acreditavam que a natureza essencial de Deus era aquela de um juiz justo, enquanto na mensagem
dos irmãos Wesleys, era aquela de um pai amoroso. Agora imagine o outro lado da escala,
representando a experiência efetiva relacionada ao conceito entendido. Para alguém ser formado na
verdade, deve experimentar a realidade espiritual em que acredita. De fato, um historiador descreveu
a espiritualidade do Metodista primitivo, como “a religião experimentada da Igreja da Inglaterra”.
No importante hino de Charles Wesley, “A Luta de Jacó”, o cantor esforça-se para entender
a natureza e o nome de Deus, até que o entendimento teológico e a experiência interior se juntem na
proclamação da verdade transformadora de que o nome e a natureza de Deus é o amor.
Todos os historiadores religiosos concordam que as estruturas de pequenos grupos do
Metodismo primitivo forneceram o suporte prático para o processo da formação cristã e o
discipulado aprofundado. Cada chave dos entendimentos teológicos Wesleyanos, concernentes à
vontade e missão graciosa de Deus era apoiada pelas estruturas dos pequenos grupos que
sustentariam as pessoas dentro de uma comunidade formativa que os ajudaria a entender e
experimentar a verdade de Deus em Cristo, através do poder transformador do Espírito Santo. Se
alguém pesquisar este entendimento, além da história da comunidade cristã, concluirá que a história
do movimento trabalhista na Inglaterra, o movimento Comunista na Rússia, e os programas de Doze-
passos hoje – todos confirmam o poder formativo dos pequenos grupos. As Organizações tais como
os Alcoólicos Anônimos e Vigilantes do Peso são exemplos vivos do poder transformativo dos
pequenos grupos que capacitam as pessoas a entenderem e experimentarem as mensagens inerentes
na missão deles.
Agora, no estar de acordo com a prática de leitura formativa, considere: Como Deus tem
operado em minha vida, para me trazer um entendimento e experiência da graça e as outras verdades
essenciais do evangelho? Como os outros, sob minha liderança, entendem e experimentam Deus?
Existem suficientes ambientes para a formação cristão das crianças, jovens, adultos jovens, idosos e
outros?
A vitalidade espiritual na tradição Wesleyana sempre encontrou expressão no serviço
daqueles que Jesus descreveu como “o próximo”, ou “o menor desses meus irmãos”. Em adição às
estruturas dos pequenos grupos que apóiam as pessoas em sua jornada espiritual, alguém deve
também se lembrar do poder dos pequenos grupos que mantiveram o ministério dos Metodistas
primitivos, envolvidos no ministério prisional, cuidado com a saúde, educação, e justiça econômica
para com o pobre, viúvos, e oprimidos. Nos Estados Unidos e em todo o mundo, as igrejas e os
movimentos com integridade teológica e vitalidade espiritual seguem a forma de estrutura dos
pequenos grupos que capacita seus membros a ajudarem outros com o entendimento e experiência de
Deus que venham conhecer e experimentar. O Cristianismo frutífero, de acordo com os poemas de
Charles Wesley e os escritos de John Wesley, é colocar em prática o que alguém aprendeu e
experimentou de Deus naquele dia. Esta é a vontade e missão de Deus. Esta é a essência da
mordomia. Eu acredito que a verdade teológica é que apóia o voluntário, no movimento missionário
que tem revitalizado muitas congregações locais hoje. Assim como as pessoas participam na missão
de Deus, elas experimentam a alegria da obediência e a profunda satisfação espiritual que vem do
fazer a vontade de Deus.
A representação visual final da formação e missão cristã na tradição Wesleyana é aquela dos
três círculos interligados. Eles representam meu entendimento dos três mundos dentro dos quais
John e Charles viveram. Eles eram cidadãos da Grã-Bretanha, e totalmente imersos naquela cultura.
Eram também cristãos comprometidos, imersos na Palavra e mundo das Escrituras. Assim como os
estudiosos de Oxford e os líderes clérigos, eles estavam imersos na tradição cristã igualmente. Na
interseção desses três mundos, está o centro formativo para a espiritualidade Metodista, que eu
caracterizo como Trinitária, encarnada, jovial, sacramental e “cheia de vida”.

Herança Wesleyana
“A glória de Deus são os homens e as mulheres totalmente vivos”.
Irenaeus, Século II – Bispo de Lyons e Teólogo Grego.

A Missão, Visão, e Formação Espiritual Cristã


O Ministério de Jesus envolveu pregação, ensino, e cura.
A Grande Tradição da Igreja inclui o Coração de Cristo – A Mente de Cristo – A Obra de
Cristo/As Mãos de Cristo.
A encarnação significa que cada um de nós deve atender a nosso Corpo, Mente e Espírito. “A
cada um é dado a manifestação do Espírito para o bem comum” (I Cor. 12:7; veja também
14:26,40 “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina,
tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação (...) Mas faça-se tudo
decentemente e com ordem”.
Poucos líderes espirituais conheceram o contexto cultural para seu ministério, mais do que os
irmãos Wesley. A obra ativa deles, em meio aos pobres e presos, seus encontros regulares com os
líderes dos pequenos grupos, em cada circuito, a prática de pregação itinerante ao ar livre, os
serviços regulares de oração e Comunhão Santa nas casas de seus hóspedes – tudo deu a eles
conhecimento íntimo das questões teológicas e necessidades humanas de seus seguidores.
Precisamos apenas nos lembrar do envolvimento pastoral de John Calvin em Genebra, e as visitas de
Martinho Lutero ao açougue, já que ele estava traduzindo a Bíblia no vernáculo do povo alemão com
o objetivo de obter uma nova perspectiva sobre a educação teológica e liderança desenvolvidas em
seu próprio tempo.
O espalhar do Metodismo na América do Norte alcançou seriamente o mundo
contemporâneo e o mundo bíblico, mas negligenciou os profundos discernimentos pastorais,
espirituais e sacramentais, que eu denomino de “A Grande Tradição da Igreja”. O resultado tem
sido uma falta de sabedoria espiritual e prática sacramental que podem ser claramente vistas no
século dezenove. Enquanto o último quarto do século vinte começou a recuperar alguns desses,
muito mais é necessário para providenciar os recursos espirituais para a formação e missão cristã no
mundo pós-moderno, pós-iluminado, pós-cristão dos Estados Unidos, no século vinte e um.
Eu quero convidar o leitor a refletir comigo sobre a integração entre nossa própria teologia,
ponto de vista do mundo, e perspectiva espiritual. Como nós, no século vinte e um, incorporamos o
que pregamos e ensinamos? O que cantamos e compartilhamos? Como adoramos e testemunhamos?
As estruturas pelas quais somos formados e apoiados em nossa obra em meio aos pobres? O menor
desses? Nosso próximo?

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