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JULIOHARADA

~A importância do projeto de moldes


para injeção de termoplásticos

O projeto cuidadoso de um ferramental é o principal ponto para garantir alto nível de produção
e baixa manutenção. Portanto, devem ser observados diversos fatores técnicos durante o seu
desenvolvimento, a fim de que as possibilidades de falhas possam ser minimizadas.

o desenvolvimento tecnológico fundamentam as diversas fases des- ra que, durante a criação do pro-
na construção de ferramentas para ses projetos. jeto, não se perca tempo com a bus-
injeção de termo plásticos tem sido I ca de dados não informados. A
impelido pela produção de peças INíCIO DO PROJETO I Figura 1 demonstra o fluxo de tra-
complexas, nas quais surge a exi- Ao iniciar o desenvolvimento de balho para o desenvolvimento de
gência de alta qualidade. A forte um molde, todas as informações projeto de moldes.
pressão para redução dos custos de necessárias devem ser coletadas pa-
produção exige também quedas
significativas no custo de fabricação CLIENTE
das ferramentas, sem comprome- Informações
time~to da qualidade destas. sobre o produto

Essesfatores implicam em gran-


PROJETO
des exigências na área de projeto,
PROJETISTA PROJETISTA
principalmente quanto à responsa-
bilidade sobre o resultado final do Avaliação Determinação da
do produto máquina injetora
conjunto, permitindo assim uma
produção mais estável.
PROJETISTA PROJETISTA .. PROJETISTA
O bom desempenho de uma fer- Desenvolvimento de +- Avaliação dos
ramenta de injeção está direta- Determinação d.? parâmetros
machos, cavidades sistema de InJeçao de injegão
e gavetas
1 1

mente associado ao cuidado com


que seu projeto foi desenvolvido,
tanto na concepção funcional
Desenvolvimento Identificação
quanto na definição dos materiais e do porta-molde do molde
processos empregados.
Algumas diretrizes básicas de-
vem ser levadas em conta na ela-
Construção
boração de projetos para moldes de do molde

injeção de plásticos. São detalhes


Figura 1 - Fluxode trabalho para desenvolvimentodeprojeto
que, se bem observados, facilitam e
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L .~ _~L"A ", -o, ...:..
~A .

Informaçõessobreo produto projeto do molde. Em todos os casos, é importante


Geralmente um desenho do i informar e obter a aprovação do
produto a ser injetado é fornecido Determinação da máquina cliente sobre o conjunto molde/
em papel ou em arquivo eletrônico injetora injetora determinado.
e, em alguns casos, uma amostra Um fator determinante a ser
física (produto já existente ou pro- considerado é o conjunto máquina o PROJETISTA E A
tótipo) ou ainda ambo~. Eles cons- 1 injetora e molde. Normalmente FERRAMENTARIA
tituirão a parte mais importante do existem quatro formas de como o Ao projetista competem as fun-
rol de informações necessárias ao projetista recebe essa informação: ções de análise, dimensionamento
projetista pois, a partir deles, são -
1 O cliente tem a injetora e não e seleção de materiais além da de-
definidos o ponto de injeção, as sabe o número de cavidades que finição dos mecanismos de funcio-
linhas de fechamento, o lado de podem ser injetadas na máquina. A namento da ferramenta.
extração do produto, a forma da tarefa aqui é determinar o número Para tanto, o profissional deve
extração (pinos, placas, lâminas), a máximo de cavidades para a má- detalhar completamente o projeto,
necessidade de elementos móveis i quina disponível. Neste caso, a par- executando todos os cálculos e
como gavetas, pinos inclinados, tir dos dados da injetora e do pro- providenciando o desenho técnico
dentre outros requisitos. I duto, o projetista calcula a configu- de cada componente. Deve ainda
Além do desenho e/ou da peça ração ideal do molde; fornecer o máximo de informações
(amostra), o projetista deverá ter, 2 - O cliente não tem a injetora e possíveis, chamando a atenção
obrigatoriamente, toda a literatura sabe o número de cavidades que para cada detalhe do molde com
possível sobre as máquinas inje- deseja possuir no molde. Portanto, muita clareza, visto que quanto me-
toras que poderão ser utilizadas, a partir das informações do produ- nos tempo o ferramenteiro perder
além de catálogos ou informações to, o projetista define a máquina na leitura (entendimento) de um
referentes a padronização de pinos, injetora necessária para atender projeto, tanto maior será a agili-
componentes, acessórios, porta aquela configuração de molde; dade na execução do molde.
moldes bem como as tabelas de 3 - O cliente não tem a injetora e A familiarização com as carac-
contração de materiais plásticos e não sabe o número de cavidades terísticas técnicas dos novos mate-
aços disponíveis no mercado. necessárias. Neste caso, o cliente riais plásticos que aparecem cons-
É imprescindível nesta etapa deverá informar a demanda do tantemente no mercado auxilia na
reunir-se com o cliente para avaliar produto para que o projetista pos- concepção do projeto do molde.
a questão técnica e estética do pro- sa, a partir dessa informação, cal- É intrínseca ao desenho técnico
duto, uma vez que podem ser colo- cular o número de cavidades que o
I
a determinação das tolerâncias de
cadas premissas de projeto que' molde deverá ter e, na seqüência, co~strução, das contrações locali-
simplificam ou dificultam a cons- determinar as características neces- zadas das peças, do posiciona-
trução do molde. Essas premissas sárias de máquina injetora e; i mento de furos de refrigeração, dos
limitantes podem ser linhas de fe- 4 - O cliente tem a injetora e sabe ângulos de extração, do acabamen-
chamento do molde, linhas de sol- o número de cavidades que o mol- to superficial, da localização das
da, marcas de pontos de injeção, de deverá possuir. Mesmo neste ca- linhas de abertura do molde, da
marcas de rechupe, regiões estru- so, o projetista deve proceder aos configuração de extratores e pinos
turais criticas, dentre várias outras. cálculos de capacidade produtiva guia, da forma, quantidade e posi-
Cabe neste momento atentar da máquina injetora em relação ao ção de pontos de injeção bem co-
para a fidelidade na conversão de i molde pretendido, principalmente i mo dos canais de alimentação e de
modelos recebidos de clientes. Po- nos parâmetros de força de fecha- ! distribuição.
I

dem ocorrer problemas de descon- mento, capacidade de injeção, pas- Para que o projetista possa de-
tinuidades ou perda de informa- sagem entre colunas e altura má-
:
senvolver um projeto ideal, é im-
ções essenciais para o bom desem- I xima e mínima do molde. A respon- portante que ele conheça profun-
penho do produto injetado. Estas sabilidade será atribuida ao proje- I damente os processos de fabrica-
deficiências devem ser discutidas tista se, na produção, o molde apre- I ção do molde e os equipamentos
com o cliente antes do início do sentar deficiências técnicas. disponíveis na ferramentaria.
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~

:e Dessa forma, o projeto será oti- Para facilitar a confecção do com linhas cheias, tracejadas e
o mizado para uso e aproveitamento molde, o projetista deve levar em traço-ponto (linhas de centro). A
~/ do parque fabril, permitindo redu- consideração:
I

j clara diferenciação entre estas


ção do custo de fabricação, uma linhas facilita o perfeito entendi-
vez que minimizará a aquisição de . Cotas - o projetista deve sempre mento do desenho na confecção
componentes de terceiros. Este do molde e;
calcular as cotas, ângulos e de- I

conceito, denominado de "Projeto mais itens do desenho e jamais i . Detalhes - sempre que as tole-
1- voltado à Fabricação'fl, permite deixar este serviço para o ope- ' râncias do produto a injetar per-
:0 também que a interpretação dos rador de máquinas ou para o fer- mitirem, as medidas constantes
~- desenhos seja facilitada para a ramenteiro que, além de não do projeto devem ser arredonda-
)- equipe do chão de fábrica da ferra- possuir ambiente nem equipa- das. Medidas quebradas, decor-
mentaria. mento adequado para realizar os rentes do cálculo da contração
'e O fato de o projetista conhecer o cálculos, deverá dedicar seu tem- de cada matéria-prima podem
), processo e os equipamentos tam- po exclusivamente à confecção vir a complicar ou confundir a
e bém auxilia nos casosonde existem da ferramenta. O projetista deve leitura do desenho e;
o vários projetos em andamento. somente repetir cotas em outras . Simplicidade - o projeto deve
Ia Nestes casos, podem ser seleciona- vistas do desenho quando estri- considerar as futuras manuten-
~s dos processos de fabricação alter- tamente necessário, evitando ções do molde. Portanto, sempre
o nativos para evitar sobrecargas em assim possíveis confusões de que permitido, é conveniente
n equipamentos (fresadoras, tornos, leitura e de cotas; simplificar os componentes para
~- retificadoras, furadeiras, entre . Traçado - o traçado do desenho facilitar substituições ou corre-
~r outros). deve ser muito bem definido ções por desgaste ou falha.
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SEQÜÊNCIAPARA duto, deve ser determinada a má- Determinação do sistema de


DESENVOLVIMENTODE quina adequada para atender a injeção
PROJETO produção do molde em desenvol- Nesta etapa deve ser identifi-
O projetista deve aplicar uma vimento. cada qual a melhor configuração de
metodologia de desenvolvimento É altamente recomendado que alimentação do material a ser inje-
de projetos, seguindo certa rotina seja avaliada a relação custo x be- tado. Emfunção das exigências téc-
de trabalho. Assim, apó~ a fase ini- nefício, no intuito de obter a maior nicas e de custo, pode ser selecio-
cial de coleta de informações técni- I rentabilidade possível na produção nada injeção com canais frios ou
cas, pode executar o projeto de da peça final. quentes (bico quente ou câmara
maneira cadenciada, reduzindo a quente).
possibilidade de surgimento de fa- Avaliação dos parâmetros de
lhas durante a construção do molde injeção do produto Desenvolvimento do conjunto
e produção de peças. machos/ cavidades/gavetas
A Figura 2 apresenta o corte de Sempre que possível, devem ser Para agilizar a fabricação do
um projeto de molde para injeção aproveitadas as tecnologias dispo- molde, é indicado que se inicie o
de termoplástico, identificando os níveis no mercado. Para esta etapa, desenvolvimento do projeto pelos
principais componentes. é recomendado o uso de sistemas componentes que formarão o
de simulação reológica, que forne- produto. Ou seja, o molde deve ser
cem dados como pressão e tempo construído de dentro para fora.
CD de injeção, perfis de temperatura e Assim, à medida que os compo-
@ velocidade de injeção, tempo de nentes vão sendo concluídos, eles
resfriamento e de extração, linhas podem ser encaminhados para fa-
de fluxo do material, tensões na bricação, reduzindo o prazo de en-
0 @ peça injetada, força de fechamento trega da ferramenta. Nesta etapa
e inúmerasoutras variáveisde pro- são definidos os sistemas de refri-
cesso. A Figura 3 mostra o resultado
I

geração e de extração.
@ da simulação de enchimento de
0 uma peça, onde as cores identifi- Desenvolvimento do
porta-molde
.. 1 - Sistemade injeção Concluídos os componentes do
2 - Conjunto macho/cavidades item anterior, o projetista deve con-
3 - Sistema de refrigeração
4 - Sistema de extração n centrar os esforços na configuração
5 - Componentes do porta-moldes do porta-molde. Neste caso, já con-
Figura 2 - Corte esquemático de um molde
siderando as dimensões conhecidas
para injeção de termoplástico da máquina injetora, devem ser
agregados todos os recursos neces-
A seqüência pode variar um ~ sários para inserção dos compo-
pouco, mas basicamente devem ser nentes moldantes, bem como o
observadas algumas etapas. acoplamento do sistema de extra-
ção e dos acionamentos dos ele-
Avaliação sobre o produto Figura 3 - Simulação de enchimento de uma
mentos móveis (cilindros, motores
Conforme descrito anterior- peça em programa de análise reológica e acessórios).
mente, esta etapa é o ponto de 1

partida para avaliar a viabilidade de ! cam Otempo de preenchimento da Identificação do molde


execução do projeto. cavidade. A identificação de alguns dados
Estes dados servem como re- do molde e do produto é bastante
Avaliação do conjunto máquina I ferência para a regulagem da má- útil ao operador. Recomenda-se
injetora e molde i quina de injeção durante a fase de que haja, no mínimo, uma plaqueta
A partir das informações do pro- testes e produção. mencionando os dados do forne-
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~

cedor (ferramentaria), nome do A introdução de recursos para tar possíveis colisões e danos à
cliente, dimensões e peso do mol- garantir a segurança de operação ferramenta.
de, data de fabricação e material do do molde é um ponto que está
e
produto a ser injetado. sendo fortemente solicitado pelos LISTADEVERIFICAÇÃODE
Sempre que possível, incluir ain- clientes. PROJETO
da uma plaqueta com o esquema Portanto, o projetista deve con- Como forma de sistematizar o
do sistema de refrigeraçã9, identifi- siderar a colocação de telas de pro- processo, na página 33 desta edi-
J
cando entradas e saídas, uma pla- teção em cilindros hidráulicos e ção publicamos uma "Planilha de
a
queta com o esquema elétrico da pneumáticos, em extensões de ga- verificação para projeto de molde
câmara quente (quando aplicada) e vetas, nas aberturas de placas extra- para injeção de termoplásticos"
uma plaqueta com a instrução da toras e em qualquer lugar que exis- com uma lista de itens a serem
seqüência de acionamento de ma- ta a possibilidade de ocorrer aci- observados durante o projeto do
chos e gavetas. dentes. molde.
)
Também a colocação de senso- Cada usuário pode adaptar o
) res ou micro chaves nos cilindros e
Determinação dos recursos de modelo às suas necessidades espe-
s no sistema de extração auxilia a evi- cíficas.
segurança do molde
)
r
JúlioHarada - Formado pela Unesp Faculdade de Tecnologia de São Paulo, pós-graduado em Administração Industrial pela USP Universidade
de São Paulo, em Plásticos no OMTRI Osaka Municipal Technical Research Institute, em Osaka, Japão e em Comércio Exterior pela UNIP
Universidade Paulista. Trabalhos realizados no setor plástico nos EUA,Alemanha e México. Autor dos livros "Moldagem por injeção: projetos e
s princípios básicos" e "Plásticos de Engenharia: tecnologia e aplicações". É professor na Universidade de São Paulo, no Instituto Avançado do
Plástico e na Associação Brasileira de Polímeros ABPo!.Desempenha as funções de diretor da ABPol, membro da Society of Plastics Engineers
SPEe da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva AEAe é coordenador de serviços técnicos e desenvolvimento da empresa BASFS.A.

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