Professional Documents
Culture Documents
Leptospira
O gênero Leptospira pode ser dividido em duas espécies: L. biflexa (com 63 sorovariantes) e
L. interrogans (com 210 sorovariantes). As Leptospiras são bacilos Gram-negativos, finos e
espiralados que possuem um gancho em uma ou em ambas as extremidades.
A L. biflexa é saprófita de vida livre e não está associada a doença humana. Já a L.
interrogans é aeróbia obrigatória, biflagelada e patogênica para vários animais, inclusive o homem.
Os sorotipos patogênicos mais comuns são: icterohaemorrhagiae, canicola, pomona e autumnalis,
apesar de as doenças causadas pelo L. interrogans não serem sorotipo-específicas.
Patogenia.
Depois de penetrar nas mucosas ou pele com pequenas escoriações, as leptospiras chegam ao
sangue e são rapidamente levadas a todas as partes do corpo, inclusive para o líquido
cefalorraquidiano, pois são altamente móveis e produzem hialuronidase. Além disso, multiplicam-
se rapidamente e são responsáveis pelo rompimento de pequenos vasos, o que causa as principais
manifestações da leptospirose. Como fatores de virulência, destacam-se: filamentos axiais (para
penetração em “saca-rolhas”); capa; proteínas sorovariantes específicas e LPS (endotoxina).
O paciente infectado pode apresentar desde quadro leve, como febre, cefaléia e mialgia na
panturrilha, até doença sistêmica grave (Doença de Weil) associada a insuficiência renal e hepática,
vasculite extensa, miocardite e morte. A gravidade do quadro dependerá do número de leptospiras
presentes no paciente e da virulência dessas cepas, além do estado imunológico do paciente.
Epidemiologia.
Possui distribuição mundial. A infecção humana por Leptospira pode ocorrer através de
contato direto ou indireto (animais infectados) do homem com a bactéria; seja por ingestão de água
ou carne contaminada, bem como pela entrada da bactéria via epiderme, mucosa ou conjuntiva.
Bois, porcos, ovelhas, cabras e cães podem transmitir a bactéria ao homem, porém em menor
proporção que os ratos (principal transmissor das áreas urbanas). As principais espécies de ratos
transmissores são: Rattus norvegicus, Pattus attus e Mus musculus.
O homem é um hospedeiro acidental. Conseqüentemente, não há transmissão das leptospiras
do homem para animais ou para outros homens. A maioria das infecções humanas ocorre durante os
meses quentes do ano, seja por recreação ou por contato com águas contaminadas de enchentes.
Além disso, água parada, rios, córregos e solo úmido também podem conter urina de animais
infectados, como ratos de áreas urbanas, e serem fontes contínuas de infecção humana.
A leptospirose.
A infecção subclínica ocorre na maioria dos pacientes expostos a animais infectados. As
infecções sintomáticas possuem duas fases. Depois de um período de incubação de 7 a 12 dias,
ocorre manifestação como de uma doença gripal. Há bacteremia (fase de leptospiremia). As
leptospiras podem ser encontradas no líquido cefalorraquidiano (sem quadro de meningite), sangue
e outros tecidos. Esse quadro pode desaparecer em torno de uma semana ou o paciente pode
desenvolver quadro de meningite asséptica ou doença sistêmica. Nos casos mais graves (Doença de
Weil), ocorrem problemas hepático e renal, hemorragias focais, hemólise e necrose focal dos
músculos estriados. O desenvolvimento de icterícia provavelmente se dá devido a disfunção
hepatocelular sem, entretanto, ocorrer necrose. Durante esse período, as leptospiras podem ser
encontradas na urina do paciente (fase de leptospirúria). Problemas renais resultam de disfunção
tubular e as leptospiras podem ser encontradas em seu lúmen. Apesar de as lesões hepática
(associada a icterícia) e renal serem graves, não se observa necrose nesses órgãos e os pacientes
geralmente recuperam por completo as funções hepática e renal.
Diagnóstico laboratorial.
Pode ser feito por microscopia, meio de cultura, sondas de ácido nucléico e sorologia
(ELISA). O diagnóstico microscópico convencional não é muito sensível ao diagnóstico da
leptospira, por serem muito finas. Um meio alternativo é o exame em campo escuro. Esse método é
pouco sensível, pois depende da capacidade do laboratorista em distingüir filamentos corporais de
extra-corporais.
O meio de cultura leva tempo para ser realizado, variando de 2 semanas até 4 meses. Pode ser
uma forma de aumentar o número de amostras clínicas, pois a quantidade de leptospiras no sangue,
líquido cefalorraquidiano e urina é pequena. Técnicas de sonda de ácido nucléico, como o PCR, são
rápidas e sensíveis, mas ainda não estão disponíveis.
O diagnóstico laboratorial sorológico é o mais usual para leptospira. O mais utilizado é o teste
de aglutinação microscópica (MAT) que mede a aglutinação do soro do paciente na presença de
leptospiras vivas. Como o teste é soro-específico, é preciso realizar o procedimento com vários
antígenos de leptopiras. O soro do paciente é diluído e depois misturado com antígenos específicos.
Em seguida, as amostras são observadas ao microscópio óptico em busca de aglutinação. Quanto
mais cedo o exame for feito (menos de 2 semanas de infecção), maiores as chances de se observar
aglutinação (1).
Referências bibliográficas
1- MURRAY, P.R. et al. Microbiologia médica. Rio de Janeiro: Guanabar Koogan, 2000.
2- COTRAN, R.S.; KUMAR, V.; ROBBINS, S.L.. Robbins – Patologia estrutural e funcional.
6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
3- JAWETZ, E. et al. Microbiologia médica. 20.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995.
4- MANDELL, G.L.; DOUGLAS Jr, R.G.; BENNET, J.E.. Principles and practice of infectious
diseases. 4.ed. New York: Churchill Livingstone, 1995.