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Espirilos – Gênero Leptospira

Rogéria Andrade Werneck

As bactérias pertencentes à ordem Spirochaetales possuem propriedades morfológicas


comuns: são Gram-negativas, finas e helicoidais. A ordem Spirochaetales é subdividida em duas
famílias e sete gêneros, dos quais três (Treponema, Borrelia e Leptospira) são responsáveis por
doenças humanas (1). O gênero Leptospira, entretanto, é o mais comum no Brasil. Problema de
vigilância sanitária, a leptospirose está ligada aos períodos de chuvas, quando a população urbana,
principalmente, entra em contato com água contaminada por urina de ratos.

Leptospira

O gênero Leptospira pode ser dividido em duas espécies: L. biflexa (com 63 sorovariantes) e
L. interrogans (com 210 sorovariantes). As Leptospiras são bacilos Gram-negativos, finos e
espiralados que possuem um gancho em uma ou em ambas as extremidades.
A L. biflexa é saprófita de vida livre e não está associada a doença humana. Já a L.
interrogans é aeróbia obrigatória, biflagelada e patogênica para vários animais, inclusive o homem.
Os sorotipos patogênicos mais comuns são: icterohaemorrhagiae, canicola, pomona e autumnalis,
apesar de as doenças causadas pelo L. interrogans não serem sorotipo-específicas.

Patogenia.
Depois de penetrar nas mucosas ou pele com pequenas escoriações, as leptospiras chegam ao
sangue e são rapidamente levadas a todas as partes do corpo, inclusive para o líquido
cefalorraquidiano, pois são altamente móveis e produzem hialuronidase. Além disso, multiplicam-
se rapidamente e são responsáveis pelo rompimento de pequenos vasos, o que causa as principais
manifestações da leptospirose. Como fatores de virulência, destacam-se: filamentos axiais (para
penetração em “saca-rolhas”); capa; proteínas sorovariantes específicas e LPS (endotoxina).
O paciente infectado pode apresentar desde quadro leve, como febre, cefaléia e mialgia na
panturrilha, até doença sistêmica grave (Doença de Weil) associada a insuficiência renal e hepática,
vasculite extensa, miocardite e morte. A gravidade do quadro dependerá do número de leptospiras
presentes no paciente e da virulência dessas cepas, além do estado imunológico do paciente.

Epidemiologia.
Possui distribuição mundial. A infecção humana por Leptospira pode ocorrer através de
contato direto ou indireto (animais infectados) do homem com a bactéria; seja por ingestão de água
ou carne contaminada, bem como pela entrada da bactéria via epiderme, mucosa ou conjuntiva.
Bois, porcos, ovelhas, cabras e cães podem transmitir a bactéria ao homem, porém em menor
proporção que os ratos (principal transmissor das áreas urbanas). As principais espécies de ratos
transmissores são: Rattus norvegicus, Pattus attus e Mus musculus.
O homem é um hospedeiro acidental. Conseqüentemente, não há transmissão das leptospiras
do homem para animais ou para outros homens. A maioria das infecções humanas ocorre durante os
meses quentes do ano, seja por recreação ou por contato com águas contaminadas de enchentes.
Além disso, água parada, rios, córregos e solo úmido também podem conter urina de animais
infectados, como ratos de áreas urbanas, e serem fontes contínuas de infecção humana.

A leptospirose.
A infecção subclínica ocorre na maioria dos pacientes expostos a animais infectados. As
infecções sintomáticas possuem duas fases. Depois de um período de incubação de 7 a 12 dias,
ocorre manifestação como de uma doença gripal. Há bacteremia (fase de leptospiremia). As
leptospiras podem ser encontradas no líquido cefalorraquidiano (sem quadro de meningite), sangue
e outros tecidos. Esse quadro pode desaparecer em torno de uma semana ou o paciente pode
desenvolver quadro de meningite asséptica ou doença sistêmica. Nos casos mais graves (Doença de
Weil), ocorrem problemas hepático e renal, hemorragias focais, hemólise e necrose focal dos
músculos estriados. O desenvolvimento de icterícia provavelmente se dá devido a disfunção
hepatocelular sem, entretanto, ocorrer necrose. Durante esse período, as leptospiras podem ser
encontradas na urina do paciente (fase de leptospirúria). Problemas renais resultam de disfunção
tubular e as leptospiras podem ser encontradas em seu lúmen. Apesar de as lesões hepática
(associada a icterícia) e renal serem graves, não se observa necrose nesses órgãos e os pacientes
geralmente recuperam por completo as funções hepática e renal.

Diagnóstico laboratorial.
Pode ser feito por microscopia, meio de cultura, sondas de ácido nucléico e sorologia
(ELISA). O diagnóstico microscópico convencional não é muito sensível ao diagnóstico da
leptospira, por serem muito finas. Um meio alternativo é o exame em campo escuro. Esse método é
pouco sensível, pois depende da capacidade do laboratorista em distingüir filamentos corporais de
extra-corporais.
O meio de cultura leva tempo para ser realizado, variando de 2 semanas até 4 meses. Pode ser
uma forma de aumentar o número de amostras clínicas, pois a quantidade de leptospiras no sangue,
líquido cefalorraquidiano e urina é pequena. Técnicas de sonda de ácido nucléico, como o PCR, são
rápidas e sensíveis, mas ainda não estão disponíveis.
O diagnóstico laboratorial sorológico é o mais usual para leptospira. O mais utilizado é o teste
de aglutinação microscópica (MAT) que mede a aglutinação do soro do paciente na presença de
leptospiras vivas. Como o teste é soro-específico, é preciso realizar o procedimento com vários
antígenos de leptopiras. O soro do paciente é diluído e depois misturado com antígenos específicos.
Em seguida, as amostras são observadas ao microscópio óptico em busca de aglutinação. Quanto
mais cedo o exame for feito (menos de 2 semanas de infecção), maiores as chances de se observar
aglutinação (1).

Tratamento, prevenção e controle.


Pacientes com a forma menos grave da doença podem ser tratados com doxiciclina,
ampicilina ou amoxicilina por via oral. Já aqueles com quadro mais grave devem receber, via
venosa, penicilina ou ampicilina. Populações usualmente expostas à bactéria (trabalhadores de redes
de esgotos, veterinários) podem fazer uso de doxiciclina como prevenção. Já existem vacinas para
animais, impedindo transmissão acidental da leptospira para o homem. Não há vacinas para o
homem. Nas áreas urbanas, especificamente, a prevenção deve ser feita através do controle da
população de ratos, de coleta e tratamento do lixo e esgoto.

Referências bibliográficas

1- MURRAY, P.R. et al. Microbiologia médica. Rio de Janeiro: Guanabar Koogan, 2000.
2- COTRAN, R.S.; KUMAR, V.; ROBBINS, S.L.. Robbins – Patologia estrutural e funcional.
6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
3- JAWETZ, E. et al. Microbiologia médica. 20.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995.
4- MANDELL, G.L.; DOUGLAS Jr, R.G.; BENNET, J.E.. Principles and practice of infectious
diseases. 4.ed. New York: Churchill Livingstone, 1995.

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