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MÉTODOS DE ENSINO
Para além da exposição teórica levada a cabo pelo docente, lançando mão de
variadas estratégias, será valorizado o contributo activo e crítico dos alunos, tanto no
que concerne à leitura e discussão de textos teóricos, como aos exercícios de análise
orientada, com base num corpus textual e audiovisual previamente seleccionado.
RESULTADOS
Espera-se que, no final do semestre, os alunos sejam capazes de articular, de modo
produtivo, a reflexão sobre os paradigmas teóricos, na sua complexidade e
diversidade de manifestações, e os instrumentos metodológicos mais adequados com
a prática de análise de diversas formas textuais e discursivas.
SISTEMA DE AVALIAÇÃO
Propõe-se a existência de dois regimes de avaliação:
1. Avaliação final através de exame escrito, que abrange todos os conteúdos
leccionados (podendo implicar uma prova oral, nos termos previstos no Regulamento
em vigor na Faculdade).
2. Avaliação contínua, mediante os seguintes critérios:
a) a realização de duas provas, abrangendo cada uma delas um sector distinto da
matéria leccionada e que terão lugar sensivelmente a meio e no final do período de
aulas previsto para o 1.º semestre (45%+45%);
b) a participação regular nas actividades lectivas (10%).
c) a frequência de 75% das aulas leccionadas.
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Introdução aos Estudos Culturais
1. Para Stuart Hall (um dos responsáveis pela afirmação desta área de pesquisa):
“Os estudos culturais não configuram uma ‘disciplina’ mas uma área onde diferentes
disciplinas interactuam, visando o estudo de aspectos culturais da sociedade.”
(Hall et al., Culture, Media, Language, 1980: 7).
«As categorias mais utilizadas na actividade actual dos Estudos culturais são a história
dos Estudos culturais, o género {gender}, a sexualidade, a nação e a identidade
nacional, o colonialismo e o pós-colonialismo, a raça e a etnicidade, a cultura popular
e a sua audiência, a ciência e a ecologia, as identidades políticas, a pedagogia, as
políticas da estética, as instituições culturais, as políticas da disciplina, o discurso e a
textualidade, a história e a cultura global na idade pós-moderna.»
(L. Grossberg, C. Nelson e P. Treichler, 1992, p. 1)
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Introdução aos Estudos Culturais
Se a arte é parte da sociedade, não existe unidade sólida fora dela, para a
qual nós concedemos prioridade pela forma de nosso questionamento. A
arte existe aí como uma atividade, juntamente com a produção, o
comércio, a política, a criação de filhos. Para estudar as relações
adequadamente, precisamos estudá-las ativamente, vendo todas as
atividades como formas particulares e contemporâneas de energia
humana.
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Introdução aos Estudos Culturais
Culture is ordinary: that is the first fact. Every human society has its own shape, its own
purposes, its own meanings. Every human society expresses these, in institutions, and
in arts and learning. The making of a society is the finding of common meanings and
directions, and its growth is an active debate and amendment under the pressures of
experience, contact, and discovery, writing themselves into the land. […] A culture has
two aspects: the known meanings and directions, which its members are trained to; the
new observations and meanings, which are offered and tested. These are the ordinary
processes of human societies and human minds, and we see through them the nature
of a culture: that it is always both traditional and creative; that it is both the most
ordinary common meanings and the finest individual meanings. We use the word
culture in these two senses: to mean a whole way of life - the common meanings; to
mean the arts and learning - the special processes of discovery and creative effort.
Some writers reserve the word for one or other of these senses; I insist on both, and on
the significance of their conjunction. The questions I ask about our culture are
questions about deep personal meanings. Culture is ordinary, in every society and in
every mind.
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Introdução aos Estudos Culturais
HEGEMONIA
SUBCULTURA
TEXTO 1 — Armand Mattelart e Érik Neveu, Introdução aos Cultural Studies, Porto, Porto
Editora, 2006, pp. 37-39.
PROGRAMA COMO
DISCURSO “SIGNIFICATIVO”
codificação decodificação
estruturas de sentido 1 estruturas de sentido 2
TEXTO 3 — Armand Mattelart e Érik Neveu, Introdução aos Cultural Studies, Porto, Porto
Editora, 2006, p. 62.
Compreende-se […] que a "viragem etnográfica" possa também ser concebida como
continuidade, como identificação dos meios mais eficazes para analisar no terreno os
enigmas ligados aos processos de decomposição/recomposição identitária, para
compreender consumos culturais, opções identitárias e ideológicas, "prazeres"
mediáticos que não podem deixar de ser considerados escandalosos por intelectuais
marcados pelo marxismo. Baseando-se nestes diagnósticos relativos às novas
condições da formação das identidades sociais, desde então, Hall não cessou de afir-
mar a centralidade conquistada pela cultura na gestão das sociedades e,
consequentemente, na forma de encarar a acção política.
Em matéria de investigações académicas, em 1991, Hall explicava o
"reposicionamento" dos Cultural Studies, insistindo em determinados factores
principais que obrigavam a "transpor as fronteiras". Entre eles:
1) a "globalização" de origem económica, esse "processo parcial de desagregação das
fronteiras que formaram tanto as culturas nacionais como as identidades individuais,
especialmente na Europa";
2) a ruptura das "paisagens sociais" nas "sociedades industriais avançadas" que faz
com que o "eu" (self) passe a ser parte integrante "de um processo de construção das
identidades sociais no qual o indivíduo se define, situando-se em relação a diversas
coordenadas, sem ser redutível a uma ou a outra coordenada (quer seja a classe, a
nação, a raça, a etnia ou o género)";
3) a força das migrações que "silenciosamente transformam o nosso mundo";
4) o processo de homogeneização e de diferenciação que mina, a partir de baixo e de
cima, a força organizadora das representações do Estado-Nação, da cultura nacional
e da política nacional [Hall, 1991].
Acrescentaremos à sua lista a ruptura que constitui, para os investigadores que se
mantêm politicamente empenhados, a quase obrigação de investir as suas energias
em movimentos sociais e já não em organizações do partido. Estes investimentos, que
sempre foram os de Hall, passam também a ser os de Thompson, agente
indispensável ao movimento pacifista e para o desarmamento nuclear (CND),
confrontando-se, por vezes, com a incompreensão dos seus colegas. Menos
conhecido, o empenhamento de Morley reflecte, igualmente, esta nova focalização nos
movimentos sociais, uma vez que foi um dos principais responsáveis das edições
Comedia, intimamente ligadas aos movimentos alternativos (feministas, antinucleares,
anti-racistas e cooperativos).
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Introdução aos Estudos Culturais
BARKER, Chris, Cultural studies: theory and practice, London, Sage Publications,
2000.
EDGAR, Andrew e Peter Sedgwick, Cultural theory: the key concepts, London,
Routledge, 2002.
EAGLETON, Terry, A ideia de cultura, Lisboa, Temas e Debates – Actividades
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FERIN, Isabel, Comunicação e culturas do quotidiano, Lisboa, Quimera, 2002.
GROSSBERG, Lawrence, Cary Nelson e Paula A. Treichler, Cultural studies, New
York, Routledge, 1992.
HALL, Stuart, Da Diáspora. Identidades e Mediações Culturais (org. de Liv Sovik), Belo
Horizonte, Editora UFMG; Brasília, Representação da Unesco no Brasil, 2003.
HARTLEY, John, Comunicação, estudos culturais e media: conceitos-chave. Trad.
Fernanda Oliveira e rev. cient. de Isabel Ferin, Lisboa, Quimera, 2004.
MATTELART, Armand e Érik Neveu, Introdução aos ‘Cultural Studies’, Porto, Porto
Editora, 2006.
RIBEIRO, A. Sousa/Ramalho, M. Irene, «Dos Estudos Literários aos Estudos
Culturais?», in Helena BUESCU et al. (Orgs.), Floresta Encantada. Novos
Caminhos da Literatura Comparada, Lisboa, Pub. Dom Quixote, 2001, pp. 61-
82.
SANCHES, Manuela Ribeiro, «Nas margens: os estudos culturais e o assalto às
fronteiras académicas e disciplinares», in Etnográfica. Vol. III (1) 1999, Lisboa,
pp. 193-210.
SILVA, Vítor Manuel de Aguiar e, «Genealogias, lógicas e horizontes dos Estudos
Culturais», in As humanidades, os estudos culturais, o ensino da literatura e a
política da língua portuguesa, Coimbra, Almedina, 2010.
STOREY, John, Cultural studies and the study of popular culture: theories and
methods, Athens, University of Georgia Press, 2002.
WILLIAMS, Raymond, Keywords. A vocabulary of culture and society, New York,
Oxford UP, 1983.
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Introdução aos Estudos Culturais
Os recursos que antes iam para a indústria pesada da era industrial do séc.
XIX — carvão, ferro e aço — agora, na virada do terceiro milênio, estão sendo
investidos nos sistemas neurais do futuro — as tecnologias de comunicação digital
e os softwares da Idade Cibernética.
Em termos de padrões absolutos de julgamento e preferência estéticos, os
produtos culturais desta revolução não podem ser comparados em termos de valor
às conquistas de outros momentos históricos — as civilizações egípcias e da antiga
China, por exemplo, ou a arte do Renascimento italiano. Entretanto, em
comparação com a estreita visão social das elites, cujas vidas foram positivamente
transformadas por esses exemplos históricos, a importância das revoluções
culturais do final deste século XX reside em sua escala e escopo globais, em sua
amplitude de impacto, em seu caráter democrático e popular. A síntese do tempo e
do espaço que estas novas tecnologias possibilitaram — a compressão tempo-
espaço, como denomina Harvey (1989) —, introduz mudanças na consciência
popular, visto que vivemos em mundos crescentemente múltiplos e — o que é mais
desconcertante — “virtuais”. A mídia encurta a velocidade com que as imagens
viajam, as distâncias para reunir bens, a taxa de realização de lucros (reduzindo o
“tempo de turn-over do capital”), e até mesmo os intervalos entre os tempos de
abertura das diferentes Bolsas de Valores ao redor do mundo — espaços de
minutos em que milhões de dólares podem ser ganhos ou perdidos. Estes são os
novos “sistemas nervosos” que enredam numa teia sociedades com histórias
distintas, diferentes modos de vida, em estágios diversos de desenvolvimento e
situadas em diferentes fusos horários. É, especialmente, aqui, que as revoluções da
cultura a nível global causam impacto sobre os modos de viver, sobre o sentido que
as pessoas dão à vida, sobre suas aspirações para o futuro — sobre a “cultura” num
sentido mais local.
Estas mudanças culturais globais estão criando uma rápida mudança social
— mas também, quase na mesma medida, sérios deslocamentos culturais. Como
observa Paul du Gay, “a nova mídia eletrônica não apenas possibilita a expansão
das relações sociais pelo tempo e espaço, como também aprofunda a interconexão
global, anulando a distância entre as pessoas e os lugares, lançando-as em um
contato intenso e imediato entre si, em um “presente” perpétuo, onde o que ocorre
em um lugar pode estar ocorrendo em qualquer parte (...) Isto não significa que as
pessoas não tenham mais uma vida local — que não mais estejam situadas
contextualmente no tempo e espaço. Significa apenas que a vida local é
inerentemente deslocada — que o local não tem mais uma identidade “objetiva”
fora de sua relação com o global.” (du Gay, 1994).
Um efeito desta compressão espaço-tempo é a tendência à homogeneização
cultural — a tendência (…) de que o mundo se torne um lugar único, tanto do
ponto de vista espacial e temporal quanto cultural: a síndrome que um teórico
denominou de McDonaldização do globo. É, de fato, difícil negar que o crescimento
das gigantes transnacionais das comunicações, tais como a CNN, a Time Warner e a
News International tende a favorecer a transmissão para o mundo de um conjunto
de produtos culturais estandartizados, utilizando tecnologias ocidentais
padronizadas, apagando as particularidades e diferenças locais e produzindo, em
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Introdução aos Estudos Culturais