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História
Na maioria dos países, escrever a História é papel que cabe aos historiadores.
As paradas militares dos últimos dois anos foram as maiores de todos os tempos.
Este é um dos temas mais caros à Rússia, que, curiosamente, acabou se tornando a
guardiã do passado glorioso da URSS.
— Há novas versões que ignoram o sacrifício que a Rússia fez pelo mundo neste
episódio e que, muitas vezes, distorcem a história para transformar o país em vilão —
explica.
No final do ano passado, a Ucrânia tentou aprovar uma resolução na Organização das
Nações Unidas (ONU), que acabou saindo no formato de declaração subscrita por
alguns países apenas, em que acusa a URSS de genocídio durante o período da
coletivização na década de 30. A Rússia argumenta que os ucranianos não foram as
únicas vítimas da fome, mas todos os países soviéticos. Especialistas lembram que
aqueles que viviam da agricultura podem ter sofrido impactos maiores por razões
óbvias. Este é outro tema que tem sido tratado em profundidade pela comissão.
Sempre que pode, a Polônia diz que os russos, ao assinarem o Tratado de Molotov-
Ribbentropp de não-agressão com os nazistas, assinado às vésperas da Segunda Guerra
Mundial, combinaram, entre outros, a partilha do país. Narochnitskaya contra-ataca: —
A Polônia não era uma vítima inocente.
Todos sabiam que o ministro das Relações Exteriores teve conversas com Hitler
oferecendo a conquista da Ucrânia.
O fato é que tudo isso acaba sendo facilitado por uma simples razão: a Rússia vende
mal a sua imagem. Analistas afirmam, e Narochnitskaya concorda, que é necessário o
acesso a documentos, muitos deles considerados secretos até hoje. A falta de um debate
mais aprofundado e baseado em informações propicia os curto-circuitos. O trabalho da
comissão, agora, segundo ela, é não só chegar a estes arquivos, como também promover
a sua abertura para estimular a pesquisa, desenvolver seminários e congressos, para,
assim, contar a verdadeira história da participação da URSS e da Rússia em eventos
mundiais.
— Se uma escola russa começar a reunir as crianças todos os dias para cantar o hino
nacional em torno da bandeira, seremos acusados de nacionalismo. Os EUA, não.
Não muito longe dali, o antigo bunker de Stalin tornou-se uma espécie de museu do
ditador e, embora seja uma instituição privada, funciona com peças doadas em algum
momento pelo Museu das Forças Armadas.
Lá dentro, a guia lembra que Stalin levou um país agrícola ao espaço sideral.
— É claro que o país melhorou muito, mas o preço que se pagou foi muito alto.
— Ainda não está na hora de fazer um julgamento sóbrio sobre Stalin. Ninguém está
preparado para fazê-lo — disse Natalia Narochnitskaya, ex-deputada da Duma e
diretora da comissão criada pela presidência russa para proteger a História do país.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Iuri Levada ano passado, apenas um
terço dos russos considera Stalin um criminoso de Estado, sendo que 12% estão de
acordo com a ideia e outros 26% concordam parcialmente. (Vivian Oswald)