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Resumo

Leishmaniose Visceral no Brasil:


quadro atual, desafios e No Brasil, a importância da leishmaniose
visceral reside não somente na sua alta inci-
perspectivas dência e ampla distribuição, mas também
na possibilidade de assumir formas graves e
letais quando associada ao quadro de má
nutrição e infecções concomitantes. A cres-
Visceral Leishmaniasis in Brazil: cente urbanização da doença ocorrida nos

current status, challenges and últimos 20 anos coloca em pauta a discussão


das estratégias de controle empregadas. Nes-
prospects te artigo foram analisados os principais as-
pectos biológicos, ambientais e sociais que
influenciaram no processo de expansão e
urbanização dos focos da doença. Os méto-
dos disponíveis para o diagnóstico e trata-
mento não apresentam a eficácia e aplica-
bilidade desejadas, embora avanços promis-
sores tenham sido alcançados com as pes-
quisas de novos testes diagnósticos e drogas
terapêuticas. As medidas de controle da do-
ença até agora implementadas foram inca-
pazes de eliminar a transmissão e impedir a
ocorrência de novas epidemias. É feita uma
breve análise destas medidas e dos desafios
a serem enfrentados. A prevenção da doen-
ça nos cães através da imunoprofilaxia apa-
rece como uma alternativa para o controle.
Uma nova vacina para cães, já testada em
campo, está sendo industrializada e será
comercializada no Brasil a partir de 2004.
Apesar da existência de inúmeros estudos
sobre a leishmaniose visceral humana e ca-
nina, muitas lacunas ainda precisam ser pre-
enchidas.

Célia Maria Ferreira Gontijo Palavras-chave: Leishmaniose visceral no


Laboratório de Leishmanioses Brasil. Profilaxia. Programa de controle. De-
Centro de Pesquisas René Rachou safios e perspectivas.
Fundação Oswaldo Cruz
Av. Augusto de Lima, 1715 - Barro Preto
30190-002 Belo Horizonte, MG – Brasil
gontijo@cpqrr.fiocruz.br

Maria Norma Melo


Laboratório de Biologia de Leishmania
Departamento de Parasitologia
Instituto de Ciências Biológicas
Universidade Federal de Minas Gerais

Rev. Bras. Epidemiol.


Vol. 7, Nº 3, 2004
338
Abstract Introdução

Visceral leishmaniasis has assumed an in- A leishmaniose visceral (LV), ou calazar,


creasing importance in Brazil due to its high é uma doença crônica grave, potencialmen-
incidence and wide geographical distribu- te fatal para o homem, cuja letalidade pode
tion. When associated with malnutrition and alcançar 10% quando não se institui o trata-
co-infections it can prove to be fatal. A no- mento adequado. É causada por espécies do
table increase in transmission rates related gênero Leishmania, pertencentes ao com-
to urbanization has been observed in the past plexo Leishmania (Leishmania) donovani1.
20 years. A combination of measures is No Brasil, o agente etiológico é a L. chagasi,
needed to define new methods for reducing espécie semelhante à L. infantum encontra-
transmission. This paper analyzes the main da em alguns países do Mediterrâneo e da
biological, environmental and social aspects Ásia. Existe uma grande polêmica em torno
that have influenced the spread and urban- da origem da LV no Novo Mundo – se ela foi
ization of the disease. The diagnostic tests introduzida recentemente, na época da co-
and drugs available have been shown to be lonização européia e causada pela espécie L.
insufficient in both applicability and effi- infantum, ou há vários milhões de anos, jun-
ciency. Significant advances have been made tamente com a introdução dos canídeos,
in the areas of pathogenesis, diagnosis and devendo a espécie ser classificada como L.
treatment, and they are discussed. Current chagasi. Os achados de altas taxas de infec-
control measures are unable to eliminate and ção em canídeos originários da Amazônia
prevent new outbreaks and a brief report is sugerem a origem autóctone2. Entretanto,
presented on the challenges faced. Vaccines estudos utilizando técnicas bioquímicas e
against human and canine visceral leishma- moleculares consideram a L. chagasi e a L.
niasis are being investigated, and there is infantum uma única espécie e aceitam a hi-
hope that the first visceral leishmaniasis vac- pótese de origem recente nas Américas3.
cine for dogs will become available in Brazil A ocorrência da doença em uma deter-
next year. Here we review these develop- minada área depende basicamente da pre-
ments and identify priorities for research. sença do vetor susceptível e de um hospe-
deiro/reservatório igualmente susceptível. A
Key Words: Visceral leishmaniasis in Brazil. possibilidade de que o homem, principal-
Prophylaxis. Control program. Challenges mente crianças desnutridas, venha em al-
and prospects. guns casos a ser fonte de infecção pode con-
duzir a um aumento na complexidade da
transmissão da LV.
No Brasil, a LV clássica acomete pessoas
de todas as idades, mas na maior parte das
áreas endêmicas 80% dos casos registrados
ocorrem em crianças com menos de 10 anos.
Em alguns focos urbanos estudados existe
uma tendência de modificação na distribui-
ção dos casos por grupo etário, com ocor-
rência de altas taxas também no grupo de
adultos jovens4.
A principal forma de transmissão do pa-
rasita para o homem e outros hospedeiros
mamíferos é através da picada de fêmeas de
dípteros da família Psychodidae, sub-famí-
lia Phebotominae, conhecidos genericamen-
te por flebotomíneos. A Lutzomyia

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(Lutzomyia) longipalpis é a principal espécie Atualmente, a LV é endêmica em 62 países,
transmissora da L. chagasi no Brasil. Recen- com um total estimado de 200 milhões de
temente incriminou-se a L. cruzi como vetor pessoas sob risco de adquirirem a infecção.
em foco no estado de Mato Grosso do Sul5. Aproximadamente 90% dos casos ocorrem
Os hospedeiros silvestres da L. chagasi em 5 países: Índia, Bangladesh, Nepal, Sudão
até agora conhecidos são as raposas e os e Brasil13. A doença atinge principalmente as
marsupiais. Duas espécies de raposas foram populações pobres desses países. Embora
encontradas naturalmente infectadas: existam métodos de diagnóstico e tratamento
Lycalopex vetulus no Ceará6; e Cerdocyun específicos, grande parte da população não
thous no Pará7 e em Minas Gerais8. L. chagasi tem acesso a estes procedimentos, elevando
foi isolada em marsupiais do gênero os índices de mortalidade.
Didelphis na Bahia9 e no Rio de Janeiro10. O Nos países endêmicos, a LV continua ne-
fato destes animais possuírem hábitos gligenciada pelo setor privado da economia e
sinantrópicos poderia promover a ligação tem cabido ao setor público, apesar dos re-
entre os ciclos silvestre e doméstico. No cursos escassos e infraestrutura inadequada,
ambiente doméstico, o cão é considerado investir no desenvolvimento de novas drogas
um importante hospedeiro e fonte de infec- e métodos de diagnóstico mais eficientes.
ção para os vetores, sendo um dos alvos nas
estratégias de controle. Entretanto, para se Diagnóstico da Infecção Humana e
determinar o papel destes animais na ma- Canina
nutenção da transmissão da LV, são neces-
sários maiores estudos. Diferentes técnicas podem ser utilizadas
O primeiro relato de LV no Brasil foi fei- para o diagnóstico de leishmaniose visceral
to em 1934, quando foram encontradas humana e canina. Muitos avanços têm ocor-
amastigotas de Leishmania em cortes rido nos últimos anos, mas a despeito do
histológicos de fígado de pessoas que mor- grande número de testes disponíveis para o
reram com suspeita de febre amarela11. So- diagnóstico da LV, nenhum apresenta 100%
mente 20 anos depois é que se registrou o de sensibilidade e especificidade.
primeiro surto da doença em Sobral, no Ce- Nos casos humanos, o diagnóstico é ro-
ará6. Em meados dos anos 80, constatou-se tineiramente realizado com base em parâ-
uma transformação drástica na distribuição metros clínicos e epidemiológicos. Entretan-
geográfica da LV. A doença, antes restrita às to, um diagnóstico definitivo requer a de-
áreas rurais do nordeste brasileiro, avançou monstração do parasita através de méto-
para outras regiões indenes alcançando in- dos parasitológicos.
clusive a periferia de grandes centros urba- O diagnóstico clínico é complexo, pois a
nos. Em 19 dos 27 estados brasileiros já fo- doença no homem pode apresentar sinais e
ram registrados casos autóctones de LV. Nos sintomas que são comuns a outras patologi-
últimos cinco anos, ocorreram em média as presentes nas áreas onde incide a LV,
3.500 casos humanos novos, sendo a maio- como, por exemplo, Doença de Chagas,
ria na região Nordeste do país. A partir dos Malária, Esquistossomose, Febre Tifóide e
anos 90, os estados Pará e Tocantins (região Tuberculose. Pacientes com LV apresentam
Norte), Mato Grosso do Sul (região Centro febre prolongada, esplenomegalia, hepato-
Oeste) e Minas Gerais e São Paulo (região megalia, leucopenia, anemia, hipergamaglo-
Sudeste) passaram a influir de maneira sig- bulinemia, tosse, dor abdominal, diarréia,
nificativa nas estatísticas da LV no Brasil12. perda de peso e caquexia.
Com a expansão da área de abrangência O diagnóstico clínico da LV canina é mui-
da doença e o aumento significativo no nú- tas vezes um problema para o veterinário.
mero de casos, a LV passou a ser considera- Há um amplo espectro de sinais clínicos, des-
da pela Organização Mundial da Saúde uma de animais aparentemente saudáveis, passan-
das prioridades dentre as doenças tropicais. do por oligossintomáticos, até estágios seve-

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ros da doença. Uma característica importan- resulta em hipergamaglobulinemia e grande
te é a permanência da doença clinicamente produção de anticorpos, o que facilita o di-
inaparente por longos períodos. Nos cães, a agnóstico através de testes sorológicos, evi-
doença é sistêmica crônica e pode levar o tando os métodos parasitológicos, que são
animal à morte. Dependendo da fase da do- invasivos.
ença e das condições imunológicas, muitos Diferentes técnicas sorológicas têm sido
cães infectados se apresentam assintomáticos. utilizadas no diagnóstico da LV humana e
Entretanto, já foi demonstrado que cães canina. Os testes diferem em sua sensibili-
infectados, mesmo assintomáticos, são fonte dade e especificidade, na sua aplicação prá-
de infecção para os flebotomíneos e, conse- tica nas condições de campo e na disponibi-
qüentemente, têm papel ativo na transmis- lidade de reagentes. Os testes têm limitações,
são de Leishmania14. Estudos dos fatores de podem permanecer positivos durante longo
risco para a LV canina no Brasil até o mo- tempo após o tratamento, não permitindo
mento não evidenciaram predisposição se- avaliação do efeito da terapia e podendo
xual, racial ou etária relacionada com a infec- ocorrer reações cruzadas com outras doen-
ção. Entretanto, acredita-se que as raças mi- ças. Como há infecções sub-clínicas, um tes-
niaturas sejam menos afetadas por viveram te positivo necessariamente não indica do-
dentro dos domicílios15. Na Europa, há estu- ença ativa. Os clínicos e os epidemiologistas
dos mostrando resultados controversos em sempre solicitam exames sorológicos para
relação a estas variáveis16. confirmar o diagnóstico e esperam que os
resultados sejam confiáveis, sendo a especi-
Diagnóstico parasitológico ficidade e sensibilidade dos testes caracte-
rísticas essenciais para isto.
A demonstração do parasito pode ser fei- Atualmente são usados os testes de
ta em material de biópsia ou punção aspirativa aglutinação direta (DAT), reação de imuno-
do baço, fígado, medula óssea ou linfonodos. fluorescência indireta (RIFI) e ensaio
O material obtido é utilizado para a confec- imunoenzimático (ELISA), que utilizam
ção de esfregaço ou impressão em lâminas, antígenos brutos e são limitados em termos
histologia, isolamento em meios de cultura de especificidade e reprodutibilidade17.
ou inoculação em animais de laboratório. A Na última década, o DAT tem mostrado
especificidade destes métodos é de 100%, mas em vários estudos sensibilidade de 91 a 100%
a sensibilidade é muito variável, pois a distri- e especificidade de 72 a 100%. A técnica com-
buição dos parasitas não é homogênea no bina altos níveis de validade intrínseca e fa-
mesmo tecido. A sensibilidade mais alta (98%) cilidade de execução, embora apresente pro-
é alcançada quando se utiliza aspirado do blemas na padronização e controle de qua-
baço. As punções esplênicas e de medula ós- lidade do antígeno e não tenha valor no prog-
sea são consideradas procedimentos inva- nóstico da doença19. Uma variação da DAT,
sivos e exigem ambientes apropriados para a o FAST (Fast Agglutination Screening Test),
coleta, não sendo procedimentos adequados vem sendo testada para aplicabilidade em
para estudos epidemiológicos em larga esca- situações epidêmicas e para inquéritos
la, e muitas vezes são também inadequados populacionais20.
para diagnósticos individuais17. No Brasil, os testes mais utilizados no
A pesquisa de parasitas no sangue peri- diagnóstico de LV humana e canina são a
férico pode ser utilizada sobretudo em paci- RIFI e ELISA, sendo considerados, sobretu-
entes infectados com HIV18. do este último, testes de escolha para inqué-
ritos populacionais.
Diagnóstico imunológico A RIFI apresenta baixa especificidade, exi-
ge na sua execução pessoal treinado, é uma
A LV é caracterizada por uma marcada reação dispendiosa e não está adaptada para
estimulação policlonal de linfócitos B, que estudos epidemiológicos em larga escala.

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Uma das principais limitações da técnica é a superfície, o antígeno possui alta estabilida-
ocorrência de reações cruzadas com leishma- de, o que o torna um bom candidato para
niose tegumentar, doença de Chagas, malá- trabalhos em larga escala24.
ria, esquistossomose e tuberculose pulmo- Recentemente, um antígeno obtido de
nar17. Isto dificulta a interpretação dos dados promastigotas de L. major-like mostrou
epidemiológicos, pois no Brasil ocorre 100% de especificidade e 92% de sensibilida-
superposição da LV, sobretudo com leishma- de para diagnosticar LV humana e canina,
niose tegumentar e doença de Chagas. sem reações cruzadas com várias doenças
O teste de ELISA é o mais utilizado para incluindo leishmaniose tegumentar25.
imunodiagnóstico de leishmaniose visceral. Os antígenos purificados têm mostrado
É um teste rápido, de fácil execução e leitu- maior sensibilidade que os antígenos bru-
ra, sendo um pouco mais sensível e um pou- tos, mas sua preparação muitas vezes de-
co menos específico que a RIFI. O teste é morada pode requerer métodos sofistica-
sensível, permitindo a detecção de baixos tí- dos de purificação. Antígenos recombi-
tulos de anticorpos, mas é pouco preciso na nantes são mais fáceis de obter e alguns já se
detecção de casos subclínicos ou assinto- encontram disponíveis para o diagnóstico da
máticos21. Funciona igualmente bem para o LV humana e canina. O antígeno A2, uma
diagnóstico da LV canina22. família de proteínas expressada em amas-
Os antígenos utilizados nos testes diag- tigotas, foi testado na Índia e no Sudão, com
nósticos são quase sempre derivados de 60% e 82% de reatividade, respectivamente.
promastigotas de cultura, parasitas intactos No Brasil mostrou 77% de reatividade em
ou moléculas solúveis. Estes antígenos apre- pacientes com LV e 87% em cães com teste
sentam reações cruzadas com outras espé- de RIFI positivo26.
cies da família Trypanosomatidae, e mesmo Outro antígeno recombinante bem es-
com microrganismos filogeneticamente dis- tudado e já testado no Brasil é o rK39, espe-
tantes17. Portanto, no diagnóstico sorológico cífico para as espécies do complexo L.
da LV é necessário considerar o diagnóstico donovani. Este antígeno, quando emprega-
diferencial com outras doenças. do no ELISA, mostrou 100% de especifi-
cidade e 98% de sensibilidade27. Uma impor-
A pesquisa de novos antígenos tante característica deste antígeno é que ele
pode ser empregado em pacientes co-
Deve ser dada ênfase à pesquisa de com- infectados com HIV, nos quais os níveis de
ponentes antigênicos purificados que pos- anticorpos contra rK39 declinam rapidamen-
sam ser utilizados como ferramenta para te com o sucesso do tratamento28.
obtenção de um diagnóstico específico, as- Um teste imunocromatográfico simples
segurando maior sensibilidade e especifici- e rápido, baseado na reação do soro ou san-
dade aos testes. gue do paciente, foi desenvolvido utilizan-
Vários antígenos com diferentes massas do-se o rK39 fixado em papel (Teste Rápido
moleculares têm sido identificados. O Anticorpo Leishmania donovani - TRALd)29.
antígeno Anti-66KDa mostra especificidade O teste mostrou 100% de sensibilidade quan-
de 100%, mas sensibilidade de apenas 37%23. do aplicado na Índia30 e 67% no Sudão31. O
Um complexo antigênico fucose-manose TRALd pode apresentar reação cruzada com
ligante (FM-ELISA), descrito para o comple- malária, febre tifóide e tuberculose. No Bra-
xo Leishmania donovani foi testado no diag- sil, quando aplicado em cães de área endê-
nóstico e prognóstico do calazar humano e mica, a sensibilidade foi de 92% e a especi-
canino. O maior componente do antígeno, ficidade de 99,5%. Entretanto, o teste não foi
uma glicoproteina de 36KDa-GP36, produz capaz de detectar infecção nos animais com
100% de sensibilidade e 96% de especificidade títulos de RIFI baixos de 1:40 até 1:32032. Ape-
quando usado no teste de ELISA. Por se tra- sar das limitações apresentadas, o teste pa-
tar de um complexo de glicoproteínas de rece ser promissor para uso em programas

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de saúde pública, pois requer pequena quan- Métodos de hibridização com sondas
tidade de sangue periférico, é de rápida exe- específicas e técnicas de amplificação de áci-
cução e leitura (10 minutos) e pode ser utili- dos nucléicos, incluindo a reação em cadeia
zado em condições de campo. Recentemen- da polimerase - transcriptase reversa (RT-
te, o teste foi modificado sendo acrescido PCR) para detecção de RNA e PCR para
do antígeno recombinante rK26 do comple- detecção de DNA, estão disponíveis para
xo L. donovani, que também reconhece identificação do parasita. Diferentes tipos de
anticorpos específicos para espécies deste amostras biológicas, tais como aspirados
complexo39. Na avaliação do novo TRALd esplênicos, de medula óssea, de linfonodos,
foi observado que indivíduos assintomáticos sangue total, camada leucocitária, cultura e
negativos ao rK39 mostraram-se positivos sangue coletado em papel-filtro, podem ser
com o rk26, concluindo-se que o novo utilizados como fonte de material para as
TRALd amplia a sensibilidade do teste34. reações39.
Nos testes diagnósticos para LV tem sido A hibridização do DNA foi o primeiro
utilizado soro de pacientes, enquanto a co- método de biologia molecular desenvolvido
leta de sangue em papel filtro tem sido usa- para diagnóstico. Sua especificidade é alta,
da em inquéritos populacionais para estu- mas sua sensibilidade é baixa40. Vários siste-
dos epidemiológicos35,36. Nos inquéritos ca- mas baseados em PCR têm sido desenvolvi-
ninos este é o método de escolha, pois apre- dos para Leishmania41. O melhor alvo para
senta as vantagens de ser de coleta simples e PCR e para as sondas de DNA tem sido o
fácil armazenamento, além de poder ser usa- DNA presente nos minicírculos do KDNA da
do em larga escala. região conservada ou a amplificação do
A detecção de antígenos do parasita é um minicírculo completo.
método ideal de diagnóstico principalmente Nos estudos com LV, a PCR tem sido uti-
quando os níveis de anticorpos circulantes lizada com várias finalidades além do diag-
são baixos, como é o caso dos pacientes nóstico, tais como o monitoramento do tra-
imunossuprimidos. Entretanto, a pesquisa de tamento e estudos epidemiológicos. Esta téc-
antígenos em soro de pacientes com altos ní- nica tem sido descrita como um método sen-
veis de anticorpos é dificultada pela presença sível para a detecção do parasita, indepen-
dos imunecomplexos, fatores reumatóides e dente da imunocompetência ou da história
autoanticorpos. Alguns métodos para a clínica do paciente40. Muitos centros de pes-
detecção de antígenos na urina de pacientes quisas têm avaliado o uso da PCR para o di-
com LV de diferentes áreas geográficas apre- agnóstico de LV utilizando o sangue periféri-
sentaram bons resultados, mas a detecção de co, considerando que a biópsia esplênica e a
casos assintomáticos não foi confirmada37. punção de medula óssea não são técnicas
Uma das vantagens apresentadas é que os adequadas para uso fora do ambiente hospi-
antígenos não foram detectados depois da ter- talar42. Apesar de ser um método sensível para
ceira semana de tratamento, sugerindo um a detecção de Leishmania em uma variedade
bom valor prognóstico38. Entretanto, não exis- de materiais clínicos de humanos e cães, a
te ainda um sistema disponível com compro- PCR é mais usada em estudos epidemioló-
vada aplicabilidade. gicos do que no diagnóstico de rotina43. Para
utilização em larga escala, a PCR necessita de
Métodos moleculares como instrumento ajustes para se tornar mais simples e com
epidemiológico e de diagnóstico da LV custo operacional mais baixo.
Na era pós-genômica há um número cres-
A partir da década de 80, várias técnicas cente de seqüências de nucleotídeos de DNA
de biologia molecular foram desenvolvidas de Leishmania, obtidos não só no projeto
para a detecção e identificação precisa dos genoma, mas também de trabalhos individu-
parasitas do gênero Leishmania, sem neces- ais. Esses dados podem ser utilizados para
sidade de isolamento do parasita em cultura. estudar a função de diversos genes, podendo

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esclarecer aspectos da relação hospedeiro/ mas o custo das novas terapias leva a dife-
parasita e eventualmente ser utilizados como rentes práticas de tratamento, de acordo com
instrumento de diagnóstico e ainda indicar a condição socioeconômica e cultural de
possíveis alvos quimioterápicos. cada região47.

Tratamento O processo de expansão e urbanização

Por mais de sessenta anos, o tratamento O Brasil enfrenta atualmente a expansão


das leishmanioses vem sendo realizado com e urbanização da LV com casos humanos e
antimoniais pentavalentes: antimoniato de grande número de cães positivos em várias
N-metil glucamina-Glucantime® e estibo- cidades de grande e médio porte. O ciclo de
gluconato de sódio-Pentostan®, que são os transmissão, que anteriormente ocorria no
medicamentos de primeira escolha para o ambiente silvestre e rural,hoje também se
tratamento. Estas drogas são tóxicas, nem desenvolve em centros urbanos. Duas déca-
sempre efetivas, e na LV são usadas em es- das após o registro da primeira epidemia
quemas prolongados. O principal efeito urbana em Teresina, no Piauí48, o processo
colateral do glucantime é sua ação sobre o de urbanização se intensificou com a ocor-
aparelho cardiovascular, sendo desacon- rência de importantes epidemias em várias
selhável sua utilização durante os dois pri- cidades da região Nordeste (São Luís, Natal
meiros trimestres de gravidez. Como trata- e Aracaju), Norte (Boa Vista e Santarém),
mentos alternativos no Brasil, são utilizadas Sudeste (Belo Horizonte e Montes Claros) e
a anfotericina B e suas formulações lipos- Centro Oeste (Cuiabá e Campo Grande)12.
somais (anfotericina B - lipossomal e Belo Horizonte, capital do estado de Mi-
anfotericina B - dispersão coloidal), as nas Gerais, ilustra claramente o processo de
pentamidinas (sulafto e mesilato) e os urbanização da LV nas cidades brasileiras.
imunomoduladores ( interferon gama e Desde 1993, a cidade convive com a leishma-
GM-CSF) . Com exceção das duas primeiras niose visceral, introduzida a partir de um
drogas, as demais se encontram ainda em município vizinho. A proximidade entre as
fase de investigação. A utilização destas dro- habitações, a alta densidade populacional e
gas só deve ser realizada em hospitais de re- a grande suscetibilidade da população à in-
ferência44. Dados recentes indicam que a fecção contribuíram para a rápida expansão
resistência aos antimoniais tem se tornado da LV no ambiente urbano. De fato, na Re-
um problema na Índia e no Sudão. No en- gião Metropolitana de Belo Horizonte, o
tanto, a quimioterapia das leishmanioses está percentual de municípios com notificação
mais promissora atualmente do que há al- elevou-se de 6 no biênio 94/95 para 15 no
guns anos, com novas drogas e novas for- biênio 98/99 49. As medidas de controle
mulações para as drogas que já vinham sen- implementadas foram ineficientes, tanto na
do utilizadas 45 . O desenvolvimento de eliminação da transmissão como na preven-
anfotericina B encapsulada em lipossomas ção de novas epidemias.
(AmBisome) tem mostrado bons resultados, Pelo fato da urbanização ser um fenô-
com cura de 90-95% na Índia. O miltefosine, meno relativamente novo, pouco se conhe-
uma droga desenvolvida como um agente ce sobre a epidemiologia da LV nos focos
antitumoral, mostrou 95% de cura efetiva urbanos. As relações entre os componentes
em estudo no calazar indiano. Esta droga da cadeia de transmissão no cenário urbano
apresenta a vantagem de ser de uso oral e parecem ser bem mais complexas e varia-
bem tolerada, embora seja potencialmente das do que no rural.
teratogênica, o que limita a sua utilização Nas últimas décadas ocorreram profun-
por grávidas e nutrizes46. As novas drogas, das mudanças na estrutura agrária do Bra-
principalmente AmBisome e miltefosine, sil, que resultaram na migração de grande
têm mudado o perfil do tratamento da LV, contingente populacional para centros ur-

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banos. Segundo dados do IBGE, 85% da po- para a LV humana. Não há concordância
pulação do país vive em área urbana, o que entre os pesquisadores de que a LV canina
cria condições favoráveis para a emergência seja causa necessária para a LV humana,
e reemergência de doenças, entre elas o embora a maioria dos estudos até agora re-
calazar. Associado a isto há ainda um com- alizados apontem nessa direção. Esta é uma
plexo de fatores, como mudanças ambientais questão que necessita de maiores estudos
e climáticas, redução dos investimentos em para ser inteiramente esclarecida.
saúde e educação, descontinuidade das ações
de controle, adaptação do vetor aos ambi- Estratégias de controle: desafios e
entes modificados pelo homem, fatores pou- perspectivas
co estudados ligados aos vetores (variantes
genéticas), e novos fatores imunossupres- O início do programa de controle no Bra-
sivos, tais como a infecção pelo HIV e difi- sil remonta à década de 50 e tinha como
culdades de controle da doença em grandes objetivo quebrar os elos epidemiológicos da
aglomerados urbanos, onde problemas de cadeia de transmissão da doença. Entretan-
desnutrição, moradia e saneamento básico to, diante da falta de evidências de que as
estão presentes. medidas até então empregadas conduziam
Apesar de ser uma doença de notifica- a um impacto positivo na redução da inci-
ção compulsória, os dados disponíveis são dência da doença humana no país, o Minis-
baseados na detecção passiva de casos. O tério da Saúde/FUNASA convocou em 2000
número de pessoas expostas à infecção ou um comitê de especialistas para, juntamen-
infectadas sem sintomas é em algumas áre- te com a Gerência do Programa, reavaliar as
as muito maior do que o número de casos estratégias de controle empregadas e
detectado36. A ocorrência nas áreas urbanas redirecionar as ações de controle visando a
de infecções subclínicas decorrentes da per- racionalização da atuação52. Este aprimora-
manente exposição do homem às picadas mento vem sendo realizado com base em
infectantes prenuncia um grave problema evidências encontradas na literatura cientí-
associado à circulação do vírus HIV, poden- fica e de ordem operacional, dentre elas:
do transformar a LV em parasitose oportu- • falta de padronização dos métodos de di-
nista50. Realmente, a LV apresenta compor- agnóstico da infecção humana e canina;
tamento diferente na co-infecção com HIV, • discordância entre os estudos que ava-
que se reflete principalmente na resposta ir- liam o impacto da eliminação de cães
regular ao tratamento e alteração do padrão soropositivos na prevalência da infecção
diagnóstico. Tem sido constatado o crescen- humana;
te número de casos de co-infecção • demonstração de que outros reservató-
Leishmania/HIV em áreas urbanas do Bra- rios podem ser fonte de infecção da L.
sil, levando ao aparecimento de nova forma chagasi, como os canídeos silvestres e os
de transmissão pelo compartilhamento de marsupiais;
agulhas contaminadas, com risco de instala- • escassez de estudos sobre o impacto das
ção do ciclo antroponótico artificial12. ações de controle dirigidas contra os
O processo de expansão geográfica e ur- vetores.
banização da LV conduzem à necessidade
de se estabelecer medidas mais eficazes de Um programa de controle foi proposto
controle. Na maior parte dos estudos sobre para ser aplicado nas áreas consideradas de
epidemias urbanas tem sido relatado o en- risco, aglomerados urbanos ou rurais, onde
contro de cães infectados4,10, e em algumas critérios epidemiológicos, ambientais e so-
áreas foi possível observar que a LV canina ciais servirão de base para a delimitação da
precedeu o aparecimento da doença huma- área a ser trabalhada, tendo como indicador
na51. Entretanto, há questionamentos sobre a ocorrência de casos humanos. O controle
se a LV canina é realmente um fator de risco integrado dará ênfase à atenção ao homem,

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com capacitação de pessoal técnico e pro- reduzir a população de flebotomíneos e,
fissionais de saúde para diagnóstico e trata- conseqüentemente, os níveis de transmis-
mento, lembrando que as demais medidas são15. No Brasil, estas ações foram sempre
de controle devem estar sempre integradas descontínuas por diversas razões, tais como
para que possam ser efetivas. A vigilância problemas orçamentários e escassez de re-
epidemiológica é um dos componentes do cursos humanos adequadamente treinados.
Programa de Controle da Leishmaniose Estas medidas não atingiram os efeitos es-
Visceral (PCLV) que visa reduzir as taxas de perados, ocorrendo reinfestações dos am-
letalidade e o grau de morbidade através do bientes e ressurgimento de casos humanos
diagnóstico e tratamento precoce dos casos e caninos de LV.
humanos, bem como da diminuição dos ris- Também foram tentadas experiências
cos de transmissão mediante controle da baseadas no controle do vetor e centradas
população de reservatórios e vetores. O novo no reservatório canino, como os experimen-
enfoque do PCLV incorpora áreas sem ocor- tos recentes com coleiras impregnadas com
rência de casos humanos ou caninos da do- deltametrina, que têm mostrado resultados
ença nas ações de vigilância e controle, promissores na proteção dos animais, com
objetivando evitar ou minimizar a expansão conseqüências na transmissão54.
da doença44. O impacto do controle canino através da
As grandes mudanças no sistema brasi- remoção e sacrifício dos cães soropositivos
leiro de saúde ocorridas nas últimas déca- tem sido discutido por se mostrar trabalho-
das, relacionadas com a descentralização e so e de eficácia duvidosa55.
unificação das ações na área da saúde públi- Tendo em vista que os métodos até ago-
ca, trouxeram novas expectativas em rela- ra utilizados têm sido somente parcialmen-
ção ao controle da LV. te efetivos na prevenção e controle da doen-
Teoricamente, as estratégias de controle ça, novas estratégias de controle devem ser
parecem adequadas, mas na prática a pre- desenvolvidas. A prevenção da doença nos
venção de doenças transmissíveis por cães através da imunoprofilaxia aparece
vetores biológicos é bastante difícil, ainda como uma das poucas alternativas para o
mais quando associada à existência de re- controle. Além disso, não existe tratamento
servatórios domésticos e silvestres e aos as- eficaz ou profilático para o cão infectado56.
pectos ambientais, incluindo aspectos físi- As perspectivas para vacinas contra LV
cos de utilização do espaço habitado. humana e canina foram recentemente re-
O entendimento das interações entre vistas58. Não há até o presente uma vacina
mudanças do meio ambiente urbano e os humana eficaz, e as duas vacinas já descritas
flebotomíneos vetores constituem um pré- na literatura para cães não mostraram efi-
requisito para o desenvolvimento de ações cácia no campo.
apropriadas de prevenção e estratégias de Uma nova vacina desenvolvida na Uni-
controle. Um dos fatores de risco mais im- versidade Federal do Rio de Janeiro, e já tes-
portantes na aquisição da LV é a exposição tada em campo, foi capaz de proteger 92-
ao inseto vetor. Lutzomyia longipalpis é uma 95% dos cães vacinados contra LV59. Consi-
espécie que se perpetua em diferentes derada uma vacina de segunda geração, a
biótopos e nenhuma outra espécie de vacina FML, com o aval do Ministério da
flebotomíneo do Novo Mundo é tão sinan- Agricultura, Pecuária e Abastecimento, está
trópica53. O controle do vetor tem sido base- sendo industrializada e comercializada com
ado no uso de inseticida direcionado para as o nome de Leishmune, pela Fort Dodge®
formas adultas, uma vez que os criadouros Saúde Animal a partir de 2004. Mas o Minis-
da espécie são pouco conhecidos. tério da Saúde não autoriza a utilização des-
O inseticida de ação residual é aplicado ta vacina como medida de controle da
no interior das casas e abrigos de animais, leishmaniose visceral no Brasil, por enten-
sendo esta medida considerada eficaz para der que os estudos até agora realizados re-

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ferem-se à eficácia vacinal canina, e por não postas foi dado pela Fundação Nacional de
ter sido ainda realizado estudo com relação Saúde e Sociedade Brasileira de Medicina
ao impacto na incidência humana e canina, Tropical, ao patrocinarem oficinas de traba-
assim como estudos de custo/efetividade e lho, conferências e simpósios, que têm con-
custo/benefício60. tribuído para um melhor entendimento da
Apesar da existência de inúmeros estu- complexidade do problema. Nestes encon-
dos abordando diferentes aspectos da tros, os órgãos operacionais e a comunida-
Leishmaniose Visceral, algumas questões de científica identificam as dificuldades téc-
cruciais para a implementação das medidas nicas e operacionais, discutem as estratégias
de controle continuam sem resposta. Qual a de intervenção e tentam definir as áreas
real extensão do problema? Quais são os fa- prioritárias de pesquisa. De fato há que se
tores de riscos para as populações? Como valorizar e incentivar novas investigações e
avaliar o impacto das intervenções de con- pesquisas aplicadas como fontes importan-
trole e como antecipar as epidemias? tes de informações para subsidiar o Progra-
Um grande passo para se alcançar as res- ma de Controle da LV no Brasil.

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recebido em: 23/03/04


versão reformulada apresentada em: 14/09/04
aprovado em: 20/09/04

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