You are on page 1of 16

A rtigo

Agroecologia e saber ambiental*


conhecimentos que promovem esta
mudança de paradigma, sobre o pró-
prio sentido do saber agroecológico. Por-
que, mais que poder instrumental, no
concerto destes saberes se joga o
renascimento do ser: da natureza, da
produção, do agrônomo, do cientista,
do técnico, do camponês e do indíge-
na; a reconstrução do ser que finda
sobre novas bases o sentido da produ-
ção e abre as vias a um futuro susten-
tável.
Hoje, esta confraria de mestres da
Agroecologia, reunidos neste cená-
rio, se congrega para a plantação de
Leff, Enrique** uma nova semente, mas também para avaliar
Palavras-chave: Agroecologia, Desenvolvimento- os resultados de suas recentes colheitas. É um
Rural Sustentável - Saber Ambiental. ritual que nos faz recordar aquele momento da
maior glória das artes e ofícios no início do
1. O Renascimento do Ser Renascimento, que ficou plasmado na história
no Concerto do Saber da arte da ópera pelos Mestres Cantores de
Nuremberg, de Wagner. As práticas
A Agroecologia foi definida como um novo pa-
agroecológicas nos remetem à recuperação dos
radigma produtivo, como uma constelação de ci-
saberes tradicionais, a um passado no qual o hu-
ências, técnicas e práticas para uma produção
mano era dono do seu saber, a um tempo em
ecologicamente sustentável, no campo. Neste
que seu saber marcava um lugar no mundo e
Seminário, que congrega os mestres destas no-
um sentido da existência... como sapateiros, al-
vas artes e ofícios, e eu não sendo o que conduz o
faiates ou ferreiros; como músicos e poetas. À
arado, quem, com seu arado, remove a terra e
época dos saberes próprios. Hoje, neste lugar,
planta a nova semente, que dirige um olhar ao
neste conclave de artífices da agroecologia, apa-
caldeirão no qual se fundem e se amalgamam os
rece novamente na cena um Ignacy Sachs, in-
terpretando o sapateiro-poeta Hans Sachs; o
* Texto apresentado ao II Seminário Internacional sobre
mestre que joga com as regras da formação eco-
Agroecologia, Porto Alegre, 26 a 28 de novembro de
nômica e das formas musicais do pensamento
2001. Traduzido ao português por Francisco Roberto
Caporal, em janeiro de 2002. O original, em espanhol, para enriquecer a tradição econômica com a
está disponível em www.emater.tche.br. inovação do ecodesenvolvimento. Participam
neste evento: Toledo, poeta da etnobiologia, e
**O autor é Coordenador da Rede de Formação Altieri, mestre fundador das ciências e técnicas
Ambiental para a América Latina e Caribe, do Progra- da Agroecologia; e o amalgamador Gliessman, o
ma das Nações Unidas para o Meio Ambiente - ferreiro Sevilla. Aqui estão os peleteiros e os al-
36 PNUMA. faiates, que confeccionam o tecido do novo sa-

Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.1, jan./mar.2002


A rtigo
ber praticando suas artes e ofícios, todos escrito- ções culturais, e do princípio da fotossíntese que
res, aprendizes e mestres cantores, todos Ignacy Sachs propôs nos anos 70 como funda-
forjadores do novo paradigma1. Todos represen- mento para a construção de uma nova civiliza-
tantes daquele Walter, cavaleiro de Franconia, ção nos trópicos (Sachs, 1976).
que, deslindando-se e transcendendo seus títu- A Agroecologia sugere alternativas sustentá-
los de nobreza das ciências normais, postulam a veis em substituição às práticas predadoras da
magia das palavras e a alquimia da poesia para agricultura capitalista e à violência com que a
repensar o mundo e suas práticas; para fazer terra foi forçada a dar seus frutos. A Agroecologia
terra em um mundo em reconstrução. Talvez, vai forjando suas normas e regras para um novo
neste certame, o prêmio ao poeta-cantor não seja canto da terra, da mesma maneira que Walter
a mão da bela donzela, senão o gosto de compor aprendeu dos mestres cantores não suas velhas
música com seus saberes e recompor o mundo regras de composição, senão a necessidade de
no pentagrama de Agroecologia. se construir uns princípios para dar voz ao seu
Os saberes agroecológicos são uma conste- canto e expressão a sua poesia. Como Hans
lação de conhecimentos, técnicas, saberes e prá- Sachs, que percebe a loucura, a ilusão e a futili-
ticas dispersas que respondem às condições dade da existência no início da modernidade, e
ecológicas, econômicas, técnicas e culturais de que a saída para o mundo cercado e esgotado do
cada geografia e de cada população. Estes sabe- nosso tempo não está em aferrar-se às normas
res e estas práticas não se unificam em torno do dogma produtivista, de um crescimento sem
de uma ciência: as condições históricas de sua limites, que já não se sustenta, senão em
produção estão articuladas em diferentes níveis transcendê-las através de um novo saber.
de produção teórica e de ação política, que abrem A Agroecologia é terra, instrumento e alma
o caminho para a aplicação de seus métodos e da produção, onde se plantam novas semen-
para a implementação de suas propostas. Os tes do saber e do conhecimento, onde enraiza
saberes agroecológicos se forjam na interface o saber no ser e na terra; é o caldeirão onde se
entre as cosmovisões, teorias e práticas. A Agro- amalgamam saberes e conhecimentos, ciên-
ecologia, como reação aos modelos agrícolas cias, tecnologias e práticas, artes e ofícios no
depredadores, se configura através de um novo forjamento de um novo paradigma produtivo.
campo de saberes práticos para uma agricultu- Na terra onde se desterrou a natureza e a
ra mais sustentável, orientada ao bem comum cultura; neste território colonizado pelo merca-
e ao equilíbrio ecológico do planeta, e como uma do e pela tecnologia, a Agroecologia rememora
ferramenta para a autosubsistência e a segu- os tempos em que o solo era suporte da vida e
rança alimentar das comunidades rurais. dos sentidos da existência, onde a terra era tor-
As múltiplas técnicas que integram o arse- rão e o cultivo era cultura; onde cada parcela
nal de instrumentos e saberes da Agroecologia tinha a singularidade que não só lhe outorgava
não só se fundem com as cosmologias dos po- uma localização geográfica e suas condições
vos de onde emergem e se aplicam seus princí- geofísicas e ecológicas, senão onde se assenta-
pios, senão que seus conhecimentos e práti- vam identidades, onde os saberes se converti-
cas se aglutinam em torno de uma nova teoria am em habilidades e práticas para lavrar a ter-
da produção, em um paradigma ecotecnológico ra e colher seus frutos. Os saberes se confundi-
fundado na produtividadeneguentrópica2 do pla- am com os sabores: o vinho era um produto da
neta terra. Esta nova teoria da produção toma carícia ardente do sol sobre a dourada e redonda
seus princípios da ciência ecológica, do territó- uva; seu fruto era transformado em um elixir de
rio em que a intervenção sobre a terra se nu- amor, marcando seu corpo em danças rituais,
tre de seus potenciais ecológicos e significa- abraçando-o com mãos artesanais, colocando 37
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.1, jan./mar.2002
A rtigo
seus sucos em perfumadas barricas e destilan- se comem só em casa das avós sobreviventes
do-os para convertê-los em água da vida. O vi- da modernização forçada do campo, e seus sa-
nho se degustava saboreando os saberes da pro- bores morrem quando elas se vão deste mun-
dução e formando os saberes do gosto. A maestria do. De modo igual, ocorre em releção aos ali-
da arte da colheita permitia um vínculo do pro- mentos naturais, aos frutos do mar. Um "boi
dutor e do consumidor com os dons da terra. A marinho" na Espanha ou uma "sapateria" em
cultura brincava com a evolução, reproduzindo Portugal são inexportáveis fora das costas do
e diversificando nas formas e nos tempos os sa- Mar Cantábrico e do Oceano Atlântico, que aca-
bores do milho, da batata, da mandioca. A cultu- riciam as terras galegas e lusitanas.
ra coevolucionava com a natureza, hibridando- A globalização, hoje, nos oferece comida de
se e diversificando-se, multiplicando os senti- todos os países em todas as partes do mundo,
dos da vida e as formas da natureza. Eram tem- junto com o Mc Donald's e a Coca-Cola, que
pos em que o camponês extraía os sucosos e gos- homogeneizam o gosto dos cidadãos deste pla-
tosos frutos da terra trocando seus excedentes neta. Mas um "mole" mexicano é em essência
em relações de complementaridade e reciproci- (e por suas essências) tão inexportável como os
dade e não por um mero interesse mercantil. sabores de uma simples massa na mais modes-
Quando o trabalho era saber fazer e saber ser e ta cafeteria de Hong Kong. Os sabores exigem e
a terra era lavrada como o ferreiro molda o me- se aferram ao seu lugar de origem, à sua terra e
tal e o escultor molda a pedra. Quando o fruto do à arte culinária de seus povos, e morrem de nos-
trabalho rendia o fruto das delícias da terra, o talgia ao serem desterritorializados e expatriados.
dom da vida convertido em sabores que não só A terra foi desterritorializada e o camponês
saciavam a fome, senão que, como nos mostrou foi "descampesinado", separado de sua terra e
Barrau (1979) em suas etnobiografias, conjuga- do sentido de sua existência. Hoje, em nome
vam "as metamorfoses da alimentação com os da preservação da biodiversidade, se
fantasmas do gosto". homogeneizam os cultivos de exportação, a
Hoje, o domínio da economia sobre estes tecnologia intervém na vida, manipulando
mundos de vida e a intervenção da tecnologia gens, gerando uma transgênese que, com seu
na própria vida, não só dessecou a terra, em orgulho produtivo, vence as resistências dos
sua fome insaciável de produtividade e lucro, estados livres de transgênicos e as defesas da
como também espremeu o suco dos sabores biossegurança. Em nome da sobrevivência se
para deixar só a forma sedutora de frutos e le- vai matando a vida. A produtividade agronômi-
gumes que atraem pela vista, que saciam a ca não garante a distribuição de alimentos
fome de alguns consumidores, mas que não têm nem a segurança alimentar; avança sepultan-
sabor de nada. Não se trata de nostalgia por tem- do os sentidos do cultivo e os sabores da terra.
pos passados. Hoje a "tortilla", base da alimen-
tação do povo mexicano, perdeu seu sabor; as 2. Agroecologia, produtivi-
frutas e legumes se exibem como bens de luxo, dade ecotecnológica e
a preços exorbitantes, nos supermercados nova-
iorquinos. Parecem mulheres maquiadas atrás
racionalidade ambiental
de uma vitrine: atraem os olhares, é possível A Agroecologia foi definida por Altieri (1987)
fincar o dente e adornar com elas um palito de como "as bases científicas para uma agricultu-
uma cozinha fina, mas não se pode tocar o sa- ra alternativa". Seu conhecimento deveria ser
bor natural de sua pele e de sua suculenta car- gerado mediante a orquestração das aportações
ne. Hoje, o bom "confik d'öie", um "jarkoye", um de diferentes disciplinas, para compreender o
38 "gefilte fish", o acarajé ou o "chile en nogada" já funcionamento dos ciclos minerais, as trans-
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.1, jan./mar.2002
A rtigo
formações de energia, os processos biológicos e ências produtivas da agricultura ecológica, para
as relações socioeconômicas como um todo, na elaborar propostas de ação social coletiva que
análise dos diferentes processos que intervêm enfrentam a lógica depredadora do modelo pro-
na atividade agrícola. A Agroecologia incorpora dutivo agroindustrial hegemônico, para substi-
o funcionamento ecológico necessário para uma tuí-lo por outro, que orienta para a construção
agricultura sustentável, mas ao mesmo tempo de uma agricultura socialmente justa, econo-
introjeta princípios de eqüidade na produção, micamente viável e ecologicamente sustentá-
de maneira que suas práticas permitam um vel. Ela envolve o pesquisador na realidade que
acesso igualitário aos meios de vida. estuda, ao aceitar, em pé de igualdade com o
A Agroecologia compreende a dimensão seu conhecimento científico, os saberes locais
entrópica da deterioração dos recursos naturais gerados pelos agricultores. A Agroecologia sur-
dos sistemas agrícolas, não obstante, ao orien- giu, precisamente, de uma interação entre os
tar suas ações ao âmbito do produtor direto, não produtores (que se rebelam frente à deteriora-
oferece um paradigma compreensivo queapre- ção da natureza e da sociedade, que é provocada
sente soluções globais à degradação entrópica pelo modelo produtivo hegemônico) e os pesqui-
do planeta através de uma nova racionalidade sadores e professores mais comprometidos com
produtiva que dê coerência e eficácia às dife- a busca de estratégias sustentáveis de produ-
ção. É a fusão entre a "Empiria camponesa" e a
"Teoria Agroecológica" que estabelece um de-
A Agroecologia incorpora o funcio- senvolvimento alternativo, um Desenvolvimen-
to Rural Sustentável (Sevilla, 2001). Isso impli-
namento ecológico necessário para ca ir além do estudo das economias campone-
uma agricultura sustentável, mas ao sas para garantir a sobrevivência das comuni-
dades indígenas e a sustentabilidade das eco-
mesmo tempo introjeta princípios nomias camponesas, estabelecendo um víncu-
lo da Agroecologia em uma nova teoria da pro-
de eqüidade na produção
dução, que se sustenta no espaço rural e que,
portanto, convoca os povos do campo e das flo-
rentes técnicas e ações locais. Em suas aplica- restas como atores privilegiados do processo.
ções pontuais, a Agroecologia contribui para des- A Agroecologia se assenta nas particulares
montar os modelos agroquímicos tradicionais; condições locais e na singularidade de suas
mas sua ação transformadora implica a inser- práticas culturais. Ela hibrida uma constela-
ção de suas técnicas e suas práticas em uma ção de múltiplos saberes e conhecimentos. Mas
nova teoria da produção (Leff, 1994, 2000). sua consistência, suas perspectivas de vali-
A Agroecologia não é somente uma caixa de dação e confiança dependem de sua articula-
ferramentas ecológicas para ser aplicada pelos ção em torno de um novo paradigma produtivo.
agricultores. Da maneira como é trabalhada por Pois, mais além de seus direitos próprios como
Altieri, Gonzáles de Molina, Sevilla ou práticas singulares de agricultores, sua exis-
Gliessman, as condições culturais e comuni- tência se debate frente a uma racionalidade
tárias em que estão imersos os agricultores, econômica e tecnológica que vai conformando
sua identidade local e suas práticas sociais são e condicionando as formas de intervenção na
elementos centrais para a concretização e apro- terra, para extrair seus frutos, onde a produti-
priação social de suas práticas e métodos. vidade de curto prazo prevalece sobre os prin-
cípios da produção sustentável e sobre as for-
A Agroecologia, como instrumento do desen-
volvimento sustentável, se funda nas experi- mas de apropriação da natureza. 39
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.1, jan./mar.2002
A rtigo
Frente à transformação da geopolítica de
uma economia ecologizada que hoje em dia
revaloriza o sentido conservacionista da na-
tureza - reabsorve e redesenha a economia
natural dentro das estratégias de mercantili-
zação da natureza -, reduzindo o valor da bio-
diversidade em suas novas funções como pro-
vedora de riqueza genética de valores cêni-
cos e ecoturísticos e de sua capacidade de
absorção de carbono, a Agroecologia se
encrava no contexto de uma economia políti-
ca do ambiente. Desta maneira, devolve o
sentido à força de trabalho como labor produ-
tivo que trabalha com forças da natureza, onde
o trabalho, dentro de conjunto de práticas, não
só é conduzido por saberes e conhecimentos
práticos, mas por uma teoria que os envolve
em uma estratégia política que os conduz e
os faz valer, frente às valorizações "crematís-
ticas"4 da produtividade econômica e tecnoló-
gica de curto prazo.
A nova economia, que acolhe e se constrói
de produtividade natural, da transformação
nas práticas agroeconômicas, se baseia em
neguentrópica da energia solar através da
princípios ecológicos e termodinâmicos desco-
fotossíntese, da produtividade e reprodução das
nhecidos e negados pela ciência econômica
sementes. Gera técnicas para lavrar a terra,
como foram "descobertos" por Nicolás
recombinar os gens da vida, multiplicar a ca-
Georgescu Roegen (1971). Esta nova economia
pacidade de fotossíntese de diversos arranjos
não só reconhece a Entropia como "Lei limite
florísticos, das cadeias trópicas, de cultivos
do crescimento econômico e da produção em
múltiplos e combinados, de pisos ecológicos e
geral". Além de sua negatividade crítica, esta
complementaridades espaciais, para
nova racionalidade produtiva se funda no prin-
incrementar a produtividade ecotecnológica
cípio de uma produtividade neguentrópica.
sustentável de dado território.
Este paradigma de produtividade ecotecno-
Mas esta racionalidade ecotecnológica não
lógica sustentável não só recupera e renova
se produz nem se pratica como um conjunto
os princípios de uma fisiocracia sepultada – e
de regras gerais que se instrumentam e in-
seus saberes associados e subjugados – pela
duzem desde cima – de um laboratório, uma
emergência e domínio da racionalidade eco-
universidade, uma burocracia - sobre as prá-
nômica. Hoje, ante a apropriação privada do
ticas cotidianas dos agricultores e produtores
núcleo genético das sementes e a injeção le-
agrícolas. É um "paradigma" pela generalida-
tal que impede sua reprodução como fonte de
de de seus novos princípios, mas que se apli-
sustento do agricultor, são defendidos os di-
ca através de saberes pessoais e coletivos, de
reitos dos agricultores e se reconhece a pro-
habilidades individuais e direitos coletivos, de
dutividade da natureza encapsulada nas se-
contextos ecológicos específicos e culturas
mentes.
40 A Agroecologia se nutre desta capacidade
particulares. É isso o que abre um amplo pro-

Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.1, jan./mar.2002


A rtigo
cesso de mediações entre a teoria geral e os coisa ser o que é e como é", o que "requer que
saberes específicos, uma hibridação de ciên- a coisa usada seja tratada em sua natureza
cias, tecnologias, saberes e práticas; um in- essencial" (Heidegger, 1954/1968), então o uso
tercâmbio de experiências - agricultor a agri- de recursos naturais implica que eles sejam
cultor - das quais se enriquecem, se validam tratados de acordo com suas formas de ser, com
e se estendem as práticas da Agroecologia. suas condições de existência, de renovação,
A Agroecologia reconceptualiza a terra e a de evolução. Visto desta forma, podemos reno-
natureza como agroecossistema produtivo. Isso var o conceito de valor de uso natural ou valor
significa libertar o conceito de terra e de recur- de uso da natureza não só pelo valor intrínse-
so, das formas limitadas de significação do na- co de uma coisa (um recurso) que a faz ser
tural submetido à racionalidade econômica, que útil, utilizável e necessária para uma pessoa;
levaram a desnaturalizar a natureza de sua or- o valor de uso implicaria também o respeito ao
ganização ecossistêmica para convertê-la em objeto valorado e utilizado para um fim huma-
recurso natural, em matéria-prima para a apro- no, quer dizer, o "valor em si" da natureza por
priação produtiva (e destrutiva) da natureza; suas condições de produção e reprodução, e
que levaram a desterritorializar a terra para como suporte das condições materiais e sim-
poder estabelecer seu valor como uma renda, bólicas da existência humana.
produto das fertilidades diferenciadas dos solos. As aproximações da Agroecologia constitu-
em, assim, um exemplo prático da emergên-
cia do potencial ecotecnológico de uma
As práticas agroecológicas recu- racionalidade ambiental. As práticas
peram o sentido do valor de uso agroecológicas resultam culturalmente com-
patíveis com a racionalidade produtiva cam-
(ecológico) da terra e seus recursos, ponesa, pois se constroem sobre o conheci-
mento agrícola tradicional, combinando este
e o devolvem a seu verdadeiro ser
conhecimento com elementos da ciência agrí-
cola moderna. As técnicas resultantes são
Hoje, parece que desapareceram os ecologicamente apropriadas e culturalmente
condicionantes físicos que obrigam os homens apropriáveis; permitem a otimização da uni-
a adaptar-se às condições locais dos solos, do dade de produção através da incorporação de
clima e da água; como um novo Prometeu li- novos elementos às práticas tradicionais de
bertado pela magia e pela força da biotecnologia, manejo, elevando a produtividade e preser-
o neoliberalismo econômico e tecnológico pre- vando a capacidade produtiva sustentável do
tende libertar a produção de seus limitantes ecossistema. Isso leva a um processo de re-
naturais. Deslocando estas abstrações construção das práticas e dos valores autóc-
simplificadoras e fictícias, o saber ambiental tones das etnias, conservando suas identida-
recupera o ser da natureza e da terra. des culturais. Os serviços ambientais que ofe-
O agroecossistema não só devolve à natu- recem os sistemas agroecológicos contribu-
reza a sua natureza ecossistêmica e recoloca em para a sua produtividade, ao mesmo tem-
a terra em suas bases territoriais (políticas e po em que os fazem mais adaptáveis e resis-
culturais). As práticas agroecológicas recupe- tentes aos câmbios climáticos.
ram também o sentido do valor de uso (ecológi- A Agroecologia, fundada nos princípios da
co) da terra e seus recursos, e o devolvem a produtividade ecotecnológica, oferece novos
seu verdadeiro ser. Pois, se entendemos o verbo potenciais para o desenvolvimento sustentá-
usar no sentido heideggeriano de "deixar uma vel alternativo. Mas estes princípios não po- 41
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.1, jan./mar.2002
A rtigo
dem ser implantados através da imposição de uma tecnologia para o manejo eficiente dos ci-
normas ecológicas gerais, desde as instânci- clos da matéria, dos nutrientes e da energia,
as do planejamento centralizado do Estado, em cadeias tróficas, dos processos de sucessão
nem devem sujeitar-se aos mecanismos de secundária, da diversificação de plantas de ter-
regulação do mercado. Seus princípios emer- ras baixas, de sistemas de cultivos múltiplos e
gem das culturas que habitam os diferentes intercalados e de novas arquiteturas dos recur-
ecossistemas e são recuperáveis através de sos bióticos que integrem plantas de diferentes
uma nova racionalidade produtiva, um culturas, de cultivos de diferentes estações, do
amálgama do tradicional com o moderno, que uso de diferentes pisos ecológicos, que permi-
passa por processos de transformação e assi- tam o manejo mais eficiente da luz, dos nutri-
milação cultural em práticas produtivas lo- entes e da energia, que resultam no aumento
cais. Esses processos estão sendo mobiliza- da produtividade neguentrópica. Não é só a
dos pela emergência de novos atores sociais contraposição de uma lógica camponesa a uma
no campo, cujas letras traduzem os princípi- lógica urbana, senão que de uma racionalidade
os do ambientalismo em novas práticas pro- econômica "contra natura" a uma racionalidade
dutivas apropriáveis pelas próprias comuni- ambiental que recupera as condições ecológi-
dades para satisfazer suas necessidades bá- cas e os potenciais produtivos da natureza, para
sicas e suas aspirações dentro de diversos conduzir um processo de regeneração
estilos de vida e de desenvolvimento. civilizatória, em direção à sustentabilidade.
Mas, ao contrário da relação entre ciênci-
3. Paradigma agroecológi- as e saberes induzida pela especialização de
co: interdisciplinaridade conhecimentos na divisão do trabalho da agro-
e diálogo de saberes nomia capitalizada, para o aumento da pro-

A Agroecologia surge como um conjunto de


conhecimentos, técnicas e saberes que incor- A Agroecologia convoca a um
poram princípios ecológicos e valores culturais
às práticas agrícolas que, com o tempo, foram diálogo de saberes e intercâmbio
desecologizadas e desculturalizadas pela capi-
de experiências; a uma hibridação
talização e tecnificação da agricultura.
A Agroecologia convoca a um diálogo de sa- de ciências e técnicas; a uma
beres e intercâmbio de experiências; a uma
hibridação de ciências e técnicas, para
interdisciplinaridade
potencializar as capacidades dos agricultores;
a uma interdisciplinaridade, para articular os dutividade agronômica de cada unidade pro-
conhecimentos ecológicos e antropológicos, eco- dutiva orientada ao monocultivo para a expor-
nômicos e tecnológicos, que confluem na dinâ- tação, na agroeconomia os saberes se inte-
mica dos agroecossistemas. Estas ciências se gram dentro de outras sinergias e põem em
amalgamam no caldeirão no qual se fundem suas bases outros princípios. Desta maneira,
saberes muito distintos para a construção de o potencial ecotecnológico se funda em sabe-
um novo paradigma produtivo. Esta hibridação res e conhecimentos conservacionistas do
de conhecimentos e diálogo de saberes orienta tecido ecológico dos agroecossistemas e da
uma grande transformação da natureza, para produtividade que emana de seus ciclos eco-
regenerar seus potenciais ecológicos a partir lógicos. Deste modo, na reapropriação de sa-
42 da fotossíntese, o que implica a necessidade de beres tradicionais e sua hibridação com co-
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.1, jan./mar.2002
A rtigo
nhecimentos científicos modernos, o elemen- natureza e a relação do homem com a terra.
to aglutinante não é o desejo de lucro, senão Neste sentido, as múltiplas vias de
a reprodução ecológico-cultural do agroecos- hibridação dos saberes e das práticas não
sistema e do território. As unidades científicas que conformam o conhecimento e
agroecológicas se reforçam através de afini- práticas da Agroecologia não constituem pro-
dades de interesses, em um diálogo de sabe- priamente um paradigma científico que de-
res que se reproduz por meio do intercâmbio veria ser contrastado com a realidade e con-
de experiências (agricultor a agricultor, indí- frontado com a "ciência normal" (e com os
gena a indígena) que não é somente de sabe- valores que esta persegue) e a agronomia ca-
res técnicos, mas de matrizes culturais. pitalizada que existe atualmente. Estes prin-
Os saberes colocados em jogo não se ba- cípios, valores, saberes e conhecimentos ad-
seiam, exclusivamente, em conhecimentos quirem coerência paradigmática em níveis
técnicos e com fim econômico. Também se teóricos mais gerais, nos quais é possível con-
entrelaçam saberes muito mais difusos, de trastar as práticas agronômicas que se origi-
ordem ética e cultural, que muitas vezes de- nam da racionalidade econômica dominante,
terminam as práticas concretas e as formas com a Agroecologia vinculada a uma
de intervenção das sociedades camponesas e racionalidade ambiental.
comunidades indígenas, na configuração de A reorganização de saberes e conhecimen-
seus agroecossistemas produtivos. Um exem- tos a que conduzem as práticas agroecológicas
plo disso é o debate sobre a aceitação ou não se constitui um paradigma que por sua
rechaço da implantação de cultivos maior compreensividade e veracidade haveria
transgênicos, onde a controvérsia de interes- de deslocar o antigo modelo agronômico. Estes
ses em disputa não se resolve nem se decide paradigmas contrapostos não se validam e re-
apenas com base na produtividade agronômi- solvem em sua contrastação com a realidade,
ca, senão que inclui valorações muitas vezes no sentido popperiano nem kuhniano das ci-
incertas sobre possíveis riscos e impactos ências, senão que na confrontação de estraté-
ecológicos, sociais e culturais, e onde o prin- gias produtivas da agronomia capitalista e da
cípio da precaução adquire validez frente ao nova Agroecologia. Estas se dirimem no campo
potencial produtivo das novas biotecnologias. da produção e da política, na afirmação de prin-
A Agroecologia e a agronomia capitalista não cípios ecológicos e valores culturais e não, ex-
se enfrentam por seus "paradigmas de conhe- clusivamente, na produtividade econômica e
cimento" simplesmente contrastando a agronômica resultantes de suas práticas.
efetividade de seus modelos produtivos, toman- Ao contrário dos paradigmas científicos que
do a natureza como objeto. Em ambos os casos, são contrastados e provados em espaços res-
a produção está vinculada a cosmovisões de tritos de experimentação científica, a Agroe-
mundo: assim, enquanto a Agroecologia se cologia se prova nos campos de produção agrí-
nutre dos saberes culturais dos povos, de valo- cola. Seus saberes não se validam ou refu-
res tradicionais que vinculam o momento da tam no laboratório científico, porém nas prá-
produção com as funções simbólicas e o senti- ticas de cultivo de indígenas, camponeses e
do cultural do metabolismo social com a natu- agricultores. Por isso, a Agroecologia desafia
reza, a agricultura capitalista se funda na cren- o conhecimento, mas este se aplica e se tes-
ça no mercado e na valorização da especiali- ta no terreno dos saberes individuais e cole-
zação tecnológica do processo e do crescimen- tivos. A atividade de cada agricultor está mo-
to sem limites, que vai desnaturalizando a tivada por cosmovisões e constelações de va-
lores e interesses que são incomensuráveis 43
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.1, jan./mar.2002
A rtigo
com os valores monetários da agronomia. A O saber ambiental fertiliza o campo da Agro-
Agroecologia implica a produção interdiscipli- ecologia, articula seus saberes e práticas com
nar de conhecimentos, mas se concretiza uma nova teoria da produção e os constitui na
através de um processo de apropriação e apli- ponta de lança e em um pilar para a constru-
cação desses conhecimentos, da hibridação ção de uma racionalidade produtiva alternati-
entre conhecimentos e saberes. va (Leff, 1998,2001). O objetivo da Agroecologia
A validação do paradigma da Agroecologia não é, simplesmente, contribuir para uma pro-
não se produz conforme as regras da produ- dução mais sustentável, dentro dos mecanis-
ção científica convencional, mas através da mos do desenvolvimento limpo, ou para ocu-
experiência dos saberes práticos. São conhe- par nichos de mercado de produtos "verdes"
cimentos que se aferram à terra conduzidos dentro das políticas da globalização econômi-
por saberes individuais dos produtores dire- co-ecológica. O saber agroecológico contribui
tos. Neste sentido, deveríamos falar, sobretu- para a construção de um novo paradigma pro-
do, de "saberes agroecológicos", que envolvam dutivo ao mostrar a possibilidade de produzir
o sujeito do conhecimento, como nos tempos "com a natureza", de gerar um modo de produ-
dos saberes tradicionais, em que a vida coti- ção fundado no potencial ecológico-tecnológico
diana e produtiva estava arraigada nas artes da natureza e da cultura. O saber agroecológi-
e ofícios, na maestria própria da execução de co se inscreve, assim, nas estratégias de po-
práticas guiadas por regras, mas onde a der, no saber pela sustentabilidade, que impli-
criatividade individual não estava submissa cam a necessidade de uma política científico-
a um mecanismo tecnológico e científico im- tecnológica que favoreça seus processos de
posto de cima e de fora do âmbito dos mundos inovação e consolide suas práticas produtivas,
de vida das pessoas. pondo em jogo um complexo processo de recu-
Os métodos da Agroecologia na produção peração, hibridação e inovação de saberes, em
agrícola e florestal se alimentam do conheci- uma política de reapropriação cultural da na-
mento milenar acumulado pelas comunida- tureza.
des indígenas e rurais do mundo inteiro - e,
em particular, das populações das regiões tro-
4. Agroecologia e gestão
picais do planeta -, mas também se alimen- comunitária dos recursos
tam da etnobiologia e da etnotécnica que pro- naturais
porcionam uma "verificação científica" dos
fundamentos de ditas práticas culturais de A nova ordem econômica aspira a estabe-
lecer as bases da sustentabilidade para a
manejo sustentável dos recursos. Frente a
este processo, as próprias comunidades ru- racionalidade do mercado. Entretanto, os fun-
rais incorporam em suas exigências de damentos da Sustentabilidade Global se es-
autogestão uma espécie de prevenção contra tabelecem nos processos produtivos primári-
a "cientifização" do saber agroecológico ins- os - nas economias de subsistência que não
crito nos sistemas de conhecimentos tradici- estiveram regidas tradicionalmente pelos
onais. Esta prevenção se afirma na princípios da acumulação e produção para o
mercado -, que afetam diretamente a fertili-
racionalidade cultural e na identidade étnica
das próprias comunidades, impedindo que o dade dos solos, a produtividade dos bosques e
conhecimento pudesse se impor, desde a le- a preservação da biodiversidade. Neste senti-
gitimidade das instituições acadêmicas e da do, não poderia haver uma economia susten-
tável que não estivesse fundada em uma agri-
44 racionalidade econômica do livre mercado,
sobre as práticas dos produtores rurais. cultura e em uma silvicultura sustentáveis,

Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.1, jan./mar.2002


A rtigo
das quais dependem as condições de existên- temas tropicais, que definem a vocação dos so-
cia da maioria da população do Terceiro Mun- los, assim como a heterogeneidade cultural da
do e o equilíbrio ecológico do planeta. organização social dos países tropicais, obri-
Os métodos da Agroecologia mostraram o gam a pensar uma estratégia diferente para o
potencial de suas estratégias para desenvolver manejo produtivo e sustentável de seus agro-
uma agricultura sustentável e altamente pro- ecossistemas, ao contrário de continuar sua
dutiva, baseada na capacidade fotossintetizado- artificialização e capitalização forçada, deter-
ra dos recursos vegetais, na conservação dos minada pelas condições do mercado mundial.
solos, no manejo de processos ecológicos, nos Reconhecendo que a conversão do uso do solo
cultivos múltiplos e em sua associação com para o desenvolvimento da agricultura comer-
espécies silvestres, no "metabolismo" entre pro- cial e da pecuária extensiva foi a principal cau-
cesso de produção primária, transformação sa do desmatamento - da destruição das flo-
tecnológica e reciclagem ecológica de resíduos restas e selvas úmidas - e da erosão da fertili-
industriais. Estas experiências, uma vez siste- dade dos diferentes ecossistemas da América
matizadas, oferecem princípios e técnicas ca- Latina, surge a necessidade de reorientar as
pazes de ser generalizados. Desta maneira, a estratégias de recuperação e de uso sustentá-
Agroecologia gera novas potencialidades produ- vel do solo, baseadas no manejo múltiplo e in-
tivas no agro, gerando novas alternativas eco- tegrado dos recursos naturais.
lógicas e afirmando suas estratégias nas comu- A oferta natural de recursos procedentes da
nidades rurais (Toledo, 1989). diversidade biológica dos ecossistemas tropicais
A importância dos métodos da Agroecologia oferece condições vantajosas para aplicar os prin-
para o manejo produtivo e sustentável dos re- cípios de manejo agroflorestal em projetos de
cursos florestais e agrícolas radica na oferta autogestão produtiva e de manejo múltiplo e in-
potencial de recursos que pode gerar para me- tegrado dos recursos florestais, agrícolas e pecu-
lhorar as condições de subsistência dos milhões ários, assim como na transformação
de camponeses e indígenas que se encontram agroindustrial in situ de seus recursos, fomen-
em estado de desnutrição e pobreza extrema e tando a integração regional de agroindústrias e
excluídos das garantias da segurança e auto- mercados. Esta estratégia resulta mais adequa-
suficiência alimentar, devido à implementação da às condições ecológicas e sociais da produção
de modelos produtivos que não consideram as sustentável no trópico do que a homogeneização
condições ecológicas, sociais e culturais própri- forçada dos recursos orientada para as oportuni-
as dessas comunidades rurais. Neste sentido, dades conjunturais do mercado mundial. Isso im-
os princípios da Agroecologia oferecem a possi- plica a necessidade de desenvolver tecnologias
bilidade de estabelecer práticas produtivas so- eficientes e adequadas para serem administra-
bre bases ecológicas e democráticas. das pelas próprias comunidades para transfor-
A necessidade desta transformação produ- mar os recursos naturais a escalas que
tiva no campo surge, também, das limitações correspondam aos ritmos de oferta ecologica-
para gerar empregos para a população rural, mente sustentável e que permitam o aproveita-
que é expulsa para as cidades, para terras mento de espécies de uso não convencional.
marginais e ecossistemas frágeis (pelos pro- Os princípios da Agroecologia e o manejo
cessos predominantes de desmatamento e de integrado de recursos suscitam a possibilida-
modernização do agro), empobrecendo ainda de de construir uma economia mais equilibra-
mais a população rural e acentuando a perda da, justa e produtiva, fundada na diversidade

45
de fertilidade dos solos. biológica da natureza e na riqueza cultural dos
A complexidade e a fragilidade dos ecossis- povos da América Latina. Entretanto, para ge-
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.1, jan./mar.2002
A rtigo
rar este novo potencial, é necessário legitimar dades rurais possam assegurar e legitimar seus
os direitos e fortalecer politicamente as comu- direitos sobre seu patrimônio de recursos e a
nidades, dotando-as, ao mesmo tempo, de uma propriedade da terra, de modo que se assegu-
maior capacidade técnica, administrativa e rem a transferência e apropriação real dos no-
financeira, para a autogestão de seus recur- vos recursos tecnológicos para melhorar suas
sos produtivos. Abrem-se aqui diversas possi- condições de autogestão produtiva.
bilidades que vão desde o manejo de reservas As possibilidades que abre a Agroecologia
extrativistas e da floresta natural, até o desen- para converter os recursos agrícolas e flores-
volvimento de práticas de manejo agro-silvo- tais em bases para o desenvolvimento e bem-
ecológicas para o aproveitamento múltiplo da estar das comunidades rurais aparece, tam-
floresta tropical, a regeneração seletiva de seus bém, como um meio para a proteção efetiva
recursos naturais e o manejo de cultivos di- da natureza, da biodiversidade e do equilíbrio
versificados. Pesquisas recentes mostram o ecológico do planeta. A consolidação destes
potencial de desenvolvimento, para o processos dependerá do fortalecimento da ca-
autoconsumo e para o mercado mundial, que pacidade organizativa das próprias comunida-
oferece o manejo produtivo dos diversos e exu- des, para desenvolver alternativas produtivas
berantes recursos da selva tropical, passando que permitam melhorar suas condições de
da agricultura itinerante tradicional ao esta- vida e aproveitar seus recursos de forma sus-
belecimento de parcelas fixas altamente pro- tentável. Desta maneira, os moradores das
dutivas, baseadas no uso múltiplo e integrado florestas e das áreas rurais do Terceiro Mun-
de seus recursos (Boege, 1992). do poderão aliviar sua pobreza e conservar sua
A construção deste potencial alternativo de base de recursos como um potencial produti-
desenvolvimento dependerá, sem dúvidas, da vo que lhes permita satisfazer suas necessi-
produção de tecnologias apropriadas para o dades atuais e construir seu futuro de forma
manejo produtivo da biodiversidade dos ecossis- sustentável. Para isso, é necessário recons-
temas e para o aproveitamento múltiplo de seus truir os potenciais ecológicos e culturais que
recursos, revertendo as tendências dominan- dão as bases a um paradigma de produtivida-
tes que querem transformá-los em grandes de ecotecnológica, ao mesmo tempo em que
plantações de cultivos especializados de alto se legitimam os novos direitos coletivos dos
rendimento no curto prazo. Abrem-se, assim, povos indígenas e das sociedades rurais, para
perspectivas promissoras para um desenvolvi- a reapropriação de seu patrimônio de recur-
mento agroflorestal, gerando meios de produ- sos naturais e culturais (Leff, 1993).
ção melhorados, assimiláveis pelas práticas
produtivas das comunidades rurais. Entretan- 5. O movimento agroecoló-
to o controle das empresas de biotecnologia so- gico e a reapropriação
bre as cada vez mais sofisticadas técnicas de social da natureza
engenharia genética põe em desvantagem as
populações indígenas e camponesas, frente aos A degradação sócio-ambiental está exigin-
grandes consórcios internacionais que contam do a impostergável necessidade de transfor-
com os meios científicos e econômicos para mar os princípios da racionalidade econômi-
apropriar-se do material genético dos recursos ca, de seu caráter desigual e depredador, para
naturais que foram e continuam sendo patri- construir uma racionalidade produtiva capaz
mônio histórico das populações das regiões tro- de gerar um desenvolvimento eqüitativo, sus-
picais. Isso requer a necessidade de desenvol- tentável e duradouro. Este debate teórico e
46 ver estratégias que permitam que as comuni- político gerou um amplo movimento social,
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.1, jan./mar.2002
A rtigo
através do qual os princípios do desenvolvi- autonomia dos povos indígenas e campone-
mento sustentável se vão arraigando nas lu- ses, abrindo perspectivas para uma nova or-
tas populares e nas organizações das comu- dem econômica e política mundial.
nidades rurais, em defesa da autogestão de Neste contexto, os princípios da Agroecolo-
suas terras e de seus recursos naturais. gia e o manejo agroflorestal não só sugerem
Neste sentido, surgiram diversas organi- a necessidade de reestruturar a produção nos
zações, em diferentes regiões do mundo, en- ambientes rurais para ajustar esta produção
tre as quais se destacam o Movimento Chipko, a novas oportunidades de mercado e às con-
contra a privatização dos bosques do Himalaia dições de rentabilidade da produção agrícola,
(Guha, 1989), e o Movimento dos Seringuei- mas se propõem a estabelecer uma nova
ros da Amazônia, em defesa das reservas racionalidade produtiva sobre bases ecológi-
extrativistas (Allegretti, 1987, e Gonçalves, cas e de eqüidade social. Os projetos de capi-
2001). Nos anos recentes, um vigoroso movi- talização do campo, associados primeiro com
mento indígena e camponês - no qual os si- a Revolução Verde e agora com os cultivos
transgênicos, foram incapazes de respeitar o
O movimento para um desenvolvi- valor dos recursos naturais, culturais e hu-
manos do meio rural, levando a uma
mento sustentável é parte de novas sobreprodução e a um subconsumo de produ-
lutas pela democracia direta e tos alimentícios, com efeitos devastadores em
termos de perdas de fertilidade dos solos,
participativa e pela autonomia dos
povos indígenas e camponeses,
abrindo perspectivas para uma nova
ordem econômica e política mundial

nais mais visíveis são o MST e o EZLN - se


incorporou a este processo de ambientaliza-
ção, afirmando seus direitos de autonomia e
autogestão, assim como sua capacidade de
reapropriação de seus territórios, de suas ri-
quezas florestais e da biodiversidade de suas
matas, reconhecendo que sua sobrevivência
e condições de vida dependem do manejo sus-
tentável dos recursos agroecológicos.
Os movimentos sociais associados ao de-
senvolvimento do novo paradigma agroecoló-
gico e a práticas produtivas no meio rural não
são senão parte de um movimento mais am-
plo e complexo orientado em defesa da trans-
formação do Estado e da ordem econômica
dominante. O movimento para um desenvol-
vimento sustentável é parte de novas lutas
pela democracia direta e participativa e pela 47
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.1, jan./mar.2002
A rtigo
salinização e erosão das terras, além da dife- controlem os processos políticos e produtivos
renciação social e da miséria extrema, gera- e não apenas as leis cegas e os interesses
das pelas empresas agroindustriais intensi- corporativos do mercado. Emergem, assim, os
vas em capital e em insumos híbridos e princípios de uma gestão ambiental
energéticos (Garcia et al., 1988 a. e 1986). participativa, a exigência da sociedade civil,
O movimento pela conservação produtiva das das comunidades indígenas e dos povos das
florestas e bosques passou a ocupar um papel florestas, que demandam o acesso e a apro-
importante na resolução de problemas priação de seus recursos, do entorno no qual
ambientais globais, como o aquecimento glo- historicamente se desenvolveram suas civi-
bal, que vem ocorrendo devido tanto às taxas de lizações, dando-lhes o sustento vital e cultu-
desmatamento como aos efeitos da crescente ral. Estas novas economias endógenas e
concentração urbana, ao crescimento da pro- autogestionárias se fundem em uma deman-
dução industrial e ao irracional uso de ener- da por democracia participativa e direta, que
gia. Por isso mesmo, veio à tona o imperativo implica o seu direito de pensar, propor e rea-
de preservar as funções ecológicas das flores- lizar outros futuros possíveis, de gerar novas
tas, que contribuem para manter os equilíbrios técnicas e de apropriar-se delas como força
hidrológicos e climáticos da terra, e de melho- produtiva e de democratizar os processos de
rar o potencial de produção florestal dos trópi- produção de seus meios de vida.
cos, baseado em suas condições particulares de Assim, o movimento ambiental está abrin-
produtividade natural e regeneração ecológica, do novas vias para reverter a degradação eco-
através de práticas sustentáveis de manejo lógica, a concentração industrial, a congestão
integral dos recursos, que permitam preservar urbana e a concentração do poder, para rom-
sua biodiversidade e satisfazer as necessida- per a alienação imposta por um modelo
des fundamentais das populações locais. homogeneizante e desigual; para seguir a evo-
O processo atual de transformação produ- lução da natureza em direção à diversidade
tiva do campo não só propõe um questiona- biológica e seguir a aventura da humanidade
mento sobre a possibilidade de gerar novos pela via da heterogeneidade cultural; para es-
empregos para a população rural que será tabelecer formas mais produtivas e igualitári-
expulsa de um agro modernizado. Na verda- as, mas, também, melhores formas de convi-
de, estabelece o desafio de estancar a perda vência social e de relação com a natureza.
de florestas e solos, enquanto se desenvolvem Os imperativos da modernidade não devem
novas estratégias produtivas que permitam o limitar-se a ajustar (forçar) as diversas condi-
aproveitamento do potencial produtivo dos ções ecológicas, culturais e sociais, que deter-
ecossistemas rurais dos trópicos. minam o aproveitamento eqüitativo e susten-
O problema que está colocado é a necessi- tável dos recursos, aos princípios de uma
dade de articular os espaços de economias racionalidade econômica que somente dá valor
autogestionárias e endógenas, fundado sobre ao patrimônio de recursos naturais e culturais
a apropriação comunitária dos recursos, com em termos de capital natural e humano, quer
as forças onipresentes do mercado mundial. dizer, do valor da força de trabalho e das matéri-
Assim mesmo, será necessário incorporar as as-primas determinado pelos mecanismos do
bases naturais e culturais de sustentabilidade mercado. O desafio é desenvolver novas formas
à racionalidade da produção e equilibrar a efi- de articulação de uma economia global sus-
cácia produtiva com a distribuição do poder, tentável com economias de autoconsumo

48 de modo que sejam os atores conscientes de


uma nova economia social quem decidam e
centradas na melhoria do potencial ambiental
de cada localidade, que resultem altamente pro-
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.1, jan./mar.2002
A rtigo
dutivas, ao mesmo tempo em que preservem a da Agroecologia pelos próprios agricultores e
base de recursos naturais e a diversidade bio- povos da floresta, os quais lutam por
lógica dos ecossistemas. Isso exige a necessi- reapropriar-se do controle coletivo de seus re-
dade de promover formas de associação e in- cursos naturais e culturais e pela reorganiza-
vestimento que transfiram uma maior capaci- ção de suas práticas produtivas.
dade técnica e um maior potencial produtivo às Desde o final dos anos setenta, durante a
próprias comunidades, através de processos de década dos 80 e ainda mais na década de 90,
co-gestão que melhorem as condições de vida uma vertente do movimento ambiental vem se
da população, que assegurem a sustentabilida- firmando nas comunidades rurais, incorporan-
de, a longo prazo, dos processos produtivos e que do suas demandas tradicionais pela terra e pela
aumentem, ao mesmo tempo, os excedentes autogestão de seus recursos naturais. Isso se
comercializáveis. reflete na organização de produtores florestais,
As perspectivas para o uso sustentável dos que lutam por transformar o regime de explora-
recursos estão atravessadas por poderes desi- ção dos recursos das empresas concessionári-
guais que defendem diferentes projetos de de- as, por um novo modelo de apropriação do seu
senvolvimento. Assim, os países do Norte ma- patrimônio de recursos, de autogestão da pro-
nifestam seu interesse em preservar a biodi- dução e comercialização, adquirindo, ao mes-
versidade do planeta e em explorar os recursos mo tempo, o controle sobre os serviços técnicos
florestais dos países subdesenvolvidos, ampa- florestais e gerando inovações técnicas a par-
rando-se nos direitos de propriedade intelectu- tir das práticas tradicionais de uso dos recur-
al e nas patentes sobre melhorias genéticas dos sos. As propostas para o aperfeiçoamento sus-
recursos vegetais. Por outro lado, os países do tentável das florestas e dos recursos naturais
Sul resistem a ceder o controle sobre seus re- estão arraigando-se em novas formas de orga-
cursos aos mecanismos do mercado mundial e nização das comunidades, para a defesa e o con-
às cada vez mais sofisticadas estratégias de trole coletivo de seus recursos, assim como para
dominação que estão desenvolvendo os países o desenvolvimento de estratégias produtivas
do Norte, à base do controle do conhecimento alternativas. Está nascendo, assim, um novo
científico, da propriedade das inovações espírito de organização coletiva, que mobiliza
biotecnológicas e de seu poder financeiro. um desenvolvimento alternativo fundado no
Ante esta disjuntiva, os princípios de potencial produtivo dos ecossistemas, na diver-
racionalidade ambiental e produtividade sidade cultural e nas capacidades organizativas
ecotecnológica se vinculam à necessidade de das comunidades rurais.
reforçar o poder e as capacidades das próprias Ao serem colocadas em prática estas estra-
comunidades para empreender um desenvol- tégias produtivas de gestão participativa, se
vimento endógeno, fundado no aproveitamen- avança na realização de um desenvolvimento
to das florestas e bosques tropicais, a partir dos alternativo, no qual se vai forjando uma nova
princípios da autogestão comunitária e do uso consciência social e um conhecimento coleti-
ecologicamente sustentável dos recursos na- vo sobre o potencial que encerra o manejo eco-
turais. Esta estratégia deixou de ser somente lógico dos recursos naturais e a energia social
uma proposta de acadêmicos, intelectuais e que surge nesses processos sociais de
grupos ambientalistas, para transformar-se autogestão produtiva. Estes vão rompendo um
em uma demanda das comunidades rurais. longo processo de exploração dos recursos e das
Surgiram, assim, numerosas experiências e comunidades rurais - como forma de assegu-
todo um movimento ambiental que colocam na rar a acumulação de capital -, a centralização
prática os princípios do ecodesenvolvimento e política e a concentração urbana, nos quais as 49
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.1, jan./mar.2002
A rtigo
economias de escala e de aglomeração se ambientais. Sem dúvidas, os moradores que
transformaram, superando patamares críticos habitam os bosques, as selvas tropicais e as
de desequilíbrio ecológico e de tolerância soci- áreas rurais onde se significa sua cultura,
al, que se refletem no aumento da pobreza crí- onde se forjam suas solidariedades coleti-
tica e da degradação ambiental. vas e se configuram seus projetos de vida é
A partir desta constatação, está surgindo que podem assumir o compromisso de man-
uma demanda das comunidades para que o Es- ter a base de recursos como um legado de
tado reconheça seus direitos de uso, usufruto e um patrimônio histórico e cultural e como
manejo dos recursos florestais. Emerge, assim, fonte de um potencial econômico para as fu-
uma nova consciência e um novo espírito de turas gerações.
organização coletiva, que mobilizam um desen-
volvimento alternativo ao projeto neoliberal e a 6. Epílogo
um modelo homogeneizador, alheio à diversi-
O tempo está comprovando que a crise
dade cultural e ao potencial produtivo dos ecos-
ambiental é, efetivamente, uma crise
sistemas do trópico. A consolidação desses pro-
civilizatória e que o movimento agroecoló-
cessos dependerá do fortalecimento da capaci-
gico se inscreve no que podemos qualificar
dade organizativa das próprias comunidades.
como uma grande transformação, que tal-
Também requererá uma clara vontade política
vez leve a reverter o processo e as inércias
para apoiar estas alternativas de desenvolvi-
que desembocaram no holocausto ecológico
mento, oferecendo os apoios técnicos e finan-
através da idéia do progresso e do cresci-
ceiros básicos para a inovação e aplicação de
mento sem limites. Para isso, será neces-
novas técnicas para o fortalecimento destas
sário construir uma racionalidade ambien-
novas formas de organização produtiva.
tal que incorpore um novo modelo de produ-
Este movimento levou ao aumento do nú-
ção, fundado por princípios da produtividade
mero de organizações rurais e camponesas,
neguentrópica. Isso haverá de conduzir a
assim como de projetos de pesquisa, desen-
uma regularização da vida que reverta as
volvimento e extensão orientados pelos prin-
inércias que estão levando a uma hiperur-
cípios da Agroecologia, gerando uma colabo-
banização. Para isso, a ciência e as técni-
ração em forma de redes para o intercâmbio
cas da Agroecologia devem articular-se a
de experiências e conhecimentos, assim
uma nova teoria da produção e a novas prá-
como para fortalecer o consenso social a fa-
ticas produtivas; à construção de um mun-
vor dos novos projetos produtivos, buscando
do no qual predomine o Ser das coisas sobre
incidir nas políticas de produção rural e de-
sua utilidade mercantil, onde se revalorize
senvolvimento sustentável.
a terra e o trabalho e onde o ser humano
Desta maneira, um movimento social,
possa reconhecer-se em seus saberes e no
cada vez mais amplo, avança na construção
sentido de suas ações.
de uma nova racionalidade produtiva, fun-
A Agroecologia poderia converter-se, assim,
dada em bases ecológicas para uma produ-
na ponta de lança para a cristalização de um
ção sustentável, assim como em critérios
paradigma de produtividade ecotecnológica. A
de eqüidade social e de diversidade cultu-
Agroecologia será o arado para o cultivo de um
ral, capazes de reverter os processos de de-
futuro sustentável e haverá de articular-se a
gradação ambiental e de gerar benefícios
processos de transformação social que permi-
diretos para as comunidades responsáveis
tam passar da resistência à globalização à cons-
50 pela autogestão de seus recursos
trução de um novo mundo.

Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.1, jan./mar.2002


A rtigo
7. Referências Bibliográficas
ALLEGRETTI, M.H. Reservas extrativistas: York: Harper and Row, 1954/1968.
uma proposta de desenvolvimento da flores- LEFF, E. La dimensión cultural del manejo
ta amazônica. Curitiba, 1987. (mimeo). integrado, sustentable y sostenible de los re-
ALTIERI, M.A. Agroecology: the scientific basis cursos naturales. In: LEFF, E.; CARABIAS, J.
of alternative agriculture. Colorado: Westview (Coord.) Cultura y manejo sustentable de los
Press, Boulder, 1987. recursos naturales. México: CIIH-UNAM/
BARRAU, J. Essaie d´Écologie des Miguel Angel Porrúa/PNUMA Editores, 1993.
Méthamorphoses de l´Alimentation et des LEFF, E.Ecología y capital. Racionalidad am-
Fantasmes du Goût. Social Science biental, democracia participativa y
Information, v. 18, n. 3, 1979. desarrollo sustentable. México: Siglo XXI/
UNAM Editores, 1994.
BOEGE, E.Selva extractiva y manejo del bos-
que natural: las selvas del Sureste de Méxi- LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidad,
co. El Cotidiano, México, n. 48, p.28-34, 1992. racionalidad, complejidad, poder. México:
Siglo XXI/UNAM/PNUMA, 1998. (Tercera
GARCÍA, R. et al. Modernización en el Agro:
edición, revisada y aumentada, 2002).
¿Ventajas Comparativas para Quién? El caso
de los cultivos comerciales en El Bajío.Méxi- LEFF, E. Saber ambiental. Petrópolis: Vo-
co: IFIAS-UNRISD-CINVESTAV/IPN, 1988a. zes, 2001.
GARCÍA, R. et al. Deterioro ambiental y po- LEFF, E.Ecologia, capital e cultura.Blumenau:
breza en la abundancia productiva. El caso FURB Editora, 2000.
de la Comarca Lagunera. México: IFIAS- SACHS, I. Bioconversión de la energía solar
CINVESTAV/IPN, 1988b. y aprovechamiento de los recursos
GEORGESCU-ROEGEN, N. The entropy law renovables: hacia una nueva civilización in-
and the economic process.Cambridge, Mass: dustrial en los Trópicos. Comercio Exterior,
México, v. 28, n. 1, 1976.
Harvard University Press, 1971.
SEVILLA, E. Agroecología y desarrollo rural
GLIESSMAN, S.R. Agroecology: researching
sustentable: una propuesta desde
the ecological basis for Sustainable
Latinoamérica (mimeo). In: SARANDON, Santi-
Agriculture,New York: Springer-Verlag, 1989.
ago (Ed.) Agroecología: el camino para una
GONÇALVES, Carlos W.P. Geo-grafías: agricultura sustentable. Rosario, 2000. (Es-
movimientos sociales, nuevas territorialida- crito para el primer Manual argentino de
des y sustentabilidad. México: Siglo XXI, 2001. agroecología).
GUHA, Ramachandra. The Unquiet Woods. TOLEDO, V.M. et al. La producción rural en
New Delhi: Oxford University Press, 1989. México: alternativas ecológicas. México:
HEIDEGGER, M. What is Called Thinking. New Fundación Universo Veintiuno, 1989.

Notas
1
N.T.: O autor se refere aos professores naturais e o próprio planeta -, uma vez que, a
Víctor Manuel Toledo, Miguel A. Altieri, Stephen rigor, o Segundo Princípio da Termodinâmica
Gliessman e Eduardo Sevilla Guzmán. afirma que a entropia no universo é crescente.
2 3
N.T.: A expressão produtividade N.T.: A palavra crematística não tem
neguentrópica deve ser entendida desde um tradução direta ao português. Trata-se da parte
ponto de vista de sistemas termodinamicamente da ciência econômica que se ocupa dos preços,
abertos - como são os processos biológicos e do estabelecimento de preços das mercadorias.
51
Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.1, jan./mar.2002

You might also like