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CEFAC

CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA


VOZ

AQUECIMENTO E DESAQUECIMENTO VOCAL

ANDRÉA COELHO GAGLIARDI MOTA

SÃO PAULO
1998
CEFAC
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA
VOZ

AQUECIMENTO E DESAQUECIMENTO VOCAL

Monografia de conclusão do curso


de especialização em Voz
Orientadora: Mirian Goldenberg

ANDRÉA COELHO GAGLIARDI MOTA

SÃO PAULO
1998
Resumo

Aquecimento e desaquecimento vocal são procedimentos que beneficiam os

profissionais que utilizam a voz como instrumento de trabalho.

O aquecimento vocal tem como objetivo principal preservar a saúde do

aparelho fonador, além de aumentar a temperatura muscular e o fluxo

sangüíneo, favorecer a vibração adequada das pregas vocais, melhorar a

produção vocal global, dentre outros benefícios. Em média, os exercícios de

aquecimento devem durar de 10 a 15 minutos.

O desaquecimento embora seja menos citado e descrito pelos autores, é tão

importante quanto o aquecimento. O desaquecimento é o oposto do

aquecimento, ou seja, seu objetivo é trazer a voz de volta ao ajuste fono-

respiratório da voz coloquial. A duração média dessa atividade é de 5

minutos, e apesar de curta , é suficiente para o retorno à emissão coloquial.

O cantor é o profissional da voz que mais utiliza essas atividades. Porém,

nós fonoaudiólogos, devemos nos aprofundar no contexto e campo de

atuação dos demais profissionais que se utilizam da voz como instrumento de

trabalho, para que esses também se beneficiem das melhoras que o

aquecimento e desaquecimento vocal possam trazer.


Summary

Warm-up and vocal cool-down are procedures that benefit the professionals

that use the voice as instrument of work.

The vocal warm-up has as main objective to preserve the health of the vocal

apparel, besides increasing the muscular temperature and the blood flow, to

favor the adapted vibration of the vocal folds, to improve the global vocal

production, and other benefits. On the average, the warm-up exercises should

last 10 to 15 minutes.

The cool-down although it is less mentioned and described by the authors, it

is as important as the warm-up. The vocal cool-down is the opposite of the

warm-up, that is to say, its objective is to bring the turn voice to the vocal-

breathing adjustment of the colloquial voice. The medium duration of this

activity is about 5 minutes, and in spite of short, it is enough for the return to

the colloquial emission.

The singer is the professional of the voice that uses these activities. Even so

us voice therapist should deepen us in the context and field of the others

professionals’performance that use voice as work instrument, so that those

also benefit themselves of the improvements that the warm-up and vocal cool-

down can bring.


Agradecimentos

Sou grata pela ajuda direta ou indireta de todos os professores do curso de

especialização do CEFAC, em especial a professora Silvia Pinho, pelo tempo

e auxílio dispensados ao meu trabalho, e a professora Mirian Goldenberg, por

ter me ensinado como construir um texto com arte e reflexão.

Agradeço também os colegas do CEFAC pelas opiniões e correções que

foram de muita valia.


Sumário

1. Introdução ...............................................................................................1

2. Discussão Teórica ..................................................................................3

2.1. Aquecimento Vocal ..............................................................................3

2.1.1. Objetivos do Aquecimento Vocal ......................................................3

2.1.2. Tempo de realização dos exercícios ................................................7

2.1.3. Exercícios realizados no Aquecimento Vocal ...................................7

2.2. Desaquecimento Vocal ......................................................................10

2.2.1. Objetivos do Desaquecimento Vocal ..............................................10

2.2.2. Tempo de realização dos exercícios ..............................................12

2.2.3. Exercícios realizados no Desaquecimento Vocal ...........................12

3. Conclusão ............................................................................................14

4. Referências Bibliográficas ....................................................................17


1. Introdução

Atualmente observa-se um número cada vez maior de pessoas que utilizam

sua voz como instrumento de trabalho; dessa maneira a preocupação com a

saúde vocal vem aumentando, assim como os cuidados específicos que

esses profissionais devem ter.

Segundo Ferreira (1998),”a partir da década de 90 com o contato cada vez

mais intenso com os profissionais da voz, estamos vislumbrando a amplitude

e complexidade da produção de voz, percebendo o quanto ainda temos que

aprender sobre cada um desses profissionais e seu contexto de atuação,

para poder dar conta de maneira adequada, de um trabalho terapêutico ou de

assessoria vocal”(pg 14).

Aquecimento e desaquecimento vocal é assunto ainda novo e escasso em

pesquisas.

O profissional que se beneficia com tal procedimento, é aquele que,

segundo Ferreira (1995), ao produzir sua voz profissional, tem nela seu

instrumento de trabalho. Seguindo este raciocínio, a autora subdivide esses

profissionais em diversas categorias:

• profissionais da arte: cantores (erudito, popular, coral e religioso), atores (

teatro, circo e televisão) e dubladores;

• profissionais da comunicação: locutores e repórteres (televisão e rádio) e

telefonistas;

• profissionais da educação: professores de diferentes áreas e graus,

padres, pastores e fonoaudiólogos;

• profissionais de marketing: operadores, vendedores, leiloeiros, camelôs,

políticos, entre outros;

1
• profissionais do setor da indústria e comércio: diretores, gerentes,

encarregados de sessão, supervisores, entre outros;

• profissionais do judiciário: advogados, promotores e juízes.

Andrada e Silva (1995), em sua tese cita a importância de se orientar os

cantores quanto ao uso do aquecimento vocal. Refere também o

desconhecimento desse assunto entre os profissionais da voz. A autora

coloca que o aquecimento é essencial para qualquer cantor, que deve ter

consciência que as pregas vocais são músculos, e como todo músculo

precisam ser aquecidas antes de uma atividade mais intensa para evitar a

sobrecarga, o uso inadequado ou um quadro de fadiga vocal (1998).

O objetivo principal dessa pesquisa é investigar a efetividade dos exercícios

de aquecimento e desaquecimento vocal para os profissionais da voz. A

investigação do tempo utilizado para a realização dos exercícios e quais

exercícios podem ser feitos em cada atividade, também é meta desse

trabalho.

A pesquisa basear-se-á em levantamento bibliográfico para obtenção dos

dados.

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2. Discussão Teórica

Com finalidades didáticas, irei abordar separadamente os dois tópicos

principais, estudando em cada um, os seus objetivos, o tempo de realização

das atividades e os principais exercícios a serem realizados.

2.1. Aquecimento Vocal

Corresponde à realização de uma série de exercícios respiratórios e vocais,

cuja finalidade é aquecer a musculatura das pregas vocais antes de uma

atividade mais intensa para evitar sobrecarga, o uso inadequado ou um

quadro de fadiga vocal ( Costa e Andrada e Silva, 1998).

2.1.1. Objetivos do Aquecimento Vocal

O objetivo do aquecimento vocal é preservar a saúde do aparelho fonador.

Além disso, este procedimento também permite a coaptação adequada de

mucosa, maior flexibilidade das pregas vocais, aumento da habilidade

ondulatória da mucosa, maior intensidade e projeção do som, bem como

melhores condições gerais para a produção do som como um todo ( Francato

e outros, 1996).

Elliot, Sundberg e Gramming (1995) afirmam que o aquecimento vocal tem

o mesmo efeito na musculatura da laringe como em outros músculos.

Demonstram que após o aquecimento vocal, a temperatura muscular é

aumentada e por essa razão, a viscosidade do tecido muscular é reduzida.

Avaliaram um grupo de homens e mulheres cantores para que pudessem

investigar o efeito do aquecimento no limiar de pressão de fonação.

Observaram que todos os sujeitos foram beneficiados com o aquecimento

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vocal. Concluíram que houvera diminuição no limiar de pressão de fonação,

porém, com variações individuais.

Compartilham dessa idéia Saxon e Schneider (1995), quando afirmam que

além de aumentar a temperatura do tecido muscular, o aquecimento dilata o

leito capilar e aumenta o fluxo sangüíneo, diminuindo também o número de

prejuízos para o trabalho muscular.

Andrada e Silva (1998) concorda que o aquecimento é um fator relevante

antes de atividades vocais, e explica que para que a energia produzida no

fígado alcance os músculos vocais é necessário um aumento do fluxo

sangüíneo na área. Quanto mais bem feito o aquecimento, maior a

quantidade de sangue nas pregas vocais.

Os objetivos dessa atividade de aquecimento podem ser mais amplos e

diversos quando se analisa o profissional que a utilizará. Quinteiro (1989)

mostra que atores de teatro, que têm como rotina esses exercícios,

demonstram um aumento no potencial sonoro, apresentam melhor clareza na

emissão do som, ataque vocal suave e firmeza na continuidade da emissão

do som, favorecendo a propagação da onda sonora de uma maneira contínua

e homogênea. Dentre os objetivos também se encontram os relaxamentos

físico e mental, muito importantes para o ator que entrará em cena.

Já com relação aos cantores, Benninger, Jacobson e Johnson (1994)

referem que o aquecimento é crítico para manter a voz saudável para o

canto. Descrevem também que os exercícios são designados para o

fortalecimento de específicos músculos intrínsecos da laringe, e quando

realizados regularmente podem trazer melhora na produção da voz.

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O programa de aquecimento vocal para cantores, segundo Pela, Rehder e

Behlau (1998) visa não somente à saúde vocal, mas, indiretamente, oferece

melhores condições para uma maior longevidade da voz.

Pela (1996) realizou um estudo com crianças e adolescentes coralistas, com

o objetivo de demonstrar o efeito da utilização de um programa de

aquecimento e desaquecimento vocal em alguns parâmetros vocais. As

principais conclusões foram que o aquecimento e desaquecimento

proporcionam melhoras significativas na produção vocal global dos coralistas;

refletem positivamente em alguns parâmetros vocais, tais como: qualidade

vocal, tempo máximo de fonação, frequência fundamental, proporção

harmônico-ruído, jitter e shimmer ; beneficiam os coralistas com vozes

alteradas, apresentando redução significativa no grau de alteração vocal

encontrada antes do programa desenvolvido, sem, no entanto, substituir o

processo terapêutico.

Facincani, Novaes e Ferretti (1998) realizaram a análise dos parâmetros

vocais de cantores do coral da Universidade Federal de Uberlândia, antes e

depois da realização do aquecimento vocal por eles proposto. A partir dessa

análise e do exame de videolaringoscopia realizado nos cantores, foi possível

concluir que o aquecimento vocal proporciona um maior tempo de fonação ao

cantor ( o aquecimento favorece uma melhor coordenação pneumofônica);

favorece a coaptação entre as pregas vocais reduzindo as fendas glóticas;

provoca uma redução de edemas discretos das pregas vocais; melhora a

lubrificação laríngea, reduzindo a viscosidade do muco; altera o padrão vocal

habitual, ficando a voz, logo após o aquecimento, mais intensa e com

freqüência mais aguda ( esse fato comprova a necessidade de um

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desaquecimento vocal para o retorno ao ajuste fonatório da voz coloquial);

não tem ação sobre lesões organizadas.

Sataloff (1985) sugere que o aquecimento previne a disfunção vocal,

freqüentemente provocada por alterações musculares que compensam a

insegurança quando se canta “frio” ( sem aquecimento).

Pinho (1998) afirma que para o cantor lírico é útil realizar o aquecimento

vocal logo pela manhã, para que já inicie sua fala espontânea com a

musculatura previamente aquecida, previnindo tensões musculares

compensatórias do quadro hipocinético usual ao acordar.

Sataloff (1991) mostra que cinco minutos de suaves escalas permitirão ao

cantor analisar, projetar e controlar a voz antes de usá-la. Além de melhorar a

qualidade vocal, os benefícios físicos de certos exercícios são comparados

ao aquecimento físico de corredores e outros atletas.

Andrada e Silva (1995) propõe que orientações quanto ao aquecimento

vocal antes do uso da voz devem ser consideradas e dependem do local,

tempo e repertório a ser utilizado pelo cantor.

Para oradores que irão realizar uma apresentação, Sataloff (1991)

aconselha a iniciar o preparo vocal aproximadamente um mês antes

daquela, para a obtenção de uma voz pronta para a performance. No

programa de exercícios preparatórios, o aquecimento vocal é incluído.

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2.1.2. Tempo de realização dos exercícios

O tempo de realização do aquecimento vocal é muito variável. Sataloff

(1991) afirma que cantores não devem realizá-lo por mais de 30 minutos.

Andrada e Silva (1998) concorda com o tempo de realização citado pelos

demais autores, e faz um alerta: caso o cantor disponha de 30 minutos para

o aquecimento, o fonoaudiólogo que o acompanha poderá sugerir uma

programação mais ampla e com exercícios que poderão preencher

necessidades pessoais.

Em média, o aquecimento dura de 10 a 15 minutos (Benninger, Jacobson e

Johnson,1994; Saxon e Schneider, 1995; Francato e outros, 1996; Pela,

Rehder e Behlau, 1998; Pinho, 1998), podendo também ser realizado antes

do início da apresentação ou espetáculo, variando de pessoa para pessoa.

Muitos autores não especificam o tempo que deve durar o aquecimento.

2.1.3. Exercícios realizados no Aquecimento Vocal

Existem muitas maneiras de se realizar o aquecimento vocal. Wilson (1993)

demonstra que atores e profissionais de televisão utilizam o próprio material

de leitura e o recitar de falas para se aquecerem.

Exercícios específicos de vocalização podem ser utilizados, como são

descritos por Francato e outros (1996): - sons nasais /m/ e /n/ associados a

movimentos de língua e mastigação; - vibração de lábios e língua; - produção

vocal no registro de falsete; - vocalizações com seqüência de vogais = i, ê, é,

a, ó, ô, u; - exercícios articulatórios; - jogos musicais explorando a respiração;

- trabalho com extensão vocal e controle de intensidade.

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Andrada e Silva (1998) acrescenta exercícios de respiração profunda,

mesclando boca e nariz; alongamento da coluna, conciliando inspiração e

expiração; movimentação dos músculos do pescoço( inclinação lateral, para

frente e para trás e rotação); alongamento do músculo masséter( abertura

ampla de boca); exercícios para abaixamento de laringe e para relaxamento

da musculatura extrínseca( “varrer” palato e rotação da língua no vestíbulo,

mantendo os lábios unidos).

Alguns exercícios como vibração de lábios e de língua em escala

ascendente e exercícios respiratórios são descritos por vários autores como

Pinho(1998),que sugere também a realização de exercícios com sons nasais

visando maior efetividade de adução glótica e glissando em boca chiusa .

Behlau e Rehder (1997) orientam para que se aqueça a voz por meio de

exercícios de flexibilidade muscular, realizando os vocalizes já descritos

anteriormente.

Sataloff (1991) descreve uma série de exercícios divididos em quatro partes:

relaxamento geral e energização, respiração e alinhamento, parte mais alta

do corpo e voz e fala; cada divisão com exercícios específicos.

O aquecimento vocal para atores de teatro é descrito por Quinteiro (1989), e

difere muito dos outros exercícios aqui demonstrados. A autora sugere a

emissão de vogais considerando alguns pontos corporais. Deve-se unir as

mãos, fechando assim um circuito energético em pontos determinados do

corpo, nos quais o som melhor irá amplificar. A seqüência recomendada é a

seguinte:

vogal /u/ - dedos unidos no centro da testa;

vogal /e/ - dedos unidos na altura da cartilagem tireóide;

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vogal /o/ - mãos unidas sobre o osso esterno;

vogal /i/ - mãos unidas na região do estômago;

vogal /a/ - dedos unidos na região pélvica.

Pinho (1998) afirma que operadores de telemarketing também devem

realizar exercícios de aquecimento vocal, como vibração de lábio e língua,

exercícios respiratórios e articulatórios, humming, suspiro e bocejo.

Alguns autores não descrevem o exercício propriamente dito, como é o caso

de Saxon e Schneider (1995), apenas indicam que o aquecimento deve ser

realizado com atividades de fraca intensidade, envolvendo a maioria dos

grupos musculares que serão usados posteriormente.

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2.2. Desaquecimento Vocal

O desaquecimento vocal é ainda menos citado e descrito pelos autores,

porém, é tão importante quanto o aquecimento. A finalidade dessa atividade

é fazer com que o profissional retorne ao ajuste fono-respiratório da voz

coloquial, evitando o abuso decorrente da utilização prolongada dos ajustes

do canto, quando já não são necessários (Pela, Rehder e Behlau, 1998).

2.2.1. Objetivos do Desaquecimento Vocal

Benninger, Jacobson e Johnson (1994) referem que o desaquecimento é

igualmente importante embora muito ignorado. Deve-se esfriar a voz,

especialmente após grandes períodos cantando. Descrevem que o

desaquecimento é simplesmente o oposto do aquecimento, trazendo a voz de

volta ao estado relaxado, dentro de uma média confortável e de um nível

dinâmico.

A primeira forma de desaquecimento vocal descrita por Andrada e Silva

(1998) é o silêncio total por 5 minutos no mínimo. A autora explica que após

uma apresentação, o cantor normalmente produz a voz com pitch mais

elevado e loudness muito forte. Quando o cantor permanece um tempo em

silêncio, ele consegue quebrar esse padrão do canto e pode conversar no

camarim com voz mais fraca e pitch habitual.

Os cantores, que terminado o concerto param de falar ou cantar, são os que

perdem a voz após a apresentação, constata Lavorato (1985).

Pinho (1998) acredita que o desaquecimento vocal deve ser realizado com

exercícios, facilitando ao cantor o retorno muscular à situação de fala

habitual.

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Cantores e oradores devem realizar os exercícios após utilizarem

prolongadamente a voz. Segundo Sataloff (1985), desta maneira pode-se

identificar e corrigir qualquer desequilíbrio muscular por meio do

restabelecimento da tensão vocal.

O desaquecimento vocal após o canto proporciona a retomada do ajuste

fono-respiratório da voz coloquial, evitando o abuso decorrente da utilização

prolongada dos ajustes do canto ( Francato e outros, 1996).

Behlau e Rehder (1997) concordam com a afirmação citada e acreditam que

um cantor que fale da mesma maneira que cante, submete seu aparelho

vocal a um desgaste muito maior.

Atividades de fraca intensidade reduzem o tempo para a voz voltar ao

estado normal. Saxon e Schneider (1995) afirmam que o oxigênio utilizado

durante o desaquecimento é necessário para criar homeostase, por meio do

reabastecimento do estoque metabólico e do glicogênio muscular; reduzir a

temperatura do tecido; equiparar a perturbação hormonal; e reduzir o ácido

lácteo. Os autores constatam que com exercícios leves, o ácido lácteo é

removido do sangue no prazo de 15 a 20 minutos; e com repouso completo

há sobra do ácido por mais de uma hora após a utilização da voz.

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2.2.2. Tempo de realização dos exercícios

Quanto ao tempo de realização do aquecimento, não há regra comum entre

os autores pesquisados. Muitos não especificam o tempo de duração dos

exercícios.

Benninger, Jacobson e Johnson (1994) acreditam que o tempo pode variar,

mas uma boa regra é, aproximadamente, metade do tempo do aquecimento

realizado anteriormente.

Já Francato e outros (1996) e Pela, Rehder e Behlau (1998) referem que a

duração média do desaquecimento é de 5 minutos, e apesar de bastante

curto, este tempo tem-se mostrado eficiente para o retorno à emissão

coloquial.

O tempo médio utilizado para o aquecimento vocal (10 minutos) pode ser o

mesmo usado para os exercícios de desaquecimento ( Pinho ,1998) .

Para Lavorato (1985), o desaquecimento é feito por 2 minutos em intervalos

de 45 minutos durante muitas horas.

2.2.3. Exercícios realizados no Desaquecimento Vocal

Há grande variação nos exercícios que podem ser feitos para o

desaquecimento vocal. Lavorato (1985) sugere a realização de exercícios

vocais vigorosos, ou apenas vocalizar, no caso de cantores.

Segundo Behlau e Rehder (1997), após o término das apresentações ou

dos ensaios, o cantor deve desaquecer a voz por meio de exercícios para

retornar a voz falada, utilizando bocejos e fala mais grave e fraca.

Os exercícios podem ser associados a movimentos corporais. Francato e

outros (1996) descrevem os seguintes exercícios: - técnica do bocejo; -

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rotação de cabeça com vogais /a/, /o/ e /u/; - sons nasais e/ou vibrantes

associados a glissandos descendentes; - voz salmodiada; - fala espontânea

com depoimentos para discriminação dos ajustes fonatórios (canto e fala).

Exercícios como relaxamento cervical e vocalizes em vibração nas escalas

descendentes são descritos por vários autores , dentre eles Pinho (1998) e

Andrada e Silva (1997). Podem ser realizadas massagens digitais no laringe

com movimentos circulares em volta da cartilagem tireóide, movimentos

verticais na frente do pescoço ( músculo cricotireoideo) e apertos na região

da nuca e nos trapézios. A massagem auxilia a circulação local, levando a

diminuição do edema nas pregas vocais e na musculatura do pescoço

causado por um uso intenso ( Andrada e Silva ,1997).

Atividades de fraca intensidade são referidas por Saxon e Schneider (1995)

como ideais para a realização do desaquecimento vocal.

Após a pesquisa realizada, observei a importância da realização tanto do

aquecimento como do desaquecimento vocal para os profissionais da voz. No

entanto são atividades pouco conhecidas e praticadas por esses

profissionais, salvo o cantor que, segundo os autores aqui descritos, é quem

mais se utiliza dos exercícios de aquecimento e desaquecimento vocal.

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3. Conclusão

Após o estudo realizado, cheguei a conclusão de que a prática do

aquecimento e desaquecimento vocal é essencial para os profissionais da

voz que queiram manter a saúde vocal e se previnir do desgaste de seu

aparelho fonador.

Durante a revisão bibliográfica, constatei que essas atividades são pouco

citadas pelos autores, porém, já existem pesquisas em campo realizadas com

cantores, que comprovam a efetividade para esses profissionais.

Um item a ser levado em consideração, é a importância dada ao cantor.

Alguns dos autores pesquisados referem que os exercícios de aquecimento

devem ser feitos por profissionais que utilizam a voz como instrumento de

trabalho, e como já foi descrito por Ferreira (1995), há várias categorias

desses profissionais, não se resumindo somente aos cantores, sejam eles

líricos, populares ou coralistas. Encontrei poucas referências citando outros

profissionais como operadores de telemarketing, oradores, atores de teatro

ou televisão, dentre outros.

Quando o desaquecimento vocal foi discutido, houve uma restrição ainda

maior, pois somente os cantores foram citados por todos os autores. Diante

desse fato, surgiu-me uma dúvida: se todos os profissionais devem realizar o

aquecimento, e segundo Facincani, Novais e Ferretti (1998) após essa

atividade a voz fica mais intensa e com a freqüência mais aguda,

necessitando do desaquecimento para o retorno ao ajuste fonatório da voz

coloquial, por que nenhum autor refere a prática dos exercícios de

desaquecimento para os demais profissionais? Um ator de teatro ou de

televisão que muda seu padrão de ajuste muscular para realizar uma voz

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infantil ou uma voz senil, não necessita do desaquecimento para o retorno a

sua voz coloquial? Os demais profissionais da voz não deveriam fazer

alguma forma de desaquecimento vocal, como por exemplo, um período de

silêncio?

Aqui volto a apontar e concordar com Ferreira (1998), quando afirma o

quanto ainda temos que aprender sobre cada um desses profissionais e seu

contexto e campo de atuação.

Houve concordância por todos os autores no que se refere a necessidade e

efetividade tanto do aquecimento como do desaquecimento vocal.

O tempo de realização dos exercícios é outro item em que os autores expõe

a mesma opinião. Um fator relevante é que apenas 5 minutos do

desaquecimento vocal já são suficientes para o retorno à emissão coloquial

de uma maneira eficiente ( Francato e outros, 1996 e Pela, Rehder e Behlau,

1998).

Os exercícios que devem ser realizados durante as atividades de

aquecimento e desaquecimento vocal também foram pesquisados. No

aquecimento, alguns exercícios foram mais citados e enfatizados, como os

exercícios respiratórios e articulatórios, vibração de lábios e língua em escala

ascendente, resultando em uma freqüência mais aguda, como afirma

Facincani, Novais e Ferretti (1998), o que justifica a necessidade do

desaquecimento vocal para o retorno muscular à situação de fala habitual. No

desaquecimento, determinados exercícios foram mais descritos, como o

relaxamento e massagens específicas na região da laringe, bocejo e

vibrações em escala descendente.

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Após vislumbrar todos esses fatos, fica-me a certeza da necessidade de

maior pesquisa e aprofundamento por parte do fonoaudiólogo nessa área

relacionada aos profissionais da voz.

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4. Referências Bibliográficas
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