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PRÊMIO TESOURO NACIONAL

TEMA 2: TÓPICOS ESPECIAIS DE FINANÇAS PÚBLICAS

A TRIBUTAÇÃO DOS LUCROS E O RETORNO AO


INVESTIMENTO NO BRASIL
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil

Sumário
1. Introdução

2. Conceitos Básicos

2.1 O Problema da Dupla Tributação de Dividendos


2.2 Tratamento Tributário dos Dividendos no Brasil
2.3 Os Juros sobre o Capital Próprio
2.4 Dividendos versus Juros sobre o Capital Próprio
2.5 Endividamento e Ganhos de Capital

3. Tributação de Lucros no Brasil e na OCDE: Semelhanças e Diferenças

3.1 Dividendos
3.2 Juros
3.3 Juros sobre o Capital Próprio
3.4 Ganhos de Capital
3.5 Prejuízos Fiscais
3.6 Depreciação
3.7 Avaliação de Estoques
3.8 Alíquotas do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas
3.9 Outros Tributos Pagos pelas Empresas

4. Investimento Doméstico

4.1 Caso Básico


4.2 Introduzindo o IRPF e Retenção na Fonte
4.3 Simulações
A. Reduzindo os Juros
B. Tributando Dividendos a 15%
C. Elevando a Alíquota do IRPJ
D. Simulando o Aumento da Inflação
E. Alterando a Proporção de Estoques Avaliados pelo FIFO
F. Isentando os Ganhos de Capital
G. Elevando a Tributação sobre os Juros
H. Modelando os Juros sobre o Capital Próprio (JCP)

CONCLUSÃO

Referências Bibliográficas
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 1

1. Introdução

Em artigo 1 recente, o professor Ives Gandra Martins afirma ser a carga tributária

brasileira uma das principais responsáveis pelo fraco desempenho da economia

nacional nos últimos anos. A crítica, que é compartilhada por outros elementos da

sociedade, não é exclusiva do tributarista e nem privilégio do Brasil, pois em outros

países existe argumentação semelhante. De fato, a carga tributária brasileira está

entre as maiores do mundo, mas cabe investigar sua influência sobre o

desenvolvimento do país com maior rigor.

Este estudo concentra-se na tributação dos lucros das empresas e em sua relação

com o investimento. Embora as noções de carga tributária e crescimento econômico

estejam além desta proposta, ao remeter a questão à tributação de lucros e ao

investimento pretende-se examinar o assunto em um de seus aspectos mais

relevantes. Críticas à tributação dos lucros são freqüentes, tanto no Brasil como em

outros países. São comuns as assertivas de que os países tributam os lucros de

forma a criar distorções na alocação do capital, a enfraquecer a poupança interna e

a introduzir complexidade desnecessária e custos adicionais.

Em outro prisma, a globalização da economia mundial vem derrubando barreiras à

mobilidade do capital. O fato de países em desenvolvimento manterem sistemas de

tributação de lucros distantes das práticas internacionais pode criar para estes

dificuldades de inserção na economia global. No caso do Brasil, o país tem

empreendido reformas estruturais, mantido a inflação sobre controle, aumentado as

exportações e o superávit primário, editado normas recentes que visam estimular o

1
Gandra, Ives “Carga Tributária Insuportável”. Notícias Forenses, agosto/2004.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 2

investimento, mas, ainda assim, apresenta taxas de crescimento econômico abaixo

das expectativas, se considerados os últimos dez anos. Para que o Brasil possa

crescer, são requeridos investimentos de vulto, que não podem prescindir do auxílio

externo, uma vez que o volume de poupança interna é baixo. Conquanto a

tributação não seja o único determinante do investimento, seu impacto potencial

sobre as decisões de alocação de capital constitui motivo suficiente que se proceda

ao estudo da relação entre tributação e investimento. O tema é oportuno na agenda

do governo que, recentemente, vem editando várias medidas de natureza tributária

que visam incentivar o investimento. Pretende-se, dessa forma, contribuir para o

debate sobre a reforma do sistema tributário brasileiro, fundamentando a discussão

do assunto em bases conceituais que possam nortear a formulação de políticas

públicas.

Naturalmente, os conceitos utilizados não foram desenvolvidos aqui. O ponto de

partida desta análise é o relatório 2 publicado em 1991 pela Organização para

Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que sedimentou a base teórica

para o estudo dos efeitos dos sistemas de tributação sobre o investimento doméstico

ou externo. O modelo do King-Fullerton é apontado pela própria OCDE como “a

abordagem metodológica mais amplamente aceita para o cálculo de alíquotas

efetivas, produzindo resultados consistentes para os 24 países membros”. A

aplicabilidade do modelo ao Brasil é viável, uma vez que este utiliza equações e

parâmetros adaptáveis aos sistemas de tributação de qualquer país, muito embora a

OCDE tenha deixado claro que minúcias e particularidades dos diferentes regimes

de tributação teriam que ser ignoradas.

2
OECD Staff . “Taxing Profits in a Global Economy” – OCDE, Paris, 1991.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 3

Objetivos

Visando atender aos interesses de formuladores de políticas tributárias, de

investidores, de estudiosos e estudantes, este relatório tem por principais objetivos:

• Contribuir para o debate sobre o modo mais apropriado de tributar o lucro das

empresas, considerando a redução de barreiras à mobilidade do capital imposta

pela globalização da economia mundial como elemento chave;

• Apresentar, brevemente, as principais características do regime de tributação dos

lucros no Brasil e compará-las aos sistemas da OCDE;

• Quantificar, de acordo com os modelos matemáticos adotados pela OCDE, a

influência da tributação brasileira sobre o investimento doméstico; e

• Analisar, em hipótese, políticas alternativas que viessem alterar o regime de

tributação de lucros no Brasil, bem como fornecer sugestões para

aperfeiçoamento do sistema então vigente.

Organização

Seguindo-se a esta introdução, a seção 2 insere o problema da dupla tributação de

dividendos e aborda as diferenças entre as principais fontes de financiamento de

novos projetos empresariais: endividamento, aporte de capital dos acionistas e

aplicação de lucros acumulados. Há também referência aos juros sobre o capital

próprio (JCP), que recebem tratamento tributário semelhante ao dos juros pagos por

empréstimos. A seção 3 apresenta algumas das principais características do sistema


A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 4

tributário brasileiro no que tange à tributação das empresas e as compara aos

sistemas da OCDE, mediante o uso de tabelas. Quais as diferenças e semelhanças

no tratamento tributário dos dividendos, dos juros, dos ganhos de capital; e como

são desenhados os sistemas de depreciação e de avaliação de estoques são alguns

dos itens abrangidos. Essas duas seções encerram o delineamento descritivo dos

aspectos mais relevantes ligados ao tema e constituem o fundamento para a análise

quantitativa que se seguirá. Na seção 4, é introduzido o modelo de King-Fullerton,

utilizado pela OCDE para calcular a cunha fiscal que incide sobre o custo do capital

empresarial para investidores domésticos. O modelo de King-Fullerton permite

quantificar, em termos percentuais, o retorno ao investimento de três fontes de

financiamento e de três tipos de ativos, a partir das características de um

determinado sistema tributário. As três fontes de financiamento consideradas são o

endividamento, o aporte de capital societário (pela emissão de novas ações para

captação de recursos) e os lucros retidos. Já os tipos de ativos considerados são

máquinas, edificações e estoques de itens de inventário. Ao solucionar as equações

do modelo, surgem nove percentuais de retorno ao investimento, que correspondem

à combinação de todos os tipos de ativos com as diferentes fontes de financiamento.

Divergências entre esses nove percentuais indicam a existência de um sistema

tributário desbalanceado, ou seja, o sistema tributário, por si, potencializa e favorece

investimentos em determinado tipo de ativo e desencoraja os demais ou privilegia

uma determinada fonte de financiamento (endividamento, no caso) e prejudica as

demais. Para tornar o sistema tributário neutro, ou seja, para que este dê o mesmo

tratamento às diferentes opções de financiamento e aquisição de ativos, todas as

nove taxas de retorno mínimas exigíveis antes da tributação devem ser iguais.

Dessa forma, a análise inicia-se com a definição de parâmetros do caso básico para,
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 5

depois, alterando-se os parâmetros iniciais, simular diferentes caminhos em termos

de política tributária. Concluindo, as simulações demonstraram a necessidade de

revisar os benefícios da dedução dos juros sobre o capital próprio, tendo em vista

que o modelo indicou que o sistema permanece favorecendo o endividamento como

fonte de financiamento empresarial. Também ficou caracterizada a necessidade de

aliviar a tributação sobre os ganhos de capital e de aumentar a carga tributária sobre

os rendimentos de juros. Entretanto, ressalte-se que essas conclusões advêm

estritamente do emprego do modelo de King Fullerton, de acordo com as premissas

utilizadas.

Escopo e Limitações

Assim como o relatório da OCDE, este estudo dá ênfase às grandes empresas

industriais, às sociedades anônimas e aos principais tributos que incidem sobre o

lucro das mesmas. Isto não quer dizer que as pequenas empresas e outros tipos de

negócios estejam excluídos. Os modelos matemáticos foram desenvolvidos para a

formulação de análises a nível macro e, portanto, possuem extenso campo de

abrangência. Todavia, as análises de teor microeconômico ou setorial ficaram de

fora, bem como todas as particularidades e exceções existentes na legislação

brasileira. Isto porque, apesar da reconhecida consistência dos modelos, a

complexidade intrínseca dos sistemas de tributação reais não pode ser totalmente

formalizada matematicamente, fato admitido pela OCDE. Quanto aos tributos, o foco

recai sobre o Imposto de Renda, tanto das pessoas jurídicas (IRPJ), como das

pessoas físicas (IRPF), seja ele retido na fonte (IRRF) ou não. No caso de pessoas

físicas e de retenção, interessa observar a tributação de dividendos, juros, lucros e

ganhos de capital decorrentes de valorização acionária. A Contribuição Social sobre


A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 6

o Lucro (CSLL) é também mencionada pela sua estreita ligação com o imposto de

renda. Outros tributos, tais como as contribuições patronais e para a seguridade

social, apesar de também influenciar decisões sobre investimentos, não serão objeto

desta análise.

Outras limitações importantes são enumeradas a seguir:

Receita Governamental – este estudo não leva em conta o impacto das medidas

que propõe na arrecadação de receitas públicas;

Definições de termos – assume-se que o leitor esteja familiarizado com os termos

e conceitos utilizados pela OCDE no relatório citado.

Respaldo empírico – este estudo não está acompanhado de evidência empírica.

Acredita-se ser recomendável uma verificação das séries históricas de

endividamento, aporte de capital, retenção de lucros, investimento em máquinas,

equipamentos, edificações e mercadorias a fim de confirmar os resultados

obtidos;

Depreciação Acelerada – foram utilizadas as taxas legalmente previstas para a

depreciação acelerada; no entanto, se estas divergirem das taxas efetivas, os

cálculos envolvendo investimentos em ativos podem apresentar distorções;

Eqüidade – este estudo está centrado na eficiência econômica e na neutralidade

da tributação. Considerações a respeito da equidade, embora importantes, não

estão sendo abordadas. Todavia, acredita-se que, a partir dos resultados aqui

demonstrados, os formuladores de políticas tributárias terão elementos para

estimar a perda de eficiência em função desta ou daquela política;

Pesos e Estimativas – na ausência de dados mais precisos, os mesmos pesos

atribuídos pela OCDE foram utilizados para cálculo das taxas de retorno ao
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 7

investimento no Brasil. Da mesma forma, foram estimadas a proporção de

estoques avaliados pelo FIFO, o volume financeiro de ganhos de capital

realizados por ano, a razão média entre juros sobre o capital próprio e os

dividendos pagos pelas empresas. Obviamente, essas estimativas devem ser

recalculadas com base em dados reais;

Investimento Externo – este trabalho contempla apenas o investimento doméstico,

mas é fundamental complementá-lo sob o ponto de vista do investimento externo.

O passo seguinte é avaliar como o sistema tributário brasileiro responde aos

conceitos de capital export neutrality (CEN) e capital import neutrality (CIN);

Evasão e Elisão Tributárias – por simplicidade, estes itens foram desprezados,

uma vez que o método de King Fullerton não as inclui.

2. Conceitos Básicos

2.1 O Problema da Dupla Tributação de Dividendos

Os primeiros estudos sobre o assunto tiveram por base o tratamento tributário típico

de um sistema clássico.3 Nesse sistema, os lucros das corporações são tributados

após a sua apuração contábil e os dividendos pagos aos acionistas são novamente

tributados. Daí a alegação de dupla tributação, que teria efeitos negativos sobre o

financiamento de novos projetos empresariais que tivessem por base o aporte de

capital dos acionistas. Em extrema síntese, este era o raciocínio dos economistas

adeptos da antiga visão. Para estes, o sistema clássico privilegiaria o endividamento,

que seria a fonte de financiamento preferida pelas empresas, pois os juros pagos a

título de empréstimo seriam dedutíveis da base de cálculo do imposto de renda.

Dessa forma, os estudiosos previam que, no longo prazo, muitas empresas iriam à

3
A definição de sistema clássico, bem como de outros termos utilizados neste relatório podem ser consultadas
no relatório da OCDE (“Taxing Profits in a Global Economy”).
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 8

bancarrota, acarretando o colapso do sistema. Dar isenção aos dividendos era vista,

portanto, como medida importante para que não houvesse tratamento diferenciado

entre as fontes de financiamento empresarial. Esta posição doutrinária foi mais tarde

contestada pelos adeptos da nova visão, que acreditavam que a isenção dos

dividendos não proporcionaria tratamento igualitário entre endividamento e aporte de

capital, mas, simplesmente, acarretaria ganhos demasiados aos acionistas, ganhos

estes, desarticulados da atividade empresarial. Os adeptos da nova visão, porém,

deixaram claro que esta hipótese seria aplicada somente às corporações maduras,

pois, em se tratando de novas empresas, as idéias da antiga visão estariam corretas.

Os conceitos defendidos pela antiga e pela nova visão serviram para que os países

escolhessem regimes diferentes de tributação. Os EUA, por exemplo, permanecem

adotando o sistema clássico, enquanto países como França, Itália e Alemanha

preferiram integrar seus sistemas de tributação sobre as pessoas físicas e jurídicas

de tal forma a eliminar ou reduzir o problema da dupla tributação de lucros.

Obviamente, havia um forte motivo para que o fizessem. Com a globalização, a

mobilidade do capital tornou-se muito mais intensa. Países que adotassem regimes

de dupla tributação de lucros poderiam ver os investimentos migrarem para outros

mercados. Assim, surgiram os sistemas de imputação e os sistemas de alíquotas

diferenciadas (split rates). No primeiro caso, a idéia básica é conceder um crédito à

pessoa física que, em geral, é formalizado na sua declaração de ajuste. Tal crédito

tem por base o imposto retido na fonte sobre os dividendos. No segundo caso, a

retenção na fonte sobre os dividendos vale-se de uma alíquota inferior a que é

normalmente usada para os demais rendimentos de capital. Em ambos os casos,

busca-se fazer com que a soma do imposto pago pela empresa com os impostos
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 9

retidos sobre os dividendos resultem iguais à aplicação da alíquota básica do capital

sobre o total dos rendimentos.

Embora os sistemas clássico, de imputação e de alíquotas diferenciadas estejam

presentes na maior parte dos países da OCDE, existem ainda outros sistemas, de

menor projeção entre as grandes economias. O Brasil, por exemplo, optou por dar

isenção total aos dividendos4 e ainda introduziu os chamados juros sobre o capital

próprio, que permitem deduzir da base de cálculo do imposto de renda das

empresas a remuneração paga aos sócios. Os efeitos dessas medidas são

discutidos nas seções seguintes.

2.2 Tratamento Tributário de Dividendos no Brasil

A Lei Nr. 9.249/1995 regula o tratamento tributário dos dividendos, isentando-os do

imposto de renda das pessoas físicas e de qualquer retenção na fonte. A norma

comanda, ainda, que não haja distinção entre o investidor doméstico e o estrangeiro.

Como a isenção não é condicionada ao imposto pago pelas empresas, ela não

garante nem a eliminação 5 (da), nem o controle sobre o problema da dupla

tributação. Conforme mencionado, nos sistemas de imputação e de alíquotas

diferenciadas, a soma do imposto pago pela empresa com os impostos retidos sobre

os dividendos devem, em princípio, resultar iguais à aplicação da alíquota básica do

capital sobre o total dos rendimentos. No sistema de isenção total, não há este

objetivo. Pode acontecer de o valor pago pela empresa exceder a aplicação da

alíquota básica do capital sobre o total dos rendimentos. Neste caso, mesmo com a

isenção dos dividendos, os lucros estariam sendo pesadamente tributados. De forma

4
Grécia e Holanda, no âmbito da OCDE, também isentam totalmente os dividendos.
5
Esta posição é reafirmada pela OCDE quanto aos sistemas de isenção total de dividendos.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 10

contrária, se a empresa pagar a menor, então o governo estaria perdendo receitas e

financiando a atividade empresarial. Ao permitir a isenção total dos dividendos, o

sistema tributário brasileiro dispensou os controles que existem nos sistemas de

imputação e de alíquotas diferenciadas, privilegiando a simplicidade administrativa.

Em contrapartida, abdicou de verificar se houve eliminação, redução ou

agravamento do problema da dupla tributação de dividendos. Além disto, de acordo

com a nova visão, essa política não encorajaria o aporte de capital nas companhias

maduras e seria provável o surgimento de ganhos extraordinários aos acionistas.

Curiosamente, os adeptos da visão antiga aprovariam a medida, alegando

justamente o oposto. Na seção 4 deste trabalho, a isenção aos dividendos é

avaliada numericamente.

2.3 Os Juros sobre o Capital Próprio

A Lei Nr. 9249/95 criou também uma nova espécie tributária: os juros sobre o capital

próprio (JCP). Estes representam o pagamento da remuneração do capital aos

acionistas, não importando a denominação de juros, que poderia confundir-se com

aqueles decorrentes de um contrato de empréstimo formal. Os JCP são dedutíveis

da base de cálculo do imposto de renda das pessoas jurídicas e podem ser pagos

desde que haja lucros suficientes no exercício ou lucros retidos. Sobre o pagamento

desses juros, incide o imposto de renda na fonte, cobrado à alíquota de 15%.

Observe que se o acionista for outra empresa, o imposto pago poderá ser deduzido

da retenção que incidir sobre os juros sobre o capital próprio pagos aos seus

acionistas. Disto pode resultar tratamento diferenciado entre empresas investidoras

brasileiras e estrangeiras, uma vez que empresas estrangeiras não poderiam efetuar

a dedução, a menos que houvesse previsão legal em seus países.


A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 11

É possível que uma das intenções do legislador, ao criar os JCP, foi permitir, à

remuneração dos acionistas, tratamento tributário idêntico aos juros decorrentes de

empréstimos. De fato, antes da criação dos JCP, somente os juros eram dedutíveis,

porém, após a publicação da Lei Nr. 9249/95, a remuneração dos sócios também

passou a gozar do mesmo tratamento legal, por meio dos JCP. Se antes tal fato era

apontado como determinante para o endividamento das empresas brasileiras e para

o baixo nível de investimentos privados, era de se esperar que, com a lei, o cenário

se modificasse. Este estudo, porém, não aprofunda esta questão, mas busca

investigar se o tratamento tributário da remuneração dos sócios foi realmente

tornado idêntico aos dos juros de empréstimos ou em que extensão são eles

divergentes. Na seção 4, prossegue-se com esta análise, sob a ótica dos números.

2.4 Dividendos versus Juros sobre o Capital Próprio

As medidas retrocitadas deram origem a novas opções à disposição dos

administradores de empresas. Eles poderiam pagar o imposto de renda da pessoa

jurídica (IRPJ) e os dividendos, estes isentos de tributação; ou optar por deduzir os

JCP pagos aos acionistas da base de cálculo do IRPJ, sendo que sobre aqueles

incidiria o imposto de renda na fonte à alíquota de 15%. Poderiam, ainda, escolher

uma combinação das duas alternativas descritas.

Do ponto de vista do acionista, é preferível receber os dividendos. A explicação é

simples. Imagine que a empresa obtenha lucro de 100 reais no primeiro ano e

decida pagar 15 reais em dividendos. Como não há incidência de imposto sobre

estes, os acionistas receberiam 15 reais. Se a empresa resolvesse pagar os JCP

com base no lucro do exercício, haveria incidência tributária de 15%, opção


A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 12

desvantajosa para o acionista. Todavia, a companhia pode decidir reter os lucros.

Nesse caso, ela terá que atualizar o valor da remuneração dos sócios, utilizando as

taxas de juros de mercado, para que o pagamento seja equivalente. Assim,

utilizando, por exemplo, a taxa de juros de 10% a.a., os acionistas teriam que

receber 16,50 reais no ano seguinte. Ocorre que se a empresa decidir pagar esse

valor, ela terá que reter 15% a título de imposto. Dessa forma, ou a empresa escolhe

suportar a tributação, que elevaria seu desembolso para 19,40 reais, ou os

acionistas não receberiam o valor integral equivalente aos dividendos do ano

anterior.

Do ângulo dos administradores de empresa, contudo, o pagamento de JCP pode ser

uma política muito atrativa. Suponha que a empresa não obteve lucro no exercício,

mas possui suficientes lucros retidos para pagar aos acionistas o mesmo que eles

receberam no ano anterior. Os diretores poderão, então, utilizar os JCP. Além disso,

os JCP permitem aos dirigentes de empresas maior flexibilidade gerencial, pois seu

pagamento está livre das amarras legais que cercam o pagamento de dividendos.

Ao mesmo tempo, a possibilidade de estabelecer o quantum a ser pago e de deduzir

esse montante da base de cálculo do imposto de renda é instrumento que favorece

o planejamento de quanto a empresa irá oferecer à tributação. Isto pode, talvez,

explicar a razão da elevação da arrecadação do imposto retido incidente sobre os

JCP em doze vezes no período compreendido entre 1996 e 2002.6

6
Afirmação com base nos dados extraídos de
http://www.receita.fazenda.gov.br/Historico/Arrecadacao/JRemuneratorios/Default.htm, página visitada em
20/05/2004.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 13

2.5 Endividamento e Ganhos de Capital

Além das opções supracitadas, os dirigentes de empresas têm ainda a possibilidade

de financiar novos projetos por meio de endividamento ou reaplicar os lucros retidos.

No primeiro caso, o Brasil, como a maioria dos países da OCDE, permite deduzir

completamente os juros da base de cálculo do IRPJ, como já se disse. Quanto ao

segundo caso, é preciso lembrar que os ganhos de capital são tributados somente

ao tempo da realização, ficando os lucros retidos livres de impostos. Em ambos os

casos, essas facilidades parecem tornar estas opções atrativas, mas a questão está

em quantificar o retorno de cada uma, verificando se o sistema tributário é neutro em

relação a essas opções ou se privilegia uma delas em detrimento das demais.

3. Tributação de Lucros no Brasil e na OCDE: Semelhanças e Diferenças

Antes de partir para a análise numérica, é interessante comentar e comparar as

principais características dos sistemas tributários do Brasil e de outros países.

Alguns dos tópicos aqui explorados serão úteis nas seções seguintes. O exame de

como esses aspectos são tratados pelos países da OCDE é necessário para

ampliar o senso crítico em torno de possíveis alternativas de política tributária.

3.1 Dividendos

O quadro a seguir ilustra alguns dos principais sistemas utilizados.

Quadro 1 – Tratamento de Dividendos – Comparativo entre Países


País Sistema Alíq. Tratamento de dividendos
Imposto (%)
Alemanha Alíquotas 41,1 Aplicação da alíquota do IR pessoa
diferenciadas física sobre ½ do rendimento
Brasil Isenção Zero Isentos
EUA Clássico 31 Alíquota marginal média
França Imputação 34 Crédito
Holanda Isenção Zero Isentos
Itália Imputação 36 Crédito
Fonte:dados brutos oriundos do International Bureau of Fiscal Documentation, da OCDE e da SRF.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 14

3.2 Juros

Tal como a maioria dos países da OCDE, o Brasil admite a dedutibilidade dos juros

pagos, de acordo com o comando do artigo 374 do Regulamento do Imposto de

Renda. Quando auferidos por pessoas físicas residentes, os rendimentos de juros

devem pagar imposto de renda na fonte à alíquota de 20% 7 . No caso de não-

residentes, pessoas físicas ou jurídicas, as alíquotas variam de 15% a 25% ou de

acordo com o estabelecido em tratado internacional.8 Na OCDE, em 1991, quatorze

de vinte e quatro países tributavam os juros pagos a residentes na fonte, com

alíquotas que variavam de 10% a 35%. Já os juros pagos a não-residentes, estes

dependeriam da existência ou não de tratados internacionais. Interessante é que,

muitas vezes, a alíquota era calculada em função do tamanho da participação

societária. Assim, em geral, quanto maior a participação societária, menor a

tributação de uma empresa não-residente.

Quadro 2 – Tratamento de Juros – Comparativo entre Países


País Alíquota Alíquota Empresa Dedução
Residente (%) Não-residente* (%)
Alemanha 0 0 Sim
Brasil 20 15 Sim
EUA 0 0 –30 Sim
França 18,1 0 Sim
Holanda 0 0 Sim
Itália 12,5 a 30 10-15 Sim
Portugal 25 10-25 Sim
Fonte:dados brutos da OCDE e da SRF.
* Nos países da OCDE, assumiu-se participação societária de 100%.

3.3 Juros sobre o Capital Próprio

De forma semelhante aos juros comuns, os juros sobre o capital próprio devem

sofrer retenção de 15% e podem ser deduzidos. A diferença é que, neste caso, não

7
Lei nº 9.532, de 1997, art. 35; RIR/1999, arts. 729 e 730, III; IN SRF nº 15, de 2001, art. 6º, XXII.
8
RIR art. 702 e 703.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 15

se trata de empréstimo de terceiros, mas da remuneração dos próprios acionistas.

Este tipo de tratamento não foi encontrado nos países da OCDE.

3.4 Ganhos de Capital

A maioria dos países da OCDE tributa os ganhos de capital utilizando alíquota

semelhante à incidente sobre os lucros das empresas. Entretanto, alguns países

isentam os ganhos de capital que são reinvestidos na própria empresa, enquanto

outros permitem isenção total ou parcial, em função do tempo em que o ativo foi

adquirido e permaneceu em poder do adquirente. Recentemente, o Brasil aprovou a

Medida Provisória 206/2004 que admite procedimento semelhante, porém a partir de

2005. Até então, a alíquota mais usual para esses casos tem sido de 20%.

Quadro 3 – Ganhos de Capital – Retenção na Fonte - Comparativo entre Países


País Alíquota Alíquota Observações
máxima Marginal
(%) Média (%)
Alemanha Zero Zero Ações ordinárias não são tributadas.
Alguns tipos de ações preferenciais sofrem
tributação na fonte.
Brasil 22,5 * As alíquotas estão escalonadas em função
do prazo de aplicação, variando de 22,5%
a 15% e os prazos de 6 meses a 2 anos.
Após 2 anos, permanece a alíquota mínima
de 15%.
Dinamarca 43 43 Isenção após três anos de aplicação.
França 16 - Não há isenção em função do período de
aplicação. Se consideradas as
contribuições sociais, a alíquota marginal
média sobe para 26%.
Holanda Zero Zero Ações ordinárias não são tributadas.
Alguns tipos de ações preferenciais sofrem
tributação na fonte.
Portugal 12 10 Isenção após dois anos de aplicação.
Fonte: dados brutos oriundos do International Bureau of Fiscal Documentation, da OCDE e da SRF.
* não apresentada, em função da publicação recente da MP.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 16

3.5 Prejuízos Fiscais


À semelhança dos países da OCDE, no Brasil, os prejuízos fiscais podem ser

compensados com lucros futuros. Entretanto, o Brasil impõe um limite de 30% por

exercício fiscal. Por outro lado, alguns países admitem a compensação com lucros

passados, mas não o Brasil.

3.6 Depreciação
Dois métodos são usuais: o método linear (L) e o método do declínio balanceado

(DB). No Brasil, somente o primeiro é permitido, embora o método do declínio

balanceado seja comum em grande parte dos países da OCDE. A Instrução

Normativa SRF 162/98 estabelece as taxas que devem ser usadas, definidas por

tipo de ativo. As taxas típicas para máquinas/equipamentos e edificações são de

10% e 4% ao ano, respectivamente.

Quadro 4 – Depreciação - Comparativo entre Países


País Método (P/D)* Taxas de Depreciação Típicas (%)
Máquinas Edificações Máquinas Edificações
Alemanha L/D L 10 ou 3L 2,5 – 10
Brasil L L 10 4
Canadá D D 25 4
EUA L/D L 14,3 ou 2 L 3,2
França L/D L 10 -20 ou 1,5 L 5
Holanda L/D L/D 10 -15 ou 2L 3,3 ou 2L
Japão L/D L/D 10 ou 3L 2,2 – 4,3 ou 3L
Reino Unido D L 25 4
Fonte: dados brutos da OCDE e da SRF.
* L = linear e DB = Declínio Balanceado

No Brasil, a mesma taxa de depreciação é aplicada até que o ativo seja

completamente depreciado. Outros países admitem taxas diferenciadas e em geral

maiores no primeiro ano de vida do ativo. A depreciação acelerada é também

admitida no Brasil, desde que a utilização dos ativos exceda o seu uso típico ou,
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 17

também, para estimular atividades específicas, tais como o desenvolvimento de

determinado setor industrial ou agrícola.

3.7 Avaliação de Estoques


Enquanto os métodos FIFO9 e custo médio são permitidos no Brasil,10 o uso do LIFO

é proibido. Como resultado, aumentos nos valores dos estoques devidos

exclusivamente à inflação podem ser tributados. Na OCDE, todos os países admitem

o FIFO, exceto a Alemanha. Já o LIFO é aceito em algumas nações e proibido em

outras.

Quadro 5 – Avaliação de Estoques - Comparativo entre Países


País FIFO LIFO
Brasil Sim Não
Espanha Sim Não
EUA Sim Sim
Japão Sim Sim
Alemanha Não Sim
Fonte: dados brutos da OCDE e da SRF.

3.8 Alíquotas do IRPJ

Enquanto alguns países admitem a tributação dos lucros das empresas por mais de

uma esfera de governo, no Brasil, o IRPJ é devido somente ao nível federal. A

alíquota estatutária é de 15%, a mesma aplicável aos ganhos de capital e aos juros.

Entretanto, um adicional de 10% é aplicável toda vez que os lucros excedem R$ 240

mil no ano ou fração. Isto faz com que a alíquota efetiva média suba para cerca de

25%, como se demonstra no anexo “A”. O quadro a seguir apresenta algumas

alíquotas efetivas médias utilizadas na área da OCDE. Note que a alíquota brasileira

é inferior a todas as do âmbito da OCDE, com exceção da Suíça.

9
FIFO – primeiro que entra é o primeiro que sai. LIFO – último que entra é o primeiro que sai.
10
É também admissível avaliar estoques utilizando preço menos margem.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 18

Quadro 6 – Alíquotas de Imposto de Renda das Empresas - Comparativo entre Países


País Alíquota Média Total(*) – Imposto de
Renda das Empresas (%)
Alemanha 56,5
Grécia 40
Itália 47,83
Holanda 35
EUA 38,3
Fonte: dados brutos da OCDE.
*inclui todas as esferas de governo, quando aplicável.

3.9 Outros Tributos pagos pelas Empresas

Além do IRPJ, as empresas no Brasil são obrigadas a pagar outros tipos de

impostos tais como as contribuições patronais, o fundo de garantia do trabalhador e

os impostos incidentes sobre suas propriedades. Embora se reconheça que esses

tributos possam ter influência sobre as decisões de investimentos, eles não serão

abordados aqui.

4. Investimento Doméstico

Nesta seção, é utilizada a metodologia de King Fullerton para o cálculo da taxa de

retorno mínima exigível antes do tributo (P) e da taxa de retorno pós-tributo (S) de

um determinado investimento doméstico no Brasil. A diferença entre as taxas P e S

é também calculada (cunha fiscal). Essas variáveis são computadas para diferentes

tipos de ativos, isto é, máquinas, edificações e estoques de mercadorias e, ainda,

diferentes fontes de financiamento, ou seja, endividamento, emissão de ações ou

aplicação de lucros retidos. Os cálculos têm o propósito de verificar se o sistema

tributário brasileiro insere potenciais distorções nas opções de investimentos. Além

disso, é computada a média ponderada das diferenças com objetivo de comparar o

sistema brasileiro aos dos países da OCDE.


A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 19

A Taxa de Retorno ao Investimento Pós-Tributos (S)

Assume-se que um investidor doméstico não iria financiar um novo projeto a menos

que este oferecesse um retorno superior ao que poderia ser obtido no mercado

financeiro, na compra de títulos públicos, por exemplo. A taxa de retorno ao

investimento pós-tributos (S) seria então dada por:

S = 1 + i ( 1 – m) - 1 (1)
1+π

Onde i é a taxa de juros nominal, π é a inflação e m é a alíquota do imposto de

renda incidente sobre os juros. Assume-se que o investidor deseje obter pelo menos

S qualquer que seja o investimento. A incidência de tributos irá fazer com que haja

uma taxa P, antes da tributação, tal que se obtenha a taxa S, após a tributação. Em

geral, P deverá ser maior que S, pois os tributos aumentam o custo do capital, a

menos que se trate de uma atividade subsidiada. Assim, o investidor deve olhar para

a taxa de retorno real mínima exigível antes dos tributos (P) para decidir se o

investimento vale à pena. Se o investimento for lucrativo a S= 2%, e requer P=5%

antes da tributação, então se houver uma opção que pague 8%, esta será aceita.

Por outro lado, se um investimento pagar 4% antes da tributação, este deverá ser

descartado se a taxa mínima exigível (P) for 5%. Nesse contexto, todos os

investimentos que seriam lucrativos na ausência de tributação e oferecessem taxas

de retorno entre 2% e 5% não o serão, quando os impostos incidirem.

4.1 Caso Básico

Como exposto, a tributação geralmente eleva as taxas de retorno ao investimento.

Um certo projeto empresarial teria que oferecer uma taxa de retorno superior a P

para ser atrativo. Por outro lado, quanto mais elevada for a taxa P, mais difícil será a
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 20

realização do investimento, pois o investidor terá que descartar todos as alternativas

que retornem entre S e P.

Nesta seção, calcula-se P para o sistema brasileiro. A priori, por simplicidade,

assume-se que não existe o imposto sobre a renda das pessoas físicas (IRPF) nem

o imposto retido na fonte (IRRF), denominando-se a esta primeira aproximação

“caso básico”. Isto tem por objetivo dar ao leitor maior familiaridade com o método.

Posteriormente, os cálculos serão refeitos com a introdução do IRPF e IRRF.

Os parâmetros que necessitam de valores iniciais são:

i. A taxa de juros nominal (i) – Esta está sendo tomada a 16%11. Entretanto, nas

simulações está sendo também utilizada uma taxa real de 5% para facilitar a

comparação com os países da OCDE.

ii. A Alíquota do IRPJ (τ) – esta é assumida a 25%, pois embora o Brasil possua

alíquota de 15% para as empresas tributadas pelo lucro real, a aplicação do

adicional do IR faz com que as alíquotas efetivas sejam mais elevadas (na

próxima seção são discutidas as variações de τ).

iii. A Taxa de Inflação (π) – tomada como 4.5%, segundo o modelo da OCDE e

de acordo com a previsão brasileira oficial de junho de 2004.12

iv. As Taxas de Depreciação (δ) – 10% para máquinas e 4% para edificações.

Para estoques, a taxa é zero.

11
Definida pelo Banco Central do Brasil em maio de 2004.
12
Fonte: www.fazenda.gov.br, página visitada em 9 de junho de 2004.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 21

Passo 1: cálculo da taxa de desconto da empresa (ρ’)

Esta taxa é calculada de acordo com o modelo de King-Fullerton para cada tipo de

financiamento. Aplicando as fórmulas, tem-se que ρ’ = i = 16% para lucros retidos e

para aporte de capital. A interpretação é que ao tomar dinheiro dos sócios, a

companhia terá que se capitalizar a uma taxa pelo menos igual à taxa de juros do

mercado, pois, do contrário, melhor para o investidor é que o capital fique no banco

rendendo. Além disso, como foi assumida a inexistência de impostos sobre as

pessoas físicas e retenções na fonte, e sabendo-se que não há deduções de lucros

retidos ou de dividendos, esta taxa não sofre alterações e permanece igual à taxa de

juros.

Para endividamento, há uma sensível diferença:

ρ’ = (1-τ) i = 12% (2)

Nota-se que o fato de ser possível deduzir os juros da base de cálculo do IRPJ faz

com que a empresa possa tomar emprestado a juros, pagando uma taxa inferior ao

que pagaria se tivesse que realizar nova captação no mercado de ações ou se

reinvestisse os lucros retidos.

Passo 2: cálculo do valor atual dos encargos de depreciação (A)

Como o Brasil utiliza apenas o método linear, a fórmula para o valor atual que

corresponda a uma série de deduções para encargos de depreciação é:

A = δth τ (1+ρ’) [ 1 - ___1___ ] (3)


ρ’ (1+ ρ’)n
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 22

Onde n é o número de anos em que o bem pode ser completamente depreciado e ρ’

é a taxa de desconto da empresa, calculada no passo anterior, e que depende da

forma de financiamento, ou seja, endividamento, aporte de capital ou lucros retidos.

Assim, tem-se:

Tab. 1 – Valor Atual dos Encargos de Depreciação (A) – Caso Básico (sem IRPF e IRRF)
Máquinas Edificações
Aporte Endividament Endividament
Lucros de o Lucros Aporte de o
Retidos capital Retidos capital
0.140 0.140 0.158 0.071 0.071 0.088

Passo 3: Calculando “P”

As expressões para calcular “P” são as seguintes:

P= __1 – A__ { ρ’ – π + δ(1+π)} - δ , para máquinas e edificações, e (4)


(1-τ)(1+π)

P= __1 – A__ { ρ’ – π + δ(1+π)} + __ντπ___ - δ, para estoques. (5)


(1-τ)(1+π) (1-τ)(1+π)

Onde π, τ, ρ’ e A vem das expressões anteriores e δ representa a depreciação

econômica, para qual foram assumidos os percentuais de 12.25% para máquinas,

3.61% para edificações e zero para estoques, seguindo os mesmos valores

definidos pela OCDE. A proporção de estoques avaliados pelo FIFO (ν) foi assumida

como sendo 100% no Brasil. Logo, tem-se:

Tab. 2 – Taxa de Retorno Mínima Exigível Antes da Tributação do IR – Caso Básico (%)
Máquinas Edificações Estoques
Lucros Retidos 14.4 14.5 16.1
Aporte de Capital 14.4 14.5 16.1
Endividamento 9.6 9.5 11.0
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 23

Estes resultados mostram que na ausência do IRPF e de retenções na fonte, o

sistema tributário favorece o endividamento e mantém as mesmas taxas de retorno

para retenção de lucros e aporte de capital. Conclui-se, também, que é dado

tratamento similar a máquinas e edificações, porém o investimento em estoques é

mais penalizado.

Passo 4: Introduzindo Pesos

Os pesos permitem o cálculo de uma taxa P que represente todas as nove taxas da

tabela anterior em um único número, que pode ser utilizado na comparação entre

sistemas tributários de diferentes países. Os pesos são calculados de acordo com a

proporção de investimentos em cada tipo de ativo e em cada fonte de financiamento.

Infelizmente, na ausência de dados referentes ao Brasil, foram utilizados os pesos

aplicados pela OCDE. Assim, utilizou-se 50% para máquinas, 28% para edificações

e 22 % para estoques de inventário; 35% para endividamento, 10% para aporte de

capital e 55% para retenções de lucros. A tabela a seguir mostra os resultados.

Tab. 3 – Taxa de Retorno Mínima Exigível antes da Tributação (Média) – Caso Básico (%)
Máquinas Edificações Estoques Média Pond.
Lucros Retidos 14.4 14.5 16.1 14.8
Aporte de 14.4 14.5 16.1 14.8
Capital
Endividamento 9.6 9.5 11.0 9.9
Média 12.7 12.8 14.3 13.1
Ponderada

O uso de pesos tem, no entanto, algumas limitações. Por exemplo, assume-se um

aumento equiproporcional no estoque de capital, financiado da mesma forma que o

estoque existente 13 . A despeito disso, os resultados indicam que o sistema

13
Para obter mais detalhes a respeito das limitações inerentes ao uso de pesos, favor consultar a seção C do
capítulo 4 da publicação da OCDE “Taxing Profits in a Global Economy”, Paris, 1991.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 24

potencialmente distorce as decisões de financiamento em favor do endividamento e

torna o mais elevado o custo de investir em estoques.

4.2 Introduzindo o IRPF e Retenção na Fonte

No item anterior, supôs-se a inexistência de impostos sobre a pessoa física. Nesta

seção, eles serão considerados de forma a obter uma aproximação mais realista do

custo do capital associado ao sistema tributário no Brasil. Ao fazer isto, nota-se que

a emissão de novas ações e a reaplicação dos lucros retidos deixam de ter o mesmo

tratamento. Da mesma forma, máquinas e edificações passam a ter padrão

diferenciado de retorno ao investimento.

Passo 1: Encontrando S – A Taxa de Retorno ao Investimento Após a Tributação

Utilizando a expressão (1), obtém-se:

S = 8.7%.

A alíquota estatutária do IR sobre juros domésticos foi tida como 15%. O cálculo

levou ao encontro de uma taxa S elevada ou pelo menos mais elevada que qualquer

outra taxa encontrada na OCDE, em 1991. Este resultado é coerente, dado que o

Brasil busca elevar a taxa de juros para atrair capitais externos, dos quais depende

para financiar-se. Por outro lado, isto implica em taxas P ainda maiores que S. Esta

conclusão sugere duas outras. Primeiro, é muito difícil encorajar o investimento no

Brasil, pois qualquer investimento que valha a pena irá requerer altas taxas de

retorno. Desprezando os riscos, um investidor racional de portfolio somente desistiria

de aplicar em títulos de boa rentabilidade financeira em favor de um projeto

empresarial produtivo, se este pudesse oferecer um retorno maior. Segundo,

incentivos fiscais setoriais não parecem ser estímulos muito eficientes ao


A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 25

investimento, uma vez que a taxa S é muito elevada. Indo mais além, tais incentivos

teriam por efeito a criação de distorções econômicas que seriam ainda mais visíveis

quando os juros baixassem. No entanto, uma vez que estes permanecem altos,

muitos setores continuam lutando por vantagens tributárias isoladas, mesmo que a

eficiência dessas medidas seja contestável.

Passo 2: cálculo da taxa de desconto da empresa (ρ’)

A introdução da tributação na pessoa física altera as taxas de desconto das

empresas, de acordo com as expressões abaixo:

Lucros retidos: ρ’ = ρ = [(1 – mi) i – zπ] /( 1 – z) (6)

Aporte de Capital: ρ’ = (1+ σ) [( 1 – mi) i – zπ]/(1 - md) (7)

Endividamento: ρ’ = (1 - τ) i (2)

As novas variáveis são:

i. ρ – é a taxa de desconto dos acionistas e igual a (1- mi )i , que resulta em

13.6% para i igual a 16%.

ii. mi e md são as alíquotas do IRRF sobre juros e dividendos, respectivamente.

Como anteriormente mencionado, no Brasil as alíquotas do IRRF sobre juros

variam entre 15% e 25% e é de 20% para investidores domésticos. Por

simplicidade, assume-se mi = 15%. Com relação aos dividendos, não há

tributação, logo md = zero. Entretanto, se a companhia decide pagar os JCP,

que é dedutível da base de cálculo do IRPJ e tributado a 15% na fonte, os

valores de md teriam que ser revisados. Aqui, está mantido md = zero e, em

seção futura, o caso dos JCP será analisado em detalhe.


A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 26

iii. σ – representa a alíquota efetiva sobre dividendos retidos. No caso do Brasil é

zero, pois, como visto, não há retenção sobre dividendos.

iv. z – a alíquota efetiva sobre ganhos de capital, segundo o regime de

competência – é calculada considerando-se os ganhos de capital indexados e

tributados somente ao tempo da realização, a uma alíquota estatutária de

15%. Logo, z advém da expressão seguinte:

z = α* .15* (1+ρ)/( α+ρ) , (8)

onde ρ = 13.6% e α é a proporção de ganhos de capital realizados a cada ano.

Aqui, α foi tido como 10%. Assim,

z = 7.2%.

Agora, ao repor estes valores nas expressões prévias, tem-se:

Lucros Retidos: ρ’ = ρ = [(1 – mi) i – zπ] /( 1 – z) = 14.3%

Aporte de Capital: ρ’ = (1+ σ) [( 1 – mi) i – zπ]/(1 - md) = 13.3%

Endividamento: ρ’ = (1 - τ) i = 12%

Note que este não sofreu alteração após a introdução de tributação na fonte e na

pessoa física (PF).

Passo 3: Cálculo do valor atual dos encargos de depreciação (A)

Utilizando a expressão 3, os resultados são:

Tab. 4 – Valor Atual dos Encargos de Depreciação (A), incluindo tributação na fonte e na PF
Máquinas Edificações
Lucros Aporte de Endividamento Lucros Aporte de Endividamento
Retidos Capital Retidos Capital
0.147 0.152 0.158 0.077 0.082 0.088
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 27

Passo 4: Cálculo de P

Com base nas expressões 4 e 5, tem-se que:

Tab. 5: Taxa Mínima Exigível p/ Investimentos antes da Tributação - P (%)


Máquinas Edificações Estoques
Lucros Retidos 12.3 12.4 13.9
Aporte de Capital 11.1 11.1 12.6
Endividamento 9.6 9.5 11.0

Passo 5: Introduzindo Pesos

Utilizando os mesmo pesos que os da seção 4.1, isto é, 50% para máquinas, 28%

para edificações e 22 % para estoques; e, quanto às fontes de financiamento, 35%

para endividamento, 10% para aporte de capital e 55% para retenções, tem-se:

Tab. 6: Taxa Mínima Exigível p/ Investimentos antes da Tributação – P -, com pesos (%)
Máquinas Edificações Estoques Média
Ponderada
Lucros Retidos 12.3% 12.4% 13.9% 12.7%
Aporte de Capital 11.1% 11.1% 12.6% 11.4%
Endividamento 9.6% 9.5% 11.0% 9.9%
Média Ponderada 11.2% 11.2% 12.8% 11.6%

A inclusão da tributação na fonte e sobre a pessoa física reduz a taxa média

requerida para investimento antes da tributação de 13.1% para 11.6%. A explicação

é que agora a empresa está sendo desonerada, pois parte da tributação irá recair

sobre as pessoas físicas. Mesmo assim, ainda se trata de uma taxa elevada. Se o

sistema tributário comportar-se tal como os parâmetros o descrevem, verifica-se que

o endividamento é a melhor opção para os investidores, seguido pela emissão de

novas ações e, por último, pela reaplicação dos lucros retidos. Quanto à preferência

por ativos, edificações e máquinas têm tratamento semelhante, porém o sistema

desestimula o investimento em estoques, relativamente aos demais.


A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 28

Passo 6: Calculo das Diferenças Ponderadas entre P e S ( P – S)%

Isto é possível simplesmente subtraindo-se das células da última tabela os valores

de S = 8.7%:

Tab. 7: Diferenças Ponderadas P- S (Cunha Fiscal)


Máquinas Edificações Estoques Média
Ponderada
Lucros Retidos 3.6% 3.7% 5.2% 4.0%
Aporte de Capital 2.4% 2.4% 3.9% 2.7%
Endividamento 0.9% 0.8% 2.3% 1.2%
Média Ponderada 2.5% 2.5% 4.1% 2.9%

A média das diferenças resultou em 2.9%, que é mais alta que a média geral dos

países da OCDE (2.3%). Apesar disto, não se trata de um valor muito discrepante.

4.3 Simulações

A. Reduzindo os Juros

As altas taxas de juros no Brasil podem evitar a fuga de capitais externos e ajudar a

manter a inflação sob controle, mas elas também elevam as taxas S e P, dificultando

o investimento real. Nas expressões anteriores, a taxa de juros nominal foi de 16% e

a inflação prevista como 4.5%, resultando em uma taxa de juros reais de 11%, que é

duas vezes maior que a taxa de 5% usada pela OCDE. Se o Brasil pudesse reduzir

esta taxa para 5%, então os novos valores seriam:

Tab. 8: P para 5% de juros reais


Máquinas Edificações Estoques Média Ponderada
Lucros Retidos 5.5% 5.4% 6.7% 5.7%
Aporte de Capital 4.6% 4.4% 5.7% 4.8%
Endividamento 3.9% 3.7% 5.0% 4.1%
Média Ponderada 4.9% 4.7% 6.0% 5.1%
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 29

Tab 9: Cunha Fiscal (P – S) para 5% de juros reais


Máquinas Edificações Estoques Média
Ponderada
Lucros Retidos 1.9% 1.8% 3.1% 2.1%
Aporte de Capital 1.0% 0.8% 2.1% 1.2%
Endividamento 0.3% 0.1% 1.4% 0.5%
Média Ponderada 1.3% 1.1% 2.4% 1.5%

Estes resultados sugerem que a redução das taxas de juros seria benéfica ao

investimento real no Brasil. De fato, após um longo período em que foram praticadas

taxas de juros muito elevadas14, este ano o Banco Central começou a reduzir os

juros. No entanto, a expectativa de pressões inflacionárias recentes, aliada a

incertezas no cenário internacional, fez com que os juros voltassem a subir.

B. Tributando Dividendos a 15% (retorno ao sistema clássico)

Alguns críticos sugerem que os dividendos sejam novamente tributados. Para eles, a

não-tributação dos dividendos acarreta apenas perda de receitas públicas e

tratamento desigual entre contribuintes com a mesma capacidade contributiva.

Assim, partindo-se das tabelas 8 e 9 acima, é interessante observar o que

aconteceria com o custo do capital se fosse adotada uma tributação na fonte de 15%

sobre os dividendos:

Tab. 10: P com IRRF = 15% sobre dividendos


Máquinas Edificações Estoques Média Ponderada
Lucros Retidos 5.5% 5.4% 6.7% 5.7%
Aporte de Capital 7.9% 7.8% 9.3% 8.2%
Endividamento 3.9% 3.7% 5.0% 4.1%
Média Ponderada 5.2% 5.0% 6.4% 5.4%

14
As taxas de juros nominais chegaram a atingir 26% a.a.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 30

Tab. 11: Cunha Fiscal (P – S) com IRRF = 15% sobre dividendos


Máquinas Edificações Estoques Média
Ponderada
Lucros Retidos 1.9% 1.8% 3.1% 2.1%
Aporte de Capital 4.3% 4.2% 5.7% 4.6%
Endividamento 0.3% 0.1% 1.4% 0.5%
Média Ponderada 1.6% 1.4% 2.8% 1.8%

Comparando-se as tabelas, resta claro que, ao tributar os dividendos a 15%, o

aporte de capital mediante emissão de novas ações torna-se uma alternativa menos

atrativa, mas o sistema permanece desbalanceado. Assim, esta política não é

suficiente para corrigir eventuais distorções entre as opções de financiamento

empresarial.

C. Elevando a Alíquota do IRPJ

Partindo das tabelas 8 e 9, observe o que acontece ao custo do capital ao elevar as

alíquotas do IRPJ de 25% para 30%.

Tab. 12: P se τ = 30%


Máquinas Edificações Estoques Média Ponderada
Lucros Retidos 6.0% 5.8% 7.5% 6.3%
Aporte de Capital 5.0% 4.8% 6.4% 5.3%
Endividamento 3.7% 3.4% 5.0% 3.9%
Média Ponderada 5.1% 4.9% 6.5% 5.3%

Tab. 13: Cunha Fiscal (P – S) se τ = 30%


Máquinas Edificações Estoques Média
Ponderada
Lucros Retidos 2.4% 2.2% 3.9% 2.7%
Aporte de Capital 1.4% 1.2% 2.8% 1.7%
Endividamento 0.1% -0.2% 1.4% 0.3%
Média Ponderada 1.5% 1.3% 2.9% 1.7%

Ao que parece, esta política aumentaria as distorções entre as formas de

financiamento e elevaria a diferença média entre P e S, além de atribuir uma


A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 31

diferença negativa entre P e S no caso de endividamento/edificações. Esta

diferença negativa deve ser interpretada como se o sistema tributário estivesse

financiando o investimento, tornando-o muito mais atrativo.

Deve ser considerado que nos cálculos até então, τ foi assumido como sendo 25%,

alíquota única aplicada pelo sistema tributário a todas as empresas. Na verdade, no

Brasil, todas as empresas se sujeitam a uma alíquota de 15%, porém, as empresas

cujos lucros excedam a R$ 240.000,00 devem também pagar o Adicional do IR a

10% sobre o excedente. Assim, as alíquotas efetivas variam de acordo com os

lucros das empresas. Uma vez que se exige também que todas as empresas

paguem a contribuição social sobre o lucro líquido (CSLL) a uma alíquota de 9%

sobre as receitas antes do imposto de renda, presume-se que a alíquota efetiva de

tributação sobre as empresas é realmente maior que 25% e, para efeito deste

trabalho, a simulação com uma alíquota efetiva de 30% pretende dar uma idéia mais

realista dessa situação. O anexo “A” indica como essas alíquotas foram estimadas.

Finalmente, para tornar ainda mais real a simulação, as tabelas a seguir utilizam a

taxa de juros nominal de 16%:

Tab. 14: P com τ = 30% e i = 16%


Máquinas Edificações Estoques Média Ponderada
Lucros Retidos 13.2% 13.2% 15.3% 13.7%
Aporte de Capital 11.9% 11.9% 13.8% 12.3%
Endividamento 9.2% 9.1% 11.0% 9.6%
Média Ponderada 11.7% 11.7% 13.6% 12.1%

Tab. 15: Cunha Fiscal (P – S) com τ = 30% e i = 16%


Máquinas Edificações Estoques Média
Ponderada
Lucros Retidos 4.5% 4.5% 6.5% 5.0%
Aporte de Capital 3.2% 3.2% 5.1% 3.6%
Endividamento 0.5% 0.4% 2.3% 0.9%
Média Ponderada 3.0% 3.0% 4.9% 3.4%
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 32

Como se vê, o aumento das alíquotas privilegiaria o endividamento ainda mais e não

contribuiria para a neutralidade do sistema.

D. Simulando o Aumento da Inflação

De acordo com a OCDE, o efeito de uma inflação mais elevada seria difícil de prever

e dependeria exclusivamente das particularidades dos regimes tributários de cada

país. Observe o que ocorreria se a inflação no Brasil atingisse 10%.

Tab. 16: P com τ = 30%, i = 16%, π = 10%


Máquinas Edificações Estoques Média Ponderada
Lucros Retidos 6.3% 5.6% 8.9% 6.7%
Aporte de Capital 5.1% 4.4% 7.6% 5.4%
Endividamento 3.1% 2.4% 5.5% 3.4%
Média Ponderada 5.0% 4.4% 7.6% 5.4%

Tab. 17: Cunha Fiscal (P – S) com τ = 30%, i = 16%, π = 10%


Máquinas Edificações Estoques Média
Ponderada
Lucros Retidos 3.0% 2.3% 5.7% 3.4%
Aporte de Capital 1.8% 1.1% 4.4% 2.2%
Endividamento -0.2% -0.9% 2.2% 0.1%
Média Ponderada 1.8% 1.1% 4.3% 2.1%

Nota-se que uma taxa de inflação de 10% teria um efeito positivo sobre o custo do

capital no Brasil. Obviamente, não se discutem aqui outros efeitos macroeconômicos

dessa política. A explicação é que uma inflação elevada teria o efeito de reduzir os

juros reais(i). Entretanto, num cenário de baixas taxas de juros, ocorreria

provavelmente o contrário: as taxas de retorno do capital seriam negativas.

E. Alterando a Proporção de Estoques Avaliados pelo FIFO

Até então, assumiu-se que todas os estoques seriam avaliados pelo FIFO. Todavia,

no Brasil a avaliação pode dar-se também pelo custo médio ou preço menos lucro

marginal. Como o uso do FIFO leva à indexação dos estoques, é razoável que as
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 33

empresas o evitem, buscando reduzir sua obrigação tributária. Supôs-se que 20%

dos estoques são avaliados pelo FIFO, chegando-se ao que se segue:

Tab. 18: P com τ = 30%, r = 5% e 20% de estoques avaliados pelo FIFO


Máquinas Edificações Estoques Média Ponderada
Lucros Retidos 6.0% 5.8% 6.0% 5.9%
Aporte de Capital 5.0% 4.8% 5.0% 4.9%
Endividamento 3.7% 3.4% 3.5% 3.6%
Média Ponderada 5.1% 4.9% 5.0% 5.0%

Tab. 19: Cunha Fiscal (P – S) com τ = 30%, r = 5% e 20% de estoques pelo FIFO
Máquinas Edificações Estoques Média
Ponderada
Lucros Retidos 2.4% 2.2% 2.4% 2.3%
Aporte de Capital 1.4% 1.2% 1.4% 1.3%
Endividamento 0.1% -0.2% -0.1% 0.0%
Média Ponderada 1.5% 1.3% 1.4% 1.4%

Estes resultados mostram que esta política aproximaria as taxas de retorno ao

investimento dos diversos tipos de ativos. Estoques não teriam mais o pior retorno.

Por isto, é recomendável que se aprofunde o estudo da avaliação de estoques. É

necessário colher dados de forma a obter a real proporção de utilização do FIFO nas

empresas brasileiras. Se necessário, o LIFO deve ser reconsiderado como

alternativa para alcançar a neutralidade entre os diferentes tipos de ativos.

F. Isentando os Ganhos de Capital

Muitos países não tributam os ganhos de capital sobre lucros retidos como um

aumento no valor das ações. Outros o fazem, porém somente se o ativo for vendido

antes de certo período de tempo. No Brasil, até o presente, os ganhos de capital

eram tributados somente ao tempo da realização. Recentemente, houve uma

alteração na legislação tributária que permitirá que os ganhos de capital sofram

redução da tributação em função do tempo em forem mantidos. É bom lembrar que,


A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 34

de acordo com a “nova visão”, as companhias maduras preferem financiar suas

expansões utilizando lucros retidos. Nesse contexto, promover a isenção dos ganhos

de capital pode aumentar o estímulo ao investimento. Considerando que todas as

tabelas anteriores mostraram que os lucros retidos seriam a opção menos favorecida

em termos de opções de financiamento, ao eliminar os tributos sobre os ganhos de

capital o sistema tributário aproximar-se-ia da neutralidade. Assim, foram

recomputadas as expressões anteriores, agora assumindo que a alíquota sobre os

ganhos de capital (z) é igual a zero.

Tab. 20: P com τ = 30%, r = 5%, 20% de estoques pelo FIFO e z = 0


Máquinas Edificações Estoques Média Ponderada
Lucros Retidos 5.5% 5.3% 5.5% 5.5%
Aporte de Capital 5.5% 5.3% 5.5% 5.5%
Endividamento 3.7% 3.4% 3.5% 3.6%
Média Ponderada 4.9% 4.6% 4.8% 4.8%

Tab. 21: Cunha Fiscal (P – S) com τ = 30%, r = 5%, 20% FIFO and z = 0
Máquinas Edificações Estoques Média
Ponderada
Lucros Retidos 1.9% 1.7% 1.9% 1.9%
Aporte de Capital 1.9% 1.7% 1.9% 1.9%
Endividamento 0.1% -0.2% -0.1% 0.0%
Média Ponderada 1.3% 1.0% 1.2% 1.2%

Além de baixar a diferença média ponderada entre P e S, esta política faria com que

reter lucros ou emitir novas ações fossem opções equivalentes, isto é, o sistema

tributário não privilegiaria qualquer das duas. Entretanto, o endividamento

continuaria a ser a melhor opção financeira. Relembra-se que não está sendo

discutido se haveria perda de receitas com a isenção dos ganhos de capital.


A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 35

G. Elevando a Tributação sobre os Juros

Correntemente, a alíquota de tributação sobre os juros para residentes é de 20%,

logo, inferior a boa parte das alíquotas praticadas nos países da OCDE.15 Se o Brasil

elevar a tributação dos juros para 30%, observe:

Tab. 22: P com τ = 30% e mi = 30%


Máquinas Edificações Estoques Média Ponderada
Lucros Retidos 3.7% 3.4% 3.5% 3.6%
Aporte de Capital 3.7% 3.4% 3.5% 3.6%
Endividamento 3.7% 3.4% 3.5% 3.6%
Média Ponderada 3.7% 3.4% 3.5% 3.6%

Tab. 23: Cunha Fiscal (P – S) com τ = 30% e mi = 30%


Máquinas Edificações Estoques Média
Ponderada
Lucros Retidos 1.5% 1.2% 1.3% 1.4%
Aporte de Capital 1.5% 1.2% 1.3% 1.4%
Endividamento 1.5% 1.2% 1.3% 1.4%
Média Ponderada 1.5% 1.2% 1.3% 1.4%

Assim, elevar a carga tributária sobre os juros a uma alíquota de 30% e, ao mesmo

tempo, dar isenção total aos ganhos de capital e aos dividendos eliminariam as

distorções quanto a decisões de investimentos entre os três tipos de ativos e entre

as três fontes de financiamento. Cabe observar que a dedutibilidade dos juros,

embora admissível no Brasil e na OCDE, poderá comportar diferenças não

investigadas e não modeladas, como, por exemplo, a forma como a dedução é

permitida: se pro rata tempore ou se integral e imediata. Outra observação diz

respeito ao uso de alíquotas diferenciadas para residentes e não residentes. Este

procedimento é visto pela OCDE como capaz de criar distorções e barreiras à

mobilidade do capital, pois institui tratamento diferenciado entre investidores.

15
Alíquotas sobre juros na OVDE: EUA (média) 28%, Reino Unido (média) 22%, Suíça 30.8%, Suécia 30%,
Espanha 31.5%, Luxemburgo 24%, Grécia 25% para residentes.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 36

As tabelas 22 e 23 podem ser reescritas utilizando-se as taxas de juros nominais de

16%, que estão mais próximas da realidade:

Tab. 24: P com τ = 30%, i =16% e mi = 30%


Máquinas Edificações Estoques Média Ponderada
Lucros Retidos 9.2% 9.1% 9.5% 9.3%
Aporte de Capital 9.2% 9.1% 9.5% 9.3%
Endividamento 9.2% 9.1% 9.5% 9.3%
Média Ponderada 9.2% 9.1% 9.5% 9.3%

Tab. 25: Cunha Fiscal (P – S) com τ = 30%, i = 16% e mi = 30%


Máquinas Edificações Estoques Média
Ponderada
Lucros Retidos 2.8% 2.7% 3.1% 2.8%
Aporte de Capital 2.8% 2.7% 3.1% 2.8%
Endividamento 2.8% 2.7% 3.1% 2.8%
Média Ponderada 2.8% 2.7% 3.1% 2.8%

Obviamente que os valores de P ficaram mais altos, mas, novamente, não haveria

incentivos tributários para quaisquer das fontes de financiamento. As diferenças

entre P e S cresceram também, mas, ainda assim, a cunha fiscal média é menor que

os 3.4% da tabela 15. Uma pequena divergência aparece, no entanto, entre os tipos

de ativos. Para resolver este problema, uma das possibilidades seria a adoção do

LIFO como método legal de avaliação de estoques, assumindo que a maioria das

empresas preferiria utilizá-lo. Isto praticamente tornaria idênticas as taxas de retorno

dos três tipos de ativos.

H. Modelando os Juros sobre o Capital Próprio

No modelo adotado pela OCDE, obviamente, não há previsão específica para o

tratamento dos JCP, entidade genuinamente brasileira. No entanto, o modelo

trabalha com os conceitos universalmente aceitos de dividendos e de ganhos de


A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 37

capital. Assim, é possível utilizar o modelo para estudo dos JCP, verificando-se se

os mesmos podem ser tratados semelhantemente a dividendos ou ganhos de capital.

Até aqui, os dividendos foram considerados isentos. Entretanto, se a empresa

resolve pagar os JCP condicionados à existência de lucros no exercício corrente, a

situação é semelhante à dedução dos dividendos da base de cálculo do imposto de

renda e posterior tributação na fonte a 15%. Para efeito didático, chama-se JCP

tipo1 os JCP que estiverem de acordo com a situação descrita. Assim, haveria duas

espécies de dividendos compondo a base tributável: dividendos isentos e JCP tipo1.

Portanto, torna-se necessário conhecer a razão entre a soma dos valores atribuídos

a estas duas espécies para o cálculo da alíquota efetiva, utilizada nas equações do

modelo. Não sendo conhecida esta razão, assume-se, por simplicidade, que o efeito

conjunto é determinado por um aumento da alíquota de retenção na fonte sobre

dividendos de zero para, por exemplo, 7,5% (md = 7,5%).16

Por outro lado, se os JCP forem pagos com base em lucros acumulados, eles

podem ser tratados como ganhos de capital realizados, tributados na fonte a 15% e

também dedutíveis. Chama-se a isto JCP tipo2. Quando os JCP tipo 2 são pagos

contra o patrimônio líquido, pode-se assumir que o efeito conjunto é dado por um

aumento na razão de realização dos ganhos de capital (α), de 10% para, por

exemplo, 30%.17

16
Este valor é estimado da seguinte forma: suponha que existam apenas duas empresas no mercado A e B.
Ambas tiveram lucro de $100 no exercício, mas A pagou $15 em dividendos e B, $15 em JCP tipo 1. Os
dividendos de A são isentos, mas B deverá reter $2,25. A razão entre a soma dos tributos retidos ( zero mais
$2,25) e a soma da remuneração dos sócios de A e B ($30) fornece exatamente 7,5%.
17
Valor aleatório. O cálculo efetivo precisaria de maiores dados.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 38

Ressalte-se que, em ambos os casos, a dedução dos JCP acarretará uma redução

nas bases tributáveis. Este efeito é simulado no modelo pela redução da alíquota

efetiva do IRPJ, substituindo-se τ = 30% por τ* = 25,5% 18 para lucros retidos e

aporte de capital. Para endividamento, τ permanece igual a 30%. Dessa forma, as

expressões 2, 6 e 7 ficam sendo:

z = α* .15* (1+ρ)/( α +ρ) = 11.7%

Lucros Retidos: ρ’ = ρ = [(1 – mi) i – zπ] /( 1 – z) = 14.8%

Aporte de Capital: ρ’ = (1+ σ) [( 1 – mi) i – zπ]/(1 - md) = 15.2%

Endividamento: ρ’ = (1 - τ) i = 11.2%

Mantendo-se as mesmas taxas de depreciação, inflação a 4.5%, as taxas de juros

nominais a 16% e a razão dos estoques avaliados pelo FIFO igual a 100%, tem-se:

Tab. 26: P considerando os JCP


Máquinas Edificações Estoques Média
Ponderada
Lucros retidos 13.0% 13.1% 14.7% 13.4%
Aporte de capital 13.5% 13.6% 15.2% 13.9%
Endividamento 9.2% 9.1% 11.0% 9.6%
Média Ponderada 11.7% 11.8% 13.5% 12.1%

Tab. 27: Cunha Fiscal (P – S) considerando os JCP


Máquinas Edificações Estoques Média
Ponderada
Lucros retidos 4.3% 4.4% 6.0% 4.7%
Aporte de capital 4.8% 4.9% 6.5% 5.2%
Endividamento 0.5% 0.4% 2.3% 0.9%
Média 3.0% 3.0% 4.8% 3.4%
Ponderada

18
Se a empresa paga os JCP, ela poderá deduzi-los da base de cálculo do imposto de renda. Se esta base for de
100, supondo $15 pagos a título de JCP, a nova base tributável sobre a qual incidirá a alíquota efetiva de 30% do
IRPJ mais CSLL será de $85. Logo, o valor dos tributos será de $25,50 e a alíquota efetiva resultará da divisão
deste número pela base $100. Obviamente, esta é uma aproximação simplista e não considera as razões entre os
valores efetivamente pagos a título de dividendos, ganhos de capital e JCP. Todavia, o refinamento do cálculo
levaria a alíquotas entre 25,5% e 30%, não alterando os resultados substancialmente.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 39

Estes resultados apresentam-se ligeiramente superiores aos que foram obtidos nas

tabelas 14 e 15, mas resta claro que os JCP, da forma como foram modelados, não

definiriam tratamento homogêneo às diferentes fontes de financiamento. O

endividamento continuaria sendo a forma de financiamento empresarial privilegiada

pelo sistema tributário.

CONCLUSÃO

As equações de King-Fullerton mostraram que a tributação dos lucros empresariais

distorce os incentivos para alocação de capital, no Brasil. O sistema privilegia o

endividamento, em detrimento da opção de reinvestir os lucros retidos ou captar

recursos por meio de emissão de novas ações. Além disso, o custo de investir em

estoques é, na média, maior que nos outros dois tipos de ativos, quais sejam

máquinas e edificações. Em outro prisma, nota-se que as taxas mínimas requeridas

de retorno ao investimento antes da tributação (P), bem como as diferenças entre

estas e as taxas pós-tributo (S) são, em geral, maiores que aquelas registradas na

área da OCDE. De acordo com os resultados encontrados, e visando à redução do

custo do capital, bem como a aproximação do sistema tributário à neutralidade

(redução de distorções nos padrões de investimento por razão exclusivamente

tributária), seguem-se algumas sugestões para os formuladores de política tributária:

I. Revisar os Juros sobre o Capital Próprio. Criados, talvez, com o objetivo de

fortalecer a formação de capital, os JCP parecem distorcer ainda mais as decisões

sobre investimentos. Ao considerar os JCP nas equações de King-Fullerton, os

resultados indicaram que o endividamento continua a ser a forma mais lucrativa de

financiamento da expansão empresarial, contrariando a idéia de que os JCP

estariam proporcionando ao capital societário tratamento equivalente ao dos juros.


A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 40

Além disso, não se trata de uma política de uso comum em outros países, fato que

aumenta a complexidade relativa do sistema. Obviamente, as incertezas quanto às

hipóteses assumidas aliadas às limitações do modelo sugerem cautela na

formulação de políticas. Por esta razão, seria importante rever tais hipóteses,

utilizando dados mais próximos dos reais;

II. Estudar a hipótese de reduzir ainda mais ou eliminar a tributação sobre os ganhos

de capital que resultem da valorização das ações, desde que esses ativos não

sejam alienados durante dois anos ou mais. Isto funcionaria como um incentivo

para que as empresas financiassem novos projetos com os lucros retidos que,

segundo os adeptos da nova visão, seriam a forma de financiamento preferida

pelas empresas. Recentemente, o governo deu um passo importante nesse

sentido, ao publicar medida provisória que objetiva reduzir a incidência tributária

sobre os ganhos de capital;

III. Estudar a hipótese de elevar a incidência de tributação na fonte sobre os juros ou

impor limites às deduções de juros da base de cálculo do IRPJ. É interessante

notar que a maioria dos países da OCDE tributa os juros a alíquotas superiores a

30%. Esta política, combinada com a redução/eliminação da tributação sobre os

ganhos de capital, tenderia a aproximar o sistema tributário da neutralidade em

relação às diversas fontes de financiamento. Ao mesmo tempo, aumentaria o

estímulo ao investimento, uma vez que as cunhas fiscais seriam menores que as

atuais (veja as tabelas 24 e 25);

IV. Estudar a hipótese de elevar a alíquota do IRPJ para algo em torno de 30% e, ao

mesmo tempo, eliminar o Adicional e a incidência da Contribuição Social sobre o

Lucro Líquido sobre as empresas. Estas medidas tornariam o sistema mais


A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 41

simples e transparente19, e tenderiam a facilitar eventuais negociações de tratados

internacionais. A princípio não acarretariam redução de receitas, pois, como visto,

a alíquota efetiva deve estar próxima do valor proposto;

V. Estudar a hipótese de legalizar o uso do LIFO como método alternativo de

avaliação de estoques. É preciso lembrar que quanto mais os estoques estiverem

sujeitos à indexação, menos atrativos serão em relação a outros tipos de ativos.

Estas seriam as alterações mais urgentes. As atuais taxas de depreciação parecem

fazer com que investimentos em edificações e máquinas sejam praticamente

equivalentes. Mesmo assim, é recomendável aprofundar o estudo das taxas efetivas

de depreciação. A permissão da opção pelo sistema de declínio balanceado poderá

trazer benefício ao investimento e, por isto, deve ser reavaliada. A isenção dos

dividendos continua a ser um instrumento importante para manter o aporte de capital

como fonte de financiamento empresarial equivalente ao endividamento e às

retenções de lucros, muito embora nem sempre a completa eliminação da dupla

tributação econômica possa ser atingida. É certo que alguns outros países optaram

pelo sistema de imputação, mas, no caso do Brasil, a complexidade que envolve um

sistema de créditos faz com que a migração, a priori, não valha à pena, ainda mais

se for considerado que o sistema poderia restar bem balanceado, após a

implementação das sugestões acima expostas. Outra constatação interessante diz

respeito às taxas de juros, que permanecem muito elevadas no Brasil. A redução

dos juros reais seria benéfica ao investimento, conforme se demonstrou (tabelas 8 e

9); no entanto, este não é exatamente um tópico de política tributária e, por isto, não

será explorado aqui. Sobre a inflação, enquanto o Brasil puder mantê-la sob controle

19
Com a globalização da economia mundial, tornam-se ainda mais importantes a transparência e a simplicidade.
O sistema tributário brasileiro, sempre que possível, deve adotar mecanismos e regras próximas às dos países
exportadores de capital.
A Tributação dos Lucros e o Retorno ao Investimento no Brasil 42

e inferior a 5%, não há necessidade de mudanças. Entretanto, se a inflação subir, os

formuladores de política tributária devem revisar seus efeitos e promover as

alterações necessárias.

Referências Bibliográficas
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A1

Anexo A – Cálculo da Alíquota Efetiva sobre a Tributação dos Lucros das


Grandes Empresas

Estimando a Alíquota Efetiva Média Incidente sobre o Lucro das Grandes


Empresas no Brasil:

1. Alíquota Estatutária do IRPJ = 15%

2. Adicional do Imposto de Renda = 10% , incide sobre a parcela do lucro real,


presumido ou arbitrado que exceder o valor resultante da multiplicação de
R$20.000,00 (vinte mil reais) pelo número de meses do respectivo período de
apuração.

3. A Alíquota Média será estimada como se segue:

• Número de grandes empresas contribuintes do lucro real no ano 2000:


188,828.1

• Receita tributária aproximada do IRPJ das grandes empresas no ano 2000:


R$1,333,215 milhões.

• Receita do IRPJ média por empresa (a/b): 7,060

• Abaixo, apresenta-se um cálculo aproximado da alíquota efetiva média,


partindo da suposição de que as grandes empresas pagam cerca de 7
milhões de reais de IRPJ, em média. Os demais valores foram ajustados
utilizando a planilha eletrônica Microsoft Excel:

a. Lucro Real (LR) 28.500.000,00


b. Alíquota Estatutária de 15% 0,15
c. Imposto de Renda (IRPJ) 4.275.000,00
d. Base do Adicional do IR (LR – 240 mil) 28.260.000,00
e. Adicional = 10% 2.826.000,00
f. Total do IRPJ 7.101.000,00
Alíquota Effective = Total IRPJ/LR 0,25

1
dados sobre número de empresas e receita do IRPJ foram obtidos de:
http://www.receita.fazenda.gov.br/Historico/EstTributarios/dipj2000/Sintese.htm, visitado em 09 de
junho de 2004.
A2

Se for considerada a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), que


também é devida pelas empresas à alíquota estatutária de 9%, observa-se que a
alíquota efetiva da tributação dos lucros das empresas no Brasil sobe para mais
de 30%:

a. Base da CSLL 31.318.681,32


b. CSLL (9%) 2.818.681,32
c. Lucro Real (LR) 28.500.000,00
d. Alíquota Estatutária de 15% 0,15
e. Imposto de Renda (IRPJ) 4.275.000,00
f. Base do Adicional do IR (LR – 240 mil) 28.260.000,00
g. Adicional = 10% 2.826.000,00
h. Total do IRPJ 7.101.000,00
i. Total IR + CSLL 9.919.681,32

A Alíquota Efetiva (i/a) 32%

Obs: Considerou-se a base da CSLL com sendo a base tributável, neste caso.

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