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A HISTORIA DA PROFISSÃO

DE OBSTETRIZES

França Século XVIII e XIX


Profa. Anayansi Correa Brenes

Fonte: Correa Brenes, Anayansi. Um olhar brasileiro sobre o caso de


Paris: O conflito parteiras – parteiros e seus desdobramentos no Rio de
Janeiro – século XIX. Tese doutoral.
E arquivos privados da autora.
A presente apresentação trata do
nascimento de uma profissional
conhecida na França como Sage-
femme, equivocadamente traduzida ao
português como parteira diplomada ou
obstetrizes. Por traz do nome Sage-
femme ( mulher sábia) guarda-se toda
uma especificidade da luta destas
mulheres diante o oficio do
atendimento ao parto na sua
transformação como profissão, assim
como de sua transformação em
disciplina científica. A aceitação da
arte de partos como ciência não foi
fácil. Por outro lado, a entrada do olhar
masculino e dos homens na profissão,
trouxe múltiplas conseqüências para a
disciplina em formação,
particularmente na nova
deodontologia (ética) que se
concretizava com esse olhar.
Breve historia etimologica da nomeação
profissional.

Cronologicamente pode-se pensar na existência de três modelos de


profissionais da arte:

1. Muitas mulheres procediam do exercício da empírica (comadres ou


parteiras leigas);

2. Outras das associações da empírica aos estudos anatômico-


cirúrgicos(viúvas de cirurgiões);

3. Por último, mais próximo ao nosso século XIX aquelas que estudaram
nos cursos oficiais para parteiras(sage-femme propriamente dita).
QUESTÃO TEORICA DE FUNDO.

Com base nesta diversidade na formação, receberam nomes e tratamentos


distintos na sociedade da época: “Mère-alleresse, sage-dame, ventrière des
accouchées, leveuse, bonne-mère, mère-sage, mère-matrone, matrone”

No entanto, se perguntar a uma parteira graduada francesa (sage-femme)


hoje, se ela se identifica com o modelo das “comadres”, conhecidas também
como parteiras tradicionais ou matronas, a sua resposta seria não.

A partir desta negação, começa-se a perceber outra questão que atravessará


a profissão ao longo de sua transformação de pratica cotidiana entre
mulheres para disciplina científica. A parteira graduada não será ou não se
sentirá um modelo aprimorado, evoluído, surgido daquela primeira parteira
tradicional.

Significa uma ruptura com aquelas e um deslocamento para a ciencia.

De fato, o nome que elas se deram em Paris (diplomadas) foi o de ‘Sages-


femmes’. Este titulo textualmente deveria ser traduzido como o de “mulher
sábia”, trazendo a tona a marca de uma raiz mítica grega, com a qual se
identificaram, desde o século XVIII. As sages-femmes francesas se sentem
herdeiras, filhas diretas das “sagas” gregas.
QUEM ERA E O QUE FAZIAM AS SAGAS GREGAS? MITO FUNDADOR
DA PROFISSÃO DE SAGES-FEMMES.
Fragmentos míticos, relatados desde o século XIX, destacam a presença histórica de
uma jovem grega dotada de inteligência e instrução, a qual querendo vir em socorro de
suas semelhantes, protegida por um médico honesto e de nomeada reputação, seguiu
disfarçada nas vestes masculinas os cursos de cirurgia com sumo aproveitamento, e
em pouco tempo tornou-se tão hábil parteira que teve contra ela todos os ardis,
manejos e cabalas sugeridos pela inveja; as acusações e calúnias caíram sobre sua
reputação, firmada pelo merecimento científico, e enorme clientela, provavelmente
devida à revelação secreta de seu sexo às parturientes, que por interesse próprio
guardavam o sigilo.
Denunciada ao Areópago como sedutor das mulheres casadas a quem partejava, este
suposto homem compareceu diante do terrível tribunal e seu defensor, depois de
eloqüente defesa, abriu-lhe a túnica, patenteando aos olhos ávidos dos seus
conspícuos ouvintes o sexo de sua constituinte.
Convencidos de que lutavam em vão, os legisladores passaram a permitir que o
exercício da arte obstétrica fosse concedida a mulheres, chegando mesmo a organizar-
se um regulamento com o qual tinham de se conformar.
Desde então, as sagas da Grécia, de onde deriva o nome de sage-femme, tratavam de
enfermidades das partes geniturinárias desdenhosamente abandonadas pelos médicos
da época, que consideravam um desdouro para sua dignidade curar tais enfermidades.
Diante deste relato destacam-se duas grandes questões: a sagas gregas eram
mulheres que tinha uma atuação mais ampla sobre o corpo da mulheres. Eram uma
espécie de médicas para mulheres ou problemas de saúde feminino. O interesse destas
mulheres em transformar a prática de partos em ciencia teria tido dois grandes
entraves, no século XIX;
NO SÉCULO XIX, A ENTRADA DA MULHER NA CIÊNCIA FOI POSSÍVEL
ATÉ A ERA NAPOLEÔNICA (NAPOLEÃO I).

1. Primeiro a ciência sendo um campo


naturalmente masculino, as mulheres que
começavam a entrar nela através da arte
dos partos, viveram problemas de
identidade sexual profissional. Passando a
ter os mesmo problemas vivenciado pelos
parteiros(à inversa), agravados pela
dificuldade na aceitação científica da arte,
por parte dos médicos.
2. Pelo seu inverso, os homens que
começavam a fazer a ponte, se
introduzindo na arte de partos para-traze-
la para converti-la em disciplina científica,
tiveram dificuldades não só de ordem
prático bem como de identificação sexual-
profissional.
OS PROBLEMAS TRAZIDOS COM O
TITULO DE SAGE-FEMME
(SÉCULO XIX)
1. O nome proposto por elas teria aberto
um novo caminho por onde passaria a
mulher na ciência, mas ao mesmo
tempo importou para dentro de si uma
contradição: era impraticável a sua
transformação ao formato masculino.
2. A guerra de competência entre leigas
(parteiras não diplomadas) e
diplomadas(sage-femme ou parteira
diplomada).
A ESCOLA DE PARTOS DE PARIS: DOS CURSOS ITINERANTES A
ESCOLA OFICIAL
Em meados do século XVIII, já na gestão de Luís XV, favoreceu-se a
generalização da prática do parto através do curso itinerante. O mais famoso
da época foi o de Mme Angélique Marguerite Lebousier Du Coudray. Esta
grande parteira, nascida em Clermont-Ferrand, em 1712, tinha obtido seu
grau profissional na corporação Cosme e Damião, em 26 de setembro de
1739, e depois de 16 anos de sucesso em Paris, atendendo a um apelo real,
iníciou o curso de obstetrícia, que propiciou a generalização do atendimento
para todos os cirurgiões do reino que quisessem instruir-se na arte.
No início, como veremos o curso teve apoio político e financeiro direto do
Estado, sendo depois sustentado pelas próprias localidades do reino.

A corporação Cosme e Damião


O que é?
Corporação a qual pertenciam os praticos em cirurgia ou barbeiros.
As mulheres que atuavam no parto e/ou viuvas de cirurgiões foram
incorporadas a partir do século XVII;
A HISTÓRIA DA ESCOLA DE PARTOS DE PARIS: 1802-1877

No dia 7 de março de 1793 a Convention Nationale aprova um decreto selecionando os


edifícios do Convento do Val-de-Grace, que inicialmente estava sendo indicado para acolher
um hospital militar, para acolher todos estes serviços sediados no Hospital São Vicente de
Paulo. Este local teria sido um grande marco para o projeto, pois o Convento do Val-de-
Grace era o maior e melhor local de Paris naquele período. Sem se saber por quê, retorna às
mãos dos cirurgiões militares, retomando-se o projeto anterior.
No 10 de outubro de 1795 a Convention Nationale transfere então os serviços dos menores
para o antigo convento de Port-Royal, na rua da Bourbe, e o de mulheres grávidas para a
instituição de l'Oratoire, na rua d’Enfer. No dia 25 vendémiaire ano IV, inauguram-se
definitivamente estes serviços.
Eram duas grandes seções:
- A seção do aleitamento, sediada no
local da Abadia de Port-Royal. Aqui
ficaram instaladas as crianças
abandonadas, as amas-de-leite, e
menores de até 10 anos de idade.
- O hospício da maternidade; onde se
encontravam as gestantes e
parturientes.
O Hospício da maternidade de Paris
reunia o local de asilo de mulheres
grávidas (1795) e da Escola do Parto
(1802).
Ter filhos no hospício da maternidade
significou, durante todo o século XIX,
um pouco o estigma da pobreza e da
desonra para a mulher da época. Este
dado traça o perfil das que aqui vieram
para ter seus filhos, bem como o
aspecto que foi tomando a pesquisa,
seus arredores e o próprio bairro em
Paris.
A ANALISE GEOPOLITICA DA PRATICA DE MME DU COUDRAY: 25
ANOS
Nos 25 anos de curso percorrendo a França inteira, esta parteira deu em torno
de 60 cursos em mais de 50 localidades.
1. Graduaram-se em torno de 5.000 cirurgiões e parteiras leigas.
2. Do Coudray é considerada a primeira professora em obstetricia na França
A distribuição dos espaços deste estabelecimento, no "plano da Casa do Parto" desenhada por H. Bessat,
nos dá a magnitude desta idéia, bem como da organização física da escola e os seus serviços de parto s.

I. Restaurante para as gestantes e também outra parte destinada


B. Esta parte do plano se encontravam os prédios onde ficavam as
para dormitórios das mesmas.
oficinas, os arquivos e os alojamentos do 'capelão' e do 'contador',
situados logo à direita da entrada. K. Cozinha, lavanderia, banhos, farmácia, sala de cursos,
dormitórios das recém-paridas.
C. Salas para desinfetar as roupas de lã; era um setor que ficava
em frente à entrada principal. L. Restaurante e salas de aula das alunas parteiras.
O plano detalha a localização dos outros serviços ligados à escola, M. Sala dos mortos; Jardim Botânico do curso das alunas
descritos a seguir: parteiras.
D. Padaria, açougue, armazém de víveres, alojamento do vigia do N. Pequena capela (oratório).
conjunto de prédios (e família), armazém dos tecidos de linho.
O. Local de fabricação das roupas de linho.
E. Local de depósito dos materiais de construção.
P. Capela.
F. Dormitórios das gestantes.
Q. Armazém (nada especificado).
G. Local onde se armazenava o material de limpeza (sabão).
R. Vestuário, dormitório das alunas, alojamentos da Parteira
H. Estábulos que serviam para guardar e abrigar os animais. chefe, bem como dos empregados do serviço.
S. Entrada projetada (para a avenida de L'observatoire).

T. Lugar de passeios internos


O MÉTODO DE ENSINO: AJUDA MUTUA
A Escola do Parto formava jovens dentro de uma nova filosofia científica, que ia de encontro à
velha rotina médica. A prática se desenvolvia ao "pé do paciente" , como método de
aprendizagem das parteiras.
A prática "ao pé do paciente" foi produzindo, sem dúvida, outro método de observação, ou seja,
a constatação empírica. Esta, por sua vez, iria ratificando ou não a eficácia da terapêutica,
tornada bússola e ao mesmo tempo "objeto de observação" importante para dimensionar os
resultados dos cuidados aplicados às parturientes.
A observação vem acompanhada de anotações detalhadas que certamente contribuíram para
a pesquisa clinica de 1823 a 1840.
Tempo de duração:
O curso de imediato acolheu 80 alunas (1802). No início eram apenas seis meses de curso,
com direito a repetir o período caso a aluna achasse necessário. Mas em 1807 foi ampliado
para um ano de estudos. Seu pré-requisito era saber ler e escrever. Também foi solicitado que
anexassem, ao se inscrever, o registro de nascimento, de casamento (para as casadas), certidão
de óbito dos maridos, para as viúvas.
Critérios de seleção:
Além de um certificado de boa vida e costumes dado pela prefeitura onde residiam, deviam
submeter-se a um exame médico prévio, sendo as mulheres grávidas, em tese, expressamente
proibidas de estudar na escola. No final do século solicita-se a vacina da varíola ou o atestado
de que contraiu esta doença na infância.
CARACTERIZAÇÃO DAS ALUNAS SAGE-FEMME DE 1802 A 1877
IMAGEM GRAFICO QUANTITATIVO
CARACTERIZAÇÃO DAS ALUNAS SAGE-FEMME DE 1802 A 1877
IMAGEM DO GRAFICO ESTADO CIVIL
CARACTERIZAÇÃO DAS ALUNAS SAGE-FEMME DE 1802 A 1877
IMAGEM DO GRAFICO POR IDADE
CARACTERIZAÇÃO DAS ALUNAS SAGE-FEMME DE 1802 A 1877
IMAGEM DAS ATIVIDADES NA ESCOLA

ROTINA DIÁRIA DE ESTUDOS


05h:30- Hora de levantar. As alunas efetuavam os cuidados e curativos às parturientes, acompanhavam a visita da parteira-chefe à enfermaria. Depois executavam seus
cuidados pessoais e de toalete para ir à missa e só depois tomavam o café da manhã. Em seguida, acompanhavam a visita do cirurgião.
09h00- Primeira Lição
10h00- Batismo de crianças
11h00- Segunda Lição
12h00- Almoço seguido da segunda série de cuidados às parturientes nas enfermarias, aos recém-nascidos e execução das prescrições da manhã.
13h00- Terceira Lição
14h00- Visitas e estudos da língua francesa
15h00- Repetição das lições
16h00- Lições de parto, sangria, vacina e botânica.
17h00- Terceira série de cuidados às parturientes e segunda. visita da parteira-chefe e do médico. Repetição das lições do dia.
18h00- Ceia e execução das prescrições
19h00- Oração
21h30- Redação das lições do dia.
PLANTÃO DIURNO / PLANTÃO NOTURNO
O MOVIMENTO DOS CIRURGIÕES NA FACULDADE DE MEDICINA
DE PARIS: A CRIAÇÃO DA CADEIRA DE PARTOS.
Breve introdução:
Alphonse Leroy, professor da Faculdade de Medicina de Paris, submeteu à
Assembléia Nacional, em fins de 1790, um projeto. Neste, havia uma
tentativa embrionária de propor um ensino anatomoclínico sobre a saúde da
mulher, funcionando inicialmente no Hôpital Salpêtrière, e reunindo alunos
de medicina e alunas parteiras.
Leroy propunha uma espécie de seminário, para alunos que fossem
especializar-se nos cuidados do parto, da saúde das mulheres e dos recém-
nascidos, com o objetivo de superar "os cirurgiões sem Lumières" e as
"parteiras sem capacidade" que abundavam na época, e que, segundo ele,
tinham feito do parto uma "operação perigosa".
A indicação de J. L. Baudelocque para lecionar na Escola de Partos de Paris
(1802), sendo já suplente de Leroy na Faculdade de Medicina de Paris desde
1795, e sendo o presidente da Academia de Medicina de Paris, colocou-o em
um lugar privilegiado de observação. Este parteiro circularia por ambos os
estabelecimentos de ensino, propiciando o encontro tão desejado entre a
teoria e a prática. E estaria sentado na maior instância do poder médico, não
só junto a seus pares, como também deliberando temas de importância para
o Estado.
A HISTORIA DA CADEIRA DE PARTOS NA FACULDADE DE MEDICINA:
1797 – 1870

A estratégia de criação do curso de parteiras


diplomadas na Faculdade de Medicina

COMPARAÇÃO DA MATRÍCULA DE ALUNAS NO CURSO DE PARTEIRAS, EM RELAÇÃO À


MATRÍCULA DE ALUNOS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PARIS (1815-1824)

Ano Nome do Professor N° de Alunos Homens N° de Alunas


(X*) Mulheres
1815 A. Leroy - 19
1816 Desormeaux - 22
1817   875 23
1818   867 40
1819 s/dados 850 50
1820 s/dados 855 46
1821 s/dados 860 23
1822 s/dados 899 61
1823 s/dados 850 54
Neste ano surge a indicação de carta de recomendação exigida às alunas.
1824 s/dados 958 47
A TRAJETÓRIA DA CADEIRA NA FACULDADE DE MEDICINA DE PARIS
(ANO III A 1889)
       
Período Nome da Cadeira Professor Titular Suplente
 
Ano III - 1816 Teórica de Partos Leroy, A. Baudelocque, JL
ano III-1810      

1811-1822     Desormeaux, A
1818-1822   Pelletan, Ph.  

fecha para reforma de ensino 1821-1823; surgem duas cadeiras


1823 - 1889 1.Clínica de Partos Deneux, L.Ch.  
1a. Cadeira (1823-1830)
  a cadeira fica vacante    
até 1834
    -Dubois, P.  
(1834-1861)
    -Depaul, J  
(1861-1883)
    - Pajot, Ch  
(1883-1886)
 interinamente fica por um ano Pinard (1886-87)

    E. Tarnier  
(1889-1897)
1823-1889 2. Partos, doenças de - Desormeaux, A (1823-1830)  
mulheres em parto e dos - Moreau, F
recém-nascidos. Daqui surge (1830-1862)
o desdobramento de 1889 - Pajot, Ch.
que se denominará 2a (1863-1883)
cadeira de clínica obstétrica - Tarnier, E. (1884-1889)
O CONFLITO ENTRE SAGE-FEMME DA ESCOLA E SAGE-FEMME DOS
CURSOS DA FACULDADE DE MEDICINA: 1a. CLASSE X 2a. CLASSE

O modelo adotado de repetição e memorização começa a se esgotar em


meados do século XIX. Nesse momento, Mlle Charrier mantinha o
procedimento de apenas interrogar as alunas sobre a prática quotidiana,
suprimindo a parte teórica.
Em 1858, Mme Alliot, ex-aluna da escola e já famosa parteira, ao ser
investida no cargo de chefia, decide propor uma nova organização do curso,
tendo em mente torná-lo ergonométrico, para que as alunas pudessem
dispor de um tempo para "refletir sobre os casos clínicos".
Mlle Alliot teria escrito em junho de 1858 uma carta ao Diretor de
l'Assistance Publique, versando sobre a organização do serviço clínico da
escola; segundo ela, sua reorganização permitiria ampliar o tempo de
estudo das alunas, bem como aumentar o número delas.
Em 1812 elas encaminharam uma petição com 188 assinaturas a M. Camet de la Bonnadière,
membro do Conselho Geral dos Hospícios, pedindo uma solução para o impasse profissional que
se avizinhava, uma vez que a formação dada pela faculdade, era só teórica, além de ter duração
de três meses. Comparativamente consideravam-se muito superiores às outras parteiras.Nesse
ínterim, ocorre a transferência da Escola para um espaço maior. Mas a queda de Napoleão
congelou o processo de seu fortalecimento. O pedido de unificar a profissão só teve resposta em
2 de fevereiro de 1823, quase onze anos depois, quando tentou-se pôr um ponto final à querela
entre os dois formatos de cursos, introduzindo-se a carta de apresentação da aluna que fosse
estudar nos cursos das faculdades, como aponta a fonte acima examinada; mas o nível exigido
continuou o mesmo, muito aquém do desejado, julga-se devido ao analfabetismo reinante entre
as mulheres, dificultando de certa forma seus estudos científicos.
Só em 22 de agosto de 1854, aprovou-se um decreto respondendo ao pedido de elevar o ensino
e as exigências para quem quizesse abraçar a profissão de parteiras, defendido pelas alunas da
Escola de Partos de Paris; a proposta foi de dividí-las em duas categorias:
- parteiras de primeira classe - àquelas graduadas nos cursos das faculdades de medicina. O
título as habilitava a transitar em todo o território nacional.
- Parteiras de segunda classe - às graduadas em escolas preparatórias, exercendo estritamente a
profissão no local onde tivessem obtido o diploma.
A Escola de Partos de Paris foi classificada nesta segunda categoria. Assim, entre 1854 e 1857 ,
todas as graduadas ficaram presas a esta norma. Em 1857-58, elas obtiveram ganho de causa no
que diz respeito à sua classificação, mas, para serem conceituadas como parteiras de primeira
classe, tiveram que renunciar à autonomia dos exames de fim de curso. A partir desta data, as
suas egressas passaram nos exames de uma comissão ligada à Faculdade de Medicina, e após a
aprovação, eram autorizadas a trocar o certificado que recebiam por um de primeira classe, nos
lugares onde residiam.
INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ENTRADA DOS CIRURGIÕES NO
PARTO.

PRINCIPAIS ACONTENCIMENTOS
1. Entrada de Julien Clement ao parto de Mlle Lavallielle amante do rei Luis XIV.
2. Introdução do forceps em 1670- Pierre Chamberlen III visita Paris trazendo forceps dentro de sua bagagem.
3. Empreendimento real associativo entre Nicolas Puzos (1686 – 1753), discipulo de Julien Clement, e Felix de Tassy,
filho do 1° cirurgião do rei ( - 1703).
4. Em 1667 François Felix obtém a derrogação definitiva do rei do decreto que impedia os homens de exercer a arte de
partejar.
5. Mme Du Coudray por ordem real, ensina cursos de obstetricia itinerantes durante 25 anos (1759-1784) por todo o
reino francês. Forma mulheres que não tinham tido filhos, jovens em sua maioria e cirurgiões praticos.

PRINCIPAIS REGULAMENTAÇÕES
1580- Primeira regulamentação do exercicio profissional do parto na cidade de Paris. Deviam-se apresentar a um jurado
composto de 1 médico, 2 cirurgiões e 2 parteiras juramentadas pela corporação Cosme e Damião.
1674- Acrescenta-se ao juri a presença de membros da Faculdade de Medicina.
Antes do juramento de exercicio profissional eram obrigadas a expor sua vida e costumes.
1726 a 1765- Houveram julgamentos e cassações policiais.
1741- Modifica-se o batismo do recém-nascido. Este passa a ser realizado intra-utero. Começa a se realizar a cesariana
em vida da mãe. Favorece-se a vida da criança em detrimento da vida da mãe. Nova ética cientifica que impera até
hoje.
Século XIX-Assistimos a perda gradativa da autonomia profissional da sage-femme e a tutela do médico sobre ela.
CONCLUSÕES PARCIAIS

1. Problemas morais misturados a problemas profissionais


Tucat aponta para o fato da prática liberal a domicílio diferenciar-se entre
ricos e pobres. Nos bairros de maior poder aquisitivo chamava-se a parteira e
o parteiro. Já nos de classe média e mais pobres escolhia-se pelo critério
econômico, o parteiro, por este ter direito à prática do fórceps.
2. A politica de Bem Estar do Estado apos 1895 estimula a partir dos cuidados
puericulturais os cuidados dos filhos pelas mães, como sendo o esteio da
familia.
3. Problemas de formação profissional: Unificação do diploma em 1915. Até la
houve a briga entre sage-femme de 1a. e 2a. classe. O curso teve uma
prolongação para dois anos de ensino para habilitação. Precariedade na
formação cientifica. Estimula-se sobretudo aprender fazendo ou somente a
pratica.

O Mito fundador da profissão de sage-femme tem se mantido vivo na França,


no meio de uma formação profissional misturada entre cuidados e
ciência médica, até os dias de hoje.

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