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Nitrogênio em Milho - Especial • 3

Adubar para crescer


Uso de nitrogênio é indispensável para garantir boa produtividade na cultura do milho

M
uitos foram os avanços obtidos na pro- tados, e nenhum desses fatores é mais importante
dutividade das lavouras de milho em isoladamente do que o outro.
virtude do melhoramento genético
desta cultura. AMBIENTE
Até bem pouco tempo atrás, cerca de 8 a 10 anos, Se analisarmos o ambiente em um país con-
relatar resultados de lavouras que produziram 6 mil tinental como o Brasil, por si só já fará com que
Até bem pouco
quilos por hectare poderia gerar sérias conseqüênci- raciocinemos que a mesma tecnologia emprega- tempo atrás,
as ao narrador, colocando em jogo sua reputação. da no Norte ou Centro-Oeste, não poderá ser cerca de 8 a 10
Hoje, respostas de 12 a 14 mil quilos por hecta- copiada para o Sul. anos, relatar
re são facilmente observáveis sob condições experi- Se olharmos para nossa região, independen- resultados de
mentais e, respostas de 9 a 10 mil quilos por hectare temente de onde ela se localiza no País, vere- lavouras que
já não são nenhum tipo de aberração em condições mos que a tecnologia aplicada a uma lavoura do produziram 6
de lavoura comerciais, quer sejam de sequeiro ou cedo ou de verão não poderá ser a mesma apli- mil quilos por
irrigadas. cada a uma lavoura do tarde ou de safrinha. hectare
- Mas por que, então, a média nacional de milho Temos ainda as diferenças de origem e for- poderia gerar
sérias
verão não é superior a 3500 quilos por hectare e a mação de solos, que acabam determinando la-
conseqüências
média de produtividade da safrinha não chega aos vouras com diferentes características físicas e ao narrador,
2300 quilos ? químicas e que sem dúvida deverão ter tratamen- colocando em
Na agricultura, nenhum fator isolado é respon- to diferenciado. jogo sua
sável ou pode ser responsabilizado pelo sucesso ou Sistemas irrigados demandam outra tecnolo- reputação
insucesso de uma lavoura, independentemente da gia quando comparados com sistemas de sequeiro,
espécie vegetal. dentro da mesma propriedade.
É a interação do ambiente com a genética vege- Áreas de plantio direto apresentam resultados
tal e o manejo que explicam e determinam os resul- diferentes, quando comparados com áreas de plan-
4 • Especial - Nitrogênio em Milho

tio convencional, determinando tecnologias diferen- Dentro das práticas de manejo, sem dúvida ne-
tes, principalmente se o sistema de rotação de cul- nhuma a adubação de base e de cobertura tem in-
turas não é o mais adequado. fluência fundamental nos resultados da lavoura e,
dos macro e microelementos que compõem a adu-
GENÉTICA VEGETAL bação, o nitrogênio, elemento mais extraído e ex-
A dinâmica do
A genética vegetal, tão evoluída nos últimos portado pelo milho, tem participação decisiva.
nitrogênio é anos, foi selecionada justamente para amenizar as
muito diferenças encontradas nos fatores citados anteri- Incrementos de produtividade determinados
complexa e ormente. Porém, não existe genética vegetal que pelas eventuais correções das doses, parcelamento,
por esta razão consiga cobrir todas as necessidades de manejo e épocas ou fontes de nitrogênio, sugeridos neste ar-
este elemento ambiente com satisfatória produtividade, ou seja, tigo, serão tão maiores quanto mais distantes dos
é o mais não existe “um ser vegetal perfeito”. níveis adequados estiver a lavoura.
estudado e o A genética vegetal não poderá arcar sozinha
menos com a responsabilidade pela produção, até porque 1. O NITROGÊNIO
conhecido
os erros de manejo (principalmente a falta de uma A dinâmica do nitrogênio é muito complexa e
ordenada Rotação de Cultura) estão levando ma- por esta razão esse elemento é o mais estudado e o
teriais genéticos à fadiga em espaço de tempo me- menos conhecido, justamente pelo fato de ele inte-
nor do que o necessário para sua seleção, gerando ragir com as plantas, com o solo, com os microorga-
um descompasso entre o surgimento de novas pa- nismos do solo e com o ar.
tologias e sua evolução e o lançamento de varieda- O custo elevado do nitrogênio, seu alto consu-
des resistentes. mo e baixo aproveitamento, justificam a busca da
maior eficiência possível na sua utili-
zação.
Extração de Macro e Micronutrientes pela cultura do milho para produção de uma tonelada de grão – vários autores A eficiência de utilização do ni-
trogênio depende basicamente dos
seguintes fatores:
Tab. 1

Milho grão
Extração Exportação • Da dose de nitrogênio aplicada;
• Da fonte de nitrogênio;
Autor (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) Média (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) Média • Da época de aplicação;
Kg/t Kg/t • Da forma de aplicação;
N 20,9 27,7 25,2 27,6 21,2 20,3 24 14 16,3 15 12,8 14,5 • Das condições climáticas;
P 4,3 4,6 3,8 4,7 4,2 3,6 4 3,4 4 2,9 3,1 3,4 • Do sistema de cultivo;
K 21,3 17,5 22,9 16,3 25,4 16,9 20 4,2 5,1 3,5 3,9 4,2 • Da rotação de culturas;
Ca 4,3 4,2 4,3 3,4 5,5 3,1 4 0,1 0,6 0,1 0,1 0,2 • Das condições edafoclimáticas.
Mg 4,7 4,6 4,8 6,4 5,6 3,0 5 1,2 1,7 0,8 1,1 1,2
Para determinarmos a importân-
S 2,3 2,6 2,4 2,7 2,5 3 1,3 1,1 1,4 1,2 1,3
cia do nitrogênio na cultura do mi-
g/t g/t lho, precisamos ter como referência
B 18 17 19 23 19 19 4,4 3 4,4 3,9 as quantidades extraídas e exporta-
Fe 227 232 208 288 233 238 12,1 11,1 11,6 das deste elemento, por esta cultura,
Mn 37 37 79 44 38 47 6,6 5,6 6,1 para cada tonelada de grão produzi-
Cu 12 7 12 21 15 12 13 2,2 1 2,2 1,8 da.
Zn 43 51 44 56 45 44 47 22 29 18,9 23,3 Na Tabela 1 verificamos, sob a
Mo 1 1 1 1 1 0,7 0,56 0,6 ótica de vários autores, as quantida-
des de macro e micronutrientes, na
(1) PHILLIPS & LESSMAN, citado por GAMBOA, 1980 sua forma pura, extraídos e exporta-
(2) HIROCE et al. , 1989
(3) SAYRE, 1955 dos pela cultura para a produção de
(4) DRYSDALE, citado por ARNON, 1975 1000 kg de grãos.
(5) ANDRADE et al., 1975 a,b O nitrogênio afeta diretamente a
(6) BARBER & OLSON, 1969
(7) COELHO, citado por COELHO & FRANÇA, 1995 área foliar, em conseqüência altera a
taxa de fotossíntese das plantas. In-
Fonte: Paulleti, V – 1998 – Fundação ABC
terfere positivamente no crescimen-
to do sistema radicular e, desta for-
ma, permite que as raízes explorem
MANEJO maior volume de solo, melhorando o aumento da
A mesma variabilidade encontrada no ambiente absorção de outros elementos e água.
pode ser transferida para o manejo da cultura, pois É determinante no tamanho da espiga (número
são vários os níveis tecnológicos aplicados à lavoura de fileiras e número de grãos na fileira) e interfere
de milho, interferindo da mesma forma nos resulta- no peso de grãos.
dos e compondo uma matriz complexa de possibili- Sua forma de absorção se dá por fluxo de massa
dades e combinações. em 99% de sua quantidade, e é assimilado na forma
Isto nos mostra e de alguma maneira explica por de NO4- e NH3+.
que em uma mesma região ou localidade duas lavou- Por ser um elemento móvel na planta, os sinto-
ras podem ter resultados absurdamente distintos. mas de deficiência se verificam nas folhas mais ve-

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Nitrogênio em Milho - Especial • 5

lhas, na forma de uma requeima com formato de gem do material a ser mineralizado e sua quantidade.
“V” invertido, de coloração amarelada. De forma simplista, poderemos considerar de 20
O porte reduzido da planta também pode ser a 30 kg de nitrogênio incrementado no sistema (ba-
indicativo de deficiência de N, bem como espigas lanço positivo) por ponto percentual de matéria or-
deformadas (achatadas) nas pontas e com grãos de gânica determinado pela análise de solo.
baixo peso específico. Deveremos ainda, em sistemas de Plantio Dire-
Abaixo apresentamos um sintoma clássico de de- to, considerar a cultura antecessora, uma vez que os
ficiência de nitrogênio. resíduos vegetais poderão dar origem à reciclagem
do elemento nitrogênio adicionando N no sistema
(balanço positivo) ou sua imobilização (subtraindo
Foto 2 N do sistema-balanço negativo), em função de suas
quantidades presentes na superfície do solo e sua
qualidade (relação C/N).
Na Tabelas a seguir, verificamos em uma simu-
lação, como ocorre este balanço em área com pH
5,7, acidez potencial (H+Al)=3,1 me/dm3, Al=0,0
me/dm 3, M.O.=3,0%, Fósforo=7 ppm, Potás-
sio=0,40 Cmolc/dm3, Cálcio=6,1 me/dm3, Magné-
sio=3,0 me/dm3 e Saturação de Bases de 75%.
Verifica-se que, mesmo com aumento do custo
total por hectare, a participação dos custos fixos pra-
ticamente não muda, e o que realmente gera incre-
mento significativo de custo é a fertilização.
Apesar de necessitarmos incrementar fósforo
para atingir maiores resultados por hectare, o maior
incremento é do nitrogênio na forma de cobertura. Para
O incremento de custo não é proporcional à ex- determinarmos
pectativa de produção. a importância
Foto 3 Considerando o milho a R$ 13,50, verificamos do nitrogênio
um incremento de custo de fertilização da ordem na cultura do
de 25% quando desejamos incrementar a expectati- milho,
va de produtividade de 6 para 8 toneladas de milho precisamos ter
por hectare (33%). como referê
ncia as
Se nos reportamos ao custo total, este aumento
quantidades
de 33% na expectativa de produtividade é alcança- extraídas e
do com incremento de custo de apenas 11% por exportadas
hectare, em média. deste
Sem dúvida nenhuma, com base em nossa ex- elemento, por
periência de campo, este é o ponto no qual ocor- esta cultura,
rem os maiores erros, pois há uma tendência de se para cada
considerar uma adubação única para milho (paco- tonelada de
te), para um mesmo nível de rendimento e inde- grão produzida
pendentemente da cultura antecessora. Este pro-
cedimento pode levar ao sucesso ou insucesso da
prática de adubação, uma vez que uma cobertura
vegetal de aveia, com cerca de 4000 kg/ha de ma-
2. DOSES DE NITROGÊNIO NA CULTURA DO MILHO téria seca, pode imobilizar cerca de 30 kg/ha de
De maneira geral, para cada saco de milho que nitrogênio.
desejamos produzir, deveremos disponibilizar à cul- Como regra geral, as culturas com relação C/N
tura de 1,0 a 1,5 Kg/ha de nitrogênio, dependendo abaixo de 24, têm possibilidade de incrementar N
do nível de produtividade requerida. no sistema, o que não ocorre com as culturas cuja
E para a determinação da dose final de nitrogê- relação C/N é mais elevada e tendem a imobilizar
nio a ser aplicada à cultura de milho, precisamos o N, em um primeiro momento, devolvendo este
determinar um balanço deste nutriente. Esse ba- elemento ao sistema em uma taxa que não é ade-
lanço calculará as entradas (disponibilizações) e sa- quada a altas produtividades.
ídas (indisponibilizações) do sistema e começa pela Os exemplos mais comuns de coberturas vege-
determinação do nível de produtividade que deseja- tais de alta C/N são as aveias, o azevém, o milheto,
mos atingir (kg/ha de milho a ser produzido). os sorgos, o milho, o trigo, o centeio e a cevada,
Em seguida, precisamos determinar as quanti- que determinam a fixação de nitrogênio pelas bac-
dades de nitrogênio existentes no solo, através da térias do solo para que se inicie o seu processo de
amostragem e determinação dos teores de matéria decomposição/mineralização. Esta fixação se dará
orgânica. em maior quantidade quanto maior for a palhada
O aporte de N à cultura via solo é determinado (produção de matéria seca) e mais velho ou lignifi-
pela taxa média de mineralização da matéria orgâni- cado for o material.
ca, influenciada pela temperatura da região, pela ori- As quantidades médias imobilizadas por estes
6 • Especial - Nitrogênio em Milho

Participação percentual dos itens de custo de produção de milho e o impacto financeiro


da adubação na formação de 1 hectare em função da meta de produtividade e da
adubação de cobertura (Aveia preta).
TONELADAS POR
Tab. 1

CUSTOS 6 7 HECTARE 8 9
OPERAÇÕES % % % %
Dessecação 1,0% 1,0% 0,9% 0,8%
Plantio 5,6% 5,3% 5,0% 4,5%
Aplic. Herbicida 2,3% 2,2% 2,1% 1,9%
Aplic. Inseticida 2,3% 2,2% 2,1% 1,9%
Aplic. Uréia 1,7% 1,6% 1,5% 1,4%
Formiga 0,4% 0,4% 0,4% 0,3%
Colheita 11,0% 12,3% 13,2% 13,5%
TOTAL DAS OPERAÇÕES 24,3% 25,0% 25,1% 24,4%

INSUMOS % % % %
Sementes híbridas 15,8% 15,0% 15,1% 13,7%
FERTILIZANTES 28,3% 29,8% 31,5% 36,0%
Glifosate 4,4% 4,2% 3,9% 3,6%
2,4-D 0,6% 0,6% 0,5% 0,5%
Óleo Mineral 0,2% 0,2% 0,2% 0,2%
Herbimix 5,5% 5,3% 4,9% 4,5%
Fisiológico 0,2% 0,2% 0,2% 0,2%
Impacto 0,4% 0,4% 0,4% 0,4%
Formicida 0,9% 0,8% 0,8% 0,7%
TOTAL DOS INSUMOS 56,3% 56,5% 57,5% 59,7%
CUSTO DE OPORTUNIDADE DA TERRA 19,4% 18,6% 17,4% 15,9%
CUSTO DO HECTARE (R$) 761,33 797,68 849,08 931,63
Fonte: Departamento de Tecnologia - Pioneer Sementes Ltda.

materiais variam de 25 a 35 kg/ha de nitrogênio, bém vão depender das quantidades produzidas de ma-
que deverão ser adicionados ao sistema via adubos- téria seca, do desenvolvimento e estágio da cultura por
nitrogenados. ocasião da dessecação e o tempo decorrido entre a des-
Da mesma forma, quando trabalhamos com cober- secação e o plantio.
turas vegetais de C/N mais baixa, deveremos estimar as Como medida geral, consideramos um incremento
quantidades de nitrogênio recicladas ou fixadas pela de nitrogênio para estes materiais recicladores na ordem
cultura anterior. Os exemplos mais comuns de cobertu- de 15 a 30 kg/ha de nitrogênio, dependendo das condi-
ras recicladoras/fixadoras de nitrogênio são o nabo for- ções citadas, que deverão ser descontados da necessida-
rageiro, a canola, as ervilhas, as ervilhacas, os tremoços, de total da cultura.
os feijões e a soja. As quantidades recicladas/fixadas tam- Construindo um exemplo de sugestão de adubação
nitrogenada, podemos criar um modelo como o abaixo:

PARÂMETROS
Produtividade de milho esperada = 8000 kg/ha
Cultura anterior = Aveia (4000 kg/ha MS)
Matéria orgânica do solo = 3,5 %

BALANÇO
Necessidade total de N = 8 t X 24 kg N/t = 192 kg N (+)
Fornecido pelo solo = 3,5 (%MO) X 25 kg = 87 (-)
Imobilizado pela aveia = 30 kg/ha (+)
Balanço = 135 kg de N

Se analisarmos o mesmo solo com cobertura vegetal


de Nabo Forrageiro (reciclador de N) de bom desenvol-
vimento, teremos como resultado outro balanço:

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Nitrogênio em Milho - Especial • 7

ção (principalmente com fósforo e potássio) e o que


foi extraído ou exportado pela cultura, quer seja na
forma de grão, quer seja na forma de MS no caso de
silagens ou pastoreio.

3. PARCELAMENTO DO NITROGÊNIO EM MILHO


O departamento técnico da Pioneer Sementes
realizou por vários anos e em vários locais, ensaios
para respostas aos incrementos de nitrogênio, épo-
cas de aplicação e parcelamento de doses sob diver-
sas coberturas vegetais e pousio, buscando verificar
interação entre estes fatores.
O que se verificou com estes trabalhos é que, da
mesma forma que a dose de nitrogênio, o parcela- Não estamos
mento apresentou diferença de resposta em função elencando
da cobertura vegetal existente no solo. qual é a
No gráfico 1, verificamos estas respostas ao par- melhor cultura
celamento quando variamos uma dose de 150 kg/ha antecessora ao
de nitrogênio em 100% na base, 20% na base e 80% milho, estamos
sim,
em cobertura, 40% na base e 60% em cobertura,
demonstrando
60% na base, 40% em cobertura, 80% na base e 20% que existe
em cobertura e 100% em cobertura contra uma tes- diferença de
temunha sem nitrogênio. aporte de
Verifica-se que é extremamente importante au- insumos e que
mentar as dose de nitrogênio no plantio, quando é determinado
este se faz sobre palhadas de C/N elevada, para quan- pela cultura
tidades entre 30 e 60 kg/ha, o que determinou um antecessora
aumento na produtividade da cultura. para um
No gráfico 2, verificamos a mesma tendência ao mesmo
nível de
mesmo parcelamento, desta vez feita sobre palha-
produtividade
das com relação C/N baixas (abaixo de 24).
Verifica-se a mesma tendência de resposta, em-
bora com intensidade menor.
Desta forma, sugerimos ao produtor que por oca-
PARÂMETROS sião do plantio, procure trabalhar com doses de N
de 30 kg/ha, para lavouras com palhadas de C/N
Produtividade de milho esperada = 8000 kg/ha baixa e doses mais altas (35 a 40 kg/ha) quando a
Cultura anterior = Nabo (2500 kg/ha MS)
palhada for de culturas com relação C/N alta. Em
alguns locais é extremamente difícil obter fertilizan-
Matéria orgânica do solo = 3,5 % tes com elevadas concentrações de nitrogênio em
suas fórmulas, mas deveremos tentar aproximar ao
BALANÇO máximo a recomendação, inclusive lançando mão
Necessidade total de N = 8 t X 24 kg N/t = 192 kg N (+) de fertillizantes nitrogenados em mistura, desde que
isto não implique em deficiências de operacionali-
Fornecido pelo solo = 3,5 (%MO) X 25 kg = 87 (-) zação no campo por ocasião do plantio (higroscopi-
Reciclado pelo Nabo = 20 kg/ha (-) cidade ).

Balanço = 85 kg de N
Abrimos este custo e fertilização de verificamos qual o impacto do nitrogênio na busca de incrementos
Desta maneira fica evidente a diferença de res- de produtividade.
posta de uma mesma recomendação de adubação sob
culturas de cobertura com características diferentes.
5,0 6,0 7,0 8,0 9,0
Tab. 2

Ton/ha
Não estamos elencando qual é a melhor cultura
antecessora ao milho, estamos sim, demonstrando que
N (Kg/ha) 129 153 177 201 250
existe diferença de aporte de insumos e que é deter-
minado pela cultura antecessora para um mesmo ní- P2O5(Kg/ha) 48 58 67 77 100
vel de produtividade. K2O(Kg/ha) 30 30 30 30 35
Como estamos tratando apenas do nitrogênio, é 08-18-28 08-18-28 10-30-10 10-30-10 10-30-10
importante que se faça a interpretação, análise e re- 180 kg/ha 210 kg/ha 225 kg/ha 260 kg/ha 330 kg/ha
Sugestão

comendação dos demais macro e micronutrientes 45-00-00 45-00-00 45-00-00 45-00-00 45-00-00
necessários à planta. 250 kg/ha 310 kg/ha 350 kg/ha 385 kg/ha 440 kg/ha
Nossa sugestão é que se utilize também o balan- R$ 180,45 R$ 215,40 R$ 237,75 R$ 267,15 R$ 335,70
ço nutricional e, diferentemente do nitrogênio, con- Paridade* 13,4 16,0 18,0 19,8 24,6
sidere-se se houve a realização da prática de aduba- Milho = R$ 13,50/saco - * Custo da adubação/Preço da saca de milho
8 • Especial - Nitrogênio em Milho

Gráfico 2 N no plantio, pois caso não seja possível entrar na


lavoura para aplicar a cobertura, teremos margem
de manobra, sem determinar perdas potenciais de
produção em função de atrasos na aplicação, quer
seja em função de chuvas ou estiagens.
Devem ser considerados para determinação do
parcelamento da cobertura a textura do solo, sua
CTC (Capacidade de Troca de Cátions) e o nível de
produtividade que se quer atingir.
Em solos arenosos, com teores de argila inferio-
res a 15% e com baixa matéria orgânica, é conveni-
ente parcelar a cobertura em pelo menos duas ve-
zes.
Da mesma forma, solos com CTC inferior a 5,0
ccmol/dm3 deveriam receber as adubações de co-
bertura parceladas em pelo menos duas vezes.
Níveis de produtividade altos, 9000 kg/ha por
exemplo, também sugerem parcelamento da aduba-
ção de cobertura.
Vários trabalhos evidenciam que, quando da
necessidade de parcelar o nitrogênio, a dose maior
deverá se posicionada na primeira aplicação (66%
Outra alternativa que se apresenta é aplicar par- do total a ser aplicado em cobertura) e o restante
te do nitrogênio (30% do N total) na cultura ante- (33% do total) na segunda aplicação, uma vez que
cessora , visando à diminuição dos custos de aplica- a eficiência de absorção de nitrogênio das raízes mais
ção e melhoria na eficiência do nitrogênio. novas é maior do que a das raízes mais velhas.
Alguns trabalhos de pesquisa demonstram que O limite para aplicação de nitrogênio em milho
esta técnica é viável, mas que existem riscos quanto é o estádio V12, ou seja, com 12 folhas verdadeiras,
A tentativa de à sua eficiência em anos em que ocorrem excessivas pois este é o limite fenológico para determinação do
realizar a precipitações pluviométricas nos períodos que an- potencial de produção e nesta fase o milho definirá
operação com tecedem ao plantio, determinando perda de N no quantos grãos ele terá na fileira, já que o número
o maior perfil do solo (lixiviação) e, por conseqüência, sua definitivo de fileiras/carreiras foi determinado no
rendimento/ disponibilidade às plantas, levando alguns pesqui- estádio V9.
máquina sadores a recomendá-la com restrição.
possível (em
alguns casos 3.1.2 ASPECTOS PRÁTICOS
3.1 ADUBAÇÃO DE COBERTURA No enfoque técnico, temos que observar sob quais
produtores
aplicam em condições o nitrogênio, independentemente da fonte,
faixas de 18 A quantidade de nitrogênio que deverá ser apli- pode ser melhor aproveitado/absorvido pela planta.
metros com cada em cobertura é obtida a partir da dose total Temos verificado a campo, que as maiores per-
aplicadores definida para o nível de produtividade almejado (ba- das se dão muito mais pelas condições de aplicação
pendulares) lanço de nitrogênio), descontando-se as quantida- do que pela fonte.
determina o des que foram aplicadas na base. Este saldo é a co-
surgimento de bertura.
“manchas em A grande dúvida da maioria dos produtores é
faixa” na saber em quantas vezes deve-se realizar a operação
lavoura, com
de adubação em cobertura. Para estas respostas de-
grandes
perdas de
vem ser considerados dois enfoques:
produtividade • Enfoque técnico;
por ocasião da • Enfoque operacional.
colheita (baixa
eficiência da 3.1.1 ENFOQUE TÉCNICO
prática) O início da aplicação de cobertura se dará no
estádio fenológico V5 (5 folhas verdadeiras – foto2).
Neste ponto, o milho determina todo o seu po-
tencial teórico de produção e inicia a diferenciação
do pendão (foto 3), não podendo portanto estar di-
vidindo nitrogênio com a palhada que se encontra
na lavoura em início de decomposição/mineraliza-
ção, competindo por N.
Quando a dose de nitrogênio na base for menor
do que 30 kg/ha e a lavoura apresentar uma quanti-
dade significativa de palhada, deveremos antecipar
a cobertura de N, iniciando em V3 ou V4.
Estrategicamente este também é um dos moti-
vos que nos leva a sugerir concentrações maiores de

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Nitrogênio em Milho - Especial • 9

Sendo assim, a aplicação de fertilizantes nitro-


genados enterrados (4 a 5 cm de profundidade) e
nas entrelinhas da cultura é a melhor forma de dis-
ponibilizá-lo para as plantas, independentemente da
fonte de N.
Quando a opção recair em aplicar o nitrogê-
nio em 1, 2 ou 3 vezes, o parcelamento deve ob-
servar pelo menos 3 critérios, que são:
• a dose inicialmente aplicada na base, que
vai determinar o momento em que deveremos co-
meçar;
• os estádios fenológicos para aplicação e;
• a dose de cada aplicação.
O que teoricamente é considerado o melhor nem
sempre é o possível de ser executado na proprieda-
de, no entanto, deveremos sempre buscar o mais
próximo ao ideal se quisermos melhores resultados.
O que observamos é que é preferível fazer a adu-
bação de cobertura em única vez, bem realizada, do
que querer parcelar e não ter como garantir não só a
qualidade da operação como a realização em si da
segunda etapa. por volatilização quando da utilização da Uréia como
O que mais nos tem chamado atenção é a desu- fonte, determinando perdas de N na ordem de até
niformidade de distribuição de fertilizantes em co- 70% mas sem redução significativa de produtivida-
bertura pelos equipamentos de uso em geral (apli- de. Acreditamos que o produtor está ciente das con-
cadores a lanço). dições que determinam maiores perdas de N por uti- Para a cultura
A tentativa de realizar a operação com o maior lização de Uréia como fonte de nitrogênio (solo seco, do milho,
rendimento/máquina possível (em alguns casos alta saturação de base, altas temperaturas do ar, baixa definitivamente
produtores aplicam em faixas de 18 metros com umidade relativa) e preferimos orientá-lo no senti- não é
aplicadores pendulares) determina o surgimento de do que sua decisão pela fonte a ser utilizada deverá importante se
“manchas em faixa” na lavoura, com grandes per- o nitrogênio
estar baseada no custo do ponto de nitrogênio que
vem da fonte A
das de produtividade por ocasião da colheita (bai- cada uma das fontes apresentam. ou B. Para
xa eficiência da prática). Para a cultura do milho, definitivamente não é produzir, ele
A utilização de espaçamentos reduzidos na cul- importante se o nitrogênio vem da fonte A ou B. necessita uma
tura do milho (40 a 50 cm entre linhas), de algu- Para produzir, ele necessita uma quantidade do ele- quantidade do
ma maneira inviabiliza a aplicação de cobertura en- mento que é relativa à produtividade almejada e isso elemento que
terrada no sulco de plantio, direcionando especial é o que importa. é relativa à
atenção aos aplicadores a lanço e sua eficiência. Como relação ao custo de cada uma destas fontes produtividade
Em espaçamentos convencionais, de 70 e 80 cm podemos salientar que, historicamente, o custo do que almejada
entre linhas, produtores de várias escalas têm adap- ponto de nitrogênio via Uréia é o mais barato e, não e isto é o que
tado equipamentos nas propriedades com o intui- importa
considerando as condições de volatilização, 100 kg/ha
to de aplicar a cobertura de desta fonte deve custar 30 sacos por hectare de milho,
nitrogênio (uréia) enterrada. pois esta é a capacidade técnica de produção desta fonte,
Cabe salientar a importân- sendo este o ponto de equilíbrio para a decisão de apli-
cia de enterrar este fertili- cação. O Sulfato de Amônio, que é mais estável que a
zante ao menos a 4 cm de Uréia no que diz respeito à volatilização, tem um cus-
profundidade, sob risco de
ainda assim, determinar per- Gráfico 1
das grandes por volatilização
do nitrogênio.

3.3 FONTES DE NITROGÊNIO


PARA A CULTURA DO MILHO
As fontes mais utilizadas
para complementar as neces-
sidades de nitrogênio na cul-
tura do milho são Uréia, Sul-
fato de Amônio e Nitrato de
Amônio. Como já salienta-
mos, a fonte nos parece me-
nos importante do que a for-
ma e a quantidade de nitro-
gênio a ser aplicada.
Vários trabalhos eviden-
ciam perdas de nitrogênio
10 • Especial - Nitrogênio em Milho

to mais elevado mas é uma fonte al-


ternativa de enxofre e a sua utilização V5 e V6 (5-6 Folhas)
deverá ser considerada quando for ne-
cessário suprir deficiências deste ele-
mento. O ponto de equilíbrio desta
fonte é mais alto, pois como seu custo
é maior e devido a sua concentração
de N menor, cada 100 kg/ha adicio-
nados devem ser pagos por 16 sacos
por hectare de milho, potencial técni-
co de produção de milho desta fonte
para cada 100 kg.
O Nitrato de Amônio é mais es-
O Nitrato de tável que a Uréia, porém, menos es-
Amônio é mais tável que o Sulfato de Amônio e tem
estável que a apresentado alternância de custo do
Uréia, porém, ponto de nitrogênio com Uréia.
menos estável Essa fonte apresenta o inconveni-
que o Sulfato ente da manipulação dificultada e
de Amônio
de determinar requeima das folhas
e tem
apresentado
da cultura em intensidade maior
alternância de que a Uréia, principalmente se por
custo do ponto ocasião da aplicação as folhas das
plantas estiverem molhadas/orva-
de nitrogênio
com Uréia lhadas, o que, desde que dentro de
Diferenciação do pendão
uma normalidade, não determina
perdas potenciais de rendimento.
Seu ponto de equilíbrio é de apro-
ximadamente 20 sacos de milho por
hectare para cada 100 kg/ha de nitrato adiciona- gênio na cultura do milho.
dos à lavoura. O que é incontestável é a resposta desta cultu-
Cabe salientar que as perdas de nitrogênio por lixi- ra ao nitrogênio.
viação, sob mesma condição de solo, temperatura e Muitos produtores no afã de diminuir custos
umidade são as mesmas, independentemente da fonte na lavoura reduzem exatamente o nutriente que
utilizada. mais responsividade oferece à cultura.
Independente da fonte, queremos crer que as
4. CONCLUSÕES baixas doses de N aplicadas são, nos dias de hoje,
Vários são os aspectos técnicos que devem ser um dos responsáveis por baixas produtividades, ne-
levados em consideração para determinar um bom cessitando que reavaliemos este aspecto.
aproveitamento da prática de utilização do nitro- Queremos salientar que a produtividade da la-
voura de milho não é definida pela simples ocor-
rência de chuvas por ocasião do pendoamento,
como se todas as altas produtividades fossem re-
sultados de sorte.
Informação técnica é, sem dúvida nenhuma,
V5 e V6 nos dias de hoje, um recurso altamente disponível
e barato. O que falta, na realidade, é utilizar a in-
formação, transferi-la para o campo, alterar o modo
• Ponto de crescimento e pendão de realizar as tarefas/operações e, desta forma, os
estão acima da superfície do solo; resultados (jogar diferente para obter resultados di-
ferentes), nos tornarmos “agentes da mudança”.
Vários são os fatores determinantes de altas pro-
• Período de grande elongação dutividades em milho. A adubação é sem dúvida um
do colmo; deles, e dentro desse aspecto o elemento nitrogênio
assume um papel de destaque.
Responsabilizar um único fator pelo resultado da
• Raízes nodais são as responsá- lavoura (positivo ou negativo), é uma forma simplis-
veis pela absorção de nutrientes; ta de ver as coisas, acabando por não permitir a de-
terminação correta de uma estratégia agrícola de lon-
• Algumas gemas de espiga e go prazo, visando produtividade e estabilidade. .
perfilhos são visíveis
Itavor Nummer Filho,
Coordenador Tecnologia RS e SC
Carlos Hentschke,
Gerente Tecnologia

Cultivar • Setembro 2002

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