Professional Documents
Culture Documents
M
uitos foram os avanços obtidos na pro- tados, e nenhum desses fatores é mais importante
dutividade das lavouras de milho em isoladamente do que o outro.
virtude do melhoramento genético
desta cultura. AMBIENTE
Até bem pouco tempo atrás, cerca de 8 a 10 anos, Se analisarmos o ambiente em um país con-
relatar resultados de lavouras que produziram 6 mil tinental como o Brasil, por si só já fará com que
Até bem pouco
quilos por hectare poderia gerar sérias conseqüênci- raciocinemos que a mesma tecnologia emprega- tempo atrás,
as ao narrador, colocando em jogo sua reputação. da no Norte ou Centro-Oeste, não poderá ser cerca de 8 a 10
Hoje, respostas de 12 a 14 mil quilos por hecta- copiada para o Sul. anos, relatar
re são facilmente observáveis sob condições experi- Se olharmos para nossa região, independen- resultados de
mentais e, respostas de 9 a 10 mil quilos por hectare temente de onde ela se localiza no País, vere- lavouras que
já não são nenhum tipo de aberração em condições mos que a tecnologia aplicada a uma lavoura do produziram 6
de lavoura comerciais, quer sejam de sequeiro ou cedo ou de verão não poderá ser a mesma apli- mil quilos por
irrigadas. cada a uma lavoura do tarde ou de safrinha. hectare
- Mas por que, então, a média nacional de milho Temos ainda as diferenças de origem e for- poderia gerar
sérias
verão não é superior a 3500 quilos por hectare e a mação de solos, que acabam determinando la-
conseqüências
média de produtividade da safrinha não chega aos vouras com diferentes características físicas e ao narrador,
2300 quilos ? químicas e que sem dúvida deverão ter tratamen- colocando em
Na agricultura, nenhum fator isolado é respon- to diferenciado. jogo sua
sável ou pode ser responsabilizado pelo sucesso ou Sistemas irrigados demandam outra tecnolo- reputação
insucesso de uma lavoura, independentemente da gia quando comparados com sistemas de sequeiro,
espécie vegetal. dentro da mesma propriedade.
É a interação do ambiente com a genética vege- Áreas de plantio direto apresentam resultados
tal e o manejo que explicam e determinam os resul- diferentes, quando comparados com áreas de plan-
4 Especial - Nitrogênio em Milho
tio convencional, determinando tecnologias diferen- Dentro das práticas de manejo, sem dúvida ne-
tes, principalmente se o sistema de rotação de cul- nhuma a adubação de base e de cobertura tem in-
turas não é o mais adequado. fluência fundamental nos resultados da lavoura e,
dos macro e microelementos que compõem a adu-
GENÉTICA VEGETAL bação, o nitrogênio, elemento mais extraído e ex-
A dinâmica do
A genética vegetal, tão evoluída nos últimos portado pelo milho, tem participação decisiva.
nitrogênio é anos, foi selecionada justamente para amenizar as
muito diferenças encontradas nos fatores citados anteri- Incrementos de produtividade determinados
complexa e ormente. Porém, não existe genética vegetal que pelas eventuais correções das doses, parcelamento,
por esta razão consiga cobrir todas as necessidades de manejo e épocas ou fontes de nitrogênio, sugeridos neste ar-
este elemento ambiente com satisfatória produtividade, ou seja, tigo, serão tão maiores quanto mais distantes dos
é o mais não existe um ser vegetal perfeito. níveis adequados estiver a lavoura.
estudado e o A genética vegetal não poderá arcar sozinha
menos com a responsabilidade pela produção, até porque 1. O NITROGÊNIO
conhecido
os erros de manejo (principalmente a falta de uma A dinâmica do nitrogênio é muito complexa e
ordenada Rotação de Cultura) estão levando ma- por esta razão esse elemento é o mais estudado e o
teriais genéticos à fadiga em espaço de tempo me- menos conhecido, justamente pelo fato de ele inte-
nor do que o necessário para sua seleção, gerando ragir com as plantas, com o solo, com os microorga-
um descompasso entre o surgimento de novas pa- nismos do solo e com o ar.
tologias e sua evolução e o lançamento de varieda- O custo elevado do nitrogênio, seu alto consu-
des resistentes. mo e baixo aproveitamento, justificam a busca da
maior eficiência possível na sua utili-
zação.
Extração de Macro e Micronutrientes pela cultura do milho para produção de uma tonelada de grão vários autores A eficiência de utilização do ni-
trogênio depende basicamente dos
seguintes fatores:
Tab. 1
Milho grão
Extração Exportação Da dose de nitrogênio aplicada;
Da fonte de nitrogênio;
Autor (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) Média (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) Média Da época de aplicação;
Kg/t Kg/t Da forma de aplicação;
N 20,9 27,7 25,2 27,6 21,2 20,3 24 14 16,3 15 12,8 14,5 Das condições climáticas;
P 4,3 4,6 3,8 4,7 4,2 3,6 4 3,4 4 2,9 3,1 3,4 Do sistema de cultivo;
K 21,3 17,5 22,9 16,3 25,4 16,9 20 4,2 5,1 3,5 3,9 4,2 Da rotação de culturas;
Ca 4,3 4,2 4,3 3,4 5,5 3,1 4 0,1 0,6 0,1 0,1 0,2 Das condições edafoclimáticas.
Mg 4,7 4,6 4,8 6,4 5,6 3,0 5 1,2 1,7 0,8 1,1 1,2
Para determinarmos a importân-
S 2,3 2,6 2,4 2,7 2,5 3 1,3 1,1 1,4 1,2 1,3
cia do nitrogênio na cultura do mi-
g/t g/t lho, precisamos ter como referência
B 18 17 19 23 19 19 4,4 3 4,4 3,9 as quantidades extraídas e exporta-
Fe 227 232 208 288 233 238 12,1 11,1 11,6 das deste elemento, por esta cultura,
Mn 37 37 79 44 38 47 6,6 5,6 6,1 para cada tonelada de grão produzi-
Cu 12 7 12 21 15 12 13 2,2 1 2,2 1,8 da.
Zn 43 51 44 56 45 44 47 22 29 18,9 23,3 Na Tabela 1 verificamos, sob a
Mo 1 1 1 1 1 0,7 0,56 0,6 ótica de vários autores, as quantida-
des de macro e micronutrientes, na
(1) PHILLIPS & LESSMAN, citado por GAMBOA, 1980 sua forma pura, extraídos e exporta-
(2) HIROCE et al. , 1989
(3) SAYRE, 1955 dos pela cultura para a produção de
(4) DRYSDALE, citado por ARNON, 1975 1000 kg de grãos.
(5) ANDRADE et al., 1975 a,b O nitrogênio afeta diretamente a
(6) BARBER & OLSON, 1969
(7) COELHO, citado por COELHO & FRANÇA, 1995 área foliar, em conseqüência altera a
taxa de fotossíntese das plantas. In-
Fonte: Paulleti, V 1998 Fundação ABC
terfere positivamente no crescimen-
to do sistema radicular e, desta for-
ma, permite que as raízes explorem
MANEJO maior volume de solo, melhorando o aumento da
A mesma variabilidade encontrada no ambiente absorção de outros elementos e água.
pode ser transferida para o manejo da cultura, pois É determinante no tamanho da espiga (número
são vários os níveis tecnológicos aplicados à lavoura de fileiras e número de grãos na fileira) e interfere
de milho, interferindo da mesma forma nos resulta- no peso de grãos.
dos e compondo uma matriz complexa de possibili- Sua forma de absorção se dá por fluxo de massa
dades e combinações. em 99% de sua quantidade, e é assimilado na forma
Isto nos mostra e de alguma maneira explica por de NO4- e NH3+.
que em uma mesma região ou localidade duas lavou- Por ser um elemento móvel na planta, os sinto-
ras podem ter resultados absurdamente distintos. mas de deficiência se verificam nas folhas mais ve-
lhas, na forma de uma requeima com formato de gem do material a ser mineralizado e sua quantidade.
V invertido, de coloração amarelada. De forma simplista, poderemos considerar de 20
O porte reduzido da planta também pode ser a 30 kg de nitrogênio incrementado no sistema (ba-
indicativo de deficiência de N, bem como espigas lanço positivo) por ponto percentual de matéria or-
deformadas (achatadas) nas pontas e com grãos de gânica determinado pela análise de solo.
baixo peso específico. Deveremos ainda, em sistemas de Plantio Dire-
Abaixo apresentamos um sintoma clássico de de- to, considerar a cultura antecessora, uma vez que os
ficiência de nitrogênio. resíduos vegetais poderão dar origem à reciclagem
do elemento nitrogênio adicionando N no sistema
(balanço positivo) ou sua imobilização (subtraindo
Foto 2 N do sistema-balanço negativo), em função de suas
quantidades presentes na superfície do solo e sua
qualidade (relação C/N).
Na Tabelas a seguir, verificamos em uma simu-
lação, como ocorre este balanço em área com pH
5,7, acidez potencial (H+Al)=3,1 me/dm3, Al=0,0
me/dm 3, M.O.=3,0%, Fósforo=7 ppm, Potás-
sio=0,40 Cmolc/dm3, Cálcio=6,1 me/dm3, Magné-
sio=3,0 me/dm3 e Saturação de Bases de 75%.
Verifica-se que, mesmo com aumento do custo
total por hectare, a participação dos custos fixos pra-
ticamente não muda, e o que realmente gera incre-
mento significativo de custo é a fertilização.
Apesar de necessitarmos incrementar fósforo
para atingir maiores resultados por hectare, o maior
incremento é do nitrogênio na forma de cobertura. Para
O incremento de custo não é proporcional à ex- determinarmos
pectativa de produção. a importância
Foto 3 Considerando o milho a R$ 13,50, verificamos do nitrogênio
um incremento de custo de fertilização da ordem na cultura do
de 25% quando desejamos incrementar a expectati- milho,
va de produtividade de 6 para 8 toneladas de milho precisamos ter
por hectare (33%). como referê
ncia as
Se nos reportamos ao custo total, este aumento
quantidades
de 33% na expectativa de produtividade é alcança- extraídas e
do com incremento de custo de apenas 11% por exportadas
hectare, em média. deste
Sem dúvida nenhuma, com base em nossa ex- elemento, por
periência de campo, este é o ponto no qual ocor- esta cultura,
rem os maiores erros, pois há uma tendência de se para cada
considerar uma adubação única para milho (paco- tonelada de
te), para um mesmo nível de rendimento e inde- grão produzida
pendentemente da cultura antecessora. Este pro-
cedimento pode levar ao sucesso ou insucesso da
prática de adubação, uma vez que uma cobertura
vegetal de aveia, com cerca de 4000 kg/ha de ma-
2. DOSES DE NITROGÊNIO NA CULTURA DO MILHO téria seca, pode imobilizar cerca de 30 kg/ha de
De maneira geral, para cada saco de milho que nitrogênio.
desejamos produzir, deveremos disponibilizar à cul- Como regra geral, as culturas com relação C/N
tura de 1,0 a 1,5 Kg/ha de nitrogênio, dependendo abaixo de 24, têm possibilidade de incrementar N
do nível de produtividade requerida. no sistema, o que não ocorre com as culturas cuja
E para a determinação da dose final de nitrogê- relação C/N é mais elevada e tendem a imobilizar
nio a ser aplicada à cultura de milho, precisamos o N, em um primeiro momento, devolvendo este
determinar um balanço deste nutriente. Esse ba- elemento ao sistema em uma taxa que não é ade-
lanço calculará as entradas (disponibilizações) e sa- quada a altas produtividades.
ídas (indisponibilizações) do sistema e começa pela Os exemplos mais comuns de coberturas vege-
determinação do nível de produtividade que deseja- tais de alta C/N são as aveias, o azevém, o milheto,
mos atingir (kg/ha de milho a ser produzido). os sorgos, o milho, o trigo, o centeio e a cevada,
Em seguida, precisamos determinar as quanti- que determinam a fixação de nitrogênio pelas bac-
dades de nitrogênio existentes no solo, através da térias do solo para que se inicie o seu processo de
amostragem e determinação dos teores de matéria decomposição/mineralização. Esta fixação se dará
orgânica. em maior quantidade quanto maior for a palhada
O aporte de N à cultura via solo é determinado (produção de matéria seca) e mais velho ou lignifi-
pela taxa média de mineralização da matéria orgâni- cado for o material.
ca, influenciada pela temperatura da região, pela ori- As quantidades médias imobilizadas por estes
6 Especial - Nitrogênio em Milho
CUSTOS 6 7 HECTARE 8 9
OPERAÇÕES % % % %
Dessecação 1,0% 1,0% 0,9% 0,8%
Plantio 5,6% 5,3% 5,0% 4,5%
Aplic. Herbicida 2,3% 2,2% 2,1% 1,9%
Aplic. Inseticida 2,3% 2,2% 2,1% 1,9%
Aplic. Uréia 1,7% 1,6% 1,5% 1,4%
Formiga 0,4% 0,4% 0,4% 0,3%
Colheita 11,0% 12,3% 13,2% 13,5%
TOTAL DAS OPERAÇÕES 24,3% 25,0% 25,1% 24,4%
INSUMOS % % % %
Sementes híbridas 15,8% 15,0% 15,1% 13,7%
FERTILIZANTES 28,3% 29,8% 31,5% 36,0%
Glifosate 4,4% 4,2% 3,9% 3,6%
2,4-D 0,6% 0,6% 0,5% 0,5%
Óleo Mineral 0,2% 0,2% 0,2% 0,2%
Herbimix 5,5% 5,3% 4,9% 4,5%
Fisiológico 0,2% 0,2% 0,2% 0,2%
Impacto 0,4% 0,4% 0,4% 0,4%
Formicida 0,9% 0,8% 0,8% 0,7%
TOTAL DOS INSUMOS 56,3% 56,5% 57,5% 59,7%
CUSTO DE OPORTUNIDADE DA TERRA 19,4% 18,6% 17,4% 15,9%
CUSTO DO HECTARE (R$) 761,33 797,68 849,08 931,63
Fonte: Departamento de Tecnologia - Pioneer Sementes Ltda.
materiais variam de 25 a 35 kg/ha de nitrogênio, bém vão depender das quantidades produzidas de ma-
que deverão ser adicionados ao sistema via adubos- téria seca, do desenvolvimento e estágio da cultura por
nitrogenados. ocasião da dessecação e o tempo decorrido entre a des-
Da mesma forma, quando trabalhamos com cober- secação e o plantio.
turas vegetais de C/N mais baixa, deveremos estimar as Como medida geral, consideramos um incremento
quantidades de nitrogênio recicladas ou fixadas pela de nitrogênio para estes materiais recicladores na ordem
cultura anterior. Os exemplos mais comuns de cobertu- de 15 a 30 kg/ha de nitrogênio, dependendo das condi-
ras recicladoras/fixadoras de nitrogênio são o nabo for- ções citadas, que deverão ser descontados da necessida-
rageiro, a canola, as ervilhas, as ervilhacas, os tremoços, de total da cultura.
os feijões e a soja. As quantidades recicladas/fixadas tam- Construindo um exemplo de sugestão de adubação
nitrogenada, podemos criar um modelo como o abaixo:
PARÂMETROS
Produtividade de milho esperada = 8000 kg/ha
Cultura anterior = Aveia (4000 kg/ha MS)
Matéria orgânica do solo = 3,5 %
BALANÇO
Necessidade total de N = 8 t X 24 kg N/t = 192 kg N (+)
Fornecido pelo solo = 3,5 (%MO) X 25 kg = 87 (-)
Imobilizado pela aveia = 30 kg/ha (+)
Balanço = 135 kg de N
Balanço = 85 kg de N
Abrimos este custo e fertilização de verificamos qual o impacto do nitrogênio na busca de incrementos
Desta maneira fica evidente a diferença de res- de produtividade.
posta de uma mesma recomendação de adubação sob
culturas de cobertura com características diferentes.
5,0 6,0 7,0 8,0 9,0
Tab. 2
Ton/ha
Não estamos elencando qual é a melhor cultura
antecessora ao milho, estamos sim, demonstrando que
N (Kg/ha) 129 153 177 201 250
existe diferença de aporte de insumos e que é deter-
minado pela cultura antecessora para um mesmo ní- P2O5(Kg/ha) 48 58 67 77 100
vel de produtividade. K2O(Kg/ha) 30 30 30 30 35
Como estamos tratando apenas do nitrogênio, é 08-18-28 08-18-28 10-30-10 10-30-10 10-30-10
importante que se faça a interpretação, análise e re- 180 kg/ha 210 kg/ha 225 kg/ha 260 kg/ha 330 kg/ha
Sugestão
comendação dos demais macro e micronutrientes 45-00-00 45-00-00 45-00-00 45-00-00 45-00-00
necessários à planta. 250 kg/ha 310 kg/ha 350 kg/ha 385 kg/ha 440 kg/ha
Nossa sugestão é que se utilize também o balan- R$ 180,45 R$ 215,40 R$ 237,75 R$ 267,15 R$ 335,70
ço nutricional e, diferentemente do nitrogênio, con- Paridade* 13,4 16,0 18,0 19,8 24,6
sidere-se se houve a realização da prática de aduba- Milho = R$ 13,50/saco - * Custo da adubação/Preço da saca de milho
8 Especial - Nitrogênio em Milho