You are on page 1of 11

Aprendendo mecânica dos fluidos através da escola da vida#

Raimundo Ferreira Ignácio∗

“A escola era o que se podia chamar


eufemisticamente de “faculdade de ensino”.
Numa faculdade assim, a gente ensina, ensina e
ensina, sem tempo para a pesquisa, para a
reflexão, para a participação em programas
externos. Só ensino, ensino, ensino, até ficar
com a cabeça cheia, sem ter um pingo de
criatividade e virar autônomo” (PIRSIG,
Robert M. em seu livro: Zen e a arte da
manutenção de motocicleta – Editora Paz e
Terra – 1991 - p.141).

Certamente não é deste tipo de escola - “faculdade de ensino” - que pretende se fazer
parte, o que leva a tomar a primeira decisão: desenvolver um curso centrado no
aprendizado1, ou seja, no aluno, mesmo porque, diante das vertiginosas mudanças
tecnológicas, da aceleração dos processos de informação e em conseqüência acúmulos do
saber, há a necessidade de aprender ao longo de toda vida (educação continuada) e não
unicamente no tempo e espaço dos anos escolares.
Para que as pessoas realizem o aprendizado ao longo de toda vida, é prioritário que saibam
estudar, que tenham desejo de aprender, o que implica que deve se motivar tanto o auto-
aprendizado como a auto-avaliação2. Portanto, não basta transmitir conteúdos, deve-se
também ensinar as estratégias de aprendizagem3 que possibilitem os alunos a estudarem
adequadamente e a aprender a aprender, a pensar, a criar e principalmente a caminhar com
as próprias pernas.
Portanto o planejamento do curso centrado no aprendizado deve também estar alicerçado
em estratégias de aprendizagem, o que implica em seqüenciar procedimentos (técnicas e
habilidades) para aquisição, armazenamento e utilização pessoal dos conhecimentos.

#
Redigido em junho de 2006

Engenheiro mecânico automobilístico (FEI – 1976), engenheiro mecânico de produção (FEI – 1984),
especialista em fenômenos de transporte (USP – São Carlos – 1985), Magister em Creatividade Aplicada
Total (Universidade de Santiago de Compostela – 1999), Mestre em educação (PUC – SP 2003). Autor de
nove (9) livros todos registrados na Fundação Biblioteca Nacional sob os números: 137225 livro: 219
Folha:226, 137226 livro: 219 Folha:227, 137842 livro: 220 Folha:357, 137843 livro: 220 Folha:358, 137844
livro: 220 Folha:359, 137845 livro: 220 Folha:360, 137846 livro: 220 Folha:361, 137847 livro: 220
Folha:362, 139786 livro: 224 Folha:321. Autor e responsável pela página da internet
http://www.escoladavida.eng.br desde 19/03/2000 e registrada pela FAPESP. Professor Adjunto do
Departamento de Engenharia Mecânica do Centro Universitário da FEI.
1
“À medida que a ênfase é colocada na aprendizagem, o principal papel do professor deixa de ser o de
ensinar, e passa a ser o de ajudar o aluno a aprender.” (GIL, Antonio Carlos, Metodologia do Ensino Superior,
São Paulo: Atlas, 1990, p. 29).
2
Daí surge a idéia da construção na internet da página – http://www.escoladavida.eng.br
3
Uma fonte de consulta seria o capítulo 5 do livro – O Professor Universitário em Aula – escrito por Maria
Célia de Abreu e Marcos Tarciso Masetto e editado pela MG Editores Associados, São Paulo, 1990.
Deve se dizer adeus aos métodos que só se preocupam com o produto final, a atualidade
exige especial atenção ao processo, o que implica em sempre considerar o aluno como ator
principal do processo de aprendizagem.
A eficiência no aprendizado será obtida não por o que estudar, mas como estudar, o que
implica dizer que no planejamento deve se enfatizar tanto o procedimento como as
estratégias. Isto não significa que se deve esquecer os conhecimentos prévios, ou seja, dar
ênfase em como estudar não significa o abandono do que estudar, já que não se pode
avançar no conhecimento sem um conhecimento anterior. Deve-se sim é provocar a
motivação, e não há motivação sem um conhecimento adequado, sem dominar as técnicas
de aprendizagem e sem o conhecimento do processo em si.
Uma das possibilidades de se adaptar às necessidades contemporâneas é o estabelecimento
de um método centrado na autonomia pessoal, na capacidade de mudança e na habilidade
de utilizar os recursos adequados no momento em que se necessita.
Este método deve ensinar a aprender sobre três aspectos: as estratégias, a avaliação e
análise dos seus próprios sucessos e certo conhecimento sobre o processo de estudo e
aprendizagem. Com ele os alunos poderão conseguir as transformações, utilizando a busca
das informações que necessitarem no tempo que necessitar.
Diante das constatações anteriores, estabelecem-se estratégias para o processo de ensino
aprendizado. A primeira, de realizar o planejamento a cada final de semestre4, já que ele
deve ser adaptado às necessidades dos alunos. O planejamento elaborado5 será uma
referência para as próximas turmas, onde o importante é se conscientizar que estará sempre
em construção para atender as necessidades específicas de cada turma.
A segunda estratégia foi romper os limites físicos e temporais da sala de aula através da
página http://www.escoladavida.eng.br que passou a ser a referência bibliográfica básica
dos cursos.
Para este artigo, optei em focar o curso de mecânica dos fluidos para engenharia química,
onde um planejamento de referência pode ser encontrado na internet no endereço:
http://www.escoladavida.eng.br/mecfluquimica/metamefluquimica.htm .
Este curso pode ser dividido em duas partes: uma relacionada a projetos e a outra que visa
complementar o estudo anterior de mecânica dos fluidos, principalmente no que se refere à
complexidade em relação à utilização de cálculos matemáticos.
Na parte ligada a projetos se estuda as instalações de bombeamento, ou seja, se estuda: o
dimensionamento das tubulações, a escolha da bomba hidráulica adequada, a verificação do
fenômeno de cavitação6 e o cálculo do consumo de energia para a sua operação. Estuda-se
ainda: as associações de bombas hidráulicas, tanto em série como em paralelo; a utilização
do inversor de freqüência para redução do consumo de energia e a correção das curvas das
bombas ao bombearem fluidos viscosos7.
Na parte da complementação de mecânica dos fluidos, estuda-se: escoamentos em regime
variados8; camada limite; determinação de viscosidade através do viscosímetro de Hoppler.

4
Em cursos semestrais
5
Publicado na página http://www.escoladavida.eng.br/mecfluquimica/orientacaodeestudo.htm
6
Vaporização do fluido na própria temperatura do escoamento devido a existência de uma pressão muito
baixa
7
Viscosidades acima de 20 mm²/s
8
Por exemplo: esvaziamento e enchimento de reservatórios de diversas geometrias (esféricos, tronco de
cones...)
O que deve ficar claro é que não se pretende desenvolver um curso puramente conteudista,
mas sim buscar caminhos para uma educação diferenciada, onde se cria a conscientização
de não culpar os outros por aquilo que se deve construir, no caso, a formação crítica e
humanista na engenharia e para isto, recorre-se até mesmo as linguagens não convencionais
da engenharia, como a linguagem dos mapas mentais (mind maps9), exemplo apresentado a
seguir.

Outro fato a destacar: apesar do planejamento ser dinâmico, procura-se respeitar as


recomendações do Conselho Nacional de Educação, que estabelece que o curso de
graduação em engenharia tem como perfil do formando egresso/profissional o engenheiro
com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a absorver e
desenvolver novas tecnologias, estimulando a sua atuação crítica e criativa na identificação
e resolução de problemas, considerando seus aspectos políticos, econômicos, sociais,
ambientais e culturais, com visão ética e humanística, em atendimento às demandas da
sociedade, o que leva a se estabelecer atividades que visam desenvolver, ou aprimorar
competências e habilidades à disciplina estudada, tais como: a de aplicar conhecimentos
matemáticos, científicos, tecnológicos e instrumentais; a de projetar e conduzir

9
Esta linguagem foi desenvolvida por Tony Buzan na década de 70, para saber mais visite as páginas:
http://www.mindjet.com/us/ e http://www.mapasmentais.com.br/recursos/publicacoes.asp
experimentos e interpretar resultados; a de planejar, supervisionar, elaborar e coordenar
atividades; a de identificar, formular e resolver problemas; a de desenvolver e/ou utilizar
novas ferramentas e técnicas; a de comunicar-se eficientemente nas formas escrita, oral e
gráfica; a de atuar em equipe; a de compreender e aplicar a ética e responsabilidades
profissionais comprometendo-se com o processo de ensino-aprendizagem e a de assumir a
postura de permanente busca de atualização profissional.
No intuito de enfrentar os noves (9) desafios anteriores recorre-se a terceira estratégia: a
metodologia da pergunta10 e do fazer11, onde se elimina a tendência de se ter respostas e
idéias prontas.
Importante salientar que sem o comprometimento dos alunos, tudo o que foi mencionado
não passa de utopia, portanto, há a necessidade de sensibilizá-los a quebrar o paradigma da
passividade na educação e para isto, no primeiro encontro se desenvolve a atividade lúdica
denominada: criação de uma empresa burocrática.
Nesta empresa, o dono estabelece que a comunicação só ocorrerá por escrito, possibilitando
o seu registro e viabilizando o organograma representado pela figura 1, onde: “A”
simboliza o dono “todo poderoso” da empresa; “B” o superintendente da empresa; “C”,
“D” e “E” os engenheiros; “Boy” (ou “Girl”) o responsável pela “comunicação” (ou
logística) da empresa e “Auditor” o responsável pelo cumprimento das regras impostas
pelo dono e cronometragem do tempo da atividade.
Regras impostas para o desenvolvimento da atividade: não se admite comunicação
verbal na empresa; o dono não se comunica diretamente com seus engenheiros, exige o
respeito à hierarquia; os engenheiros não podem se comunicar diretamente; só há
comunicação via superintendente; a comunicação só será permitida por escrito
(memorando); assim, segundo o dono, não haverá “equívoco” de comunicação.
Esclarecidas as regras, divide-se a sala de tal forma que todos participem dessa atividade,
número de alunos
para isto, considera-se que: número de empresas = .
7

10
Um dos ensinamentos do Professor Paulo Freire e que pode ser vista no vídeo – O Futuro da Escola –
encontro de Paulo Freire com Seymour Papert e que foi registrado pela TV PUC em novembro de 1995.
11
Para viabilizar a metodologia do fazer, o curso de mecânica dos fluidos para a engenharia química é
desenvolvido no espaço do laboratório e isto permite que cada conteúdo abordado passe a ser estimulado por
problemas práticos, ou seja, aqueles que podem ser observados nas diversas bancadas existentes no
laboratório.
Caso sobrem pessoas, estas devem ser distribuídas pelas empresas como: auditor, como
“boy” ou “girl”, ou como assistente desta atividade, de tal maneira que todos participem.
O desenvolvimento da atividade leva cada um dos participantes à frente da sala, e lá
estando, cada um deve dizer seu nome, apresentar uma breve biografia, salientando o que
lhe dá prazer, sofrimento, porque está ali naquele momento e quais são as suas expectativas
em relação ao curso12.
A escolha de cada participante é feita da seguinte forma:
1. em função do número de empresas, convidam-se voluntários, para assumirem o
papel dos “A”, cada um dos “A” deve escolher o seu superintendente;
2. o superintendente deve escolher os engenheiros;
3. os engenheiros devem escolher o “boy”, ou a “girl” para a sua empresa;
4. cada “boy” ou “girl” deve escolher o auditor para a sua empresa.
Após a fala dos participantes da atividade, todos os alunos estarão na frente da sala e o
professor13, como mudará de lugar, acaba no final dela, e aí reforça que a primeira
mudança, que viabilizará a proposta do processo centrado no aprendizado, será a
troca de papéis entre educando e educador, o que equivale dizer que eles devem
aprender e ensinar em todos os momentos e com todos, e que isto também acontece com o
professor que, enquanto ensina, está sempre aprendendo e estando aprendendo, ensina14.
Feito isto, devem-se posicionar as carteiras de forma semelhante ao organograma da
empresa burocrática (figura 1), algumas vezes convidando uma ou mais empresas a fazê-lo
fora da sala de aula; quando isto acontece, reforça-se a necessidade de se romper com os
limites físicos da sala de aula para se construir um aprendizado compatível com as
necessidades contemporâneas.
A seguir, com o auxílio dos auditores, distribui-se a tarefa, os papéis de comunicação
(memorandos), e estabelece-se a última regra: a tarefa deve ser cumprida em seis (6)
minutos, observando-se todas as regras impostas, já que serão estas que propiciarão
reflexões (conclusões e decisões) em relação ao curso, cuja síntese é mostrada pelo mapa
mental e quadros a seguir.

12
À medida que os alunos vão para frente da sala, sugere-se que o professor se encaminhe para o fundo e
procure anotar resumidamente as suas falas, sendo que muitas vezes há a necessidade de se escolher alguns
assistentes para que isto seja viável, pois assim não se corre o risco de perder nada significativo.
13
Importante não se esquecer de (o professor) dizer seu nome, apresentar sua breve biografia, salientando
o que lhe dá prazer, sofrimento e porque está ali naquele momento.
14
Um outro ensinamento do Professor Paulo Freire que foi extraído de seu livro Pedagogia da Autonomia, 13
ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1999.
Figura 2
Com a atividade anterior, objetiva-se conscientizar da necessidade da participação de todos
para se ter motivação em participar do processo (comprometimento) e isto representa a
quebra de paradigma, já que, na grande maioria da formação anterior, os alunos foram
meros espectadores do processo em sala de aula, onde entravam mudos e saiam calados.
Em todos estes anos que se vem praticando esta atividade15, a qual não deve ser encarada
como receita, mas simplesmente como um exemplo de atividade de aquecimento,
reconhecimento e informações essenciais para o desenvolvimento do curso, tem se
observado os problemas originados pela não participação e pelo não conhecimento dos
objetivos do que se “participa”16. Portanto: é fundamental que, além de gostar do que se
faz se deve conhecer, tanto as próprias expectativas, como as expectativas de todas as
pessoas envolvidas no processo, pois este é um dos passos para a elaboração de um
planejamento pedagógico comprometido com a construção de uma educação voltada
para uma aprendizagem contínua.
A quarta estratégia: fazer com que todos que participam do processo estejam aptos a
resolver problemas17 e criar oportunidades. Como em qualquer outra profissão, os
engenheiros devem ser capazes de resolver problemas e de criar oportunidades. Portanto,
resolver problemas e criar oportunidades são duas das muitas competências e habilidades
dos engenheiros, que, como qualquer habilidade, devem ser aprendidas e aprimoradas
continuamente através da persistência, dedicação e disciplina.
É com esta finalidade que são propostos problemas que estejam ligados, tanto ao dia-a-dia,
como à profissão escolhida, onde o importante é quebrar o paradigma de se buscar uma
única resposta.
Importante salientar que esta estratégia só se torna viável pelo fato de se desenvolver o
curso no espaço do laboratório, o qual propicia a infra-estrutura necessária para a aplicação
da metodologia da pergunta e do fazer.
A quinta estratégia: criar uma maneira que leve os alunos dedicarem um tempo extra, por
semana, ao estudo do curso. No final do primeiro semestre de 2001, a turma de mecânica
dos fluidos para a engenharia química afirmou que havia gostado do curso, porém tinha
sentido falta da parte experimental, como conhecer os componentes básicos de uma bomba
hidráulica, obter as suas curvas características, compreender praticamente a associação em
série, ou em paralelo de bombas hidráulicas e estabelecer estratégias para minimizar o
consumo de energia elétrica pela bomba hidráulica.
Para atender a solicitação deles, desde o segundo semestre de 2001, vem sendo proposta
esta atividade fora do horário de aulas, e a decisão se a mesma irá ocorrer ou não, é de
responsabilidade da própria turma e isto leva a mesma a se comprometer um pouco mais
com o processo proposto. Desta forma, além de garantir uma dedicação extra-classe dos

15
Tenho desenvolvido essa atividade desde 1993 e, na maioria das vezes, as empresas não realizam a tarefa
no prazo de seis (6) minutos. O que se nota é que os sentimentos após a atividade chegam a serem opostos aos
expressados nas expectativas iniciais.
16
A palavra “participa” está entre aspas pelo fato dela praticamente dar lugar a passividade no processo
educativo
17
“O ensino baseado na solução de problemas tem como pressuposto promover nos alunos o domínio de
habilidades e estratégias que lhe permitam aprender a aprender, assim como a utilização de conhecimentos
disponíveis para dar respostas a situações variáveis e diferentes.” (POZO, Juan Ignácio, contracapa do livro –
Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre: Artemed Editora, 2002).
alunos, se tem a possibilidade de trabalhar com monitores18 em programas de iniciação
didática19, os quais viabilizam as aulas extras experimentais.
Resultados obtidos até junho de 2006: todas as turmas, desde o 2º semestre de 2001 após
o primeiro encontro20, além de aceitarem as atividades extra-classe, onde se constatou que
os resultados de dedicação e aproveitamento superaram as expectativas e apresentaram um
excelente resultado no processo educativo proposto, o que comprova a conclusão que: “O
aluno valoriza o professor que é exigente, que cobra a participação e tarefas. Ele
percebe que esta é também uma forma interessante, se articulada com a prática da
sala de aula” (CUNHA, Maria Isabel da. O bom professor e sua prática. 13. ed. Campinas,
SP: Papirus, 2001 (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico) p. 71).
A sexta estratégia: um processo de avaliação diferenciado21, contínuo e acolhedor;
“avaliação da aprendizagem tem como finalidade diagnosticar a aprendizagem que está
ocorrendo, diagnosticar os elementos que estão confluindo para esta aprendizagem, tomar
decisões que auxiliem a melhoria deste processo de aprendizagem na perspectiva de
obtenção de resultados mais satisfatórios, portanto o objetivo da avaliação é tomar decisões
que levem a resultado mais satisfatório” (Luckesi – vídeo: Avaliação da Aprendizagem).
A avaliação proposta não é pontual, ou seja, interessa o que estava acontecendo antes, o que
está acontecendo agora e o que pode acontecer depois; é dinâmica, ou seja, diagnostica o
que está ocorrendo, e a partir daí se estabelecem estratégias para que a melhoria se torne
factível; é includente, por exemplo, através dela o educador afirma: “você ainda não sabe,
mas vem comigo que você irá aprender” (Luckesi – vídeo: Avaliação da Aprendizagem).
Portanto o processo de avaliação diferenciado faz parte do processo de aprendizado e para
que isto realmente aconteça se deve inicialmente quebrar um outro paradigma que é “o
medo da prova”.
O medo deve ser combatido, já que a sua existência dentro da educação fará com que a
mesma fracasse em sua função maior - formar cidadãos - isto porque o medo tira das
pessoas o seu orgulho, ferindo-as e tirando-lhes a oportunidade de aprender, pensar e criar
sua própria história.
Sabe-se ainda que “o medo, uma das seis emoções básicas (DAMÁSIO, 2000), é um sinal
valioso, a nossa resposta natural em situações de perigo. As suas reacções automáticas
desencadeiam tensão muscular, aceleração dos batimentos cardíacos, alterações nos
sistemas digestivo e imunitário, aumento da adrenalina e dos corticorteróides para

18
Os monitores são alunos do sexto ciclo em diante, e nesta atividade passam a estudar, tanto a parte técnica
ligada à Mecânica dos Fluidos II, quanto à pedagógica, ambas alicerçadas em metodologias compatíveis às
adotadas no desenvolvimento do curso. Em relação à parte pedagógica, preparam seu plano de disciplina, seu
cronograma, seu critério de avaliação e suas aulas - as quais são apresentadas ao professor - o que possibilita a
orientação também nesta atividade compatível com o que é estabelecido para o desenvolvimento do curso.
19
IGNACIO, Raimundo F – Ação Pedagógica e Processo de Aprendizagem: Estudo de Caso de Mecânica dos
Fluidos – dissertação apresentada ‘a Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em educação e Currículo, sob a orientação do
professor Doutor Marcos Tarciso Masetto, São Paulo, 2003, p.88.
20
Onde se desenvolveu a atividade de criação da empresa burocrática
21
Nas escolas hoje, na maioria das vezes, praticamos exames, já que estes têm três características básicas,
que são observadas neste ato: é pontual, ou seja, não interessa o que acontece antes, e muito menos o que irá
acontecer depois; só interessa o aqui e o agora; é classificatório, o que equivale dizer que estabelece um
resultado, a partir de certos padrões, onde o aluno não pode mostrar a sua evolução; é seletivo, o que
representa que é excludente; exemplo mais típico disto é o vestibular.
enfrentar a ameaça... Mas se o medo (e, consequentemente, os seus efeitos) se torna
crónico, afecta a nossa saúde, a nossa capacidade de desenvolvimento e crescimento
pessoal, a nossa relação com os outros, a nossa relação com o universo”22.
Portanto, não resta nenhuma dúvida que ele deve ser eliminado do processo de avaliação,
isto para se viabilizar a proposta de uma avaliação23 contínua e acolhedora.
Tendo-se a conscientização que o educador tem a função de empenhar o ato de inclusão,
optou-se na parte de projetos do curso de mecânica dos fluidos para a engenharia química24
por uma avaliação que começa na primeira aula, e tem o seu primeiro foco após cerca de
seis semanas de aula; diferente das demais, ela é feita fora do horário de aula, no
laboratório de microcomputadores, constituindo-se de um projeto diferente para cada aluno,
o qual é resolvido com consulta livre e com tempo livre.
Nas quatro turmas pesquisadas, ela tem durado em torno de cinco horas25 e é composta por
um problema, que geralmente solicita as primeiras etapas do projeto: determinação do
diâmetro da tubulação; escolha da bomba; determinação do seu ponto de trabalho; cálculo
do consumo de energia.
Geralmente não é cobrada nesta parte a verificação do fenômeno de cavitação (vaporização
do líquido na própria temperatura de escoamento, isto devido à existência de uma pressão
menor ou igual à pressão de vapor), nem as associações de bombas (série e paralelo); isto
será feito cerca de seis semanas depois.
Decorrida uma semana após a prova, é comum, ao entrar em sala, o professor ser indagado
pela turma: “já corrigiu a minha prova, qual foi a minha nota?”
Nesta proposta, ao escutar este questionamento, ou seja, na primeira aula após a primeira
avaliação (aquela de cerca de 5 horas de estudos), devolve-se o disquete para cada aluno26,
e ele será estimulado a desenvolver uma planilha Excel, que seja capaz de corrigir tudo o
que ele tenha feito anteriormente.
A planilha a ser criada, não só deve resolver a primeira avaliação, mas também deve ser
capaz de resolver outras situações, e até mesmo o projeto completo de uma instalação
hidráulica.
Os alunos têm até uma aula antes da segunda avaliação (cerca de seis semanas após a
primeira avaliação), podendo contar com a colaboração do professor e dos monitores, tanto
em sala, como fora dela, para desenvolver a referida planilha, a qual lhe será devolvida no
dia agendado para esta segunda avaliação; neste intervalo, a cada aula, é o professor que
pergunta: vocês já corrigiram a primeira avaliação? Qual a nota?

22
Trecho extraído da introdução do projeto de tese – O Medo no Desenvolvimento Humano: do medo da
subjectividade à subjectividade do medo – de autoria de Helena Gil da Costa – Doutoranda em Educação de
Adultos na Universidade de Trás-os-Montes e alto Douro (Portugal)
23
Outra importante fonte de consulta é o livro – Avaliação: mito & desafio – escrito por Jussara Hoffmann e
editado pela própria autora.
24
Descreve-se a avaliação aplicada na realização da pesquisa com sessenta e cinco (65) alunos do quinto
semestre do curso de engenharia química, o que corresponde a quatro (4) turmas subseqüentes: 2º semestre de
2001 (6 alunos), 1º semestre de 2002 (19 alunos), 2º semestre de 2002 (15 alunos), 1º semestre de 2003 (25
alunos), e dois orientados do programa de iniciação didática, tendo o primeiro iniciado suas atividades no 1º
semestre de 2002, concluindo-as no 1º semestre de 2003, e o segundo tendo iniciado suas atividades no 1º
semestre de 2003, devendo concluí-las no final do 1º semestre de 2004.
25
Procura-se usar estratégias para substituir o clima de medo de prova por um clima de estudo dirigido.
26
Nesta altura, já tenho uma cópia sua em meu computador e em um CD-ROM.
A segunda avaliação, que é realizada de forma semelhante à primeira, é elaborada
cobrando-se as etapas finais do projeto, ou seja: correção das Curvas Características da
Bomba (CCB) em função do fluido a ser transportado, isto porque elas são levantadas pelos
fabricantes para o transporte de água; associação série de bombas hidráulicas; associação
paralela de bombas hidráulicas; verificação do fenômeno de cavitação; cálculo do custo de
operação.
O que diferencia esta segunda avaliação da primeira é que ela será terminada no mesmo dia
de sua realização e será avaliada pelo professor, o qual dará o retorno aos alunos,
procurando eliminar as eventuais falhas que perduraram na realização do projeto da
instalação hidráulica de bombeamento, o qual originou o conteúdo das duas avaliações. É
importante salientar que é dada toda a oportunidade para o aluno obter o aproveitamento
total neste processo contínuo de avaliação, porém os resultados das quatro (4) turmas
pesquisadas, apesar de satisfatórios (100% de aprovação), demonstram que o
aproveitamento total não é alcançado por todos os alunos, e isto é perfeitamente explicado
pela diferenças individuais em relação à afinidade com a disciplina, que refletem em seu
aproveitamento no processo de ensino-aprendizagem deste processo educativo.
É importante salientar que por ser uma proposta dinâmica, a partir do 2º semestre de 2004
ocorreram alterações no processo de avaliação, mantendo-se as condições de clima de
estudo dirigido e tempo livre para a sua execução e que como não foram alvo de pesquisa
não estão descritas neste trabalho.
Este artigo apresenta os pontos chaves sintetizados pelo mapa mental a seguir:

centrado aprendizado
(aluno)

planejamento

avaliação

diferenciada
final semestre

dedicação
tempo extra

respeito
Conselho Nacional
de Educação

Estartégias que tornam possível


o aprendizado de mecânica dos
resolver fluidos através da escola da vida
problemas
26/6/2006 - v3

página internet

temporal
romper
pergunta limites

físico
metodologia

fazer

Continuo acreditar que a educação critica e humanista será responsável pelas mudanças
para a construção de um mundo melhor.

You might also like