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VANGÉLICOS EM CRISE
PAULO ROMEIRO

EDITORA MUNDO CRISTÃO


São Paulo
Copyright 8 1995, Associação Religiosa Editora Mundo Cristão
Capa: Pedro Simão, Cassia Carrenho
10 edição brasileira: Dezembro de 1995
20 edição brasileira: Setembro de 1996
30 edição brasileira: Agosto de 1997 -
40 edição brasileira: Abril de 1999

Impressão: OESP Gráfica S/A

Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os


direitos reservados pela
ASSOCIAÇÃO RELIGIOSA EDITORA MUNDO CRISTÃO
Caixa Postal 21.257
CEP 04602-970 - São Paulo - SP
ABEC
Agradecimentos

Este livro é dedicado aos mantenedores da Agência de


Informações Religiosas - AGIR, às igrejas, aos pastores e demais
irmãos e irmãs que, com suas contribuições, têm ministrado ao
mundo através do nosso ministério. As palavras são insuficientes
para expressar aqui a nossa gratidão a esses heróis anônimos do
Senhor. Que a Palavra de Deus fale então por mim: "Porque Deus
não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor
que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda
servis aos santos" (Hb 6:10).
Agradeço também à equipe da AGIR a ajuda que me
prestou, principalmente ao Joaquim de Andrade, Nelson Wakai e
Paul Carden. Suas sugestões foram de grande valor.

Agência de Informações Religiosas

A AGIR - Agência de Informações Religiosas, é uma missão


evangélica interdenominacional que defende e promove as verdades da
fé cristã, e auxilia as igrejas na evangelização de adeptos de movimentos
religiosos controvertidos.

OBJETIVOS DA AGIR

Pregar o evangelho de Jesus Cristo através de todos os meios


possíveis.
Defender e ensinar as verdades fundamentais da fé cristã.
Alertar a Igreja e a sociedade sobre as manipulações de grupos
religiosos controvertidos.
Promover o fortalecimento da família segundo os parâmetros bíblicos.
Ensinar e promover a ética cristã.
Equipar os cristãos para a obra do ministério apologético e
evangelístico.

OS DESAFIOS
O Brasil é um país místico e obcecado pelo sobrenatural.
Esta é uma das razões porque muitos movimentos religiosos
questionáveis crescem tanto por aqui. Seitas como Testemunhas
de Jeová, Mormonismo, Igreja da Unificação do Rev. Moon, Nova
Era, Espiritismo e religiões orientais, têm trazido, do ponto de
vista bíblico, danos eternos para muitas pessoas. Infelizmente, as
seitas estão, com muito sucesso, espalhando seus falsos ensinos
em todas as partes do Brasil e do mundo, prejudicando igrejas e
famílias.
Grande parte dos brasileiros vive correndo atrás da
astrologia, adivinhações, consulta aos mortos, duendes, gurus,
reencarnação, idolatria e todo o tipo de superstições. A AGIR se
esforça para compartilhar Cristo de forma efetiva com toda essa
multidão, e ajuda outros cristãos a fazer o mesmo. A Missão
entende que é importante promover também o discernimento
espiritual entre o povo de Deus. Lembre-se de que enquanto você
lê este informativo, almas preciosas estão em perigo.

AS ATIVIDADES DA AGIR

 Evangelismo - Cruzadas evangelísticas em igrejas e demais


locais públicos.
 Seminários - Através de uma equipe de preletores
especializados, a AGIR promove seminários sobre seitas,
religiões mundiais, escatologia, avivamentos e família. Tem
ministrado também conferências em igrejas e instituições
teológicas de várias denominações, em diferentes partes do
mundo. Entre em contato para saber como realizar um evento em
sua igreja.
 Boletim Informativo - O Agir News é produzido bimestralmente, e
contém artigos sobre seitas e religiões, estudos teológicos,
resenhas, respostas às perguntas dos leitores, testemunhos etc.
Envie-nos o seu endereço, e lhe enviaremos um exemplar.
 Literatura - A AGIR produz também livros, folhetos, apostilas e
fitas de áudio e vídeo.
 Mídia - Os pesquisadores da AGIR têm participado de vários
programas de rádio e televisão, denunciando os abusos das
seitas, além de fornecer informações para revistas e jornais,
seculares ou religiosos.
 Intercâmbio - A AGIR está ligada à várias organizações similares
no exterior. Isso facilita a troca de informações e a chegada de
notícias com mais rapidez.

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Deus. Ore pela proteção espiritual e física dos pesquisadores e
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de amigos e irmãos que acreditam e são beneficiados pelo seu
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Sumário

Introdução
1 A dimensão da crise
2 Depois do SuperCrentes
3 O culto à personalidade
4 Milagres e seus abusos
5 O evangelho da maldição
6 Batalha espiritual
7 Em busca do poder terreno
8 Os profetas da volta de Cristo
9 Discernir é preciso
Bibliografia
Introdução
Diante do crescimento fabuloso da Igreja evangélica no
Brasil nos últimos 40 anos, parece paradoxal falar em crise entre
os evangélicos. Em 1950, havia apenas 1 milhão e 700 mil
crentes; hoje são 35 milhões. (Jornal O Correio Popular -
Campinas, SP, 29 de março de 1995, p. 1.) Vários missiólogos
apontam o Brasil como o celeiro de missionários para o mundo.
Para algumas igrejas ou para alguns líderes, não é difícil encher
um estádio de futebol ou colocar uma multidão de milhares de
pessoas marchando pelas ruas das grandes cidades, numa
demonstração de fé. O crescimento dos evangélicos em solo
brasileiro é festejado por muitos, dentro e fora do país, e tem
despertado o interesse de vários teólogos e estudiosos da
sociologia da religião.
Todo cristão deve desejar e buscar ardentemente o
avivamento de Deus para si e para a Igreja. Desejamos ver
milhares de conversões, de modo que a sociedade em geral seja
atingida pelo trabalho do Espírito de Deus. Foi exatamente isso o
que aconteceu nos avivamentos passados, nos dias de João
Wesley, George Whitefield, Jonathan Edwards (durante o primeiro
Grande Despertamento por volta de 1745, nos Estados Unidos),
D. L. Moody Charles Finney e vários outros.
Mas a história tem demonstrado que nenhum avivamento
pode ser vivido distraidamente. Um dos exemplos vem da década
de 1960, marcada pela "revolução de Jesus" e pelo surgimento do
movimento carismático, um período de grande entusiasmo pelo
Evangelho. Entretanto, foi nessa época que surgiram seitas
prejudiciais como os Meninos de Deus, conhecidos hoje como A
Família. Os Beatles voltaram-se para a índia em busca dos gurus
da Meditação Transcendental e, devido à fama que tinham,
contribuíram para tornar tal prática muito popular no Ocidente.
Por isso, temos de vigiar todo o tempo, pois quando o inimigo não
consegue impedir um movimento de Deus, ele vai então tentar
tirar o melhor proveito dele.
Não se pode negar a influência do Evangelho na sociedade
brasileira atual. Muitos jogadores de futebol e atletas de outras
modalidades esportivas estão abraçando a fé evangélica. Vários
profissionais do mundo artístico estão se despertando para a fé
cristã e cresce cada vez mais a representatividade política
evangélica, tanto a nível federal, como estadual e municipal. Uma
boa parte da Igreja evangélica faz-se presente hoje na mídia por
meio de programas de rádio e TV Há ainda igrejas e organizações
cristãs que, nos últimos anos, envolveram-se nas obras sociais,
socorrendo os necessitados. Onde está então a crise? Bem,
enquanto temos motivo de sobra para comemorar o crescimento
dos evangélicos em nosso país, temos ao mesmo tempo algumas
razões para estarmos preocupados.
Nossa preocupação não é com o crescimento numérico dos
evangélicos, pois esse parece que vai bem, embora ainda haja
muito o que fazer, principalmente na área de missões e na área
social. Graças a Deus por todas as vitórias e por tudo o que ele
está fazendo. Entretanto, na euforia de celebrar as bênçãos,
alguns parecem não perceber as questões que continuam
desafiando a Igreja evangélica brasileira nos dias de hoje, entre
elas, a crise da integridade, ou da ética, e a crise doutrinária.
A Igreja brasileira convive há tempos com práticas
antiéticas. A própria CPI do Orçamento em 1993 revelou o
comportamento nada correto de organizações e políticos
evangélicos, mostrando claramente que muitos deles, embora
possuidores de um discurso de ouro, têm os pés de barro. O
envolvimento de muitos evangélicos na política brasileira tem
trazido mais prejuízos do que benefícios para a imagem da Igreja.
Isso tem gerado um clima de suspeita na sociedade em relação
aos chamados "crentes". Não são todos os brasileiros hoje que
estão dispostos a confiar em alguém só porque carrega uma Bíblia
ou diz ser evangélico.
A minissérie Decadência, produzida e transmitida pela Rede
Globo, em setembro de 1995, despertou a fúria de muitos
crentes, mesmo antes de ser levada ao ar. Embora ela não
retratasse a maioria da Igreja brasileira, não deixou, porém, de
denunciar o aspecto doentio e mercenário de alguns grupos
evangélicos.
Mas este não será um livro sobre a ética cristã. Minha
preocupação principal neste momento é com outra crise que
assola a Igreja evangélica no Brasil: a crise teológica. Em mais de
vinte anos de fé cristã, nunca vi tanta confusão doutrinária no seio
do protestantismo em nosso país como vejo hoje. O Brasil é um
país místico, obcecado pelo sobrenatural. Certamente esta é uma
das razões por que seitas como Testemunhas de Jeová,
mormonismo, espiritismo e Nova Era crescem tanto por aqui.
Muitas pessoas, por não terem alicerce bíblico ou filtro teológico,
têm sido enganadas, passando a viver em escravidão espiritual.
Infelizmente, o perigo não vem apenas de seitas
totalmente alheias ao verdadeiro cristianismo, pois aumentam
cada vez mais no seio da própria Igreja os desvios doutrinários, na
sua maioria importados dos Estados Unidos. São movimentos já
analisados e cuidadosamente refutados lá mesmo por pessoas
capazes, muitas delas eruditas, que levam a sério o estudo da
Palavra de Deus. No Brasil, todavia, tais movimentos continuam a
iludir muitos crentes.
Por um lado, vejo o crescimento das seitas e a infiltração
de heresias em muitas igrejas evangélicas com profunda tristeza.
Por outro lado, devo reconhecer que se trata de nada mais que o
cumprimento do que diz a Bíblia. Quando esteve em Mileto, Paulo
alertou os anciãos de Éfeso da seguinte forma: "Eu sei que,
depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes que
não pouparão o rebanho, e que, dentre vós mesmos, se
levantarão homens falando cousas pervertidas para arrastar os
discípulos atrás deles" (At 20:29, 30). Na sua primeira carta a
Timóteo, Paulo lembrou-lhe: "Ora, o Espírito afirma
expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da
fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de
demônios" (1 Tm 4:1).
O apóstolo comentou ainda sobre o triste estado espiritual
de muitos quando escreveu pela segunda vez a Timóteo: "Pois
haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo
contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias
cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a
dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas" (2 Tm 4:3, 4).
Esperamos, pela misericórdia de Deus, que este livro seja útil para
edificar os que permanecem firmes nos ensinos da fé cristã e para
despertar outros que foram atraídos para um "evangelho
diferente" (2 Co 11:3, 4).
Segundo a graça do Senhor, estaremos tratando neste livro
de vários desvios doutrinários que invadiram a Igreja evangélica
brasileira. No último capítulo, trataremos da importância do
discernimento espiritual, apresentando algumas sugestões que,
esperamos, poderão ajudar o leitor a fazer escolhas sábias quanto
ao que crer e como crer neste final de milênio.
Meu sincero desejo é que este livro venha oferecer uma
humilde contribuição à Igreja do Senhor Jesus Cristo no Brasil. O
objetivo não é acusar qualquer pessoa ou ministério. Gostaria de
esclarecer ao leitor que muitas das pessoas citadas no livro são
meus irmãos e irmãs em Cristo, não estamos de relacionamento
cortado e não tenho qualquer problema pessoal com elas. Apenas
divergimos doutrinariamente. Portanto, nosso objetivo principal
não é criticar mas prover um pouco de discernimento bíblico ao
povo de Deus, num momento da nossa história em que o espaço
para a verdade da Palavra de Deus começa a ficar cada vez mais
reduzido, até mesmo no arraial dos santos.

1 - A dimensão da crise

"Cousa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra." -


Jeremias 5:30

Passei cinco anos de minha vida dentro de um seminário


católico (Congregação do Verbo Divino), preparando-me para o
sacerdócio na igreja Católica Romana. A idéia que eu fazia dos
evangélicos era a de que eles só acreditavam na Bíblia, obedeciam
à Bíblia e nada mais. Resumindo, o que eu achava é que os
evangélicos criam em tudo o que estava na Bíblia e rejeitavam
tudo o que estava fora dela.
Quando me converti ao Senhor Jesus, minhas suspeitas se
confirmaram. Era aquilo mesmo. Mas isso foi no início da década
de 70. Hoje, infelizmente, as coisas mudaram bastante.
Atualmente, há muitos evangélicos que se comportam exatamente
como adeptos de seitas. Tomemos, por exemplo, uma
testemunha-de-Jeová: se o Corpo Governante (a liderança da
seita) diz uma coisa, muitas vezes através das revistas A Sentinela
e Despertai!, e a Bíblia diz outra, já sabemos a quem o adepto vai
obedecer. Ele obedecerá ao Corpo Governante e a Bíblia será
relegada a um segundo plano. Para nossa surpresa, há muitos
crentes fazendo o mesmo hoje em dia. Se a Bíblia diz uma coisa e
os pregadores da TV dizem outra (reconheço que nem todos os
pregadores de TV fazem isso), já sabemos de antemão a quem
muitos evangélicos vão seguir. Eles seguirão os pregadores da TV
Como as coisas mudaram!

A importância do discernimento

A crise aumenta à medida que diminui o discernimento ou


há falta dele por parte de igrejas e líderes cristãos. Temos
constatado a carência de orientação e de informações de muitos
evangélicos quando viajamos para ministrar cursos em igrejas,
seminários teológicos e em outras instituições, em diferentes
partes do Brasil. Os fatos a seguir darão uma idéia da dimensão
da crise. Alguns deles são chocantes:
∃ Há evangélicos que enviam seus dízimos para a LBV
(Legião da Boa Vontade), pensando tratar-se de uma organização
evangélica. A LBV é uma seita espírita.
∃ Pastores evangélicos usam as revistas Despertai! e A
Sentinela das testemunhas-de-Jeová para ministrar à Escola
Dominical. Outros já usaram a revista Acendedor, da Seicho-No-lê.
∃ Algumas igrejas dão seus púlpitos aos mórmons, só
porque dizem ser missionários norte-americanos.
Um outro fato preocupante é a facilidade com que os
adventistas do Sétimo Dia circulam pelos corredores evangélicos
com seus conjuntos musicais como o Prisma, Prisminha, Arautos
do Rei etc. É lamentável que muitas livrarias evangélicas
distribuam com abundância os seus produtos. O programa de TV
Está Escrito, apresentado todo domingo de manhã pela TV
Bandeirantes, tem feito muito sucesso entre os evangélicos,
infelizmente. Ora, o adventismo tem posições doutrinárias
inaceitáveis à luz das Escrituras Sagradas, tais como: Jesus é o
arcanjo Miguel, Jesus teve uma natureza pecaminosa, o ensino de
que os nossos pecados são colocados sobre Satanás, a guarda do
sábado tida como prática essencial para a salvação, o ensino do
juízo investigativo (Jesus não completou a sua obra na cruz. Ele
somente a completou em outubro de 1844) e a autoridade de
Ellen G. White como única intérprete da Bíblia Sagrada.
O envolvimento adventista com os evangélicos tem um
propósito: proselitismo. A literatura adventista está cheia de
testemunhos de evangélicos (e até de pastores) que se
"converteram" à fé adventista. A Revista Adventista, de novembro
de 1993, p. 16, traz uma notícia com este título: "Ex-Pastor
pentecostal foi batizado". A revista diz ainda:

Depois de servir como pastor à igreja Assembléia de Deus, durante 33


anos, foi batizado em Manaus o irmão José Lima, juntamente com sua esposa e
sogra. Durante o período em que foi ministro de sua antiga igreja, o irmão Lima
atuou no Brasil, na Colômbia, na Venezuela, na Bolívia e no Peru. A decisão de
ser batizado foi tomada durante uma série de conferências evangelísticas
dirigida pelos pastores João Alves Peixoto, departamental de Educação da MCA,
e Gileno Hounsell Filho, distrital do bairro Cidade Nova. Dizendo-se
"maravilhado" com o que aprendera, resolveu "não mais fugir da verdade". A
cerimônia batismal foi efetuada pelo Pastor Hounsell. "Conhecer a Jesus e fazer
Sua vontade, pela graça de Deus, foi o maior milagre em minha vida", disse o
batizando.

Ainda em novembro de 1993, a Revista Adventista (p. 22),


publicou a foto de um casal com as seguintes informações:
"Vanilda Cristino pertencia à igreja Assembléia de Deus. Conheceu
a verdade através do Está Escrito, e foi batizada em Porto Alegre,
RS, no dia 21 de agosto, pelo Pastor Jonas Arrais. Seu esposo está
se preparando para seguir o mesmo caminho".
Reconheço que todo crente tem o direito de mudar de
igreja no momento que desejar ou como o Senhor o dirigir, e isso
tem acontecido constantemente. Há crentes que saem da
Assembléia de Deus e vão para a igreja Batista e vice-versa,
outros saem da Presbiteriana e vão para a Metodista, e assim por
diante. Entretanto, nunca vi um crente sair de uma igreja
evangélica para outra alegando que o fez porque finalmente
encontrou a verdade. O mesmo não se passa com o adventismo.
A Revista Adventista dá a entender que a verdade de Deus
só pode ser encontrada no adventismo e não em outra igreja
evangélica. Há muitas outras notícias que revelam o caráter
proselitista do adventismo. Do jeito que as coisas estão indo, só
Deus sabe a quantidade de ensinos estranhos que passarão a
fazer parte da vida de muitos dos nossos crentes. O pior é que
fica cada vez mais difícil defender a fé cristã à medida que tantas
seitas passam a encontrar mais e mais aliados nas próprias fileiras
evangélicas. Há muitos pastores por aí que precisam tomar mais
cuidado.

A questão ética

É verdade que muitas vezes alguém pode ter uma doutrina


bíblica correta mas ter um estilo de vida incorreto. Em outras
palavras, é possível na doutrina estar com Deus e na prática, com
Satanás. Mas é interessante observar, também, que quando
alguém não leva a Bíblia a sério teologicamente, a ética cristã fica
comprometida. Temos hoje uma necessidade urgente de mais
líderes que nos sirvam como modelos de oração, piedade e
integridade. É claro que não são todos, mas há vários precisando
muito mais de receber ministração do que em condições de
ministrar.
Larry Lea, ex-deão da Universidade Oral Roberts, e famoso
nos Estados Unidos pelo seu ministério de intercessão, é um
exemplo a não ser seguido. Não faz muito tempo a rede de TV
ABC nos Estados Unidos mostrou um videoteipe do televangelista
informando a seus telespectadores que, quando sua casa foi
completamente queimada, ele ficou praticamente sem teto,
perdendo tudo o que ele e sua família tinham, exceto a roupa do
corpo. Quando o programa da rede ABC mostrou a outra casa de
Larry Lea - uma mansão cheia de móveis e outros valores que ele
não mencionara -, as coisas mudaram. As doações caíram, as
igrejas cancelaram seus convites e, para muitos, Lea tornou-se
persona non grata. (Christian Research Journal (outono de 1994),
p. 8.)
Isso ocorre em qualquer lugar do mundo, e não apenas nos
Estados Unidos. Lembro-me de que certa vez participei de uma
reunião numa instituição evangélica em São Paulo, em que se
discutia um plano para ampliar a construção da parte de trás do
prédio da organização. De repente, um pastor, líder de uma
grande igreja na capital paulista, deu uma sugestão. Foram mais
ou menos estas as suas palavras:
- Nós começamos numa sexta-feira, fazemos tudo bem
depressa, no domingo já está terminado e ninguém precisa ficar
sabendo.
Perguntei-lhe por que tudo tinha que ser feito tão depressa
e por que ninguém poderia ficar sabendo. Ele me disse que tal
modificação ou construção era ilegal. Disse-lhe então que se era
ilegal não poderia ser feita. Como ficaríamos diante da Palavra de
Deus e da ética cristã? Ele respondeu-me com hostilidade:
- Olha aqui, meu filho, no dia em que você dirigir uma
igreja como eu, vai jogar a Bíblia e a ética fora.
Que absurdo!
A cola nos exames escolares tornou-se, infelizmente, uma
prática comum para muitos evangélicos. Quando nos referimos a
isso numa igreja, a reação do auditório é de riso e zombaria, como
se estivessem dizendo: não exagere, o que é que tem fazer uma
colinha? Deus não vai se importar com essas coisas! Geralmente,
apresentam muitas outras desculpas. Que Deus nos ajude!
Creio que uma das falhas do pentecostalismo (de onde
também venho) no Brasil através das décadas foi enfatizar mais o
carisma do que o caráter. O importante era ter o poder de Deus,
poder para expulsar demônios, operar milagres, pregar e sacudir
as massas. Tudo isso é muito bom, mas apenas isso não basta,
pois carisma sem caráter leva à destruição. Os puritanos do século
passado nos Estados Unidos tinham um provérbio que resume
bem este quadro: "O que você é fala tão alto que eu não consigo
ouvir o que você diz". Viver a ética cristã de acordo com a Palavra
de Deus é o caminho a ser percorrido por nós se quisermos ser o
sal da terra e a luz do mundo (Mt 5:13-16).
Mas a crise não pára por aqui.
Nehemias Marien

Talvez nada tenha indignado mais a opinião pública


evangélica nos últimos tempos do que o caso Nehemias Marien,
revelando que a crise apresenta-se também em forma de
apostasia. Nehemias tem excelente formação teológica, pois
estudou no Seminário Presbiteriano de Campinas, completando
seus estudos teológicos na Inglaterra, França e Estados Unidos;
hoje afirma ser pastor presbiteriano da primeira igreja ecumênica
do Brasil.
Foi no programa de TV, O Céu é o Limite, apresentado por
J. Silvestre, que ele alcançou notoriedade. Por seis meses
Nehemias respondeu perguntas sobre a Bíblia, passando a ser
conhecido como o "Pastor da Bíblia". Apesar do vasto
conhecimento bíblico, Nehemias surpreendeu muita gente ao
publicar, no início de 1994, um livro extremamente controvertido,
intitulado Jesus à Luz da Nova Era.
Parece impossível ler uma só página desse livro sem
encontrar uma aberração doutrinária ou algo grotesco sobre a fé
cristã. No capítulo três, o autor fornece um paralelo de identidade
astrológica entre os doze filhos de Jacó e os doze discípulos de
Jesus e afirma ainda: "... percebi uma estranha identidade entre
eles, como se tratasse aqui de uma reencarnação". (Nehemias
Marien, Jesus à Luz da Nova Era - Rio de Janeiro, Editora
Record,1994, p. 78.) A astrologia contradiz a Palavra de Deus em
Deuteronômio 4:19 e Isaías 47:13, 14. Já a reencarnação
contradiz abertamente uma das doutrinas centrais da fé cristã,
que é a salvação pela graça através da fé somente no sacrifício de
Jesus na cruz do Calvário (veja Ef 2:8, 9).
Mas Nehemias não pára por aí. Observe o que ele diz sobre
o espiritismo: "A doutrina espírita é essencialmente cristã e tem o
seu fundamento nas Sagradas Escrituras. O espiritismo deve ser
entendido como um dos mais caudalosos afluentes do
cristianismo". Nehemias não está só em sua posição. O próprio
Allan Kardec, o codificador do espiritismo, chegou a afirmar que "o
espiritismo e o cristianismo ensinam a mesma coisa". (Allan
Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, em O Livro de Allan
Kardec, Introdução, VII - São Paulo, SP, Editora Opus, p. 530.)
Nehemias, errou novamente, pois o espiritismo nega a doutrina da
Trindade, a autoridade da Bíblia como única regra de fé e prática,
a divindade do Senhor Jesus, o nascimento virginal do Senhor, os
milagres de Jesus, a salvação pela graça através da fé somente no
sacrifício de Jesus na cruz, a ressurreição física do Senhor dentre
os mortos, a existência do diabo e dos demônios (o que Nehemias
também nega), a existência do céu, do inferno e a existência dos
anjos. Sobrou alguma coisa? E Nehemias ainda tenta passar a
idéia de que a doutrina espírita é essencialmente cristã! Sem
chance!
Até a seita do Santo Daime encontrou guarida no ecletismo
de Nehemias Marien. Ele conta que participou do lançamento da
primeira semente do Santo Daime plantada no Estado da Paraíba
e relata o desenrolar da reunião:

Concentrado no culto, cantei, com o mais vivo entusiasmo, todas as


canções de louvor... Vi nocauteada a resistência de muitos que se entregavam
relaxados nos colchonetes e poltronas espalhados pela sala. Vi outros se
transfigurarem, em êxtase, os olhos vítreos e esbugalhados. Um jovem tomou-
me a mão, como um náufrago perdido no mar e, literalmente, urrava como
leão. Muitos vomitavam, enquanto outros corriam ao banheiro. Um outro virou
uma estátua vibrante, o tempo todo obediente a seus chakras, segundo disse.
Então, após o segundo cálice, comecei a sentir as mãos frouxas e uma ligeira
cãibra nas pernas, dando-me a impressão de desmaio... Procurei cantar com
mais entusiasmo, mas logo percebi ser melhor procurar um sofá, no qual o meu
corpo caiu pesado. Foi nesse instante que, relaxado, rendi-me ao DAIME, sem
alucinações, mas com a consciência da purificação espiritual centrada em
Jesus... Creio que, também, pelo Santo Daime, pode se contemplar a luz divina
e alcançar a purificação do espírito e a cura interior. (Nehemias Marien,
Jesus à Luz da Nova Era, p. 119-121.)

Nehemias agradeceu a Deus, considerando a experiência


daimista uma contribuição marcante para o seu ministério
pastoral. De acordo com a revista Veja, o culto ao Daime é uma
autêntica religião, possuindo templos, líderes, tem seus mortos
veneráveis e uma liturgia que mistura elementos do catolicismo,
do judaísmo e práticas semelhantes às da umbanda e do
candomblé. O ponto alto da cerimônia é a ingestão de um chá ou
alucinógeno extraído de um cipó amazônico, o uasca, misturado
com as folhas da chacrona, uma planta também da Amazônia.
Após a ingestão do Daime, as pessoas passam a ter
alucinações.(Revista Veja (9 de novembro de 1983), p. 88.)
Nehemias crê que através do Daime pode-se alcançar a
purificação do espírito, contrariando a Palavra de Deus em 1 João
1:7: "Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz,
mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus,
seu Filho, nos purifica de todo pecado". Mas se alguém acha que
Nehemias parou por aí vai se surpreender com as informações a
seguir.

Em defesa de Sodoma

Nehemias também conta que dois altos funcionários (do


mesmo sexo) do governo federal estavam se amando e
desejavam receber a bênção do Senhor. Ele então se pôs de
joelhos, pedindo que a luz do divino Espírito o iluminasse.

O fato é que, embora tenha oferecido o altar da minha igreja para essa
amorável relação, o casal preferiu a discrição de um lar no Posto Seis de
Copacabana. A liturgia, bastante doméstica, constou de uma oração pastoral, a
leitura da primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, capítulo 13, sobre a qual fiz
a minha homilia e aspergi em ambos água que eu mesmo colhi no rio Jordão
(...) e encerrei impetrando a bênção apostólica (...) Foi uma inédita experiência
em minha vida pastoral e não creio que será a última. (Nehemias Marien,
Jesus à Luz da Nova Era, p. 142-3.)

Marien diz que "a Bíblia é o mais antigo e ainda hoje o mais
atual manual de sexualidade" e que "na homossexualidade se
pratica o amor liberto de todas as formas de preconceitos, numa
entrega plena e sem restrições. Por isso, mais puro e sincero (...)
O homossexualismo é uma prática de amor (...). A Igreja não tem
o direito de sonegar a bênção divina a duas almas gêmeas, não
necessariamente macho e fêmea, quando estas se encontram no
amor".
Para defender suas idéias, Nehemias cita a lamentação de
Davi pela morte de Jônatas: "O meu amor por ti é superior ao de
muitas mulheres"; as palavras de Rute a Noemi: "Aonde tu fores
irei eu (...) Só a morte separar-me-á de ti" e acrescenta ainda:
"Há sensíveis paralelos entre o apóstolo Paulo em relação a Lucas
e a Timóteo. E bem assim entre João e o próprio Jesus".
Nehemias Marien não é o primeiro a publicar tais
abominações. Posições semelhantes são defendidas por John
Shelby Spong, bispo de uma igreja episcopal nos Estados Unidos
(muitos episcopais não concordam com ele). Num debate público
de TV com Walter Martin, fundador do ICP nos Estados Unidos,
em 1989, Spong declarou sem hesitação: "Eu espero ser usado
por Deus para introduzir o homossexualismo na Igreja
evangélica".(Vídeo no arquivo da AGIR.)
Davi e Jônatas não foram homossexuais. Há uma
declaração do ICP sobre esse assunto:

Nada há em 2 Samuel 1:26 que poderia nos levar a crer que fossem.
Quando Davi disse que o amor de Jônatas era maior do que o amor das
mulheres, não se referia ao amor sexual, mas a uma fraternidade especial que
excede qualquer forma de relação sexual. Se Davi e Jônatas fossem
homossexuais, teriam sido apedrejados sob a lei levítica. O próprio fato de que
Davi falou isso em 2 Samuel, tornando-o público, prova que nem ele nem os
hebreus interpretaram essa passagem como descrevendo a sua fraternidade
com Jônatas como uma relação homossexual.

A Bíblia não escondeu os pecados de Davi, ao contrário,


denunciou-os com rigor, como comentam Carlos Oswaldo C. Pinto
e Luís Alberto T. Sayão num artigo intitulado "A Questão do
Homossexualismo":

Seu adultério e homicídio são vividamente denunciados pelo profeta (2


Sm 12) (...). Tivesse ocorrido em sua vida uma ocasião que fosse em que a lei
de Moisés tivesse sido tão flagrantemente desobedecida quanto num episódio
homossexual, o historiador não a teria deixado passar em branco,
especialmente porque, naqueles tempos, isso teria soado muito mais do que
escandaloso e absurdo. (Revista Vox Scripturae - São Paulo, SP,
Edições Vida Nova, vol. 5, n.1, março de 1995, p. 50.)

Como pode ser observado, nem o Senhor Jesus escapou da


hermenêutica blasfema de Nehemias Marien. A informação da
Bíblia a respeito de Jesus é bem diferente daquilo que pensa e
escreve Marien. A Palavra de Deus afirma que Jesus é o "sumo
sacerdote (...) santo, inculpável, sem mácula, separado dos
pecadores, e feito mais alto do que os céus" (Hb 7:26). A Bíblia
apresenta ainda o Senhor Jesus como o homem aprovado por
Deus (At 2:22). Veja ainda Efésios 4:13.
A Palavra de Deus é muito clara ao condenar o
homossexualismo em muitos textos. Deus criou Adão e Eva e não
Adão e José. Paulo foi claro sobre isso quando escreveu aos
romanos: "Por causa disso os entregou Deus a paixões infames,
porque até as suas mulheres mudaram o modo natural de suas
relações íntimas, por outro contrário à natureza;
semelhantemente, os homens também, deixando o contacto
natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua
sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e
recebendo em si mesmos a merecida punição do seu erro" (Rm
1:26, 27).Aos coríntios Paulo afirma: "Ou não sabeis que os
injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem
impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem
sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem
maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais
fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes
santificados, mas fostes justificados, em o nome do Senhor Jesus
Cristo e no Espírito do nosso Deus" (1 Co 6:9-11).
É óbvio que Deus, enquanto ama os homossexuais, os
adúlteros, os ladrões, os assassinos ou qualquer pecador, odeia o
homossexualismo, o adultério, o latrocínio, o assassinato ou
qualquer outro pecado. A Bíblia ensina que todas as pessoas,
independentemente de raça ou preferência sexual, precisam
arrepender-se de seus pecados, ter um encontro de salvação com
Cristo e estabelecer um relacionamento de amor com Deus
através de Jesus Cristo. A exemplo do que ocorreu na época de
Paulo, também hoje Deus abre os braços para perdoar,
transformar e libertar qualquer pecador dos seus pecados, e isso
inclui o homossexualismo.

Ligações perigosas
"Alguns católicos e evangélicos buscam união". (The New
York Times (30 de março de 1994, seção National Report), p. A8.)
Esta foi a manchete de um artigo publicado no The New Yorh
Times informando que um grupo de proeminentes católicos e
eruditos evangélicos assinou um documento prometendo reduzir
os freqüentes conflitos entre suas diferentes tradições cristãs. A
idéia de preparar um documento assim surgiu em setembro de
1992 com o Frei Richard John Neuhaus, um teólogo católico que
dirige o Institute on Religion and Public Life (Instituto sobre
Religião e Vida Pública) em Manhattan, e Charles Colson, um ex-
assessor do presidente Richard Nixon que fundou um ministério
nas prisões, depois de passar algum tempo encarcerado, devido à
sua participação no caso Watergate. O documento, de 25 páginas,
foi assinado por 39 eruditos e líderes cristãos. Podem ser citados
ainda, além de Colson e Neuhaus, os seguintes: Pat Robertson,
presidente do Clube 700, professor J. I. Packer, Dr. Os Guinness,
Dr. Kent Hill, Dr. Richard Land, Dr. John White, Dr. Bill Bright,
reverendo Avery Dulles, cardeal John O'Connor, arcebispo Francis
Stafford, bispo Carlos Sevilla, George Weigel e Michael Novak.
Os que assinaram a declaração confessaram: "Nós juntos,
evangélicos e católicos, confessamos nossos pecados contra a
unidade que Cristo quer para seus discípulos". (Evangelicals and
Catholics Together: The Christian Mission in the Third Millennium -
Evangélicos e Católicos Juntos: A Missão da Igreja no Terceiro
Milênio, p. 2.) O documento diz ainda: "Em muitas partes do
mundo, o relacionamento entre essas comunidades é marcado
mais por conflito do que por cooperação, mais por animosidade do
que por amor, mais por suspeita do que por confiança, mais por
propaganda e ignorância do que por respeito à verdade. Isto é
assustadoramente o caso na América Latina, crescentemente o
caso na Europa Oriental e, muitas vezes, o caso em nosso próprio
país". Na seção We Witness Together (Nós Testemunhamos
Juntos), o documento condenou a prática de atrair ou ganhar
membros já ativos de uma igreja para a outra. Em outras
palavras, católicos não devem evangelizar protestantes e
protestantes não devem evangelizar católicos, com o propósito de
aumentar o rol de membros das respectivas igrejas. Consta ainda
na declaração que "para os católicos, todos os que são
validamente batizados são nascidos de novo e estão
verdadeiramente, embora de forma imperfeita, em comunhão com
Cristo".
Nehemias Marien vai um pouco mais além. Ele relata que
convidou o cardeal-arcebispo da cidade para a inauguração do
templo construído por sua igreja. O convidado fez-se representar
pelo Bispo Vigário Geral, "que ocupou o púlpito com ungida
mensagem". (Nehemias Marien, Jesus à Luz da Nova Era, p. 23.)
Esta é a opinião de Marien quanto à Ceia do Senhor: "A
celebração eucarística é considerada por nós uma mesa aberta a
quantos têm fome espiritual, inclusive todas as crianças, sendo a
ela bemvindos mesmo os que não professam a fé cristã".
Nehemias fala também de uma experiência que viveu numa
missa ecumênica das Faculdades Notre Dame, em Ipanema. O
padre celebrante, seu amigo, atrasou-se e, a pedido da madre
reitora, ele mesmo deu início à santa missa. Veja como foi:
O coral cantou, oramos juntos o pai-nosso de mãos dadas,
fiz a homilia e, quando já iniciava o procedimento sacramental,
chegou o padre, esbaforido. Juntos, celebramos então a
eucaristia, compartilhando da mesma hóstia consagrada e depois
ministrando-a aos comungantes! A mesma semelhança já me
envolvera nas igrejas do Sagrado Coração de Jesus e na Divina
Providência. Sinto-me muito à vontade onde o Espírito me conduz.
Benny Hinn também não demonstra discernimento quando
se trata de promover o catolicismo romano. Em seu livro O
Sangue, ele descreve, no capítulo final, (Benny Hinn, O Sangue -
Venda Nova, MG, Editora Betânia, 1994, p.125-8.) que há cerca
de dois anos, durante uma de suas cruzadas, chamou 49 freiras
católicas, vestidas em seus característicos hábitos negros e
longos, para subirem à plataforma. Elas então entoaram com
Benny o hino "Grandioso és Tu!", "dirigindo a congregação num
entusiástico cântico de louvor". No final do hino, as freiras
"tiraram seu crucifixo de dentro dos mantos e o ergueram para o
Senhor. Foi um instante de grande poder, que jamais esquecerei".
Depois, as freiras convidaram-no para visitá-las em seu
convento, onde, numa capela recém-construída, "elas se puseram
a adorar ao Senhor 'cantando no Espírito'. Ficaram bendizendo a
Deus durante meia hora". Benny diz que as irmãs "proferiram
diversas palavras proféticas que foram de grande inspiração" para
ele. E segue contando:

A essa altura eu me encontrava de joelhos, chorando muito, pois


sentira a presença do Senhor de forma tremenda. Nunca experimentara tal
unção numa celebração da ceia do Senhor, nem mesmo em minha própria
igreja. A presença de Deus era tão sensível, tão poderosa, que a única maneira
que posso descrevê-la é dizendo que 'Jesus entrou naquele salão'. Quando já
encerravam o período de louvor, comecei a experimentar uma espécie de
dormência nos braços e no peito. Não percebera que a madre geral tinha ido à
mesa e pegado o pão asmo da ceia [a hóstia da missa]. Eu estava ajoelhado
louvando o Senhor com as mãos erguidas, e a madre geral veio e colocou o pão
[a hóstia] em minha boca. Nesse momento, tive a sensação de que um fogo
atravessava todo o meu ser. Em seguida aconteceu algo maravilhoso. Senti que
as pontas de meus dedos tocavam um manto, um tecido macio, como seda.

Benny passa a narrar que sentiu um corpo físico dentro do


manto, que ele afirma ter sido o corpo de Jesus e conclui:
"Acredito que me encontrava literalmente ajoelhado aos pés de
Jesus".
É difícil entender o que se passa hoje no meio evangélico.
Apesar da experiência descrita acima e talvez de outras posições
aberrantes que ainda venham a surgir, Benny Hinn e outros
continuarão sendo considerados por muitos crentes como ungidos
de Deus, revelando assim a atitude patética de boa parte dos
evangélicos nos últimos tempos: o sucesso tem que vir a qualquer
custo. Verdade ou erro, tanto faz.
Há uma grande diferença entre o Evangelho pregado pelo
protestantismo daquele pregado pelo catolicismo romano. Não há
como sustentar, à luz da Bíblia, certos ensinos ou dogmas
ensinados por Roma, tais como a crença no purgatório, a
assunção de Maria (a crença de que Maria subiu ao céu de corpo
e alma), Maria como a mãe de Deus e a mediadora entre Deus e
os homens. Isso contraria o ensino bíblico em 1 Timóteo 2:5:
"Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os
homens, Cristo Jesus, homem". Há ainda a idolatria, fortemente
promovida em toda a América Latina, algo que Deus abomina em
sua Palavra, e a veneração aos santos. Quando alguém reza aos
santos, está tentando comunicar-se com os mortos, algo que Deus
proibiu em Deuteronômio 18:10, 11: "Não se achará entre ti quem
(...) consulte os mortos".
A esperança de perdão, de purificação, ou de se receber a
vida eterna após a morte através do purgatório, de missas e de
orações pelos mortos tem levado multidões de almas preciosas à
condenação eterna. Assim, a pessoa não sente de forma alguma a
necessidade do novo nascimento, de abandonar todo o pecado,
de ter um encontro e um relacionamento de salvação com Deus
através do seu Filho Jesus Cristo. Isso traz, ao mesmo tempo, um
desestímulo à vida de santificação e de obediência a Deus. A
pessoa pode viver o tipo de vida que quiser, não dar a mínima
atenção aos valores espirituais, envolver-se com toda a espécie de
pecado, pois, após a morte, há uma série de provisões que Roma
oferece em prol de sua alma. Tais provisões, por serem contrárias
à Palavra de Deus, acabam, portanto, não tendo qualquer valor.
Um outro exemplo é o de J. Gordon Melton, que tem
dirigido o Institute for the Study of American Religion (Instituto
para o Estudo da Religião Americana) em Santa Barbara,
Califórnia, Estados Unidos. Melton participou do Congresso para o
Estudo de Seitas e Religiões no Brasil, realizado em Recife, na
Universidade Federal de Pernambuco, de 15 a 17 de maio de
1994. Apesar de ser ministro ordenado pela igreja Metodista
Unida, nos Estados Unidos, Melton compareceu ao congresso para
defender A Família, o nome atual do grupo polêmico conhecido
como Os Meninos de Deus - uma seita controvertida fundada por
David Berg na década de 60. As controvérsias surgiram devido às
práticas de relacionamento sexual de crianças com crianças,
adultos com crianças e ao proselitismo ou evangelismo através do
sexo, conhecido como "pesca-coquete".
Gordon Melton não defende apenas os Meninos de Deus.
Ele tem defendido também a Igreja Local, de Witness Lee, grupo
que publica no Brasil o jornal Árvore da Vida. Há várias posições
doutrinárias ensinadas por esse grupo que contrariam os ensinos
bíblicos do cristianismo. (O jornal O Mensageiro da Paz, órgão
informativo das Assembléias de Deus, publicou, no segundo
semestre de 1994, uma série de quatro artigos que analisam e
refutam os erros doutrinários do grupo Árvore da Vida.)
O grito da reforma protestante de Sola Scriptura, Sola
Gracia, Solo Cristus e Sola Fide foi uma convocação para a volta à
Bíblia Sagrada como a única regra de fé e prática. Nenhuma
experiência, sonho ou visão, pode estar acima do fundamento
sólido da Palavra de Deus. Ao contrário, todas as experiências
devem ser cuidadosamente avaliadas à luz das Escrituras. Foi por
questionar a legitimidade do evangelho pregado por Roma que
muitos crentes no passado sofreram torturas e perderam suas
vidas na fogueira e de várias outras formas. É chocante ver hoje
os filhos da Reforma protestante de mãos dadas com um
Evangelho rejeitado pelos reformadores, muitos dos quais
preferiram morrer a aceitar tais doutrinas.

A decadência da unidade

Ultimamente fala-se muito em unidade nos círculos


evangélicos. Unidade dos pastores, unidade das igrejas e até na
unidade dos cristãos em torno de um candidato político.
Entretanto, nada talvez tenha jogado mais água fria na caminhada
dos evangélicos em direção à unidade, nos últimos anos, do que a
minissérie Decadência, levada ao ar pela Rede Globo em setembro
de 1995.
O trabalho produzido por Dias Gomes, autor da minissérie,
não repetiu o mesmo sucesso de outros realizados anteriormente.
Um articulista do jornal Folha de São Paulo, Sérgio Dávila,
escreveu que Decadência é uma minissérie ruim. Dávila disse
ainda que este é o pior trabalho de Dias Gomes . (Folha de São
Paulo -16 de setembro de 1995, Ilustrada, p. 5-8.) Eu mesmo não
gostei. Achei ridículo representar pastores evangélicos fazendo o
sinal da cruz, como mostrou a minissérie. Essa não é uma prática
dos evangélicos. Foram repugnantes também as cenas da mulher
nua no púlpito da igreja e uma calcinha de mulher sobre a Bíblia.
Um tremendo mau gosto.
Mas gostos à parte, Decadência conseguiu provocar
desastrosos efeitos colaterais para a causa do evangelho. Aquilo
que seria uma disputa entre duas emissoras de TV transformou-se
num conflito dentro do Corpo de Cristo. Voaram farpas de todos
os lados e acusações foram trocadas por muitas pessoas de
destaque entre os crentes. A entrevista concedida por Caio Fábio,
presidente da AEVB (Associação Evangélica Brasileira), ao jornal O
Globo no dia 20 de setembro e a publicação de uma declaração da
AEVB assinada por vários líderes evangélicos do Brasil, também no
jornal O Globo, do dia 23 de setembro, irritaram muito a liderança
da Igreja Universal do Reino de Deus e seus aliados. Em resposta,
no dia 1° de outubro de 1995 vários jornais publicaram um
manifesto assinado por vários pastores, de dentro e de fora da
Igreja Universal. (Folha de São Paulo -1°- de outubro de 1995, p
1-5.) A casa estava, então, visivelmente dividida, o que é muito
perigoso para o Reino de Deus (Mt 12:25).
O episódio serviu para revelar o quanto nós ainda somos
vulneráveis aos ataques de Satanás. Ao invés de reagir com calma
e dentro dos ditames da Palavra de Deus, alguns partiram para a
hostilidade, deixando perplexa a Igreja do Senhor. Um dos
exemplos foi o que aconteceu na última reunião do Conselho de
Pastores de São Paulo, realizada no dia 29 de setembro de 1995,
em São Paulo. Após o término da reunião, já na saída, um líder
evangélico recusou-se a cumprimentar um outro porque este não
estava do mesmo lado que ele em relação à divergência causada
pela minissérie da Rede Globo. Lamentável!
Este líder e outros que agiram da mesma forma deveriam
pelo menos lembrar-se das palavras do Senhor Jesus: "Ouvistes
que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu,
porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos
perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste,
porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e vir chuvas
sobre justos e injustos. Porque se amardes os que vos amam, que
recompensa tendes? não fazem os publicanos também o mesmo?
E se saudardes somente os, vossos irmãos, que fazeis de mais?
não fazem os gentios também o mesmo?" (Mt 5:43-47.)
Por ocasião desta reunião, a liderança do Conselho de
Pastores de São Paulo preparou um manifesto para ser enviado ao
presidente da AEVB, Cáio Fábio. Um dos pastores presentes
sugeriu que uma declaração fosse enviada também ao líder da
Igreja Universal, Edir Macedo.
Uma outra coisa a lamentar nessa crise é que não
conseguimos manter e nem resolver a questão entre nós, e o fato
de tudo isso ir a público aumentou ainda mais o constrangimento
para a causa de Cristo. Foi chocante ver e ouvir até mesmo
incrédulos tentando entender e explicar e até oferecendo soluções
para a crise que passara a reinar entre os crentes em decorrência
da mininovela da Globo. Uns indagavam: "O que está havendo?
Mas Jesus não mandou amar uns aos outros?" E também: "Por
que estes pastores não param de brigar e vão rezar?" Como
poderiam eles entender e explicar tal coisa, se a Palavra de Deus
diz que "o homem natural não aceita as cousas do Espírito de
Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las porque elas
se discernem espiritualmente" (1 Co 2:14).
Que o Senhor nos dê um espírito desarmado e muito amor
cristão em situações assim, pois outros ataques de Satanás
certamente virão e precisamos estar preparados. O inimigo não é
um líder de cá, ou um outro de lá. Não é esta ou aquela igreja. O
verdadeiro inimigo é Satanás, e contra ele, sim, devemos nos unir
na salvação das almas e edificação dos santos.

Unidade e sã doutrina

Todo cristão deve desejar a unidade do Corpo de Cristo e


orar por ela, pois até mesmo o Senhor Jesus assim o fez: "A fim
de que todos sejam um (...). A fim de que sejam aperfeiçoados na
unidade" (Jo 17:21, 23). Na carta aos Filipenses, Paulo recomenda
que Evódia e Síntique pensem concordemente no Senhor (Fp 4:2).
Sem dúvida, uma das maiores armas de Satanás contra o Corpo
de Cristo é a desunião. Por outro lado, em nenhum lugar da Bíblia
a Palavra de Deus encoraja a união dos crentes em detrimento do
equilíbrio doutrinário.A nossa união deve serem torno da verdade,
e não do erro, como bem expressou o salmista: "Companheiro sou
de todos os que te temem, e dos que guardam os teus preceitos"
(SI 119:63).
A crise doutrinária que assola a Igreja hodierna no Brasil é
séria demais para ser ignorada e colocada de lado, pois heresias e
ensinos aberrantes tendem a se espalhar muito rapidamente. Não
podemos esquecer também que cada crente é chamado para ser
um atalaia no exército do Senhor e soar o alarme toda vez que se
fizer necessário (Ezequiel capítulos 3 e 33). Embora desagrade a
muitos, os erros devem ser denunciados e a verdade da Palavra
de Deus proclamada com amor e obedecida sem distorções. Que
o Senhor nos guarde dos ventos de doutrina (Ef 4:14), e nos dê
graça para sermos
fiéis, tanto a ele quanto à sua Palavra.

2 - Depois do SuperCrentes

Há alguns anos, uma corrente doutrinária conhecida como


Confissão Positiva ou Evangelho da Saúde e da Prosperidade
começou a invadir as igrejas no Brasil. Oriunda dos Estados
Unidos, é liderada por Kenneth Hagin e seguida por vários outros
pregadores. Tal doutrina ensina que todo o crente deve viver
endinheirado, morar em mansão, desfilar em carrões, ficar livre de
qualquer tipo de enfermidade durante todo o tempo de sua vida e
possuir a natureza divina.
Além das posições acima mencionadas, a teologia da
prosperidade traz também em seu bojo sérios desvios
cristológicos. Há ensinos de Kenneth Hagin e de outros do
Movimento da Fé que ultrapassam os limites da heresia, chegando
à blasfêmia, como a declaração de que na cruz Jesus recebeu
uma natureza satânica. Outros ensinam ainda que a morte de
Cristo na cruz não tem valor. O que tem valor é a sua morte
espiritual no inferno.
A Confissão Positiva passou a representar também um risco
à integridade física das pessoas e mostramos como muitas delas
perderam suas vidas ao aplicar os ensinos desta teologia. Tais
posições não deveriam preocupar um cristão equilibrado? Por esta
razão, lancei em 1993 o livro SuperCrentes, onde tais questões
foram bem documentadas e tratadas à luz da Palavra de Deus.
Creio ser útil, principalmente para os que leram o livro, informá-
los aqui sobre as reações e alguns resultados que ele provocou.
Foi uma surpresa agradável ver a grande aceitação que o
SuperCrentes teve. É claro que alguns não gostaram dele, como já
era esperado. Mas isso é até bíblico, pois nem o próprio Senhor
Jesus agradou a todos. A verdade é que quando alguém tenta
agradar a Deus fica mal com os homens. Quando tenta agradar
aos homens, fica mal com Deus. É preciso então decidir de que
lado ficar e a quem agradar. Neste capítulo, trataremos de
algumas reações provocadas pelo livro e de alguns fatos
relevantes acontecidos depois de sua publicação.
Assim que o livro saiu, visitei uma livraria evangélica no
centro de São Paulo e uma funcionária quis me conhecer. Depois
de cumprimentar-me, foi dizendo: "Paulo, peguei o seu livro
ontem, já li e quero agradecer pela grande ajuda que me prestou.
Meu irmão morreu de câncer há uns 15 dias. Antes da sua morte,
porém, os irmãos da Confissão Positiva viviam no meu ouvido
dizendo que Deus já o havia curado, que eles já tinham decretado
a cura. Mas ele morreu e, depois, além de ter que suportar a dor
da separação, eu tive que suportar também a dor da culpa.
Disseram que meu irmão morrera porque eu não tive fé para ele
ser curado. Graças a Deus pelo seu livro, que trouxe o
esclarecimento de que tanto precisava".
Um dos exemplos animadores veio da cidade de Ipatinga,
Minas Gerais, onde os líderes da igreja Batista Missionária ficaram
revoltados comigo após a primeira leitura do livro. Entretanto,
depois da segunda leitura, chegaram à conclusão de que deveriam
convidar-me para ministrar entre eles. Assim, estive ali nos dias 7,
8 e 9 de abril de 1995, apresentando a perspectiva bíblica sobre o
Evangelho da Saúde e da Prosperidade e o Senhor nos abençoou
grandemente. Passei momentos inesquecíveis na presença de
Deus com um grupo de irmãos muito preciosos. Foi realmente
gratificante ver toda uma igreja renunciando os ensinos
questionáveis da Confissão Positiva para se firmar no equilíbrio da
Palavra de Deus.
Transcrevemos aqui a carta de um pastor recebida por nós
em 2 de janeiro de 1995, com o seguinte teor:

Prezados irmãos,
"Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus
Cristo."
Desejo sinceramente que as bênçãos do céu estejam enriquecendo o
vosso ministério e que as vitórias sejam muitas.
Desejo comunicar-lhes (se ainda não é do vosso conhecimento) que a
Convenção Batista do Tocantins, preocupada com estes movimentos
"renovacionistas" que têm prejudicado algumas igrejas, presenteou todas as
igrejas da referida Convenção com um exemplar do livro intitulado
SuperCrentes, de Paulo Romeiro. Acabo de ler todo o volume e estou lhes
escrevendo, também, para parabenizar o irmão Paulo Romeiro por este
excelente trabalho. A Igreja Batista do Cordeiro, a qual pastoreio, receberá, nos
cultos doutrinários, o estudo deste livro (...)
No amor de Cristo, Pr. Arquimedes Oliveira de Castro

Um grande número de irmãos, entre eles, muitos pastores,


nos escreveram agradecendo a publicação do livro e nos
incentivando a perseverar no combate pela fé cristã. Graças a
Deus, as vozes a favor superaram de longe as vozes contrárias.

Prosperidade: sim ou não?

O livro SuperCrentes levantou algumas questões que não


podem ser simplesmente deixadas de lado. A primeira foi quanto
à prosperidade financeira. É preciso ser dito que não sou de forma
alguma contra a prosperidade financeira do cristão ou de qualquer
outra pessoa, pois a vida cristã pode trazer e sem dúvida tem
trazido bênçãos materiais para muitos. Não tenho a menor
pretensão de sair por ai pregando que, por onde eu passar, os
irmãos venham a perder suas casas e carros e que empobreçam.
Nunca fiz uma apologia da pobreza. Por outro lado, é preciso
parar com esse discurso de que pobreza é do diabo, que é
maldição. Jesus nunca disse isso, e isto nem reflete a teologia
bíblica. Se fôssemos medir a vida espiritual de alguém pelo
tamanho de sua conta bancária, pelo carro que possui ou pela
mansão onde mora, poderíamos facilmente concluir que P C.
Farias e alguns "anões" do Orçamento têm uma comunhão com
Deus fora do comum. Estou convicto de que o caminho não é por
aí.
Creio que quando uma pessoa tem um encontro de
salvação com Cristo, o que envolve paz, alegria e libertação, ela
pode receber também saúde fisica e progresso financeiro. É muito
gratificante ver a transformação espiritual, social e econômica de
uma pessoa ou de uma família que foi tocada pelo Evangelho.
Quando isso acontece, só nos resta agradecer a Deus o seu dom
inefável e o cuidado que ele tem com seus filhos e continuar
orando para que mais e mais pessoas sejam abençoadas da
mesma forma. O grande problema da Teologia da Prosperidade
não é a prosperidade, mas a teologia, que contém doutrinas
heréticas no seu bojo, chegando às raias da blasfêmia. Isto não
deveria preocupar um cristão sensato? Creio que ninguém precisa
abraçar heresias a fim de viver grandes experiências com Deus. A
Bíblia diz que Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres
extraordinários (At 19:11). Nem por isso Paulo abandonou o
equilíbrio teológico para que os mesmos acontecessem. Por que
muitos insistem em fazer de forma diferente hoje?
Alguém já disse que o dinheiro pode tanto ser um ótimo
empregado quanto um péssimo patrão. Infelizmente, há aqueles
que, quando enriquecem, querem tornar-se independentes de
Deus. Não creio que seja da vontade de Deus prover opulência a
alguém incapaz de fazer bom uso dela, que não venha a ser um
bom mordomo das bênçãos de Deus.

Por que citar nomes?

Uma outra questão levantada em relação ao livro


SuperCrentes foi quanto à citação de nomes. Eu o fiz por alguns
motivos. Primeiro, porque há um precedente bíblico para se citar
nomes. Veja o que Paulo fez em 2 Timóteo 4:10. O apóstolo não
escreve dizendo: "Porque alguém, tendo amado o presente
século, me desamparou (...)". Não, não é isso o que ele faz. Ele
cita o nome de Demas que, até algum tempo atrás, tinha sido um
fiel companheiro. No seu desabafo, Paulo cita ainda outro nome:
"Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe
dará a paga segundo as suas obras" (2 Tm 4:14). Quando alertou
sobre a importância de conservar a fé e manter uma boa
consciência na vida cristã, citou nomes de alguns que assim não
procederam: "mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns,
tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé. E
dentre esses se contam Himeneu e Alexandre, os quais entreguei
a Satanás, para serem castigados, a fim de não mais
blasfemarem" (1 Tm 1:19, 20).
Quando se tornou necessário corrigir ensinos distorcidos,
Paulo não hesitou em mencionar as pessoas. Observe a sua
exortação a Timóteo: "Evita igualmente os falatórios inúteis e
profanos, pois os que deles usam passarão a impiedade ainda
maior. Além disso, a linguagem deles corrói como câncer; entre os
quais se incluem Himeneu e Fileto. Estes se desviaram da
verdade, asseverando que a ressurreição já se realizou, e estão
pervertendo a fé a alguns" (2 Tm 2:1618).
Alguém poderá argumentar que Paulo mencionava apenas
o nome de pessoas fracassadas espiritualmente ou que fossem
inimigas da fé cristã. Entretanto, isso não é verdade. Na carta aos
gálatas (Gl 2:9-11), Paulo apresenta o apóstolo Pedro como uma
das colunas da Igreja, algo que ele foi até a morte. Nem por isso
Paulo deixou de citá-lo, pois Pedro mereceu ser repreendido:
"Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe face a face,
porque se tornara repreensível" (Gl 2:11). Há então um
precedente bíblico e uma responsabilidade ao se citar nomes.
O segundo motivo é que essa é a responsabilidade do
cristão. Imagine o leitor se há um remédio sendo comercializado,
trazendo perigo de morte à população. Certamente as emissoras
de rádio e TV não conseguiriam prestar um serviço ao público
levando ao ar o seguinte anúncio: "Informamos que há um
remédio sendo vendido nas farmácias que poderá levá-lo à morte.
Desde que não vamos citar o nome do remédio, tente descobrir
por você mesmo". Não seria isso um absurdo? Quando alguém
descobrisse que remédio é esse, já seria tarde demais.
Um outro aspecto que deve ser levado em conta é que não
invadimos a privacidade de qualquer pessoa. Nunca questionamos
a moral de qualquer pessoa mencionada no livro
SuperCrentes.Tudo o que fizemos foi analisar à luz da Palavra de
Deus aquilo que os próprios pregadores da Confissão Positiva já
haviam trazido a público, por meio de suas pregações e suas
próprias publicações.

"Não toqueis nos meus ungidos"

Basta alguém questionar a posição doutrinária ou ética de


algum líder religioso para que ele ou seus simpatizantes
imediatamente lancem mão desta frase para se defenderem.
Alguém já disse, com sabedoria, que o poder odeia a crítica, e isto
é verdade também no meio evangélico. Ao afirmar isso, não
estamos defendendo aqui a crítica barata, vingativa, mas, sim, a
construtiva, feita de acordo com a Palavra de Deus.
Esta expressão "não toqueis nos meus ungidos" aparece
duas vezes na Bíblia: em 1 Crônicas 16:22 e em Salmos 105:15;
ambas as referências são a respeito dos patriarcas, Abraão,
Isaque e Jacó. As duas passagens não se referem a um
questionamento ético ou doutrinário do líder, mas a algum perigo
para a integridade física de um ungido de Deus. Observe o que
aconteceu com Abraão em Gênesis 20:1-13. Estando em Gerar,
mentiu ao rei Abimeleque, dizendo que Sara não era sua esposa,
a fim de se proteger. Impressionado com a beleza de Sara,
Abimeleque mandou buscá-la para fazê-la sua esposa. Deus,
porém, avisou o rei em sonho durante a noite, dizendo-lhe que
seria punido se tomasse Sara como esposa, o que o levou a
desistir do seu plano. Embora Abimeleque tivesse sido proibido
por Deus de tocar no profeta (v. 7) e ungido do Senhor, isto é, de
causar-lhe algum dano físico, ele não hesitou em repreender
Abraão por ter-lhe mentido.
Davi também, quando perseguido por Saul e com
oportunidade para matá-lo, limitou-se apenas a cortar-lhe a orla
do manto, explicando com estas palavras o motivo de seu
comportamento: "O SENHOR me guarde de que eu faça tal cousa
ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o
ungido do SENHOR" (1 Sm 24:6). Vemos novamente que o que
estava em questão era a vida de Saul e não sua posição
doutrinária.
No Novo Testamento, a unção não é privilégio apenas de
alguns, mas de todos os que estão em Cristo. Na sua primeira
epistola universal, João mesmo reconheceu isso ao escrever: "E
vós possuís unção que vem do Santo, e todos tendes
conhecimento" (1 Jo 2:20). João acrescenta ainda: "Quanto a vós
outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não
tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua
unção vos ensina a respeito de todas as cousas, e é verdadeira, e
não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou" (1
Jo 2:27).
É verdade que Jesus disse no Sermão do Monte: "Não
julgueis, para que não sejais julgados" (Mt 7:1). Este é um outro
texto muito usado de forma seletiva e fora de seu contexto como
um escudo contra qualquer tipo de questionamento. O que Jesus
está censurando nesta passagem é o julgamento hipócrita, algo
que ele deixa bem claro nos versículos 3 a 5: "Por que vês tu o
argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que
está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o
argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita, tira
primeiro a trave do teu olho e então verás claramente para tirar o
argueiro do olho de teu irmão". Pode-se constatar que o apóstolo
Paulo tinha o cuidado de obedecer às palavras do Senhor Jesus
pela sua exortação aos coríntios: "Mas esmurro o meu corpo, e o
reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha
eu mesmo a ser desqualificado" (1 Co 9:27).
A Bíblia não proíbe o questionamento, pelo contrário,
encoraja-o. Quando chegou a Beréia, Paulo teve seus ensinos
avaliados à luz das Escrituras pelos bereanos. É interessante que
os bereanos não foram censurados nem tidos como carnais
porque examinaram os ensinos de Paulo, mas, sim, foram
elogiados e considerados mais nobres que os de Tessalônica (At
17:11). Observe a atitude de João. Apesar de ser conhecido como
o apóstolo do amor e de usar termos muito amorosos (como
"filhinhos", "amados"), ele não deixou de alertar seus leitores
quanto aos perigos de ensinos e profetas falsos com essas
palavras: "Amados, não deis crédito a qualquer espírito: antes,
provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos
profetas têm saído pelo mundo fora" (1 Jo 4:1).

O que veio depois

Depois do SuperCrentes, várias aberrações doutrinárias


continuaram a fustigar as igrejas, como os desvios na área de
batalha espiritual, a quebra de maldições hereditárias e, a
exemplo do que já vinha acontecendo, surgiram novas datas para
a volta de Cristo. Tais aberrações estão sendo tratadas aqui neste
trabalho.
Não se pode ignorar ainda um novo fenômeno produzido
no início de 1994 por uma igreja de Toronto, no Canadá,
denominado "gargalhada sagrada" e que já chegou ao Brasil
(tratarei disso no capítulo 4, neste livro, sobre os milagres e seus
abusos). Publicações contendo ensinos questionáveis apareceram
no mercado evangélico, além de novas práticas estranhas, nada
benéficas para o Corpo de Cristo. Vejamos algumas delas.

O enigma Benny Hinn

Benny Hinn esteve novamente no Brasil no primeiro


semestre de 1994 e pode-se dizer que ele continua sendo um
enigma. A revista Christianity Today (Cristianismo Hoje), uma das
mais importantes revistas evangélicas norte-americanas, publicou
uma reportagem sobre Benny Hinn na sua edição de 16 de agosto
de 1993, p. 38-9, informando que Hinn havia renunciado à
Teologia da Prosperidade, chamando o movimento "Palavra da Fé"
de "Nova Era".
O artigo dizia que Hinn fora exortado por dois líderes
cristãos. Um deles, o evangelista James Robison, disse que havia
trazido a mesma mensagem a Jim Bakker, a Jimmy Swaggart e a
Larry Lea, mas nenhum deles deu atenção ao aviso. Hinn, afirma
Robison, reagiu de forma diferente. Robison acrescenta: "Disse a
Benny que toda a vez que eu orava por ele, o Senhor me
mostrava que estava descontente com o que ele fazia (...). Eu lhe
disse que Deus não o havia ungido para pregar coisas erradas e
atuar de forma extravagante e teatral, derrubando as pessoas no
chão, sacudindo o paletó e soprando sobre o povo".
A reportagem informa ainda que Hinn descreveu o quanto
o ensino da fé o prejudicou: "Eu estava muito influenciado por
Kenneth Hagin e Kenneth Copeland. Nenhum deles fala de
salvação. Só de fé. A mensagem da fé é vazia sem o Espírito".
Hinn comentou também sobre a prosperidade: "A própria palavra
foi distorcida e tornou-se de importância fundamental no
ministério. Dinheiro, dinheiro, dinheiro. É quase como ir a um
cassino jogar!"
Apesar disso, só o tempo dirá se Benny Hinn realmente
mudou. Sempre que traz a público um ensino controvertido, seus
amigos o alertam, e ele se arrepende e pede perdão. Dois ou três
meses depois ele faz a mesma coisa, seus amigos o admoestam,
ele pede perdão novamente, e assim o ciclo se repete. É
lamentável que isso pareça ser uma constante na vida de Benny
Hinn. Infelizmente, há outros assuntos que também são motivo de
preocupação, como veremos a seguir.

Um livro muito estranho

Fiquei surpreso ao ver nas livrarias evangélicas um livro


intitulado Como Compreender o Seu Potencial, a Descoberta do
Verdadeiro Eu, escrito por Myles Munroe e publicado pelo
ministério de Robson Rodovalho.(Myles Munroe, Como
Compreender o Seu Potencial, a Descoberta do Verdadeiro Eu -
Brasília, DF, Koinonia Comunidade e Edições, 1993.) De acordo
com o livro, Myles Munroe é professor internacional, palestrante,
conferencista, evangelista, consultor, fundador e presidente do
Bahamas Faith Ministries International (Ministério Internacional de
Fé das Bahamas), uma rede abrangente de ministérios com sede
em Nassau, Bahamas. O Dr. Munroe é bacharel em Educação,
Belas Artes e Teologia pela Universidade Oral Roberts e é mestre
emAdministração pela Universidade de Tulsa. Em 1990 recebeu o
título de Doutor Honoris Causa da Universidade Oral Roberts.
Como pode alguém com tal currículo escrever um livro
assim tão questionável à luz da Palavra de Deus? O livro tem
problemas doutrinários do começo ao fim. Muitos deles chegam a
ser absurdos. Por falta de espaço, serão tratados aqui apenas
alguns para que sirvam de alerta a quem pensa que hoje pode
entrar em qualquer livraria evangélica e comprar o que quiser sem
precisar se precaver. O que você acha dessas afirmações?

"Assim, Deus criou você para ser onipotente" (p. 23).


Resposta bíblica: Não encontramos em qualquer parte da
Bíblia que Deus tenha criado alguém para ser onipotente. A
onipotência é um atributo exclusivo e incomunicável da deidade.
Observe as palavras de Jesus: "Mas ele respondeu: Os impossíveis
dos homens são possíveis para Deus" (Lc 18:27). Veja ainda Jó
42:2.

"Acreditamos que nós não servimos para nada ou que não


temos valor. Jesus disse: 'Nada disso. Eu vim para mostrar a você
que você é mais do que você pensa que você é"' (p. 25).
Resposta bíblica: Alguém pode até pensar que eu estou
sendo chato demais ao destacar esta frase do livro para refutá-la
à luz da Bíblia. Entretanto, o autor faz algo extremamente
perigoso, exegeticamente falando. Ele coloca palavras nos lábios
de Jesus. De onde ele tirou estas palavras? Não há qualquer lugar
na Bíblia onde Jesus tenha dito isto. Trata-se portanto de
revelação extrabíblica. Ora, se alguém começa a fazer isso e não é
questionado, a pessoa poderá ir longe demais e outros seguirem o
seu mau exemplo.Aqui vemos que Myles acrescenta ao texto
bíblico e isto é biblicamente inaceitável.

"A maioria de nós quer ser como Jesus. Isso não é o que
Deus quer. Deus quer que nós sejamos como Cristo. Jesus veio
para nos mostrar como Cristo se parece quando ele surge em
forma humana" (p. 28-9).
"Jesus foi a manifestação humana do Cristo celestial" (p.
29).
"Quando queremos encontrar Cristo, Deus nos mostrará a
Igreja. Entretanto, nós não podemos aceitar isso, porque
acreditamos que Cristo está no céu. Não, ele não está. Jesus está
no céu" (p. 29).
Resposta bíblica: O autor comete erros gravíssimos com as
declarações acima. Primeiro, ele divide a pessoa do Senhor entre
Cristo e Jesus. Isto está mais para os ensinos da Nova Era do que
para a teologia bíblica. Em Cristo há uma só pessoa com duas
naturezas: a divina e a humana. A Bíblia diz que Jesus é o Cristo
(Lc 2:11) e morreu como o Cristo (Rm 14:9 e 1 Co 15:3).
Segundo, ao afirmar que Cristo não está no céu, o autor contradiz
a Palavra de Deus em Romanos 8:34 e Colossenses 3:1.

"O corpo de Lúcifer foi criado com tubos internos para que
toda a vez que ele levantasse uma asa, um som saísse na forma
de música (...). Assim que ele começava a abanar suas asas os
anjos começavam a cantar" (p. 43).
Resposta bíblica: Que absurdo! Onde está isto na Bíblia?
Esta é a falácia da revelação extra-bíblica (um dos exemplos disso
tem acontecido nos seminários de batalha espiritual, onde nomes
de demônios que não estão na Bíblia são ensinados por revelação)
ou do argumento do silêncio (um exemplo aqui é a especulação
que alguns fazem sobre a vida de Jesus dos doze aos trinta anos
de idade. Desde que a Bíblia não diz qualquer coisa a esse
respeito, acabam criando suas próprias histórias). Ora, todas as
nossas regras de fé e prática devem estar baseadas nas
Escrituras. Onde e quando a Bíblia se cala, devemos nos calar
também.

"Nós sempre existimos. No estado anterior, éramos


invisíveis, mas mesmo assim já existíamos" (p. 82).
Resposta bíblica: Esta é mais uma declaração que contraria
o ensino das Escrituras. Aliás, os mórmons também crêem na
mesma coisa, na preexistência do ser humano. Ao contrário do
que diz o autor, a Palavra de Deus declara em Zacarias 12:1: "Fala
o SENHOR, o que estendeu o céu, fundou a terra e formou o
espírito do homem dentro dele". Veja ainda 1 Coríntios 15:46, que
também refuta tal crença errônea: "Mas não é primeiro o
espiritual, e, sim, o natural; depois o espiritual".
Conversei pessoalmente sobre este livro com Robson
Rodovalho no Rio de Janeiro, durante um encontro promovido
pela AEVB (Associação Evangélica Brasileira), nos dias 17 e 18 de
março de 1994. Disse-lhe que este livro, prefaciado e publicado
por ele, estava cheio de heresias do começo ao fim. Robson
tornou-se tenso com minhas observações. Disse-lhe então que
estava ali como irmão em Cristo para ajudá-lo e que, se ele
quisesse, eu faria uma análise por escrito do livro para sua
apreciação. Ele gostou da idéia. Sugeri ainda que publicasse algo
alertando principalmente o seu público sobre as posições
antibíblicas do livro, numa tentativa de desfazer os danos
causados pelo texto. Ele deu a entender que também isso era
uma boa idéia. Na ocasião, falei-lhe que não concordava com ele
sobre o ensino da quebra de maldições hereditárias, por ser
também uma doutrina sem base bíblica (veja o capítulo seis neste
livro).
Terminamos aquele encontro de forma amiga e fraterna.
Coloquei-me à sua disposição para ajudá-lo sempre que ele
quisesse. Enviei-lhe depois uma carta com a análise do livro ainda
no primeiro semestre de 1994. Até hoje não ouvi qualquer reação
de sua parte. Pior do que isso, o livro, cheio de heresias e
aberrações, continua sendo comercializado pelo Brasil afora.
Se o leitor pensa que acabou, vai se surpreender com
algumas informações sobre Jorge Tadeu, um pregador da
Teologia da Prosperidade e líder das igrejas Maná, que continua
gerando controvérsias em Portugal e no Brasil. Eis os fatos:

"Igreja Maná, milagres perigosos"

Esta foi a manchete de uma reportagem de capa que a


revista Visão, de Portugal (10 a 16 de fevereiro de 1994, n°47),
fez sobre a igreja Maná, liderada por Jorge Tadeu naquele país.
Tadeu é um engenheiro e alguns de seus livros que promovem a
Confissão Positiva circulam também pelo Brasil. Ele já esteve aqui
várias vezes, aparecendo em programas de TV ao lado de Valnice
Milhomens e promovendo conferências em São Paulo. No livro
SuperCrentes, tratei de seus desvios doutrinários e informei, com
evidências documentadas, como seus ensinos levaram pessoas à
morte em Portugal.
Pelo artigo publicado na revista Visão, pode-se ver que o
ministério Maná ainda continua gerando muita controvérsia. Na
página 58 da revista, há uma declaração de Jorge Tadeu que
merece atenção: "Temos de deixar a nossa religiosidade no chão
para sermos mais utilizados por Deus. Recebi isto por revelação
divina: Deus me disse que hoje o Senhor permite que um homem
tenha várias mulheres, desde que com isso sirva mais a Deus"
(gravação em vídeo de uma palestra de Jorge Tadeu aos pastores,
em reunião realizada em junho de 1992 no Tojal, Loures).
E agora, dá para concordar? Se alguém concordar, vai ter
que pedir desculpas aos mórmons, (Joseph Fielding Smith,
Doutrina de Salvação - São Paulo, SP, Centro Editorial Brasileiro,
1976, vol. 1, p. 65.) muito criticados pelos evangélicos por terem
ensinado e praticado a poligamia no passado. O que não dá para
entender é que Jorge Tadeu venha a público, faça uma declaração
como essa e continue sendo considerado um ungido de Deus. Se
alguém discorda destas aberrações, é considerado pelos adeptos
da Confissão Positiva como carnal e provocador de divisões no
Corpo de Cristo. Ora, uma das grandes causas de divisões no
Corpo de Cristo são justamente as heresias (hairesis, no grego. O
termo é mencionado na lista das obras da carne em Gálatas 5:19-
21).
Mas Jorge Tadeu não pára por aí. A revista portuguesa
ainda informa que o dinheiro é o seu objetivo principal e que para
alcançar seus alvos financeiros Jorge Tadeu criou um método
infalível: os pastores das igrejas de Portugal afiliadas ao seu
ministério são obrigados a preencher, de antemão e de uma vez,
doze cheques, com as quantias projetadas para cada mês do ano.
Se os "alvos de fé" não forem alcançados, o salário dos pastores
não é pago.
Um ex-pastor da Igreja Maná afirma:

Os pastores vivem sob pressão, sabem que se as ofertas não


alcançarem os números de Jorge Tadeu são eles próprios que não recebem.
Isso faz com que se vá para o púlpito, não para pregar a Palavra de Deus, mas
para lutar pela sobrevivência. Outro pastor, segundo a revista Visão, conta ter
visto muitos colegas de ministério serem humilhados por Jorge Tadeu, sendo
chamados de estúpidos, incompetentes e moleques e que se não tinham
dinheiro é porque não tinham fé (p. 57).

Uma professora primária de Coimbra declara:

Dei todo o dinheiro que tinha e quando já não havia dinheiro, o meu
pastor trouxe um recado do pastor Tadeu: disse-me para dar o ouro e as jóias.
Eu dei. Fiquei sem nada, à espera de uma bênção financeira que nunca chegou.
Só hoje vejo como estava cega, completamente cega.

Seria impossível contar hoje o número de pessoas que têm


sido vítimas de seitas e ensinos distorcidos, algumas de forma
irremediável. O espaço não permite também tratar de todas as
aberrações doutrinárias surgidas no seio da Igreja no Brasil depois
da publicação do livro SuperCrentes. Essas, porém, foram
mencionadas para dirimir dúvidas e responder às perguntas de
muitos leitores.

3 - O culto à personalidade

O desenvolvimento tecnológico das últimas décadas abriu


largas avenidas para a pregação do Evangelho por meio da mídia,
principalmente pelo rádio e pela televisão, dando assim acentuada
visibilidade a um fenômeno muito antigo e nada recomendável: o
culto à personalidade.
Isso acontece porque o ser humano é um adorador por
natureza e cultuar é uma de suas atividades essenciais.
Entretanto, no seu afã de adorar ele tomou, ao longo da história,
caminhos espiritual e socialmente tortuosos. Desde jangais da
África, desertos da Arábia, até ao frenesi das grandes metrópoles,
adoradores podem ser encontrados aos bilhões, ora prostrando-se
diante de uma vaca sagrada, de algum amuleto, ou altar, ora
diante de algum líder religioso ou guru. O interessante é que,
quando o ser humano não adora em espírito e em verdade (Jo
4:23, 24), ele corre o risco de procurar ser adorado.
Não faz muito tempo, a revista Isto É publicou um artigo
sobre o comportamento dos famosos da música e do cinema com
seus fãs. Isso aconteceu durante a visita dos Rolling Stones ao
Brasil:

Sol inclemente ou chuva constante. Horas e horas parados diante de


um edifício. Para um fã não existe limite. Vale tudo para estar perto do seu
ídolo. Esta é a única razão para justificar por que a publicitária Rita de Cássia
Gemignani, 26 anos, e a secretária Michele Lopes, 25, abandonaram seus
empregos e se entregaram à empreitada de chegar o mais próximo possível
dos Rolling Stones. Acompanharam os três shows da banda em São Paulo, os
dois no Rio de Janeiro e, não satisfeitas, bandearam-se para Buenos Aires,
escala seguinte da megaturnê ( ....) A rotina de fãs apaixonadas como Rita de
Cássia e Michele, que também adoram os Beatles, é toda organizada em função
da vida dos mitos idolatrados. Eles mergulham num mundo paralelo e, por
causa disso, à vezes perdem a identidade. Este culto às celebridades costuma
chegar à beira da irracionalidade nos Estados Unidos (...) Esta devoção não
raramente se transforma em casos patológicos, capazes de ofuscar até mesmo
o senso de ridículo (...) A passagem dos Stones pelo Brasil confirmou a
modernidade na adoração dos mitos. (Revista Isto É -15 de fevereiro de
1995, p. 42-3.)

Nem os mortos escapam a esse culto, como, por exemplo,


Elvis Presley e Raul Seixas.

O fator carisma

Certamente que essa atração, domínio e, muitas vezes,


manipulação do ídolo exercidos sobre o fã têm muito a ver com
um fator denominado carisma. O dicionário Aurélio define carisma
da seguinte maneira: "uma força divina conferida a uma pessoa
ou a atribuição a outrem de qualidades especiais de liderança,
derivadas de sanção divina, mágica, diabólica, ou apenas de
individualidade excepcional" (p. 354).
Geralmente, a pessoa dotada de um forte carisma é
conhecida por seu magnetismo irresistível, sua aparência de
vencedor e pelo entusiasmo com que defende uma causa, ou
apresenta um produto. Tal entusiasmo pode ser visto
freqüentemente nos executivos ou no pessoal de liderança da
Amway, uma rede internacional de distribuição de produtos que
tem atraído muitos evangélicos atualmente, e ainda nos cursos de
Lair Ribeiro.
Max Weber, sociólogo alemão, fez uma excelente análise,
no livro Ensaios de Sociologia, sobre o papel do carisma no
relacionamento do ídolo com seu fã:

A expressão "carisma" deve ser compreendida como referindo-se a


uma qualidade extraordinária de uma pessoa, quer seja tal qualidade real,
pretensa ou presumida. "Autoridade carismática", portanto, refere-se a um
domínio sobre os homens, seja predominantemente externo ou interno, a que
os governados se submetem devido à sua crença na qualidade extraordinária
da pessoa específica. O feiticeiro mágico, o profeta... o chefe guerreiro... o
chefe pessoal de um partido são desses tipos de governantes para os seus
discípulos, seguidores, soldados, partidários, etc. A legitimidade de seu domínio
se baseia na crença e na devoção ao extraordinário, desejado porque
ultrapassa as qualidades humanas normais e originalmente considerado como
sobrenatural. Alegitimidade do domínio carismático baseia-se, assim, na crença
nos poderes mágicos, revelações e culto do herói. (Max Weber, Ensaios de
Sociologia, Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 1982, 5. ed., p.
340.)

O culto político

O culto à personalidade tem-se repetido também ao longo


da história no relacionamento entre os senhores feudais e seus
vassalos, entre políticos e povo, e entre ditadores e seus
seguidores. Michael Green faz uma relevante observação quanto a
esse fenômeno:

Os fiéis, na verdade, endeusam o líder: ele é supremo e a sua vontade


tem que ser obedecida. De fato, sua posição corresponde quase que
exatamente àquela do imperador romano que exercia completo poder político
sobre o mundo conhecido e era adorado por seus subjugados. Da mesma
forma Hitler declarou ser o emissário do Todo-Poderoso e o fundador do reino
de mil anos. Os nazistas morriam invocando o seu nome, e sua personalidade
era considerada transcendente. O mesmo aconteceu com Mao. Ele não era
apenas um líder; ele era divindade. Ele foi adorado. As pessoas se ajoelhavam
diante dele. Elas recitavam seus pensamentos. Elas acreditavam que ele as
curava através das mãos de um cirurgião. Ele tomou o lugar de Deus.(Michael
Green, I Believe in Satan's Down fall - Creio na queda de Satanás,
Grand Rapids, Michigan, E.U.A., William B. Eerdmans Publishing
Company, 1981, p. 158.)

É impressionante como o homo sapiens do final do século


vinte, que vive rodeado de uma tecnologia avançada, de um saber
multiplicado, ainda se comporta de forma tão ingênua, permitindo
que outros o explorem espiritualmente. A seguir, alguns relatos
bíblicos do culto à personalidade.

Exemplos bíblicos

A moda não é de hoje. No Sermão da Montanha, Jesus


alertou várias vezes sobre aqueles que davam esmolas, oravam e
jejuavam tocando trombeta a fim de serem vistos pelos homens.
Ele chamou tais pessoas de hipócritas (Mt 6:1-18). Assim eram os
escribas e fariseus, que buscavam sempre o louvor do próximo.
Eram eles que praticavam todas as suas boas obras e se vestiam
alargando seus filactérios e alongando a franja de suas roupas
com o fim de serem vistos pelos homens. Amavam também o
primeiro lugar nos banquetes, as primeiras cadeiras nas
sinagogas, gostavam de ser saudados e chamados de mestres
pelos seus semelhantes (Mt 23:5-7).
Jesus não poupou adjetivos ao repreendê-los por tal
atitude, chamando-os de hipócritas, guias cegos, insensatos,
serpentes, raça de víboras e sepulcros caiados, que por fora se
mostram belos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e
de toda a imundícia (Mt 23:13, 16, 27, 33). O Senhor alertou
ainda que, ao fazer o bem, a mão esquerda não venha a saber o
que fez a direita (Mt 6:3), bastando apenas ao Pai ficar sabendo,
pois é ele quem vai dar a recompensa (Mt 6:4).
Sem dúvida, todo cristão deve se envolver em obras sociais
a fim de promover o bem-estar do seu próximo. Por outro lado,
foge completamente aos ensinos da Bíblia quando um grupo
desenvolve uma obra social, como distribuição de cestas básicas
ou qualquer outro tipo de socorro humanitário, e fica o tempo
todo mostrando isso no seu próprio canal de televisão. É o
comportamento dos escribas e fariseus, condenado por Jesus,
repetindo-se atualmente. Por isso, admiro o Exército da Salvação,
que tem, já por décadas, desenvolvido o seu ministério de
socorrer os necessitados sem chamar a mídia para alardear o que
faz.
Um outro exemplo de culto à personalidade pode ser
observado nos eventos que precederam a morte de Herodes. A
Bíblia diz que ele foi aclamado pelo povo e comido de vermes (At
12:21-24). O historiador Flávio Josefo relata que Herodes
programou um festival na cidade de Cesaréia em homenagem a
César. No segundo dia do festival, Herodes apareceu de manhã no
teatro vestido de prata, refletindo um brilho intenso devido aos
raios do Sol. O povo começou então a clamar-lhe:
- Seja misericordioso para conosco; pois embora até hoje
tenhamos te reverenciado apenas como homem, te
consideraremos de agora em diante como superior à natureza
mortal.
Diante disso, o rei não os repreendeu nem rejeitou tal
ímpia adulação. No mesmo instante, ele sentiu uma dor muito
forte no abdome e foi levado para o palácio, onde morreu cinco
dias depois. (Flávio Josefo, Josephus, Antiguidade dos Judeus,
Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Kregel Publications, 1960, Livro
19, capítulo 8.2, p. 412.)
Outro exemplo claro é o de Paulo e Barnabé em Listra. Ali,
um homem aleijado, paralítico desde o seu nascimento, foi curado
depois de ouvir a pregação de Paulo. Quando a multidão viu o que
aconteceu, começou a gritar:
- Os deuses, em forma de homens, baixaram até nós.
A Barnabé chamaram Júpiter, e a Paulo, Mercúrio, deuses
mitológicos. O sacerdote de Júpiter, que tinha um templo em
frente da cidade, trouxe para junto das portas da cidade touros e
grinaldas para, junto com a multidão, fazer um sacrifício em
homenagem aos dois apóstolos (At 14:6-13). Paulo e Barnabé
recusaram de imediato e com veemência a oferta ou qualquer
reconhecimento quanto ao milagre que acabara de acontecer, pois
eram verdadeiros homens de Deus, desprovidos de qualquer
ambição. Mas fico pensando em muitos hoje que não hesitariam
em receber as homenagens, e certamente iriam até mais longe.
Aproveitariam o evento para manipular e explorar ainda mais a
massa.
Há muitos outros relatos bíblicos que mostram o relacionamento
doentio entre uma personalidade e aqueles que lhe prestam
adoração, e o espaço não nos permite expandir mais este assunto.
Entretanto, vale lembrar aqui as palavras de Moisés usadas mais
tarde por Jesus quando foi tentado por Satanás: "Ao Senhor teu
Deus adorarás, e só a ele darás culto" (Dt 6:13 e Mt 4:10).

Nas seitas

O culto à personalidade pode ser amplamente observado


no relacionamento entre líderes de seitas e seus adeptos. A igreja
mórmon, por exemplo, rende louvores ao seu fundador, Joseph
Smith, com o hino 108 do seu hinário oficial, intitulado: Hoje, ao
profeta louvemos.
Os adeptos da seita Moon carregam consigo uma foto do
líder, reverendo Moon, para garantir a proteção dos anjos e do
bom mundo espiritual (revista Mundo Unificado, maio/ junho de
1984, p. 8). As orações no grupo são feitas em nome dos
verdadeiros pais, isto é, reverendo Moon e sua esposa. Já a
Palavra de Deus ensina que as orações devem ser feitas em nome
de Jesus (Jo 14:13, 14). Moon é considerado dentro da seita
como o Senhor do Segundo Advento, o Messias vivo na Terra.
Quanta heresia!
Os adeptos do Tabernáculo da Fé seguem os ensinos de
William Marrion Branham, um controvertido pregador de cura
divina nos Estados Unidos, já falecido. Branham declarou ser o
anjo de Apocalipse 3:14 e 10:7 e que o arrebatamento da Igreja e
a destruição do mundo aconteceriam em 1977. Seus seguidores
gostam de exibir uma foto de Branham tirada em Houston, Texas,
em 1950, em que aparece uma auréola (que mais parece uma
mancha) de luz sobre a sua cabeça, enquanto falava do púlpito.
Depois de falecer, em 1965, seus seguidores acreditavam que ele
ressuscitaria. Alguns de seus discípulos criam ser ele o próprio
Deus, enquanto outros afirmavam que ele havia nascido através
de uma virgem (nascimento virginal). Alguns oravam a ele e
outros batizavam em seu nome.
Branham recebeu muito apoio da Full Gospel Business
Men's Fellowship International (Associação Internacional dos
Homens de Negócios do Evangelho Pleno-Adhonep norte-
americana), mas tal apoio foi se reduzindo à medida que Branham
se tornava cada vez mais controvertido, nos anos 60. Uma das
controvérsias foi o seu ensino conhecido como "a semente da
serpente", onde afirmou que Eva se envolveu sexualmente com a
serpente no Jardim do Éden. (Patrick H.Alexander, Editor,
Dictionary of Pentecostal And Charismatic Movement - Dicionário
dos Movimentos Pentecostal e Carismático, Grand Rapids,
Michigan, E.U.A., Zondervan Publishing House, 1988, p. 95-6.)
(Tal ensino antibíblico é defendido também pela seita do
reverendo Moon.). Diante de tudo isso, é de se estranhar que
alguns líderes pentecostais e carismáticos, como Kenneth Hagin,
Oral Roberts, Benny Hinn e Marilyn Hickey, ainda hoje considerem
ter sido William Branham um grande homem de Deus só por
causa dos milagres em torno de seu ministério.
O culto à personalidade pode ser notado também na igreja
Adventista do Sétimo Dia, onde os ensinos giram em torno das
interpretações bíblicas de sua profetisa, Ellen Gould White. Uma
das provas disso é que todo o candidato ao batismo deve
preencher e assinar um formulário em que declara crer no espírito
de profecia e já ter lido alguns livros da senhora White. Para os
adventistas, ela possui o espírito de profecia, sendo assim a única
capaz de interpretar as Escrituras de forma correta e confiável. Se
alguém recusar a autoridade de Ellen White não poderá ser um
adventista do Sétimo Dia. Tanto na igreja do Tabernáculo da Fé
quanto na igreja Adventista do Sétimo Dia, os livros de William
Branham e de Ellen White são colocados numa posição de
igualdade com a Bíblia Sagrada.
Um dos exemplos mais chocantes dos perigos que cercam
o culto à personalidade pôde ser verificado no grupo chamado
Ramo Davidiano, de David Koresh, em Waco, Texas, Estados
Unidos. Em abril de 1993, o FBI cercou por vários dias o rancho
onde Koresh e seu grupo estavam reunidos, enquan
to a sociedade acompanhava apreensiva os fatos pela mídia e
aguardava com ansiedade um final feliz. Infelizmente, tal não
aconteceu. Depois de perceberem que a polícia estava prestes a
fazer uma invasão, Koresh e seu grupo preferiram transformar em
chamas o rancho da seita e morrer do que entregar-se ao FBI. No
dia 19 de abril de 1993, entre 75 e 85 pessoas morreram,
incluindo aproximadamente 25 crianças. Nove pessoas
sobreviveram.
Por que isso aconteceu? O que ou quais cincunstâncias
levaram um grupo de homens e mulheres a obedecer cegamente
um líder, mesmo até a morte? Naturalmente são muitos fatores,
que, por falta de espaço, não serão tratados aqui. Entretanto,
seria interessante conferir o relato de dois autores sobre o caráter
megalomaníaco de Koresh, algo relacionado com o assunto do
nosso capítulo:

No seu cartão pessoal estava impresso "Messias" e ele é citado como


tendo declarado em inúmeras ocasiões: "Se a Bíblia é verdade, então eu sou o
Cristo". Alguns acreditaram nele. Ele foi capaz de convencer os maridos a
entregar-lhe suas esposas, famílias a entregar-lhe dinheiro e filhos. Seu estilo
de vida paradisíaco permitiu-lhe viver da renda dos outros. Em 19 de abril de
1993, havia quase cem pessoas dispostas a morrer com ele pela promessa de
uma vida no céu após a mortes. (Tobias, L. Madeleine & Lalich, Janja,
Captive Hearts, Captive Minds - Corações Cativos, mentes Cativas,
Alameda, CA, E.U.A., Hunter House, 1994, p. 81.)

As lições duras e amargas, não apenas de David Koresh e


Jim Jones (que no fim de 1978 levou mais de 900 pessoas ao
suicídio coletivo, na Guiana), estão aí para quem delas quiser tirar
proveito. E quem dera que tragédias como essas nunca mais se
repetissem!

Na Igreja

O culto à personalidade pode ser encontrado também onde


menos se deveria: na Igreja cristã. É óbvio que não estou
insinuando que tal fenômeno acontece na Igreja com a mesma
intensidade e impiedade que nas seitas, como nos exemplos
citados acima. Por outro lado, mesmo com uma intensidade
menor, e provavelmente sem o perigo de levar ao extermínio de
pessoas, ele não deveria ocorrer de modo algum. Estou ciente
também de que todos os citados aqui negarão veementemente tal
procedimento e afirmarão que não existe em seu grupos qualquer
exaltação do ser humano, que seu alvo é glorificar apenas a Deus.
Lamentavelmente, as práticas de muitos grupos demonstram o
contrário. Muitos estão pegando carona no louvor e adoração a
Deus.
Esse é o caso de Jorge Tadeu, fundador e líder das igrejas
Maná em Portugal e que já esteve várias vezes no Brasil. Ele se
autodenomina Apóstolo e escreve cartas semanais aos seus
pastores com o título de "St." (São) Jorge Tadeu. Um dos pastores
dissidentes garante: "Hoje, a palavra de Jorge Tadeu na igreja
Maná é equiparada à Palavra de Deus". (Revista Visão, Lisboa,
Portugal, 10 de fevereiro de 1994, p. 56.)
O culto à personalidade aparece também na igreja
Universal do Reino de Deus, fundada por Edir Macedo. Tenho
verificado pessoalmente que quase todos os pastores da
Universal, tanto os que pregam nas igrejas quanto os que
aparecem na televisão, são fiéis imitadores de Macedo. Os
mesmos gestos, as mesmas entonações de voz, e muitas vezes,
as mesmas expressões, tais como: "Sim ou não, pessoal?", "É ou
não é, pessoal?" e "Amém, pessoal?".
Muitas vezes, o fato de ser imitado não é culpa do líder.
Muitos de nós gostamos de ter os nossos heróis, de ter um
modelo a seguir, e até um certo ponto isso é bom. O apóstolo
Paulo até aconselhou: "Sede meus imitadores, como também eu
sou de Cristo" (1 Co 11:1). O escritor aos Hebreus também
admoestou: "Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos
pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim
da sua vida, imitai a fé que tiveram" (Hb 13:7). Assim, somos
encorajados a imitar, principalmente, a fé desses irmãos, e não
sua entonação de voz ou gestos.
Tenho observado que muitos irmãos tornam-se fãs tão
ardorosos dos líderes evangélicos mais conhecidos que começam
a idolatrá-los, passando a imitar-lhes a voz, as expressões
peculiares, os mesmos chavões e os gestos. Muitas vezes, isso
pode revelar o resultado de um crescimento espiritual nada
saudável de alguns crentes. Mesmo o rev. Caio Fábio ou o Dr.
Russell Shedd, que estão longe de promover tal comportamento
ou buscar tal tipo de reação dos seus ouvintes, têm sido cultuados
por vários dos que os acompanham ao longo dos anos. Creio que
esses homens de Deus ficariam constrangidos se chegassem a
constatar tais fatos.
É incrível também a pressa com que alguns líderes
evangélicos, ministérios e igrejas tratam de explorar a fama de
algum astro do futebol ou do mundo artístico. Basta alguém
acenar com uma conversão e o novo convertido (se é que houve
uma conversão genuína) já estará diante de um grande auditório
num ginásio, num estádio ou numa igreja. A pessoa ainda nem
conhece o básico da fé cristã, ainda não abandonou por completo
a velha vida (em muitas igrejas isso já nem é mais preciso), nem
teve qualquer crescimento espiritual e já é promovido à posição
de pregador e ungido do Senhor. Infelizmente o que tem
acontecido é que, logo depois dos testemunhos e de todo o
barulho provocado por tal celebridade, surgem fracassos e fatos
embaraçosos, trazendo vergonha e desonra para o Evangelho. É
preciso mais cuidado.

Exemplos saudáveis

Quando Naamã, comandante do exército do rei da Síria, foi


a Israel em busca de Eliseu para ser curado de sua lepra,
esperava ser bajulado pelo profeta de Deus. Para garantir uma
recepção honrosa pelo homem de Deus, Naamã levou consigo
dinheiro e presentes. O plano falhou. Eliseu nem saiu de casa para
cumprimentá-lo. Enviou-lhe um mensageiro dizendo: "Vai, lava-te
sete vezes no Jordão, e a tua carne será restaurada, e ficarás
limpo" (2 Rs 5:10). Contrariado, Naamã foi, lavou-se no Jordão e
foi curado de sua lepra. Em gratidão, voltou à casa do profeta e,
com insistência, ofereceu-lhe presentes. Eliseu recusou,
mostrando assim que um verdadeiro homem de Deus não busca a
glória humana e não faz comércio com o poder e a Palavra do
Senhor (2 Rs 5). Ao contrário de Eliseu, lamentavelmente, muitos
líderes evangélicos hoje não hesitam em bajular políticos na busca
de favores e de explorar, para benefício próprio, qualquer
oportunidade que se lhes apresenta.
João Batista é um outro exemplo a ser seguido. Ele poderia
ter bajulado a realeza, mas não o fez. Depois de anunciar a vinda
do Messias, denunciou o pecado de Herodes e Herodias, e foi por
isso preso e decapitado (Mc 6:17-29). Em lugar de buscar seu
bem-estar e autopromoção, ele declarou a respeito de Jesus:
"Convém que ele cresça e que eu diminua" (Jo 3:30). Que Deus
nos dê a mesma atitude de coração de João Batista e o mesmo
sentimento que houve também em Cristo Jesus (Fp 2:5).
Quando Pedro dirigiu-se à casa de Cornélio para anunciar-
lhe a Palavra de Deus, foi recebido com muita pompa. A Bíblia diz
que Cornélio recebeu o apóstolo e, prostrando-se aos seus pés, o
adorou. Mas Pedro recusou a adoração e, levantando Cornélio,
disse-lhe: "Ergue-te, que eu também sou homem" (At 10:26). Até
mesmo um anjo recusou ser adorado por João na sua visão de
Patmos (Ap 19:10 e 22:8). Na segunda vez, o anjo disse-lhe: "Vê,
não faças isso; eu sou conservo teu, dos teus irmãos, os profetas,
e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus" (Ap
22:9).
Seria ridículo o jumento que carregou Jesus na sua entrada
triunfal em Jerusalém pensar (isto é, se ele pudesse pensar) que
as pessoas que estendiam suas vestes e ramos no caminho, por
onde ele passava, o faziam por causa dele, e não por causa de
Jesus. Seria ridículo ele pensar que toda aquela aclamação fosse
por causa dele, e não por causa do Senhor. Da mesma forma,
seria totalmente impróprio achar que, por causa do nosso carisma
e habilidade, as coisas acontecem no Reino de Deus. Por esta
razão, a Palavra de Deus nos exorta: "...porque Deus resiste aos
soberbos, contudo aos humildes concede a sua graça. Humilhai-
vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em
tempo oportuno, vos exalte" (1 Pe 5:5, 6). O profeta Miquéias
acrescenta ainda: "Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que
é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça e
ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus?"
(Mq 6:8).
Meu professor de Evangelismo e Missões no seminário, Dr.
Christy Wilson, contou certa vez que Sadu Sundar Singh, o místico
da índia, o apóstolo dos pés sangrentos, chegou um dia a uma vila
e alguém lhe perguntou:
- Você é Jesus?
Sadu respondeu:
- Não, é claro que não. Eu sou apenas o jumento de Jesus.
Eu levo Jesus a todo o lugar que vou. Que Deus nos ajude
a fazer o mesmo!
Não escrevi este capítulo como alguém isento de tais
problemas ou livre de todas as tentações nessa área. Por esta
razão, preciso ser continuamente lembrado pelo Espírito Santo
que, por mais que o vaso seja usado, ele continua sendo de barro.
Bem escreveu o apóstolo Paulo ao comentar sobre o ministério
cristão: "Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que
a excelência do poder seja de Deus e não de nós" (2 Co 4:7). A
Deus toda a glória!

4 - Milagres e seus abusos

Sempre que um cristão defende a fé cristã e apresenta o


cristianismo como a melhor opção de vida para o ser humano, o
tema milagre será inevitavelmente mencionado. Isso acontece
porque a Palavra de Deus, desde o princípio até o fim, relata uma
grande quantidade de eventos miraculosos. A simples existência e
sobrevivência da Bíblia ao longo dos séculos já se constitui num
milagre. E por mais simples que venha a ser a forma de
compartilhar com alguém as boas-novas de salvação, quem o faz
certamente falará dos milagres de Jesus. Seu nascimento virginal,
seu poder sobrenatural para curar os enfermos, ressuscitar os
mortos, dominar as forças da natureza e sua própria ressurreição.
É impossível falar de Cristo sem falar em milagres.
O Dicionário Aurélio define milagre como um feito ou ocor-
rência extraordinária, que não se explica pelas leis da natureza.
Dentro do contexto religioso, milagre é qualquer manifestação da
presença ativa de Deus na história humana (p. 923).
A Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã comenta
de forma muito interessante:

Ao contrário do mundo moderno, o mundo antigo não tinha suspeita


dos milagres. Eles eram considerados uma parte normal da vida, embora um
pouco extraordinária. Era típico do povo antigo acreditar não apenas que os
poderes sobrenaturais existiam, mas que também intervinham nos assuntos
humanos. Os milagres, portanto, não constituíam um problema para os
primeiros cristãos, quando estes procuravam explicar sua fé e relacioná-la com
a cultura a seu redor. (WalterA. Elwell, Enciclopédia Histórico-Teológica da
Igreja Cristã (Edições Vida Nova, 1990), p. 516.)

É lamentável que exista tanta confusão doutrinária no seio


da Igreja atualmente e que a questão dos milagres jogue mais
lenha ainda na fogueira. Desta forma, torna-se indispensável
aproximar-se do assunto com muito cuidado, a fim de evitar dois
possíveis perigos: um é o ceticismo, isto é, a rejeição total de
qualquer possibilidade de os milagres acontecerem hoje. O outro
é a disposição descontrolada e irresponsável de se crer em tudo o
que aparece, sem qualquer critério de avaliação por parte dos que
orbitam em torno dos milagres. Dos dois, o último é o que mais
tem gerado controvérsia nos circulos pentecostais, carismáticos,
ou renovados e avivados.
Não é o nosso propósito apresentar aqui um tratado sobre
milagres, por mais atraente que seja o assunto. Também não está
em questão se os milagres podem acontecer ou não, pois creio
em milagres. Creio no poder de Deus e que o Senhor pode fazer
hoje o que fez há dois mil anos atrás. O alvo da atenção aqui não
são os milagres, mas os abusos em torno deles; oferecerei
algumas sugestões para proteger o Corpo de Cristo dos
transtornos que tais abusos têm gerado entre os crentes
atualmente.
Reconheço que tais transtornos às vezes são causados por
pregadores bem-intencionados, que querem ver o poder de Deus
em ação e ajudar os que sofrem. Por outro lado, há também
aqueles que são mestres em explorar e manipular a boa-fé do
público, muitas vezes, infelizmente, por amor ao dinheiro. A
exemplo de outras distorções doutrinárias, várias aberrações
relacionadas com os milagres de hoje são importadas da América
do Norte. Outras surgiram por aqui mesmo, como veremos a
seguir.

Dentes de ouro

As comentadas obturações em ouro parecem ser um


fenômeno tipicamente brasileiro. Não há notícia de que tenha
acontecido em outros países e, se aconteceu, não foi com a
mesma intensidade ou repercussão como no Brasil. Há
informações de que tais fatos também ocorram em centros de
macumba, mesmo antes de aparecerem em muitas igrejas
evangélicas. Em 1° de dezembro de 1992, o jornal Diário da
Manhã, de Goiânia, publicou uma carta do pai-de-santo Firmino
Salles de Lima, dirigida à redação do jornal, na qual ele relata que
o fenômeno dos dentes de ouro apareceu primeiro na vida da
mãe-de-santo Guilhermina de Morais da Rocha, em Salvador,
Bahia, em 1985. Outros adeptos do culto afro receberam depois a
mesma "graça", atribuindo o milagre aos orixás.
Apesar de a onda dos dentes de ouro já estar passando, o
fenômeno causou bastante controvérsia e dividiu a opinião dos
crentes no país. Enquanto um líder evangélico anunciava que
havia recebido obturações de ouro, outro da mesma denominação
alertava o seu rebanho:
- Se alguém aqui receber, avisem-me para eu expulsá-lo da
igreja, pois isso é coisa do diabo.
A Igreja Universal do Reino de Deus posicionou-se aber-
tamente contra qualquer possibilidade de alguém receber dentes
de ouro.
Acredito que Deus tem poder para dar dentes de ouro a
quem ele quiser e não sou eu ou qualquer outra pessoa quem vai
impedi-lo. Ele mesmo disse em sua Palavra: "Agindo eu, quem o
impedirá?" (Is 43:13). Pode até ser que alguém tenha de fato
recebido algo sobrenatural de Deus ou que tenha havido alguma
intervenção angelical nesse aspecto. Mas que o assunto gerou
polêmica, isso gerou. E não apenas polêmica, mas abusos
também.
Pregadores de cura divina começaram a ir para os cultos
com lanterna e espelho para examinar os dentes das pessoas nas
reuniões noturnas, já induzindo ou sugestionando, assim, o
público a receber o tal milagre. Outros orientavam o povo para
que colocassem suas mãos em posição de receber, porque, após
sua oração, cairia uma chuva de ouro do céu. É o que chamamos
de "culto do garimpo". Já não é mais necessário ir até Serra
Pelada garimpar, pois muitos pregadores de cura divina passaram
a garantir o ouro em suas reuniões.
Admito ser difícil fazer uma avaliação a contento da
situação, e o motivo principal disso é o fato de eu não ser
dentista. Este foi o problema também nos círculos onde tais
fenômenos foram alardeados. É óbvio que muitos pregadores que
anunciaram a ocorrência de tais milagres e as pessoas que
disseram ter recebido dentes de ouro não estavam em condições
de fazer uma avaliação técnica do fenômeno. Como leigos, não
poderiam chegar a conclusões sobre algo relacionado com a
odontologia, desprovidos do conhecimento científico necessário
para analisar o assunto ou saber se o fenômeno realmente
aconteceu.
Observe o comentário do dentista evangélico Osiel Cocareli
num artigo publicado na revista Ultimato. Ele e outros colegas de
profissão examinaram vários casos dos chamados dentes de ouro
e verificaram que a maioria deles não provava que houve um
milagre. Apenas um caso não foi esclarecido a contento, pois o elo
de ligação entre a pessoa que dizia ter recebido o ouro em seus
dentes e o seu dentista mais antigo foi perdido. Em outras
palavras, o dentista que poderia ter dado uma palavra final sobre
o assunto não foi localizado. Osiel acrescenta: "Todos os casos
que nos chegaram às mãos já haviam sido ‘diagnosticados’ por
leigos e indevidamente ‘autorizados’ como milagre por pessoas no
mínimo desqualificadas tecnicamente para fazê-lo. E quando nos
chegam, vêm muitas vezes já sugestionadas, porque alguém lhes
garantiu o milagre". (Revista Ultimato (julho de 1993), p. 29.)
Para que o leitor entenda melhor a importância da
verificação objetiva do milagre, tome por exemplo, um paciente
de Aids. Às vezes acontece de um aidético ir a um culto, alguém
orar por ele, decretar a sua cura e imediatamente anunciar que
Jesus já o curou. O lamentável é que, alguns meses depois, a
igreja é obrigada a celebrar o seu funeral. Ora, isso não traz glória
alguma para Deus.
Como pode um pregador afirmar que alguém foi curado de
Aids se ele mesmo não está em condições de fazer a avaliação no
momento ou depois da oração? É preciso avaliar toda a
documentação e informações recomendadas pela medicina para
verificar se o que foi curado realmente era portador do vírus da
Aids e não de algum outro vírus (como de hepatite, por exemplo).
Depois de constatado que o paciente realmente foi portador do
HIV, é preciso fazer e avaliar todos os exames num período de
tempo exigido pela medicina para constatar que a pessoa ficou
completamente livre do vírus. Aí, sim, pode-se anunciar a cura e
certamente o nome do Senhor será grandemente glorificado.
Cabem aqui as palavras do Senhor Jesus: "...sede, portanto,
prudentes como as serpentes e símplices como as pombas" (Mt
10:16).
Com o arrefecimento da onda dos dentes de ouro, só Deus
sabe o que vai aparecer ainda em alguns segmentos evangélicos,
ávidos por novidades e incapazes de se contentar apenas com a
Palavra de Deus. Que Deus nos guarde!

Sensacionalismo

No afã de demonstrar o poder Deus e produzir milagres,


muitos pregadores partiram para o sensacionalismo, empregando
métodos suspeitos e nada ortodoxos em suas atuações.
Aparentemente funciona muito bem, pois nada atrai mais uma
certa parcela dos evangélicos hoje em dia do que as aberrações
produzidas em nome do Evangelho e interpretadas como
manifestações do poder de Deus. A maioria desse sensacionalismo
vem da América do Norte e é imitada com sucesso por muitos no
Brasil. Quando se fala neste assunto, o primeiro nome que vem à
tona é o de Benny Hinn, que tem influenciado muitos no Brasil,
tanto pessoalmente quanto através de seus livros. Foi com Benny
Hinn que vários brasileiros aprenderam a arte de soprar, de jogar
o paletó e de derrubar as pessoas.
Não há qualquer base bíblica que justifique o ato de Benny
Hinn jogar o paletó sobre as pessoas a fim de derrubá-las. Vi
Benny fazer isso várias vezes em suas campanhas tanto aqui
quanto nos Estados Unidos. Ele já foi até repreendido por seus
amigos nos Estados Unidos devido às suas atuações exageradas.
Um deles lhe disse que Deus o chamou para pregar o Evangelho e
não para apresentar espetáculos (veja o capítulo Depois do
SuperCrentes).
O único exemplo no Novo Testamento de alguém soprando
sobre outros é o de Jesus quando aparece para os discípulos
depois da ressurreição. João narrou assim: "E, havendo dito isto,
soprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo" (Jo
20:22). O verbo soprar que aparece neste versículo
(enephysesen, no grego) é empregado de forma semelhante pela
Septuaginta (a versão grega do Antigo Testamento) no livro de
Gênesis: "Então formou 0 SENHOR Deus ao homem do pó da
terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem
passou a ser alma vivente" (Gn 2:7). Um erudito da Bíblia
comenta de forma interessante sobre a relação entre esses dois
versículos:

Deus formou o homem do pó da terra e "soprou nele" o fôlego de vida


para que ele se tornasse um ser vivo. Jesus "soprou" sobre os discípulos o
sopro da nova criação que lhes deu vitalidade espiritual. Ao primeiro homem foi
dada a responsabilidade da criação material. Mas aos discípulos, a
responsabilidade pela nova criação. (Frank E. Gaebelein, The Expositor's Bible
Commentary - Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Zondervan Publishing House,
vol. 9, 1981, p. 193-4.)

Assim, pode ser observado na Bíblia que é somente Deus e


não o homem quem sopra, não existindo portanto qualquer
instrução bíblica para se soprar sobre as pessoas a fim de
derrubá-las.

O fenômeno de cair

Um outro modismo religioso largamente praticado e


incentivado entre os neopentecostais e carismáticos é o de cair,
mencionado ironicamente por alguns como o "movimento do cai-
cai". No inglês, é conhecido como "Slain in the Spirit" (Morto no
Espírito). Este fenômeno foi verificado nos Estados Unidos através
do ministério de Maria B. Woodworth-Etter por volta do ano de
1885. Ela mesma relata que muitos ímpios e escarnecedores
foram os primeiros a cair debaixo do poder de Deus. (Patrick H.
Alexander, Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements (Grand
Rapids, Michigan, E.U.A., Zondervan Publishing House, 1988), p. 789-90.)
Depois dela, muitos outros pregadores seguiram tal prática, como
Kathryn Kuhlman (de quem Benny Hinn aprendeu), Kenneth
Hagin e muitos outros. Tal fenômeno, disseram e dizem eles, é
produzido pelo poder do Espírito Santo.
Várias passagens da Bíblia são citadas, tanto do Antigo
quanto do Novo Testamento, para defender o ritual de cair no
Espírito. Não há condições de analisar todas aqui, mas vamos às
mais comuns.
Balaão é lembrado por muitos que tentam defender tal
prática, pois a Bíblia diz que ele caiu em êxtase (Nm 24:4).
Entretanto, não se pode esquecer de que Pedro se referiu a
Balaão como alguém que amou o prêmio da injustiça e perverteu
o caminho do Senhor (2 Pe 2:15). Judas fala daqueles que caíram
no erro de Balaão (Judas 11). Na carta à igreja de Pérgamo, a
referência que o Senhor faz sobre Balaão não é nada
recomendável: "Tenho, todavia, contra ti algumas cousas, pois
que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual
ensinava Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para
comerem cousas sacrificadas aos ídolos e praticarem a
prostituição" (Ap 2:14). Foi Balaão quem levou o povo de Israel a
prostituir-se em Baal-Peor (Nm 25:13 e 31:16). Balaão é tido na
Bíblia como um adivinho e foi morto pelo exército do Senhor como
inimigo de Israel (Js 13:22). Assim, a experiência de Balaão não
deve servir de exemplo para qualquer cristão.
Um outro episódio é o de Saul na casa dos profetas em
Ramá, quando profetizou diante de Samuel e esteve nu, deitado
em terra durante um dia inteiro e uma noite inteira (1 Sm 19:23,
24). Quanto a esse incidente, a NIV Study Bible (Bíblia de Estudos
Nova Versão Internacional, p. 405), comenta: "Saul ficou tão
prostrado pelo poder do Espírito de Deus ao ponto de ser
impedido de levar adiante a sua intenção de tirar a vida de Davi".
O registro bíblico informa que Saul já havia-se rebelado contra
Deus quando viveu essa experiência. O texto diz ainda que Saul
ficou nu. Ora, se essa passagem for usada para ensinar que o
fenômeno de cair no Espírito deve ser um procedimento normal
no ministério cristão, por que as pessoas não ficam nuas também?
Outra passagem é a de 2 Crônicas 5:14, que relata sobre a
dedicação do templo de Salomão: "...de maneira que os
sacerdotes não podiam estar ali para ministrar, por causa da
nuvem, porque a glória do SENHOR encheu a casa de Deus".
Quando se compara esta passagem com outras semelhantes nas
Escrituras (tais como Êx 40:34, 35 e Ap 15:8), torna-se claro que
a presença de Deus era tão intensa que os sacerdotes não podiam
entrar no templo. Não há portanto aqui qualquer base para se
instituir tal prática na Igreja.
São usados também os textos que falam dos profetas
Ezequiel (1:28; 3:23; 44:4) e Daniel (8:17, 18), em que, devido à
manifestação da glória do Senhor, caíram com seus rostos em
terra. Entretanto, quando acontecia tal manifestação na Bíblia, ela
era geralmente acompanhada de temor, reverência e atitude de
adoração. Num dos eventos, a Bíblia diz que os homens que
estavam com Daniel sentiram muito medo, fugiram e se
esconderam (Dn 10:7).
Há alguns exemplos de pessoas que caíram por causa da
manifestação do poder de Deus no Novo Testamento. Um deles
aconteceu no monte da transfiguração. Ao ouvir a voz que veio da
nuvem, os discípulos caíram sobre seus rostos com grande medo
(Mt 17:5, 6). Quando ia para Damasco com o intuito de perseguir
os cristãos, Saulo de Tarso foi subitamente envolvido por uma
forte luz, caiu por terra e ouviu uma voz que lhe dizia: "Saulo,
Saulo, por que me persegues?" (At 9:3, 4 e 26:14). Pode ser que
o medo e o fato de serem inesperadamente envolvidos por uma
luz mais resplandecente que o Sol tenha provocado a queda de
Paulo e dos que o acompanhavam. Mas certamente não é por
causa de uma luz como essa que as pessoas estão caindo nas
reuniões de Benny Hinn e de alguns movimentos pentecostais e
carismáticos.
Mesmo no dia de Pentecostes, quando houve uma
poderosa manifestação do Espírito Santo através de um vento
impetuoso e línguas de fogo pousando sobre os discípulos, não há
qualquer informação de que eles tenham caído, pois os discípulos
estavam assentados (At 2:1-4).
O arrebatamento de Paulo mencionado em 2 Coríntios
12:1-4 também é usado para dar legitimidade ao fenômeno de
cair. Mas o relato bíblico aqui nada diz sobre cair. Pode ser que tal
fato tenha ocorrido quando ele foi apedrejado e tido como morto
em Listra (At 14:19, 20).
Por último, vem o exemplo de João na ilha de Patmos,
quando o Senhor ressurreto lhe apareceu. João descreve assim o
que lhe aconteceu: "Quando o vi, caí a seus pés como morto.
Porém ele pôs sobre mim a sua mão direita, dizendo: Não temas;
eu sou o primeiro e o último" (Ap 1:17). Esse relato de João é
muito parecido com o de Daniel (Dn 10:9). Além de cair, João
sentiu medo, pois o Senhor lhe disse: "Não temas". As pessoas
que estão caindo, como dizem, pelo poder de Deus, estão tendo
visões como João e Daniel? É certo que não.
Na Inglaterra, a repórter de um jornal foi levada a cair no
Espírito muito contra a sua vontade. Ela não era crente e nem se
tornou crente após a experiência. (Sword & Trowel (Londres, Inglaterra,
Metropolitan Tabernacle, n. 3, 1994), p. 2.) Ora, não existem na Bíblia
exemplos de um homem derrubando o outro. Sempre que o
fenômeno acontecia, era o próprio Deus provocando o fenômeno
ou causando-o através de um anjo (Mt 28: 24). Um outro fato que
não deve ser esquecido é que toda vez que a Bíblia relata de
homens que passaram por tal experiência, ela foi acompanhada
de reverência, temor e adoração, e eles sempre caíram sobre seus
rostos, bem diferente das experiências que acontecem nos
círculos neopentecostais e carismáticos, onde as pessoas caem
para trás.
As Escrituras dão a entender no livro de Isaías que são os
ímpios que caem para trás: "...ao qual disse: Este é o descanso,
dai descanso ao cansado; e este é o refrigério; mas não quiseram
ouvir. Assim, pois, a palavra do SENHOR lhes será preceito sobre
preceito, preceito e mais preceito; regra sobre regra, regra e mais
regra; um. pouco aqui, um pouco ali; para que vão, e caiam para
trás, e se quebrantem, se enlacem, e sejam presos" (Is 28:12,
13).
O mesmo pode ser observado no Novo Testamento quando
João narra a prisão de Jesus: "Sabendo, pois, Jesus todas as
cousas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se e perguntou-
lhes: A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus, o Nazareno.
Então Jesus lhes disse: Sou eu. Ora, Judas, o traidor, estava
também com eles. Quando, pois, Jesus lhes disse: Sou eu,
recuaram e caíram por terra" (Jo 18:4-6). O texto diz que os que
vieram prender Jesus recuaram e caíram. Isso não provocou
qualquer mudança neles. Ao contrário, prosseguiram com a prisão
de Jesus. Já Mateus fala que os guardas que vigiavam o túmulo
de Jesus tremeram espavoridos e ficaram como se estivessem
mortos devido ao terremoto causado pelo anjo que removeu a
pedra do túmulo de Jesus (Mt 28:2-4).
Há ainda o relato sobre Ananias e Safira, os quais caíram
mortos por um castigo de Deus diante do apóstolo Pedro (At 5:5,
10). O fato causou tanta comoção que muitos evitaram envolver-
se com os discípulos (At 5:13). Já pensaram se a experiência de
Ananias e Safira se repetisse hoje com a mesma freqüência com
que se sopra, joga o paletó e se "cai no Espírito"? Seria uma
tragédia. Ainda bem que o nosso Deus, o Deus da Bíblia, é muito
bom!
Alguns tentam relacionar o "cair no Espírito" com os
fenômenos ocorridos nos avivamentos passados nas reuniões de
João Wesley, na Inglaterra, e de Jonathan Edwards, Charles
Finney e outros, nos Estados Unidos. Contudo, Alan Morrison
mostra que há uma diferença entre o fenômeno que ocorre hoje e
os ocorridos nos avivamentos dos séculos 18 e 19:

Os fenômenos daquela época ocorreram como resultado da poderosa


pregação da cruz baseada na Bíblia, de um senso esmagador do pecado do
homem diante de um Deus infinitamente santo, do chocante reconhecimento
da iminente realidade da punição eterna no inferno e de um desejo
desesperado de livrar-se da chama ardente do juízo de Deus. Nos verdadeiros
avivamentos, qualquer "cair no Espírito" que tenha ocorrido foi resultado de um
sentimento de horror ao pecado e tristeza causada a um Deus todo-poderoso -
certamente uma experiência que ninguém gostaria que se repetisse consigo
mesmo. (Alan Morrison, folheto intitulado Falling For The Lie - Caindo para a
Mentira. Londres, Inglaterra, Diakrisis Publications, The Manse, Market Place).)

E ainda que haja ocorrido tais fenômenos nos avivamentos


passados, eles não estão acima da autoridade bíblica e nem
servem de base para se estabelecer regras de fé e prática na
Igreja. Que a Bíblia seja a única a ditar normas quanto a questões
espirituais, e não as experiências vividas por terceiros.
Perguntei a alguém por que as pessoas nessas reuniões
caem para trás e não com o rosto em terra, como na Bíblia. A
explicação que recebi foi que caindo assim tornava-se mais fácil
para os que ficam por trás segurá-la no momento da ministração.
Mas por que as pessoas caem? J. Lee Grady, diretor editorial da
revista Charisma, uma revista que promove o movimento
carismático e neopentecostal nos Estados Unidos, acredita que
Deus pode realmente tocar alguém de forma sobrenatural.
Concordo com ele. Por outro lado, Grady reconhece que existe
uma outra razão para tal fenômeno e explica:

Trata-se de um comportamento aprendido, uma tradição transmitida


pelos precursores pentecostais, como Maria Woodworth-Etter, e pelos
evangelistas de cura divina, como a badalada Kathryn Kuhlman. No ministério
de Woodworth-Etter no Meio-Oeste, pelo final do século 19, as pessoas que
caíam pelo poder de Deus eram consideradas como estando debaixo de uma
profunda convicção de pecado. Quando os carismáticos caem no Espírito,
entretanto, raramente têm a ver com tal convicção. (J. Lee Grady, What
Happened to the Fire - O Que Aconteceu com o Fogo? Grand Rapids, Michigan,
E.U.A., Chosen Books, 1994), p. 121.)

O próprio J. Lee Grady compartilha seu testemunho pessoal


que mostra muito bem alguns problemas oriundos de tal prática:

Muitas vezes eu fiquei em pé numa fila de pessoas esperando para um


evangelista pentecostal ungir-me ou orar pela cura. Em quase todos os casos, o
pregador colocava sua mão suada na minha testa e começava a me empurrar
para trás. Como eu me recusava a ceder e cair nos braços dos pegadores, o
evangelista me repreendia brandamente, dizendo: "Não resista ao Espírito".
Quando tornava-se claro que eu não iria me juntar aos meus amigos no chão,
ele se dirigia para o próximo à minha esquerda e começava a orar por ele,
empurrando-o gentilmente, até que ele caísse. Tenho observado também
evangelistas derrubando as pessoas no chão através da força bruta, atingindo-
os na testa.

Apesar de muitos textos bíblicos serem usados na tentativa


de se provar a legitimidade de tal fenômeno, o próprio Dictionary
of Pentecostal and Charismatic Movements (Dicionário do
Movimento Pentecostal e Carismático) reconhece que a Escritura
não oferece qualquer apoio ao fenômeno como algo a ser
esperado ou buscado na vida cristã normal (p. 790). O Dicionário
acrescenta ainda: "A evidência para o fenômeno de ‘cair no
Espírito’ é, portanto, inconclusiva. Do ponto de vista experimental,
é inquestionável que, através dos séculos, os cristãos têm
experimentado um fenômeno psicológico no qual as pessoas
caem; além disso, elas têm atribuído o fenômeno a Deus. É
igualmente inquestionável que não existe qualquer evidência
bíblica para a experiência como algo normal na vida cristã" (p.
791).
Reconheço que Deus tem poder para tocar alguém hoje de
tal forma que a pessoa venha a cair. De modo algum sou contra a
verdadeira manifestação do poder de Deus. Esta não me preocupa
nem um pouco, pois quanto mais, melhor. O que realmente me
preocupa são os abusos gerados em torno de tal prática. Estes
trazem mais transtornos e divisões para o Corpo de Cristo do que
edificação espiritual.
Passemos agora à última novidade a atingir os evangélicos
nos últimos meses, popularmente conhecida como a "unção do
riso" ou a "bênção de Toronto".

A unção do riso

A última novidade a atingir o corpo de Cristo é a "unção do


riso". É conhecida também como a "bênção de Toronto", a
"gargalhada sagrada" e a "unção de Isaque". Além de alguns
grupos pentecostais, isso tem afetado, na América do Norte e
Europa, outros grupos denominacionais também como menonitas,
batistas, nazarenos, metodistas e anglicanos. A revista Charisma
fala de uma igreja católica em Londres onde seus membros
começaram a dar gargalhadas espontaneamente e que a
gargalhada continua a se espalhar como um fogo descontrolado
pela Inglaterra. (9. Revista Charisma (outubro de 1994), p. 82.)
Muitos crêem que a unção do riso tenha começado na
igreja Airport Vineyard (A Vinha ou Videira do Aeroporto),
localizada numa área industrial perto do aeroporto Lester B.
Pearson, na cidade de Toronto, no Canadá. O ministério Vineyard
é hoje um conglomerado de igrejas fundado e liderado por John
Wimber, com sede em Anaheim, Califórnia, nos Estados Unidos.
Wimber ganhou notoriedade devido a um curso controvertido
intitulado Signs and Wonders (Sinais e Maravilhas) que ele
ensinou juntamente com Peter Wagner no seminário teológico
Fuller, na Califórnia.
Naturalmente não se pode negar a importância da igreja de
Toronto na propagação e exportação de tal prática para várias
cidades dos Estados Unidos (Anaheim, Atlanta e Saint Louis) e
outros países como Inglaterra, Nova Zelândia, Cingapura, Hong
Kong, Brasil e muitos outros lugares. Apesar disso, há indícios de
que tal coisa já tenha ocorrido antes, porém numa escala muito
menor. A revista The Word of Faith (A Palavra da Fé), do
ministério de Kenneth Hagin, por exemplo já havia mencionado o
assunto em novembro de 1992, mostrando muitas fotos de
pessoas rindo profusamente (p. 14). Algo parecido acontecia de
vez em quando nas reuniões de Kathryn Kuhlman. Outros acham
que este movimento tem algo a ver com Benny Hinn, pastor do
Centro Cristão de Orlando, na Flórida, ou Edgar Silvoso e Claudio
Freidzon, da Argentina.
Sem dúvida, ninguém alcançou maior destaque no atual
movimento denominado "avivamento do riso" do que Rodney
Howard-Browne, um evangelista da África do Sul. Rodney Browne
se intitula o barman do Espírito Santo, o distribuidor do vinho
novo e, apontando para Atos 2:13, convida as pessoas: "Venham
e tomem um drink no bar do Joel" (referindo-se ao profeta Joel).
(George Wood, The Laughing Revival (O Reavivamento do Riso)
(BoonvilleAvenue, Springfield, MO 65802, manuscrito não publicado, 1445), p.
1, 6.) A revista Charisma informa que ele nasceu em 12 de junho
de 1961, filho de pais pentecostais em Porto Elizabete, na África
do Sul. Rodney cresceu numa atmosfera banhada pela oração e
aos cinco anos de idade entregou sua vida a Cristo. Três anos
depois foi batizado com o Espírito Santo. Mais tarde, ele mudou-se
para Joanesburgo onde conheceu Adonica, com quem se casou e
com quem teve três filhos. Nessa época abriu uma igreja. Depois
ele tornou-se um pastor associado da igreja Rema de Joanesburgo
por um período de dois anos. (Revista Charisma (agosto de 1994), p. 22-
3.)
Em 1987, mudou-se para os Estados Unidos, país onde tem
realizado reuniões de avivamento desde que ali chegou. Mas foi
na primavera de 1993 que a fama lhe bateu à porta depois que
um pastor da Assembléia de Deus, Karl Strader, de Lakeland, na
Flórida, o convidou para pregar em sua igreja por uma semana.
Foi um estouro. Browne estendeu as reuniões por quatro semanas
e a multidão encheu os dez mil lugares do santuário. Dali em
diante não parou mais.
A revista Christian Research Journal (inverno, 1995, p. 5, 6,
43-45) informa que, em 1993, Randy Clark, pastor de uma das
igrejas do movimento Vineyard, em Saint Louis, Estado de
Missouri, participou de uma conferência de Howard-Browne na
escola bíblica de Kenneth Hagin em Tulsa, Estado de Oklahoma.
Randy sentiu-se transformado depois que Howard-Browne orou
por ele. Na ocasião, ele experimentou sinais e maravilhas e levou
a "unção" de volta para sua igreja, onde o fenômeno continuou a
se repetir. Algum tempo depois, John Arnott, pastor da Airport
Vineyard, em Toronto, ficou sabendo da experiência de Randy e o
convidou para dar uma conferência de quatro dias ali, com início
em 20 de janeiro de 1994. As manifestações verificadas na
ocasião, como gargalhadas, cair no Espírito e embriaguez no
Espírito, foram tão poderosas que aquela igreja em Toronto
começou a fazer reuniões seis vezes por semana.
Desde então, cerca de dez mil pessoas, incluindo seis mil
pastores, já estiveram ali para buscar a bênção. Os vôos de
Londres para Toronto têm saído muitas vezes lotados. Uma
importante igreja carismática anglicana em Londres, a Holy Trinity
Brompton (Igreja da Santa Trindade de Londres), foi sacudida por
tais manifestações ao ponto de chamar a atenção da mídia na
Inglaterra. Gene Preston, pastor da Union Church (Igreja da
União), em Hong Kong, explica: "Os cristãos ingleses estão ávidos
por encorajamento, não importa de que fonte". (Christian Century (16
de novembro de 1994), p. 1068.) De qualquer fonte? Essa é uma
postura extremamente perigosa.
As manifestações relacionadas com este movimento
incluem gargalhadas, cair no Espírito, passar tempo no carpete (to
do carpet time) e emitir sons produzidos por animais tais como
urrar como leão e latir como cachorro. George Wood relata
Há exemplos dos avivamentos passados e da história da Igreja em que
manifestações peculiares, tais como gargalhada, caracterizaram pessoas sobre
as quais o Espírito Santo vinha com grande alegria. Entretanto, tais relatos
incluíam tanto o choro como o riso. Os defensores da gargalhada erram ao citar
as explosões de riso nos avivamentos passados para justificar a onda atual do
riso. 0 que eles sempre deixam de perceber é que tais gargalhadas nos
avivamentos aconteceram com a minoria e não com a maioria, sendo a exceção
e não a regra de comportamento. (George O. Wood, The Laughing Revival (O
Reavivamento do Riso) (manuscrito não publicado).)

O programa Fantástico, da Rede Globo, levou ao ar uma


reportagem no dia 16 de abril de 1995 em que mostrou o
desenrolar de um culto na igreja Vineyard, de Toronto. As cenas
foram grotescas. As pessoas riam histérica e descontroladamente
enquanto rolavam no carpete. Um homem se arrastava pelo chão,
urrando como um leão. É claro que não há qualquer base bíblica
para alguém produzir tais sons inspirado pelo Espírito Santo. O
próprio John Wimber já admitiu o seguinte: "Eu diria que não
existe qualquer base bíblica ou teológica para o fenômeno. Não
encontro um lugar no Novo Testamento onde Jesus ou os
apóstolos tenham encorajado tal fenômeno. Portanto, penso que
esse tipo de coisa deve ser colocado na categoria do ‘não bíblico’
e do ‘exótico’” (John Wimber Responds to Fenomena, 1 A)
(Resposta de John Wimber aos Fenômenos, 1A).
Alguns citam Isaías 5:29 para defender o urro: "O seu
rugido é como o do leão; rugem como filhos de leão, e, rosnando,
arrebatam a presa, e a levam, e não há quem a livre". Mas isso
aqui é uma metáfora. A própria diretoria da Vineyard publicou
uma declaração sobre isso no Board Report (Relatório da
Diretoria, setembro/outubro de 1994, p. 1) afirmando: "As
metáforas bíblicas (semelhantes àquelas relacionadas com um
leão ou uma pomba etc.) não justificam nem fornecem qualquer
prova textual para comportamento animal". E ainda tem mais. As
pessoas que usam Isaías 5:29 para defender o urro do leão
usariam também Isaías 40:31, "sobem com asas como águias",
literalmente para tentar sair voando? Acho que não!
Para justificar a "unção do riso sagrado", seus defensores
citam Gênesis 18:12, em que Sara riu depois de ouvir do
mensageiro celestial que ela iria ter um filho. Entretanto, esta
passagem nada tem a ver com gargalhada santa. Além disso, Sara
riu de incredulidade, uma atitude nada recomendável para o
cristão. Outro texto é o Salmo 126:1, 2: "(guando o SENHOR
restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha. Então a
nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua de júbilo; então
entre as nações se dizia: Grandes cousas o SENHOR tem feito por
eles". Este texto fala da alegria dos judeus que estavam cativos e
que agora estavam voltando a Jerusalém e não serve de
justificativa para os abusos produzidos pelo avivamento do riso.
Outras passagens como Provérbios 17:22, Eclesiastes 3:4, João
17:13 e Filipenses 4:4 são freqüentemente trazidas à tona para
defender a gargalhada sagrada. Entretanto, tais passagens e
muitas outras usadas pelos "profetas do riso" não oferecem o
apoio bíblico que eles atribuem ao fenômeno.
Howard-Browne estava pregando sobre o inferno para
quatro mil alunos na Universidade Oral Roberts quando uma
ruidosa gargalhada atingiu o auditório, envolvendo a multidão.
Quanto mais ele descrevia o inferno aos ouvintes, mais eles riam.
(Revista Charisma (agosto de 1994), p. 24.) Há o relato de um outro
pastor que, enquanto pregava a respeito do juízo de Deus sobre o
pecado de Ananias e Safira (Atos 5), a multidão ria
incontrolavelmente. Tais reações são bem diferentes daquela
manifestada após a pregação de Pedro no dia de Pentecostes:
"Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e
perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos,
irmãos?" O verbo compungir (katenugesan) tem o sentido de ferir,
dar uma forte ferroada, usado para definir emoções dolorosas,
que penetram o coração como um aguilhão. (Fritz Rienecker/ Cleon
Rogers, Chave Lingüística do Novo Testamento Grego (São Paulo, SP, Ed. Vida
Nova, 1980), p. 197.) Diante da Palavra de Deus pregada
poderosamente por Pedro, o clima criado foi de reverência e
temor a Deus e não de gargalhadas histéricas.
Não posso imaginar Moisés aproximando-se da sarça
ardente e caindo na risada após a ordem do Senhor para que
tirasse as sandálias de seus pés, pois o lugar em que estava era
sagrado (Êx 3:5). Como imaginar Isaías dando gargalhadas diante
da visão do Senhor assentado num trono alto e sublime, quando
nem os serafins ousavam olhar para a glória de Deus? Ao
contrário, cobriam seus rostos com suas asas. Isaías sentiu-se
indigno e como que perecendo (Is 6:1-5). Impossível também
imaginar Paulo morrendo de rir no caminho de Damasco, quando
interpelado pelo Senhor e envolvido por uma luz muito forte (At
9:1-5).
Stephen Strang, editor fundador da revista Charisma, conta
uma experiência que viveu ao lado de Rodney HowardBrowne:

Quando participei de um culto em Lakeland, Rodney convidou-me para


cumprimentar a igreja. Quando disse ao auditório que estava feliz de voltar à
cidade onde havia crescido, todos começaram a rir histericamente. Eles riam
mais ainda de qualquer coisa que eu dizia, embora eu não estivesse tentando
ser engraçado. Fiquei muito confuso. Devolvi o microfone ao Rodney e sentei-
me. (Revista Charisma (agosto de 1994), p. 102.)

Há informações de que muitas vezes um preletor está


ministrando a Palavra de Deus e todos estão ouvindo com
atenção, mas de repente alguém explode numa gargalhada, outro
faz o mesmo, e depois outro, até que o auditório todo passa a rir
histericamente. Em seguida, as pessoas começam a rolar pelo
chão, uns chorando, outros urrando e outros ainda latindo. Se
alguém questiona, recebe a seguinte explicação: "É que a pessoa
acabou de receber o espírito do Leão da Tribo de Judá, por isso
está urrando assim". Entretanto, ninguém explica a que se refere
o latir como cachorro. Assim, um ambiente que deveria ser
propício à pregação e ao estudo da Palavra de Deus é
transformado numa arca de Noé ou num jardim zoológico. Não
creio que isto glorifique a Deus.

A cola do Espírito Santo

Rodney Browne fala também sobre a cola do Espírito Santo.


Em seu livrete Manifesting The Holy Ghost (Manifestando o
Espírito Santo), ele declara:
A cola do Espírito Santo. Quando isso aconteceu, eu
observei uma mulher no chão rindo incontrolavelmente. Depois
ela começou a chorar e a falar em outras línguas. Ela estava
deitada de costas, sob o poder de Deus, com as mãos estendidas
acima da cabeça. Ela estava colada no chão. Ficou deitada lá
desde o meio-dia até às 13h30m embriagada no Espírito. Às
13h30m, tentou levantar-se. Ela queria levantar-se. Tudo o que
ela pôde fazer foi agitar as mãos. Assim, ela ficou ali, agitando-se,
agitando-se, agitando-se, agitando-se. Ela disse: "Não posso
levantar-me. Estou colada no chão". Os recepcionistas nos
disseram mais tarde que às 18h a mulher conseguiu levantar-se
do chão. Depois, ela levou mais uma hora para engatinhar do
centro da igreja até à parede lateral. Ela havia ficado colada no
chão por seis horas. Então eu disse: ‘Traga o fogo, Deus! Faça o
que o Senhor quiserem minhas reuniões. Cole as pessoas no
chão, no telhado, nas paredes - ou em qualquer lugar’. (Citado no
The Quarterly Journal, do Personal Freedom Outreach (outubro/dezembro de
1994), vol. 14, n. 4.)

Para justificar tais fatos, Rodney Browne faz declarações


que incomodam (ou que pelo menos deveriam incomodar)
qualquer cristão equilibrado. Eis uma delas: "Enquanto alguma
coisa estiver acontecendo, na verdade não importa se é de Deus,
do homem ou do diabo. Eu prefiro estar numa igreja onde o diabo
e a carne se manifestam do que estar numa igreja onde nada
acontece, pois as pessoas são medrosas demais para manifestar
qualquer coisa. Toda vez que há um mover de Deus, algumas
pessoas ficam entusiasmadas, exageram e ficam na carne. Outras
não gostam, dizendo que não pode ser de Deus. Não se preocupe
com isso também. Alegre-se de que pelo menos alguma coisa
esteja acontecendo". Que Deus nos guarde e nos dê
discernimento para filtrar o que é do homem, rejeitar tudo o que é
do inimigo e abraçar com amor e humildade tudo o que é do
Espírito de Deus.
É óbvio que os cristãos são livres para serem alegres e
felizes, para sorrirem e darem gargalhadas de situações
engraçadas e do cômico saudável. Se há um povo na Terra que
deve ser feliz e demonstrar esta alegria é o povo de Deus,
herdeiro das riquezas da graça e da glória. Entendo também que a
alegria não é uma opção na vida do cristão, mas uma
recomendação da Palavra de Deus (Fp 4:4). Por outro lado, não
há base bíblica para se atribuir ao Espírito Santo a prática de
gargalhadas histéricas que perturbam a ordem do culto de
adoração a Deus. A "cola" do Espírito Santo e as declarações de
Rodney Browne são informações extrabíblicas que tal movimento
tem criado e por essa razão devem ser rejeitadas à luz da Palavra
de Deus.
Do jeito que as coisas estão caminhando, daqui a pouco
vamos ter conferências para alguém receber a unção da pasta de
figo (2 Rs 20:7), a unção da saliva ou do lodo (Jo 9:6), a unção da
sombra de Pedro (At 5:15) e muitas outras. Tais atos, praticados
por Isaías, pelo Senhor Jesus e por Pedro não se tornaram
normas para a Igreja primitiva e nem houve entre os discípulos
quem procurasse repetir essas experiências. Devemos, pois,
respeitar a soberania de Deus em tais situações ou épocas e não
achar que ele é obrigado a fazer sempre o que queremos,
principalmente quando não temos base bíblica para isso.
Muitos desses abusos, como soprar para derrubar as
pessoas, a gargalhada sagrada, a cola do Espírito Santo e outros,
têm sido reproduzidos por muita gente no Brasil.

Falcatruas

Ao longo dos séculos, a Igreja do Senhor sempre teve que


lutar contra os poderes das trevas e contra os falsos ensinos. Para
piorar ainda mais a situação, surgiu, nas últimas décadas, o
televangelismo, uma verdadeira plataforma que muitos têm usado
para introduzir desvios doutrinários, abusando do nome e da
Palavra de Deus. Reconheço que não são todos os televangelistas
que fazem isso. Existem aqueles que são sinceros e fazem um
bom trabalho, que realmente glorifica o Senhor. São sal da terra e
luz do mundo. Para outros, entretanto, o sucesso e o dinheiro
devem ser produzidos a qualquer custo, nem que seja por meios
desonestos. O Senhor Jesus disse que haveria escândalos:
"...porque é inevitável que venham escândalos, mas ai do homem
pelo qual vem o escândalo" (Mt 18:7). Quando isso acontece, o
Evangelho sofre grande prejuízo. Que o Senhor tenha misericórdia
de nós!
No afã de conquistar grandes multidões, alguns,
infelizmente, foram longe demais, tornando-se mestres em
manipular as pessoas e enganar as multidões. Note, por exemplo,
o caso de Peter Popoff, que se apresentava como um ungido de
Deus, possuidor dos nove dons do Espírito e contrabandista de
Bíblias para os países da cortina de ferro. Popoff deslumbrou as
multidões em suas cruzadas pelos Estados Unidos, dando a
entender que os milagres e revelações aconteciam através da
palavra do conhecimento (1 Co 12:8).
A reunião chegava ao seu clímax quando Peter Popoff
começava a apontar as pessoas, mencionando seus nomes e
endereços completos, seus problemas físicos e, muitas vezes, até
os nomes dos médicos com quem estavam se tratando, como se
estivesse recebendo tais informações diretamente de Deus. Popoff
informava as pessoas que eram apontadas no meio da multidão
que elas estavam sendo curadas de suas enfermidades naquele
momento. O deslumbramento era total. Uma mulher da
Pensilvânia testemunhou publicamente numa de suas cruzadas:

Cerca de seis semanas atrás, eu não o conhecia. E por acaso, eu


liguei no seu programa de TV Não digo que foi "por acidente",
pois foi obra de Deus. E eu disse: "Será que isso é verdade? Será
que este homem sabe os nomes e endereços?"Assisti a uns três
ou quatro programas e fiquei sabendo que você viria a Pittsburgh.
Então eu disse: "Bem, na verdade, eu nunca acreditei nisso, mas
acho que tenho que ir e ver". E hoje, quando você mencionou o
meu primeiro e último nome, a rua onde eu moro, o número e o
endereço, eu quero dizer, creiam, gente, Deus é real! Oh! Deus é
real! Aleluia! (James Randi, The Faith Healers - Os Curadores da Fé. Muffalo,
Nova Iorque, E.U.A., Prometheus Books, 1989), p. 149.)

Popoff fez isso em muitos lugares e por um bom tempo. Eu


mesmo tenho amigos nos Estados Unidos que viviam me falando
sobre a forma extraordinária como Deus "usava" este homem.
Mas um dia a máscara caiu e toda a farsa foi descoberta. Em
fevereiro de 1986, ele foi exposto publicamente num programa de
entrevistas de Johnny Carson, transmitido pela rede NBC de TV
(algo parecido com o programa do Jô Soares, no SBT). Ficou
provado que Peter Popoff conseguia e passava todas aquelas
informações com a ajuda da eletrônica e não de Deus.
Tudo veio à tona quando um grupo de pessoas nos Estados
Unidos desconfiou de tanto poder espiritual e resolveu investigar
os "milagres". Durante uma cruzada, um do grupo aproximou-se o
suficiente de Popoff e conseguiu ver um pequeno aparelho no seu
ouvido. Restava agora descobrir de onde partiam as informações.
Foi então preciso continuar freqüentando as reuniões para se
saber a fonte. Não demorou muito e o grupo, munido de
equipamentos eletrônicos, interceptou a comunicação entre Peter
Popoff e sua esposa Elizabeth. Ela conversava com as pessoas
antes de começar as reuniões e, depois, transmitia as informações
para seu marido. Antes do início da cruzada, numa certa noite, o
grupo conseguiu ouvir a seguinte transmissão de Elizabeth para
Popoff:
- Alô, Petey. Eu te amo. Estou falando com você. Você
pode me ouvir? Se não pode, você está encrencado, porque estou
falando. Tão bem quanto eu posso falar. Estou verificando os
nomes agora mesmo. Esqueci-me de perguntar. Você vai pregar
primeiro ou ministrar primeiro? Alô! Eu te amo!"
O Deus da Bíblia, um Deus onipotente, não precisa desse
tipo de ajuda. Depois de ser desmascarado, Peter Popoff colocou
a culpa no diabo, dizendo que ele estava querendo destruir o seu
ministério. Sem dúvida, um ministério assim merecia mesmo
acabar.
Peter Popoff não foi o único a abusar da unção. W. V
Grant, famoso televangelista de cura divina nos anos 70 e 80,
também atuava de forma muito parecida com a de Peter Popoff.
Os milagres mais comuns de suas cruzadas consistiam no
alongamento de uma perna mais curta do que a outra, revelação
dos nomes, endereços e tipos de enfermidade das pessoas no
auditório. Mas Grant não usava a mesma sofisticação eletrônica de
Popoff.
A câmera escondida da rede de TV ABC nos Estados Unidos
flagrou Grant e sua equipe circulando informalmente entre as
pessoas do auditório antes de começar a reunião, escolhendo a
dedo os que seriam apontados naquela noite e perguntando sobre
suas vidas pessoais, suas finanças e doenças, fazendo uma
anotação cuidadosa daquilo que Grant usaria depois como se os
dados lhe tivessem sido revelados pelo Espírito Santo. (Christian
Research Journal (outono de 1994), p. 8.)
Há também aqueles que, apesar de não usarem
equipamentos eletrônicos ou fazerem anotações prévias sobre as
pessoas, sabem muito bem manipular os presentes através de
"revelações". As "revelações" são proferidas, geralmente, num
ambiente com centenas de pessoas, mais ou menos assim: "Há
alguém aqui esta noite e seu nome é Jorge. Jorge está com um
problema de saúde e Deus vai curá-lo agora. Ontem ele
encontrou-se com uma pessoa com o nome tal num certo lugar e
esta pessoa lhe disse muitas coisas". Na ocasião, é dito o nome da
doença, o nome da pessoa com quem Jorge se encontrou, o que
esta pessoa lhe disse e o endereço do local onde se encontraram.
Qual é o problema dessa "revelação" acima? Ora, o
problema é que em muitas igrejas ou ministérios onde isso ocorre,
tais "revelações" nunca são verificadas. Ninguém verificou se de
fato havia alguém no auditório com o nome de Jorge (num
ambiente com centenas de pessoas poderia haver alguém com
esse nome), se o problema de saúde citado está correto, se o
Jorge foi de fato curado e se estão corretas todas as informações
transmitidas ali por "revelação" por um determinado pregador ou
pastor. Não, não há cuidado quanto a tal verificação. As pessoas
batem palmas logo após este tipo de "revelação" e as
manipulações, infelizmente, continuam.

O profeta Benny Hinn

No ano passado, Benny Hinn esteve na cidade de


Philadelphia, Estados Unidos, onde ele supostamente "curou" o
campeão dos pesos pesados do boxe, Evander Holyfield, de seus
problemas cardíacos. Holyfield foi induzido (sutilmente
pressionado) por Hinn a doar 265 mil dólares ao seu ministério.
Primeiro, quando Hinn pediu que as pessoas contribuíssem com
mil dólares para ajudar nas despesas da cruzada, Holyfield
levantou sua mão. Em seguida, Benny Hinn passou a pressioná-lo
para doar 100 mil dólares e quando isso funcionou, o induziu a
doar 265 mil dólares. O jornal Philadelphia Inquirer informa que
quando Holyfield concordou em doar os 265 mil dólares para o
ministério, Hinn orou para que Deus lhe devolvesse a bênção,
ajudando-o a retornar ao boxe para ganhar 200 milhões de
dólares.
Benny Hinn não parou aí. Disse ainda a Holyfield que a sua
futura esposa seria encontrada no culto daquela manhã, pois ele
tinha cinco filhos que precisavam de uma mãe. Em seguida, Hinn
se ofereceu para celebrar o casamento. (Philadelphia Inquirer(12 de
junho de 1994), p. B1 e 135.) Como em toda a profecia, o tempo dirá
se um profeta falou ou não em nome do Senhor.
Quanto a Benny Hinn, ainda não acabou. Quando esteve no
Brasil, em março de 1994, ele não perdeu a oportunidade de
abusar dos dons espirituais ao profetizar na igreja Renascer, na
Av. Lins de Vasconcelos, em São Paulo. Era uma quarta-feira, dia
16 de março de 1994, quando Hinn proferiu a seguinte profecia:

O Deus Todo-Poderoso está me dizendo que esta cidade de


São Paulo vai se dobrar ao nome de Jesus. Aleluia!
Eu vou profetizar algo para vocês. Eu sei isto pelo Espírito.
O Corpo de Cristo nesta cidade verá a destruição de poderes
satânicos nesta cidade. Vocês verão isto. Vocês verão isto. Vocês
verão isto.
Nos próximos seis meses, vocês verão uma mudança no
governo de seres espirituais. Vocês vão ver uma mudança no
governo espiritual desta cidade. O Deus Todo-Poderoso vai fazer
você vencer o príncipe desta cidade. Há um príncipe do mal sobre
esta cidade. Há um príncipe demoníaco sobre esta cidade, e o
Corpo de Cristo, pelo poder do Espírito, vai derrubá-lo. Vocês
verão isto acontecer. Vocês verão isto acontecer. A atmosfera
espiritual desta cidade vai começar a mudar em seis meses. Vocês
verão isto acontecer. Eu falo isto pelo Espírito.
Para provar-lhes que estou falando pelo Espírito - Sim,
Senhor! Jesus, eu te louvo! -, há em sua cidade uma mulher
muito conhecida. Não tenho estado na cidade, portanto não a
conheço. Uma mulher muito conhecida, que mora nesta cidade e
tem enfeitiçado milhares de pessoas. Ela mora nesta cidade. Ela
tem enfeitiçado pessoas. Ela tem enfeitiçado alguns de seus
líderes políticos. Ela será brevemente removida. E o Espírito Santo
vai começar a mover nesta cidade por causa de vocês. Por causa
do Corpo de Cristo. Desde o governo até em baixo. Vocês verão
líderes políticos na sua cidade nascidos de novo. Nascidos de
novo. Aleluia! Você vê, suas mentes têm sido cegadas. Deus
brevemente vai remover esta cegueira. E quando isso acontecer,
vocês verão muitos deles nascidos de novo.
Lembrem-se, eu lhes falei isso. Hoje, quarta-feira, março,
dia 16. Hoje eu lhes disse isso. Lembre-se disso agora. Isso vai
acontecer. E tudo vai começar em seis meses. Vai começar em
seis meses. O processo vai começar em seis meses. E daqui a dois
anos, vocês olharão para trás e dirão: Deus tem feito grandes
coisas.
Vocês vão ler sobre a morte desta mulher nos jornais. Eu
não sei quem ela é, nunca ouvi o seu nome e nem nunca pensei
sobre ela. Alguns de vocês talvez a conheçam. Talvez não. Ela é
uma pessoa muito influente nesta cidade. Você vai ler sobre isto
nos jornais. Deus vai removê-la. E quando isto acontecer, este
pastor [referindo-se ao pastor Estevam Hernandes], Deus vai usá-
lo para ser uma influência poderosa sobre os líderes políticos
nesta nação. Não falei nesta cidade, mas nesta nação. Deus vai
usar este pastor para influenciar líderes nesta nação. Marquem
minhas palavras. Não é Benny Hinn quem está falando. Assim diz
o Senhor! (Fitas de áudio nos arquivos da AGIR. O autor transcreveu esta
profecia de Benny Hinn muitas vezes diretamente do inglês e não através do
intérprete.)

Hinn concluiu dizendo que, se isso não acontecesse, os


pastores não precisariam mais convidá-lo para ministrar no Brasil.
Achei estranho Hinn proferir tal profecia sobre a morte desta
mulher. Não seria melhor e mais bíblico orar pela sua conversão?
Imaginem o efeito fantástico que tal testemunho provocaria!
Bem, esta profecia de Benny Hinn não se cumpriu e a Bíblia
é muito clara quando isto acontece. Veja a instrução que Moisés
deu ao povo de Israel quando o profeta profetizava e não se
cumpria: "Se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra
que o SENHOR não falou? sabe que quando esse profeta falar, em
nome do SENHOR, e a palavra dele se não cumprir nem suceder,
como profetizou, esta é palavra que o SENHOR não disse; com
soberba a falou o tal profeta: não tenhas temor dele" (Dt 18:21,
22). Em outras palavras, não tenha respeito por ele.
Apesar de Hinn ter profetizado falsamente, continuará
sendo convidado por muitas pessoas, que certamente já se
esqueceram do fato e nem se preocuparam em verificar se a
profecia se cumpriu ou não. Com certeza a obra de Deus clama
por mais seriedade.
Embora não tenham acontecido no Brasil abusos de dons
espirituais com a mesma sofisticação que na América do Norte,
práticas bastante questionáveis continuam ocorrendo em alguns
círculos considerados evangélicos no nosso país. Um autor
informa a seu público que Deus tem um banco de órgãos no céu.
Ao orar por uma pessoa enferma, ela cai num sono profundo. Em
seguida, o pregador faz um corte simbólico, mas, segundo ele,
muito real na dimensão do Espírito. Depois ele retira o órgão
danificado e ministra outro novo e perfeito, que busca no banco
de órgãos que Deus tem para seu povo.
Observe o que este autor comenta sobre Sara, esposa de
Abraão:

Jeová Rafá, de maneira extraordinária, contrariando todos os princípios


lógicos do homem, retirou de Sara em sua velhice seus órgãos reprodutores
(útero, ovários e trompas) e, do banco de órgãos que Ele tem no céu, repôs a
Sara novo útero, ovários e trompas. Desta forma, o Senhor que nos cura
concedeu a Abraão e a Sara a graça de serem pais de Isaque. (Bráulio
Gusmão, Cirurgia Divina (Belo Horizonte, MG., Ministério da Fé Apostólica,
1993), p. 20, 23, 27.)
É óbvio que não foi desta forma que Sara concebeu e nem
se encontram na Bíblia as afirmações feitas aqui sobre Sara.
Infelizmente tem mais. Em alguns cultos faz-se ainda o uso
de enxofre, óleo ungido, rosa ungida, fogueira santa, sal ungido,
copo d'água em cima do rádio ou da TV e uma variedade enorme
de símbolos e objetos para estimular o fiel a adorar ou a contribuir
financeiramente. Tudo isso é bem o contrário do que o Senhor
Jesus disse à mulher samaritana: "Mas vem a hora, e já chegou,
quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e
em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus
adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o
adorem em espírito e em verdade" (Jo 4:23, 24). Assim, a
adoração bíblica, pura e simples, não deve estar atrelada a um
rosário de símbolos ou objetos.

Falsos milagres

Mas a manifestação do sobrenatural não é exclusividade


apenas dos evangélicos, pois os milagres acontecem em toda a
parte. Mesmo as seitas ou grupos que promovem e defendem
doutrinas falsas insistem que seus ensinos são verdadeiros e
provenientes de Deus, porque entre eles acontecem curas e
outros milagres. O próprio Jesus alertou que os falsos profetas
também seriam capazes de fazer grandes sinais: “porque surgirão
falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios
para enganar, se possível, os próprios eleitos. Vede que vo-lo
tenho predito” (Mt 24:24, 25). Nesse caso, não questionamos os
milagres, mas a fonte deles. Agora, quem os fez e por que
acontecem é algo que precisa ser verificado à luz das Escrituras.
A Bíblia não nega que Satanás tem poder, ao contrário,
reconhece o seu poder. Observe as palavras do Senhor a Paulo:
"para lhes abrir os olhos e convertê-los das trevas para a luz e da
potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles
remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela
fé em mim" (At 26:18). Observe que o texto fala sobre o poder de
Satanás. O apóstolo Paulo também transmitiu à Igreja algo muito
importante sobre as habilidades de Satanás: "E não é de admirar,
porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é
muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em
ministros de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras" (2
Co 11:14, 15). Assim, se alguém colocar um preço na sua alma, o
inimigo estará disposto a pagar por ele. Se é de uma cura, ou de
uma mudança de situação ou circunstancia que a pessoa precisa
para que ela nunca venha a ter um encontro de salvação com
Jesus, o inimigo poderá prover tais coisas.
Moisés deixou a fórmula para o povo de Israel verificar
quando um profeta havia ou não falado em nome do Senhor. Se o
sinal acontecesse, era um profeta verdadeiro. Se não acontecesse,
era um profeta falso. O problema é quando o falso profeta fala e o
que ele diz se cumpre. Veja a astrologia, por exemplo. Ela tem
uma porcentagem de acerto. Até os magos de Faraó no Egito,
apesar de não conseguirem fazer todos os milagres, fizeram
muitos deles. Como resolver isto?
Creio que a Palavra de Deus pode esclarecer isto a
contento outra vez através de Moisés: "Quando profeta ou
sonhador se levantar no meio de ti, e te anunciar um sinal ou
prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de que te houver
falado, e disser: Vamos após outros deuses - que não conhecestes
- e sirvamo-los, não ouvirás as palavras desse profeta ou
sonhador; porquanto o SENHOR vosso Deus vos prova, para saber
se amais o SENHOR vosso Deus de todo o vosso coração, e de
toda a vossa alma" (Dt 13:1-3). O versículo 2 mostra a
possibilidade de o milagre acontecer, mesmo através de um falso
profeta.
As vezes alguém recebe uma bênção de Deus
independente da pessoa que está ministrando. Isso acontece
porque a pessoa em necessidade crê na Palavra de Deus, tem fé
suficiente para ser atendida, como o homem aleijado em Listra:
"Em Listra costumava estar assentado certo homem aleijado,
paralítico desde o seu nascimento, o qual jamais pudera andar.
Esse homem ouviu falar Paulo, que, fixando nele os olhos e vendo
que possuía fé para ser curado, disse-lhe em alta voz: Apruma-te
direito sobre os pés. Ele saltou e andava" (At 14:8-10). Outras
vezes, a pessoa é atendida porque o nome de Jesus é invocado, e
o nome de Jesus tem poder em si mesmo.
Vale a pena introduzir aqui a opinião de Robert Bowman
sobre esse assunto:

Ao afirmar que os falsos mestres podem produzir alguns milagres


aparentes, não estou dizendo que todos os milagres relacionados com doutrinas
falsas são do diabo. Talvez nem sempre sejamos capazes de afirmar se são
ocorrências genuinamente espirituais - em que casos eles devem ser atribuídos
aos poderes demoníacos, ou não. Os milagres falsos podem ser truques
realizados por charlatães, ou podem ser de fato curas de problemas
psicossomáticos. Além disso, existe a possibilidade de que Deus possa curar
alguém que ouviu uma doutrina falsa mas não entendeu o seu significado e
cuja fé estava no Deus verdadeiro e no seu poder. Não é extremamente
importante que sempre sejamos capazes de fazer tais julgamentos. 0
importante é que não cometamos o erro de pensar que a ocorrência de
milagres aparentes coloca um endosso divino em tudo ensinado pelo líder
religioso envolvido em tais milagres. (Robert M. Bowman, Jr., Orthodoxy And
Heresy (Ortodoxia e Heresia) (Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Baker Book
House, 1992), p. 39.)

Assim, milagre não é diploma de bom comportamento e


nem prova da aprovação de Deus quanto ao ministério de alguém.
O povo de Israel viu tantos milagres no Egito e no deserto e
mesmo assim irritou ao Senhor, de tal maneira que apenas dois
deles, dos que saíram do Egito, entraram em Canaã: Josué e
Calebe. O Senhor Jesus também alertou sobre isso no Sermão do
Monte: "Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor!
porventura não temos nós profetizado em teu nome, e em teu
nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos
muitos milagres? Então lhes direi explicitamente: Nunca vos
conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade" (Mt
7:22, 23).
A atitude do cristão diante do sobrenatural não deve ser de
incredulidade, mas de cautela, e alguns critérios devem ser
levados em consideração. Primeiro, além de proporcionar o bem-
estar, o alívio e fortalecer a fé dos envolvidos na bênção, o
milagre deve servir principalmente para a exaltação do nome do
Senhor, e para expandir o seu reino na Terra, e não para
promover o homem. Infelizmente, há aqueles que não hesitam
em tirar proveito de qualquer ocorrência aparentemente
sobrenatural na busca de reputação e de status, aproveitando, ao
mesmo tempo, a oportunidade para manipular financeiramente as
pessoas.
Segundo, é importante avaliar se os ensinos em torno do
milagre estão de acordo com a Bíblia Sagrada. Muitos líderes
defendem suas doutrinas falsas usando as palavras de Jesus no
Sermão do Monte: "Acautelai-vos dos falsos profetas que se vos
apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos
roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis (...) Assim toda
árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos
maus" (Mt 7:15-17). Dizem eles: Olhem os nossos frutos. E
passam a falar das obras sociais e de caridade que praticam
(coisas que um cristão de fato deve praticar), do rigoroso código
de ética que adotam, além de outras obras que podem
impressionar.
Sem dúvida, Jesus está falando, aqui, dos profetas falsos,
da árvore má, em contraste com os profetas verdadeiros, a árvore
boa. Deve-se levar em consideração que a tarefa principal do
profeta de Deus, na Bíblia, não era praticar obras de caridade,
obras sociais, construir asilos, mas falar a Palavra de Deus. Assim,
ao analisar o fruto da árvore, isto é, do profeta, torna-se
imprescindível verificar se o que ele fala ou ensina e a vida que
ele vive estão de acordo com a Palavra de Deus. Se estiver, a
árvore é boa, e trata-se de um verdadeiro profeta de Deus. Se
não estiver, cuidado, pois trata-se de profeta falso, de lobo
disfarçado em ovelha. Para seu próprio bem, afaste-se dele.
Por último, é importante verificar se o milagre levou
alguém a um conhecimento salvifico do Senhor Jesus Cristo, se
alguém ou as pessoas envolvidas passaram a ter, como resultado
de uma demonstração sobrenatural do poder de Deus, um
relacionamento de amor com Deus através de Jesus
Cristo. Este, sim, é o maior e o mais fantástico de todos os
milagres.
5 - O evangelho da maldição

Uma das distorções doutrinárias mais difundidas entre o


povo de Deus ultimamente é o ensino das "maldições
hereditárias", conhecido também como "maldição de família" ou
"pecado de geração". Estes conceitos circulam bastante através da
televisão, rádio, literatura e seminários nas igrejas. Muitos líderes,
ministérios e igrejas, antes sólidos e confiáveis, acabaram
sucumbindo a mais esse ensino controvertido e importado dos
Estados Unidos.
Os pregadores da maldição afirmam que se alguém tem
algum problema relacionado com alcoolismo, pornografia,
depressão, adultério, nervosismo, divórcio, diabete, câncer e
muitos outros, é porque algum antepassado viveu aquela situação
ou praticou aquele pecado e transmitiu tal pecado ou maldição a
um descendente. A pessoa deve então orar a Deus a fim de que
lhe seja revelado qual é a geração no passado que o está
afetando. Uma vez que se saiba qual, pede-se perdão por aquele
antepassado ou pela geração revelada e o problema estará
resolvido, isto é, estará desfeita a maldição.
Marilyn Hickey, autora norte-americana e que já esteve
várias vezes no Brasil em conferências da Adhonep (Associação de
Homens de Negócios do Evangelho Pleno), promove
constantemente este ensino. Note suas palavras:

Se você ou algum de seus ancestrais deu lugar ao diabo, sua família


poderá estar sob a "Maldição Hereditária", e esta se transmitirá a seus filhos.
Não permita que sua descendência seja atingida pelo diabo através das
maldições de geração. Os pecados dos pais podem passar de uma a outra
geração, e assim consecutivamente. Há na sua família casos de câncer,
pobreza, alcoolismo, alergia, doenças do coração, perturbações mentais e
emocionais, abusos sexuais, obesidade, adultério? Estas são algumas das
características que fazem parte da maldição hereditária nas famílias. Contudo,
elas podem ser quebradas! (Marilyn Hickey, Quebre a Cadeia da Maldição
Hereditária (Rio de Janeiro, Adhonep, 1988, contracapa).)

Um dos textos bíblicos mais usados pelos pregadores da


maldição hereditária para defender este ensino é Êxodo 20:46:
"Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma
do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas
águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto;
porque eu sou o SENHOR teu Deus, Deus zeloso, que visito a
iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração
daqueles que me aborrecem, e faço misericórdia até mil gerações
daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos".
(Robson Rodovalho, Quebrando as Maldições Hereditárias - Brasília, DF,
Koinonia Comunidade e Edições Ltda., 1994., p. 10. Veja também o livro de
Marilyn Hickey, Quebre a Cadeia da Maldição Hereditária, p. 21-2.)
É preciso que se leve em consideração o assunto do texto
aqui citado. De que trata, afinal, tal passagem? Alcoolismo,
pornografia, depressão, ou problemas do gênero? E óbvio que
não. O texto fala de idolatria e não oferece qualquer base para
alguém afirmar que herdamos maldições espirituais de nossos
antepassados em qualquer área das dificuldades humanas.
A narrativa do Antigo Testamento nos informa que sempre
que a nação de Israel esteve num relacionamento de amor com
Deus, ela não podia ser amaldiçoada. Vemos a prova disso em
Números 23:7, 8, quando Balaque pediu a Balaão que
amaldiçoasse a Israel. A resposta de Balaão aparece no versículo
23: "Pois contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação
contra Israel". Por outro lado, sempre que a nação quebrou a
aliança de amor com Deus, ela ficou exposta a maldição,
calamidades e cativeiro.
É verdade que os filhos que repetem os pecados de seus
pais têm toda a possibilidade de colher o que seus pais colheram.
Os pais que vivem no alcoolismo têm grande possibilidade de ter
filhos alcoólatras. Os que vivem blasfemando, ou na imoralidade e
vícios, estão estabelecendo um padrão de comportamento que,
com grande probabilidade, será seguido por seus filhos, pois
"aquilo que o homem semear, isso também ceifará" (Gl 6:7). Isso
poderá suceder até que uma geração se arrependa, volte-se para
Deus e entre num relacionamento de amor com ele através de
Jesus Cristo. Cessou aí toda a maldição. Não deve ser esquecido
também que o autor da maldição ou punição é Deus e que ela é a
manifestação da sua ira. Note que, no final do versículo cinco do
capítulo vinte de Êxodo, a Palavra de Deus declara que a maldição
viria apenas sobre aqueles que aborrecem a Deus, algo que não
se passa com o cristão.
A Bíblia ensina uma responsabilidade individual pelo
pecado, como pode ser observado no livro do profeta Ezequiel:
"Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Que tendes vós, vós
que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio, dizendo: Os
pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se
embotaram? Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, jamais
direis este provérbio em Israel. Eis que todas as almas são
minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a
alma que pecar, essa morrerá" (Ez 18:1-4). Seria o mesmo que
afirmar nos dias atuais: os pais comeram chocolate e os dentes
dos filhos criaram cárie.
O capítulo 18 de Ezequiel dá a entender que havia se
tornado um costume em Israel colocar a culpa dos fracassos
pessoais nos antepassados ou em outros. Isso faz lembrar o que
aconteceu no jardim do Eden, quando, por ocasião da Queda, o
homem colocou a culpa na mulher e a mulher na serpente. Parece
ser próprio do ser humano não admitir seus erros, buscando
evasivas para não tratá-los de forma responsável à luz da Palavra
de Deus. Infelizmente, alguns acham mais fácil culpar os
antepassados do que enfrentar suas tentações.
O ensino da maldição de família mais escraviza do que
liberta. Até crentes que há vários anos viviam alegres,
evangelizando, servindo ao Senhor e dando frutos, agora estão
preocupados, deprimidos, pensando que talvez as tentações, as
dificuldades e lutas pelas quais estão passando sejam de fato
reflexo de pecados ou do comportamento dos seus ancestrais.
Não faz muito tempo, numa grande igreja pentecostal, um
diácono, que havia participado de um desses seminários para
quebra de maldições hereditárias, me procurou para
aconselhamento. Tal irmão encontrava-se confuso e deprimido
com as informações que recebera e queria saber o que a Bíblia
tinha a dizer sobre tudo isso. Depois de uns dez minutos de
conversa, ele respirou aliviado. Temos encontrado e ajudado
muitos outros em situações semelhantes pelos lugares por onde
passamos, em diferentes partes do Brasil.
Ora, todo cristão é tentado, de uma forma ou de outra, uns
mais, outros menos. Se um cristão enfrenta problemas em relação
à pornografia, ao alcoolismo, ao adultério, à depressão ou a
qualquer outro aspecto ligado às tentações, os métodos para
vencer tais lutas devem ser bíblicos. O caminho para a vitória tem
muito mais a ver com a doutrina da santificação, com o cultivo da
vida espiritual através da oração, do jejum, da comunhão
saudável numa determinada parte do Corpo de Cristo e do contato
constante com a Palavra de Deus. O ensino da quebra de
maldições hereditárias aparece como um atalho mágico e ilusório
para substituir a doutrina da santificação, que é um processo
indispensável a ser desenvolvido pelo Espírito Santo na vida do
cristão, exigindo dele autodisciplina e perseverança na fé.

Doença ou maldição?

Um outro aspecto incorreto desse ensino é confundir as


doenças transmitidas por herança genética com maldições
hereditárias espirituais. Isto pode ser observado nas declarações
de Marilyn Hickey:

Será que você já observou uma família na qual todos os membros


usam óculos? Desde o pai e a mãe até a criança menor, todos estão usando
óculos, e geralmente os do tipo de lentes grossas. Essas pobres criaturas estão
debaixo de uma maldição, e precisam ser libertas. (Marilyn Hickey, Quebre a
Cadeia da Maldição Hereditária, p. 60.)

Não se pode construir uma doutrina em cima de uma


observação, experiência ou somente porque uma família toda usa
óculos! Existem muitas famílias em que apenas um ou outro
membro usa óculos. O que aconteceu? Por que só alguns herdam
a maldição e outros não? E se as doenças são maldições
transmitidas de pais para filhos através dos genes
(geneticamente), por que os pregadores dessa doutrina não
quebram, por exemplo, a maldição da calvície, transmitida
geneticamente? Até hoje não há notícia de que alguém tenha feito
isso.
O Senhor Jesus nunca ensinou tal doutrina. (guando
perguntado sobre o cego de nascença: "Mestre, quem pecou, este
ou seus pais, para que nascesse cego?", ele respondeu: "Nem ele
pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as
obras de Deus" (Jo 9:2-3). Alguns usam este texto para afirmar
que os discípulos acreditavam na maldição de família, procurando
dar assim legitimidade a tal ensino. É preciso lembrar que os
discípulos nem sempre estiveram certos no período de
treinamento que passaram juntos a Jesus. Certa vez, em alto-mar,
quando Cristo se aproximava, eles pensaram ser ele um fantasma
(Mt 14:26). Felizmente, os discípulos estavam errados em suas
conclusões, pois eram humanos, sujeitos a erros. É óbvio que não
erraram quando falaram e escreveram inspirados pelo Espírito
Santo. Quanto ao cego de nascença, Jesus destruiu qualquer
superstição ou crença que os discípulos pudessem ter de que a
cegueira fora provocada pelos pecados de seus antepassados, e o
próprio Jesus nunca ensinou tal doutrina.
Tal ensino não encontrou espaço também nos escritos do
apóstolo Paulo. Ao contrário, quando escreveu aos coríntios pela
segunda vez, declarou com muita certeza: "E assim, se alguém
está em Cristo, é nova criatura: as cousas antigas já passaram; eis
que se fizeram novas" (2 Co 5:17). Aos efésios, ele afirma:
"Bendito o Deus e pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem
abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões
celestiais em Cristo" (Ef 1:3). Onde existe espaço para maldições
na vida de um cristão diante de uma declaração como esta?
Paulo não se deixou prender ao passado. Quando escreveu
aos crentes de Filipos, declarou: "Irmãos, quanto a mim, não julgo
havê-lo alcançado; mas uma cousa faço: esquecendo-me das
cousas que para trás ficam e avançando para as que diante de
mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana
vocação de Deus em Cristo Jesus" (Fp 3:13, 14).
É importante observar a sugestão do apóstolo Paulo a
Timóteo, quando lhe escreveu a primeira carta: "Não continues a
beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu
estômago e das tuas freqüentes enfermidades" (1 Tm 5:23).
Paulo nunca insinuou que a enfermidade de Timóteo fosse uma
maldição de seus antepassados, pois sabia que Timóteo vivia
numa natureza afetada pela desobediência dos primeiros pais
(Adão e Eva). Apesar de o Reino de Deus estar entre nós, ele
ainda não chegou à sua plenitude, pois até a criação geme,
aguardando ser redimida do cativeiro da corrupção (Rm 8:19-23).
Paulo apenas sugeriu que Timóteo tomasse um pouco de vinho
como um remédio para suas freqüentes enfermidades estomacais
e não que fizesse a quebra das maldições hereditárias.

A conversão é a solução

Ensinar que um cristão tem que romper com maldições ou


pactos dos antepassados pedindo perdão por eles é minimizar o
poder de Deus na conversão. Isso está mais para o espiritismo ou
mormonismo (com sua doutrina antibíblica do batismo pelos
mortos) do que para o cristianismo. A Bíblia declara com muita
ousadia: "Por isso também pode salvar totalmente os que por ele
se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (Hb
7:25). O advérbio "totalmente" (panteles, no grego) tem o sentido
de pleno, completo e para sempre. Jesus não salva em
prestações, mas de uma vez por todas.
Marilyn Hickey chega a afirmar que: "Você pode decidir quanto ao
destino exato da sua linhagem. Eles ou vão para Jesus, ou vão
para o diabo". Nada poderia estar mais longe da verdade.
Quantos filhos há que hoje vivem uma vida cristã exemplar, são
cheios do Espírito Santo, enquanto seus pais permanecem alheios
ao Evangelho, rejeitando constantemente a palavra de salvação e
até tentando dificultar-lhes a vida espiritual! Comigo também foi
assim. Ai de mim se fosse esperar meu pai decidir sobre o meu
futuro espiritual. Não sei onde estaria hoje.
É claro que os pais têm grande influência na formação
espiritual dos filhos, mas o milagre da salvação é obra de Deus, e
é pela graça que somos salvos (Ef 2:8, 9). É o Espírito Santo, o
Consolador, quem convence o coração do pecado, da justiça e do
juízo, como o próprio Senhor Jesus disse (Jo 16:7, 8). Paulo
relatou aos gálatas que foi Deus quem lhe revelou seu Filho (Gl
1:15, 16). Assim, a salvação é uma revelação de Jesus Cristo em
nossos corações, e não algo decidido somente pelos pais.
Observe o que aconteceu com os filhos de Samuel, um
profeta de Deus e um homem íntegro, como pode ser observado
em 1 Samuel 3:19 e 12:3. Apesar da integridade do pai, a Bíblia
diz que seus filhos não andaram pelos caminhos dele: "antes se
inclinaram à avareza, e aceitaram subornos e perverteram o
direito" (1 Sm 8:3).
Veja os reis de Israel e Judá. A narrativa do Antigo
Testamento revela que muitos deles foram ímpios e tiveram filhos
piedosos, enquanto outros foram piedosos e tiveram filhos ímpios.
Eis alguns exemplos: Abias foi mau (1 Rs 15:3), mas seu filho Asa
"fez o que era reto perante o SENHOR" (1 Rs 15:11). Jotão "fez o
que era reto perante o SENHOR" (2 Rs 15:34), porém Acaz, seu
filho, "não fez o que era reto perante o SENHOR" (2 Rs 16:2).
Jeosafá agradou a Deus (2 Cr 17:14), enquanto Jeorão, seu filho,
"fez o que era mau perante o SENHOR" (2 Cr 21:6). Assim, a
seqüência de bondade ou maldade que deveria suceder na
linhagem dos reis de Israel e Judá, de acordo com o que ensinam
os pregadores da maldição de família simplesmente não
aconteceu. A esses exemplos certamente não se poderia aplicar o
provérbio: "Tal pai... tal filho".
Inspirado pelo Espírito Santo, Paulo escreveu aos irmãos de
Corinto, na sua primeira carta, uma palavra tremendamente
elucidativa quanto a esta questão: "Ou não sabeis que os injustos
não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros,
nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas,
nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes,
nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de
vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes
justificados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do
nosso Deus" (1 Co 6:9-11).
Pode-se notar que Paulo não afirmou no versículo onze:
"Mas haveis quebrado as maldições hereditárias, mas haveis
pedido perdão pelos pecados dos antepassados" ou algo similar.
Não, de modo algum, este não é o seu pensamento. Paulo afirma
que aqueles que estiveram presos nos pecados haviam sido
lavados, haviam sido santificados e justificados, sem qualquer
necessidade de quebrar maldições dos antepassados.
Cabem aqui algumas perguntas: Qual é a maior das
maldições? Sem dúvida é estar fora de Cristo. Qual a maior das
bênçãos? Certamente é o estar em Cristo. Como se elimina a
maior das maldições? Introduzindo a maior das bênçãos. Os
pregadores da maldição hereditária não deveriam pedir perdão
pelos pecados da décima, nona, oitava ou de qualquer outra
geração, mas deveriam, sim, pedir perdão pelos pecados de Adão
e Eva, pois se houve brecha, foi ali, na queda do jardim do Éden,
onde as maldições tiveram início. Ali está a raiz do problema. Isso,
sim, seria um trabalho perfeito e completo. O leitor já imaginou se
funcionasse? De repente, ninguém mais precisaria trabalhar para
ganhar o pão, a mulher não sofreria mais ao dar à luz e os
espinhos desapareceriam da Terra. É claro que não funciona, pois
tal ensino não tem base na Palavra de Deus.

Textos mal-interpretados

Espíritos Familiares

Para defender o ensino da maldição hereditária, seus


pregadores usam a expressão "espíritos familiares", tradução de
Levíticos 19:31 e de outras passagens na Bíblia em inglês do Rei
Tiago (King James Version). Observe o comentário de Marilyn
Hickey quanto a isso:

O que são "espíritos familiares"? São maus espíritos decaídos que se


tornaram familiares numa família. Eles a seguem, com suas fraquezas - pecado
físico, mental, emocional - por todo caminho, atacando e tentando cada
membro seu naqueles aspectos, pois estão cientes de suas inclinações.
"Marilyn, como é que você sabe disso?" Porque o Antigo Testamento fala
acerca dos "espíritos familiares" (Versão King James).

Usando o mesmo argumento, um certo autor comenta:

Nas traduções em português, usamos as palavras necromantes,


adivinhadores e feiticeiros. Mas em inglês usa-se o termo espíritos "familiares"
e é esta a base bíblica que temos para demonstrar que estes espíritos de
adivinhação, necromancia e feitiçaria passam de geração em geração. Há um
acompanhamento, por parte destes demônios, sobre as famílias. E eles
transmitem os mesmos vícios, comportamentos e atitudes de que temos falado.
(Robson Rodovalho, Quebrando as Maldições Hereditárias, p. 12.)

Defender um ensino controvertido com base na tradução


de uma Bíblia em inglês (Versão do Rei Tiago) é algo inaceitável à
luz da hermenêutica e da exegese bíblica. É preciso ter em mente
que a Bíblia Sagrada não foi escrita em inglês. Para se entender o
texto bíblico, é necessário que se faça a tradução e interpretação
com base na língua em que ele foi escrito. No caso do Antigo
Testamento, o hebraico, e não o inglês. Ao afirmar: "Mas em
inglês se usa o termo espíritos familiares, e é esta a base bíblica
que temos para demonstrar que estes espíritos de adivinhação,
necromancia e feitiçaria passam de geração em geração", o autor
demonstra exatamente o contrário: não ter base bíblica para tal
ensino.
Robert L. Alden, Ph.D., professor do Velho Testamento no
Seminário Teológico Batista Conservador de Denver, Estado do
Colorado, nos Estados Unidos, esclarece:

A palavra 'ob aparentemente se refere àqueles que


consultavam os espíritos, pois 1 Samuel 28 descreve alguém
assim em ação. A famosa "feiticeira" de Endor é uma 'ob. Ao povo
de Deus foi ordenado ficar longe de tais ocultistas (Levítico
19:31). A punição por se envolver com tais "médiuns" era morte
por apedrejamento (Levítico 20:27). Naturalmente 'ob é incluída
na lista de abominações semelhantes em Deuteronômio 18:10,11.
Todas essas ocupações têm a ver com o ocultismo. Isaías
desconsidera estes "necromantes" e sugere, pela sua escolha de
palavras, que os sons dos espíritos assim emitidos não são nada
mais do que ventriloquismo: "os necromantes e os adivinhos que
chilreiam e murmuram" (Isaías 8:19). (Artigo citado no Theological
Wordbook of the Old Testament (Dicionário de Teologia do Antigo Testamento),
vol. 1, editado por R. Laird Harris, Gleason L.Archer, Jr. e Bruce K. Waltke -
Chicago, E.U.A., Moody Press, 1980, p. 16-7.)
É importante observar ainda que a Septuaginta (a versão
grega do Antigo Testamento) emprega o termo eggastrímithoi
(ventríloquo) para traduzir a palavra 'ob de Levítico 19:31. A Bíblia
informa em 1 Samuel 28:3 que Saul havia banido de Israel os
adivinhos e os encantadores e não os espíritos familiares. Assim, a
palavra hebraica 'ob significa o "vaso" ou instrumento dos
espíritos, portanto o médium ou necromante, conforme aparece
na maioria das traduções da Bíblia, não oferecendo tal vocábulo
base para quebra de maldições hereditárias na vida do cristão.
A crença de que a violência é provocada por espíritos
familiares também não tem base bíblica. O apóstolo Paulo foi um
homem violento. A Bíblia diz que "Saulo, porém, assolava a igreja,
entrando pelas casas, e, arrastando homens e mulheres,
encerrava-os no cárcere" (At 8:3). O apóstolo João, antes de se
tornar o discípulo do amor, não hesitava em dar vazão à sua ira.
Certa vez ele chegou a desejar que caísse fogo do céu para
consumir os samaritanos que se recusaram a receber Jesus (Lc
9:52-54). Como abandonou Paulo sua violência e João deixou de
ter um espírito ou temperamento vingativo? Sem dúvida, através
da conversão e do viver com Cristo foi que eles foram
transformados e libertos, e não através da quebra de maldição de
família, algo que nunca fez parte de seus escritos.

Arvores genealógicas

Embora haja quem sugira às pessoas para que desenhem


árvores genealógicas a fim de facilitar a quebra das maldições,
(Robson Rodovalho, Quebrando as Maldições Hereditárias, p. 28-31.) tal
prática não encontra apoio na Bíblia. É verdade que encontramos
genealogias nos Evangelhos de Mateus e de Lucas, as quais
tinham a intenção de apresentar a linhagem de Jesus como o
Messias de Israel. Não há, depois disso, em todo o Novo
Testamento, preocupação com tal ensino. Ao contrário, o apóstolo
Paulo até recomendou a Timóteo e a Tito que não se envolvessem
com esse assunto (1 Tm 1:4 e Tt 3:9). Os mórmons, sim, na
tentativa de resolver os problemas espirituais de seus falecidos
através do batismo pelos mortos (uma prática antibíblica), gastam
muito tempo e dinheiro com genealogias, contrariando assim as
Escrituras Sagradas.
Há os que dizem que devemos pedir perdão pelos pecados
de P C. Farias e de políticos acusados como corruptos. Outros
estão sugerindo que, ao se encontrar uma pessoa negra na rua,
deve-se chegar a ela e pedir perdão pelos pecados dos que
promoveram a escravidão no Brasil. Há até aqueles que afirmam
que os carros roubados no Brasil e levados ao Paraguai são uma
maneira de Deus fazer os brasileiros pagarem aos paraguaios pelo
mal que lhes fizeram em guerras passadas. Que absurdo!
Os que isto sugerem gostam de citar as orações de Esdras
(capítulo nove), Neemias (capítulo nove) e Daniel (capítulo nove),
em que eles fizeram confissão a Deus, citando os pecados de seus
antepassados. Sabemos que as bênçãos do antigo pacto eram
condicionadas à obediência do povo de Israel. Quando
desobedecia, as maldições de Deus vinham sobre ele. Esdras,
Neemias e Daniel de fato reconheceram o pecado de seus
antepassados, mas pediram perdão pelos pecados do presente, da
geração atual. Embora seja possível alguém sofrer as
conseqüências dos pecados de terceiros, o mesmo não acontece
com a culpa. A Palavra de Deus não culpa ninguém pelos pecados
dos outros. A Bíblia em nenhum lugar ensina a interceder por
quem já morreu, uma vez que após a morte segue-se o juízo, não
oração ou pedido de perdão pelos mortos (Hb 9:27).
É preciso lembrar ainda que, à luz da Bíblia, ninguém pode
se arrepender por outra pessoa. O arrependimento é algo pessoal,
que se faz diante de Deus. A idéia de que "temos que até
interceder, pedir perdão por pecados que aqueles antepassados
cometeram, e quebrar os pactos que fizeram", contradiz a Palavra
de Deus, que afirma: "Assim, pois, cada um de nós dará contas de
si mesmo a Deus" (Rm 14:12).

Provérbios 26:2

Eis aqui outro texto freqüentemente mal usado pelos


pregadores da maldição de família. Allen P. Ross comenta que era
comum acreditar que as bênçãos e as maldições tinham existência
objetiva - uma vez proferidas, produziam efeito. Ele acrescenta:
"As Escrituras esclarecem que o poder de amaldiçoar e de
abençoar depende do poder daquele que está por trás dele (por
exemplo, Balaão não pôde amaldiçoar o que Deus havia
abençoado; Nm 22:38 e 23:8). Este provérbio realça a correção
da superstição. A Palavra do Senhor é poderosa porque é a
Palavra do Senhor - ele a cumprirá". (Allen P. Ross, no The Expositor's
Bible Commentary - Comentário Bíblico Expositivo, editado por Frank E.
Gaebelein, vol. 5 , Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Zondervan Publishing House,
1991, p. 1087.) Nota-se então que não existe base para se usar tal
texto a fim de defender a transferência de maldições de geração
em geração.

Maldição de nomes próprios

É o que ensina o livro Bênção e Maldição quando afirma:

A verdade é que há nomes próprios que estão carregados de maldição


- já trazem prognóstico negativo (...) Por isso não convém dar aos nossos filhos
nomes que tenham conotação negativa, que expressem derrota, tristeza,
dureza: Maria das Dores, Mara (amargura), Dolores (dor e pesar), Adriana
(deusa das trevas), Cláudio (coxo, aleijado), Piedade, Aparecida (sem origem,
que não se sabe de onde veio). (Jorge Linhares, Bênção e Maldição (Venda
Nova, MG, Editora Betânia,1992), p. 34-5.)

Este é mais um ensino que vem acrescentar cargas


desnecessárias sobre os crentes que passam a acreditar nele.
Existem muitas pessoas hoje vivendo preocupadas devido ao
nome que receberam ao nascer, algo sobre o que não tiveram
controle e nem escolha. E, de novo, não há base bíblica para isso.
É verdade que há na Bíblia alguns nomes de pessoas que
corresponderam às suas personalidades e às circunstâncias em
que viveram. O próprio Deus mudou o nome de Abrão para
Abraão, que significa "pai de uma grande multidão". ("A mudança
de Abrão para Abraão teve por fim reforçar a raiz da segunda
sílaba para dar maior ênfase à idéia de exaltação", J. D. Davis,
Dicionário da Bíblia, p. 11.) Jacó significa "usurpador", e ele assim
se comportou por um bom período de sua vida. O legislador de
Israel recebeu o nome de Moisés por que foi salvo das águas.
Contudo, não se pode criar uma regra baseada em tais exemplos
pelas razões que veremos em seguida.
A Bíblia está cheia de exemplos de pessoas ímpias com
nomes de bons significados, enquanto outras são boas, mas com
nomes de significados nada recomendáveis. Veja o caso de Abias,
que quer dizer "Jeová é pai", filho de Samuel, um homem de
Deus. Apesar de ter um bom nome e um bom pai, a Bíblia diz que
ele não andou nos caminhos de Samuel e se corrompeu (1 Sm
8:3).
Já Absalão quer dizer "pai da paz". Embora tendo um nome
tão pacífico, ele tentou usurpar o trono de seu pai Davi, teve uma
vida turbulenta e morreu de forma trágica (2 Sm 3:3; 13-19).
Daniel e seus amigos tiveram os nomes mudados pelo rei
de Babilônia (Dn 1:7). Mesmo depois de receberem nomes ligados
a deuses pagãos, isso não impediu que desfrutassem da bênção
de Deus e permanecessem firmes na fé em Jeová. Logo, pode-se
notar que o nome não influiu em nada.
Judas quer dizer "louvor", um significado muito piedoso,
mas isso não impediu que ele traísse o Senhor (Mt 26:48, 49). Por
outro lado, um outro Judas foi fiel e deixou uma carta escrita no
Novo Testamento.
Bar-Jesus é um nome fantástico, que quer dizer "filho de
Jesus". Apesar do nome, ele era um mágico, um falso profeta, e
resistiu a Paulo quando este pregava ao procônsul Sérgio Paulo
(At 13).
Apenas o nome não faz o homem. Se fizesse, as prisões no
Brasil não estariam cheias de presidiários chamados de Abel,
Moisés, Isaías, Daniel, Pedro, Lucas, Paulo e outros nomes
bíblicos.
Há também homens e mulheres na Bíblia que serviram a
Deus fielmente e foram vencedores na fé cristã, apesar dos
nomes que tiveram com significados nada recomendáveis.
Apolo foi um homem de Deus, poderoso nas Escrituras (At
18:24-28), mas seu nome significa "destruidor".
Hermes é um dos irmãos a quem Paulo envia saudações
cristãs (Rm 16:14), porém seu nome é de um deus mitológico.
O interessante é que Paulo nunca instruiu esses irmãos
para que fizessem oração de renúncia pelos nomes que possuíam,
pois eles terão um novo nome no céu (Ap 2:17).
Alguns crentes até dão testemunho em público depois de
pensar que foram bem-sucedidos ao amaldiçoar uma pessoa, uma
empresa ou organização. Contam, por exemplo, que por não
terem sido bem servidos num restaurante, o amaldiçoaram e o
restaurante faliu. A Bíblia, porém, ensina que o cristão não deve
amaldiçoar, mas, sim, abençoar. Ouçamos o conselho de Paulo:
"Abençoai, e não amaldiçoeis" (Rm 12:14).
Alguns têm dito que a quebra das maldições hereditárias é
bíblica, já que deu certo ou funcionou para um ou outro. O fato de
ter dado certo não quer dizer que seja bíblica. Há muita coisa que
funciona no espiritismo, na umbanda e na Ciência Cristã que nem
por isso é bíblica. Geralmente, as distorções no seio da Igreja são
muitas vezes baseadas apenas nas experiências, no subjetivo.
Ora, não importa quão maravilhosa tenha sido a experiência; se
ela contradiz as Escrituras e não tem base na Palavra de Deus,
deve ser rejeitada, prevalecendo somente a Bíblia Sagrada, única
regra de fé e prática para o cristão.

6 - Batalha espiritual

Talvez nenhum outro assunto tenha fascinado tanto os


evangélicos nos últimos tempos quanto o da batalha espiritual. De
repente, o diabo moveu-se para o picadeiro e passou a ser o
centro do espetáculo. Infelizmente, o fascínio pela guerra
espiritual trouxe consigo o desequilíbrio teológico, o
sensacionalismo e uma avalanche de revelações extra e
antibíblicas em relação a esse tema, deixando profundas feridas
no exército do Senhor. Que Deus, por sua graça, venha a usar
este trabalho para colocar um pouco de vinho e azeite nessas
feridas.
A reação da Igreja perante a batalha espiritual tem sido
variada. Às vezes, a atitude de alguns é de incredulidade,
afirmando que a crença em demônios é coisa da Idade Média ou
para pessoas supersticiosas. Outros são indiferentes ou
totalmente desinformados a respeito do conflito entre os santos e
as trevas. E ainda há aqueles que se tornaram obcecados com o
assunto e passaram a fazer da batalha espiritual o tema principal
de suas vidas.
Certamente o assunto da guerra espiritual é muito vasto,
tornando-se impossível tratá-lo a contento no espaço aqui
disponível. Por esta causa, a atenção será dada apenas a alguns
abusos que o tema tem gerado no seio da Igreja.

A realidade da batalha

A base bíblica

A Igreja não pode ignorar a problemática da guerra


espiritual. Primeiro, porque a Bíblia fala muitas vezes sobre tal
conflito. Sim, existe uma contínua e intensa batalha entre a luz e
as trevas, entre Cristo e Satanás, entre a Igreja e o inferno. Por
esta razão, Pedro alertou: "Sede sóbrios e vigilantes. O diabo,
vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge
procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos
de que sofrimentos iguais aos vossos estão se cumprindo na
vossa irmandade espalhada pelo mundo" (1 Pe 5:8, 9).
Há muitos exemplos na Bíblia que demonstram como os
espíritos das trevas trouxeram intenso sofrimento às pessoas. Foi
Satanás quem transtornou grandemente a vida de Jó (Jó 1:12-
19). O próprio Jesus foi tentado por ele no deserto (Mt 4:1-11).
Veja a vida horrenda do gadareno, possuído por uma legião de
demônios (Mc 5:1-20), o jovem possesso, que muitas vezes era
jogado na água e no fogo (Mc 9:14-22) e Maria Madalena, da qual
saíram sete demônios (Lc 8:2).
A Bíblia fala também de uma mulher que por dezoito anos
viveu curvada devido a um espírito de enfermidade (Lc 13:1113).
Ananias e Safira foram enganados por Satanás para que
mentissem ao apóstolo Pedro sobre o preço de uma propriedade
vendida (At 5:1-10).
A Palavra de Deus afirma que ele é tão astuto que pode até
se transformar em anjo de luz e que os seus ministros são
capazes de se mascararem como ministros da justiça (2 Co 11:13-
15).

O contexto brasileiro

O segundo motivo pelo qual não podemos ignorar a


questão da batalha espiritual é o contexto cultural e religioso do
país em que vivemos. O Brasil é um país místico, obcecado com o
sobrenatural, considerado hoje o maior país espírita do mundo,
com cerca de 5.500 centros espíritas espalhados pelo território
nacional. (Revista Veja (10 de abril de 1991), p. 40.) O número de
terreiros ligados ao culto afro é ainda muito maior.
O assassinato do garoto Evandro, em Guaratuba, Estado do
Paraná, barbaramente sacrificado num ritual satânico, revela um
quadro assustador e doentio de certos segmentos religiosos
brasileiros que crescem a cada dia, ameaçando adultos e crianças.
(Revista Isto É (15 de julho de 1992), p. 42.) A imprensa não hesita em
ligar tais atos sórdidos a certos adeptos do culto afro. Tal situação
exige uma ação urgente das autoridades constituídas.
A macumba chegou até aos porões da Casa da Dinda,
durante a gestão do ex-presidente Fernando Collor. Ali muitos
animais foram mortos em rituais satânicos. (Revista Veja (17 de março
de 1993), p. 21. )
Em 22 de março de 1993, o jornal O Globo informou que
Brasília, conhecida como a "cidade mística", abriga 2.563 casas de
candomblé e umbanda. O artigo trazia ainda uma lista de políticos
que estão sempre em busca da ajuda dos orixás, tais como:
Humberto Lucena, José Sarney, Antonio Carlos Magalhães, Jaime
Lerner, Mário Covas, Ibsen Pinheiro, Espiridião Amin e vários
outros. (Jornal O Globo (22 de março de 1993), p. 4.)
A atuação de Satanás em solo brasileiro é intensa e
variada. Não dá para fechar os olhos ao assassinato dos meninos
de rua na igreja da Candelária e à chacina de Vigário Geral, no Rio
de Janeiro, à impunidade, à corrupção incontrolável, à imoralidade
endeusada e veiculada por grande parte da mídia, à imensa
massa humana que corre atrás da astrologia, de toda a sorte de
adivinhação, de consulta aos mortos, e que passa a crer em
duendes, gnomos, pirâmides, cristais, discos voadores,
numerologia, todo o tipo de superstições e idolatria. Esses fatos e
muitos outros demonstram o quão espiritualmente enferma se
encontra uma significante parcela da sociedade, e o quanto
Satanás tem sido bem-sucedido em enganar tanta gente. Tudo
isso, sem dúvida, deve despertar o cristão para a realidade da
batalha espiritual e para o modo de preparar-se para vencê-la.

Em busca do equilíbrio

Fascinados pelo mal

O apóstolo João alertou com muita propriedade que "o


mundo inteiro jaz no maligno" (1 Jo 5:19). Certamente esse
avivamento satânico, que afeta tanta gente hoje em diferentes
partes do mundo, tem provocado reações em muitos círculos
cristãos. Muitos ministérios de libertação começaram a surgir a fim
de livrar os crentes de maldições hereditárias, libertar cidades de
seus respectivos príncipes infernais, derrubar políticos e governos
corruptos e amarrar todo o mal.
As livrarias evangélicas foram inundadas por livros sobre
batalha espiritual, alguns bons, enquanto muitos outros nada
recomendáveis. Creio que o livro de Frank Perreti, Este Mundo
Tenebroso (Ed. Vida), lançou mais lenha na fogueira ainda.
Seminários sobre batalha espiritual foram e têm sido ministrados
em muitas igrejas, tradicionais ou não (quase ninguém escapa),
para expulsar demônios de crentes, fazer orações de renúncia,
sessões de cura interior e para ensinar uma série enorme de
nomes de demônios que jamais poderia ser encontrada na Bíblia.
Quando algo não tem base bíblica, ensina-se por "revelação
divina", dizem os que crêem nessas doutrinas.
De fato, o mal fascina. Entre um estudo bíblico sobre a
trindade e outro sobre as atividades satânicas nos dias atuais, o
último tópico certamente atrairá um número muito maior de
crentes. Em muitas igrejas, obcecadas com o assunto da guerra
espiritual, infelizmente, maior atenção tem sido dada ao diabo do
que a Jesus. Mesmo no momento do louvor, em muitos lugares, a
maioria dos cânticos tem mais a ver com o militarismo, com
guerra, com destruição do que com a adoração contemplativa da
glória, da face e da majestade do Senhor. Hinos como "Tu És Fiel,
Senhor", "Quão Grande És Tu", "Santo, Santo, Santo, Deus
Onipotente" deram lugar a cânticos como "Caiam por terra, agora,
os inimigos de Deus", "Vem com Josué lutar em Jericó", "Homem
de guerra é Jeová", "Persegui o inimigo, o alcancei, o confundi e o
atravessei". Embora tais cânticos sejam bíblicos, demonstram a
ênfase exagerada que, muitas vezes, alguns grupos cristãos
colocam na guerra espiritual. Em certos ministérios, o termo
intercessor deu lugar ao termo "guerreiro de oração".
Há irmãos em Cristo que, ao iniciar um seminário de
libertação, logo na oração de abertura dirigem-se a Deus mais ou
menos do seguinte modo: "Senhor, estamos aqui nesta manhã
para aprender a tua Palavra. Pomba Gira, eu te amarro em nome
de Jesus. Senhor Jesus, queremos glorificar-te no dia de hoje. Exu
Tranca Rua, eu te repreendo em nome de Jesus. Vem Espírito
Santo, ensina-nos", e voltam a falar nos demônios. Isto é oração?
Será que Deus se agrada de tal mistura? Por que essa
preocupação obsessiva com os espíritos das trevas, mesmo no
momento de falar com Deus?
Conheci pessoalmente um pastor de Portland, Estado de
Oregon, nos Estados Unidos, chamado Judson Conwell. Ele
escreveu vários livros e li alguns deles. Nunca vou me esquecer
do que ele ensinou no Let Us Praise (Vamos Louvar). Ele conta
que todos os domingos de manhã colocava a congregação em pé
e passavam um bom tempo repreendendo os maus espíritos:
"Espírito de miséria, sai em nome de Jesus! Espírito de tristeza
(...)" e acrescentava muitos outros, como adultério, depressão,
vício, fofoca e alcoolismo.
Certa vez, ao estar orando e meditando na presença de
Deus, o pastor Judson percebeu pelo Espírito Santo que não agia
direito. Estava desviando a atenção de sua congregação do
Senhor e colocando-a no inimigo. Resolveu parar com aquilo. É
como se Deus lhe dissesse: "Não faça mais isso, meu filho. Da
próxima vez que você colocar o meu povo em pé na minha casa,
diga-lhe que me adore. Não se preocupe com os demônios. Eu
cuido deles para você". E assim foi. Depois que o pastor
desenvolveu um louvor dinâmico e bíblico em sua igreja, o
ministério cresceu muito.
Tive uma experiência interessante na Nigéria, há vários
anos. Na última noite que passei naquele país, num culto de
despedida, o pastor da igreja colocou-nos de joelho para a oração.
Até aí, tudo bem. Depois de um certo tempo, ele pediu que
repetíssemos as suas palavras e começou a repreender os
espíritos maus: "espírito de tristeza, sai em nome de Jesus!
espírito de orgulho, sai em nome de Jesus! espírito de ódio, sai
em nome de Jesus", e assim foi por um bom tempo. De repente,
percebi que estava fazendo algo errado e pus-me a pensar: "Onde
está na Bíblia que eu tenho que me ajoelhar para falar com os
demônios?" Interrompi aquela minha oração antibíblica e aguardei
sentado pela continuação do culto.
Quando tive a oportunidade de falar à igreja, comentei
sobre uma parte do Salmo 23: "Preparas-me uma mesa na
presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o
meu cálice transborda" (SI 23:5). Disse-lhes que os demônios
estariam sempre por perto, mas que Deus tem poder para nos
prover um banquete, unção e cálice transbordante, mesmo na
presença dos inimigos. Olhemos então para o Senhor, para o
banquete, para a unção, para o cálice transbordante, e não para o
inimigo!
Os ministérios de libertação são bem-vindos e alguns deles têm
genuinamente ajudado muitas pessoas. Mas é indispensável que
se evitem os excessos, os extremismos, como também os
métodos e os ensinos que não são bíblicos.

A natureza do conflito

Ao engajar-se na guerra espiritual, muitos crentes estão


ansiosos por medir forças com o inimigo e fazer demonstrações de
poder. John Wimber, fundador da Vineyard (veja capítulo 4,
Milagres e seus abusos, p. 77), tem cunhado expressões como
power encounter (choque de poder) e power evangelism
(evangelismo de poder). Wimber explica:

Choques de poder são muito parecidos com isso: quando o Reino de


Deus entra em contato direto com o Reino deste mundo (quando Jesus
encontra Satanás), há um choque. E, geralmente, isso é desordenado, confuso
e difícil de se controlar. (John Wimber, Power Evangelism (Evangelismo de
Poder) (San Francisco, E.U.A., Harper & Row Publishers, 1986), p. 20.)

De fato, há na Bíblia exemplos de demonstração de poder


em momentos de guerra espiritual. Quando Paulo enfrentou
Elimas, este ficou cego pelo poder de Deus operado através das
palavras do apóstolo (At 13:6-12). Por outro lado, tais
demonstrações de poder são apenas um aspecto da batalha. Neil
T. Anderson comenta com muita propriedade sobre esta questão:

O poder de Satanás está na mentira. Jesus disse: "O diabo (...) jamais
se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere a
mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira" (João
8:44). Desde que a arma principal de Satanás é a mentira, a defesa contra ele
é a verdade. Tratar com Satanás não é um choque de poder; é um choque de
verdade. Quando você desmascara a mentira de Satanás com a verdade de
Deus, seu poder é quebrado. Por esta razão é que a primeira peça da armadura
que Paulo menciona para ficar firme contra as ciladas do diabo é o cinturão da
verdade (Efésios 6:14). (Neil T. Anderson, Victory Over The Darkness (Vitória
Sobre as Trevas) (Ventura, California, E.U.A., Regal Books, 1990), p.169-70.)

O próprio Senhor Jesus enfatizou a importância da verdade


ao declarar: "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará"
(Jo 8:32). Ao orar pelos discípulos, pediu ao Pai: "Santifica-os na
verdade; a tua palavra é a verdade" (Jo 17:17). Ao comentar
sobre a degradação espiritual do gênero humano na carta aos
Romanos, Paulo disse que Deus os abandonou, "pois eles
mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a
criatura, em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente.
Amém" (Rm 1:25). Para Paulo, a Igreja é a "coluna e baluarte da
verdade" (1 Tm 3:15). Ao descrever a Timóteo o estado de
rebeldia de muitos nos últimos dias, Paulo não poupou adjetivos e
concluiu com as seguintes palavras: "... que aprendem sempre e
jamais podem chegar ao conhecimento da verdade. E do modo
por que Janes e Jambres resistiram a Moisés, também estes
resistem à verdade" (2 Tm 3:7, 8).
Satanás procura sempre usar circunstâncias, situações,
pessoas, enfermidades e toda a sorte de males para fazer guerra
contra os santos. Mesmo que o cristão venha a quase se
desesperar num congestionamento de trânsito, ter seu carro
roubado, ou passar muita raiva numa fila do banco ou do hospital,
não se pode esquecer de que a natureza da batalha é sempre
espiritual, como bem expressou o apóstolo Paulo: "porque a nossa
luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os
principados e potestades, contra os dominadores deste mundo
tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões
celestes" (Ef 6:12).
É claro que ninguém pode enfrentar o reino das trevas ou
expulsar demônios sem estar preparado. É preciso ter autoridade
do Senhor, poder do Espírito Santo, vida de oração e, em certos
casos, até jejum (Mt 17:21). Uma vida de obediência a Deus é
indispensável, pois o inimigo não obedecerá ao desobediente. O
inimigo não vai recuar só porque alguém prega bonito, tem
profundo conhecimento bíblico, sabe as línguas originais da Bíblia
ou porque faz muito sucesso na vida. De modo algum. O inimigo
vai recuar, sim, diante de um crente que vive uma vida de
submissão a Deus.

Pode um cristão ter demônios?

Um dos temas mais polêmicos que a batalha espiritual tem


gerado é se um cristão pode ter demônios. Muitos ministérios de
libertação incluíram algum ritual para expulsar demônios de
crentes em seus programas e isso tem acontecido em simpósios
de batalha espiritual em muitas igrejas. Alguns teólogos também
passaram, nos últimos anos, a aderir a tal posição e muitos deles
reconhecem que o assunto é controvertido. De qualquer forma, a
Bíblia Sagrada tem a palavra final sobre esta questão ou sobre
qualquer outro assunto relacionado com a vida espiritual e o
cristão.
Merrill F. Unger, um autor lido e seguido por várias pessoas
que hoje desenvolvem ministérios de libertação espiritual no
Brasil, reconhece a dificuldade de se tratar do assunto, ao
declarar:

A verdade da questão é que as Escrituras em nenhum lugar declaram


que um verdadeiro crente não pode ser invadido por Satanás ou seus
demônios. Naturalmente, a doutrina deve sempre ter precedência sobre a
experiência. Nem pode a experiência jamais oferecer base para a interpretação
bíblica. Apesar disso, se experiências consistentes chocam com uma
interpretação, a única conclusão possível é de que há alguma coisa errada, ou
com a própria experiência ou com a interpretação da Escritura que vai contra
ela. Certamente a Palavra inspirada de Deus nunca contradiz a experiência
válida. Aquele que procura a verdade com sinceridade deve estar preparado
para consertar sua interpretação a fim de trazê-la em conformidade com os
fatos como eles são. (Merrill F. Unger, What Demons Can Do To Saints (O que
os Demônios Podem fazer aos Santos) (Chicago, E.U.A., Moody Press,1991), p.
69.)

Unger já ensinou e escreveu, no passado, que somente os


incrédulos estão sujeitos a endemoninhamento ou possessão
demoníaca. Mais tarde ele mudou de idéia, e diz por que:

Em Biblical Demonology (Demonologia Bíblica), publicado


primeiramente em 1952, a posição tomada era de que somente os incrédulos
são expostos ao endemoninhamento. Mas, através dos anos, várias cartas e
relatórios de casos de invasão demoníaca de crentes têm chegado a mim de
missionários em várias partes do mundo. Como resultado, em meu estudo
sobre a explosão atual do ocultismo intitulado Demons in the World Today
(Demônios no Mundo de Hoje), que apareceu em 1971, a confissão é feita
livremente de que a posição tomada no Biblical Demonology (Demonologia
Bíblica) "foi assim entendida, pois a Escritura não resolve claramente a
questão".

Há alguns problemas com as declarações de Unger.


Primeiro, ele diz que a Bíblia não afirma com clareza que um
cristão não pode ser invadido por demônios. Ora, se a Bíblia não
diz isso com clareza (o que não é verdade), como pode alguém
então afirmar e ensinar sobre aquilo que não está claro na Palavra
de Deus? Seria o mesmo que tentar ensinar ou escrever sobre o
sexo dos anjos quando a Bíblia nada fala sobre a questão. Se a
Bíblia não é clara sobre a possessão de crentes, como pode
alguém desenvolver então, biblicamente, uma prática de expulsar
demônios de crentes? Simplesmente impossível.
Pode-se perceber também que Unger, que no passado
ensinava que crentes não podiam ficar possessos, depois mudou
de posição. A mudança veio não pela avaliação bíblica, mas, como
ele mesmo conta, através de cartas e relatórios de missionários
baseados em experiências dos campos de missões. Mas Unger
não está só ao basear a possessão de crentes em experiências e
não na Bíblia. Veja a opinião de Bill Subbritzky sobre o assunto:
"Pode um cristão ter demônios? A resposta é enfaticamente sim!
Se você tem sido informado de que isso não acontece, continue
lendo e deixe o Espírito Santo guiá-lo nesta questão. Estou ciente
do muito que se tem ensinado a respeito de os cristãos não
poderem ter demônios. Contudo, através de minha experiência no
ministério há quatorze anos, constatei que tal opinião é
totalmente incorreta". (Bill Subritzky, Demônios Derrotados, 2. ed.
(Adhonep, 1992), p. 41.)

Uma autora no Brasil demonstra ter também opinião


semelhante ao declarar:

Muitos defendem que, uma vez que o crente é habitação do Espírito (1


Coríntios 6:19), torna-se impossível um demônio habitar onde o Espírito habita
(...) o fato de o nosso corpo ter-se tornado o templo do Espírito Santo não quer
dizer que jamais poderá ser ocupado por maus espíritos. Não deveria, mas é
possível (...) Todos quantos se envolvem no ministério de libertação
testemunham a manifestação de demônios em cristãos. (Valnice Milhomens,
Batalha Espiritual (Av. Pompéia, 2.110, São Paulo, SP, Palavra da Fé
Produções), p. 53.)

Certa líder na área da batalha espiritual segue a mesma


linha desses autores e conclui:

Se partimos do pressuposto de que os crentes não podem


ter demônios ou não podem ficar endemoninhados, corremos o
risco de deixar muitos crentes opressos dentro da igreja, vivendo
uma vida de grande prisão, mornidão, com uma dificuldade
tremenda para crescer. Afinal, o inimigo deseja uma vida cristã
medíocre. E aqui é preciso esclarecer a questão da terminologia
usada. De acordo com dezenas de estudiosos do grego,
daimonozomenai significa "ter demônios" e é melhor traduzido
pela palavra "endemoninhado", nunca possesso, pois no Novo
Testamento não vemos o uso do termo (...) Endemoninhado tem
um significado lato, indicando o estado da pessoa que tenha um
demônio ou até muitos demônios perturbando ou oprimindo sua
vida. Quanto ao local onde ele fica, não é o mais importante. Ele
pode ficar no corpo, fora do corpo, na alma da pessoa. (Neuza
ltioka, Fechando as Brechas (São Paulo, SP, Editora Sepal, 1994), p. 65.)

Dois outros autores norte-americanos, John e Paula


Sanford, acrescentam também:

Há aqueles que crêem que o cristão cheio do Espírito Santo


não pode ser ocupado pelo poder demoníaco. Temos descoberto
que isto não é um fato histórico, ainda que a teologia diga que o
Espírito Santo e os demônios não podem habitar a mesma área. É
o que tem acontecido. Temos expulsado demônios de centenas de
crentes cheios do Espírito Santo, alguns deles não apenas cheios
do Espírito Santo, mas poderosos servos do Senhor! Como isso
acontece eu não posso explicar, mas tem sido para nós um fato
incontestável de muitos anos de experiência exaustiva. (John &
Paula Sanford, Healing The Wounded Spirit - Curando o Espírito Ferido, citado
no livro Os Deuses da Umbanda, de Neuza ltioka, São Paulo, ABU Editora,
1987, p. 190. John e Paula Sanford são os grandes responsáveis pela infiltração
na Igreja de boa parte das distorções doutrinárias relacionadas com cura
interior, batalha espiritual e maldição de família.)

Este é o segundo problema de Unger e é também o


problema dos demais autores aqui mencionados: experiência,
experiência, experiência. Na última citação, os autores até
informam que nem sabem explicar como pode acontecer a
expulsão de demônios de crentes, mas continuam levando tal
prática adiante.
Terminologia bíblica

Existem muitos preletores de batalha espiritual ensinando


que um cristão não pode ser possuído por demônios, mas pode
ficar endemoninhado ou ter demônios. Eles tomam o verbo
daimonizomai, do grego do Novo Testamento, dizendo que a sua
tradução correta é endemoninhado, e não estar possuído por um
demônio. (Neuza Itioka, Os Deuses da Umbanda, p. 171. Veja também
Demônios Derrotados, de Bill Subritzky, publicado pela Adhonep, p. 41.)
Apesar de todo o barulho sobre o assunto, existe um
consenso entre a literatura acadêmica de que a tradução principal
para o verbo daimonizomai deve ser mesmo estar possuído de
demônios. Vejamos alguns exemplos:
W E. Vine traduz daimonizomai da seguinte forma:

Ser possuído de um demônio, agir sob o controle de um demônio.


Aqueles que foram assim afligidos expressavam a mente e a consciência de que
um demônio ou demônios habitavam neles. Exemplo: Lucas 8:27. O verbo é
encontrado principalmente em Mateus e Marcos: Mateus 4:24; 8:16, 28, 33;
9:32; 12:22; 15:22; Marcos 1:32; 5:15, 16, 18; Lucas 8:36 e João 10:21,
"aquele que tem demônio. (W. E.Vine, An Expository Dictionary of Biblical
Words (Dicionário Expositivo de Termos Bíblicos) (Nashville, Tennessee, E.U.A.,
Thomas Nelson Publishers, 1984), p. 283.)

No Léxico Grego, de Bauer, a primeira tradução de


daimonizomai é "ser possuído por um demônio". (W. Bauer, W. F.
Arndt e F. W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament - Léxico
Greco-Inglês do Novo Testamento, E.U.A., The University of Chicago Press,
1957, p. 168.) Kittel também coloca como a primeira tradução de
daimonizomai "estar possuído por um demônio". (Gerhard Kittel,
Theological Dictionary of the New Testament, vol. 2 - Dicionário Teológico do
Novo Testamento, Michigan, E.U.A., W M. B. Eerdmans Publishing Company,
1964, p.19.) Para Thayer, daimonizomai é "estar sob o poder de um
demônio". Thayer acrescenta ainda:

No NT, daimonizómenoi são pessoas afligidas


especialmente com doenças graves, físicas ou mentais (tais como
paralisia, cegueira, surdez, perda de apetite, epilepsia, melancolia,
insanidade etc.), em cujos corpos, na opinião dos judeus, os
demônios haviam entrado e mantido possessos por eles, não
apenas para afligi-los com enfermidades, mas também para
destronar a razão e tomar eles mesmos o seu lugar. (Thayer,
Thayeer's Greek-English Lexicon of the New Testament (Léxico Greco-Inglês do
Novo Testamento de Thayer) (Michigan, E.U.A., Zondervan Publishing House,
Grand Rapids, 1976), p. 123.)

Apesar das vozes em contrário, pode-se perceber que o


termo daimonizomai, de acordo com a erudição bíblica, é
traduzido como "estar possuído de demônios".

Exemplos bíblicos

Várias passagens bíblicas são geralmente citadas como


prova de que um cristão pode ter demônios. Uma delas é a que
fala de Saul, o primeiro rei de Israel, quando atormentado por um
espírito mau (1 Sm 18:10,11 e 19:9,10). Alguns acham que
"atormentado por um demônio" é o mesmo que "possuído por um
demônio", o que não é verdade.
Thomas Ice e Robert Dean explicam por que o caso de Saul
não foi possessão demoníaca:

1 - É dito que o espírito mau foi enviado da parte de Deus e não de


Satanás (16:14).
2 - O espírito mau saía quando Davi tocava sua harpa (16:23) e não se
acha nas Escrituras sobre demônio sair ao se tocar uma música. Ao invés disso,
os demônios são expulsos no nome do Senhor.
3 - Saul depois arrependeu-se de seu pecado (26:21). O Novo
Testamento apresenta a pessoa possuída por demônio como uma vítima que
precisa primeiro de libertação, e não de arrependimento.
4 - O texto hebraico diz que o espírito mau vinha sobre Saul (...) Nunca
é dito que ele tenha entrado em Saul, como se esperaria, caso se pretendesse
transmitir a idéia de possessão demoníaca. (Thomas Ice e Robert Dean, Jr.,A
Holy Rebellion (Uma Rebelião Santa) (Eugene,Oregon, E.U.A., Harvest House
Publishers, 1990), p. 125.)

Uma irmã em Cristo cita dois exemplos do Novo


Testamento para provar que um cristão pode ter demônios:
Alguns argumentam que não há caso de cristãos possuindo demônios
no Novo Testamento. Só há casos de judeus. Vejamos:
1- Judas Iscariotes. Recebeu um espírito imundo. Satanás entrou nele.
Ele agasalhou maus pensamentos e abriu a porta para a entrada do maligno.
Judas era um dos doze. Ele esteve envolvido na obra de pregar o Evangelho,
curar enfermos e expulsar demônios.
2 - Ananias e Safira. Eram contados entre os crentes, mas entretiveram
pensamentos de mentira e abriram seus corações para Satanás os encher.
(Valnice Milhomens, Batalha Espiritual, p. 55.)

É verdade que Judas foi possesso, pois a Bíblia declara que


Satanás entrou nele (Lc 22:3). Agora dizer que ele foi um cristão é
forçar demais o texto bíblico, e nem foi essa a opinião do Senhor
sobre ele. O próprio Jesus disse que Judas era um diabo: "Não
vos escolhi eu em número de doze? Contudo um de vós é diabo"
(Jo 6:70. Claro que Jesus estava falando no sentido simbólico e
não literal. É como se Judas fosse o diabo). Jesus fez distinção
entre Judas Iscariotes e os demais discípulos ao dizer-lhes: "Ora,
vós estais limpos, mas não todos. Pois ele sabia quem era o
traidor. Foi por isso que disse: Nem todos estais limpos" (Jo
13:10, 11). A Bíblia afirma ainda que Judas era ladrão (Jo 12:6).
Ensinar que Judas foi cristão seria até uma ofensa aos demais
discípulos.
Mesmo que Judas tenha se envolvido na obra de pregar o
Evangelho, curar enfermos e expulsar demônios, isto não faria
dele um cristão. O Senhor Jesus ensinou que muitos fariam
prodígios e profetizariam em seu nome, sem contudo receber sua
aprovação. Veja o que o Senhor disse sobre tais falsos profetas:
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos
céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos
céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor!
porventura não temos nós profetizado em teu nome, e em teu
nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos
muitos milagres? Então lhes direi explicitamente: Nunca vos
conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade" (Mt
7:21-23).
Quanto a Ananias e Safira (At 5:1-10), tudo indica que eles
eram de fato cristãos. Por outro lado, não existe base bíblica para
se afirmar que eles ficaram possessos. O texto diz que foi Ananias
quem mentiu e teve que assumir toda a responsabilidade pelo seu
pecado. Como explicou alguém:

Satanás, o "pai da mentira" (Jo 8:44), influenciou o coração de Ananias


para mentir. Se Ananias tivesse ficado possuído por um demônio ou Satanás,
teria sido Satanás dentro dele quem estaria mentindo, e a solução teria sido
expulsar Satanás. Ananias seria apenas uma vítima inocente e não o autor do
ato que a Bíblia declara ter ele sido (Atos 5:4). Ananias estava no controle e foi
responsabilizado pela sua ação, e não Satanás. Esta passagem deve ser melhor
entendida como um exemplo de como Satanás usou o coração rebelde de um
cristão como base de operação. (Thomas Ice e Robert Dean, Jr., A Holy
Rebellion - Uma Rebelião Santa, p. 126.)

Ora, se Ananias e Safira estivessem possessos, por que


Pedro não expulsou deles o mau espírito? O que teria acontecido
com Pedro? Ele que expulsava demônios e curava enfermos (Mt
10:1-8 e Lc 10:1-17), agora, depois de Pentecostes, depois da
descida do Espírito Santo e de ser revestido do poder do alto não
é mais capaz de fazê-lo? Com certeza, se Ananias e Safira
estivessem possessos, Pedro teria sido usado por Deus para
expulsar o mau espírito.
O reverendo Caio Fábio conta que certa vez foi chamado
para expulsar o demônio de um pastor que vivia uma vida de
desobediência a Deus. Depois de liberto, perguntou o que havia
acontecido e se crente fica possesso. Essa foi a resposta do
reverendo Caio Fábio: "Expliquei-lhe que pastor fica, crente não;
presidente de denominação fica, crente não; gente que dá show
em plataforma fica, crente não; crente batizado, selado no Espírito
Santo da promessa, habitado pelo Senhor Jesus pode até ficar
opresso, pressionado. O diabo pode tentar, induzir, cercar,
angustiar, pode tocar na carne, mas possuir a consciência de um
ser que foi comprado e lavado pelo sangue de Jesus, nunca! E se
você ouvir dizer o contrário, repreenda, em nome de Jesus!" (Caio
Fábio, Batalha Espiritual (Niterói, RJ., Vinde Comunicações, 1994), p. 157-8.)
A Palavra de Deus informa que Paulo recebeu um espinho
na carne, um mensageiro de Satanás, para esbofeteá-lo (2 Co
12:7) e que seus planos podiam ser impedidos por Satanás (1 Ts
2:18). Nem por isso ousará alguém dizer que Paulo em algum
momento de sua vida de cristão tenha sido endemoninhado ou
possuído por demônios.
Assim, a Bíblia não ensina que um cristão pode ficar
possesso ou ser habitado por um demônio. Pode, sim, ser
atacado, oprimido de várias maneiras por demônios, mas não
possuído por eles ou ficar endemoninhado.

O inimigo no corpo

Para justificar a expulsão de demônios de crentes, vários


pregadores da batalha espiritual afirmam que o espírito mau não
pode habitar no espírito do cristão, mas pode habitar na alma e no
corpo. É o que dizem, por exemplo, Frank e Ida Mae Hammond,
no livro Porcos na Sala, ao responder à pergunta:

Como é que um cristão pode ter demônios? (...) O Espírito Divino passa
a habitar no espírito humano na hora da salvação. Os espíritos demoníacos
estão relegados à alma e ao corpo do cristão. Os demônios afligem as
emoções, a mente, a vontade e o corpo físico, mas não o espírito do cristão. A
finalidade da libertação é tirar os demônios transgressores da alma e do corpo,
a fim de que Jesus Cristo possa reinar também sobre estas áreas. (Frank e Ida
Mae Hammond, Porcos na Sala (Mogi das Cruzes, SP, Editorial Unilit,1973), p.
132-3.)
Da mesma forma ensina também uma autora, citando as
palavras de um autor chamado Paul Tan:

Assim como no templo, a presença de Deus estava no Santo dos


Santos e não no lugar santo ou no átrio, também o Espírito Santo habita
somente em nosso espírito e não em nosso corpo". Ela conclui: "O átrio é
impuro (...) Assim como o átrio pode ser dado aos gentios, o corpo pode ser
dado aos espíritos imundos. O que acontece nesse caso é que enquanto o
Espírito Santo habita no espírito, demônios podem habitar na carne (...) Eles se
escondem em algum lugar nos cantos. (Valnice Milhomens, Batalha Espiritual,
p. 54.)

A posição defendida aqui é baseada num conceito


distorcido de Kenyon, o pai da Confissão Positiva, sobre a
natureza do homem. Kenyon, Kenneth Hagin e outros da Teologia
da Prosperidade ensinam que o homem é um espírito, que tem
uma alma e habita num corpo. Tal posição não reflete o que a
Bíblia ensina sobre a natureza do homem, pois o homem é um ser
integrado de corpo, alma e espírito. Tanto o corpo quanto a alma
e o espírito devem ser conservados irrepreensíveis para a vinda do
Senhor Jesus. Paulo acrescenta ainda no mesmo versículo: "O
mesmo Deus da paz vos santifique em tudo" e isso inclui o corpo
(veja 1 Ts 5:23). Como pode alguém ensinar que o demônio pode
habitar no corpo do cristão quando a Bíblia afirma exatamente o
contrário? Paulo declarou que o corpo do cristão é o templo do
Espírito Santo e que Deus deve ser glorificado também através do
nosso corpo (1 Co 6:19, 20 e Fp 1:20). O corpo é tão importante
que o Senhor vai ressuscitá-lo um dia no futuro.
Não está correto também, biblicamente falando, traçar
paralelos entre gentios e demônios, pois a Palavra de Deus está
cheia de promessas aos que não são judeus. A Abraão, Deus
disse: "(...) em ti serão benditas todas as famílias da terra" (Gn
12:3). Uma das profecias messiânicas de Isaías anunciou que o
Senhor Jesus seria como uma luz para os gentios (42:6). Na carta
aos romanos, Paulo fala das promessas de Deus aos gentios
(15:8-12). Aos gálatas, ele explica: "Ora, tendo a Escritura
previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o
evangelho a Abraão: Em ti serão abençoados todos os povos"
(3:8). Aos efésios, Paulo diz: "a saber, que os gentios são co-
herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da
promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho" (3:6).
Ao inaugurar o templo, Salomão orou: "Também ao
estrangeiro, que não for do teu povo Israel, porém vier de terras
remotas, por amor do teu grande nome, e por causa da tua mão
poderosa e do teu braço estendido, e orar, voltado para esta casa,
ouve, tu, dos céus, do lugar da tua habitação, e faze tudo o que o
estrangeiro te pedir, a fim de que todos os povos da terra
conheçam o teu nome, para te temerem como o teu povo Israel, e
para saberem que esta casa, que eu edifiquei, é chamada pelo teu
nome" (2 Cr 6:32, 33).
Não demorou muito, a rainha de Sabá apareceu em
Jerusalém para ver a riqueza e ouvir a sabedoria que Deus havia
dado a Salomão, talvez até em resposta à oração de Salomão.
Depois de tudo o que viu e ouviu, ela glorificou a Deus (2 Cr 9:1-
8). Muitos anos depois, chegou a vez do eunuco de Candace,
como relata Lucas: "Eis que um etíope, eunuco, alto oficial de
Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todo o
seu tesouro, que viera adorar em Jerusalém, estava de volta, e,
assentado no seu carro, vinha lendo o profeta Isaías" (At 8: 27,
28).
Quando os demônios entram no corpo de uma pessoa, eles
o fazem com a intenção de afligir, perturbar, causar males ao
possesso e até de blasfemar, pois são espíritos rebeldes. Isso é
muito diferente de um gentio entrando no átrio do templo para
adorar, como aconteceu com o eunuco de Candace. Ele foi a
Jerusalém com um coração inquiridor e humilde o suficiente para
permitir que Filipe, um homem simples, lhe explicasse o texto de
Isaías 53:7, 8.
Bem comentou um irmão sobre essa questão de Deus
habitar no espírito e o demônio habitar no corpo do crente:

Quanto à comparação, não é razoável, pois, mesmo sendo certo que os


pecadores tinham acesso ao pátio externo, não indica "habitação", nem
impunham qualquer resistência a Deus, ou causavam danos, antes eram
purificados pela ministração do sacrifício. Tais pessoas não "ficavam
escondidas", mas, pelo contrário, se revelavam como pecadores e buscavam
reconciliação. (Trabalho do Major Paulo Rangel, do Exército de Salvação,
intitulado O Evangelho da Prosperidade (São Paulo, junho de 1993), p. 4.)

D. R. McConnell apresenta um valioso comentário sobre


esta questão:

O tricotomismo extremado da antropologia da Confissão Positiva, que


identifica o "verdadeiro eu interior" do homem como fundamentalmente divino,
residindo exclusivamente em seu espírito, num contraste radical em relação ao
seu corpo e alma transmutados por poderes demoníacos, é muito mais
característica da mitologia gnóstica do que o ponto de vista judaico-cristão
sobre o homem. (D. R. McConnell, ADiferent Gospel (Um Evangelho Diferente)
(Peabody, MA, E.U.A., Hendrickson Publishers,1988), p. 123.)

O que aconteceu com a conversão?

Uma preletora de batalha espiritual fala num de seus livros


de uma senhora, membro de uma igreja evangélica, que quando
se convertera ao Senhor, há dez anos, foi com toda fé e
entusiasmo a Jesus Cristo, mas não havia feito a quebra de
vínculos com entidades a quem serviu no passado, dando todo o
direito legal para fazerem da sua vida o que quisesse. Vivia
opressa, comprometida com pecados de toda a espécie,
especialmente com envolvimento na área sexual: mãe solteira por
algumas vezes, vivia na época com uma pessoa que não era seu
marido. "No nosso entender", diz a autora, "a falta de quebra dos
vínculos fez com que ela não percebesse a gravidade do pecado
em que estava envolvida e a levara a crer que ela estava bem".
(Neuza ltioka, Fechando as Brechas (São Paulo, SP, Editora Sepal, 1994), p. 62-
3.)
Essa preletora relata ainda um outro caso:

Uma outra senhora, apesar de ter tido um envolvimento profundo com


o candomblé e ter até sido "mulher de Belzebu", quando se converteu, não
quebrou os vínculos com os demônios (...) Chegou a se casar com um obreiro
que logo tornou-se pastor. O marido, pastor que nunca tinha tido problema
com o espiritismo, começou a mostrar sinais estranhos de envolvimento com as
pombas-giras e começou a se prostituir. Ele enfrentava tentações sobrenaturais
na área de sedução sexual, caindo em adultério devido ao envolvimento pesado
de sua esposa com diversas entidades (...) Quando finalmente conseguiu ser
ministrada pessoalmente, teve de renunciar a mais de sessenta entidades com
quem se envolvera nas suas consultas e conversas, oferecendo sacrifícios,
fazendo trabalhos e até tornando-se "cavalo" de muitos deles. Ela quebrou as
maldições hereditárias.

Nos dois relatos mencionados acima, a autora fala de


pessoas que, após a conversão, não haviam quebrado ainda os
vínculos com os demônios. A impressão que se tem é a de que
muitos que se envolvem no ministério de batalha espiritual estão
substituindo a conversão pela libertação. O que é conversão,
afinal? Quanto a conversão, um dicionário da Bíblia comenta:

A conversão consiste na entrega própria àquela união com Cristo que é


simbolizada pelo batismo: união com ele em sua morte, o que concede
libertação da penalidade e do domínio do pecado; e união com ele na sua
ressurreição dentre a morte, para que o crente viva para Deus por intermédio
de Cristo e com ele ande em novidade de vida, por intermédio do poder do
Espírito Santo que lhe vem habitar no íntimo. (R. P. Shedd , Editor em
português, O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo, SP, Edições Vida Nova, vol.
1, p. 320.)

Um certo ministério que atua na área de batalha espiritual


afirma numa de suas apostilas: "Sem libertação não há salvação".
(Apostila Estabelecendo Um Ministério Local de Libertação, São Paulo, SP,
Missão Evangélica Shekinah, p. 6.) À luz da Bíblia, é exatamente o
contrário, pois a conversão, ou a salvação em Cristo, é a base da
libertação (a menos que haja um caso de possessão demoníaca).
Toda pessoa convertida e que está em Cristo foi liberta do império
das trevas e transportada para o reino do Filho do seu amor (Cl
1:13). A conversão implica sair das trevas para a luz, e ser
convertido do poder de Satanás ao poder de Deus (At 26:18). A
Palavra de Deus é suficiente para libertar, como afirmou o Senhor
Jesus: "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (...) Se,
pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (Jo 8:32,
36).
É muito estranho também a autora já mencionada aqui
afirmar que a mulher com problemas espirituais chegou a afetar o
marido, ao ponto de ele naufragar espiritualmente, quando a
Bíblia ensina exatamente o contrário. Ao dar instruções sobre a
vida matrimonial, Paulo orientou: "Porque o marido incrédulo é
santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é
santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte os vossos
filhos seriam impuros; porém, agora, são santos" (1 Co 7:14).
Tive o privilégio de levar minha mãe a Cristo e ela tornou-
se uma serva de Deus muito fiel, e, devido às perseguições de
meu pai, teve que pagar caro para seguir a Jesus. Meu pai se
envolveu muitas vezes com o espiritismo, buscando um alívio para
sua alma, algo que nunca alcançou ali. Com o passar do tempo,
ele começou a desenvolver uma aversão muito grande pelo
Evangelho, a ponto de recusar minhas visitas em sua casa e
proibir minha mãe de freqüentar uma igreja evangélica. Por cinco
anos, tive que ministrar a Ceia para minha mãe de forma
escondida, sem que ele soubesse. Meu pai vivia constantemente
sob opressão demoníaca e teve uma vida infeliz.
Nunca vou me esquecer da firmeza de minha mãe, de sua
paciência, de sua perseverança na oração e de sua fidelidade a
Deus durante os vários anos de perseguições. Quatro meses antes
de falecer, meu pai aceitou a Cristo e naquele breve período de
tempo pudemos testemunhar a nova vida que o Senhor lhe deu.
Ao contrário do exemplo da preletora de batalha espiritual, não
foram as trevas que venceram a luz, mas a luz venceu as trevas,
de acordo com a Palavra de Deus: "Filhinhos, vós sois de Deus, e
tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está
em vós do que aquele que está no mundo" (1 Jo 4:4).
O Senhor, por sua graça e misericórdia, já me usou para
expulsar demônios de alguns freqüentadores de igrejas
evangélicas. Contudo, não posso afirmar que eram realmente
cristãs. Para usar a frase de alguém: "O fato de uma pessoa estar
na igreja não a transforma num cristão, como o fato de estar
numa garagem não a transforma num carro". É preciso nascer de
novo e viver em Cristo. Muitas vezes ouço alguém dizer que foi
pregar num determinado lugar e uma quantidade de almas se
converteu. Ora, não vemos conversões e, sim, decisões. Podemos
ver as pessoas vindo à frente, ajoelhando-se diante do púlpito e
até em lágrimas, mas somente o Senhor pode ver as conversões.
A verdadeira conversão levará alguém a produzir os frutos do
arrependimento, os frutos do Espírito, e a viver segundo a Palavra
de Deus.
É totalmente antibíblico expulsar demônio de uma pessoa
que nasceu de novo e que vive em Cristo. A Palavra de Deus dá
total segurança ao crente fiel, pois o Filho de Deus se manifestou
para destruir as obras do diabo (1 Jo 3:8), e "maior é aquele que
está em vós do que aquele que está no mundo" (1 Jo 4:4). João
disse ainda: "Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus
não vive em pecado; antes, aquele que nasceu de Deus o guarda,
e o maligno não lhe toca" (1 Jo 5:18). Ora, se o maligno nem
pode tocar naquele que é nascido de Deus, como vai habitar nele?
Biblicamente impossível.
Em nenhum lugar a Bíblia fala de expulsar demônios de
crentes. A provisão de Deus para o crente vencer a guerra
espiritual não é libertação e, sim, resistência, como escreveu
Tiago: "Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele
fugirá de vós" (Tg 4:7). Pedro também nos exorta a fazer o
mesmo: "Resisti-lhe firmes na fé" (1 Pe 5:9).

"Tá amarrado!"

Antes era: "O sangue de Jesus tem poder!" Agora é: "Tá


amarrado!". E como gostam de amarrar! Em muitas igrejas,
amarram no início, no meio e no fim do culto. Amarram antes e
depois de cada cântico. Como disse alguém: "Haja corda!" E não
estão amarrando direito, pois a todo o momento o demônio
"escapa" e eles têm que amarrar novamente. Assim, vão
aparecendo, de tempo em tempo, fórmulas mágicas para derrotar
o inimigo.
Tal mania foi criada a partir de alguns textos bíblicos mal-
interpretados. Um deles é o de Mateus 12:22-29: "Ou, como pode
alguém entrar na casa do valente e roubar-lhe os bens sem
primeiro amarrá-lo? e então lhe saqueará a casa" (versículo 29).
Nesta passagem, Jesus curou um homem endemoninhado
(versículo 22), o que levou a multidão a dizer: "É este,
porventura, o Filho de Davi?" (versículo 23). Isso não agradou os
fariseus, que aproveitaram a ocasião para difamar o Senhor,
dizendo que ele expulsava demônios pelo poder de Belzebu,
príncipe dos demônios.
Jesus responde que, se isso fosse verdade, o reino de
Satanás estaria dividido e não subsistiria. Se Jesus está destruindo
o reino de Satanás, então o que ele faz é pelo poder de Deus, não
de Belzebu. Jesus fala sobre amarrar o valente para saquear-lhe a
casa. Ora, para que alguém possa amarrar o valente, é preciso ser
mais forte do que ele. É aí que entra Jesus. O desenrolar do plano
da salvação, o nascimento, a vida, a morte e ressurreição de
Cristo mostram a superioridade do Filho de Deus sobre o príncipe
das trevas (1 Jo 4:4). Quando Jesus salva, liberta e transforma o
pecador, ele está saqueando a casa do valente e Satanás não
deixaria que seu reino fosse saqueado por alguém mais fraco do
que ele. O propósito do texto é mostrar que Jesus é maior e mais
forte do que Satanás e não de ensinar aos crentes que saiam por
aí amarrando demônios. O conselho bíblico para o crente não é
amarrar, mas resistir (Tg 4:7 e 1 Pe 5:8, 9). Cristo mesmo, o Rei
dos reis, o Senhor dos senhores, o Leão da tribo de Judá que
venceu, o Deus Forte de Isaías 9:6, e não Pedro, Paulo, Maria ou
qualquer outro preletor de guerra espiritual é quem amarra
Satanás.
Outras passagens usadas são Mateus 16:19: "Dar-te-ei as
chaves do reino dos céus: o que ligares na terra terá sido ligado
nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos
céus" e Mateus 18:18: "Em verdade vos digo que tudo o que
ligardes na terra terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes
na terra terá sido desligado no céu". Quanto ao termo "terá sido
ligado (...) terá sido desligado", Ryrie comenta: "O céu, não os
apóstolos, é que inicia o ligar e o desligar, ao passo que os
apóstolos anunciam tais coisas. Em João 20: 22-23, Jesus fala de
pecados; aqui ele fala de coisas (i.e., práticas). Um exemplo das
práticas determinativas dos apóstolos encontra-se em At 15:20".
(A Bíblia Anotada de Ryrie, São Paulo, SP, Editora Mundo Cristão, p. 1208.)
Dois outros autores oferecem um bom esclarecimento
sobre essa questão de "ligar" (amarrar) e "desligar":

O foco das passagens de Mateus 16:19 e 18:18 é sobre a palavra


"ligar" (deo). Nesses contextos, a idéia de ligar e desligar tem a força de uma
noção judicial de "proibir" e "permitir". Esta frase era usada nos dias de Cristo
pelos líderes religiosos de Israel sobre o que era proibido (ligado) e o que era
permitido (desligado). Portanto, Pedro e os apóstolos seriam os agentes
humanos através de quem a entrada no reino de Deus seria negada ou
permitida .(Thomas Ice e Robert Dean, Jr., A Holy Rebellion - Uma Rebelião
Santa, p. 101-2) [Quanto a Mateus 18:18, ele acrescenta:] Jesus está dizendo
que os crentes podem ter confiança de que quando eles excomungarem, de
forma justa, alguém na Terra, estarão cumprindo a vontade de Deus já
determinada no céu. Em ambas as passagens, nenhuma palavra se refere à
idéia atual de amarrar Satanás ou demônios. Ao invés disso, essas referências
têm a ver com o fazer a vontade celestial de Deus na Terra, exatamente como
já tinha sido estabelecida no céu. De fato, a idéia atual de ligar e desligar tem
muito mais a ver com os métodos de expulsão e remoção de maldições ligados
ao ocultismo do que com qualquer coisa relacionada com o cristianismo bíblico.

Não faz muito tempo, um grupo de evangélicos foi até ao


Vale do Anhangabaú, em São Paulo, marchou em volta do local,
amarrou os demônios e decretou que o Vale era do Senhor Jesus.
Mas, por alguma razão não funcionou, pois uns três dias depois, a
Legião da Boa Vontade (uma seita espírita) fez ali no mesmo local
uma concentração para vinte mil pessoas. Além disso, o Vale
continua infestado de assaltantes, trombadinhas e prostitutas.
Pregar o Evangelho, puro como ele é, sem acréscimos, foi e
sempre será o método para se expandir o Reino de Deus e trazer
homens e mulheres ao pé da cruz de Cristo.

Espíritos territoriais

A ênfase dada atualmente à batalha espiritual trouxe


consigo a crença nos espíritos territoriais. Tal ensino defende que
há demônios específicos sobre determinada área ou região
geográfica que dificultam a pregação do Evangelho e o progresso
da Igreja e até de uma cidade ou nação. Torna-se necessário
então identificar tais espíritos maus e expulsá-los para que a
vitória se concretize.
Peter Wagner, professor do Seminário Fuller, em Pasadena,
Califórnia, E.U.A., e um especialista em crescimento de igrejas,
tem promovido em grande escala a crença em espíritos territoriais
e várias outras novidades na área de batalha espiritual. No seu
livro Oração de Guerra gasta-se um capítulo todo (capítulo cinco)
defendendo tais conceitos. Wagner tem influenciado muita gente
e ministérios nos Estados Unidos, Japão, Argentina e ultimamente
no Brasil também.
Segundo ele, Satanás delega aos membros de elevada
posição da hierarquia dos espíritos maus o controle de nações,
regiões, cidades, tribos, grupo de pessoas, vizinhanças e outros
grupos sociais importantes de pessoas através do mundo. O
principal trabalho deles é de impedir que Deus seja glorificado em
seus territórios, o que eles fazem ao dirigir a atividade dos
demônios nas posições inferiores.
Observe esta informação fornecida por Wagner:

Não sei quantos maus espíritos existem ao redor do planeta Terra. Uma
interessante coleção de números vem de Friday Thomas Ajah, um
superintendente de Escola Dominical na igreja Assembléia de Deus em Oribe,
Port Harcourt, Nigéria. Por nove anos, antes de sua conversão, ele foi um líder
do ocultismo de elevada posição, tendo recebido do próprio Satanás o nome de
São Tomás, o Divino. Ajah relata que Satanás havia lhe dado controle sobre
doze espíritos, e que cada um desses espíritos controlava 600 demônios, num
total de 7.212. Ele diz: "Eu estava em contato com todos os espíritos,
controlando cada cidade na Nigéria, e eu tinha um santuário nas principais
cidades". (Peter Wagner, Wrestling With Dark Angels (Confrontando com Anjos
da Escuridão) (Ventura, Califórnia, E.U.A., Regal Books, 1990), p. 76.)

Há algo preocupante nesse relato de Peter Wagner, pois a


sua fonte de informação é o ocultismo, não a Bíblia. Isso é
extremamente perigoso. Seria como alguém deixar a macumba, ir
para uma igreja evangélica e tentar incorporar aos ensinos da
Igreja aquilo que a pessoa sabia ou fazia antes de sua conversão.
Tal sincretismo é inaceitável à luz da Bíblia.
Há várias passagens usadas pelos pregadores da batalha
espiritual para defender a territorialidade dos espíritos. As mais
comuns são as de Isaías 14:12-14 e Ezequiel 28:12-19, em que a
palavra dos profetas é dirigida ao rei de Tiro, podendo ser ao
mesmo tempo uma referência a Satanás. Efésios 3:10 e 6:12
também estão entre os textos mais citados. Um dos textos usados
por Wagner para defender a territorialidade dos espíritos é Daniel
10, que descreve a luta entre os anjos de Deus e o príncipe da
Pérsia (Dn 10:13). Esta é a sua opinião:

Essa história pouca dúvida deixa de que os espíritos territoriais


influenciam grandemente a vida humana, em todos os seus aspectos
sociopolíticos. E também mostra-nos claramente que a única arma de que
Daniel dispunha, a fim de combater aqueles poderes das trevas, era a oração
de guerra. (Peter Wagner, Oração de Guerra, la ed. (Mogi das Cruzes, SP,
Editora Unilit), p. 64.)

Gerry Breshears, professor de teologia no Western


Seminary, em Portland, Estado de Oregon, nos E.U.A., oferece um
interessante comentário sobre a territorialidade dos espíritos:

Alguém vai procurar em vão pelo trabalho de estratégia de guerra


espiritual nessas passagens - ou mesmo em qualquer lugar da Bíblia. Embora
Daniel apóie a idéia de identificação territorial de certos anjos, especialmente
no capítulo 10, ele não apóia qualquer tipo de envolvimento humano numa
guerra angelical. Longe de encontrar Daniel envolvido em oração de guerra,
discernindo e orando contra espíritos regionais, vamos encontrá-lo frustrado
pela ausência de resposta à sua oração a Deus. Daniel encontra-se totalmente
alheio à batalha angelical até a explicação apologética do anjo para a demora
da resposta de Deus à sua oração. A visão de Deus (capítulos 11 e 12) não é de
uma guerra nos reinos angélicos, mas do surgimento e queda dos reinos ímpios
do mundo até a vitória final de Deus. A visão foi dada a Daniel não em resposta
a um pedido ou através de discernimento espiritual, mas em resposta à sua fé
pessoal e amor a Deus (...) O papel de Daniel é encorajar o povo, lembrando-
os profeticamente de que Deus vencerá as forças do mal no tempo
determinado. Esta vitória acontecerá quando o Messias de Deus destruir os
reinos ímpios como uma pedra, esmiuçando a estátua e enchendo toda a Terra
(2:34, 35), quando alguém semelhante ao Filho do Homem aniquilar o domínio
do maligno para sempre (7:10-28). Não há qualquer alusão quanto a discernir,
amarrar ou orar contra os espíritos maus cósmicos. (Gerry Breshears, artigo
publicado no Journal of the Evangelical Theological Society (março de 1994), p.
14.)

O texto de Marcos 5, que relata a libertação do gadareno, é


usado por muitos também para defender a territorialidade dos
espíritos. Ao serem expulsos por Jesus, os demônios lhe pediram
que os não mandasse para fora do país (Mc 5:10). Afirmam os
pregadores da batalha espiritual que o fato de os espíritos
pedirem a Jesus que os não mandasse para fora do país fornece-
lhes apoio para o ensino de espíritos territoriais. Ora, o texto de
Marcos 5:10 deve ser entendido à luz de um texto paralelo, o de
Lucas 8:31. Em Lucas, Jesus ameaçava mandá-los para o abismo
e esta pode ter sido a causa de preferirem ficar naquela região.
Quanto a Efésios 3:10 e 6:12, Breshears comenta ainda:

Efésios 3:10 não ensina que a Igreja anuncia a mensagem a poderes


demoníacos. O verbo principal (gnoristhe, "para que se torne conhecida") é
passivo. Ao invés do envolvimento ativo na guerra contra as potestades
espirituais, a própria existência da Igreja expõe a impotência do domínio das
trevas para impedir o trabalho de Deus. Embora exista a menção de uma
variedade de maus espíritos em Efésios 6, não há qualquer insinuação ou
estímulo para se discernir hierarquias. A ênfase de Paulo não permite
especulação esotérica sobre a natureza, nomes ou funções dessas potestades
demoníacas. Sua posição é de que o Evangelho fornece tudo o que é necessário
para resistir a atividade tentadora das forças espirituais das trevas. A batalha
em Efésios não é territorial, mas pessoal.

Mapeamento espiritual

A crença na territorialidade dos espíritos introduziu um


elemento novo no assunto da guerra espiritual: o mapeamento
espiritual. De acordo com um casal de missionários, mapeamento
espiritual é a reunião de informações no mundo visível que pode
nos auxiliar a entender o que fica abaixo da superfície, nas
dimensões espirituais (...) O mapeamento espiritual pode nos
ajudar a entender os aspectos invisíveis, tanto do Reino da Luz,
quanto do Reino das Trevas. (Lourenço e Estefânea Kraft, Espiando a
Terra: Como Entender Sua Cidade. São Paulo, SP, Editora Sepal, 1995, p. 40-
2.) Citam também a definição de Harold Caballeros, da Guatemala:
"É a revelação de Deus sobre a situação espiritual do mundo em
que vivemos. Essa é uma visão que transcende nossos sentidos
naturais e, pelo Espírito Santo, nos revela as hostes espirituais das
trevas”.
Esses autores sabem que o assunto de mapeamento
espiritual é controvertido, como eles mesmos declararam no livro:
"Muitas pessoas encaram mapeamento espiritual como um tipo de
atividade mística, esotérica, quase espírita. Isto tem resultado em
muita controvérsia sobre a validade de mapeamento espiritual
como um estratagema evangelístico e missiológico". No apêndice
1 do livro, os autores apresentam uma lista de perguntas
extraídas de uma obra de Peter Wagner (um autor muito
controvertido hoje), para se fazer o mapeamento espiritual. Eis
algumas:

- Qual o significado do nome original da cidade?


- O nome foi mudado?
- Existem outros nomes ou denominações populares da
cidade?
- Estes nomes significam algo?
- Significam bênção? Maldição?
- Fazem destacar o dom redentor de Deus para a cidade?
- Eles refletem o caráter do povo da cidade?

Para defender o ensino de mapeamento espiritual, o casal


cita o exemplo da cidade de Parati, no Rio de Janeiro. De acordo
com estes autores:

A cidade foi fundada como uma plataforma para aventureiros


gananciosos em busca de ouro e pedras preciosas em Minas Gerais e em seus
cumes hospedavam-se os traficantes de escravos e os comerciantes de tabaco
e pinga (...) Nestes dias, mais de trezentos anos depois, Parati ainda é
conhecida como a "Capital da Cachaça" do Brasil e certamente do mundo.
Infâmia deste tipo pode dar a Satanás a oportunidade de trabalhar em nossas
comunidades.

Se aplicássemos o exemplo de Parati em Paris, poderíamos


dizer que a capital da França e os seus moradores vão muito bem
espiritualmente, pois Paris é conhecida como a "Cidade Luz".
Poderíamos dizer o mesmo também do Rio de Janeiro, que a
cidade não tem os problemas ou os pecados que lhe são
atribuídos, pois o Rio é conhecido como a "Cidade Maravilhosa".
Salvador, um nome tão bíblico e com um significado
espiritualmente fantástico, deveria fazer da capital da Bahia o
centro evangélico do Brasil. Entretanto, a cidade tornou-se o
centro do culto afro da nação. E o que dizer do Estado do Espírito
Santo, cuja capital é Vitória. Com esses nomes, não deveria ser
um paraíso de santidade? No entanto, não é o que acontece. Há
muitos outros exemplos assim. Uma certa autora diz ainda:

A Igreja, como extensão de Cristo, cabe submeter determinadas


regiões geográficas ao controle do verdadeiro Senhor. A conseqüência deste
ato é a receptividade sem precedente do Evangelho. A sujeição de um
determinado local ao Senhorio de Jesus Cristo e o destronamento dos
principados e potestades devem ser acompanhados de pregação da Palavra.
(42. Neuza Itioka, Fechando as Brechas (São Paulo, SP, Editora Sepal, 1994), p.
56.)

Ora, não se destrona principados e potestades para depois


pregar a Palavra de Deus, mas primeiro se prega a Palavra, pois
ela, sim, tem o poder para vencer as potestades malignas. Foi por
meio da pregação da Palavra de Deus, e não de rituais de
destronamento, que Deus realizou uma grande obra em Éfeso
(veja At 19:1-20). Os versículos 8, 9, 10 e 20 mostram que a
Palavra de Deus prevalece.
A idéia de que temos de submeter regiões geográficas ao
Senhor Jesus decorre da crença de muitos de que, com o pecado
deAdão, Deus perdeu o controle e a posse deste mundo.
Entretanto, isso não é correto à luz da Bíblia. De quem é a Terra?
A Bíblia responde: "Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela
se contém, o mundo e os que nele habitam" (Sl 24:1). Pertence a
Deus porque foi ele quem criou (Jo 1:3; Cl 1:16) e é ele quem
sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder (Hb 1:3).
Embora Satanás tenha prometido dar a Jesus os reinos do
mundo, quem garante que ele estava dizendo a verdade? Jesus
disse que ele é pai da mentira (Jo 8:44) e, ao tentar Eva, mentiu
quando lhe disse que não morreria se comesse do fruto proibido
por Deus (Gn 3:4). Satanás é chamado o deus deste século (2 Co
4:4). De acordo com a Chave Lingüística do Novo Testamento
Grego, o termo aion, nesta passagem, "refere-se a toda aquela
massa de pensamentos, opiniões, máximas, especulações,
esperanças, impulsos, objetivos, aspirações correntes a qualquer
época no mundo" (Fritz Rienecker/Cleon Rogers, Chave Lingüística do Novo
Testamento Grego (São Paulo, SP, Ed. Vida Nova, 1988), p. 342.) e não ao
mundo físico.
Quanto a expulsão de demônios de regiões geográficas, o
pastor Ricardo Gondim comentou com sabedoria:

A expulsão de demônios de uma área geográfica parece muito mais


uma ação que acontece através de um avivamento da Igreja que avança com
seu poder de influenciar e converter pessoas e sociedades, que uma ordem que
se dê aos principados e potestades. (Ricardo Gondim, Os Santos em Guerra
(São Paulo, SP, Ed. AbbaPress, 1993), p. 174.)

É importante observar que não se encontram tais ensinos


no Novo Testamento. O Senhor Jesus nunca instruiu os seus
discípulos sobre espíritos territoriais ou mapeamento espiritual
quando os enviou às cidades e aldeias para evangelizar (Mt 10:1-
14). Nenhum escritor no Novo Testamento deu qualquer instrução
quanto a isso. Veja o apóstolo Paulo por exemplo. Ao escrever aos
gálatas, informou-lhes: "Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o
evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque
eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante
revelação de Jesus Cristo" (Gl 1:11, 12).
Quando Paulo esteve em Mileto, mandou chamar os
anciãos de Efeso, pois queria falar-lhes. Entre várias coisas, Paulo
lhes declarou: "Porque jamais deixei de vos anunciar todo o
desígnio de Deus" (At 20:27). Se o ensino da territorialidade dos
espíritos fizesse parte do Evangelho que lhe foi revelado pelo
Senhor, ele o teria ensinado, pois, como disse aos anciãos de
Éfeso, ele nunca deixou de anunciar todo o desígnio de Deus.
Depois de chegar a Filipos, Paulo foi seguido por uma
jovem possuída por um demônio que a fazia adivinhar (At 16:16,
17). Ora, se Paulo estivesse envolvido com a crença de espíritos
territoriais e se tal ensino fosse bíblico, ele teria orado antes de
chegar a Filipos, já teria identificado o espírito mau da região, já o
teria amarrado, e teria entrado na cidade sem enfrentar qualquer
oposição ao seu labor evangelístico. Porém, não foi isso o que
aconteceu. Paulo enfrentou o demônio, expulsou-o e ainda
encontrou muita oposição ao seu trabalho missionário em Filipos.
Observe que Paulo nunca deu instruções aos irmãos para que
descobrissem quem era o espírito territorial de Roma ou de
qualquer outra região. Sem dúvida, a crença na territorialidade de
espíritos não fazia parte dos ensinos de Paulo.
Eric Villanueva foi meu colega de classe no seminário
teológico Gordon-Conwell, nos Estados Unidos e viveu uma
experiência interessante em relação a esse assunto. Eric conta
que foi convidado a participar de uma reunião semanal de oração
para amarrar Satanás na área da baía de San Francisco, nos
Estados Unidos, para trazer santidade à vida pública daquela
região e destronar dali o espírito de homossexualismo através da
batalha espiritual. Buscava-se estabelecer a piedade cristã no
sistema educacional, na política e na mídia. Eric relata:

Fiquei feliz ao aceitar o convite de participar, mas quando saí da


reunião, estava perplexo. Havia pensado que seria uma reunião de oração
intercessória, mas, ao invés disso, a hora foi gasta em repreender Satanás em
todas as regiões celestiais superiores, dirigindo diretamente a ele em voz alta o
"amarrar". Um pensamento me assaltou: "Este grupo passa mais tempo falando
com Satanás que com Deus." Desde então, este estilo de batalha espiritual tem
proliferado, enquanto o sistema educacional, a política regional, a mídia e
principalmente o movimento homossexual têm-se afastado mais e mais dos
objetivos deste tipo de reunião de oração. Tanto bíblica quanto historicamente,
as batalhas espirituais são vencidas por viver para Deus e falar com ele na mais
diligente intercessão, ao invés de falar com Satanás. (Eric Villanueva, artigo
publicado no Christian Research Journal (verão de 1992).)

Eric tem razão. Nós não temos vivido atualmente nem os


vestígios de alguns avivamentos ou movimentos soberanos de
Deus acontecidos no passado, seja na Inglaterra com João
Wesley, na Nova Inglaterra (E.U.A.) com Jonathan Edwards, em
1745, ou no país de Gales com Evan Roberts, no início deste
século. Em todos esses movimentos de Deus, o centro das
atenções era o Senhor, não Satanás. Quanto a isso, a Palavra de
Deus tem a melhor receita: "olhando firmemente para o Autor e
Consumador da fé, Jesus" (Hb 12:2). Pode ser dito então que a
vida espiritual não consiste em uma preocupação doentia com o
inimigo, mas numa contemplação contínua da face do Senhor.

Informações extrabíblicas

Esse é um terreno extremamente perigoso. Quando


alguém, por falta de base bíblica, começa a ensinar, apoiado em
revelações, nunca se sabe até onde a pessoa vai chegar. Falando
de guerra espiritual, são abundantes as novidades encontradas
em livros, cassetes, vídeos e em preleções de simpósios de
batalha espiritual sobre Satanás, nomes de demônios,
experiências e estratégias de confronto espiritual que nada têm a
ver com a Palavra de Deus.
Tudo o que Deus quis que soubéssemos em relação a
qualquer aspecto da nossa vida espiritual (inclusive batalha
espiritual) encontra-se na Bíblia Sagrada. Paulo declarou quando
escreveu a Timóteo: "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil
para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a
educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito
e perfeitamente habilitado para toda boa obra" (2 Tm 3:16, 17).
Aos Romanos Paulo diz: "Pois tudo quanto outrora foi escrito, para
o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência, e pelas
consolações das Escrituras, tenhamos esperança" (Rm 15:4). Por
isso, o cristão deve contentar-se com aquilo que Deus revela em
sua Palavra sobre Satanás, seus anjos e batalha espiritual. E tudo
o mais.
A Bíblia apresenta vários títulos que descrevem o caráter e
as atividades do inimigo. Eis alguns exemplos: ele é chamado de
Lúcifer (em latim, portador de luz), em Isaías 14:12; Satanás
(adversário), em Jó 1:6 e Mateus 4:10; diabo (o acusador), em
João 8:44; o deus deste século, em 2 Coríntios 4:4; Belzebu (que
significa "senhor das moscas", "senhor das alturas" ou "senhor da
casa", tido como maioral dos demônios), em Mateus 12:24;
Tentador, em Mateus 4:3; Príncipe deste mundo, em João 14:30;
Maligno, em 1 João 5:18; Abadom (em hebraico) e Apoliom (em
grego), em Apocalipse 9:11, cujo significado é "destruição";
dragão, em Apocalipse 12:9 e a antiga serpente, também em
Apocalipse 12:9.
Muitos preletores que atuam na área de demonologia
parecem não se contentar com o que a Bíblia informa sobre o
assunto e estão sempre em busca de novidades ou fatos curiosos
sobre o inimigo. Infelizmente, a informação depois é passada para
o público como verdade espiritual, gerando assim muita
controvérsia no Corpo de Cristo.
Peter Wagner relata que entrou em contato com esta forma
de guerra espiritual (identificar os espíritos territoriais) quando
viajou pela Argentina em companhia de Omar Cabrera. É dito
ainda que a natureza altamente intuitiva de Cabrera não permitiu
que ele analisasse para Wagner os princípios por trás de tal
ministério. (Peter Wagner, Wrestling With Dark Angels - Confrontando com
Anjos da Escuridão, p. 84.) "Muito estranho! Como pode Deus revelar
(suponhamos que ele tenha revelado) uma arma tão poderosa de
guerra espiritual a alguém e essa pessoa não ser capaz de passá-
la a outros? Não faz sentido! Outros autores argentinos, tais como
Edgar Silvoso e Carlos Anacondia, já atraíram também vários
brasileiros para ensinos nada recomendáveis em relação à guerra
espiritual.

Nomes nunca ouvidos

Peter Wagner menciona ainda Rita Cabezas que, segundo


ele, tem feito uma considerável pesquisa sobre nomes nos mais
altos níveis da hierarquia de Satanás. Wagner evita descrever os
métodos de pesquisa de Rita, mas diz que no início eles estavam
ligados com sua extensiva prática psicológica e de libertação,
passando depois a receber palavras de conhecimento por
revelação. Peter Wagner relata:

Ela descobriu que diretamente sob Satanás estão seis principados


mundiais chamados Damian, Asmodeo, Menguelesh, Arios, Belzebu e
Nosferasteus. Sob cada um, diz ela, há seis governadores sobre cada nação.
Por exemplo, os que estão sobre Costa Rica são Shiebo, Quiebo, Ameneo,
Mephistopheles, Nostradamus e Azazel. Os que estão sobre os Estados Unidos
são Ralphes, Anoritho, Manchester, Apolion, Deviltook e um anônimo. A cada
um desses governadores tem sido delegada uma área do mal. Por exemplo, a
lista sob Anoritho inclui abuso, adultério, alcoolismo, fornicação, glutonaria,
ganância homossexualismo, lesbianismo, concupiscência, prostituição, sedução,
sexo e vício; enquanto sob Apoliom encontramos agressividade, morte,
destruição, discórdia, desacordo, rancor, ódio, homicídio, violência e guerra.
Nenhum desses acima é considerado como conclusão final, pois a pesquisa
ainda está em processo.
Achei estranho colocarem Nostradamus em Costa Rica, pois
faria mais sentido na França. Outros nomes fornecidos por Peter
Wagner no seu livro Oração de Guerra são San La Muerte,
Pombero e Curupi. (Peter Wagner, Oração de Guerra, 10 ed. (Mogi das
Cruzes, SP, Editora Unilit), p. 31.) Muitos desses nomes foram
aprendidos depois de submeter os demônios a juramento,
perguntando pelos seus nomes. Assim, não se trata apenas de
revelação extrabíblica, mas também de revelação demoníaca.

Demônios coloridos

Uma preletora de batalha espiritual fala até de um demônio


de cor grená e de um espírito de aborto em forma de sapo, cor
cinza-claro. Ela relata ainda como recebeu informações sobre o
demônio Minotauro ou Tauro:

Recebemos as revelações no dia 3-11-90, quando fomos fazer um


trabalho de libertação na casa de uma pessoa, e o Minotauro e o Centauro
dominavam e controlavam outro demônio de casta muito baixa, chamado
"Amoran" - tipo de uma lesma que atua nos homossexuais. São destituídos de
inteligência (...) Só pode ser exterminado dividindo-se em dois ou queimando
com o "Fogo do Espírito Santo"; não se expulsa, pois ele não entende a
linguagem dos humanos. (MatikoYamashita, Batalha Espiritual – apostila -
Ministério de Libertação El Shadai, sem data, p. 36, 37, 39.)

Há outras informações tão grotescas que é melhor não


mencioná-las aqui.
Alguns "ministros de libertação" ensinam que, ao se
expulsar um espírito mau, é necessário saber o seu nome correto
para que a libertação se efetue. Se alguém expulsar Maria
Molambo (entidade do culto afro) e se não é ela quem está na
pessoa, mas, sim, Maria Padilha (outra entidade do culto afro),
não funciona. Ora, isso é reconhecer um panteão mitológico, pois
à luz da Palavra de Deus, não existe Pomba-Gira, Maria Padilha,
Maria Mulambo, Iemanjá, Oxalá ou qualquer tipo de Exu. À luz da
Bíblia todos são demônios. Se alguém insiste em crer assim, logo
vai querer expulsar também o espírito de Papai Noel, gnomos,
duendes, Afrodite, Vênus, Zeus, Marte, Saturno, deuses
mitológicos e figuras da superstição popular. (Para um estudo sobre
os cultos afros à luz da Bíblia, recomendo o livro O Império das Seitas, de
Walter Martin, vol. 4, Editora Betânia, p. 155.)
Mas a lista não pára por aí. Há também Brumaus, Tremus,
Aurius, Cumba, Ismaichia, Krion, Kruonos, Sinfiris e muitos outros.
Tem até demônio com nome de Joaquim. Que ofensa para tantos
homens de Deus com o mesmo nome! O incrível é que esses
nomes e informações foram obtidos através de entrevistas e
diálogos com os demônios no ato do exorcismo. Logo, tratam-se
de revelações demoníacas e não bíblicas, não tendo muita
diferença com as obtidas numa sessão espírita.
Muitas apostilas foram distribuídas por esse Brasil afora e
algumas com até trezentos nomes de demônios. Entretanto, tais.
informações estão mais para as mitologias gregas, romanas,
Cabala (a superstição ou esoterismo judaico), literatura apócrifa
ou para os nomes de mestres cósmicos da Nova Era do que para
a Bíblia Sagrada.

Demônios malcheirosos

Outras informações chegam a ser surpreendentes. Tem até


aqueles que conseguem sentir o cheiro dos demônios. É o que
contam Frank e Ida Mae Hammond:

Uma outra faceta das manifestações demoníacas é a dos cheiros.


Lembro-me de uma vez em que estávamos ministrando numa casa pastoral. A
casa ficou tomada por um malcheiro parecido com o de repolho cozinhando
que, para mim, é um cheiro ruim. Numa outra ocasião, eu estava expulsando
um demônio de câncer. Ele saiu acompanhado por um cheiro distinto, igual ao
que encontramos num hospital de câncer. Quando os demônios são expulsos,
normalmente saem pela boca ou pelo nariz. Os espíritos estão associados à
respiração. Sem dúvida, a manifestação mais comum é tossir. A tosse pode ser
seca, mas em geral é acompanhada de catarro. Outras manifestações pela boca
incluem: choro, grito, suspiro, arroto e bocejo. (Frank e Ida Mae Hammond,
Porcos na Sala, Mogi das Cruzes, SP, Editora Unilit, p. 53.)

Nota-se aqui mais um exemplo de transformar experiências


em verdades espirituais.

Relações sexuais perigosas

Bill Subritzky diz que freqüentemente observa que os


demônios ficam na saliva e, por isso, o Espírito Santo o encoraja a
fazer a pessoa cuspir. Mas Bill tem mais ainda para contar:

O umbigo é muitas vezes um ponto de entrada para o poder


demoníaco. Ele poderá usá-lo, descendo pelo cordão umbilical antes ou durante
o nascimento. Os espíritos malignos já me disseram que entraram através de
sêmen masculino na mulher, e daí pelo cordão umbilical para dentro da pessoa
a quem eu ministrava. (Bill Subritzky, Demônios Derrotados, Adhonep, p. 134,
186.)

Isso já é demais! Não há qualquer base bíblica para tal


informação. Quem leva a sério a Palavra de Deus não pode crer,
ensinar ou publicar algo assim. Ora, se fosse verdade que os
espíritos malignos entram na mulher através do sêmen do
homem, a solução seria fácil. Bastaria usar preservativo.

Invocação de demônios

Em alguns círculos ditos evangélicos, os pregadores da


libertação chegam a instigar os demônios para que se
manifestem, dando-lhes ordens como: "Comece a manifestar aí,
Exu Tranca-Rua, comece a manifestar, Exu Caveira", (...) e uma
lista de nomes de orixás da umbanda e do candomblé são
mencionados. Parece até ser uma reunião de invocação aos
demônios. Não vemos tal modelo na Bíblia.
Nem Jesus nem os discípulos mandaram os demônios se
manifestarem. As manifestações demoníacas na Bíblia foram
espontâneas (veja Mc 1:23, 24; 3:11). A simples presença de
Jesus era o bastante para que o inimigo se manifestasse. O
mesmo acontecia com os discípulos. Quando esteve em Filipos,
Paulo não mandou que o espírito que possuía uma jovem se
manifestasse. Muito ao contrário, sentiu-se incomodado com as
suas declarações e o demônio foi expulso (At 16:17, 18). Basta a
presença do Senhor na Igreja ou na vida do cristão para o inimigo
ficar incomodado.
O culto cristão deve ser centralizado no Senhor. O objetivo
principal do povo de Deus ao se reunir é adorar a Deus em
espírito e em verdade. Todo esforço deve ser feito para que haja
crescimento no conhecimento do Senhor e da sua Palavra e na
comunhão do corpo de Cristo. Sem dúvida, num ambiente cristão
saudável deve-se dar atenção a todas as necessidades do ser
humano, sejam elas espirituais, emocionais ou físicas, desde que
dentro dos limites estabelecidos pela Palavra de Deus.

Obras da carne ou demônios?

Ao se examinar a lista existente hoje no mercado com os


nomes dos espíritos maus, pode-se encontrar nela os demônios da
prostituição, imoralidade, ciúme, inveja, alcoolismo, glutonaria,
ira, idolatria e vários outros. (Bill Subritzky, Demônios Derrotados,
Adhonep, p.134. Veja também a apostila de MatikoYamashita, Batalha
Espiritual, p. 41-2.) Ora, isso não são demônios. São atitudes carnais,
pecados ou obras da carne, conforme descritos por Paulo em
Gálatas 5:19-21. Embora os demônios se aproveitem das brechas
que lhes são dadas pelos crentes, não adianta ficar colocando a
culpa neles o tempo todo.
A vitória sobre o mal é certa através da conversão, da
santificação, quando o crente passa a produzir o fruto do Espírito
que é "amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade,
fidelidade, mansidão, domínio próprio" (Gl 5:22, 23), ao cultivar a
vida espiritual e crucificar a carne com suas paixões e
concupiscências.
Paulo teve um ministério frutífero e uma vida que serve de
exemplo para todo cristão enquanto a Igreja estiver na Terra.
Grande parte de suas atividades teve muito a ver com a batalha
espiritual. Apesar de Paulo não desconhecer os desígnios ou os
ardis de Satanás (2 Co 2:11), pois foi um especialista em guerra
espiritual, não há na Bíblia ensinos de Paulo sobre espíritos
territoriais, amarrar demônios, nomes extrabíblicos de demônios e
muitas outras superstições demonológicas existentes hoje.
Bem alertou o salmista: "Ora, destruídos os fundamentos, que
poderá fazer o justo?" Aqui reside o grande perigo. Se não houver
parâmetros bíblicos, nunca se sabe até onde vão chegar os
desvios doutrinários e a paranóia da guerra espiritual. Todo cristão
precisa terem mente também que a maior batalha espiritual que
ele pode desenvolver é manter a sua comunhão com Deus.

Salvo por Jesus

Nasci num lar tradicionalmente católico e, desde a infância,


estive envolvido com a Igreja, ajudando a celebrar a missa e
várias outras atividades. Mais tarde, fui para o seminário, onde
passei cinco anos preparando-me para o sacerdócio, o que era
meu grande sonho.
Lembro-me da sede espiritual que me dominava naquela
época de seminarista católico. Quantas vezes coloquei pedrinhas
dentro de meus sapatos, e rezei ajoelhado em cima de grãos de
milho. Dormia debaixo da cama, passava dois ou três dias sem
tomar água, fazendo sacrifícios para agradar a Deus, a exemplo
dos santos na era medieval. Isso não me foi imposto pelos padres.
Era algo que eu fazia espontaneamente. Quando faltavam dois
anos para tornar-me noviço, percebi que não era aquilo que eu
queria. Foi difícil deixar o seminário, pois tanto os padres como os
colegas achavam que eu realmente tinha uma genuína vocação
para o sacerdócio.
Meu pai nunca foi interessado pelos valores espirituais.
Entretanto, houve um tempo em sua vida em que as coisas
começaram a caminhar de forma negativa. Ele começou a receber
visitas de espíritos, em seu quarto, quase todas as noites. No
princípio ele temia essas experiências. Eu o escutava durante as
noites falando com os espíritos, e às vezes na manhã seguinte,
queixando-se com minha mãe: "Não pude dormir esta noite. Os
espíritos vieram e me incomodaram. Não pude dormir".
Com o passar do tempo, meu pai deixou de ter medo dos
espíritos. Até começou a conversar com eles, e muitas vezes o
escutei dizer algo como: "Quem são vocês? Como se chamam?
Que desejam de mim? O que posso fazer por vocês para que me
deixem em paz?" Meu pai chegou a ser mais e mais
atrevido com esses espíritos. Começou a ser grosseiro e brusco
com eles, e com o tempo dizia coisas como: "Deixem-me só! Vão
para o inferno!" Já não conseguia trabalhar direito e ficou
profundamente deprimido. Isto o levou a envolver-se com o
espiritismo. Começou a peregrinar de um centro a outro - uma
prática que durou cerca de 30 anos. Quanto mais ia a esses
centros, pior ficava.
Logo comecei a sentir-me afetado também por tudo isso.
Comecei a receber visitas de espíritos em meu quarto. Podia
escutar seus passos à noite pela casa. Sabia exatamente onde
eles estavam na casa - em outro quarto, na cozinha, ou na sala.
Podia ouvir seus passos que vinham em direção a meu quarto.
Podia escutar abrirem a porta e sentir que havia alguém mais
comigo no quarto. Não podia vê-los, contudo sentia claramente
sua presença espantosa, diabólica junto a mim.
Durante essas ocasiões, um medo paralisante me sobrevi-
nha de modo insuportável. Minha vida chegou a ser dominada
pelo temor. Apesar do intenso calor durante o verão, mantinha-
me debaixo dos cobertores. Ainda que nessa condição suasse
profusamente, mantinha-me assim, tal era o meu medo. Isso
durou não apenas algumas semanas, mas por vários anos.
Finalmente, tive que mudar minha cama para o quarto de meus
pais, pois não conseguia mais dormir a sós em meu quarto. Meu
pai e eu começamos então a compartilhar experiências noite
adentro.
- Você ouviu isso filho?
- Sim, eu escutei!
- Ouviu isso de novo?
- Sim!
O relacionamento entre meu pai e mim foi sempre precário.
Um dia ele me "convidou" para ir embora de casa. Por causa disso
fui para São José dos Campos e lá consegui um trabalho na
Embraer, uma fábrica de aviões. Trabalhei ali quase oito anos.
Quando comecei meu novo emprego, um rapaz da Assembléia de
Deus, o Luiz Cláudio, veio compartilhar comigo as boas novas do
Evangelho.
Lembro-me da primeira vez em que ele tentou me
evangelizar. Fiz algo para desanimá-lo de uma vez para sempre.
Perguntei-lhe:
- Você é formado em quê? Estudou teologia e filosofia?
Ele me disse que não, e logo passei a humilhá-lo, dizendo:
- Você não está à altura de me ensinar religião. Eu passei
cinco anos num seminário católico, estudei teologia e muitas
outras matérias. Se você quer discutir filmes ou futebol, tudo
bem; mas religião não! Você não está à altura de falar-me sobre
isso.
Naquela noite, o Luiz Cláudio foi a sua igreja, escreveu meu
nome num pedaço de papel e entregou-o ao líder da igreja, com a
seguinte informação:
- Vamos orar pelo Paulo Romeiro. Ele parece um demônio,
porém Deus pode mudá-lo.

E oraram por mim. Depois eu comecei a ler uma Bíblia


católica que minha irmã Terezinha havia deixado no meu quarto
de pensão. Houve uma época em que eu lia muito o Evangelho de
João, capítulos 13 a 17 e brotou dentro de mim uma sede intensa
pela Palavra de Deus. Muitas vezes eu chorava enquanto lia. O
Espírito Santo já estava trabalhando em meu coração.
Algum tempo depois, Cláudio me convidou para ir à igreja e
fui com ele numa quinta-feira à noite. Era uma igreja da
Assembléia de Deus e confesso que não gostei do culto devido às
manifestações de louvor a Deus. Depois eu quis ir com ele a um
culto de Ceia, pois estava curioso para saber como é que os
crentes tomavam a "comunhão". No dia seguinte era um domingo
e, à tarde, fui ver o filme Ben-Hur. Este filme teve um impacto
profundo em mim. Num certo instante do filme, quando um oficial
romano levantou o chicote para baterem Jesus por ter dado água
a Bem-Hur, Jesus simplesmente olhou para o romano e ele ficou
totalmente sem ação. Naquele momento, senti-me sacudido e,
enquanto a imagem de Jesus estava projetada na tela, ouvi uma
voz – não - audivelmente, mas em meu coração, que me dizia:
"Este é o Deus a quem deves seguir". Dessa forma saí do cinema
uma pessoa diferente, e considero que aquele foi o meu momento
de conversão.
No dia seguinte, uma segunda-feira, retornei à fábrica e
perguntei ao Cláudio:
- Tem culto hoje à noite?
- Não! respondeu-me.
- Quando é o próximo culto?- perguntei.
- Quinta-feira à noite!
- Mas eu quero aceitar a Jesus!
- Você tem que esperar até quinta-feira à noite!
Esse era o costume naquela época em algumas igrejas. As
pessoas só aceitavam Jesus ouvindo um apelo após a pregação e
vindo à frente em seguida. Nunca vou me esquecer daquela noite,
11 de novembro de 1971. Fui para casa, jantei, peguei minha
Bíblia e segui para a igreja. Cheguei trinta minutos antes do culto.
Assim que entrei no templo, caí de joelhos e pus-me a chorar.
Não sabia orar, porém assim mesmo me ajoelhei. A única coisa
que lembro de ter dito a Deus naquela noite foi: "General, teu
soldado está aqui. Se existe um lugar no teu exército, estou
pronto para lutar". O resto da noite eu só chorei e chorei. Foi algo
fantástico.
Depois de aceitar Jesus em meu coração, fiquei possuído
de uma "loucura santa". Ria e chorava ao mesmo tempo. Não
sabia qual das duas coisas fazer, por isso fazia as duas ao mesmo
tempo. Depois, andando pelas ruas, continuava sentindo a
presença de Deus sobre mim de forma extraordinária e muitas
vezes não conseguia controlar o pranto. Algumas pessoas que
passavam, olhavam com pena para mim e diziam: "Coitado, tão
novo e já perdeu o juízo". Eles com certeza não tinham idéia do
tamanho da bênção.
Um mês depois de minha conversão, decidi visitar meus
pais. Quando entrei em sua casa, meu pai me perguntou:
- Então agora é protestante?
- Sim!
Isso foi tudo o que eu lhe disse. Estava começando minha
vida espiritual. Eu era apenas um bebê no Senhor, e não queria
discutir com ele.
Naquela noite, minha mãe preparou meu quarto, não com
eles, mas separadamente, como dantes. Já não sentia mais medo
dos espíritos. Nem sequer estava pensando neles. Não conseguia
pensar em outra coisa a não ser em Jesus. Ajoelhei-me e passei
uns quarenta minutos perante Deus em oração, com o rosto
banhado em lágrimas de contentamento. Sentia um gozo inefável.
Então li algumas passagens das Escrituras, e deitei-me em
seguida.
Enquanto descansava na cama, não pensava nos
demônios. Pensava apenas em Jesus. Porém comecei a sentir
medo. Veio sobre mim exatamente o mesmo medo de antes. E a
primeira coisa que pensei foi: "Isto não pode ser Jesus! Ele nunca
me traz medo. Só me traz alegria". Rapidamente comecei a sentir
uma horrenda presença satânica. Havia alguém no quarto comigo,
junto a minha cama. Não podia vê-lo, porém podia senti-lo,
exatamente como antes.
Tentei chamar minha mãe, mas não consegui. Minha boca
não se mexia. Tentei mover o braço esquerdo e não consegui. Eu
estava totalmente paralisado. Senti um calafrio nos pés que me
subiu pelas pernas até a altura do peito. Na verdade não me
lembro quanto durou isso - se foram dez segundos, trinta
segundos, um minuto ou mais. Só sei que comecei a pensar no
precioso sangue de Cristo. Pensei: "O sangue de Jesus está contra
você". De repente, a paralisia me deixou. Sentei-me na cama e
pela primeira vez na minha vida falei diretamente com o diabo -
tão alto que todos na casa podiam escutar-me. Disse-lhe:
- Diabo, por muitos anos tu tens atormentado a minha vida.
Porém quero perguntar-te algo esta noite. Não podes ver que fui
redimido e que estou lavado no sangue de Jesus? Fora! Ai de ti se
tu voltares!
Naquele momento, o quarto encheu-se de paz e eu dormi
um sono tranqüilo. Nunca mais o inimigo voltou para perturbar a
minha paz.
Sei que neste episódio sofri um ataque do inimigo, uma
forma de opressão, mas não de possessão. Ninguém esteve ali do
meu lado para expulsar de mim algum demônio. Fiz apenas o que
a Palavra de Deus ensina ao cristão: "Sujeitai-vos, portanto, a
Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós" (Tg 4:7). Quanto
ao adversário, o apóstolo Pedro recomenda "resisti-lhe firmes na
fé" (1 Pe 5:9). Pois bem, foi o que eu fiz, pela graça de Deus e o
Senhor deu-me uma grande vitória.
Comecei a servir a Deus evangelizando de todas as formas
possíveis. Foram muitas as vezes em que eu e outros irmãos
tivemos que tratar de pessoas possuídas por demônios, e, pela
misericórdia de Deus, vi muitos casos de pessoas severamente
endemoninhadas serem libertas por Jesus. Mas a batalha
continua. Todo fim de ano, a AGIR e outros irmãos organizam um
trabalho evangelístico, quando vamos à cidade de Praia Grande
para evangelizar na noite de Iemanjá. São muitos quilômetros de
praia cobertos de terreiros de candomblé, umbanda, quimbanda e
outros. Passamos a noite toda intercedendo, evangelizando e
aconselhando. Deus, por sua graça, tem-nos concedido grandes
bênçãos ali, como conversões, libertações e o nome do Senhor
Jesus tem sido glorificado. Que o Senhor sempre nos dê vitória
contra o mal e que fiquemos com a Bíblia, o melhor livro de
batalha espiritual.

7 - Em busca do poder terreno

Nos últimos tempos, principalmente por ocasião das


eleições, pudemos ouvir com bastante freqüência e fervor muitos
pregadores e líderes evangélicos afirmando que a Igreja deve
conquistar o poder político no Brasil e impor sobre a sociedade um
governo baseado na Bíblia Sagrada.
No entanto, essa idéia não é nada original. Trata-se de
mais uma influência doutrinária oriunda dos Estados Unidos,
conhecida como a Teologia do Domínio, que afirma que os crentes
devem dominar o mundo antes do retorno de Cristo. A exemplo
da Teologia da Prosperidade, tal ensino conseguiu encontrar
adeptos e propagadores no Brasil.
Robert Bowman informa que dois movimentos na América
do Norte prepararam o caminho para essa posição doutrinária. Um
deles, chamado Reconstrucionismo Cristão e idealizado por Gary
North e R. J. Rusdoony, é baseado na interpretação pós-milenista
da profecia bíblica. O pós-milenismo defende a posição de que a
Igreja vai conquistar o mundo antes do retorno de Cristo. Assim, o
alvo dos reconstrucionistas é o de controlar as instituições do
mundo e convertê-lo ao cristianismo.
O outro grupo, idealizado por Earl Paulk e Thomas Reid,
ficou conhecido como a Teologia do "Reino Agora" ou Teologia do
Reino. Paulk é pastor de uma igreja com 10 mil membros em
Atlanta, no Estado da Georgia, e prega que a Igreja deve se unir e
amadurecer sob a liderança de apóstolos e profetas carismáticos,
infiltrando-se nas instituições do mundo como representante do
rei Jesus.
Bowman acrescenta que a ênfase destes dois movimentos
sobre a Igreja exercer o domínio levou-os a serem identificados
sob o rótulo de Teologia do Domínio. Mas existem algumas
diferenças entre eles. Os reconstrucionistas são calvinistas
ortodoxos e, portanto, solidamente evangélicos, mesmo que
alguns não concordem com eles na questão do pós-milenismo. Por
outro lado, a Teologia do Reino Agora, traz em seu bojo as
posições antibiblicas de um movimento herético denominado
"Latter-Rain" (Última Chuva), da década de 1940. (Christian Research
Journal, outubro de 1988, p. 31.)
O termo Latter-Rain (veja Tg 5:7) tem sido usado por
muitos dentro do pentecostalismo para se referir ao último
derramamento do Espírito Santo antes da volta de Cristo. Os
articulistas do Christian Research Journal comentam que o termo
refere-se ainda ao movimento que surgiu dentro do
pentecostalismo nas reuniões de avivamento promovidas em 1948
pelos orfanatos e escolas Sharon no norte de Battleford,
Saskatchewan, no Canadá. O movimento logo se espalhou pelas
Assembléias de Deus do Canadá e dos Estados Unidos. Mais tarde,
as Assembléias de Deus rejeitaram o movimento devido às suas
posições controvertidas. Uma delas é o restauracionismo, que
afirma que Deus vem restaurando progressivamente verdades
para a Igreja desde a Reforma Protestante. Há também a crença
de que a Igreja restaurada alcançará a imortalidade e uma
unidade madura de fé antes do retorno de Cristo, em testemunho
para o mundo. Existe ainda o ensino de que a Igreja deve ter
todos os ministérios de Efésios 4:11, incluindo apóstolos e
profetas, através dos quais a Igreja recebe novas revelações
doutrinárias. (Christian Research Journal, inverno/primavera de 1988, p. 12-
3.)
Um outro termo muito usado dentro desse assunto é
"teonomia". Greg Bahnsen, um dos mais brilhantes pensadores do
Reconstrucionismo Cristão, define a teonomia como a obrigação
de o cristão guardar toda a lei de Deus como um padrão para a
santificação e que esta mesma lei deve ser aplicada pelo
magistrado civil como Lei de Estado, onde e como a estipulação
de Deus designar. (David L. Smith, A Handbook Of Contemporary Theology
- Um Manual de Teologia Contemporânea, Wheaton, Illinois, A Bridge Point
Book, 1992, p. 261-5.) Assim, o alvo passa a ser o de estabelecer
uma teocracia, isto é, um Estado regido pelos princípios da lei de
Deus.

Um pastor na Casa Branca

Pat Robertson é o fundador e presidente de uma rede


evangélica de TV e apresentador do conhecido programa chamado
Clube 700, de grande penetração na América do Norte. Este
programa já foi transmitido por um bom tempo aqui no Brasil. Em
dezembro de 1984, durante uma conferência na igreja de Robert
Tilton em Dalas, no Texas, Robertson declarou:

Quero que você imagine uma sociedade onde os membros da Igreja


têm domínio sobre as forças do mundo, onde o poder de Satanás é amarrado
pelo povo de Deus (...) Nós vamos ver uma sociedade onde o povo de Deus vai
ser o povo mais honrado (...) sem vício de droga (...) os que promovem a
pornografia não terão mais qualquer acesso ao público (...) o povo de Deus
herda a Terra (...) há um presidente cheio do Espírito Santo na Casa Branca, os
homens no Senado e no Congresso são cheios do Espírito Santo e adoram a
Jesus, e os juízes fazem o mesmo (...) Deus vai nos colocar em posição de
liderança e responsabilidade e nós temos que pensar assim (...) marque minhas
palavras, no próximo ano, dentro de uns dois, três ou quatro anos, nós vamos
ver essas coisas acontecerem e que absolutamente nos desnortearão. Glória a
Deus! (Michael G. Moriarty, The New Charismatics - Os Novos Carismáticos,
Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Zondervan Publishing House, 1992, p. 164-5.)
Em 1986, Pat Robertson anunciou a sua intenção de
candidatar-se à presidência dos Estados Unidos e, assim, as
propostas da Teologia do Domínio chegaram a fazer parte do seu
programa de governo. Michael Moriarty fez a seguinte observação:

Aos olhos de muitos crentes, Robertson era o messias político esperado


de longa data. O fim do aborto, pornografia, violência e sadismo estava
despontando no horizonte. Esta era a oportunidade de a América reavivar uma
cultura moribunda. Muitos crentes se reanimaram em torno da perspectiva de
um cristão conservador não apenas na Casa Branca, mas assentando-se no seu
trono principal.

Muitos crentes ficaram empolgados com a idéia e não viam


a hora de a Igreja assumir o controle da nação mais importante
do globo, para, depois, com o tempo, controlar o mundo. Mas não
deu certo. Pat Robertson não conseguiu ser o representante do
Partido Republicano na eleição presidencial.

O panorama brasileiro

No Brasil também se multiplicam as vozes a favor do


domínio da Igreja sobre as instituições sociais e políticas da
nação. Há alguns anos, surgiu uma frase muito veiculada no
programa de TV de Valnice Milhomens: "O Brasil é do Senhor
Jesus. Povo de Deus, declare isso!" A mesma frase foi depois
parar nos adesivos dos carros.
Além de promover tal declaração, Valnice fez ainda
algumas declarações interessantes numa conferência que
ministrou em Ribeirão Preto, em 14 de agosto de 1992. Depois de
comentar que José e Daniel foram homens que ocuparam lugar de
destaque na sociedade, ela acrescentou:

E, meus irmãos, vocês sabem que a Igreja tem que ocupar os lugares
no Brasil? Olha, no ano das eleições do presidente da República, nós estávamos
orando em Recife. Íamos orar pelas eleições. Deus me interrompeu no meio da
oração: tira os olhos dos candidatos. Levanta os teus olhos para a Igreja,
porque a solução dos problemas do Brasil está na Igreja. Aleluia! E desde
aquele dia eu estou na ofensiva, preparando a Igreja. E chegou a hora de a
Igreja ocupar os postos de liderança desta nação. Não é só a igreja lá atrás dos
quartos orando não. É a Igreja lá nos postos de comando administrando a
nação.

Depois de afirmar que a economia do Brasil está em


bancarrota devido à idolatria e às maldições espirituais do Brasil,
Valnice acrescentou:

Eu sonho com gente no Palácio do Planalto que teme a Deus acima de


tudo. E que não vai depender da sua esperteza, mas que vai buscar os
princípios do Reino na Palavra de Deus. É assim que nós vamos erradicar as
maldições do país. É na Igreja que está a solução. É na Igreja. Estamos
crescendo e vamos explodir, em nome de Jesus.
Justiça, justiça só virá pela Igreja. Uma Igreja restaurada. Uma Igreja
restaurada. Porque há muitos que começam a entrar na política e deixam a
glória, a fama e o dinheiro subir à sua cabeça. Perderam a reputação.
Perderam a autoridade.
Vêm aí as eleições para prefeitos e vereadores. Cada um devia estar
votando num crente. Num crente. Começar a invadir. Comece, irmão, já.
Comece agora, nas prefeituras, depois para os governos, até chegar à
presidência. Vamos tomar conta do Brasil. Ou vocês não crêem que a Igreja
tem que salgar a massa toda, hem? Fica só na defensiva? Não. A Igreja tem
que salgar a massa toda. (Vídeo nos arquivos do ICP).

Mas não é apenas Valnice Milhomens quem pensa assim O


pastor Lamartine Posella Sobrinho, candidato a deputado federal
na eleição de 1994, chegou a declarar:

A solução para a crise brasileira está no levantamento de homens


comprometidos com o Senhor Jesus Cristo - e portanto íntegros aos postos de
comando do nosso país, cuja restauração Deus tem pressa de concretizar.
Decidi me candidatar a deputado federal por força de um chamado
sobrenatural do Senhor corroborado por dezenas e dezenas de confirmações
proféticas explícitas trazidas por pessoas dos mais variados tipos (pastores de
muitas denominações - inclusive a Pra. Valnice Milhomens, Pr. Estevam
Hernandes e um sueco na Coréia do Sul - leigos que não me conheciam e até
incrédulos usados por Deus) (...) Penso que o caos social, político e econômico
é decorrência, numa primeira instância, das maldições espirituais que repousam
sobre o nosso país (...) a solução para a crise está no levantamento de homens
comprometidos com o Senhor e por isso íntegros aos postos de comando da
Nação. (Jornal A Trombreta, 4 de setembro de 1994, p. 7.)
Apesar do chamado sobrenatural do Senhor e das
profecias, o pastor Lamartine não se elegeu. Não creio que a
situação política, social e econômica do Brasil seja decorrência
apenas da situação espiritual do país. Se fosse assim, o Japão não
seria a segunda maior potência econômica do mundo. Ora, o que
predomina lá é o budismo, o xintoísmo e o culto aos
antepassados. Não podemos esquecer que o próprio Jesus disse
que o Pai faz o Sol nascer sobre os maus e os bons, e vir chuvas
sobre justos e injustos (Mt 5:45).
Embora o pastor Lamartine não se tenha eleito, ele ganhou
a suplência e tem grande chance de, a qualquer momento,
assumir o cargo. Ele é uma pessoa de muito talento, um excelente
comunicador e, de minha parte, preferiria vê-lo empregando toda
a sua capacidade e energia somente na pregação do Evangelho.
Ao discursar na Assembléia Legislativa de São Paulo, numa
manifestação contra a prisão do líder da Igreja Universal do Reino
de Deus, Edir Macedo, o Pr. Nilson Fanini disse: "Já somos trinta e
cinco milhões de evangélicos no Brasil e está na hora de
assumirmos o governo deste país". (Jornal A Raiz , junho/julho de 1992,
p. 1.)
A Igreja Universal do Reino de Deus tem demonstrado uma
avidez enorme por cargos políticos no Brasil. O jornal Folha de S.
Paulo (15 de abril de 1995, p. 1-8) informa que "a eleição de pelo
menos 200 vereadores nas eleições municipais de 1996 é uma das
principais metas da Universal na área política. A igreja já tem seis
deputados federais e dez estaduais". O jornal diz ainda que a
Universal pretende lançar cerca de 500 candidatos em todos os
municípios em que tem templos a fim de ter representantes que
defendam os interesses dos evangélicos nas câmaras municipais.
Ora, os problemas do Brasil são bastante complexos e não
serão resolvidos apenas com a eleição de alguns evangélicos ou
de um presidente da República evangélico. E para piorar a
situação, pudemos constatar, ao longo dos anos, que o
envolvimento de muitos evangélicos com a política tem produzido
resultados desanimadores, um vexame para a Igreja do Senhor.
Vários se elegeram porque eram pregadores que ministravam de
igreja em igreja, eram capazes de citar versículos da Bíblia um
depois do outro, tornando-se, assim, conhecidos do povo. Outros,
porque atendiam aos interesses de uma liderança eclesiástica local
ou denominacional. Numa situação dessa, a campanha eleitoral só
poderia terminarem sucesso. Entretanto, depois que assumiram,
perceberam que legislar não é a mesma coisa que contar histórias
bíblicas ou dar gritos de glória a Deus.
Muitos, por serem portadores de uma ética toda defeituosa
ou desprovidos de qualquer ética, sucumbiram aos subornos,
mentiram, venderam seus votos e tornaram-se assunto de piada
por parte dos incrédulos. A mídia brasileira transmitiu com "gusto"
e com bastante detalhes o desenrolar dos escândalos advindos
daqueles que deveriam ser o sal da terra e a luz do mundo (Mt
5:13, 14). A ética cristã na Igreja evangélica brasileira está tão
comprometida hoje que o risco de votarem crente é muito maior
do que votar no descrente. Porque pelo menos, o descrente não
trará escândalo para o Evangelho.
Sim, concordo com todas as letras que precisamos e
devemos ter cristãos envolvidos na política e ocupando cargos de
liderança que venham a influenciar positivamente a sociedade no
seu todo, e não apenas a igreja ou ao grupo que o elegeu. Cabe
aqui uma sugestão do sociólogo Paul Freston: "nossa preocupação
tem que ser com a promoção do Evangelho e não com a
promoção dos evangélicos". (Paul Freston, Evangélicos na Política
Brasileira, Curitiba, PR, Editora Encontrão, 1994, p. 141.) Precisamos de
candidato evangélico e não de candidato dos evangélicos.
Robinson Cavalcanti alertou, com sabedoria, num de seus livros:
"Devemos nos precaver das tentações teocráticas: o governo de
um Aiatollah protestante, que dividiria o bolo do Estado entre
nós". (Robinson Cavalcanti, A Utopia Possível. Viçosa, MG, Editora Ultimato,
1993, p. 141.) E há ainda outra questão: temo não estarmos ainda
preparados para atuar de forma saudável numa sociedade
pluralista como a nossa, onde o tamanho das pressões exige dos
candidatos evangélicos uma postura que muitos deles ainda não
possuem.

Lição da história
A união da Igreja com o Estado nem sempre trouxe bons
dividendos para a causa de Cristo. Um dos exemplos mais claros
foi o de Constantino, imperador romano, que no ano 313 fez do
cristianismo a religião oficial do império romano. Moriarty traz um
alerta à Igreja atual ao comentar o que aconteceu naquela época:

A Igreja foi investida com poder político, e investiu o imperador com


poder religioso (...) A Igreja entrou num período de corrupção e desintegração
e perdeu muito da sua autoridade moral e dinâmica espiritual. A Igreja deixou
de ser uma comunidade zelosa de "ganhadores de almas" e "discipuladores" a
fim de levar o Evangelho a um mundo espiritualmente empobrecido para ser
uma instituição perseguidora que marcharia sobre o mundo árabe nas cruzadas
dos séculos 11 e 12. A Igreja, que uma vez fora uma vítima injusta de
perseguição, havia se tornado perseguidora. A Igreja que radiava paz e
compaixão havia se tornado corrupta pelo poder e corrupção (...) A Igreja,
seduzida pelo poder político e aspirações utópicas, falhou em entender que tais
alianças antibíblicas (unindo Igreja e Estado) subverteriam o Evangelho,
trazendo sofrimento e morte para muitos. (Michael G. Moriarty, The New
Charismatics - Os Novos Carismáticos, p. 183.)

Triste e chocante. Por esta razão, é necessário dar ouvido a


tal advertência para que a Igreja não venha repetir os mesmos
erros.

O exemplo guatemalteco

No início da década de 80, estive na Guatemala e participei


da comemoração do centenário da Igreja evangélica naquele país.
Foi uma grande festa. Cerca de 700 mil pessoas desfilaram pelas
ruas da capital com muito entusiasmo ao lado de vários carros
alegóricos. O evangelista Luis Palau falou à multidão. Mas nada
arrancou mais aplausos dos presentes do que a palavra do então
presidente, o general Efraim Rios Mont, que havia chegado ao
poder através de um golpe militar, causando muita vibração entre
os evangélicos na Guatemala. Os crentes esperavam com isso a
solução dos problemas, o fim da corrupção e uma era de paz e
justiça. Mas o general foi deposto mais tarde e o sonho de muitos
não se concretizou.
Depois veio a gestão de Jorge Serrano Elias, festejado
como o primeiro presidente evangélico eleito democraticamente
na América Latina e, mais uma vez, os crentes esperavam que o
seu governo causasse um grande impacto a favor do reino de
Deus na Guatemala. Mas Serrano decepcionou a todos, como
relata J. Lee Grady:

Em 1993, num esforço de acabar com a corrupção, Serrano dissolveu o


Congresso, tomou o controle da imprensa, e bajulou os militares para apoiar
seu próprio golpe. Mas a corte suprema da Guatemala condenou suas ações, o
que também o fez a comunidade internacional. Dentro de uma semana, ele foi
forçado a fugir do país. Serrano havia seguido os passos de inúmeros líderes
latino-americanos: ele havia se tornado um ditador. Por que todos, inclusive os
evangélicos da Guatemala, condenaram o assalto ao poder de Serrano? Porque
é impossível reconciliar cristianismo com ditadura, e Serrano tinha
aparentemente tentado misturar duas idéias opostas - democracia e governo
autocrático. Mas a saída de Serrano passou uma outra mensagem: que os
cristãos podem ser ditadores. (J. Lee Grady, What Happened to the Fire? - O
Que Aconteceu com o Fogo? Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Chosen Books,
1994, p. 139-40.)

É claro que todos os cristãos gostariam de viver num local


onde existisse apenas a religião verdadeira. Entretanto, é só no
céu que isso será possível. Enquanto o céu não vem ou a gente
não vai para lá, vamos ter que conviver pacificamente num mundo
pluralista, caracterizado pela diversidade de religiões. Os cristãos
jamais poderão impor a fé cristã sobre outras pessoas ou outros
povos. Inspirado por Deus, Paulo aconselhou: "se possível, quanto
depender de vós, tende paz com todos os homens" (Rm 12:18).
A Palavra de Deus afirma ainda no livro de Zacarias:
"Prosseguiu ele e me disse: Esta é a palavra do SENHOR a
Zorobabel: Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito,
diz O SENHOR dos Exércitos" (Zc 4:6). Assim como a construção
do templo seria concluída por Zorobabel através do poder do
Espírito, o reino de Deus se expandirá no mundo também pelo
poder do Espírito e não pelas estratégias políticas ou através de
qualquer outro poder terreno.

Avaliação bíblica
Torna-se, portanto, necessário verificar à luz das Escrituras
se Deus realmente ordena ao cristão tomar o domínio ou o
controle político das mãos dos ímpios. Um dos textos mais usados
pelos adeptos da Teologia do Domínio para defender o que
pregam encontra-se no início da Bíblia: "Também disse Deus:
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as
aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e
sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o
homem à sua imagem, a imagem de Deus o criou; homem e
mulher os criou. E Deus os abençoou, e lhes disse: Sede
fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai
sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo
animal que rasteja pela terra" (Gn 1:26-28).
Vale a pena observar o comentário de Bruce Barron sobre
esta passagem:

Os reconstrucionistas e escritores do reino agora ligam Gênesis 1:26-28


com a transformação das estruturas políticas tão depressa que alguém pode
suspeitar que eles se esqueceram que a ordem original deu ao homem o
domínio sobre o ambiente, e não sobre os seus semelhantes. (Bruce Barron,
Heaven On Earth? - Céu na Terra? Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Zondervan
Publishing House, 1992, p. 154.)

É claro que este não é o único texto usado para se


defender a Teologia do Domínio. Mas, por mais que tentem, o
esforço será em vão, pois não existe na Bíblia qualquer
mandamento para que o cristão conquiste o poder político antes
do retorno de Cristo.
O apóstolo João relata que, após a multiplicação dos pães,
a multidão quis fazer de Jesus um rei. Ele, porém, não aceitou
tornar-se meramente um líder político (veja Jo 6:9-15). Na
tentação do deserto, Satanás mostrou e ofereceu a Jesus todos os
reinos do mundo e a glória deles. Jesus resistiu e desprezou a
oferta, não caindo, portanto, em tentação. Muitos crentes hoje
não conseguem fazer o mesmo e acabam não apenas aceitando a
oferta, mas até se esforçando para possuí-la.
Um dos momentos mais solenes da vida de Cristo foi
durante o seu julgamento diante de Pilatos. Quando o governador
perguntou a Jesus sobre o que ele fizera a seus compatriotas que
o haviam entregado (Jo 18:35), o Senhor respondeu: "O meu
reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os
meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu
entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui" (Jo
18:36). Ao contrário do que afirmou Jesus, há hoje crentes que,
mesmo que não afirmem, vivem como se o Reino fosse deste
mundo.
Um dos textos mais citados pelos adeptos da Teologia do
Domínio para justificar os que crêem é Mateus 28:18-20: "Jesus,
aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi
dada no céu e na terra. lde, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo; ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho
ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à
consumação do século".
Bruce Barron comenta novamente que quando eles dizem
que

"Fazer discípulos de todas as nações" significa ensinar princípios


bíblicos às instituições políticas do mundo, eles estão em terreno duvidoso. De
fato, o Novo Testamento, usa "nações" (no grego, ethne) para se referir a
entidades políticas (veja Marcos 13:8 e Atos 2:5), mas também, e mais
freqüentemente, para grupos de pessoas, especialmente gentios (veja Mateus
6:32; Gálatas 2:9; Efésios 2:11). O último significado parece ser o pretendido
em Mateus 28:19, 20, que ordena aos crentes batizar e ensinar as ethne; além
de tudo, batizam-se pessoas e não instituições civis. (Bruce Barron, Heaven On
Earth? - Céu na Terra?, p. 154.)

"O Brasil é do Senhor Jesus! Povo de Deus, declare isso!"

Já mencionamos esta frase anteriormente, como ela


ganhou popularidade e tornou-se o grito de guerra de muitos
crentes no Brasil. Mostramos também que tal frase não expressa
uma idéia nova, pois por trás dela está a Teologia do Domínio,
adotada, analisada e também já questionada nos Estados Unidos.
Há várias frases semelhantes por lá, tais como: "America, a nation
under God" (América, uma nação sob Deus), "Washington for
Jesus" (Washington para Jesus) e outras, que expressam bem
esta corrente doutrinária.
Paul Freston conta que o mesmo aconteceu na Guatemala,
durante a campanha eleitoral do ex-presidente Serrano. Ele
também desenvolveu "uma campanha de Guerra Espiritual
chamada ‘Jesus é o Senhor da Guatemala’. Sendo de igreja de
elite, os membros alugavam aviões para exorcizar o pedaço de
território que sobrevoavam". (Paul Freston, Evangélicos na Política
Brasileira, p. 141.)
A gestão Serrano foi um desastre, como já descrevemos
anteriormente aqui. O fato de sair por aí declarando frases ou
supostas fórmulas mágicas de guerra espiritual não vai de forma
alguma introduzir o Reino de Deus na Terra. Apesar das multidões
de crentes que saem por aí decretando que o Brasil é do Senhor
Jesus, o Carnaval continua a todo vapor, Aparecida do Norte tem
recebido mais romeiros nos últimos anos do que nos anos
anteriores e o Brasil ainda é o maior país espírita do mundo. A
situação moral do país é simplesmente caótica, a ponto de
homens de negócios contratarem assassinos profissionais para
exterminar crianças. E há muitas, muitas coisas horrendas que
nem precisamos mencionar aqui. Entretanto, é preciso entender
que vivemos numa natureza e num ambiente afetado pela queda
lá no Jardim do Éden, que transtornou tudo: a criação
(terremotos, vulcões, maremotos, etc.), os relacionamentos, as
emoções e, acima de tudo, a comunhão com Deus. Infelizmente,
vivemos na presença do pecado, pois ainda não chegamos à
glorificação, o que será viver na ausência do pecado. Mas, para
isso, vamos ter que esperar pelo céu.
Eu também desejo ver a Palavra de Deus prevalecendo em
todos os aspectos da vida nacional. Por outro lado, estou
convencido pela Bíblia de que não é através de algumas frases
feitas que a Igreja vai promover o reino de Deus, mas, sim, pela
pregação constante e ousada da Palavra de Deus, causando
conversões e desenvolvendo um discipulado saudável.
Não estou querendo dizer com isto que os cristãos não
devem se envolver politicamente ou que os crentes não devam
ocupar cargos políticos. Precisamos ter bons crentes em posição
de liderança e causando influência positiva na sociedade como um
todo. A Palavra de Deus mesmo afirma: "(quando se multiplicam
os justos, o povo se alegra; quando, porém, domina o perverso, o
povo suspira" (Pv 29:2).
Sempre que um cristão tiver a oportunidade, ele deve
exercer o poder com justiça e com ética cristã, tendo em mente
que ele terá que prestar contas a Deus dos privilégios e
responsabilidades que lhe forem atribuídas. Não podemos
esquecer, porém, que a missão principal da Igreja antes da volta
do Senhor é o evangelismo e o discipulado, e não formar cruzadas
para tomar o poder ou conquistar o domínio político numa nação
ou no mundo.

8 - Os profetas da volta de Cristo

A medida que se aproxima o ano 2000, vai-se formando ao


nosso redor um clima de expectativa e inquietação. As reações
são variadas. Há aqueles que esperam grandes catástrofes para a
época, um conflito mundial de grandes proporções, em que
explosões nucleares provocariam o fim do mundo. É citado com
muita freqüência um "versículo" que não consta na Bíblia: "De mil
passará, a dois mil não chegará". Em contraste, vários adeptos do
Movimento da Nova Era, também conhecido como a Era de
Aquário, acham que o ano 2000 vai inaugurar uma era de paz,
prosperidade e harmonia entre os povos.
Não é a primeira vez que isto acontece. Quando se
aproximava o final do primeiro milênio, o clima também foi de
pânico e muitas pessoas pensavam que o fim do mundo estivesse
perto. Um autor, Frederick Marten, fornece interessantes detalhes
dos acontecimentos daquela época:

Os homens perdoavam as dívidas de seus vizinhos, as pessoas


confessavam suas infidelidades e más obras (...) As igrejas eram cercadas por
multidões em busca de confissão e perdão (...) Os prisioneiros eram soltos e
mesmo assim muitos ainda queriam expiar seus pecados antes do fim.
(Frederick Marten, "The Story of Human Life and Doomsday" - A História da
Vida Humana e o Dia do Juízo, citado no artigo "Millennial Madness - A Loucura
Milenar, de Ron Rhodes", no Christian Research Journal , outono de 1990, p.
39.)

Ron Rhodes acrescenta outros detalhes:

Com a aproximação do Natal (ano 999), houve um derramamento de


amor. Os armazéns distribuíam comida. Os vendedores recusavam receber
pagamento. No dia 31 de dezembro, o frenesi chegou ao seu clímax. O papa
Silvestre II celebrou a missa da meia-noite na basílica de São Pedro, em Roma
(...) Depois da missa, um silêncio mortal caiu sobre os presentes. Finalmente,
quando o relógio deu a primeira batida depois da meia-noite, os sinos da igreja
começaram a tocar. Entre lágrimas e risos, esposos e esposas se abraçaram.
Os amigos trocaram o "beijo da paz". Os inimigos fizeram as pazes. Mas logo a
vida voltou ao seu ritmo normal. (Christian Research Journal (outono de 1990),
p. 39.)

Ron Rhodes cita Marten novamente e relata:

Os comerciantes pararam de distribuir suas mercadorias. Os


prisioneiros foram recapturados e colocados de volta nas prisões. As dívidas
foram lembradas. E a vida continuou como se nada tivesse acontecido.

O ser humano é mesmo fascinado pelo futuro. Assim que


começou a guerra no Golfo Pérsico entre as forças aliadas e as do
Iraque de Sadam Russein, multidões correram às livrarias para
comprar livros com as profecias de Nostradamus. A ansiedade
para se conhecer de antemão o desenvolvimento e as
conseqüências do conflito tomou conta de muita gente.
Nostradamus foi um astrólogo e médico francês do século XVI e
usou bastante a astrologia e outros métodos de adivinhação do
ocultismo, tornando-se, talvez, o mais respeitado profeta ocultista
de todos os tempos. Portanto, se um determinado poder
sobrenatural tem contribuído para o cumprimento de alguma de
suas profecias, esse poder não tem vindo de Deus (Dt 13:1-3 e
18:9-14). Nostradamus chegou a prever o fim do mundo para o
sétimo mês do ano de 1999.
Muitas das previsões de Nostradamus para o século 20
falharam - simplesmente não aconteceram, afirmou Michael di
Cicco num artigo publicado no jornal Zero Hora. Alguns
acadêmicos, diz Di Cicco, afirmam que as profecias de
Nostradamus são tão vagas que, com um pouco de imaginação,
podem se adaptar a praticamente qualquer acontecimento. Di
Cicco acrescenta:

Por exemplo, Nostradamus previu o declínio do poder espanhol no


Mediterrâneo durante meados de 1660 e o surgimento da influência da França.
Na verdade, ocorreu o oposto. Apesar disso, Nostradamus e suas catastróficas
previsões continuam vivos, mantendo credibilidade há pelo menos 400 anos.
(Jornal Zero Hora (24 de setembro de 1990).)

A astrologia continua sendo um grande sucesso. Os jornais


e revistas em todo o mundo vivem saturados de horóscopos e a
indústria astrológica tem rendido muitos milhões de dólares
anualmente. Muitas outras práticas de adivinhação são usadas em
grande escala na busca constante de se desvendar o futuro.
Mas a atração pelo futuro não é característica apenas
daqueles ligados ao ocultismo. Vários grupos religiosos têm
demonstrado, ao longo dos anos, um fascínio desequilibrado em
relação ao assunto, a ponto de até marcar datas para a volta de
Cristo ou para o fim do mundo. Houve uma época, por exemplo,
em que os adventistas do Sétimo Dia chegaram a acreditar que
Jesus voltaria à Terra em outubro de 1844. (Ellen G. White, O Grande
Conflito. Santo André, São Paulo, SP, Casa Publicadora Brasileira, 26ª Edição,
1981, p. 409.) Erraram.
A Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, nome
oficial da organização das Testemunhas de Jeová, tem abusado
muito em relação à marcação de datas para o retorno de Cristo ou
para uma grande catástrofe mundial denominada Armagedom. Já
marcaram tal evento para as datas de 1914, 1918,1925, 1941 e
1975. Erraram todas. Em 1920, o segundo presidente da
Sociedade Torre de Vigia, Rutherford, publicou um livro intitulado
Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão (foi publicado em
1923, em português). Nesse livro, Rutherford afirmou que os
justos do Antigo Testamento ressuscitariam em 1925. A
organização chegou até a comprar uma mansão em San Diego, na
Califórnia, denominada Beth Sarim (Casa dos Príncipes), para
hospedar Abraão, Isaque, Jacó e outros ilustres do Antigo
Testamento. Uma foto da tal mansão pode ser encontrada na
própria literatura das Testemunhas de Jeová. (Rutherford, Salvação
(Sociedade Torre de Vigia, 1939), p. 276.) A profecia falhou.
Apesar disso, as Testemunhas de Jeová publicaram
recentemente numa de suas revistas um artigo de capa com o
seguinte título: "Predições falsas e profecias verdadeiras como
saber a diferença?" (Revista Despertai! 22 de junho de 1995.) Como
saber a diferença? Em se tratando das previsões da Torre de
Vigia, basta ler o que a Palavra de Deus diz: "Se disseres no teu
coração: Como conhecerei a palavra que o SENHOR não falou?
sabe que quando esse profeta falar, em nome do SENHOR, e a
palavra dele se não cumprir nem suceder, como profetizou, esta é
palavra que o SENHOR não disse; com soberba a falou o tal
profeta: não tenhas temor dele" (Dt 18:21, 22). Como as
profecias das Testemunhas de Jeová não se cumprem, elas não
podem ser de Deus.
A Sociedade ensina que a sua liderança, um grupo de
homens sediados no bairro do Brooklin, em Nova Iorque, Estados
Unidos, é o único canal de comunicação entre Deus e os homens.
Apesar disso, a Torre de Vigia reconhece que falhou como profeta
e tenta dar explicações, embora nada convincentes, para disfarçar
as falhas. Por esta razão, a Sociedade não pode ser considerada o
canal de comunicação entre Deus e os homens, porque foge aos
padrões proféticos da Bíblia. Ora, não existe registro nas
Escrituras de que um profeta de Deus teve que sair a público e se
desculpar por alguma falha ao comunicar os oráculos de Deus.
Infelizmente, as Testemunhas de Jeová não conseguem
pensar por si mesmas e usar a liberdade que Deus deu aos
homens para questionar e fazer perguntas, como o fizeram os
cristãos de Beréia quando o apóstolo Paulo ali chegou. A Bíblia diz
que os crentes de Beréia só aceitaram os ensinos de Paulo depois
de verificar que estavam de acordo com as Escrituras (At 17:10-
12). Sem dúvida, um grande exemplo.
Também os Meninos de Deus, conhecidos hoje como A
Família, entraram no jogo de marcar datas. Em 1973, eles saíram
em massa dos Estados Unidos, pois Davi Berg (ou Moisés Davi), o
fundador da seita, e a quem consideram como o profeta de Deus
do tempo final para o mundo, havia anunciado que o cometa
Kohoutek destruiria a América. (William Alnor, Soothsayers of the Second
Advent - Os Adivinhadores da Segunda Vinda. Old Tappan, New Jersey, E.U.A.,
Power Books, 1989, p. 59.) Nada disso aconteceu.
Para nossa surpresa, não são apenas as seitas ou grupos
periféricos à fé cristã que apresentam posições estranhas em
relação à escatologia (o estudo das últimas coisas). Um grupo
cada vez maior de pessoas entre os evangélicos afirma saber a
data da volta de Cristo, como veremos a seguir.

O arrebatamento em 1988

Não faltou ousadia a Edgar Whisenant, um ex-engenheiro


da Nasa que se tornou professor de profecias bíblicas e escreveu
um livro intitulado 88 Reasons Why The Rapture Could Be In 1988
(88 Razões Por Que o Arrebatamento Poderia Ser em 1988).
Nesse livro, Whisenant afirmou que Jesus voltaria durante as
Festas das Trombetas, entre os dias 11 e 13 de setembro. Mais de
quatro milhões de cópias do livro foram impressas e cerca de 300
mil enviadas gratuitamente a muitos pastores nos Estados Unidos.
Milhares levaram a sério as informações fabulosas de Whisenant e
seu livro não parava nas prateleiras das livrarias. Como nada do
que havia predito aconteceu, Whisenant mudou a data para três
de outubro. Essa data também falhou. (Russell Chandler, Doomsday -
Dia do Juízo. AnnArbor, Michigan, E.U.A., Servant Publications, 1993, p. 273.)
Whisenant tentou explicar dizendo que havia errado
acidentalmente no cálculo da data e vendeu mais milhares de
cópias de um segundo livro intitulado The Final Shout: Rapture
Report 1989 (O Grito Final: Anúncio do Arrebatamento de 1989).
Ele tem publicado este livro desde então, mudando a data para
acomodá-lo à chegada de cada ano novo. (B. J. Oropeza, 99 Reasons
Why No One Knows When Christ Will Return (99 Razões Por que Ninguém Sabe
Quando Cristo Voltará) (Downers Grove, Illinois, E.U.A., InterVarsity Press,
1994), p. 15.) E ainda tem gente que compra e acredita. É demais!

Setembro de 1992

Há também um grupo do Rio de Janeiro denominado Alto


Clamor, uma facção do movimento adventista e que segue de
perto muitas posições ensinadas por Ellen White, a profetisa dos
adventistas tradicionais. Num de seus boletins, este grupo
anunciou: "No dia das trombetas, 28 de setembro de 1992, o
Deus de Israel destruirá todos os seus inimigos com grande
demonstração de seu poder." Como muitos podem perceber,
falhou. Mas há outras datas interessantes mencionadas por este
grupo:

- 20 de setembro de 1999 - É o dia do fechamento da porta da graça.


- 30 de setembro de 2000 - Quando Deus derramará a sétima e última
praga sobre as multidões. Será o livramento do povo de Deus.
- 14 de outubro de 2000 - A volta do Messias, quando ocorre a
ressurreição dos santos e o arrebatamento dos fiéis vivos. (Boletim Alto
Clamor, de 1-09-92 a 28-09-92, n° 14, Caixa Postal 889, Rio de Janeiro, RJ,
20001-970).)
E, de novo, quem viver verá.

Outubro de 1992

Em 1992, um movimento chamado Missão Mundial Taberah


causou também alvoroço entre alguns crentes, pois anunciava a
volta de Cristo para outubro daquele ano. A Missão, procedente da
Coréia, era liderada por um jovem profeta chamado Bang-Ik Ha,
que nesta época contava com 17 anos. Conheci vários crentes que
saíram de igrejas equilibradas para distribuir nas ruas de São
Paulo um folheto intitulado "Arrebatamento! Em outubro de 1992,
Jesus virá novamente" e esperar a volta do Senhor. O folheto
informava que o profeta fora chamado por Deus quando tinha
apenas 13 anos de idade e que fora treinado intensa e
pessoalmente por Deus. Ele se comunicava constantemente com
Deus da mesma forma como Elias, Samuel e outros profetas do
Antigo Testamento o faziam.
Conheci um irmão que saiu de sua igreja, abandonou o seu
trabalho, adquiriu um carro equipado com um alto-falante e saiu
pelas ruas do bairro do Brás, em São Paulo, anunciando a volta de
Cristo. Conversei com ele. Foi incrível. Ele demonstrou ter muita
pena de mim, pois Deus ainda não me havia revelado o mistério
do arrebatamento como fizera com ele. Depois que passou o mês
de outubro, nunca mais o vi. Mas, como acontece com todos os
que marcam datas ou nisso acreditam, ele estava errado.

O sumiço do mal

"Na quinta-feira, nove de junho, retirarei o mal desta


terra."
John Hinkle, pastor de uma igreja em Los Angeles, afirmou
que no dia 9 de junho de 1994, o mais cataclísmico evento desde
a ressurreição de Cristo iria acontecer no exterior e seria sentido
no interior. Hinkle teve a oportunidade de divulgar a profecia
através da Trinity Broadcasting Network (TBN), uma grande rede
evangélica de TV da Califórnia. Paul Crouch, fundador e
presidente da TBN, disse num dos programas de TV:

John prometeu ser o nosso convidado especial no dia 9 de junho de


1994 - isto é, se nós ainda não tivermos sido levantados para encontrar o
Senhor nos ares. Como precisamos de suas orações e do apoio fiel como nunca
antes (...) Queridos parceiros - Estamos quase chegando ao lar!

Hank Hanegraaff comenta:

Nem Crouch e nem o pastor que ele tornou famoso pediram desculpas
pela profecia falsa. Ao contrário, usaram uma tática que já tinha funcionado
para a Sociedade Torre de Vigia cerca de 80 anos atrás. A exemplo das
testemunhas-de-Jeová, que haviam predito que Cristo voltaria em 1914, eles
declararam que sua profecia tinha se cumprido - só que invisivelmente. Crouch
já estava tentando se proteger. No dia dois de junho declarou: "Algo pode
acontecer invisivelmente". Por sua vez, Hinkle esperou o nove de junho chegar
e passar. Depois ele enviou um comunicado à sua congregação: "A princípio, eu
e outros ficamos muito desapontados por não ter acontecido como
esperávamos. Mas algo realmente começou e continua acontecendo, mas
começou primeiro na esfera espiritual".
A pretensa profecia de John Hinckle não tinha base bíblica.
Quem está em Cristo já está salvo da pena do pecado (o que é a
justificação), do poder do pecado (que é a santificação), mas
ainda não está salvo da presença do pecado (que será a
glorificação). O próprio Jesus afirmou: "Porque de dentro, do
coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a
prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as
malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a
loucura; ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o
homem" (Mc 7:2123). Assim, para remover o mal do mundo, toda
a humanidade precisaria ser também removida.
O apóstolo Paulo, em 2 Timóteo 3:1-7, 13, afirmou que os
últimos dias seriam difíceis e não poupou adjetivos para descrever
o estado pecaminoso das pessoas no tempo do fim: "Mas os
homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e
sendo enganados" (versículo 13). Ora, quantos enganos, maldade
e injustiças já aconteceram nos Estados Unidos e no mundo em
geral depois do dia 9 de junho de 1994? Impossível contar! Logo,
a profecia de Hinkle contrariou claramente as Escrituras e nunca
deveria ter recebido o crédito que recebeu de alguns. Ainda bem
que os sensatos não aderiram.

Outubro de 1994

O ministério Family Radio (Rádio Família), com sede na


Califórnia, Estados Unidos, formado principalmente por
evangélicos conservadores, esteve em perigo de autodestruição.
O problema surgiu com a publicação de um livro controvertido,
com mais de 500 páginas, intitulado 1994?, escrito por Harold
Camping, presidente da organização. No livro, Camping
proclamava que Jesus Cristo voltaria em setembro de 1994.
Logo na introdução, Camping declarou que "jamais se tem
escrito algum livro tão audacioso ou insolente como aquele que
prediga a ocasião do fim do mundo, e isso é exatamente o que
supõe fazer este livro". Alguém de dentro do ministério chegou a
dizer que Harold Camping achou que era um profeta Jonas dos
dias atuais e que tinha a missão de anunciar o retorno de Cristo
para 1994 a todas as pessoas, especialmente àquelas alcançadas
pelo Rádio Família.
No seu programa, Forum Aberto na Rádio Família, ele
aconselhava as pessoas que telefonavam para não fazerem planos
a longo prazo, pois Jesus estaria voltando naquele ano de 1994.
Camping explicava a sua maneira de planejar para o futuro assim:
"Veja, minha esposa me disse que precisava de um piso novo
para nossa cozinha. Eu lhe disse que não se esforçasse ou
gastasse dinheiro para fazer isso até outubro ou novembro de
1994 - depois do tempo predito para a volta de Cristo". (Christian
Research Journal. verão de 1993, p. 5-6.)
Harold Camping, que não tem formação teológica, achava
que não estava espalhando qualquer engano ou predições
errôneas e ainda advertia: "Quando chegar o dia 6 de setembro
de 1994, ninguém mais poderá ser salvo. Chegou o fim" (1994, p.
541).
No intuito de defender o seu processo de marcação de data
para a volta de Cristo, Camping declarou:

Sou um engenheiro, sou metódico. Quando iniciei o estudo da Bíblia


cerca de trinta anos atrás, comecei a ver coisas que outros não perceberam.
Descobri que Deus tinha uma linha do tempo, desde Gênesis até Apocalipse, e
com um cálculo preciso, de tal forma que o fim do mundo pode ser
acuradamente determinado.

Camping sabia que outros já haviam errado na tentativa de


marcar a data do arrebatamento e, para se defender, comentou:
"Eles basearam suas predições em sonhos, alinhamento dos
planetas e desastres naturais tais como terremotos. Mas eu
fundamento minhas descobertas em evidência sólida e bíblica".
Mesmo assim, é fácil perceber que as conclusões de Camping
estavam cheias de especulações numéricas, tais como o número
de porcos exorcizados do endemoninhado gadareno (Mc 5:1-20) e
o número de peixes apanhados (153) pelos discípulos (Jo 21:11).
A revista Charisma informa que num de seus programas,
transmitido por quarenta estações de rádio, Camping disse aos
ouvintes que a tribulação havia começado em 1988, o ano que
Satanás tinha sido solto na Terra, e que terminaria em setembro
de 1994 com o arrebatamento, quando os cristãos seriam levados
para os ares a fim de encontrar Cristo na sua volta. A revista
informa também que Camping foi dispensado de sua função como
professor de estudos bíblicos da classe de adultos de sua igreja,
na cidade de Alameda, na Califórnia, devido aos seus ensinos,
rejeitados pelos teólogos evangélicos. (Revista Charisma, outubro de
1994, p. 85.)
Apesar de todo esforço e dos trinta anos de pesquisas, o
arrebatamento não ocorreu como predito por Harold Camping.
Entretanto, o mais lamentável de tudo é o fato de o ministério de
Camping ser composto de evangélicos conservadores, e tal
prática, doentia e nociva ao Corpo de Cristo, ser promovida dentro
da comunidade evangélica.

Março de 2005

Um grupo localizado em Brasília e denominado igreja


Adventista do Sétimo Dia, o Remanescente, dissidente do
movimento adventista, anuncia num de seus folhetos:

JOVENS, BOAS NOVAS! JESUS CRISTO ESTÁ VOLTANDO! Vocês estão


preparados? Desejam o retorno de Jesus? A porta da graça se encerra para
todos em março de 2005!

Um outro folheto ainda diz: "O tempo da graça e do


selamento com o selo de Deus - o sábado - terminará para a
humanidade em 2005 (...) Em março de 1995 ocorrerá uma
terrível crise monetária mundial. A idolatria do dinheiro será
destruída! Então começará a desolação da Terra!" (Folhetos sem
data, IgrejaAdventista do Sétimo Dia, o Remanescente.)

A volta de Cristo em 2007

O assunto da volta de Cristo foi enfocado também no


programa Palavra da Fé, de Valnice Milhomens, transmitido em
1990 pela Rede Bandeirantes. Transcrevemos aqui as declarações
de Valnice, palavra por palavra, para que o leitor verifique por si
mesmo suas posições. A citação é um tanto extensa, mas o
fazemos para que ninguém diga que a estamos citando fora de
contexto:

Deus reservou para nossa geração a plenitude de todas as coisas. Deus


reservou para esta geração a explosão de todas as coisas.
Esta é a geração que verá cada palavra que está escrita na profecia
vindo ao seu cumprimento. Nos próximos dez anos haverá mais profecias se
cumprindo do que em todos os anos passados.
Na noite de Shabbat Jesus Cristo estará voltando.
O homem estará trabalhando na Terra por seis mil anos, mas o sétimo
milênio é o milênio do Senhor. Ele mesmo reinará na Terra.
A que hora estamos? E naturalmente, no espaço de um encontro deste,
é impossível jogar para fora todo o conhecimento que Deus nos tem dado e as
revelações sobre estas coisas.
Pergunto, meus irmãos: Se Satanás teve dois milênios, Israel teve dois
milênios, acham que a Igreja Cristã vai ter mais que dois? Deus já disse: Seis
dias trabalharás, mas no sétimo descansarás. O sétimo é o descanso. Resta
ainda um repouso sabático para os filhos de Deus.
Meu assunto é que o sétimo dia é o dia do Senhor e ele virá no seu dia.
Não virá no primeiro da semana. Ele vem é no sétimo dia. É no sétimo milênio.
O primeiro já passou, o segundo já passou, já estamos no fim do sexto e no
sétimo ele vai chegar.
Deus me trouxe isso no espírito agora em Israel quando eu estava às
margens do Jordão. Quando um profeta não souber falar, a mula vai falar, mas
Deus não ficará sem voz na Terra.
Não, não vamos passar mais um milênio aqui não. Não vamos esperar
um novo ciclo não. É no sétimo que eu espero Jesus. Mas para eu chegar a
esta revelação, irmãos, foi preciso muita revelação noutra área para chegar ali.
Porque Deus disse que Israel, embora ficasse separado, embora ficasse
de lado, isso só ia durar dois dias. É isso que está na profecia de Oséias,
capítulo seis: Depois de dois dias, Tu nos ressuscitarás.
Quando Israel foi restaurado em 48, era apenas o prelúdio, preparar o pano de
fundo para o cumprimento da profecia profética de Jesus. Quando chegou o
ano de 67, seis e sete se encontraram. 67. E o Espírito Santo começou a ser
derramado na Igreja. Êta glória! Na década de 60 foi um derramar e 67 é o
pico. Até eu fui visitada lá no seminário, em 67. Por causa do derramar do
Espírito, o povo começou a orar em línguas, a interceder em línguas e o Espírito
começou a gerar a restauração de Jerusalém sem o povo nem saber.
Meus irmãos, a guerra veio sobre todo Israel. E a guerra sobre todo
Israel durou quanto tempo? Seis dias. Aleluia! Sétimo é o dia da vitória.
Não passará esta geração até que o resto se cumpra. Que geração? A
geração que começou no dia sete de junho de 67. Quanto dura uma geração?
Quarenta anos. Glória!
Uma geração, contando de 67, vai até quando? 2007. Faltam quantos
anos para completar uma geração desde a restauração de Jerusalém? 17 anos.
A maioria esmagadora das promessas proféticas dentro da Bíblia diz
respeito a uma geração que estaria viva quando Israel fosse restaurado. E que
geração é esta? Nós somos esta geração. (Vídeo no arquivo da AGIR.)

Há alguns pontos nesta declaração de Valnice que


merecem atenção. Não há evidência de que o ano de 67 tenha
sido o pico do movimento carismático. Só porque ela foi visitada
no seminário onde estudou? Eu, por exemplo, não fui, pois nem
crente eu era em 67. Mas esse não é o nosso assunto aqui.
Valnice usa o texto de Oséias 6:2 para defender que Jesus
vem no sétimo milênio: "Depois de dois dias nos revigorará; ao
terceiro dia nos levantará, e viveremos diante dele". É possível
que a volta de Cristo se dê no sétimo milênio ou a qualquer
momento. Por outro lado, não creio que este texto de Oséias
forneça alguma indicação clara de que Cristo voltará no sétimo
milênio. Esta passagem tem mais a ver com acontecimentos
relacionados com Israel naquela época do que com algum evento
escatológico futuro.
B. J. Oropeza, formado em teologia pelo seminário Fuller,
na Califórnia, e articulista da revista Christianity Today
(Cristianismo Hoje), comenta:

Oséias 6:2 não aponta para o ano 2000. Nesta passagem, Oséias apela
aos israelitas para que se arrependam de seus pecados. Se eles se
arrependerem, embora o inimigo (Assíria) os tenha devastado, Deus levantará
os israelitas no "terceiro dia". Aqui a expressão "terceiro dia" representa um
breve período de tempo. Em outras palavras, Deus imediatamente restauraria a
nação arrependida (compare com Deuteronômio 32:29 e Amós 1:3). Isso nada
tem a ver com a Segunda Vinda de Cristo dois mil anos após o seu nascimento.
E os israelitas, como os judeus ortodoxos de hoje, não seguem um calendário
cristão. Assim, a nossa contagem de dois mil anos não tem qualquer significado
para eles. (B. J. Oropeza. 99 Reasons Why No One Knows When Christ Will
Return - 99 Razões Por que Ninguém Sabe Quando Cristo Voltará. Downers
Grove, Illinois, E.U.A., InterVarsity Press, 1994, p. 70.)
Como o leitor pode observar, Valnice tomou a data da
guerra dos seis dias de Israel, em junho de 1967, e acrescentou-
lhe quarenta anos, concluindo assim que a volta de Cristo se dará
no ano 2007, num sábado. Ela o fez usando as palavras de Jesus
em Mateus 24:34: "Em verdade vos digo que não passará esta
geração sem que tudo isto aconteça". Para Valnice, uma geração
dura quarenta anos. Em 1990, ela afirmou que faltavam apenas
17 anos para que se completasse essa geração. Entretanto, há
divergências quanto à duração de uma geração na Bíblia.
Esequias Soares da Silva tratou disso num livro que
escreveu sobre a escatologia das Testemunhas de Jeová e
comentou:

O que diz a Bíblia quanto à duração de uma geração? Segundo Jó


42:16, é um período de aproximadamente trinta a quarenta anos. O Salmo 26:6
afirma ser uma geração como um povo. Gênesis 15:16 dá a entender que se
trata de um período de cem anos. Mateus 1 mostra tratar-se de um período de
vida humana independentemente de sua duração. Assim como Davi viveu
setenta anos (...), Abraão viveu 175 anos (Gênesis 25:7), Isaque 180 (Gênesis
35:28) e Jacó 147 (Gênesis 47:28). Mateus reputa como sendo uma geração os
anos de vida de cada um destes patriarcas. Diante disto, ninguém está
autorizado a definir ou dogmatizar o tempo de uma geração. (Esequias Soares
da Silva, Testemunhas de Jeová. São Paulo, SP, Editora Candeia, vol. 2, p. 99.)

Quanto à data de 2007, quem viver verá.

Nos dias 17 e 18 de março de 1994, participei de um


evento promovido pela Associação Evangélica Brasileira (AEVB),
no Hotel Guanabara, Rio de Janeiro. Na ocasião, encontrei-me
com Valnice Milhomens. Quem leu o livro SuperCrentes ficou
sabendo do meu esforço para conversar com Valnice sem
qualquer sucesso. Escrevi-lhe várias cartas, mas não obtive
resposta. Finalmente conversamos. Valnice foi muito educada e
demonstrou uma atitude realmente cristã para comigo. Disse-me
que me amava como irmão em Cristo e que respeitava a unção de
Deus em minha vida e ministério. Eu lhe respondi que sempre a
considerei como irmã em Cristo e que, por duas vezes, me referi a
ela no livro SuperCrentes como tal. Acrescentei ainda que havia
escrito o livro de tal maneira que nunca precisaria pedir-lhe
desculpas.
Em seguida, ela me disse que os dados no livro estavam
errados. Expliquei-lhe que havia documentado toda a informação
transmitida, inclusive a data de 2007 que ela havia marcado para
a volta de Cristo. Ela negou imediatamente, dizendo-me que
aquilo não era verdade. Disse-lhe que a sua reação era a mesma
das pessoas que a acompanham, que me acusam de calúnia, de
espalhar mentiras. Falei-lhe então que eu tinha o vídeo na minha
pasta (eu havia levado o vídeo comigo, pois já sabia que ela
estaria lá). Ela tentou argumentar, explicando que não era aquilo
que queria dizer. Em seguida, afirmou crer que Jesus virá na sua
geração.
- Até nisto você está errada – respondi -, pois conheci
pastores, líderes cristãos muito respeitados, que na idade
avançada viviam dizendo que não morreriam, mas que ficariam
vivos para a volta de Cristo. Ora, eles já morreram e Jesus ainda
não voltou.
O nosso encontro terminou em paz, apesar de não
concordar com várias de suas posições doutrinárias. Se Valnice
afirma que não foi exatamente aquilo que quis dizer, deve então
dar uma explicação ao seu público, algo que ela ainda não fez.

Avaliação bíblica

Muitos textos das Escrituras são usados pelos "profetas do


arrebatamento" no esforço de determinar a data da volta de
Cristo. Comecemos com Amós 3:7: "Certamente o SENHOR Deus
não fará cousa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos
seus servos, os profetas".
Os que usam este texto para estabelecer a data da volta de
Cristo deveriam lembrar-se de que Deus já revelou seu plano aos
homens na Bíblia Sagrada e seu plano futuro pode ser encontrado
no livro de Apocalipse e nas passagens relacionadas. Este texto de
Amós foi bem explicado por Oropeza da seguinte forma:

Em Amós 3:7, a palavra plano, em outras versões segredo (sôd em


hebraico), não significa que cada detalhe tem que ser revelado. Embora Deus
tenha predito a destruição de Samaria pela Assíria (Amós 3:8-15), ele nunca
deu a Amós uma data específica para essa destruição. Mesmo no livro de
Apocalipse, Deus se recusa a revelar a mensagem dos sete trovões (10:3, 4).
Assim, Deus já tem nos dado tudo o que precisamos saber sobre o futuro, mas
ele não nos dá todos os detalhes - tal como a data do arrebatamento
(Deuteronômio 29:29; Eclesiastes 3:11; Mateus 24:36). Em Amós 3:7-15, Deus
não revela a Amós o nome do "inimigo" ou a data exata deste dia de
julgamento (3:11, 14). (B. J. Oropeza. 99 Reasons Why No One Knows When
Christ Will Return - 99 Razões Por que Ninguém Sabe Quando Cristo Voltará, p.
25-6.)

Logo, não precisamos de uma nova revelação, mas, sim, de


iluminação para entender o que já está revelado na Bíblia.

Mateus 24:36

Por incrível que pareça, uma das passagens mais usadas


por vários adivinhos do arrebatamento é Mateus 24:36: "Mas a
respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos
céus, nem o Filho, senão somente o Pai". Argumentam eles que
Jesus disse que não se pode saber o dia e a hora, mas o mês e o
ano de sua volta sim. Entretanto, tal argumento cai por terra
quando observamos as analogias do dilúvio e do ladrão usadas
por Jesus para ilustrar o seu ensino (versículos 37-39, 43). Em
ambas as situações, o elemento surpresa é predominante. Assim
como o pai de família não é capaz de saber a hora, o dia, o mês e
o ano em que virá o ladrão, assim também será em relação à
volta do Senhor. O mesmo se aplica aos homens nos dias de Noé.
É importante observar, ainda neste contexto, a parábola do servo
fiel e do servo infiel (Mt 24:45-50). Se o servo mau soubesse pelo
menos o mês ou o ano em que viria o seu senhor, ele não
espancaria os seus companheiros e nem se comportaria mal. E, de
novo, o elemento surpresa está presente.
No seu comentário sobre o livro de Mateus, William
Hendriksen foi bastante incisivo ao comentar Mateus 24:36: "O
momento preciso daquele grande evento não foi, entretanto,
indicado (...) Os anjos, embora tendo um relacionamento muito
íntimo com Deus (Is 6:1-3 e Mt 18:10), e embora intimamente
associados aos eventos pertinentes à segunda vinda (Mt 13:41;
24:31; Ap 14:19), não sabem o seu dia e nem a sua hora. Na
verdade, nem mesmo o próprio Filho, visto do aspecto de sua
natureza humana. O Pai, somente ele sabe. Isso prova a futilidade
e a pecaminosidade de cada tentativa da pessoa de predizer a
data do retorno de Cristo (...)" (William Hendriksen. The Gospel of
Matthew - O Evangelho de Mateus. The Banner of Truth Trust, p. 869.)
Os discípulos também estiveram curiosos em relação ao
futuro: "Então os que estavam reunidos lhe perguntavam: Senhor,
será este o tempo em que restaures o reino a Israel? Respondeu-
lhes: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai
reservou para sua exclusiva autoridade" (At 1:6, 7). Jesus já havia
dito aos discípulos (Mt 24:36) que apenas o Pai sabe a data de
sua vinda e aqui em Atos ele mantém a posição já tomada por ele
mesmo no Evangelho de Mateus. O Senhor não quis que a data
de sua vinda ou algum interesse patriótico se tornasse o principal
motivo de preocupação de seus discípulos, mas, sim, a pregação
do Evangelho no poder do Espírito Santo.

1 Tessalonicenses 5:1-4

Outros têm torcido também as palavras do apóstolo Paulo


aos Tessalonicenses: "Irmãos, relativamente aos tempos e às
épocas, não há necessidade de que eu vos escreva; pois vós
mesmos estais inteirados com precisão de que o dia do Senhor
vem como o ladrão de noite. Quando andarem dizendo: Paz e
segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vem
a dor do parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo
escaparão. Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse
dia, como ladrão, vos apanhe de surpresa" (1 Ts 5:1-4). Embora
os tessalonicenses precisassem de instruções acerca dos irmãos
que já haviam falecido (veja 4:13), Paulo sabia que, quanto aos
eventos futuros, eles já haviam sido instruídos. Aliás, Paulo já lhes
havia transmitido várias instruções da parte do Senhor (4:2).
Leon Morris introduz uma excelente análise desta
passagem:
Por um lado, o dia é certo e os cristãos devem esperá-lo
continuamente. O Senhor vem "sem demora" (Ap 22:20). Mesmo assim,
ninguém sabe quando será (Mc 13:32). Ele virá sobre os homens
inesperadamente. Ele virá como "um ladrão de noite". A comparação com a
vinda de um ladrão é encontrada num outro lugar, mas aqui é o único lugar
onde "de noite" é acrescentada. O acréscimo completa a imagem de uma
aproximação totalmente desavisada e devastadora em sua imprevisão. Isto
anula toda a marcação de data. (Leon Morris. The First And Second Epistles To
The Thessalonians - A Primeira e Segunda Epístolas aos Tessalonicenses. Grand
Rapids, Michigan, E.U.A., WM B. Eerdmans Publishing Co., 1979, p. 152.)

Logo, para os que vivem em santificação, aquele dia não


será de surpresa, em contraste com os incrédulos, que vivem nas
trevas. Seria bom todo cristão contentar-se com Deuteronômio
29:29: "As cousas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus;
porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para
sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei".
Existem aqueles que hoje exploram qualquer informação da
mídia para causar suspense na Igreja. Basta um conflito em algum
lugar do mundo, uma greve, uma guerra nas ilhas Malvinas ou
uma investida de Sadam Hussein no Kwait e alguns já correm
anunciando o fim do mundo ou marcando a data da volta de
Jesus. É o que se chama hoje de Teologia da Mídia ou Teologia do
Boato. Muitos pregadores do fim do mundo não hesitam em
espalhar tais informações com o intuito de induzir as pessoas a
contribuir financeiramente com seu ministério (reconheço que
nem todos o fazem com este propósito). Assim, a prática de
marcar datas tem trazido sérios transtornos para muitos cristãos.
O que fazer diante de tudo isso então? Acho que os crentes fariam
muito em evitar qualquer material sensacionalista que trata da
volta de Cristo.
Os que se deixam levar pela marcação de datas trazem
prejuízos para si e para seus familiares, pois acabam vendendo
propriedades, abandonando seus empregos e desistindo de
estudar. Além disso, há o prejuízo espiritual, pois quando o
previsto não acontece (e não tem que acontecer mesmo), alguns
entre os decepcionados passam a não querer acreditar mais na
Bíblia. Existe ainda o prejuízo para o testemunho cristão, pois
torna-se mais difícil evangelizar quando a credibilidade da Palavra
de Deus é questionada pelos incrédulos devido às previsões
anunciadas pelos cristãos que não se cumprem.
O Senhor Jesus voltará quando ele mesmo decidir e não
porque eu creio de uma forma e outro de outra. Ninguém possui
uma teologia capaz de determinar quando ele virá. Tudo o que eu
sei é que ele virá. Quando e como, já não posso dizer. Só sei
também que, se ele tardar um pouco, eu irei, e de qualquer forma
vamos nos encontrar. E enquanto ele não vem, temos coisas mais
importantes a fazer, como ganhar almas e dar tudo de nós para
que o seu nome seja glorificado e o seu reino se estenda na
Terra. A preocupação com o futuro diminui quando temos a
certeza de que Jesus Cristo já está no futuro nos esperando.
Quando lá chegarmos, sua mão e sua presença estarão conosco
nos guardando e sustentando, como ele mesmo garantiu aos
discípulos: "E eis que estou convosco todos os dias até à
consumação do século" (Mt 28:20).

9 - Discernir é preciso

Neste capítulo final, pretendo, dentro de minhas limitações,


oferecer algumas sugestões que poderão poupar o cristão de
envolver-se com manipulações e ensinos falsos.
Devido ao fantástico avanço na área das comunicações,
nenhuma outra geração na história foi tão bombardeada com a
quantidade de informações com que somos hoje. Tais informações
chegam quase que ininterruptamente até nós, invadindo nossos
lares, escolas, locais de trabalho e igrejas. Parte delas surge de
fontes cristalinas, promovendo a glória de Deus e o fortalecimento
dos crentes, enquanto outras surgem de fontes insalubres,
agredindo a ortodoxia da Igreja e causando prejuízo ao reino de
Deus. Pode ser dito que o momento atual vivido pela Igreja é um
tanto delicado. Para sobreviver espiritualmente em tais
circunstâncias, o cristão, neste final de milênio, precisa de uma
boa dose de discernimento.
De acordo com uma enciclopédia bíblica, (Geoffrey W Bromiley
Editor. The International Standard Bible Encyclopedia - Enciclopédia Bíblica
Padrão Internacional, Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Eerdmans, 1979, vol.l, p.
947.) tanto o verbo "discernir" quanto o substantivo
"discernimento" ocorrem apenas quatro vezes no Novo
Testamento. Três destes termos gregos estão baseados no verbo
krino (kritikós, anakríno, diakríno), que basicamente significam
"peneirar" ou "distinguir", "selecionar" ou "separar", recebendo
também o significado comum de decidir ou julgar. O adjetivo
kritikós, denotando "aquele que tem a forma de um juiz, que é
capaz de julgar, que tem o direito de julgar, que está engajado
em julgar (...)" é empregado para a palavra de Deus em Hebreus
4:12: "Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz, (...) e apta para
discernir os pensamentos e propósitos do coração". O verbo
anakríno geralmente se refere a algum tipo de exame ou
investigação judicial. Diakríno tem muitos sentidos diferentes; em
geral, ele tende a reforçar o sentido de kríno. O quarto termo,
aísthesis, não está relacionado a kríno e ocorre apenas uma vez
no Novo Testamento. Ele é usado no sentido de distinção moral,
que capacita alguém a aprovar o que é excelente (Fp 1:9, 10). W
E. Vine acrescenta ainda o verbo dokimazo, que significa testar,
provar ou esquadrinhar. (W E. Vine. An Expository Dictionary of Biblical
Words - Dicionário Expositivo de Termos Bíblicos. Nashville, E.U.A., Thomas
Nelson Publishers, 1984, p. 307.)
O crescimento espiritual saudável depende do exercício
constante do discernimento. O crente deve exercitar a sua
consciência, os sentidos e a mente para saber a diferença entre a
verdade e o erro, entre o uso correto e incorreto das Escrituras.
Além disso, discernir não é uma opção, mas um mandamento
bíblico: "Julgai todas as cousas, retende o que é bom"(1 Ts 5:21).

Os cuidados do crente

O discernimento na vida do crente não é uma opção, mas


um mandamento bíblico. João recomendou aos seus leitores que
ficassem atentos, pois naquela época o gnosticismo já estava
influenciando parte de seus leitores. Esta heresia ensinava que a
verdade de Deus só poderia ser compreendida por um grupo
especial, privilegiado, além de negar verdades fundamentais
quanto à pessoa de Cristo, como a encarnação e ressurreição. Por
isso João então alertou: "Amados, não deis crédito a qualquer
espírito: antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque
muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora" (1 Jo 4:1).
De acordo com o escritor do livro de Hebreus, o
discernimento é uma das marcas da maturidade espiritual: "Ora,
todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da
justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos,
para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades
exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o
mal" (Hb 5:13, 14). Infelizmente, o cenário espiritual hoje é muito
pior do que nos dias da Igreja primitiva, exigindo cuidados
constantes do cristão.

Nas livrarias evangélicas

O crente que entrasse numa livraria evangélica


antigamente não precisava tomar tanto cuidado. Na maioria das
vezes, ele tinha à sua disposição apenas material equilibrado,
refletindo, portanto, sólidos ensinamentos bíblicos. Mas essa
tranqüilidade acabou. Para nossa surpresa, muitas livrarias
evangélicas hoje parecem um terreno minado. O crente cuidadoso
tem que entrar com muita atenção para não comprar livros
prejudiciais à vida cristã (é claro que não são todas que fazem
isso).
É difícil entender por que isso acontece. Talvez muitos
proprietários ou gerentes de livrarias evangélicas não tomem
cuidado ao selecionar os itens que vendem por falta de
informação ou por não conhecerem o conteúdo do material que
distribuem. Entretanto, ao visitar algumas livrarias, tenho a
impressão de que, por dinheiro, algumas estão dispostas a vender
qualquer coisa, sem se preocupar com as conseqüências e o
prejuízo espiritual dos clientes. Pasme o leitor, mas há livrarias
evangélicas hoje que estão distribuindo, com toda a tranqüilidade,
livros e Bíblias católicos. O crente compra uma dessas Bíblias, lê o
texto bíblico e depois vai verificar a interpretação nas notas
explicativas de rodapé, passando assim a assimilar a posição
católica romana daquela passagem. Lamentável!
Fico imaginando se os proprietários e gerentes de algumas
livrarias evangélicas fossem donos de restaurantes e tivessem
com a comida o mesmo cuidado que têm com os livros que
vendem. Já pensaram que tipo de comida seus clientes estariam
consumindo? Ora, se um restaurante tem que ter o cuidado de
servir uma comida saudável aos seus clientes para não lhes
causar um dano físico, muito mais cuidado devem ter nossas
livrarias de distribuir somente bom material, que não venha
causar aos seus clientes um dano espiritual muitas vezes eterno.
A revista Christianity Today (Cristianismo Hoje) informa
que, algum tempo atrás, vários livreiros evangélicos começaram
um sério boicote aos livros que trazem ensinos controvertidos.
Steve Adams, presidente da Evangel, Inc., afirmou que a sua
decisão de fazer isso foi uma questão de saber o que a Palavra de
Deus diz. "Nossa indústria precisa policiar-se para evitar ensinos
não-biiblicos e heréticos. Por isso, tirei de minhas estantes os
livros de Copeland, Hagin e Hinn. Seus ensinos são uma
aberração."
A revista relata que o presidente da associação dos donos
de livrarias e da Associação Cristã de Livreiros (Christian
Bookseller's Association - CBA), Jim Reimann, diz: "Nós [como
indústria] precisamos buscar nas Escrituras o que é bíblico e
confrontar com o que nos tem sido oferecido para vender em
nossas livrarias, e não comerciar aquilo que não for bíblico". Um
dos membros da CBA, Winston Maddox, da Evangelical Books and
Bibles (Livros Evangélicos e Bíblias), também parou de vender
livros com ensinos controvertidos. "Precisamos examinar cada
mestre e perguntar a nós mesmos: o ensino que ele apresenta
utiliza apenas uma pequena porção bíblica, negligenciando seu
contexto global (...) e as práticas por ele ensinadas têm a
finalidade de glorificar a Deus ou de exaltar o autor do ensino?"
(Revista Christianity Today, 16 de agosto de 1993, p. 38-9.)
É bastante animadora a atitude desses irmãos na América
do Norte e seria uma bênção para a Igreja do Senhor se os
exemplos mencionados acima começassem a ser seguidos
também aqui no Brasil.

Nas editoras evangélicas

Geralmente, as livrarias somente distribuem as obras


produzidas pelas editoras evangélicas. Sendo assim, a
responsabilidade das editoras em produzir material de qualidade e
biblicamente confiável torna-se ainda maior. Damos graças a Deus
por muitos livros que têm abençoado grandemente o povo de
Deus em diferentes áreas do ministério cristão e da necessidade
humana. Por outro lado, lamentamos que algumas editoras não
possuam filtro teológico e sejam descuidadas em relação ao
conteúdo bíblico daquilo que publicam. Assim, várias editoras
freqüentemente publicam material com conteúdo nocivo à fé
cristã e que tenha causado algum sensacionalismo, principalmente
no mercado evangélico norte-americano. É incrível que livros
devidamente analisados e refutados por teólogos sérios nos
Estados Unidos e em outras partes do mundo, infelizmente,
acabem encontrando espaço no meio editorial cristão do Brasil.
Talvez a Abec (Associação Brasileira de Escritores Cristãos)
pudesse servir como órgão orientador nesse aspecto,
proporcionando, sem qualquer imposição, critérios para publicação
e distribuição de livros. O mais triste de tudo é que há entre os
proprietários de editoras e livrarias evangélicas aqueles que,
mesmo alertados com amor, continuarão persistindo no erro. Mas
eles não podem se esquecer de que são responsáveis diante da
Igreja e do Senhor pelo material que produzem e distribuem.

Na educação teológica

Esta é uma outra área que exige cuidado. Há várias


instituições evangélicas no Brasil que oferecem um bom ensino
teológico. Em contrapartida, cresce cada vez mais o número de
instituições evangélicas e organizações paraeclesiásticas de ensino
religioso no país que são verdadeiras aberrações. Ao invés de
teologia sistemática, hermenêutica, línguas bíblicas, história da
Igreja e outras matérias importantes para o ensino cristão,
tornam-se obcecadas com batalha espiritual, cura interior, visões
e revelações. O triste é que há muitos que são atraídos por esse
tipo de coisas.
Em se tratando de educação teológica, nada melhor do que
consultar a AETAL (Associação Evangélica de Educação Teológica
na América Latina), que reúne instituições evangélicas de
educação teológica no continente latino-americano, no seguinte
endereço: Rua Vergueiro, 3.051, CEP 04101-300, São Paulo, SP. A
AETAL é membro do Conselho Internacional de Agências de
Reconhecimento (ICAA International Council of Accrediting
Agencies), órgão da Aliança Evangélica Mundial (WEF - World
Evangelical Fellowship), e nesta qualidade, trabalha em
cooperação com as demais agências de reconhecimento da
educação teológica evangélica internacional (Manual de
Reconhecimento, p. 2). Os outros cuidados incluem:

- Procurar pessoalmente a escola.


- Conversar com ex-alunos para saber suas opiniões sobre
a referida instituição.
- Verificar se a posição doutrinária da escola não vai causar
conflito com a posição de sua denominação. Há grupos que criam
problemas para os formandos, mesmo tratando-se de questões
secundárias.
- Examinar o conteúdo do programa ou o currículo escolar.
- Verificar a duração do curso e o número de créditos que
ele concede.
- Informar sobre as qualificações do corpo docente.

De acordo com o Manual de Reconhecimento da AETAL, "o


corpo docente deve ser normalmente constituído de professores
que tenham grau acadêmico superior àquele que estão lecionando
(...) Para assessorar uma tese, o professor deve ter defendido
uma em nível igual ou superior" (p. 25).

- Verifique se o acervo da biblioteca é adequado ao


programa de ensino oferecido pela instituição (Manual de
Reconhecimento, p. 21).
- Qualquer pessoa deve tomar cuidado com diplomas de
mestrado e doutorado oferecidos em diferentes partes do Brasil,
muitas vezes até por correspondência. Há casos em que tais
diplomas são oferecidos depois de algumas aulas num dia de
sábado. Preste atenção a um alerta da AETAL sobre isso:

"FÁBRICA DE DIPLOMAS - Cuidado com escolas e associações que


andam concedendo, de maneira totalmente inconseqüente e irresponsável,
graus de bacharel, mestre e doutor pelo Brasil afora. Tais instituições
costumam mencionar que seus programas educacionais teológicos encontram-
se regulamentados por lei federal, faltando com a verdade e enlameando o
bom nome dos evangélicos no País". (AETAL-BRASIL - Boletim Informativo, vol.
1, n. 6, abril de 1995, p. 2.)

Na verdade, isso não passa de desonestidade e exploração


por parte de alguns.

- Verifique se a instituição teológica em perspectiva é


reconhecida ou autorizada por outros órgãos sérios no Brasil e no
exterior, e se os créditos adquiridos podem ser transferidos e
aceitos por outras instituições de ensino no país, reconhecidas
pelo MEC (Ministério de Educação e Cultura). Quanto a isso, a
AETAL está à altura para fornecer informações confiáveis aos
interessados.

Ao escolher uma igreja

Devido ao grande número de igrejas e denominações hoje,


os crentes devem discernir no momento de escolher o seu local de
cultuar a Deus. Aqui vão algumas sugestões:

- Verifique se a igreja em perspectiva tem compromisso em


ensinar a Bíblia de forma séria e equilibrada. Algumas são muito
fracas, oferecendo apenas o "leite" da Palavra de Deus, isto é,
apenas ensinos para novos convertidos. A igreja deve estar
estruturada para fornecer aos seus membros o alimento sólido da
Palavra a fim de levá-los ao crescimento espiritual. George Wood
foi certa vez aconselhado por um amigo da seguinte maneira:

O que você faz como pastor para atrair as pessoas é o que você terá
que fazer para segurá-las. Se você está sempre se valendo da última novidade,
vai ter que manter as novidades para segurar o auditório. Mas se você prega a
Palavra de Deus e faz de Cristo o centro, então isso é tudo o que você tem que
continuar fazendo para segurar as pessoas (...)". [George Wood diz:] Tenho
observado freqüentemente que os líderes que embarcam nessas ondas têm a
tendência de sempre embarcar nas próximas que surgem, quando a anterior já
passou. (George Wood. The Laughing Revival - O Reavivamento do Riso,
manuscrito não publicado, p. 10)

- Verifique a que grupo ou denominação a igreja em


questão está afiliada. Quanto mais eu evangelizo adeptos de
seitas, mais eu valorizo as denominações, pois elas sempre
estabelecem parâmetros doutrinários para os seus membros.
Embora seja possível, por exemplo, que uma igreja batista ou
presbiteriana, isoladamente, abrace algum ensino controvertido,
seria muito difícil uma denominação toda sucumbir a uma heresia.
Naturalmente que uma igreja independente pode ter bases
bíblicas sólidas e ser equilibrada em sua atuação, mas isso não
dispensa uma avaliação cuidadosa do grupo.
- É importante pedir uma declaração de fé ou doutrinária
da igreja em vista. Examine com cuidado as posições da igreja
sobre as doutrinas fundamentais da fé cristã. Cuidado com
informações vagas e não muito claras. Não hesite em fazer
perguntas sobre algo que não entendeu. Afinal, você e toda a sua
família passarão a depender espiritualmente do que será ensinado
ali.
- Lembre-se de que a AEVB (Associação Evangélica
Brasileira, Caixa Postal 100.084 - CEP 24001-970 - Niterói RJ) está
à altura para fornecer informações corretas e dirimir suas dúvidas
quanto a essa questão. Procure também os recursos da AGIR -
Agência de Informações Religiosas, que com equilíbrio e
dedicação tem auxiliado as igrejas e o público em geral em
relação aos problemas doutrinários de seitas e grupos religiosos
controvertidos (veja os dados sobre a AGIR no fim deste livro).
Outros critérios

Antes de envolver-se com alguma igreja ou de apoiar


algum ministério, o crente precisa adotar alguns critérios que
poderão livrá-lo de desapontamentos e prejuízos espirituais.

- Seja um crente bereano (At 17:11, 12). Está na hora de


deixar de lado toda a ingenuidade e passar a desenvolver um
ceticismo positivo e saudável. Tem gente disposta a crer em
qualquer coisa, qualquer história ou testemunho, sem qualquer
questionamento.
George Wood, um dos líderes das Assembléias de Deus nos
Estados Unidos, informa que

no fim da era apostólica e no começo do segundo século, uma heresia


chamada gnosticismo se desenvolveu dentro do cristianismo. Seu título vem da
palavra grega gnosis, conhecimento. Os gnósticos diziam ter revelação
extrabíblica e eram profundamente fascinados com o mundo invisível e com
hierarquias de anjos. Você não seria considerado "espiritual" a menos que
aceitasse o seu tão chamado conhecimento secreto, seu mapeamento do
mundo dos principados e potestades" (o grifo é meu). [George Wood
acrescenta ainda:] Precisamos estar precavidos sobre este reaparecimento de
um novo gnosticismo na Igreja hoje, que leva as pessoas além do sólido
fundamento das Escrituras para a órbita de personalidades persuasivas que
promovem e vendem suas próprias idéias e experiências. Os tais não obedecem
a admoestação apostólica: "prega a palavra" (2 Timóteo 4:2), preferindo, ao
invés disso, impor sobre o Corpo de Cristo, por amor ao dinheiro ou fama, o
seu novo elixir espiritual secreto. Da próxima vez que uma nova "onda" de
doutrina atingir a sua igreja, pergunte a si mesmo: Se isso é tão importante,
por que Jesus não o mencionou? Por que os apóstolos não mencionaram isso?
Por que não há qualquer referência ou mandamento sobre isso? Por que tal
coisa não parece ter sido ensinada ou praticada pela Igreja primitiva?

As perguntas de George Wood aqui valem tanto para a


unção do riso (ou unção de Isaque), espíritos territoriais,
mapeamento espiritual, quebra de maldições hereditárias,
confissão positiva quanto para qualquer outra novidade
doutrinária que venha surgir na Igreja do Senhor. Precisamos
tomar cuidado mesmo!
Não é errado questionar. Quando Paulo chegou a Beréia, já
possuía um currículo bem respeitado. Havia estudado com
Gamaliel, mestre da lei e acatado por todo o povo. Desfrutava da
confiança das autoridades que lhe deram autorização para
perseguir os cristãos e havia passado por uma conversão
fantástica. Nem por isso os crentes de Beréia foram ouvir o
grande apóstolo pregar desprovidos de qualquer senso crítico.
Mesmo tendo recebido a Palavra com avidez, na medida em que
Paulo e Silas ensinavam, eles examinavam as Escrituras para
verificar se as informações estavam corretas. E, ao invés de serem
taxados de incrédulos ou duros de coração, a Bíblia disse que eles
foram mais nobres do que os de Tessalônica (At 17:10, 11). Que
grande exemplo! Mas há outros critérios que não devem ser
desprezados.

- Verifique se o ministério com o qual você pretende se en-


volver é responsável financeiramente e se existe prestação de
contas. Há muitos, por esse Brasil afora, que são mestres em ma-
nipular as pessoas a fim de fazer do dinheiro da igreja o que bem
entendem. Se uma instituição não for responsável
financeiramente, também não deve ser apoiada financeiramente.
- Verifique se a igreja ou o ministério são moralmente
confiáveis. Se um líder ou a liderança de uma igreja se envolvem
em escândalos morais, é preciso então tratar da situação com
amor, de forma bíblica e com firmeza. Não estamos falando aqui
apenas de adultério. Há vários problemas que podem afligir uma
organização cristã, como mentira, desvio de dinheiro e outros. É
importante também que casos assim sejam tratados de tal forma
que venha resultar na restauração e não na destruição dos que
falharam. É claro que, dependendo da gravidade da situação,
alguém talvez venha perder de uma vez a sua reputação ou
posição de líder cristão.
É uma grande bênção ser um ministro de Deus. Entretanto,
tal posição traz consigo uma grande carga de responsabilidade.
Observe então se o grupo em potencial se esforça para praticar a
ética cristã e viver a Palavra de Deus. Se a atitude é de
displicência e o "jeitinho brasileiro" é tolerado sem qualquer
resistência, fique longe de tal grupo, pois não se trata de um
ministério sério ou saudável.

- Verifique se os métodos de levantamento de fundos do


ministério são bíblicos. Um dos grandes males em vários
segmentos evangélicos hoje tem a ver com a forma de levantar
fundos para o ministério e a administração financeira dos bens
arrecadados. Há muitos casos de coerção e manipulação quando
se trata de tirar o dinheiro das pessoas. Um dos casos mais
notáveis de abuso no levantamento de fundos foi Oral Roberts,
nos Estados Unidos. Em 1987, ele disse no seu programa de
televisão que Deus iria matá-lo se ele não arrecadasse U$ 8, 5
milhões. Nessa ocasião, eu mesmo vi seu filho Richard Roberts
dizendo num programa de TV "Por favor, envie a sua oferta e
ajude papai a completar mais um aniversário". A tática de Oral
Roberts funcionou. Um apostador de corrida de cães na Flórida
contribuiu
com uma grande soma e completou o que faltava. Mas, como já
vimos anteriormente, nem tudo o que funciona é bíblico ou tem a
aprovação de Deus.
Outros são tão criativos em adotar símbolos trocados por
ofertas que se alguém perder um só dia de reunião, já é o
bastante para ficar desatualizado. Há óleo ungido, aliança ungida,
rosa ungida, fogueira santa, corrente da prosperidade, corredor
dos milagres, corrente dos setenta apóstolos, sal ungido, vale do
sal, túnel do amor, lenço ungido, e muito, muito mais.
É verdade que o profeta Isaías ordenou que uma pasta de
figos fosse colocada sobre a úlcera de Ezequias e ele sarou (2 Rs
20:7). Também os lenços e aventais do uso pessoal de Paulo
eram levados e colocados sobre os enfermos e eles eram curados,
enquanto outros ficavam libertos (At 19:10, 11). Entretanto, não
há qualquer informação nesses relatos bíblicos de que tanto Isaías
quanto Paulo tenham aproveitado a ocasião ou os milagres para
levantar ofertas ou recolher os dízimos.
John Stewart observou que os mestres da manipulação
financeira levam as pessoas a contribuir através de apelos
emocionais, da culpa, do medo e até do desespero. O autor
acrescenta ainda:

A pior violação na prática de levantamento de fundos acontece quando


o ministério sugere às pessoas que elas somente terão suas orações
respondidas se forem obedientes. Naturalmente que o ministério define
"obedecer" como contribuir financeiramente. Esta prática tem criado um tipo de
"indulgência" protestante, através da qual uma pessoa bem-intencionada, mas
biblicamente desinformada, tenta comprar o favor de Deus. Isso se constitui na
pior manipulação espiritual - invocar o nome de Deus para, impropriamente,
coagir as pessoas a dar dinheiro. (John Stewart. Holy War - Guerra Santa. Enid,
Oklahoma, E.U.A., Fireside Publishing & Communications, 1987, p. 200-1.)

- Não apóie uma igreja ou ministério centralizados no


dinheiro. Há igrejas ou ministérios que não conseguem falar
noutra coisa a não ser em dinheiro. É verdade que os crentes
devem contribuir com seus dízimos e ofertas por gratidão a Deus,
com base num entendimento correto e equilibrado nas Escrituras,
procurando sempre ser bons mordomos dos bens que lhes foram
confiados por Deus. Infelizmente, os abusos vão continuar porque
muitas pessoas permitem o abuso, não conseguem questionar
qualquer coisa, e se deixam manipular com muita facilidade.
- Importante: Não procure uma igreja perfeita, porque ela
não existe. A Igreja, no seu organismo visível, não é perfeita, já
que é constituída de seres humanos, que, por natureza, são
imperfeitos. Não existe também qualquer grupo que esteja
obedecendo à Bíblia de forma infalível, embora haja grupos que
se esforcem mais do que outros em fazer a vontade do Senhor.
Mas graças a Deus, pois se compadece de nós, abençoa-nos e faz
prosperar a sua obra, apesar das nossas imperfeições e de não
merecermos.
Alguns "mandamentos" do discernimento (Várias idéias aqui
foram extraídas do livro Orthodoxy And Heresy - Ortodoxia e Heresia, de Robert
M. Bowman. Grand Rapids, Michigan, E.U.A., Baker Book House, 1992, p. 101-
7.)

- Aprenda a exercer discernimento enquanto cresce na fé,


no amor e na santidade. O discernimento doutrinário deve
envolver a oração, a comunhão com outros crentes, e a
ministração aos demais irmãos e aos perdidos.
- Desenvolva uma compreensão completa e saudável das
Escrituras. Quanto mais o cristão compreender a Palavra de Deus,
mais facilmente ele poderá distinguir a verdade do erro. Nem todo
crente é chamado para ser um erudito da Bíblia, mas todo crente
pode e deve estudar a Bíblia em profundidade e adquirir um
entendimento adequado dos seus ensinos.
Há várias maneiras de se estudar a Bíblia e todas são
importantes. Ao ler a Bíblia, faça um esforço para memorizar o
maior número de textos possível. Use livros que o ajudarão a
entender melhor as Escrituras, tais como enciclopédias e
dicionários bíblicos. Estude a Bíblia a sós ou em grupo. Escolha
pessoas competentes no ensino da Palavra de Deus e tente
aprender o máximo com eles. Seja um assíduo freqüentador da
escola dominical. Tenho frisado constantemente nas conferências
do Instituto Cristão de Pesquisas que a melhor maneira de
combater o falso, isto é, as heresias, é conhecer o original, isto é,
a Palavra de Deus.

- Aprenda a pensar de forma lógica e sensível. Pensar


logicamente significa pensar de tal forma que se evitem falsas
conclusões a partir de premissas verdadeiras. O propósito do
estudo da lógica é administrar a arte de pensar claramente. É
possível ter todos os fatos e chegar a conclusões falsas, se a
maneira de interpretar aqueles fatos for incorreta. O raciocínio
pobre é um grande problema no campo do discernimento
doutrinário hoje. Todos nós precisamos aprimorar a nossa
habilidade de raciocínio o mais que pudermos quando buscamos
discernir questões doutrinárias.

- Estude as doutrinas cristãs de várias tradições dentro do


cristianismo ortodoxo. Ao tornar-se familiarizado com as doutrinas
básicas da fé, procure conhecer as diversas posições sobre as
doutrinas cristãs dentro da família evangélica. É bom saber os
diferentes pontos de vista sobre batismo, milênio, dons espirituais,
predestinação e outros. Isso vai ajudá-lo a conhecer melhor a
diferença entre o que é básico e o que não é, proporcionando
uma posição mais madura e bíblica em relação a tais questões.

- Conheça toda informação relevante possível sobre um en-


sino questionável ou um grupo religioso antes de fazer qualquer
juízo. Há várias maneiras de se adquirir informações sobre um
grupo. Você pode inquirir sobre a afiliação religiosa - a deno-
minação ou a religião de um líder ou grupo, embora haja casos
em que certas organizações ou pessoas neguem as suas afiliações
religiosas. Nesse caso, você pode consultar obras de referências,
dicionários ou enciclopédias que tragam as informações sobre
grupos religiosos e suas crenças.

- Não assuma que o emprego de uma terminologia ortodo-


xa seja a garantia de uma crença ortodoxa. Em casos
questionáveis em que nenhuma análise ou avaliação cristã já
tenha sido feita, é importante adquirir informações de primeira
mão sobre as doutrinas de um grupo. É sempre útil pedir uma
declaração doutrinária. Entretanto, tenha em mente duas coisas:
Primeira, há grupos que não possuem qualquer declaração
doutrinária e mesmo assim são ortodoxos. Segunda, as
declarações doutrinárias de grupos heréticos muitas vezes são
feitas soando o mais ortodoxo possível para evitar críticas e
refutações. Os mórmons, por exemplo, usam terminologias cristãs
como salvação, Deus e várias outras. Entretanto, o que eles
professam sobre Deus, salvação e outras doutrinas é muito
diferente do que ensina o cristianismo.
No caso de grupos que são desonestos sobre sua verdadei-
ra doutrina, consiga o máximo possível de informações sobre suas
crenças e compare o que eles dizem para o público com o que
eles dizem uns aos outros. Talvez seja preciso freqüentar algumas
de suas reuniões e fazer perguntas sem parecer crítico, ou obter
materiais de dentro do grupo disponíveis apenas aos que são
membros. Entretanto, tais pesquisas devem ser feitas apenas por
crentes que tenham experiência e treinamento na área de
discernimento espiritual. Em alguns casos, ex-membros de grupos
heréticos podem ser a melhor fonte de informações e materiais.
Além dos "mandamentos" acima, formulados por Robert
Bowman, gostaria de sugerir ainda que você nunca receba alguém
estranho à porta de sua casa querendo lhe ensinar a Bíblia ou
convidando-o para um estudo bíblico. Sem ser hostil, mas com
firmeza, diga ao visitante que você nunca estuda a Bíblia com
estranhos, que é somente o seu pastor quem lhe ensina a Palavra
de Deus. Isso vai protegê-lo das investidas de testemunhas-de-
Jeová, mórmons e outros que constantemente estão indo de porta
em porta, espalhando suas doutrinas antibíblicas.
Creio ser muito útil também que as igrejas realizem
periodicamente seminários de atualização sobre seitas e
movimentos religiosos controvertidos. Os que participam de tais
eventos serão vacinados contra as heresias que abundam hoje e o
rebanho do Senhor ficará mais protegido doutrinariamente.

Uma palavra final

Escrevi este livro movido muito mais pela obrigação do que


pelo prazer, pois é tarefa, não apenas minha, mas de todo cristão,
ser zeloso pela Palavra de Deus. O falecido Dr. Walter Martin, um
dos maiores defensores da fé cristã nos últimos anos, disse certa
vez, com muita sabedoria: "Controvérsia apenas por amor a
controvérsia é pecado. Controvérsia por amor à verdade é um
mandamento bíblico". Que Deus nos dê graça para sermos
obedientes e nos ajude sempre a batalhar diligentemente pela fé
que uma vez por todas foi entregue aos santos (Jd 3).
Como fiz no livro SuperCrentes, quero reafirmar aqui que
continuo aberto para o diálogo e para ser corrigido se errei em
alguma coisa, pois não sou perfeito. Tive o cuidado de examinar
toda informação, todas as citações, e tenho toda a documentação
de tudo o que foi usado em vídeo, fita cassete ou por escrito.
Tantos os editores quanto eu temos o compromisso de eliminar
qualquer falha que venha a ser constatada. Tem sido o meu
propósito, ao longo deste trabalho, ajudar o Corpo de Cristo a
discernir entre a verdade e o erro. Que através dele muitos
possam abandonar uma superfé que serve apenas para incentivar
o crente à ganância, à sede do poder terreno e a querer exercitar
poderes espirituais que as Escrituras nunca lhe conferiram. A
Igreja precisa urgentemente deixar de estabelecer doutrinas sobre
experiências, interpretações particulares, e ídolos humanos,
voltando à fé simples que glorifica a Deus e não ao homem, tendo
a Bíblia como a autoridade final, a única autoridade para a nossa
vida e fé.

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UNGER, Merrill F. What Demons Can Do to Saints (0 Que os


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Contato com o autor poderá ser feito através da Editora Mundo
Cristão.
Caixa Postal 21.257, CEP 04698-970, São Paulo, SP.

Contra-capa:

Crescimento e Caos

A população evangélica do Brasil vem crescendo


vertiginosamente. Já somos a terceira maior população evangélica
do mundo. Damos graças a Deus por isso. No entanto, esta
multiplicação explosiva traz conseqüências preocupantes. A igreja
passa a ser vista por alguns como um "grande negócio". Isto
suscita oportunistas, enganadores e aqueles que Cristo tachava de
"falsos profetas". Estimula também os bem-intencionados que,
mal preparados teologicamente, adotam e ensinam doutrinas
estranhas e destrutivas. Há grandes exageros em alguns
ensinamentos relativos à maldição hereditária, por exemplo, assim
como nas áreas da guerra espiritual, da teologia do domínio, da
teologia da prosperidade, das curas e dos milagres etc. As vítimas
desses ensinamentos são milhões de novos convertidos que mal
conseguem discernir entre ortodoxia e heresia.
Neste livro elucidativo, Paulo Romeiro apresenta uma
mensagem urgente para o evangélico que se preocupa com a
qualidade de sua crença. No espírito de amor cristão, ele aponta e
documenta dezenas de ensinamentos questionáveis, e sugere o
caminho da sensatez espiritual. Inclui um guia de discernimento
para aqueles que questionam o que ouvem.
Evangélicos em crise é leitura obrigatória para todos que se
importam com o crescimento da Igreja no Brasil.

Paulo Romeiro é diretor da Agência de Informações Religiosas


AGIR (São Paulo), entidade que defende a fé cristã e estuda as
seitas não-cristãs. É bacharel em jornalismo pela Universidade
Braz Cubas (Mogi das Cruzes, SP) e mestre em teologia (M.Div.)
pelo Gordon-Conwell Theological Seminary (Boston, E.U.A.). É
casado com Simone, psicóloga, e tem dois filhos, Alyne e Adryel.

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